BOA VISTA
2006
BOA VISTA
2006
Aprovada em _______/_______/________
3
Banca Examinadora
Professor(a)
Instituição
Professor(a)
Instituição
4
AGRADECIMENTOS
Ao Grande Arquiteto do Universo pela luz da vida e por estar ao meu lado sempre e,
A minha mãe Maria da Silva (Mocinha) in Memorian, aos meus filhos, meu esposo,
meus irmãos, minha sogra Yêda e minhas cunhadas, pela estrutura familiar que me
possibilitaram alicerçar a minha vida, pelo estímulo, amizade, carinho, críticas, sugestões e
transmitidas.
5
experiências.
realização deste trabalho, e que gentilmente me cedeu diversos artigos sobre inovação
RESUMO
A compreensão de firma guarda uma relação com a teoria na qual a firma se insere,
isto é, com a visão de mundo que a teoria assume, ou paradigma. Cabe assim, recuperarmos,
historicamente, elementos tanto teóricos como empíricos sobre a firma, relacionando-os ao
paradigma organizacional ao qual esta pertence. O Tema da presente Monografia é o
surgimento da Nova Economia e seu contexto: o Paradigma informacional. Enfocaremos
aspectos econômicos relacionados a Micro e a Macroeconomia, tendo como ponto de partida
as Mudanças gerais nas Teorias da Firma ao longo do desenvolvimento do Capitalismo, desde
6
a Revolução Industrial até a Nova Economia. Abordaremos três visões teóricas distintas sobre
a Firma, relacionando-as aos seus respectivos Paradigmas: o paradigma da Revolução
Industrial, o Paradigma Fordista e o Paradigma da Tecnologia da Informação, acrescentando
ainda, outro paradigma organizacional emergente no pós-fordismo: o Toyotismo. A
construção teórica ou readaptação das teorias a Economia Informacional tem sido uma
preocupação dos economistas em todas as partes do mundo, os quais têm se ocupado com as
novas Tecnologias da Informação e da Comunicação - TICs, que estão rápida e continuamente
se propagando com influência sobre a economia. A Nova Economia é traduzida atualmente
por um conjunto de teorias emergentes, que começam a competir com os modelos
econômicos tradicionais e são baseadas nas construções teóricas Evolucionistas, Neo-
institucionalistas e do Crescimento Endógeno vigentes.
SUMÁRIO
RESUMO...................................................................................................................05
INTRODUÇÃO.........................................................................................................08
7
CAPÍTULO I
CAPÍTULO II
CAPÍTULO III
CAPÍTULO IV
CAPÍTULO V
8
CONCLUSÃO.........................................................................................................101
OBRAS CONSULTADAS......................................................................................112
9
INTRODUÇÃO
mesma, mas do contexto das mudanças econômicas, políticas e sociais que estão ocorrendo no
mundo. Estas mudanças, como se pode constatar, na história da economia dos povos, estão de
certa forma, conectadas com a mudança e a Inovação das tecnologias em cada época.
O tema desta monografia diz respeito às mudanças pelas quais tem passado a firma e
as teorias elaboradas para compreendê-la. Este tema terá uma abordagem histórica e teórica,
não nos preocupamos em estabelecer modelos sobre esta mudança, mas tão somente aprender
sobre a firma.
Aprendemos que a Economia viva é aquela que estamos fazendo e que as Teorias, nem
Neste início de século estamos diante de fatos econômicos novos e importantes, que
desenvolvimento tem como exemplos mais significativos a Internet e World Wid Web e sua
apropriação pela firma como fator organizacional e comercial no campo dos negócios,
Produtos, serviços e empresas, tem se transformado com o emprego das TICs em seu
desenvolvimento.
Informacional.
O interesse por este tema foi motivado pela leitura da tese de doutorado, de Marco
Antonio L. Souza sobre firmas Reticuladas. Investiga-se nesse estudo, o processo de mudança
das firmas desde o seu início pela Microinformática e com o aparecimento das primeiras
Economia Informacional. 1
virtuais a partir dos anos noventa, em que as firmas passam por um fenômeno chamado de
reticularização. 2
1 Cf. Marco Antonio Lucas de SOUZA. Tipificando os novos designs organizacionais da sociedade do conhecimento:
modelo conceitual para a compreensão das mudanças nas redes organizacionais. Rio de Janeiro: UFRJ (Teses de
Doutorado), COPPE – ITOI, junho de 2002.
2 Por reticularização o autor entende um processo de mudança organizacional relacionado a processos de negócios e
implantação das TICs.
11
REFERENCIAL TEÓRICO
Outra obra que chamou a atenção, no inicio da pesquisa para escrever a presente
decodificação de certos tipos de firmas. Todavia, a leitura que foi fundamental para a
elaboração deste trabalho, foi o artigo do economista, Paulo Bastos Tigre intitulado: Inovação
e teoria da firma em três paradigmas, 4 em que, este propõe uma revisão das teorias da firma a
luz das mudanças tecnológicas e organizacionais em três concepções teóricas distintas sobre a
firma, as quais ele contrapõem a três visões de mundo por ele denominadas de Paradigmas,
mais recente, mais uma concepção pós-fordista; o Toyotismo, uma abordagem que muda a
firma e suas trocas com o meio e seu funcionamento interno voltado à produção e ao lucro.
QUESTIONAMENTO
questionamentos:
Qual a relação da firma com a Economia e como se pode teorizar sobre isto no
campo econômico?
Assim, surge também o questionamento sobre como a Economia aborda esta questão
nas suas diversas teorias da firma e qual o papel da tecnologia e da inovação nestes casos?
3 Gareth MORGAN, Imagens da Organização. São Paulo: Editora Atlas S.A. 1996.
4 Cf. Paulo Bastos TIGRE. Inovação e teoria da firma em três paradigmas. Rio de Janeiro: UFRJ, Revista de Economia
Contemporânea, n. 3 jan-jun, 1998.
12
RELEVÂNCIA
contemporâneo, mas procura apresentar aspectos importantes das mudanças na firma ao longo
relevante para o estudo da firma não somente as transformações econômicas, mas aquelas
procurando ressaltar a relevância da inovação, pois isto tem implicações para o estudo da
Teorias emergentes que começam a competir com os modelos existentes e são baseadas nas
da produção”: processo pelo qual as firma estão se transformando em firmas em rede, isto é,
organizações que criam suas próprias redes e que passam a fazer parte de uma rede mais
expansão e transformação.
movimentamos muito pouco dinheiro com esta nova modalidade de comércio, em relação aos
americanos.7
No Brasil movimentamos, via redes, no final do último século apenas 0,07 bilhões de
dólares, estima-se um crescimento em torno 0,7 bilhões de dólares que poderá crescer mais
próximas décadas.
6 RevistaVeja, Edição Especial: Vida Digital, número 1 629, 22 de dezembro de 1999, p. 9.
7 Segundo o International Data Corporation. No ano de 1999 os americanos movimentaram cerca de 20 bilhões de dólares
com o Busines-to-Consumer ou e-comerce e estimam um crescimento da ordem de 144 bilhões de dólares para os próximos 3
anos. Revista veja, numero Edição Especial: Vida Digital, 1 629, 22 de dezembro de 1999, pp. 74-75.
14
Os Bancos se prepararam para isto e por isto estão entre as firmas mais avançadas
neste setor. As grandes empresas tem apostado nas redes em seus negócios, B to B isto é
Business-to-Business, através dos quais elas negociam entre si. Estes tipos de transações são
O setor bancário se destaca na rede mundial, este setor tem ampliado muito os ramos
de suas redes, bem como seus serviços on-line, e é tido como referência em inovação
um dos que mais exploram os recursos da rede Internet em suas transações e atendimento e
Segundo a Federação Brasileira das Associações de Bancos, Febraban 50% dos 201
bancos brasileiros oferecem serviços pela Internet, seus sistemas de segurança respondem a
quesitos internacionais, além disso, a automação bancária tem tido uma enorme adesão,
no setor do comércio eletrônico. As redes bancárias brasileiras hoje, são uma referencia
rede, ainda que com muitos problemas, vêm do setor público, muitas repartições públicas
ligadas a Internet. As decisões do Supremo Tribunal Federal, STF, estão na rede Internet,
15
organizações em suas páginas da Internet, a Receita Federal, o MEC, o INPI e uma série de
outros órgãos públicos têm se integrado a grande rede, oferecendo serviços de qualidade às
Os traços dos fenômenos econômicos mundiais, ligados a grande rede, que acabamos
pesquisados empregando a própria rede Internet e estão sendo analisados por diversos
tradicional.
No final dos anos 90, havia uma crença enorme nos investimentos “pontocom” e seu
potencial de gerar riquezas. O Brasil viveu este momento, quando empresas deste tipo
desconfiados, ao fechar ciclos anuais com crescimento de 80%, contra os 20% da tradicional
Dow Jones. Segundo André Borges, analista da Revista Forbes para a América Latina:
Foi o tempo de dinheiro fácil, (...).Mas, no início do ano 2000, a febre digital que
havia tomado conta dos negócios pelo mundo já não afetava a todos. Naqueles dias
de euforia, tiveram bom senso aqueles que deram a devida atenção às palavras do
então presidente mundial da Intel, Craig Barrett, que criticou acidamente a
realização de investimentos em papéis improdutivos, em negócios que não tinham
qualquer garantia de retorno. 8
Iniciando uma desconfiança generalizada e uma onda de quebradeira das empresas virtuais,
....o fim das vacas gordas. Em poucos meses, promessas bilionárias simplesmente
desapareceram. E no Brasil, a tragédia não foi diferente. Em questão de dias,
empresas se desvalorizavam em 80%, 90%. Estima-se que os prejuízos globais
tenham ultrapassado a cifra de US$ 1 trilhão.
firma e suas teorias também não. Ela pode ser constatada nos milhões de dólares
movimentados por empresas nada tradicionais na web, que funcionam sob o modelo
Shumpeteriano da inovação.
eletrônico, leilões, investimentos financeiros, serviços e etc. Estas empresas foram fundadas
exterior.
à venda de produtos tradicionais (livros e revistas) que não sucumbiu e está presentemente
resistência ao estouro da bolha das pontocom, sem mencionar diversas outras empresas de
O cenário da Nova economia informacional está como podemos ver, muito mais
anos atrás.
crises do passado.
serviços de vídeo conferencia, Voz por IP, do uso de redes informatizadas e pela Internet. É
interessante notar apenas alguns exemplos que mostram como isto pode afetar o mercado, as
instituições e o comércio.
embora ocupe apenas o 41° lugar entre as nações tecnologicamente mais preparadas; 10
c) Vários serviços on-line, Yahoo, google, Bol, Uol e outros aumentam a cada ano seus
firmas;
informatização nas firmas, todavia, em 2006 já estão conectados a esta rede mundial
e) em 2006 o preço de uma transação on-line custa 0,01 centavos de dólar, a mesma
da Sun Microsystems no Brasil, tem capacidade para arquivar 1000 vezes o total de
10 Ranking elaborado pela IBM e pelos consultores do The Economist Intelligence Unit. (Veja. julho de 2006, Abril Ed.)
18
520 bilhões de dólares, desse total, 17 bilhões foram distribuídos entre empresas da
Internet como o Google e Yahoo, as estimativas para 2006 devem ficar em torno de 35
grande rede. 11
qualidade da rede, bem como, as atividades comerciais na Internet são elementos que
revelam que os negócios na internet contam com uma fatia grande de consumidores das
classes A, B, C e D:
11 Informações retiradas da edição especial de tecnologia da revista Veja. julho de 2005 e julho de 2006, Abril ed.
12 Op. Cit. BORGES, André. p. 01.
19
internauta brasileiro bate recorde mundial de navegação na rede, passando 17 horas conectado
por mês.
Os celulares, que já chegam a 77 milhões no País, passam a ser encarados como forma
alternativa de inclusão digital. Contudo, em relação a muitos outros países o Brasil ainda tem
se comparado aos Estados Unidos e outras nações, por exemplo, baixa densidade de empresas
e consumidores on-line.
Estimativas brasileiras mostram que até o final do ano de 2006 as vendas on-line de veículos,
turismo e bens de consumo (lojas virtuais e leilões para pessoa física) irá provavelmente
Tomando por base estimativas econômicas atuais, colhidas por André Borges, da
consumidor que realiza uma compra pela internet, quatro outros adquirem produtos pelos
meios tradicionais, mas somente após obterem informações empregando sites de e-commerce.
As estimativas sobre as intenções de compra destes outros quatro são bastante positivas, como
é afirmado abaixo:
ainda, que a Internet tem exercido uma influência crescente sobre as compras tradicionais, um
decisão de compra, isso mostra não apenas o poder de marketing que a web possui, mas a
preocupação diferenciada das vendas em não empurrar uma mercadoria, mas fornecer o
máximo de valor agregado antecipado, isto é, antes de efetuado o negócio. Neste tipo de
serviços e setor financeiro, apresentam estatísticas que revelam que, apenas no primeiro
semestre desse ano de 2006, foram movimentados R$ 118,3 bilhões no País, resultado
surpreendente, que foi 28,4% superior àquele alcançado no primeiro semestre de 2004.
evolução humana e das firmas, bem como na crescente modernização das práticas
mudanças.
distintas da empresa tradicional, apenas informatizada: trata-se das organizações em rede que
estudar o caminho da Teoria da firma até este paradigma e como ele vem afetando o design, o
Este novo paradigma tecno-econômico que altera a nossa visão da firma tradicional é
aquelas existentes entre os agentes econômicos, influindo sobre a aplicação e orientação das
PERCURSO
como referencias teóricas ao nosso aprendizado da evolução da firma. Não podemos esquecer
alguns autores que foram também fundamentais a escritura do presente trabalho, tais como,
22
Schumpeter, Antonella Corsane, Pelaez e Sbicca, Manuel Castells, Coriat e Newton Paulo
Bueno.
Cada época elege suas questões econômicas relevantes, tais questões, ao mudarem,
contexto econômico.
Macroeconomia, tendo como ponto de partida as Mudanças gerais nas Teorias da Firma ao
contemporânea.
OBJETO DA ANÁLISE
da firma.
23
de elementos vistos, ora de forma breve ora de forma mais detalhada nas diversas disciplinas
do curso de economia desta universidade. Além desses elementos, buscou-se uma atualização
sobre o que vem sendo discutido, presentemente, sobre a firma na economia contemporânea.
OBJETIVOS
comporta face a realidade ao longo da história econômica, que é marcada por três distintos
Informação na nova Economia. De outro lado, o objetivo Específico, é analisar como a Teoria
Teoria da Firma relacionada aos distintos paradigmas organizacionais tais como, Economia
em linhas gerais como se comporta a Firma face a nova realidade teórica contemporânea,
procurando entender que repercussões conceituais, metodológicas e teóricas isto pode ter.
METODOLOGIA E DESCRIÇÃO
economia política.
24
teorias da firma nos três paradigmas estudados por Tigre. Refletimos sobre a firma e seus
abordagem neoclássica.
teorias da firma.
também, o impacto das TICs sobre a economia e a firma na visão de diversos teóricos
contemporâneos.
EM TRÊS PARADIGMAS
firma, requer uma visão panorâmica sobre a situação desse tema dentro do contexto geral da
Economia. O presente capítulo procura relacionar o tema da Inovação aos três paradigmas da
Rio de Janeiro. Este autor nos mostra que para permanecerem atualizadas, as disciplinas
Desde os tempos de Alfred Marshall, a teoria econômica procura criar modelos que
capturem a lógica do comportamento das firmas e dos mercados." Os resultados
26
A compreensão de firma, como afirma Bastos Tigre, guarda uma relação com a teoria
na qual a mesma se insere e por isso, com a visão de mundo que a teoria assume. Cabe assim,
teoricamente, não existe uma definição única, mas um conjunto de definições que vêm
....... existe um hiato temporal entre a realidade econômica vivida pelas empresas e
as teorias que procuram decifrá-las. O desencontro entre teoria e prática deve-se às
dificuldades históricas de captar, com as limitações teóricas e factuais disponíveis, a
complexidade e diversidade deste ator protagonista do capitalismo. As diversas
críticas às teorias da firma, feitas a posteriori, identificam paradoxos e buscam novas
conceituações, auxiliadas pela incorporação de aportes científicos interdisciplinares
à economia e por dados estatísticos que mostram mais claramente o padrão de
crescimento da firma e da estrutura da indústria. Ao apontar incoerências, os críticos
raramente consideram o contexto histórico e empírico em que se basearam os
teóricos que os precederam. Mesmo em relação à sua própria contribuição, não se
percebe claramente na leitura dos textos econômicos sobre a firma e mercados a que
realidade estão se referindo os autores. 15
diferentes propósitos e diferentes concepções teóricas sobre seu papel na teoria micro e
14 Paulo Bastos TIGRE. Inovação e teoria da firma em três paradigmas. Rio de Janeiro: UFRJ, Revista de Economia
Contemporânea, n 3 jan-jun, 1998, p.67.
15 Op.cit TIGRE, Paulo Bastos. pp. 67-68.
27
Este autor mostra como a evolução das formas de contrato e de arranjos institucionais
entre firmas no mundo dos negócios vêm colocando desafios permanentes aos estudiosos de
termos abstratos, e como identificá-la em termos práticos. Esta questão permeará o presente
capítulo.
Vamos refletir, nos próximos capítulos sobre concepções teóricas da firma em termos
de suas definição empírico teórica, procurando fazer uma comparação com a realidade da
Nova Economia Informacional, para entendermos que exigências se impõem a uma possível
avaliação deste conceito a luz da Inovação tecnológica e das TICs na época contemporânea.
Segue-se o caminho desta proposta, procurando refletir sobre a firma nos dias atuais.
teoricamente, não existe uma definição única de firma, mas um conjunto de definições que
primeira referência Alfred Marshall. Conforme Hodgson (2002), Marshall, em Industry and
Trade, teria privilegiado em sua concepção o aspecto legal da firma. Kerstenetsky (1995)
mostra que, Marshall, em seu livro IV do Principles investiga as leis dos rendimentos e suas
produção e seus efeitos sobre o restante da economia. Nesta visão, a firma é vista como um
marshalliana um agente ativo às mudanças externas. Nesta concepção, a relação da firma com
seu meio ambiente se dá pela forma como Marshall, por um lado, define o papel do
produção, tendo o empresário papel de destaque no processo produtivo, este não só assume os
economias onde o futuro é incerto e desconhecido, mas limitada em outros aspectos relativos
à realidade atual.
que tange a organização da produção, em que são consideradas tanto as economias internas,
da indústria. É de igual importância o capital, que para Marshall consiste, grande parte, em
um fator de produção.
métodos de produção.
seja, das vantagens da maior concentração de firmas similares num mesmo local.
empreendimento.
firma se desfez, e observa-se um crescente interesse pelo estudo das atividades econômicas
com emprego de funções matemáticas.18 Assim, a firma passou a ser identificada formalmente
como uma função de produção, cujas entradas são os vários insumos necessários à produção,
Neste contexto, a análise da firma não constitui uma questão tão importante, pois em
situação de concorrência perfeita, e na ausência de progresso técnico, a firma tem
pouca escolha a fazer. Sua única função é transformar insumos em produtos, e para
isso basta selecionar a técnica mais apropriada e adquirir os insumos necessários no
mercado, incluindo trabalho e tecnologia. O ambiente competitivo é simples e inerte,
praticamente sem incertezas. 19
rendimento, que reúne fatores de produção que se combinam de acordo com a tecnologia
disponível de conhecimento comum. Dito de outro modo, a firma é o local onde uma ou
ou serviço, é agente passivo, que toma a tecnologia, os preços dos fatores e a capacidade
Outra concepção de “firma”, que enriqueceu a visão da firma para além de uma mera
função de produção, é a proposta por Coase (1937), que investiga por que a produção não é
basearam os teóricos, pois entende que em geral não se percebe claramente na leitura dos
textos econômicos, sobre a firma e mercados, a que realidade os autores estão se referindo.
Este insight de Tigre, tem feito com que os diversos teóricos economistas brasileiros, se
empírico e estatístico como forma de ver mais nitidamente os fenômenos econômicos. Isto
permite que diversos autores percebam as constantes mudanças nos modos de organização da
produção predominantes no século XXI e sua relação com a estrutura da firma, mas o
conhecimento da mesma exige ir além dos dados empíricos e estatísticos. Neste contexto, se
necessitam novos conceitos e teorias para dar conta da realidade a que estes dados remetem e
começam a ser incorporados no pensamento econômico, como veremos nos capítulos que
seguem.
economista.
32
Hoje com a Internet, a realidade da firma se torna cada vez mais transparente e
vastos bancos de dados sobre as empresas, que ao longo do tempo implicam na acumulação
de valiosos conhecimentos sobre a firma que dão origem a novos conceitos. Um exemplo de
como a tecnologia pode influenciar a firma e a compreensão desta, são as técnicas de Data
imensas bases de dados das firmas, retirando daí, informações importantes que permitem que
transformado os mesmos.
Além disso, conforme Bastos Tigre, o conhecimento teórico sobre a firma teve um
desenvolvimento maior no final do século XX, devido ao aporte teórico oriundo de outras
tecnológica e organizacional da firma, pelo fato de já não mais existir um modelo único de
firma capitalista no século XXI e devido a diversos fatores de ordem, cultural, tecnológica e
organizacional. Não só a tecnologia influi para isso, mas também, o modo como à tecnologia
século XXI, existem, nesse século, diferentes tipos de firma e de configurações de mercado,
33
mesmo ambiente econômico. Toda essa diversidade faz aparecer novas taxonomias, cabe
organizacional na firma-típica de cada paradigma proposto por Bastos Tigre. Este autor se
baseia nas pesquisas elaboradas por Coriat e Weinstein (1995), para distinguir as filiações
Históricas de cada paradigma, e assim, visualizar e situar a evolução das principais teorias da
ela é retirada da epistemologia de Thomas Kuhn, que emprega esta noção para analisar o
teoria da firma.
teóricas da firma, Bastos Tigre relaciona as diferentes teorias da firma às estruturas e sistemas
britânica, que dominou a economia mundial durante todo século XIX e que serviu
na maior parte do mundo no século XX. A partir deste paradigma surgem as teorias
paradigma da Nova Economia que tem por base as TICs, aparece e é estimulado
estimularam uma nova construção teórica na década de 90, como veremos, vem
presente trabalho:
durante todo século XIX, e levou aos estudos relativos às leis de mercado e teorias sobre a
acumulação da riqueza.
A firma desde a economia clássica é vista como uma forma de organização racional
voltada à produção de riquezas, tendo como objetivo último, um máximo individual, sendo
entendido por riqueza, aquilo que satisfaz necessidades materiais e procede do empresário
como excedente.
enquanto que, as demais nações buscam instituir tarifas protetoras para desenvolver suas
indústrias.
Trustes e Cartéis, principalmente nos Estados Unidos e na Alemanha, a firma nesse contexto
forte controle da produção, distribuição e preços de seus produtos. Muitos desses monopólios
industriais, levando a busca por criação de novos mercados e o controle das fontes primárias
de matéria prima.
........a teoria de Adam Smith nunca foi desmentida: esta produção repousa sobre a
divisão do trabalho adotada como arma única na luta contra o tempo e, como
corolário, sobre a extensão dos mercados. Dito de outra forma, dada a “inclinação
natural à troca”, a divisão do trabalho, facultada pela extensão dos mercados, se
desenvolve e permite os ganhos de produtividade sobre os quais se estabelece a
produção do excedente. Sem jamais infirmar os postulados do pensamento clássico,
e aprofundando seus fundamentos, a economia, que se constrói como ciência com a
afirmação da teoria neoclássica, abandonará a análise do processo de acumulação
para se constituir como teoria do equilíbrio de mercado. Ela será essencialmente
teoria normativa dos mercados e das leis que garantem os princípios de eqüidade e
eficiência do sistema. Sob a hipótese de um comportamento individualista, o sujeito
produtor não deseja trabalhar com os outros; dito de outra forma, a cooperação é
excluída e resta somente o mercado para coordenar a ação dos agentes, cujo objetivo
último é um máximo individual de prazer. 24
Veremos ao longo deste trabalho uma anteposição a estes valores nos séculos XX e
XXI, nos quais surgem novos Arranjos institucionais baseados em organizações gerenciais por
O panorama de operação da firma entre este dois séculos, passa a ser o das relações
pelo uso e evolução de novas tecnologias e da inovação. Assim a decisão entre fazer, comprar
ou cooperar é neste século sempre tomada no contexto de uma rede concreta (em oposição ao
mercado abstrato). Observa-se que conexões inter-firmas vão emergindo ao longo do tempo e
24 Antonella CORSANI. Caminhando para uma renovação da economia política. Conceitos antigos e inovação teórica. Rio
de Janeiro UFRJ ed. Revista Lugar Comum, n. 11, 2000. p.129.
25 Neologismo que junta Cooperação e Competição num mesmo processo real em as firma buscam vantagens nos mercados
sem se aniquilarem uma as outras, esta realidade nova é embaraçante para os estudos microeconômicos tradicionais.
37
gerencial e de redes das firmas são antecedidas por idéias que se relacionam a constituição
interna da firma e sua forma de se relacionar com o meio externo, como por exemplo, a lei de
Say, formulada por Jean-Baptiste Say, em 1803, segundo a qual toda oferta é capaz de gerar
uma demanda, permitindo a economia trabalhar com utilização plena dos recursos. De acordo
com esta perspectiva, nega-se as crises econômicas, pois se pressupõem que os desequilíbrios
entre oferta e procura são temporários, neste sentido todo excesso de oferta perdura até que a
Nesta mesma época, 1817, David Ricardo, desenvolve estudos sobre as condições
autor examina que, quando sobem os preços dos insumos, sobem também os custos para
de-obra pode ter influência do mercado e subir, quando esta se torna escassa e barata, e cair
quando abundante, assim, Ricardo elabora para a boa condução da firma industrial, a chamada
lei férrea dos salários, segundo a qual, um trabalhador deve receber apenas o necessário para a
sua sobrevivência e de sua família, esta idéia possui uma validade para o controle de uma
século XXI.
Ainda no contexto da Revolução Industrial, surge com o Capital de Karl Marx, 1867,
uma teoria antagônica que combate as discrepâncias e anomalias existentes na relação entre
Capital e Trabalho. Neste contexto teórico, o trabalho é examinado como uma mercadoria,
que possui características especiais, a firma capitalista o compra por um valor que
corresponde ao custo mínimo para sua sobrevivência e de sua família, como em Ricardo,
contudo, Marx analisa que nesta relação, a força de trabalho pode produzir mais do que o
A diferença entre o que o trabalhador recebe de salário e o valor que seu trabalho
adiciona à mercadoria que este produz se transforma em acumulação para a firma detentora
dos meios de produção, torna-se Mais-valia que, ao ser apropriada individualmente, assume
38
Perfeita. A firma da Nova Economia, por outro lado, opera com desafio dos recursos
um cenário, marcado pelo fim da partilha colonial e se firma dentro de um mercado mundial
baseado nos trustes e monopólios e na luta expansionista pelo controle dos mercados. Suas
preocupações e ações baseiam-se na racionalidade perfeita dos agentes, ênfase na análise das
nações. Do ponto de vista dos sistemas nacionais de regulação, a firma é marcada por
embora muita coisa tenha mudado no século XXI, que algumas características da firma
norteadores teóricos, tais como, as escolas e Teorias econômicas. Por exemplo, a escola
ser datado da Segunda metade do século XVIII, quando tem início a Revolução Industrial
processo de industrialização meio século antes dos demais países europeus, além disso, ela
aço) e mais tarde, inovações organizacionais (taylorismo), que vão influenciar o paradigma da
Em 1880, afirma Tigre, a Inglaterra detinha cerca de 40% das exportações mundiais de
40
industrial, o qual marca a Segunda fase da Revolução Industrial (1860-1900) e mantém a sua
As principais mudanças nos processos produtivos são, nesta fase, o emprego de novas
neoclássicas:
Embora a “firma” na teoria dos preços seja, segundo Demsetz (1993), um simples
artifício retórico adotado para facilitar a discussão do sistema de preços, o modelo
de operação das firmas típicas do mercado britânico não podia deixar de servir de
referência aos autores neoclássicos para idealizar e modelar o sistema econômico.26
deve satisfazer as suas necessidades, sem preocupação com o bem estar coletivo. A despeito
disso, esta busca egoísta e competitiva estaria na base de todo bem público. Qualquer
social do trabalho, as causas das crises econômicas, acumulo do capital e papel da firma.
Assim, o modelo neoclássico surge conforme Demsetz (Demsetz 1993), do debate entre
economia.
O papel teórico-econômico influi bastante no modo de entender a firma, isto pode ser
nova teoria de valor, surgida com a escola neoclássica marginalista, que foi inteiramente
inovadora em relação a Economia Clássica e vai estabelecer um novo padrão para a firma
modelo fordista.
de concorrência perfeita.
Jeremy Bentham.
está relacionado com a utilidade que este tem para cada individuo ou firma. Tal utilidade, por
seu turno, depende da quantidade do bem que o indivíduo ou a firma dispõem. Desse modo,
os preços das mercadorias e dos serviços passam a ser definidos pelo equilíbrio entre a oferta
e a procura, que funciona como uma lei do mercado. Tal lei do mercado, segundo esta
novo equacionamento nas relações entre Capital e Trabalho. Os marginalistas, Stanley Jevons,
Karl Menger e Leon Walras desenvolvem teorias marginalistas de forma independente, mas
que visam repartir o bolo econômico de forma mais equânime, buscando minorar as diversas
de valor utilidade e assim, desviando a atenção dos aspectos da produção para o consumo.
as informações a respeito dos atributos dos bens e são capazes de escolher racionalmente
entre bens alternativos. A firma é assim, considerada um agente individual, interagindo com
sua utilidade e deve ser definido a partir de uma fórmula de cálculo que leva em consideração
o número de consumidores para este produto e o valor (limite) máximo que estes estariam
dispostos a pagar. O comprador que atinge este limite é chamado de marginal, seu
comportamento pode mudar, no entanto, além desse limite, se o preço for um pouco acima do
limite, o consumidor tende a procurar outro produto que o satisfaça. Um preço muito abaixo
do limite mencionado provocaria uma oferta insuficiente e a firma não estaria recebendo o
interior das firmas e modela suas estratégias competitivas, servindo também de modelo à
explicação, para o preço do capital (lucro) e dos valores dos fatores de produção da firma
plena concorrência, pela sua utilidade marginal, ou seja, o limite entre o mínimo que o
empregado aceita receber por seu trabalho e o máximo que o empregador quer pagar.
fundamental da firma é a alocação ótima de tais recursos, daí deriva a sua orientação
geral e parcial, guarda pouca relação com a realidade econômica atual, contudo ela ainda
Revolução Industrial britânica não, possuirá mais aplicação prática para análise de mercados e
tomada de decisões, nos paradigmas econômicos seguintes, apesar das inúmeras tentativas de
teoria neoclássica tradicional, o foco de interesse permanece vinculado à teoria dos preços e
alocação de recursos.”30
irrealismo quanto aos seus princípios, no interior dos quais, podem ser constatadas as
mercado;
produção;
insumos;
maximização de lucros. 31
admite a existência de recursos específicos à empresa, que não são transferíveis pelo mercado
Para Alfred Marshall (1890), havia um irrealismo de muitas das hipóteses do modelo
walrasiano, isto levou a desenvolver teses para a realização de uma Economia Industrial e
tentar superar o caráter estático do modelo marginalista, através das teorias de equilíbrio
Marshall, por sua vez, não via a economia com suas análises e leis como corpo de
dogmas imutáveis e universais, mas “uma máquina para a descoberta da verdade
concreta”. Marshall procurou despojar a economia ortodoxa de seu pretenso
dogmatismo, universalidade e intemporalidade, submetendo seus postulados a um
rigoroso tratamento científico. Sua formação em Matemática em Cambridge e sua
vinculação à Escola Clássica Inglesa estabeleceram os fundamentos de seu
pensamento, mas não o impediram de reconhecer as limitações e dificuldades da
teoria em lidar com problemas econômicos. Marshall tinha em mente um modelo
idealizado de funcionamento da firma, derivado de observações casuais, que
guardava certa analogia com a realidade das firmas típicas de sua época.33
perfeita, como também não identificava os limites do crescimento da firma nas deseconomias
Como vimos a pouco, a teoria neoclássica apresenta a firma por uma função de
técnicas. Como vimos estas possibilidades, definidas de forma exógena pelo desenvolvimento
O modelo geral de racionalidade que rege a firma neoclássica é bastante singelo: cabe
selecionar a melhor combinação de fatores, para maximizar lucro. Neste sentido, inexistem
variáveis endógenas, visto que é o mercado que impõe à firma as variáveis que ela utiliza em
suas decisões.
empregada à firma, a qual procura maximizar sua utilidade e para isso, escolhe a melhor
lógica, um comportamento único, baseado na maximização dos lucros, que não pode ser
A firma é tratada não como instituição, mas sim como ator, com um status similar
ao consumidor individual. Um ator passivo e sem autonomia, cujas funções se
resumem em transformar fatores em produtos e otimizar as diferentes variáveis de
ação. A natureza das variáveis que a firma manipula não é determinada
endogenamente, mas sim pela estrutura de mercado que se impõem a ela.
Considerando a disponibilidade de informações, a perfeita capacidade de calculo e a
incerteza probalizada, a firma se comporta como um autômato, programado uma
vez para sempre. 34
autores neoclássicos é que tal modelo não explica como a firma, apesar de formada por
pessoas, não apresenta diversidade de preferências, já que tem por pressuposto, que os
indivíduos, assim como a firma, pretendem maximizar suas vantagens, seja na forma de lucro
A firma neoclássica tem seu foco de interesse permanente na teoria dos preços e
FIRMA
Paul Mongin, The Marginalist Controversy no, The handbook of economic methodology
condensa estas críticas. Nesse Artigo o autor mostra como os conceitos neoclássicos da teoria
34 Bastos Tigre, op.cit, p.72.
48
De acordo com Philippe Mongin (1998)35, Robert Hall, deu uma importante
contribuição para tal discussão, do mesmos modo que Charles Hitch. Ambos defendiam, no
final da década de 30, o conceito de mark-up, que tinha por base dados empíricos e não
teóricos, com isto, criar um debate e questionamento da teoria marginalista. Conforme Victor
Robert Hall e Charles Hitch afirmavam que as firmas estimavam ex ante o custo
médio e determinariam uma produção “normal” sobre a qual adicionariam uma ou
mais porcentagens marginais. Insistiam que este era o padrão de conduta das firmas
e que elas até podiam maximizar lucro, mas isto só ocorreria acidentalmente. Isto
causou uma colisão com a teoria neoclássica da firma. A defesa ocorreu em termos
curiosos: a teoria do mark-up referia-se a dados empíricos e não a um princípio
teórico como a teoria marginalista da firma. Dessa forma, Austin Robinson,
Machlup e Heflebower acreditavam que os dados empíricos acabariam sendo
reconciliados com a teoria e para isso o marginalismo deveria ser mais sofisticado.
Ainda em 1946, R. A. Lester também revelou dados que iam contrariamente ao que
a teoria da firma tradicional propunha, acirrando o debate. 36
Tendo por referencia Cyert e Hedrick (1972, p. 401) Pelaez e Sbicca, afirmam que
muitos modelos foram criados, à época, como extensão da teoria neoclássica para tentar num
acordo da teoria com a realidade. Mas, baseado nisto, o comportamento das firmas continua
sendo deduzido da hipótese que descreve o ambiente. Aquilo que não é adequado ao descrito
Estes críticos refletem sobre a seleção das variáveis escolhidas para compreender a
argumento, sempre é possível introduzir uma nova variável no modelo da firma, tentando
Outro aspecto mencionado pelos críticos é que o processo seletivo das firmas traz
“individualismo metodológico”.37 Mesmo que seja assumido que as firmas maximizam e por
isso são racionais, é difícil explicar porque na luta pela sobrevivência das firmas estas são tão
transação, também não, é assim, difícil explicar taxas de crescimento tão diferenciadas.
Conforme Silveira (1994, p. 61), citado pelos autores, “A maximização do lucro a longo prazo
37A lógica do pensamento neoclássico é baseada no individualismo metodológico esta tese é também a base filosófica do
pensamento neoclássico. Por individualismo metodológico entende-se, a tese que considera o indivíduo como a unidade de
análise fundamental.
38 0p.cit. PELAEZ, Victor & SBICCA, Adriana. pp.7-8
50
é aceita no abstrato, donde não mais do que norteia a formulação do conjunto operacional de
No que concerne a firma segundo Bastos Tigre, as críticas aos pensadores neoclássicos
apresentam em muitos aspectos, alguns pontos frágeis quanto a sua epistemologia. Mas
devemos considerar que tais críticas constituem o ponto de vista de um analista do final do
século XX e não do século XIX, por isto, os críticos muitas vezes ignoram aspectos empirico-
Havia na teoria neoclássica da firma, como mostram seus críticos, uma absoluta
desconsideração de fatores técnicos e organizacionais. A possibilidade de variação
infinitesimal da produção, em resposta à variação nos preços e na demanda, é um
exemplo extremo No entanto, outras premissas fundamentais não parecem
irrealistas, quando se leva em consideração o funcionamento do modelo industrial
de maior sucesso econômico do século XIX. Isso inclui o princípio de concorrência
(embora não perfeita), do caráter exógeno da tecnologia (incorporada nos
trabalhadores e máquinas), do tamanho ótimo de equilíbrio da firma (em um
ambiente de mudança tecnológica lenta) e de informações disponíveis (nos redutos
privilegiados dos grandes distritos industriais).40
preços, do que na competição e organização das firmas, por isto, muitas das exigências
Devemos lembrar como afirma Tigre, que tal modelo tem por base uma visão do tipo de firma
Diante deste quadro cabe indagar de que firma falam os autores neoclássicos e seus
críticos. O irrealismo das hipóteses sobre o comportamento da firma é reconhecido
e criticado ex-post por autores que se defrontavam com outra realidade empresarial.
Muito pouco foi realizado para entender o ambiente empresarial e competitivo que
inspirou os autores neoclássicos a desenvolverem suas teorias sobre o
Segundo o autor acima, diversos são os fatores que podem justificar a direção
assumida pelos desenvolvimentos iniciais da teoria neoclássica e que impedem uma crítica
neoclássica, muitos deles se assemelham, por isto, segundo estes autores, estas formas de
defesa “nem sempre correspondem a alterações do cinturão protetor” desta teoria. Assim, um
exemplo clássico citado por estes autores, é que a economia neoclássica atribui pressupostos
quando os críticos levantam a complexidade das ações humanas, mostrando o quão distante
defendem afirmando que suas análises se comportam conforme a cláusula ceteris paribus,
uma ciência social e não uma ciência exata. Afirmam que sua cláusula ceteris paribus é
legítima do ponto de vista científico, visto que isto é amplamente aceito nas demais ciências,
mas tendo por base as ciências naturais. (mencionam o exemplo tradicional da física do
Hollis e Nell (1975, p. 67) retrucam que para se utilizar a cláusula ceteris paribus,
eliminando influências não pertinentes, é necessário que as variáveis, cujos valores
são adotados como zero ou constantes, sejam conhecidas a ponto de se saber se elas
são independentes e não influenciam outras variáveis que entram no modelo, bem
como as definições destas variáveis. Hollis e Nell (id.) afirmam que não é isto que a
economia neoclássica faz, mas um ajustamento dos valores observados para se
adequar ao que a teoria propõe. Os autores negam assim a semelhança entre
concorrência perfeita e o movimento sem atrito (ibid., p. 68). 42
de escala. A curva de custo em forma de “U” permite representar como em algum ponto às
Marshall sustenta, afirma Tigre, que, quando a firma aumenta sua produção, ela pode
estabelecer deseconomias, tanto internas quanto externas, em virtude do aumento dos custos
problema segundo Tigre é que tais críticas são descontextualizadas, pois, no capitalismo da
Revolução Industrial britânica do século XIX, não haviam ainda evidências empíricas que
Sengundo Hindess (Hindess, 1994, p. 211), citado por Pelaez e Sbicca, 43 o uso da
de sua base no individualismo metodológico. Há, neste caso, um reducionismo teórico no qual
o sistema social nada mais é que a soma dos indivíduos que o compõem. O conjunto dos
indivíduos e as interações entre eles não apresentam interesse e não são, portanto objeto de
análise.
isso o individualismo metodológico é base para a teoria neoclássica, estes autores afirmam:
Neste sentido, Hodgson (1995, p. 329) afirma que esta é uma característica de todo
o programa de pesquisa neoclássico que procura construir um quadro com unidades
atomísticas individuais, como a unidade central da mecânica newtoniana. Segundo
este autor, parece haver uma inspiração dos economistas na física clássica. Os
resultados das escolhas racionais envolvem claramente o ponto de vista do agente
individual. O comportamento não é explicado em termos de forças sociais de larga
escala como interesses de classe ou necessidades do sistema econômico capitalista
(id.). A ação segue as crenças e desejos do indivíduo que seleciona, de acordo com
estes, sua ação. Desde que os agentes são observados como maximizadores de suas
preferências, são geralmente definidos como self-interested. 44
Cabe reiterar que a teoria neoclássica tradicional, desenvolvida a partir do início do
século XX, manteve forte influencia da visão walrasiana em tratar a firma como agente
individual, sem reconhecer seus aspectos de entidade coletiva, isto levava a imputar à firma
indivíduos que constitui a firma é tratado como uma unidade, coerente com a lógica racional
É interessante notar, a partir do que foi dito acima que, firma e indivíduo, são na visão
social, na qual há interação entre indivíduos. Tal dinâmicas será importantíssima na firma do
43 0p.cit. PELAEZ, Victor & SBICCA, Adriana. p.9.
44 0p.cit. PELAEZ, Victor & SBICCA, Adriana. p. 9.
54
século XXI, cujos resultados podem ser bastante diversos do comportamento maximizador
neoclássico.
Tigre. Este modelo organizacional garantia a eficiência coletiva das empresas individuais
desta época.
de fatores de produção de baixo custo no mercado. Sendo assim, não havia utilização
otimizadora dos recursos produtivos no interior da firma. As economias externas eram obtidas
com base na coordenação pelo mercado dos fatores de produção (e particularmente dos
fatores variáveis de produção) adquiridos pela firma. É interessante notar, como tais
princípios são empregados, ainda hoje, para planejar e descrever a atividade de distritos
O final do século XIX, particularmente o período entre 1873 e 1896, foi um período
caracterizado pela deflação, com uma queda média nos preços das commodities. A taxa de
juros também caiu, a um ponto tal, que os economistas teóricos passaram a admitir a
possibilidade de o capital ser abundante o suficiente para ser considerado um bem livre.
A noção de barreiras à entrada, seja técnica ou financeira, ainda não tinha sido
incorporada pelos economistas. Havia na teoria neoclássica da firma, como mostram seus
demanda, é um exemplo.
Ao contrario do afirmado acima, segundo, Kincaid (1998, p. 297) citado por Pelaez e
que assume muitas estruturas de tipo institucional como, por exemplo, direitos de
propriedade, distribuição inicial e preferências desiguais”.45 Haveria assim, nesta visão, uma
O regime jurídico que regia a firma no século XIX, além de responsabilizar individual
neoclássica.
avessa a riscos que pudessem resultar em sua ruína pessoal enquanto proprietários de firma.
neoclássica da Revolução Industrial, deve ser analisado dentro do seu contexto histórico-
FORDISTA
A firma da economia industrial fordista e seu contexto inauguram uma outra acepção
desenvolvimento capitalista no século XX, fazendo com que os teóricos da organização, entre
eles os economistas, percebam que, em seu processo dinâmico, firmas criam mercados e não
ao contrário.
O que aconteceu com firma ao longo do século vinte em direção a realidade da Nova
Economia foi que, a firma deslocou seu foco de atenção da teoria, no âmbito do mercado,
enquanto mecanismo alocativo e regulador via preços, para o foco da firma enquanto unidade
(taylorista).
A Revolução Industrial britânica criou uma corrente econômica voltada à redução dos
custos dos produtos e a especialização dos trabalhadores, gerando destreza e organização nas
etapas do processo produtivo. No fordismo, do mesmo modo que nas indústrias oligopolísta, a
maior concentração econômica. A partir daí, “...as inovações permitiram que determinadas
exploração das oportunidades para obter economias de escala e de escopo e para reduzir os
custos de transação...”.46
transformações econômicas surgidas, fizeram com que a partir dos anos 20, a teoria
bem como, tecnologias de produção em massa. Este contexto vai tornar a teoria da firma
Conforme Tigre, Marshall se deu conta desta realidade, percebendo que as firmas
deseconomias de escala. Para este autor, as firmas podem apresentar deseconomias de escala
internamente, porque “os recursos fixos, como máquinas e administradores, não conseguem
interagir com um volume maior de produção com a mesma produtividade” 47. A razão para
isto, segundo Marshall era a dificuldade em garantir qualidade, evitar desperdícios e controlar
a eficiência da mão-de-obra.
deseconomias externas de modo que a demanda por insumos variáveis pressionaria os preços
no mercado.
organização do trabalho a partir da evolução da firma fordista, a qual se caracteriza pela linha
Este modelo industrial será o predominante na indústria mundial até meados da década de
setenta.
teoricamente a fábrica de alfinetes descrita por Adam Smith, no livro A riqueza das Nações.
Para dar um exemplo, poderemos citar uma indústria muito débil, mas cuja
divisão do trabalho tem sido muito notada: a fabricação de alfinetes. Um
trabalhador que não esteja habituado a esta indústria (que a divisão do
trabalho transformou numa atividade específica), ou às maquinas nela usadas
(para cuja invenção contribuiu provavelmente essa mesma divisão do
trabalho), dificilmente poderá, dada a sua falta de conhecimentos fazer um
alfinete num dia, e certamente não conseguiria fazer vinte. Mas devido à
maneira como atualmente esta atividade está organizada, não só constitui um
tipo de produção com característica muito especificas como ainda se
apresenta dividido num certo numero de ramos de atividade, grande parte dos
quais se assemelham a indústria distintas. Um homem transporta o fio
metálico, outro endireita-o, um terceiro corta-o, um quarto aguça a
extremidade, um quinto prepara a extremidade superior para receber a
cabeça; para fazer a cabeça são precisas duas ou três operações distintas;
colocá-la constitui também uma tarefa especifica, branquear o alfinete outra;
colocar os alfinetes sobre papel de embalagem é também uma tarefa
independente. O importante trabalho do fabrico de alfinetes está portanto
dividido em cerca de dezoito operações distintas que, em algumas fabricas
são efetuadas por diferentes operários, se bem que noutras o mesmo operário
possa realizar duas ou três delas.49
A evolução das idéias de Adam Smith e a análise dos Tempos e Movimentos de Taylor
tornaram-se realidade para Ford, que encontraria a aplicação prática dessas teorias na linha de
montagem.
parcelamentos das tarefas, o que permitia um aumento expressivo da produção e redução dos
produzida por jornada de trabalho. Estas mudanças tiveram impacto não apenas no chão-de-
O modelo fordista, foi inspirado numa indústria de conserva que utilizava uma esteira
rolante para dar seqüência a produção. Ford adotou a idéia em sua fábrica, fazendo com que o
49 Adam SMITH, Investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações. (1776/84) São Paulo: Abril Cultural Ed.
1979, pp. 7-8
59
ritmo da produção passe a ser determinado pelo capital e não pelo trabalho, através do
organização.
bens de consumo, mas as firmas de outros setores passam a ser estruturadas a partir desse
paradigma.
na década de vinte, coincide com a criação da teoria da firma, que representa, pela primeira
à realidade da firma.
modelo de firma, a firma fordista, que surgirá a partir de diversas inovações técnicas e
organizacionais e também de gestão representa uma nova realidade tanto empírica quanto
teórica:
Tecnologia eletro-mecânica;
produtivo;
Produção em série;
Economia de escala.
que os banqueiros, antes limitados aos financiamentos das estradas de ferro, passaram a dar
8,56 minutos. Com a linha de montagem, a fabricação na Ford passou para 300.000 unidades
em 1914. Em 1923 alcançou 1.900.000 unidades, fato extraordinário para época, no mesmo
movimentos, e otimização das ferramentas, criando uma forma eficaz e criativa de produção
que irá revolucionar a produção industrial de sua época. No entanto a velocidade da produção
O motor da revolução foi o Ford T, com seu design estandardizado, cor preta, com
apenas 5 mil partes, linha de produção organizada e baixo custos, justamente para
que pudesse ser comprado por qualquer pessoa. [...]. Nos primeiros cinco anos de
pleno funcionamento, a linha de operação saltou de 17.771 carros para 202.667.
Onze anos mais tarde, somava 1,8 milhões de unidades. [...] De 950 dólares caíram
para 550 até fixar-se no patamar de 355 dólares.51
51 Revista isto é dinheiro, in. Biografia dos grandes empresários, Henry Ford, São Paulo: Três ed. n. 29 1998, p.14.
61
Porque Ford teve um papel tão importante, levando reformulação de teorias ou a busca
levavam a resultados quantitativos expressivos, tais como: Ford, conseguiu em pouco tempo
quando as vendas subiam expressivamente, Ford elevou os ganhos diários de 2,34 para 5
dólares por dia. Resultando em uma maior motivação dos operários e fazendo com que o
absenteísmo caísse em torno de 85%. Além disso, numa perspectiva gerencial a Ford ofereceu
Com o fordismo, a firma passa a contar com atividades de controle que irá evoluir para
Além disso, a partir do final do século XIX, a firma se modifica bastante em relação
as formas neoclássicas anteriores de organização, por outro lado, as interações da firma com o
inovação técnica passa a Ter um papel ainda mais preponderante que no passado.
62
algumas firmas são capazes de escapar do equilíbrio enquanto outras permanecem suas
prisioneiras?” Os teóricos concluem que a firma fordista deva merecer uma pesquisa histórica
mais apurada.
Berle e Means (1932), entendem que atualmente a firma é considerada mais um agente
eletricidade, fazem aparecer um outro tipo de firma e um novo modo de conceber e gerenciar
os negócios das grandes empresas, no que concerne a difusão de inovações, Tigre afirma que:
Três áreas de inovações merecem análise mais detalhada por terem contribuído para
alterar radicalmente o perfil da estrutura da indústria, gerando modelos de firma e
mercados até então inexistentes. São elas a eletricidade, o motor a combustão e as
inovações organizacionais conhecidas como “fordistas -tayloristas”. Tais sistemas de
inovações mudaram o centro dinâmico do capitalismo para os Estados Unidos e, em
menor escala, para a Alemanha e França. As descobertas no campo da eletricidade e
magnetismo, e suas aplicações no campo industrial, foram responsáveis por grandes
transformações econômicas no século XX.54
importantes para a firma e o mercado. A idéia de produção em massa, associada a Henry Ford
todavia, como afirmamos, sua junção ao taylorismo traz resultados interessantes para a
industria:
trabalho das divisões operacionais da firma alocando recursos para a produção como,
Alem disso, tal forma divisional (descentralizada), corrente nos Estados Unidos após a
Primeira Guerra Mundial, não era restrita apenas a Ford, era também empregada pela General
Motors, Du Pont e Standard Oil, e foi imitada também, pelas grandes firmas em mercados
internacionais:
Segundo Tigre, “... o potencial para a realização das economias de escala não estava
através das firmas mais modernas em diversos setores da economia. A realidade destes setores
dinâmicos, cria novos desafios para as demais firmas, colocando dificuldades para aquelas
ainda vinculadas ao paradigma anterior. Diante destas mudanças o contexto da firma fordista
Possas (1987), e citado por Tigre (1988), este dilema mostra a contradição existente na teoria
teorias as novas dimensões assumidas pela firma capitalista no século XX. É provável que o
mesmo esteja acontecendo com os teóricos contemporâneos com relação a firma da Nova
estudiosos, em reformular ou adaptar seus aparatos teóricos, de modo que possam ser úteis ao
exame da nova realidade fordista em relação a firma e aos mercados. Nesta direção,
caminharam por exemplo, Pietro Sraffa , Joan Robinson, Chamberlin, Shumpeter e Steindl.
analise dos efeito das tecnologias e suas inovações sobre a firma e a economia.
relaçao entre firmas e mercado, ele entendia como irrealista a tese da concorrência perfeita
neoclássica.
de escala, a autora constatou que cada firma acabava detendo um monopólio para seus
produtos, o qual resultava da preferência dos consumidores, que exerciam livremente sua
escolha a despeito dos produtos substitutos bastante semelhantes. Outro autor que segue este
Somente a partir de 1952, conforme Coutinho (1983), citado por Tigre (1998) è que
americano.
uma teoria completa e articulada do sistema concorrencial em que se situava a firma em sua
época. Este autor reconhece pela primeira vez, como elemento de análise econômica, o papel
acumulação. Sua análise das assimetrias entre firmas, permitiu explicar a configuração das
“As empresas com menores custos e margens de lucros maiores são, segundo Steindl, as que
onipotência do mercado, desmerecendo o papel da firma, assim, esta é quase esquecida, por
como entidade fundamental para a análise econômica, assim como, dão importância ao papel
século XXI, a partir das transformações econômicas e de mercados influenciados pela TICs.
Firma/organização;
Firma/instituição;
Firma/custo transação;
Algumas destas concepções teóricas sobre a firma, são identificadas por Coriat e
principais teórico:
vêem a firma como uma ação coordenada entre indivíduos e grupos. Para assegurar
dimensão social (sistema político, social e jurídico na qual a firma se insere e que
limita sua metamorfose). Isso inclui sistemas de propriedade, relações com bancos,
períodos históricos. Pondé (1996) ressalta a ênfase dos institucionalistas nas relações
alternativo ao mercado. 63
industrialização que dão forma a firma, são, como visto, fordistas em sua essência, pois são as
grandes firmas fordistas que orquestram os princípios gerais que vão reger a organização do
A historia econômica e a economia política permitem notar que os princípios da firma fordista
Seus princípios são conhecidos: uma padronização rigorosa dos gestos operativos e
correlativamente uma rigorosa separação entre O&M e a fábrica, entre a concepção
e a execução manual. Essa racionalização através da separação tem dois objetivos.
O primeiro é o de generalizar o mais rapidamente possível o método aparentemente
mais eficaz (the one best way) e eliminar as hesitações sobre as distribuições das
diversas seções e suas disfunções. Visa assim a obter ganhos de “produtividade” no
sentido estrito (na eficácia de cada operação) pela socialização, organizada desde o
topo do processo de aprendizagem coletiva. O segundo objetivo, menos
explicitamente reivindicado, é o de obter, através do conhecimento preciso do
tempo requerido para levar a cabo cada operação, um controle rigoroso sobre a
intensidade do trabalho dos operadores (numero de operações por hora de trabalho),
revistos e revisitados a despeito das inovações organizacionais. Cabe lembrar, que o fordismo
se distingue do taylorismo, visto que muitas normas tayloristas são na firma fordista, não mais
incorporadas por agentes humanos, mas aos sistemas mecânicos e automáticos industriais,
visando do mesmo modo, melhorias na produção. Neste caso, o tempo e o movimento das
de modo que, o movimento dos dispositivos automáticos da linha de montagem passa a ditar a
operação requerida e o tempo necessário para a realização do trabalho dentro das normas.
economista.
Segundo Lipietz (1986) e Glyn (Glyn e al. 1987), analises econômicas da década de
oitenta, mostraram que a partir de 1970 a produtividade da firma fordista começou a diminuir.
Do ponto de vista macroeconômico, o capital fixo per capita começou a crescer, isto
taxa de acumulação. Um breve resumo da crise do fordismo é assim delineado por Lipietz e
Leborgne:
64 Alain LIPIETZ e Danièle LEBORNE. O pós fordismo e seu espaço. Revista espaço e debate n. 25, 1998. p13
71
conduziu a uma queda da lucratividade nos anos 60. A reação dos empresários (via
internacionalização da produção) e do Estado (generalização das políticas de
austeridade) levou a uma crise do emprego e daí à crise do Estado-providência. A
internacionalizaçao e a estagnaçao dos rendimentos detonaram por sua vez a crise
“do lado da demanda”, no fim dos anos 70. A “flexibilidade” surgiu então como
uma adaptaçao a este último aspecto da crise, que é tao fundamental quanto o
aspecto “lucratividade”.65
Diante desta crise, a firma e os governos buscam rapidamente solução para a questão
prima, bem como, o aparecimento e avanço de novos campos produtivos e científicos com
das TICs, que iniciarão o movimento para uma Nova Economia a qual é denominada,
relacionado a mudanças nas relações entre o capital e o trabalho, como se verá em seguida.
clientelas, vai mudando em diversos setores da economia a mediada que o século XXI se
aproxima.
de reavaliar a sua infra-estrutura mental e intelectual, para fazer face às mudanças impostas
pelas TICs aos diversos tipos e formas de firma. Isto é um reflexo do que Alvin Toffler
chamou de terceira onda66. Este autor criou tal conceito temporal, prevendo o que estamos
vivendo na economia hoje. Segundo ele passamos por um processo de evolução econômica
que pode ser examinado usando a metáfora de uma "onda". A primeira onda concerne ao
66 Cf. Alvin TOFFLER. A terceira onda. Os efeitos da terceira onda são examinados pelo mesmo autor em TOFFLER,
Alvin. Powershift. Bantham Books. New York, 1990.
73
segunda onda concerne ao período baseado na produção industrial, com base no trabalho com
máquinas mecânicas e eletromecânicas e nas engenharias, este periodo vai até o final deste
século. A terceira onda, da qual trata o livro de Toffler, começou nos anos 60 e vem
Esta forma de evolução pressupõe uma nova forma de economia, que não lida
Firmas como a General Electric e a Asea Brow Boveri (ABB), são exemplos citados
de empresas americanas que mudaram desde o fim da década de oitenta, o seu modo de
representar o mundo dos negócios e da produção e seus ambientes internos fazendo uso das
TICs67 Isto ocasionou uma evolução nas suas estruturas de gestão, em seu estilo de
administração e cultura.
privilegiados das décadas anteriores, a globalização dos mercados representa para a firma um
cada vez menos caracterizados pelas idiossincrasias das economias nacionais, e cada vez mais
Neste contexto, a constituição da firma tem por base a busca de competitividade pela
67 Cf. Jeremy HOPE e Tony HOPE. Competing in the Third Wave: The ten Key Management Issues of the Information
Age. Harvard Busines School Press. 253 p.
74
e exploração do conhecimento.
importantes:
estudada inicialmente por Piore Sabel. Assim, a firma pós-fordista é identificada, no contexto
do paradigma das Tecnologias da Informação, neste contexto, três aspectos relevantes são
relacionados:
nos anos 80 a economia mundial passou por uma reestruturação, induzindo á várias
estratégias organizacionais nas firmas, principalmente nas firmas comerciais. Sobre isto Tigre
afirma que:
massa, criando uma nova divisão industrial na historia da economia que, Coriat (1990),
quais são relacionadas por Mauel Castells. A reestruturação econômica dos anos oitenta
orientou várias estratégias organizacionais nas firmas, alguns analistas, como Piore e Sabel,
afirmam, do mesmo modo, que a crise econômica da década de setenta resultou na exaustão
TI:
Os preços não guardam relação direta com os custos da produção, mas, com
a competitividade;
se competitiva;
73 Manuel CASTELLS, A sociedade em Rede. São Paulo: Paz e Terra Ed. 1999, pp.173-174
74 Op. cit. SOUZA, Marco Antonio Lucas p. 162
78
não uniforme na reestruturação capitalista até a chegada do século XXI, sendo difícil, sem
firma.
Economia que ele chama de paradigma informacional, depende de maior abertura dos teóricos
Por fim, o objeto da análise constitui outro complicador para a formulação de uma
teoria unificada da firma. Não existe um modelo único de firma capitalista. Mesmo
em um período de tempo delimitado existem diferentes tipos de firmas, indústrias e
mercados coexistindo em um ambiente econômico. A idéia de “paradigma” contribui
para estabelecer padrões de comportamento e identificar tecnologias-chave. Os
paradigmas, no entanto, são apenas visões idealizadas de modelos organizacionais e
tecnológicos dominantes em certos períodos de tempo. Os novos paradigmas se
desenvolvem mais rapidamente em certos países e setores econômicos do que em
outros. Sua difusão é geralmente assimétrica, resultando na heterogeneidade
econômica. Este aspecto reforça a necessidade de recorrer ao trabalho empírico para
entender firmas e mercados.76
O autor entende que neste contexto, ainda não se consolidou uma teoria unificada para
passo neste sentido foi dado por Shumpeter nos anos 50 e está sendo reelaborado pelas teorias
da Nova Economia.
Vejamos algumas características da firma toyotista, que servem de base aos estudos de
Aoki e suas comparações com os modelos de produção das firmas anteriores, em especial da
de produção, que foi se aperfeiçoando a partir da década de oitenta e levou a criação, segundo
conhecimento.
Benko(1999, p. 115), havia dois fatos que caracterizavam a crise segundo as teorias da
regulação:
O primeiro deles era uma enorme crise da oferta, que refletia a baixa tendência da
taxa de lucro, com causas encontráveis não nas condições do mercado, mas no
trabalho;
Por outro lado, o modelo keynesiano vai cedendo lugar para o neoliberalismo, que irá
procurar soluções para um mercado interno saturado com a procura de mercado externo,
81
tecnológica, variação nos preços dos bens e serviços, evolução da demanda, volumes
mecanismos de mercado, associadas à ação dos monopólios, dos sindicatos, dos grupos de
uma alternativa aos problemas mencionados. Este modelo inicialmente conhecido como
Modelo Japonês, era referenciado nos estudos econômicos e organizacionais, pela letra J. Os
resultados obtidos no setor industrial pelo novo modelo, criam um grande impacto na
produção, por isto, alguns autores entenderam tratar-se de um novo paradigma da produção e
da firma.
Este novo padrão tecnológico que teve início na década de oitenta, tinha como
objetivo contornar a crise econômica e social que havia atingido repercussões mundiais e
afetado os sistemas produtivos e industriais da maioria dos países. Este padrão, implica em
O toyotismos está vinculado ao que muitos autores denominam por Terceira revolução
em escala para redução de custo, esta mudança é explorada teoricamente como campo de
ocultos que originavam custos onerosos para o sistema fabril, como por exemplo, os custos
A noção de estoque zero (KanBan), esta relacionado a produção enxuta que reduz o
79 Benjamin CORIAT (1994) Pensar pelo avesso. Rio de Janeiro: Revan-UFRJ. 1994.p. 31
83
soma três aspectos numa só proposta: a visão empresarial com a inovação tecnológica e
comercial:
relativas à firma.
da Inovação Tecnológica sobre uma nova orientação dos negócios, também chamado de
"Economia Digital" termo cunhado por Don Tapscott, este autor foi responsável por diversas
Alguns economistas vem sendo retomados pelos teóricos para tentar resgatar no seio
produção levando em conta a Inovação como fator, estes fenômenos se tornaram mais visíveis
na economia dos séculos XX e XXI, isto é, vieram a ser reconhecidos como relevantes,
desenvolvimento da firma e das economias, somente pôde ter evidências empíricas a partir da
seus trabalhos têm permitido entender com mais clareza as profundas mudanças tecnológicas,
que concerne ao conceito de inovação, este autor tem apresentado importantes contribuições à
economia no contexto das novas TICs, sua influência é marcante sobre as vertentes teóricas
81 Cf. Joseph A. SCHUMPETER. São Paulo: Abril Cultural Ed. Coleção Os Economistas. 1982. As idéias são ainda muito
atuais, principalmente no que tange o intensivo avanço científico e tecnológico do século XXI. No Brasil este autor tem sido
relido e reestruturado em diversos trabalhos, principalmente aqueles que discutem a nova Lei de Inovação brasileira.
85
Schumpeter toma uma outra direção de estudos, em que se destacam obras como
com a teoria do equilíbrio, que, explícita ou implicitamente, "sempre foi e ainda é o centro da
teoria tradicional".
Este autor sustenta que é o empresário inovador que inicia a mudança econômica, os
consumidores são educados por ele, se necessário; são, por assim dizer, ensinados a querer
coisas novas, ou coisas que diferem, em um aspecto ou outro, daquelas que tinham o hábito de
usar.
Esta idéia é bastante atual. Um bom exemplo é o que acontece hoje com os telefones
celulares, em que os consumidores são levados pelo empreendedor a desejar display colorido,
Mesmo com o sistema capitalista sendo movido por inovações, Schumpeter ressalta
que a lógica econômica prevalece sobre a lógica tecnológica. "E em conseqüência
vemos na vida real em toda a parte à nossa volta cordas rotas em vez de cabos de
aço, animais de tração defeituosos ao invés de linhagens de exposição, o trabalho
manual mais primitivo ao invés de máquinas perfeitas, uma desajeitada economia
baseada no dinheiro em vez de circulação de cheques, e assim por diante. O ótimo
econômico e o perfeito tecnologicamente não precisam divergir, no entanto o fazem
com freqüência, não apenas por causa da ignorância e da indolência, mas porque
métodos que são tecnologicamente inferiores ainda podem ser os que melhor se
ajustam às condições econômicas dadas. 82
aparecimento dos computadores. Para este economista, o crédito era um elemento essencial ao
processo econômico de inovação, para ele a inovação era função do agente capitalista
investidor principal: os bancos. Segundo Schumpeter deveriam existir fundos gerados por
inovações bem sucedidas, oriundos da capacidade dos bancos em criar poder de compra.
que Schumpeter faz uma análise mais realista, entendendo que outros agentes também podem
mudanças diversas são impostas aos sistemas nacionais de regulação, e aos sistemas estatais
82 Marcos Paulo FUCK. Teoria do desenvolvimento econômico: Uma investigação sobre lucros, capital, crédito, juro e o
ciclo econômico. In. http://www.comciencia.br, p. 02 acesso em 10/08/2004.
87
Chuck Martin é outro autor que amplia o conceito original de Economia Digital ou
Nova Economia, definindo um novo espaço político, econômico e social, que batizou de
organizacional das novas firmas em rede, estendendo este conceito para o Estado.
Cabe registrar, ser corrente, um certo ceticismo entre os economistas, quanto ao termo
com duas economias distintas. São lógicas econômicas distintas no estilo, no comportamento,
afirmar, segundo Brian que o que funciona na economia tradicional, funciona na economia
equilíbrio, entendendo que esses instrumento não dão conta dos fenômenos recentes da
economia informacional. 83
contrário do que se observava nas análises do capitalismo industrial. Ele se opõe a teoria do
83 O autor tem 'papers', publicados em revistas como a «Scientific American», o «The Economic Journal», e a «Harvard
Business Review», desenvolvem uma argumentação teórica que desafia a ortodoxia econômica desde os anos 80 em
trabalhos como, Competing Technologies, Increasing Returns and Lock-In by Historical Events, publicado no The Economic
Journal, 1989, volume 99, nº. 394 Positive Feedbacks in the Economy, publicado na revista Scientific American, na edição de
Fevereiro de 1990 (em formato Pdf no site do autor em www.santafe.edu/arthur/Papers/Pdf_files/SciAm_Article.pdf)
cf.Increasing Returns and the New World of Business, publicado na revista Harvard Business Review, na edição de
Julho/Agosto de 1996.
88
modelos e do dogmatismo de muitos economistas. Segundo este autor não se pode predizer
um equilíbrio ótimo.
A tecnologia é para ele uma variável que presume várias hipóteses em aberto e, em
geral, ela é fruto do acaso histórico que acaba por selecionar uma dada solução, que, por vezes
nem sequer é a melhor do ponto de vista tecnológico, mas, que vai nortear os caminhos
econômicos e tecnológicos por algum tempo, quando a vantagem seletiva inicial permite o
Exemplos deste acaso que causam impactos econômicos sem precedentes foram o
500 dólares feito a dois alunos de universidades, nos anos 30, que a partir dai criaram a
Hewlett Packard, HP. Outro exemplo é de dois jovens do Illinois, Marc Andreessen e Eric
Bina, que queriam teimosamente dar uma interface amigável para a Internet, criando a World
Wide Web, com interface para browsers, contra todas as forças antagônicas do mercado e
Google, mostram que fenômenos econômicos recentes, não têm uma origem nas grandes
corporações e capitais. 84
Para Brian, há assim, um paralelismo entre o que ocorre no mundo real da economia e
com o que se passa no mundo natural, explicado pela teoria física da não linearidade: para ele,
Boa parte dos teóricos modernos da economia, têm dificuldade em lidar com os pontos
Os economistas futuros serão cada vez mais, obrigados a conviver com isto, como por
exemplo, com o fato de que convivemos na economia contemporânea com duas realidades
econômicas bastante distintas, uma que envolve o paradigma informacional e a outra envolve,
Para Brian, é importante entender que a lei dos rendimentos decrescentes vive na parte
tradicional da economia vigente, sobre a ótica tradicional, e que a lei dos rendimentos
crescentes é típica das economias lastreadas nos capitais do conhecimento, como a Economia
Informacional.
Kevin Kelly, outro teórico da Nova Economia, acha que os termos "revolução digital",
"sociedade digital" e “Economia Digital” não são apenas modismos, ou meras metáforas sem
fundamento. Os contextos reais a que estes termos se remetem e os fenômenos que daí se
originam, podem e devem ser formalizados pelo economista. Segundo ele, tais fenômenos
serão, pouco a pouco modelados na forma de teorias econômicas completas, visto que tratam
A economia em rede, tem leis muito peculiares, afirma Kelly, algumas funcionam de
modo inverso daquelas a que nos habituamos na economia industrial. Ocorre neste contexto,
um novo tipo de tessitura dos negócios, que pode ser entendido através do conceito de
"economia em rede" ou Economia Digital. Segundo este autor a dinâmica atual da economia
85
85 Este autor sistematizou as regras da nova economia digital em num artigo, intitulado «New rules for the Economy:Twelve
dependable principles for thriving in a turbulent world» (www.wired.com/5.09/networkeconomy (Out of Control,
www.kk.org/outofcontrol/index.html)
90
econômicos atuais, relacionados à Nova Economia ainda esta incipiente, pois não temos,
ainda, exterioridade suficiente para compreender este fenômeno econômico tão recente. Há
Kely presume que nos próximos cinco anos, verdadeiros economistas começarão a
desenvolver modelos matemáticos mais rigorosos e teorias com maior univocidade, para se
perceber a fundo o que está ocorrendo na economia, neste momento. Ele afirma, “Passaremos
do nível da metáfora”, onde ele e Peter Drucker atuam para a “Ciência da Nova Economia”,
com seus instrumentos teóricos e maior precisão, mas é necessário que os economistas se
Para Kelvin, Paul Romer com suas idéias sobre os fenômenos atuais da economia e
contemporâneos. Segundo o autor, Romer postulou, de forma correta que a principal questão
teórica que precisa ser explicada numa economia é a forma como cresce, e não a forma como
estrategicamente a firma neste novo meio, empreendeu novas formas de agir nestes novos
mercados em andamento.
uma economia baseada na velocidade, mostrando que o feedback do mercado é o que orienta
função dos desafios impostos pela competição, pela inovação e velocidade das respostas aos
fase de prototipação, em alguns casos mesmo antes de ter sido plenamente testado
consumidores no feedback deste. Enquanto isso o produto vai sendo refinado até ele ficar
bem como, de sua manutenção no mercado e definição do seu ciclo de vida. Um bom
exemplo disso foi à produção do I-pood da Apple Computers e de outros produtos com
memória flash (pen drive), cujo lançamento e desenvolvimento interferem no valor das ações
imobiliário, serviços financeiros (bancos, corretoras etc.), agências de viagens, entre outros
etc.
ECONOMIA
92
intranet seguido da Internet e Web, teve um impacto formidável sobre a firma e seu modo de
organização. Do ponto de vista econômico o fenômeno ainda está mal compreendido, causou
do mundo.
Robert Solow afirmou em 1987, em um artigo na New York Book Review, uma frase
Pré 1973 1974- 1980- Pré 1974- 1980-1990 Pré 1973 1974-1979 1980-1990
1979 1990 1973 1979
EUA 1,5 -0,4 0,2 2,1 0,0 0,6 0,1 -1,3 -0,7
Japão 4,6 0,9 1,6 8,0 2,9 2,9 -3,0 -3,5 -1,4
Alemanha 2,5 1,7 1,0 4,4 3,0 1,7 -1,4 -1,0 -0,5
França 3,8 1,6 1,5 5,3 2,9 2,4 0,9 -1,0 -0,2
Italia 4,1 1,9 1,2 6,1 2,8 1,9 0,4 0,3 -0,1
Reino Unido 2,5 0,5 1,6 3,6 1,5 2,1 -0,3 -1,6 0,4
Canadá 2,0 0,8 0,1 2,8 1,5 1,2 0,6 -0,5 -1,8
Média ponderada
da OECD (1) 2,7 0,5 0,8 4,3 1,5 1,6 -0,8 -1,8 -0,8
86 Cf. “We’d Better Watch Out, ”artigo publicado no New York Times Book Review, de 12 de julho de 1987.
93
(1) Inclui, além dos países do G 7, listados na tabela, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, Grécia,
Islândia, Irlanda, Paíse Baixos, Noruega, Portugal, Espanha, Suécia, Austrália e Nova Zelândia.
A evolução do uso da tecnologia de informática e das redes passou por estágios bem
distintos:
organizacional;
comerciais e de serviços;
qualidade e eficiência.
O paradoxo apontado por Solow, aparece nesta segunda fase; quando diversos estudos
Por outro lado, diversos outros estudos, da mesma época, mostravam o contrário, que
da economia.
econômico esta, realmente, parecia não afetar os lucros nas diversas economias, como
afirmava Solow.
Estudos diversos sobre a firma constataram que, enquanto várias tarefas iam se
tornando mais rápidas e eficientes, o número da mão de obra permaneceu estável. Resolver o
A tese de Solow não indicava que a TI revertia realmente em pouca produtividade para
as firmas, mas que, para otimizar sua eficácia, cabia demitir e enxugar o quadro de
momento, que havia uma incoerência entre os propósitos e orientação das firmas em relação a
TI e que isto não era um problema de cálculo, mas de cultura organizacional e de conciliação
de propósitos:
Uma das respostas dadas (Freemam & Perez) consistia em considerar que uma nova
revolução tecnológica se preparava, e não podia desdobrar seu potencial de
crescimento por causa de uma “incoerência”, de uma decalagem entre tecnologia e
instituições. Mais fundamentalmente, o despedaçamento da fábrica, a difusão de
formas inéditas de cooperação nos interstícios do espaço construído pela firma
fordista e o fato, enfim, de que a inovação escapa ao controle da grande empresa
estão produzindo um curto-circuito em todos os princípios do que se pretendia uma
“ciência dura”, apoiada na potência da ferramenta matemática.87
cultura de informática mais eficiente, ocorre uma terceira fase no uso da tecnologia da
informação, em que os sistemas de TI são otimizados para reduzir custos e tornar a empresa
Nesta terceira fase, o paradoxo de Solow deixou de ser discutido tão fervorosamente
em favor de uma nova lógica empresarial, em que as TICs e a Internet passam a ser
debate econômico em torno de soluções para a incerteza que o paradoxo lança, ainda continua
No caso do Brasil, dado o quadro econômico e empresarial brasileiro, a questão que era
As quantificações advindas desse tipo de abordagem, podem ser úteis para tentar
Acumulação de capital;
Inovação tecnológica;
Educação e aprendizado.
estudados.
tomados como forças complementares. A função de produção agregada que permite dividir os
mostrando que o atual estágio de difusão das novas tecnologias, ainda apresenta
oportunidades para países que encontram-se mais atrasados na adoção do regime da Nova
economias. Desta constatação surge a necessidade de o país aprimorar sua cultura técnica e
Atualmente estes novos desafios impostos pela inovação e o uso das TICs têm
tecnologias, com intenso aprendizado e inovação, são os elementos básicos para uma política
INFORMACIONAL
Comunicação, TICs, tem haver com a introdução da informatização e das redes no campo
empresarial, tal paradigma, fez pouco a pouco surgir uma nova economia, não mais baseada
em que não se pode ignorar o papel da inovação tecnológica, antes considerada como
As reflexões teóricas atuais sobre a firma procuram dar conta de tais fenômenos na
institucionais.
entender, discutir e criar novos modelos para estes novos cenários em que se encontram, as
redes de firmas, as organizações em rede, os oligopólios globais reticulados (em rede), bem
como, suas transações financeiras e comerciais estabelecidas através das novas TICs. Estas
compreensão teórica da firma e, nisso, tem o apoio da Teoria da Regulação, que estuda
jamais suporia, firmas completamente distintas das do seu tempo, firmas inovadoras com
são distintas daquelas que apenas fazem uso das TICs em sua operações, elas são mais
intensivas em informação, são firmas baseadas no aprendizado como recurso, são learning
organizations. Estas firmas, buscam desenvolver uma inteligência empresarial e são em geral,
espaço físico; formam vastas redes planetárias, oferecendo serviços e produtos em mercados
diversos. São exemplos destas firmas, os portais Google e Yahoo, e as empresas atuando em
diversos setores como a Intel, Sony, Toshiba, Sansung, Oracle, Sun e outras. Firmas deste tipo
tem sua produção relacionada aos avanços e a inovação tecnológica, sendo, portanto, foco de
interesse para os economistas e demais teóricos, no que concerne a Nova Economia e a teoria
da firma.
Economia e da firma contemporânea, tais como, Chandler, Aoki, Nelson e Winter e Romer,
ajudam a reavaliar os limites teóricos dos modelos econômicos tradicionais, concentrados nos
Chandler (1962, 1977) iniciou estudos institucionalistas, dando ênfase às novas formas
autor tem por base, o estudo das diferenças econômica em diversas regiões e países e suas
instituições. Seus estudos referem-se a este conjunto de elementos, os quais permitem analisar
a firma fordista, tornou-se um dos mais importantes teóricos da firma no contexto da inovação
preta. No entanto, segundo Tigre, esta crítica, a despeito de sua grande influência no campo
Aoki critica tanto as teorias neoclássicas quanto as teorias dos custos de transação
como inadequadas para analisar o funcionamento da indústria atual. Sua crítica à
teoria neoclássica não traz novidades, na medida em que apenas endossa os
argumentos da recente literatura econômica não-neoclássica sobre a inadequação e
o irrealismo do tratamento da firma como agente de maximização de lucros, cujas
oportunidades tecnológicas são exogenamente dadas na forma de função de
101
das novas tendências econômicas e das inovações organizacionais, como contribuição para
uma teoria da firma. Contemporâneo de Aoki, diverge deste, no que concerne a enfoque dos
hierarquia, Williansom identifica alternativas entre a firma e o mercado, a firma não supera o
comportamento oportunista, por esta razão, ele é cético com relação ao paradigma da
economia informacional e suas redes de firmas. Uma crítica que se pode fazer a este ceticismo
firma, ou seja, oferece um modelo explicativo para o sucesso da grande firma oligopolista
verticalmente integrada. Suas hipóteses baseiam-se nos custos alternativos de transação entre
a firma e o mercado. Para ele a única alternativa viável ao mecanismo de mercado, do ponto
Esta visão serve apenas para análise da cadeia produtiva do petróleo e firmas
similares, onde, segundo Tigre, as economias de escala têm uma integração realmente
vertical, os produtos são homogêneos e onde há grande especificidade dos ativos. No entanto,
seu modelo teórico não da conta da evolução das firmas, seus mix de produtos e suas redes
tempo.
com a mudança da firma, a inovação, deste modo, com a economia informacional. Eles
entendem que indivíduos e organizações são entidades que aprendem. Apresentam um novo
panorama teórico com fins à construção de uma nova teoria da firma, capaz de dar conta dos
Três princípios podem ser destacados como chaves para entender as teorias
evolucionistas. O primeiro é que a dinâmica econômica é baseada em inovações em
produtos, processos e nas formas de organização da produção. As inovações não são
necessariamente graduais, podendo assumir caráter radical ou paradigmático,
causando, neste caso, instabilidade ao sistema econômico. É atribuída grande
importância também à interação entre agentes econômicos, articulados em clusters
de produção. Os conceitos de “destruição criadora” de Schumpeter, de “paradigmas
técnico-econômicos” de Dosi e Perez e a analogia com a biologia evolucionista de
Darwin são esclarecedores da essência descontínua atribuída ao crescimento
econômico em função da inovação tecnológica. O segundo descarta qualquer
princípio de racionalidade invariante (ou substantiva) dos agentes econômicos.
Tomando por base as idéias de Simon, os evolucionistas (ver Winter, 1993; Dosi,
1991; Coriat e Weinstein, 1995) criticam as teorias de racionalidade substantiva que
pré-define o comportamento de firmas segundo o princípio da maximização. O
conceito de maximização não é útil, pois envolvem muitas variáveis que não podem
ser, a priori, conhecidas pelo empreendedor. Os evolucionistas apontam para a
necessidade de desenvolver uma visão da firma constituída de indivíduos distintos e
dotada de características cognitivas próprias. A diversidade leva os evolucionistas a
adotarem a idéia de racionalidade procedural, ou seja, de que a racionalidade dos
agentes não pode ser pré-definida, pois é resultante do processo de aprendizado ao
longo das interações com o mercado e novas tecnologias. O terceiro princípio se
refere à propriedade de auto-organização da firma, como resultado das flutuações do
mercado. É rejeitado qualquer tipo de equilíbrio de mercado, conforme proposto
pela teoria convencional, na medida em que não é possível alcançá-lo em ambiente
coletivo de flutuações de agentes individuais com rotinas e capacitações distintas.93
As teorias evolucionistas são distintas das teorias neoclássicas e das teorias fordistas
contemporânea.
Sua origem é dupla: por um lado, Freeman (1974, 1984) foi o primeiro a resgatar a
contribuição de Schumpeter no sentido de incorporar o progresso técnico como
variável- chave do processo evolucionário da firma e do mercado. Freeman
recupera, aperfeiçoa e atualiza a teoria dos ciclos longos de Schumpeter, mostrando
como a difusão de inovações está no centro dos movimentos cíclicos da economia
mundial. Por outro lado, Nelson e Winter (1982) iniciaram uma linha de
investigações apoiada em Simon, Schumpeter e idéias transpostas da biologia
evolucionista, lançando as bases para a reconstrução das teorias da firma. A
corrente evolucionista se encontra atualmente em pleno desenvolvimento, contando
com contribuições de um número crescente de autores. 94
Winter a partir de sua obra An evolucionary theory of economic change, (Nelson e Winter,
1982).
agentes, a partir de sua relação com outros agentes e da diversidade de posições dos mesmos.
enfatizam os mecanismos mentais de decisão com base na forma que estes indivíduos
representam o mundo e sua relação com o contexto da sua situação neste mundo.
fato de que os comportamentos individuais dos agentes e os seus objetivos, serem construídos
redes de firmas como um organismo instituído com base nas TICs e sobre regras flexíveis de
coletivo. Algumas de suas características básicas são descritas por Tigre (Tigre e Sati,1997)
em três categorias:
Redes hierarquizadas;
Redes não-hierarquizadas;
Alianças estratégicas.
(Tigre, 1998) que norteia esta monografia, é interessante entender melhor seus detalhes:
i) Redes hierarquizadas, onde uma firma domina a rede graças a seu poder
oligopsônico e garante o investimento de seus parceiros em ativos especializados,
através de contratos de longo prazo. No Brasil, este modelo de coordenação vem
sendo utilizado nos investimentos recentes das montadoras de automóveis, através
da constituição de “condomínios industriais” ou “consórcios modulares” onde a
empresa líder reduz suas operações industriais, integração de subconjuntos
montados por seus parceiros. A tendência das empresas líderes de desverticalizarem
a produção e concentrar em seus esforços no core business, onde detêm maior
competência, pode ser observada em vários outros setores industriais, a exemplo do
eletrônico e confecções. Grandes empresas como a IBM e a Benetton passaram a se
concentrar nas atividades de P&D e marketing, transferindo para terceiros a maioria
das operações de fabricação e vendas.
ii) Redes não hierarquizadas, onde não há empresas dominantes e astrocas são
estabelecidas a partir de padrões complementares de especialização. A confiança
mútua, estabelecida por relações de amizade, parentesco ou ao longo de muitos
anos de negócios garantem baixos custos de transação. Este tipo de rede é
característico dos distritos industriais especializados, como, por exemplo, os pólos
calçadistas brasileiros de Franca e Novo Hamburgo ou o “modelo Lombardo”
celebrado por Piori e Sabel (1984). O modelo tem sua origem na própria revolução
industrial e ganha renovada importância em segmentos da indústria onde a
oportunidade para economias de escala interna são limitadas e podem ser
substituídas por economias externas.
iii) Alianças estratégicas, formadas para complementar competências nas áreas de
P&D, produção e vendas. Tais alianças vêm sendo viabilizadas pelas redes
eletrônicas e empurradas pelas tendências recentes de aceleração do ciclo de vida
dos produtos, crescente complexidade tecnológica (exigindo capacitações em
diferentes e novas áreas do conhecimento) e competição em nível global. A
importância destas redes é crescente, sendo possível verificar um crescimento
exponencial nas alianças estratégicas entre empresas líderes em todo o mundo. 96
agente na transformação social e econômica não é mais o Empresário Inovador, mas a Firma.
à produção:
economia.
Eles entendem a firma como detentora de um patrimônio que é genuíno. Mas no entanto, tais
Dependency);
Para aprender, a firma deve lidar com processos de repetição e experimentação, que levem o
aperfeiçoamento e execução de suas tarefas com rapidez e melhorias nos processos, bem
Dependency): a evolução da firma e seu desenvolvimento, não é nem gradual, nem aleatória e
muito menos lenta. A velocidade da sua mudança depende das competências acumuladas e da
adaptar a pluralidade de Ambientes de Seleção (as firmas que não conseguem a maximização
dos lucros não são eliminadas). Suas trajetórias tecnológicas são definidas e redefinidas
informacional, baseado nas TICs, que tem influenciado a economia mundial. Trata-se de uma
desenvolvimento de bens e de marcas, que têm duas características fundamentais: são não-
rivais e apenas parcialmente exclusivos. Conforme, Newton Paulo Bueno, o uso de tais bens
como insumo produtivo por uma firma, não excluiria sua utilização simultânea por outras
Um exemplo, sobre o que foi dito acima é dado por Romer (1990a), segundo Bueno,
em que são confrontadas duas economias, operando em total isolamento, idênticas em todas
as características, inclusive na alocação dos recursos para pesquisa. Segundo a teoria clássica,
não haveriam ganhos para nenhuma delas, caso o isolamento comercial fosse rompido. No
significativos, pois não haveria limites para a utilização de bens não-rivais, por ambas as
firmas.
conhecimento gerado pelo outro país, o qual, não perde nada. Uma boa forma de entender o
103 Newton Paulo BUENO. A hipótese de evolução tecnológica por equilíbrios pontuados. Revista de Economia
Contemporânea. Rio de Janeiro: UFRJ, jan./jun. 2004. p. 100
112
Paul Romer (1990b), de acordo com Bueno, enuncia de forma semelhante um modelo
paradigmático a partir da sua teoria do crescimento endógeno, a qual confere à acumulação
de conhecimento um atributo essencial na explicação do desenvolvimento econômico e
também da firma. As principais hipóteses da evolução tecnológica por equilíbrios
pontuados105 de Romer são assim demonstradas por Bueno:
i) A economia modelada é composta por três setores: (1) o setor produtor de bens
finais, que usa como insumos trabalho, capital humano e bens de capital; (2) o setor
produtor de bens de capital, que transforma bens de consumo em bens de capital,
utilizando os designs produzidos pelo setor de pesquisa; e (3) o setor de pesquisa,
que usa capital humano e o estoque existente de conhecimento para produzir
designs de novos bens de capital, cujo montante constitui o estoque de
conhecimento da economia.
produzir novos designs requerem uma maior alocação de capital humano em pesquisa.
conhecimento, o qual, pelo fato de Ter natureza não-rival, pode ser utilizado por firmas no
setor de bens finais que não tiveram custos fixos iniciais de produção dos designs. Assim,
conforme Bueno:
para pesquisa.
do país, bem como, dos coeficientes da função de preferência intertemporal, que definem o
permitindo nortear suas políticas de liberalização comercial, para permitir acelerar as suas
digital que pode vir a transformar muitos países em meros consumidores do estoque de
crescimento econômico.
depende, por sua vez, da adequada alocação de trabalho entre a produção, a pesquisa e o
empresários inovadores.
Mas o modelo não é uma panacéia para todos os males econômicos, nem permite
salvar economias de paises subdesenvolvidos da noite para o dia. Este modelo aponta
soluções para problemas que estamos enfrentando e outros que ainda vamos enfrentar na
economia. Por outro lado, não podemos ter uma visão simplista dos problemas econômicos
mundiais, nos concentrando apenas na questão do conhecimento das nações e sua capacidade
115
de inovação e aprendizado, estas questões são muito mais complexas do que permite a
O problema com a nova teoria do crescimento é que ela explica apenas uma parte
da questão. Deve ser óbvio que o crescimento econômico não depende só do
conhecimento. Se fosse assim, os países que liderassem a industrialização em uma
grande onda de inovação, como a Inglaterra no período da primeira revolução
industrial, dificilmente seriam superados por países retardatários, sendo difícil
mesmo compreender por que a revolução industrial ocorreu primeiramente na
Inglaterra, que não dispunha de muito mais capital humano do que outros países
europeus. Países com elevado nível de capital humano mas, por outro lado, onde
faltam outras condições para o crescimento, como Cuba, já teriam se inserido no
grupo dos países desenvolvidos (a respeito dessa discussão, ver Bueno, 1998). O
registro histórico, além disso, não mostra uma tendência ao crescimento gradual
dos países à medida que vão acumulando conhecimento, mas períodos curtos de
intensa atividade inovativa seguidos por períodos de estabilidade com taxas anuais
de crescimento às vezes surpreendentemente modestas, mesmo nos países líderes
(ver Crafts, 1995), exatamente como previsto pela hipótese da evolução tecnológica
por equilíbrios pontuados... 108
Enquanto que as macroinvenções criariam um novo paradigma e não poderiam ser explicadas
pelos mesmos mecanismos mencionados acima, mas por processos complexos que estão
Tudo o que se pode afirmar com segurança, com base na teoria da evolução por
equilíbrios pontuados, é que as macroinvenções aparecem em clusters e por isso
ocorrem os “estouros” de inovações que caracterizam as revoluções industriais.
Uma possível explicação para esse fenômeno, segundo a hipótese de evolução
tecnológica por equilíbrios pontuados do Mokyr (1990: 298), é que as
macroinvenções não são eventos independentes, mas influenciam umas as outras,
criando externalidades positivas. Um ou dois inventores isolados podem não ser
suficientes para começar uma revolução industrial, mas com alguns mais, os efeitos
mútuos de imitação e aprendizagem podem ficar fortes o bastante para começar
algo muito maior. 109
convincente, segundo Bueno, pois da conta das diferenças entre países e sua introdução na
produtivas.
Paul Romer, uma nova trajetória teórica e conceitual que foge aos princípios da economia
Estas teorias são importantes, pois, mostram o quanto as TICs, juntamente com a
mais, condição (necessária, mesmo que não suficiente), para a melhoria dos níveis de
curso, apontam para a constituição de um novo regime sociotécnico, ainda em processo, com
Estão ocorrendo mudanças, em larga escala, que afetam estilos gerenciais, padrões
estruturas de aprendizado, que, por sua vez, condicionam o processo de difusão e mudança
crescimento endógeno.
públicas que estejam preocupadas com uma real reconversão produtiva em torno das novas
meio social e que, portanto, não pode ser entendido, sem levar em consideração o contexto
CONCLUSÃO
atividades das firmas para sistemas de redes, bases de dados, serviços da Internet,
distância, de diversos tipos de informação e processos envolvendo projetos, escrita, dados etc.
entre pessoas e organizações. Além disso, para ela o conhecimento e o aprendizado são
aos diferentes paradigmas organizacionais, desde o seu início com a Revolução industrial
Vimos que as firmas, em seu desenvolvimento, começaram a mudar muito mais rápido
após a Era Industrial, dando origem a tipos de organização bastante diferenciadas umas das
A compreensão de firma, na visão de Bastos Tigre, guarda uma relação com a teoria na
qual a firma se insere e por isto, com a visão de mundo que a teoria assume. Assim,
vista neoclássico, nesta primeira perspectiva informacional, as relações que ligam atores e
instituições numa rede dentro da economia são vistas como elos que as ligam umas as outras
cujos desafios não estão apenas nas mudanças, mas na velocidade das mudanças.
Vimos com Bastos Tigre, que ao analisar a evolução das teorias da firma, o
contam com o apoio de teóricos que buscam compreender de modo novo a realidade,
A análise de Tigre, que serviu de guia à esta monografia, permitiu a constatação de que
revisão das teorias das firmas à luz das mudanças tecnológicas ocorridas no passado e que
estão ocorrendo no presente. Aliás, este foi o caminho desta monografia, que se concentrou
sobre a nova Economia Informacional, para entender o enfoque da inovação e das tecnologias
sobre a firma.
tais times através de tecnologias informatizadas para redes. As firmas, passam posteriormente,
criando firmas diferenciadas com alto valor agregado, que merecem um estudo mais
aprofundado.
Informacional, a formação das Redes de firmas está ligada a fatores históricos, econômicos,
Conhecimento.
Entendemos com esta monografia que o estudo das mudanças das firmas até a
formação de Redes Organizacionais decorrem de uma separação bem nítida entre Economia
Industrial (cujas regras são a da Escassez) para Nova Economia Informacional, (cujas regras
são a Abundância). Tornando-se a Atenção dos clientes e mercados uma espécie de “produto
escasso”.
tem foco na Inovação Organizacional, a qual depende das ferramentas da Internet e das TICs,
Voltando ao caminho percorrido nesta monografia, contatamos que dão forma à firma:
configuração internacional dos mercados e firmas, que representam uma dada visão
No que concerne aos consumidores, na visão neoclássica, vimos que estes, ao menos
do ponto de vista teórico, decodificam sem dificuldades todas as informações a respeito dos
atributos dos bens, e são capazes de escolher racionalmente entre bens alternativos. A firma é
perfeita, a função precípua da firma é transformar insumos em produtos, e para tanto cumpre á
inerte. Esta imagem de firma é coerente com as premissas do sistema econômico neoclássico,
baseado nos princípios de equilíbrio geral de Leon Walras. O lucro, neste caso, é considerado
pelo mercado, sendo, portanto externo à firma. Walras, por exemplo, argumenta que a firma
empreendedores.
Por outro lado, Com a Nova Economia o lema "pensar global, atuar local" dos anos 80
é substituído pelo lema "pensar local e agir global". Novos mecanismos de produção
aparecem com as TICs, com a Internet e com a competição em torno da Inovação tecnológica
a qual comanda variados “nichos” de mercado: realidades que influem sobre as teorias da
firma e do consumidor, criando uma nova realidade econômica ainda desconhecida dos
economistas.
Constatamos também que nesses novos mercados, as firmas reticuladas, como analisa
Souza, estabelecem Plataformas de ligação, isto é, os crescimento dos negócios na rede são
vender ou acabar com o ciclo de vida de um produto, não se trata mais de empurrar uma
mercadoria para os cliente, são eles que puxam a informação que querem e interferem no
produto que desejam. Por isso, as empresas da economia informacional pensam na relação
com os clientes todo o tempo, e criam produtos e serviços que possam dar poder, isto é,
Bill Gattes, inspirado nos teóricos evolucionistas, a firma se comporta como um sistema
123
Constatamos também que o desafio dos estudos teóricos sobre a nova economia,
empresas, mudando as formas de representação que as sustentam. Isto tem se refletido sobre o
design das organizações neste fim de século, fazendo com que os teóricos reflitam sobre e
econômicos da firma.
As empresas tem se preocupado hoje, não apenas com as tecnologias duras, mas
tácitos, aqueles que tem por objetivo ampliar as capacidades cognitivas e a inteligência da
firma.
diversas organizações podem cooperar, nestas redes as atividades estão distribuídas em torno
redes informatizadas.
uma estrutura reticulada, tal estrutura não é rigorosa ou rígida. As organizações em redes
diferentes que podem variar do formal para o informal, existir temporariamente ou perdurar
As firmas em rede podem ter múltiplas funções dentro da rede na qual se encontram.
Ser pequena ou grande, não é garantia de sucesso, o que importa para o sucesso da firma é a
atividades afins com outras firmas. Sua integração a uma rede maior e o seu compromisso,
seriedade e honestidade vão lhes garantir inteira confiabilidade dentro da rede, e isto faz os
A integração a uma rede, posiciona uma firma frente as suas concorrentes, parceiras e
a sua clientela, seja pela cooperação, pela competição ou pela busca de oportunidades. A
integração a uma rede, demonstra a capacidade de uma firma em obter sucesso pelo
informações que detém ou que são capazes de agenciar, do contexto da atividade e do papel e
As redes de firmas são marcadas pela existência de lideranças que são capazes de
conhecimentos. Além disso, tais lideranças devem estar preparadas para a mediação e
não são de todo desierarquizadas, algum tipo de hierarquia perdura, mas não nos moldes
conhecimentos partilhados. Uma firma poderosa fora de uma rede, pode não sê-lo na mesma.
coordenação e cooperação é fundamental para a gestão de uma rede de firmas, dela depende o
pelo aprendizado.
Outro aspecto, relativo às firmas em rede, diz respeito aos interesses e objetivos
comuns envolvidos nos relacionamentos dentro da rede, como fator de reforço entre links ou
nódulos e criação de novos links para a rede de relacionamentos. Quanto mais extensos e
maior será a busca pela coordenação e trabalho em equipe e pelo reforço dos relacionamentos,
isto vale para realização de negócios e não somente para os processos de organizações
idéias e conhecimentos para as organizações e levam à expansão das redes de firmas, fazendo
com que seja quase obrigatório estar conectado a pelo menos uma rede, dentro do universo
110 Cf. Chuck MARTIN,. O patrimônio Digital. Sao Paulo:Makrom Books,1998. pp.73-99.
126
diferenciando as organizações do século XXI e por isto, não apenas, oferecem inúmeras
tipos;
objetivo;
resolução de problemas.
No que concerne aos aspectos teóricos da firma vimos que, no passado os economistas
Ceateris Paribus, tudo deveria permanecer tal como previsto para que seus instrumentos
por demais abstratos, se distanciando da realidade a ser explicada, havendo uma necessidade
crescimento econômico das nações até meados da década de setenta, quando diversas
realidade nos modelos neoclássicos oferecidos para dar conta da nova realidade industrial da
com a nova realidade das economias de escala. Revela-se também que a teoria estática do
equilíbrio também não tinha como ser coerentemente aplicada à analise de produtos sujeitos a
entender e discutir e criar novos modelos para estes novos cenários, em que se encontram as
rede) e suas transações financeiras e comerciais estabelecidas através das novas TICs.
informacional. Eles entendem que indivíduos e organizações são entidades que aprendem,
de sua relação com outros agentes e da diversidade de posições dos mesmos. A hipótese
mecanismos mentais de decisão, criação e produção na atividade da firma. Por esta razão, o
evolucionismo propõe que a produção deve ser baseada na Criatividade e Socialização dentro
Por fim vimos com a Nova teoria do crescimento ou Teoria do Crescimento Endógeno
modo homogêneo.
As correntes e autores mencionados apontam para um novo panorama teórico com fins
a construção de uma nova teoria da firma, capaz de dar conta dos fenômenos organizacionais
firma. Ao entendermos o papel das inovações, concluímos que, elas transformam não apenas a
129
Aprendemos que a inovação tecnológica tem uma intrínseca relação com a dinâmica
fatores econômicos poderão ser combinados para a produção de bens e serviços. Nos modelos
social.
papel da inovação tecnológica e das relações entre as firmas é o chamado “chain-linked” que
111 Sigla para Organisation for Economic Co-operation and Development (http://oecd.org)
130
Segundo este modelo, devemos, para entender a firma e suas relações dentro dos
Para a OECD, as firmas em rede devem ser integradas as redes de instituições dos
setores públicos a partir dessas interações se podem criar Sistemas Nacionais de Inovação,
produção.
131
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