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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA

CLARICE DA SILVA EVANGELISTA

IMPACTOS DA NOVA ECONOMIA E DA INOVAÇÃO


TECNOLÓGICA SOBRE AS TEORIAS DA FIRMA
1

BOA VISTA
2006

CLARICE DA SILVA EVANGELISTA

IMPACTOS DA NOVA ECONOMIA E DA INOVAÇÃO


TECNOLÓGICA SOBRE AS TEORIAS DA FIRMA

Monografia apresentada ao Curso de


Economia como requisito parcial para
2

obtenção do grau de bacharel, sob orientação


do Professor Haroldo Eurico Amoras.

BOA VISTA
2006

CLARICE DA SILVA EVANGELISTA

IMPACTOS DA NOVA ECONOMIA E DA INOVAÇÃO


TECNOLÓGICA SOBRE AS TEORIAS DA FIRMA.

Monografia apresentada ao Curso de


Economia como requisito parcial para
obtenção do grau de bacharel, sob orientação
do Professor Haroldo Eurico Amoras.

Aprovada em _______/_______/________
3

Banca Examinadora

Professor HAROLDO EURICO AMORAS.


Universidade Federal de Roraima

Professor(a)
Instituição

Professor(a)
Instituição
4

Dedico este trabalho ao meu


querido esposo Lucas, meus filhos
Muriel, Thaana e João, minha
cunhada Patrícia, e a meus irmãos,
grandes incentivadores deste
trabalho.

AGRADECIMENTOS

Ao Grande Arquiteto do Universo pela luz da vida e por estar ao meu lado sempre e,

principalmente, nos momentos difíceis.

A minha mãe Maria da Silva (Mocinha) in Memorian, aos meus filhos, meu esposo,

meus irmãos, minha sogra Yêda e minhas cunhadas, pela estrutura familiar que me

possibilitaram alicerçar a minha vida, pelo estímulo, amizade, carinho, críticas, sugestões e

paciência nestes quatro anos.

Ao Prof. Haroldo Eurico Amoras, pelo apoio e orientação neste trabalho.

Aos demais Professores do Curso, pelo privilegio dos conhecimentos e experiências

transmitidas.
5

Aos colegas de turma, pelas oportunidades de trocas de informações, desabafos e

experiências.

Ao Professor Doutor Marco Antônio Lucas de Souza, que acompanhou de perto a

realização deste trabalho, e que gentilmente me cedeu diversos artigos sobre inovação

tecnológica, organizações em rede e novas tecnologias da informação e comunicação, além de

sua tese de doutorado, traduzida em profícuas e estimulantes discussões que contribuíram

largamente para o enriquecimento deste trabalho.

A Universidade Federal de Roraima.

RESUMO

A compreensão de firma guarda uma relação com a teoria na qual a firma se insere,
isto é, com a visão de mundo que a teoria assume, ou paradigma. Cabe assim, recuperarmos,
historicamente, elementos tanto teóricos como empíricos sobre a firma, relacionando-os ao
paradigma organizacional ao qual esta pertence. O Tema da presente Monografia é o
surgimento da Nova Economia e seu contexto: o Paradigma informacional. Enfocaremos
aspectos econômicos relacionados a Micro e a Macroeconomia, tendo como ponto de partida
as Mudanças gerais nas Teorias da Firma ao longo do desenvolvimento do Capitalismo, desde
6

a Revolução Industrial até a Nova Economia. Abordaremos três visões teóricas distintas sobre
a Firma, relacionando-as aos seus respectivos Paradigmas: o paradigma da Revolução
Industrial, o Paradigma Fordista e o Paradigma da Tecnologia da Informação, acrescentando
ainda, outro paradigma organizacional emergente no pós-fordismo: o Toyotismo. A
construção teórica ou readaptação das teorias a Economia Informacional tem sido uma
preocupação dos economistas em todas as partes do mundo, os quais têm se ocupado com as
novas Tecnologias da Informação e da Comunicação - TICs, que estão rápida e continuamente
se propagando com influência sobre a economia. A Nova Economia é traduzida atualmente
por um conjunto de teorias emergentes, que começam a competir com os modelos
econômicos tradicionais e são baseadas nas construções teóricas Evolucionistas, Neo-
institucionalistas e do Crescimento Endógeno vigentes.

Palavras-chave: Teoria da Firma – Nova Economia – Inovação – Tecnologia da Informação


– Evolucionismo - Neo-institucionalistas - Crescimento Endógeno – Paradoxo de Solow

SUMÁRIO

RESUMO...................................................................................................................05

INTRODUÇÃO.........................................................................................................08
7

CAPÍTULO I

1 MUDANÇAS NO CAMPO TEÓRICO DA ECONOMIA: AS TEORIAS DA


FIRMA EM TRÊS PARADIGMAS........................................................................22

1.1 A Firma e seus contextos..................................................................................22


1.2 A noção de Paradigma......................................................................................28

CAPÍTULO II

2 ECONOMIA NEOCLÁSSICA: A FIRMA TAYLORISTA NO PARADIGMA DA


REVOLUÇÃO INDUSTRIAL BRITÂNICA.........................................................34

2.1 A abordagem Neoclássica da firma..................................................................34


2.2 O modelo de racionalidade na teoria neoclássica da firma..............................39
2.3 Debates e controvérsias sobre a abordagem neoclássica da firma...................41

CAPÍTULO III

3 ECONOMIA INDUSTRIAL: AS TEORIAS DA FIRMA NO PARADIGMA


FORDISTA................................................................................................................48

CAPÍTULO IV

4 INOVAÇÃO TECNOLÓGICA E IMPACTOS DAS NOVAS TECNOLOGIAS DA


INFORMAÇAO E DA COMUNICAÇAO SOBRE A ECONOMIA: A FIRMA
TOYOTISTA E A FIRMA DA NOVA ECONOMIA............................................62

4.1 Tecnologia, automação e organização da firma pós-fordista...........................62


4.2 O Toyotismo e seu contexto econômico e tecnológico....................................68
4.3 Os novos teóricos e as novas firmas no contexto da inovação.........................70
4.4 O paradoxo de Solow e os impactos tecnológicos sobre a economia...............78

CAPÍTULO V
8

5 OS MODELOS ECONOMICOS EVOLUCIONISTA E NEO-


INSTITUCIONALISTAS E AS TEORIAS DA FIRMA NO PARADIGMA
INFORMACIONAL.................................................................................................83

5.1 A firma reticularizada.......................................................................................83


5.2 Os teóricos neo-institucionalistas.....................................................................85
5.3 A corrente evolucionista da economia e a firma..............................................87
5.4 O modelo de crescimento endógeno e a firma na perspectiva
gradualista do processo de modernização..............................................................94

CONCLUSÃO.........................................................................................................101

OBRAS CONSULTADAS......................................................................................112
9

INTRODUÇÃO

O TEMA E SUA MOTIVAÇÃO

A compreensão da Economia envolve não somente o funcionamento estrutural da

mesma, mas do contexto das mudanças econômicas, políticas e sociais que estão ocorrendo no

mundo. Estas mudanças, como se pode constatar, na história da economia dos povos, estão de

certa forma, conectadas com a mudança e a Inovação das tecnologias em cada época.

O tema desta monografia diz respeito às mudanças pelas quais tem passado a firma e

as teorias elaboradas para compreendê-la. Este tema terá uma abordagem histórica e teórica,

não nos preocupamos em estabelecer modelos sobre esta mudança, mas tão somente aprender

sobre a firma.

Ao longo da nossa graduação aprendemos a compreender que as idéias econômicas

relacionam-se a um contexto histórico, micro e macroeconômico, cuja complexidade revela-

se a partir de relações entre agentes econômicos em cada época e lugar.

Aprendemos que a Economia viva é aquela que estamos fazendo e que as Teorias, nem

sempre correspondem à realidade, e tampouco, podem estar desvinculadas da realidade do

mundo que elas interpretam (Paradigma ou contexto Organizacional, cultural, científico e

tecnológico de cada época histórica).

Neste início de século estamos diante de fatos econômicos novos e importantes, que

mostram o papel que a Inovação tecnológica digital e as telecomunicações têm desempenhado

no interior das mais diversas economias do mundo.


10

O desenvolvimento das novas Tecnologias da Informação e das Comunicações - TICs

- está provocando uma verdadeira revolução em conceitos econômicos tradicionais. Este

desenvolvimento tem como exemplos mais significativos a Internet e World Wid Web e sua

apropriação pela firma como fator organizacional e comercial no campo dos negócios,

influenciando também o setor produtivo.

Produtos, serviços e empresas, tem se transformado com o emprego das TICs em seu

desenvolvimento.

Tal transformação é tão relevante, que muitos analistas e estudiosos da Economia já se

referem correntemente ao surgimento de uma Nova Economia, a Economia Digital ou

Informacional.

As tradicionais teorias da firma, então, se vêem diante de um fenômeno novo ainda em

curso, que envolve a introdução de Tecnologia da Informação e a busca competitiva pela

Inovação Tecnológica que possuem implicações sobre a análise econômica contemporânea.

O interesse por este tema foi motivado pela leitura da tese de doutorado, de Marco

Antonio L. Souza sobre firmas Reticuladas. Investiga-se nesse estudo, o processo de mudança

das firmas desde o seu início pela Microinformática e com o aparecimento das primeiras

Redes Organizacionais, chamadas, de rede de organizações até as Redes Organizacionais da

Economia Informacional. 1

Neste estudo, o autor elabora o conceito de Reticularização como um processo de

transformação da firma, ao buscar entender o surgimento das organizações em rede e firmas

virtuais a partir dos anos noventa, em que as firmas passam por um fenômeno chamado de

reticularização. 2

1 Cf. Marco Antonio Lucas de SOUZA. Tipificando os novos designs organizacionais da sociedade do conhecimento:
modelo conceitual para a compreensão das mudanças nas redes organizacionais. Rio de Janeiro: UFRJ (Teses de
Doutorado), COPPE – ITOI, junho de 2002.
2 Por reticularização o autor entende um processo de mudança organizacional relacionado a processos de negócios e
implantação das TICs.
11

REFERENCIAL TEÓRICO

Outra obra que chamou a atenção, no inicio da pesquisa para escrever a presente

monografia, foi o trabalho, “Imagens da Organização” 3 de Gareth Morgan que busca a

decodificação de certos tipos de firmas. Todavia, a leitura que foi fundamental para a

elaboração deste trabalho, foi o artigo do economista, Paulo Bastos Tigre intitulado: Inovação

e teoria da firma em três paradigmas, 4 em que, este propõe uma revisão das teorias da firma a

luz das mudanças tecnológicas e organizacionais em três concepções teóricas distintas sobre a

firma, as quais ele contrapõem a três visões de mundo por ele denominadas de Paradigmas,

tais como, o paradigma da Revolução Industrial, o Paradigma Fordista e o Paradigma da

Tecnologia da Informação. No curso do presente trabalho, acrescentamos, ao ler a literatura

mais recente, mais uma concepção pós-fordista; o Toyotismo, uma abordagem que muda a

firma e suas trocas com o meio e seu funcionamento interno voltado à produção e ao lucro.

QUESTIONAMENTO

As leituras econômicas dos diversos estudos, nos levaram aos seguintes

questionamentos:

 O que faz as firmas serem o que são?

 O que faz com que elas mudem?

 Qual a relação da firma com a Economia e como se pode teorizar sobre isto no

campo econômico?

Assim, surge também o questionamento sobre como a Economia aborda esta questão

nas suas diversas teorias da firma e qual o papel da tecnologia e da inovação nestes casos?

3 Gareth MORGAN, Imagens da Organização. São Paulo: Editora Atlas S.A. 1996.
4 Cf. Paulo Bastos TIGRE. Inovação e teoria da firma em três paradigmas. Rio de Janeiro: UFRJ, Revista de Economia
Contemporânea, n. 3 jan-jun, 1998.
12

RELEVÂNCIA

Esta monografia, leva em consideração o contexto macro e microeconômico

contemporâneo, mas procura apresentar aspectos importantes das mudanças na firma ao longo

do tempo relacionando às questões teóricas com a historia econômica, e mostrando ser

relevante para o estudo da firma não somente as transformações econômicas, mas aquelas

ligadas a tecnologia e a inovação no passado e no presente.

É importante acompanhar a trajetória da firma, e da teoria da firma até o século XXI,

procurando ressaltar a relevância da inovação, pois isto tem implicações para o estudo da

economia nas próximas décadas.

A Nova Economia, contexto central da nossa temática é composta por um conjunto de

Teorias emergentes que começam a competir com os modelos existentes e são baseadas nas

construções teóricas evolucionistas e neo-institucionalistas vigentes. Sobre isto, Paulo Bastos

Tigre, autor que nos inspira, afirma:

A análise da evolução das teorias da firma e sua relação com os paradigmas


organizacionais distintos, mostram que não existe um corpo teórico único e coerente,
pois as teorias estão condicionadas por diferentes filiações metodológico-teóricas,
enfocam aspectos distintos (produção ou transação) e baseiam se em contextos
institucionais, históricos e setoriais diversos. 5

O estudo da firma relacionado à tecnologia e a inovação revela muito sobre as

mudanças econômicas pelas quais a economia contemporânea esta passando.

É interessante notar como as TICs têm, drasticamente, reduzido o custo de

armazenamento, processo, comunicação e disseminação de informações e têm influenciado os

fluxos de informação, conhecimento e capitais em todo o mundo.

5 Op.cit TIGRE, Paulo Bastos. p.106.


13

Há alguns anos, apenas 3% da população brasileira usava intensivamente a Internet. 6

Mesmo assim, no Brasil, o surgimento de firma em rede ou a transformação de organizações,

antes tradicionais, em organizações em rede é um fenômeno que tem interessado a diversos

pesquisadores. Souza, denomina tal fenômeno pela expressão, “reticularização da economia e

da produção”: processo pelo qual as firma estão se transformando em firmas em rede, isto é,

organizações que criam suas próprias redes e que passam a fazer parte de uma rede mais

ampla, a Internet, tornando-se abertas às novas formas de relacionamento com seus

fornecedores, clientes, concorrentes e parceiros.

As firmas em rede são distintas das organizações tradicionais em seus processos, na

forma de seus relacionamentos e em suas tomadas de decisões e nas formas de

relacionamento com concorrência e fornecedores, o que faz delas, entidades interessante ao

estudo econômico, do ponto de vista da análise da introdução da tecnologia e da inovação.

As pequenas firmas não estão em desvantagem em relação ao fenômeno de

“reticularização da economia e da produção”. O comércio eletrônico e as redes representam

para as pequenas firmas um leque de oportunidades de negócios e a abertura para sua

expansão e transformação.

O comércio eletrônico tem crescido no Brasil e deve acompanhar as estimativas de

crescimento no resto do mundo e também nos Estados Unidos, mesmo se ainda

movimentamos muito pouco dinheiro com esta nova modalidade de comércio, em relação aos

americanos.7

No Brasil movimentamos, via redes, no final do último século apenas 0,07 bilhões de

dólares, estima-se um crescimento em torno 0,7 bilhões de dólares que poderá crescer mais

caso o número de usuários brasileiros da Internet e consumidores on-line, aumente nas

próximas décadas.
6 RevistaVeja, Edição Especial: Vida Digital, número 1 629, 22 de dezembro de 1999, p. 9.
7 Segundo o International Data Corporation. No ano de 1999 os americanos movimentaram cerca de 20 bilhões de dólares
com o Busines-to-Consumer ou e-comerce e estimam um crescimento da ordem de 144 bilhões de dólares para os próximos 3
anos. Revista veja, numero Edição Especial: Vida Digital, 1 629, 22 de dezembro de 1999, pp. 74-75.
14

Os Bancos se prepararam para isto e por isto estão entre as firmas mais avançadas

neste setor. As grandes empresas tem apostado nas redes em seus negócios, B to B isto é

Business-to-Business, através dos quais elas negociam entre si. Estes tipos de transações são

cada vez mais realizados através da Internet com uso da Web.

Grandes Bancos de Investimento tem formulado linhas especiais de investimento para

negócios em rede e Capital de Risco e vêm estimulando o aparecimento de novas firmas, em

rede, em diversos setores da economia.

O setor bancário se destaca na rede mundial, este setor tem ampliado muito os ramos

de suas redes, bem como seus serviços on-line, e é tido como referência em inovação

tecnológica pelas instituições bancárias do resto do mundo. O setor bancário é considerado

um dos que mais exploram os recursos da rede Internet em suas transações e atendimento e

coloca o Brasil entre os melhores do mundo. O Bradesco, o Banco do Brasil o Itaú e o

Unibanco lideram o mercado como organizações que se reticularizam.

Segundo a Federação Brasileira das Associações de Bancos, Febraban 50% dos 201

bancos brasileiros oferecem serviços pela Internet, seus sistemas de segurança respondem a

quesitos internacionais, além disso, a automação bancária tem tido uma enorme adesão,

proporcionando economias de escala para o setor bancário

A tendência, segundo a Febraban, é de um aumento considerável de usuários e de

serviços deste gênero, os bancos tem investido na formação de redes de atendimento e

serviços na Internet e estão preparando-se para, futuramente, exercer um papel fundamental

no setor do comércio eletrônico. As redes bancárias brasileiras hoje, são uma referencia

mundial em automação bancária, Home Banking e pelo celular.

Outros exemplos de que as organizações estão se transformando em organizações em

rede, ainda que com muitos problemas, vêm do setor público, muitas repartições públicas

brasileiras começam a se modernizar buscando formar redes de informação e conhecimentos

ligadas a Internet. As decisões do Supremo Tribunal Federal, STF, estão na rede Internet,
15

diversas prefeituras do Brasil já oferecem muitos serviços ao contribuinte e a outras

organizações em suas páginas da Internet, a Receita Federal, o MEC, o INPI e uma série de

outros órgãos públicos têm se integrado a grande rede, oferecendo serviços de qualidade às

suas clientelas e a outros órgãos públicos e instituições privadas.

Os traços dos fenômenos econômicos mundiais, ligados a grande rede, que acabamos

de mencionar e aqueles presentes na economia brasileira, podem ser empiricamente

pesquisados empregando a própria rede Internet e estão sendo analisados por diversos

estudiosos brasileiros em um contexto onde a Nova Economia convive com a economia

tradicional.

No final dos anos 90, havia uma crença enorme nos investimentos “pontocom” e seu

potencial de gerar riquezas. O Brasil viveu este momento, quando empresas deste tipo

triplicavam seus valores nas bolsas, em apenas um ou dois meses.

Nos Estados Unidos, os índices da Nasdaq surpreendiam, e deixava muitos

desconfiados, ao fechar ciclos anuais com crescimento de 80%, contra os 20% da tradicional

Dow Jones. Segundo André Borges, analista da Revista Forbes para a América Latina:

Foi o tempo de dinheiro fácil, (...).Mas, no início do ano 2000, a febre digital que
havia tomado conta dos negócios pelo mundo já não afetava a todos. Naqueles dias
de euforia, tiveram bom senso aqueles que deram a devida atenção às palavras do
então presidente mundial da Intel, Craig Barrett, que criticou acidamente a
realização de investimentos em papéis improdutivos, em negócios que não tinham
qualquer garantia de retorno. 8

No ano de 2001 as ações das empresas de tecnologia despencaram nos mercados.

Iniciando uma desconfiança generalizada e uma onda de quebradeira das empresas virtuais,

parecia ser o fim dessas firmas:

....o fim das vacas gordas. Em poucos meses, promessas bilionárias simplesmente
desapareceram. E no Brasil, a tragédia não foi diferente. Em questão de dias,
empresas se desvalorizavam em 80%, 90%. Estima-se que os prejuízos globais
tenham ultrapassado a cifra de US$ 1 trilhão.

8 Cf André BORGES. In: http://forbesonline.com.br/Edicoes/118/artigo10445-1.asp?o=s acesso em 24082006, 16:15


16

Hoje, passados os estragos do oportunismo, a recente história da rede também serve


para contar que nem tudo é feito só de sonho ou desespero no mundo pontocom, ao
contrário. a realidade mostra que projetos com modelos de negócios consistentes
seguem no mercado, disputando espaço dentro e fora de seus países.9

A Nova Economia informacional não é um surto momentâneo e seu impacto sobre a

firma e suas teorias também não. Ela pode ser constatada nos milhões de dólares

movimentados por empresas nada tradicionais na web, que funcionam sob o modelo

Shumpeteriano da inovação.

No Brasil, estas firmas se configuram na forma de portais de conteúdo, de comércio

eletrônico, leilões, investimentos financeiros, serviços e etc. Estas empresas foram fundadas

no final século passado, a partir de pequenos investimentos, tanto no Brasil quanto no

exterior.

A empresa americana Amazon Books, é um exemplo de persistência e sucesso sem

precedentes, trata-se de uma firma baseada em inovação organizacional e tecnológica, voltada

à venda de produtos tradicionais (livros e revistas) que não sucumbiu e está presentemente

avaliada em alguns bilhões de dólares.

A Google, e a Yahoo criadas na década de 90 constituem, também, símbolos da

resistência ao estouro da bolha das pontocom, sem mencionar diversas outras empresas de

Tecnologia de ponta, de biotecnologia e agronegócio com atividades on-line.

O cenário da Nova economia informacional está como podemos ver, muito mais

otimista do que analistas e institutos de pesquisa brasileiros e estrangeiros previam há dez

anos atrás.

A Economia Digital parece seguir um crescimento equilibrado e gradual a despeito das

crises do passado.

A nova economia é resultado das inovações tecnológicas, relacionadas às TICs, tais

como, as redes de alto desempenho e Wireless, serviços de telefonia celular, TV digital,

serviços de vídeo conferencia, Voz por IP, do uso de redes informatizadas e pela Internet. É

9 Op. Cit. BORGES, André.


17

interessante notar apenas alguns exemplos que mostram como isto pode afetar o mercado, as

instituições e o comércio.

a) O Brasil é sabidamente um dos líderes em internet banking desde a década de 90,

embora ocupe apenas o 41° lugar entre as nações tecnologicamente mais preparadas; 10

b) O governo brasileiro passa a adotar o software livre em 2002, como medida de

economia para os cofres públicos e para proporcionar a inclusão digital, fator

importante para a inclusão social e a economia brasileira no futuro.

c) Vários serviços on-line, Yahoo, google, Bol, Uol e outros aumentam a cada ano seus

lucros no mercado brasileiro. Este sites e outros sites de compra, como,

americanas.com, modificam o comportamento do consumidor e criam novos tipos de

firmas;

d) Em 1990 a Internet não era tão expressiva, quanto os fenômenos de automação e

informatização nas firmas, todavia, em 2006 já estão conectados a esta rede mundial

quase um bilhão de pessoas em todo o mundo, metade da população mundial deverá

estar conectada, nos próximos dez anos, representando um mercado consumidor

acessível sem precedentes na historia da economia;

e) em 2006 o preço de uma transação on-line custa 0,01 centavos de dólar, a mesma

transação feita presencialmente em uma agência bancária, por exemplo, custaria ao

consumidor 1,07 dólares;

f) Entre a década de cinqüenta e o ano de 2006 o poder de processamento dos

computadores cresceu dez bilhões de vezes, juntamente com isto, as redes se

expandiram de forma fabulosa por todo o globo;

g) O mercado de arquivos digitais se expande a cada ano, um modesto arquivo digital

da Sun Microsystems no Brasil, tem capacidade para arquivar 1000 vezes o total de

títulos existentes na Biblioteca do congresso americano;

10 Ranking elaborado pela IBM e pelos consultores do The Economist Intelligence Unit. (Veja. julho de 2006, Abril Ed.)
18

h) Diversas companhias de e-commerce e de publicidade exploram, hoje, um vasto

mercado planetário. O mercado de publicidade que sustenta os serviços na Internet

gera uma imensa fonte de receita para diversos tipos de firma;

i) O mercado mundial de propaganda e publicidade movimentou em 2005 cerca de

520 bilhões de dólares, desse total, 17 bilhões foram distribuídos entre empresas da

Internet como o Google e Yahoo, as estimativas para 2006 devem ficar em torno de 35

bilhões de dólares, a serem distribuídos por companhias semelhantes com serviços na

grande rede. 11

Podemos acrescentar a estes exemplos, que a disponibilidade de banda larga e a

qualidade da rede, bem como, as atividades comerciais na Internet são elementos que

mostram a importância social e econômica das TICs.

Conforme André Borges da Forbes, pesquisas recentes feitas pelo Ibope/NetRatings,

revelam que os negócios na internet contam com uma fatia grande de consumidores das

classes A, B, C e D:

Segundo dados atuais do Ibope/NetRatings, 32 milhões de brasileiros têm acesso à


internet. Desse total, 18,5 milhões são usuários residenciais e os demais acessam a
rede do local de trabalho ou de outros tipos de ambientes. As razões para comemorar
não são muitas. Afinal de contas, nos últimos meses o número de usuários
residenciais chegou a cair. "Até pouco tempo nós tínhamos cerca de 80% do acesso
feito pelas classes A e B, e cerca de 18% pela classe C, D e E. Mas o que os números
indicam é que a população de menor renda ficou satisfeita com o acesso que o filho
passou a ter na escola, dispensando a necessidade de manter a internet residencial",
comenta o coordenador de análise do Ibope/NetRatings, Alexandre Magalhães,
lembrando que o Brasil já chegou a ter 22 milhões de internautas domésticos. A
lacuna do acesso doméstico fica mais aparente quando os índices nacionais são
equiparados com países como Alemanha, Austrália, Espanha, Estados Unidos,
França ou Japão, onde 95% a 98% dos internautas têm acesso em residência.
No entanto, se o computador popular do governo ainda está encantado, é provável
que a inclusão digital comece a ser feita por outros meios, como a telefonia celular,
um possível atalho que hoje concentra 77 milhões de usuários no País. Vale lembrar
que, a partir do ano que vem,muitos desses aparelhos já terão acesso a e-mail, por
exemplo.12

11 Informações retiradas da edição especial de tecnologia da revista Veja. julho de 2005 e julho de 2006, Abril ed.
12 Op. Cit. BORGES, André. p. 01.
19

O Brasil já possui desde o ano passado cerca de 30 milhões de internautas. O

internauta brasileiro bate recorde mundial de navegação na rede, passando 17 horas conectado

por mês.

Os celulares, que já chegam a 77 milhões no País, passam a ser encarados como forma

alternativa de inclusão digital. Contudo, em relação a muitos outros países o Brasil ainda tem

se comparado aos Estados Unidos e outras nações, por exemplo, baixa densidade de empresas

e consumidores on-line.

A baixa densidade de consumidores on-line, não espanta os investidores e

empreendimentos do comercio eletrônico. Estatísticas nacionais e estrangeiras de setores

como comércio eletrônico, mostram, no varejo, o potencial dos negócios na Internet.

Estimativas brasileiras mostram que até o final do ano de 2006 as vendas on-line de veículos,

turismo e bens de consumo (lojas virtuais e leilões para pessoa física) irá provavelmente

movimentar R$ 9,8 bilhões em 2007, conforme estimativas realizado pela empresa

E-Consulting juntamente com a Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (Camara-e.net).

isto representará um crescimento da ordem de 30,66% em relação ao ano de 2005.

Tomando por base estimativas econômicas atuais, colhidas por André Borges, da

Forbes, tomadas em entrevistas com consultores em comércio eletrônico, para cada

consumidor que realiza uma compra pela internet, quatro outros adquirem produtos pelos

meios tradicionais, mas somente após obterem informações empregando sites de e-commerce.

As estimativas sobre as intenções de compra destes outros quatro são bastante positivas, como

é afirmado abaixo:

Em 2004, as compras on-line corresponderam a 3,63% do varejo total no País.


Foram 4,3 milhões de compradores on-line.Para o diretor executivo da Camara-
e.net, Cid Torquato, essa participação tende a aumentar, uma vez que as taxas de
crescimento do comércio eletrônico superam o consumo varejista como um todo."Se
não chegarmos a 4% de participação nesse ano, com certeza estaremos muito
próximos disso", diz.
20

Só em vendas de veículos pela rede, realizadas por montadoras e revendedoras de


veículos, serão mais de R$ 5 bilhões neste ano. Em 2004, a venda de carros pela
internet totalizou R$ 4,27 bilhões, uma alta de 31,7% sobre 2003. "Essa média deve
ficar entre 25% e 30% este ano, se a economia não sofrer grandes mudanças daqui
para frente", avalia Torquato.
Além de vendas diretas pela web, a rede também mostra a influência que exerce
sobre as transações convencionais do varejo. Pelo menos R$ 50 bilhões
movimentados pelo setor em 2005 terão apoio direto da rede mundial de
computadores. As pesquisas mostram que, para cada pessoa que realiza uma compra
pela internet, outras quatro adquirem produtos pelos meios tradicionais somente
após obterem informações em navegações pela web."Isso significa que praticamente
quadruplicamos a movimentação de R$ 9,8 bilhões, que é projetada para varejo on-
line neste ano", explica o diretor da Camara-e.net.13

O consultor da Camara-e.net, Cid Torquato, entrevistado por Borges afirma,

ainda, que a Internet tem exercido uma influência crescente sobre as compras tradicionais, um

exemplo é o setor automobilísticos. Segundo as estimativas deste, em 2004, 65% dos

compradores de carros com valor em torno de R$ 60 mil usaram a rede no processo de

decisão de compra, isso mostra não apenas o poder de marketing que a web possui, mas a

preocupação diferenciada das vendas em não empurrar uma mercadoria, mas fornecer o

máximo de valor agregado antecipado, isto é, antes de efetuado o negócio. Neste tipo de

comércio a informação é o elemento diferenciador de vendas, a mercadoria não é empurrada

para o cliente, ele vai buscá-la.

O volume de transações eletrônicas entre empresas brasileiras, incluindo, comércio,

serviços e setor financeiro, apresentam estatísticas que revelam que, apenas no primeiro

semestre desse ano de 2006, foram movimentados R$ 118,3 bilhões no País, resultado

surpreendente, que foi 28,4% superior àquele alcançado no primeiro semestre de 2004.

As negociações praticadas via portais das empresas digitais na internet alcançaram em

2005 R$ 88,7 bilhões, mostrando que as redes informatizadas e a Internet revolucionaram os

negócios e reinventaram a firma no Brasil.

O paradigma informacional da nova Economia não afeta apenas as atividades com

conteúdo informacional, mas diversos setores da economia. As TICs tem impulsionado os

13 Op. Cit. BORGES, André. p. 2.


21

novos arranjos produtivos e administrativos e exigido cada vez mais, do trabalhador,

flexibilidade, conhecimentos e habilidades relacionados à capacidade de transferir

informações e tecnologias de um campo para outro.

A inovação e a tecnologia criam um novo contexto competitivo baseado na contínua

evolução humana e das firmas, bem como na crescente modernização das práticas

administrativas e desenvolvimento de modelos sobre a firma adaptados a tais contextos de

mudanças.

A Nova economia envolve o surgimento de empresas de natureza completamente

distintas da empresa tradicional, apenas informatizada: trata-se das organizações em rede que

funcionam como empresas virtuais ou empresas “pontocom”.

A revolução das tecnologias de informação e comunicação que estamos conhecemos,

serão entendidas nesta monografia como um novo paradigma tecno-econômico. Procuraremos

estudar o caminho da Teoria da firma até este paradigma e como ele vem afetando o design, o

gerenciamento, o controle da produção e outros aspectos da firma real.

Este novo paradigma tecno-econômico que altera a nossa visão da firma tradicional é

baseado na interconexão de um conjunto de inovações radicais em computadores, software,

sistemas integrados e telecomunicações, que afetam as relações de produção tradicionais e

aquelas existentes entre os agentes econômicos, influindo sobre a aplicação e orientação das

teorias do consumidor e da firma na época atual.

PERCURSO

Vários autores, neoclássicos, shumpeterianos, institucionalistas evolucionistas e ligados ao

desenvolvimento da teoria do crescimento endógeno nos servirão de apoio em nosso percurso

como referencias teóricas ao nosso aprendizado da evolução da firma. Não podemos esquecer

alguns autores que foram também fundamentais a escritura do presente trabalho, tais como,
22

Schumpeter, Antonella Corsane, Pelaez e Sbicca, Manuel Castells, Coriat e Newton Paulo

Bueno.

Para permanecerem relevantes as disciplinas econômicas, aparatos conceituais e

teóricos devem acompanhar a incessante transformação do mundo, contextos macro e

microeconômicos e suas historicidades e idiossincrasias.

Cada época elege suas questões econômicas relevantes, tais questões, ao mudarem,

inevitavelmente implicam numa mudança no curso teórico da economia, pois advém do

contexto econômico.

O Tema desta Monografia é abordado a partir do surgimento da Nova Economia e seu

contexto, o Paradigma das Tecnologias da Informação, mas retornaremos historicamente no

tempo, para enfocarmos aspectos econômicos relacionados à Economia Política, a Micro e a

Macroeconomia, tendo como ponto de partida as Mudanças gerais nas Teorias da Firma ao

longo do desenvolvimento do Capitalismo, desde a Revolução Industrial até a Época

contemporânea.

O foco da pesquisa nesta monografia envolve o entendimento de que, ao se buscar

estudar economicamente os impactos da Nova Economia e o papel da Inovação Tecnológica

sobre as Teorias da Firma é imprescindível considerar as relações recíprocas entre fenômenos

econômicos anteriores e presentes. Assim considera-se a inovação tecnológica e

organizacional, somada a introdução da TI e das TICs como fator de produção e motor da

mudança da firma ao longo do tempo.

OBJETO DA ANÁLISE

Este trabalho representa um esforço de uma iniciante no campo da economia, em seu

entendimento dos difíceis problemas, conceitos e modelos econômicos em torno da questão

da firma.
23

A presente monografia consiste, assim, em um esforço de estudo para o entendimento

de elementos vistos, ora de forma breve ora de forma mais detalhada nas diversas disciplinas

do curso de economia desta universidade. Além desses elementos, buscou-se uma atualização

sobre o que vem sendo discutido, presentemente, sobre a firma na economia contemporânea.

O objeto de analise da presente monografia é a evolução das Teorias da Firma, seu

foco e propósito principal, é compreender o papel da Inovação Tecnológica para a

constituição da firma, e entender como se está criando na economia Contemporânea, uma

nova forma de organização da produção conhecido por Economia Informacional.

OBJETIVOS

O objetivo Geral da presente monografia é explicar, como a Teoria da Firma se

comporta face a realidade ao longo da história econômica, que é marcada por três distintos

paradigmas. Daremos ênfase ao paradigma informacional, relacionado a Tecnologia da

Informação na nova Economia. De outro lado, o objetivo Específico, é analisar como a Teoria

da Firma se transforma e responde aos desafios da Inovação Tecnológica e organizacional no

contexto do mencionado paradigma.

A monografia estenderá o exame feito por Bastos Tigre sobre as transformações da

Teoria da Firma relacionada aos distintos paradigmas organizacionais tais como, Economia

Industrial, Fordista e Informacional se concentrando neste último paradigma, para entender

em linhas gerais como se comporta a Firma face a nova realidade teórica contemporânea,

procurando entender que repercussões conceituais, metodológicas e teóricas isto pode ter.

METODOLOGIA E DESCRIÇÃO

A postura metodológica aqui adotada, circunscreve-se ao campo teórico e conceitual

da economia, penetrando aspectos macro e microeconômico, bem como, elementos da

economia política.
24

Trabalhamos com um conjunto de procedimentos do Método Comparativo, empregado

em ciências sociais, como è o caso da economia. Procedemos pela investigação de teóricos da

economia clássicos e contemporâneos comparando-os, bem como, aos fenômenos e fatos

econômicos pertinentes, com vistas a ressaltar suas diferenças e similaridades.

No primeiro capítulo, exploramos o campo teórico da economia, para entender as

teorias da firma nos três paradigmas estudados por Tigre. Refletimos sobre a firma e seus

contextos, histórico e econômico, sobre a noção de paradigma e os demais paradigmas desde

a Revolução Industrial Britânica.

No segundo capítulo, estudamos a abordagem neoclássica da firma, o modelo de

racionalidade neste contexto e também, os debates e controvérsias a respeito da firma na

abordagem neoclássica.

No terceiro capítulo, refletimos sobre economia industrial fordista e o surgimento das

teorias da firma.

No capitulo quatro, estudamos a organização da produção toyotista, examinando

aspectos referentes a tecnologia, automação e inovação organizacional da firma pós-fordista, e

também, o impacto das TICs sobre a economia e a firma na visão de diversos teóricos

contemporâneos.

O quinto capítulo procura entender o panorama contemporâneo de analise da firma,

através do estudo de diferentes teóricos econômicos desde o neo-institucionalismo, passando

pelo evolucionismo até a corrente do crescimento endógeno.


25

1 MUDANÇAS NO CAMPO TEÓRICO DA ECONOMIA: AS TEORIAS DA FIRMA

EM TRÊS PARADIGMAS

1.1 A FIRMA E SEUS CONTEXTOS

O exame dos impactos da nova economia e da inovação tecnológica sobre as teorias da

firma, requer uma visão panorâmica sobre a situação desse tema dentro do contexto geral da

Economia. O presente capítulo procura relacionar o tema da Inovação aos três paradigmas da

firma na visão de Paulo Bastos Tigre, do Instituto de Economia da Universidade Federal do

Rio de Janeiro. Este autor nos mostra que para permanecerem atualizadas, as disciplinas

econômicas, seus aparatos conceituais e teóricos devem acompanhar a incessante

transformação do mundo, nos seus contextos macro e microeconômicos e historicidade.

Assim, Conforme Bastos Tigre:

Desde os tempos de Alfred Marshall, a teoria econômica procura criar modelos que
capturem a lógica do comportamento das firmas e dos mercados." Os resultados
26

destes esforços não resultaram em um quadro analítico convergente, já que


persistem controvérsias importantes acerca do papel das diferentes forças que
influenciam o crescimento e os objetivos da firma. Winter (1993), ao se perguntar
sobre o que a economia tem a dizer sobre o papel das empresas em uma economia
de mercado, conclui que a resposta seria o silêncio, seguido de uma “babel de
respostas significativamente "conflitivas”. A origem destes desencontros deriva de
importantes diferenças conceituais, metodológicas e ideológicas entre as principais
correntes teóricas que estudam a firma. No entanto, ao se analisar a evolução das
teorias da firma, é possível perceber uma grande carência de análises empíricas do
funcionamento da firma ao longo da história, um recurso que, devidamente
explorado, poderia contribuir para elucidar a origem destas divergências. 14

A compreensão de firma, como afirma Bastos Tigre, guarda uma relação com a teoria

na qual a mesma se insere e por isso, com a visão de mundo que a teoria assume. Cabe assim,

recupera historicamente conceitos, tanto teóricos como empíricos, sobre a firma.

Ao examinarmos o conceito de ‘firma’ constatamos que tanto empiricamente como

teoricamente, não existe uma definição única, mas um conjunto de definições que vêm

sofrendo transformação ao longo do tempo, acompanhando os debates acadêmicos e avanços

da pesquisa empírica. Contudo:

....... existe um hiato temporal entre a realidade econômica vivida pelas empresas e
as teorias que procuram decifrá-las. O desencontro entre teoria e prática deve-se às
dificuldades históricas de captar, com as limitações teóricas e factuais disponíveis, a
complexidade e diversidade deste ator protagonista do capitalismo. As diversas
críticas às teorias da firma, feitas a posteriori, identificam paradoxos e buscam novas
conceituações, auxiliadas pela incorporação de aportes científicos interdisciplinares
à economia e por dados estatísticos que mostram mais claramente o padrão de
crescimento da firma e da estrutura da indústria. Ao apontar incoerências, os críticos
raramente consideram o contexto histórico e empírico em que se basearam os
teóricos que os precederam. Mesmo em relação à sua própria contribuição, não se
percebe claramente na leitura dos textos econômicos sobre a firma e mercados a que
realidade estão se referindo os autores. 15

Há na literatura, nos dicionários e manuais técnicos de economia, diversos conceitos

para firma. Constatamos uma diversidade de conceitos de ‘firma’ as quais expressam

diferentes propósitos e diferentes concepções teóricas sobre seu papel na teoria micro e

14 Paulo Bastos TIGRE. Inovação e teoria da firma em três paradigmas. Rio de Janeiro: UFRJ, Revista de Economia
Contemporânea, n 3 jan-jun, 1998, p.67.
15 Op.cit TIGRE, Paulo Bastos. pp. 67-68.
27

macroeconômica. Hodgson (2002) ao refletir sobre a definição de firma e de mercado, mostra

como esses conceitos têm sido relacionados e confrontados, esquecendo-se a concepção

teórica da firma em termos socioeconômicos e históricos.

Este autor mostra como a evolução das formas de contrato e de arranjos institucionais

entre firmas no mundo dos negócios vêm colocando desafios permanentes aos estudiosos de

organização industrial e economistas. O questionamento envolve como definir a firma em

termos abstratos, e como identificá-la em termos práticos. Esta questão permeará o presente

capítulo.

Vamos refletir, nos próximos capítulos sobre concepções teóricas da firma em termos

de suas definição empírico teórica, procurando fazer uma comparação com a realidade da

Nova Economia Informacional, para entendermos que exigências se impõem a uma possível

avaliação deste conceito a luz da Inovação tecnológica e das TICs na época contemporânea.

Segue-se o caminho desta proposta, procurando refletir sobre a firma nos dias atuais.

Ao examinarmos o conceito de “firma” constatamos o impacto da inovação tecnológica sobre

o desenvolvimento e modelos da mesma, e também que, tanto empiricamente como

teoricamente, não existe uma definição única de firma, mas um conjunto de definições que

vêm sofrendo elaboração ao longo do tempo, acompanhando debates acadêmicos e avanços

da pesquisa empírica, como revela Tigre:

Existe hoje na literatura um certo consenso sobre os impactos das inovações


tecnológicas e organizacionais na estrutura da indústria e na organização das
instituições. Mas do ponto de vista da construção teórica, estes impactos não foram
prontamente incorporados no pensamento econômico. A grande empresa industrial
dominou o cenário econômico nos países centrais por décadas, até que surgissem os
primeiros questionamentos teóricos acerca de pressupostos neoclássicos sobre as
deseconomias de escala que, em essência, negavam sua própria existência. A
possibilidade concreta de proceder a uma análise empírica do grau de concentração
da indústria, a partir de dados estatísticos, levou a um reconhecimento gradual da
inadequação das teorias marginalistas. Já do ponto de vista institucional, a
organização interna da firma foi observada de forma ainda mais gradual e
fragmentada, refletindo a grande complexidade que a observação das empresas
apresenta na prática. As indagações sobre a natureza de seu crescimento, objetivos e
formas de organização dependeram não apenas de observações empíricas, mas
28

também da acumulação de conhecimentos que deram origem a novos conceitos. 16

Ao investigarmos sobre as diversas acepções econômicas de firma temos como

primeira referência Alfred Marshall. Conforme Hodgson (2002), Marshall, em Industry and

Trade, teria privilegiado em sua concepção o aspecto legal da firma. Kerstenetsky (1995)

mostra que, Marshall, em seu livro IV do Principles investiga as leis dos rendimentos e suas

manifestações sobre a economia, o que permite analisar a relação entre a organização da

produção e seus efeitos sobre o restante da economia. Nesta visão, a firma é vista como um

agente que interfere no meio onde atua e é afetada por ele. 17

A possibilidade de interação entre a firma e o meio ambiente torna a firma

marshalliana um agente ativo às mudanças externas. Nesta concepção, a relação da firma com

seu meio ambiente se dá pela forma como Marshall, por um lado, define o papel do

empresário, e de outro, pela identificação de economias internas e externas na organização da

produção, tendo o empresário papel de destaque no processo produtivo, este não só assume os

riscos, como tem o papel de organizar a produção.

Marshall situa o empresário como agente de mudanças, coloca a ação do mesmo em

um contexto econômico dinâmico. Esta análise é ainda bastante apropriada hoje em

economias onde o futuro é incerto e desconhecido, mas limitada em outros aspectos relativos

à realidade atual.

Este conceito seria adequado a certos aspectos da nova economia, principalmente no

que tange a organização da produção, em que são consideradas tanto as economias internas,

dependentes da firma individualmente, quanto às externas dependentes do desenvolvimento

da indústria. É de igual importância o capital, que para Marshall consiste, grande parte, em

conhecimento e organização, opondo-se a teoria neoclássica, para a qual o capital é somente

um fator de produção.

16 Op.cit TIGRE, Paulo Bastos. p. 68


17 Carmem Aparecida, FEIJO. A firma na teoria econômica e como unidade de investigação estatística. p. 353
29

A identificação das economias internas e externas na organização da produção,

também apresenta uma característica dinâmica, no sentido em que seu desenvolvimento

decorre do fator tempo.

As economias internas são as que associamos atualmente ao conceito de economias de

escala oriundas basicamente de uma maior especialização do trabalho e do emprego de

máquinas e equipamentos, ou seja, dizem respeito à firma e mais especificamente aos

métodos de produção.

As economias externas são as dependentes do desenvolvimento geral da indústria, ou

seja, das vantagens da maior concentração de firmas similares num mesmo local.

Todavia, Marshall introduz dois obstáculos ao crescimento da firma, que não

condizem com a dinâmica da nova economia: a dificuldade de expansão do mercado da firma,

o que limita seu crescimento, e a decadência do empresário, que provoca a morte do

empreendimento.

Constata-se que em Marshall e em Schumpeter, guardadas as diferenças, a ênfase no

papel desempenhado pelo empresário é exagerada.

Conforme Hodgson (2002), depois de Marshall, o consenso acerca do aspecto legal da

firma se desfez, e observa-se um crescente interesse pelo estudo das atividades econômicas

com emprego de funções matemáticas.18 Assim, a firma passou a ser identificada formalmente

como uma função de produção, cujas entradas são os vários insumos necessários à produção,

e as saídas, os produtos produzidos por ela.

Neste contexto, a análise da firma não constitui uma questão tão importante, pois em
situação de concorrência perfeita, e na ausência de progresso técnico, a firma tem
pouca escolha a fazer. Sua única função é transformar insumos em produtos, e para
isso basta selecionar a técnica mais apropriada e adquirir os insumos necessários no
mercado, incluindo trabalho e tecnologia. O ambiente competitivo é simples e inerte,
praticamente sem incertezas. 19

18 Op.cit. FEIJO, Carmem Aparecida. p. 354


19 Op.cit TIGRE, Paulo Bastos. p. 71
30

Resumidamente, a firma é o local de produção, uma planta sujeita às leis de

rendimento, que reúne fatores de produção que se combinam de acordo com a tecnologia

disponível de conhecimento comum. Dito de outro modo, a firma é o local onde uma ou

várias transformações tecnológicas são processadas para a produção de um determinado bem

ou serviço, é agente passivo, que toma a tecnologia, os preços dos fatores e a capacidade

organizacional como dados e reage às mudanças na oferta e na demanda por substituição na

margem. Aspectos organizacionais ou de relacionamento com clientes e fornecedores são

ignorados na visão neoclássica. Conforme Bastos Tigre:

Sua lógica como modelo abstrato de explicação do funcionamento do mercado


nunca chegou a ser abandonada no ensino da microeconomia, dado que não se
obteve um modelo alternativo tão fechado e completo. Mas sua aplicação prática
para análise de mercados e tomada de decisões nunca logrou muito êxito, apesar das
inúmeras tentativas de aperfeiçoar a metodologia utilizada na modelagem
econômica e dos esforços para revigorar a teoria com incorporação de elementos da
realidade econômica. Na teoria neoclássica tradicional, o foco de interesse
permanece vinculado à teoria dos preços e alocação de recursos. A firma assume um
papel extremamente limitado e uma conceitualização demasiadamente simples. O
irrealismo dos princípios da teoria neoclássica pode ser constatado nas seguintes
premissas:
•A firma é vista como uma “caixa-preta”, que combina fatores de produção
disponíveis no mercado para produzir produtos comercializáveis.
•O mercado, embora possa apresentar situações transitórias de desequilíbrio, tende a
estabelecer condições de concorrência e informações perfeitas. A firma também se
depara com um tamanho “ótimo” de equilíbrio.
•As possibilidades tecnológicas são usualmente representadas pela função de
produção, que especifica a produção correspondente a cada combinação possível de
fatores. As tecnologias estão disponíveis no mercado, seja através de bens de capital
ou no conhecimento incorporado pelos trabalhadores.
•É assumida a racionalidade perfeita dos agentes, diante de objetivos da firma de
maximização de lucros.20

Outra concepção de “firma”, que enriqueceu a visão da firma para além de uma mera

função de produção, é a proposta por Coase (1937), que investiga por que a produção não é

totalmente organizada por meio das relações de mercado.21

20 Op.cit TIGRE, Paulo Bastos. pp.70-71


21 Op.cit; FEIJO, Carmem Aparecida. p. 355
31

Bastos Tigre explora em sua análise, o contexto histórico e empírico em que se

basearam os teóricos, pois entende que em geral não se percebe claramente na leitura dos

textos econômicos, sobre a firma e mercados, a que realidade os autores estão se referindo.

Este insight de Tigre, tem feito com que os diversos teóricos economistas brasileiros, se

preocupem menos com a temporalidade e universalidade teórica e busquem o caminho

empírico e estatístico como forma de ver mais nitidamente os fenômenos econômicos. Isto

permite que diversos autores percebam as constantes mudanças nos modos de organização da

produção predominantes no século XXI e sua relação com a estrutura da firma, mas o

conhecimento da mesma exige ir além dos dados empíricos e estatísticos. Neste contexto, se

necessitam novos conceitos e teorias para dar conta da realidade a que estes dados remetem e

da mudança na economia informacional.

O entendimento de tais mudanças foram incorporados aos modelos econômicos atuais,

de forma a superar as limitações das teorias existentes.

Existe hoje na literatura, diferentemente do passado, certo consenso sobre os impactos

endógenos das inovações tecnológicas e organizacionais na estrutura da indústria e na

organização das instituições. Do ponto de vista da construção teórica, estes impactos

começam a ser incorporados no pensamento econômico, como veremos nos capítulos que

seguem.

Inicialmente, a grande empresa industrial dominou o cenário econômico nos países

centrais, isto fez surgir os primeiros questionamentos teóricos acerca de pressupostos

neoclássicos sobre as deseconomias de escala.

Segundo Bastos Tigre a possibilidade concreta de proceder a uma análise empírica

do grau de concentração da indústria, a partir de dados estatísticos, levou os teóricos a

reconhecerem paulatinamente a inadequação das teorias marginalistas (neoclássicas).

As Teorias da firma não se transformaram mais rapidamente em razão da grande

complexidade que a observação, in loco, das empresas apresenta na prática científica do

economista.
32

Hoje com a Internet, a realidade da firma se torna cada vez mais transparente e

discutida. As indagações sobre a natureza do crescimento da firma, seus, objetivos e formas

de organização se devem a difusão de informações nas redes informatizadas e a formação de

vastos bancos de dados sobre as empresas, que ao longo do tempo implicam na acumulação

de valiosos conhecimentos sobre a firma que dão origem a novos conceitos. Um exemplo de

como a tecnologia pode influenciar a firma e a compreensão desta, são as técnicas de Data

Mining (mineração de dados) que permite o cruzamento de informações existentes nas

imensas bases de dados das firmas, retirando daí, informações importantes que permitem que

as empresas se modifiquem, bem como, seus modos de operação, comercialização e

estratégias. O partilhamento de dados minerados, dentro da firma e entre firmas, tem

transformado os mesmos.

Além disso, conforme Bastos Tigre, o conhecimento teórico sobre a firma teve um

desenvolvimento maior no final do século XX, devido ao aporte teórico oriundo de outras

áreas do conhecimento, como por exemplo, da biologia evolucionista, da psicologia cognitiva

e da administração de empresas, permitindo entender novas dimensões sobre a firma, ainda

não incorporadas pelas teorias econômicas tradicionais.

Tigre condena a ortodoxia metodológica da teoria neoclássica, dizendo que esta

limitou a percepção de questões complexas relacionadas à firma e a economia devido à

limitação de seus instrumentos e variáveis de análise.

A economia informacional, como veremos no último capítulo desta monografia, tem

obrigado aos teóricos a responder efetivamente e em tempo real ao processo de transformação

tecnológica e organizacional da firma, pelo fato de já não mais existir um modelo único de

firma capitalista no século XXI e devido a diversos fatores de ordem, cultural, tecnológica e

organizacional. Não só a tecnologia influi para isso, mas também, o modo como à tecnologia

é usada pela firma em diferentes contextos.

Embora os fenômenos da Economia digital ou informacional estejam presentes no

século XXI, existem, nesse século, diferentes tipos de firma e de configurações de mercado,
33

relacionadas ainda a era industrial e a nova economia informacional, estes coexistem em um

mesmo ambiente econômico. Toda essa diversidade faz aparecer novas taxonomias, cabe

tentar classificá-las e agrupá-las, segundo determinados critérios de análise.

Todavia as firmas da Nova Economia ainda estão sendo estudadas e classificadas,

não é este o propósito desta monografia.

1.2 A NOÇAO DE PARADIGMA

É importante compreender para melhor identificação da firma da nova Economia

Informacional, como a teoria econômica responde ao processo de inovação tecnológica e

organizacional na firma-típica de cada paradigma proposto por Bastos Tigre. Este autor se

baseia nas pesquisas elaboradas por Coriat e Weinstein (1995), para distinguir as filiações

Históricas de cada paradigma, e assim, visualizar e situar a evolução das principais teorias da

firma em cada paradigma organizacional.

A noção de paradigma tem uso epistemológico e histórico para a ciência econômica,

ela é retirada da epistemologia de Thomas Kuhn, que emprega esta noção para analisar o

processo de formação e transformação das teorias científicas na Física. Bastos Tigre, do

mesmo modo emprega o termo para analise do processo de formação e transformação da

teoria da firma.

De acordo com Japiassú e Marcondes (1990)”, “um paradigma é aquilo que os

membros de uma comunidade partilham e inversamente, uma comunidade científica consiste

em indivíduos que partilham um paradigma...”.22

Ao analisar os três paradigmas organizacionais relacionados as principais correntes

teóricas da firma, Bastos Tigre relaciona as diferentes teorias da firma às estruturas e sistemas

regulatórios destes três paradigmas, para entender o processo de formação e transformação da

22 Hilton, JAPIASSU & Danilo MARCONDES. Dicionário de Filosofia p. 189.


34

teoria da firma nos mesmos:

 O primeiro analisado por Tigre é o Paradigma da Revolução Industrial

britânica, que dominou a economia mundial durante todo século XIX e que serviu

de base à teoria neoclássica;

 O segundo é o Paradigma Fordista, que se estabelece a partir dos Estados

Unidos e passa a ser considerado o modelo de organização da produção dominante

na maior parte do mundo no século XX. A partir deste paradigma surgem as teorias

da firma e as pesquisas em economia industrial;

 O terceiro é o paradigma conhecido como Paradigma Informacional ou

paradigma da Nova Economia que tem por base as TICs, aparece e é estimulado

inicialmente no Japão. Seus impactos começam a surgir a partir da década de 80 e

estimularam uma nova construção teórica na década de 90, como veremos, vem

evoluindo desde o início do presente século conforme mostra o quadro abaixo:

Tabela 1: Bastos Tigre23

23 Op.cit TIGRE, Paulo Bastos. p.104


35

O contexto histórico-econômico do primeiro paradigma é o da Economia Neoclássica

marginalista, o contexto do segundo paradigma coincide com os desafios lançados pela

Escola keynesiana, já o contexto histórico-econômico do terceiro paradigma coincide com os

desafios lançados pelas Correntes Evolucionistas e Neo-institucionalistas e Corrente do

Crescimento Endógeno no contexto do século XXI e do liberalismo. Os pressupostos

macroeconômicos de tais contextos histórico-econômicos são examinados ao longo do

presente trabalho:

O contexto histórico-econômico da economia neoclássica relaciona-se a afirmação do

Capitalismo durante a revolução industrial britânica que dominou a economia mundial

durante todo século XIX, e levou aos estudos relativos às leis de mercado e teorias sobre a

acumulação da riqueza.

A firma desde a economia clássica é vista como uma forma de organização racional

voltada à produção de riquezas, tendo como objetivo último, um máximo individual, sendo

entendido por riqueza, aquilo que satisfaz necessidades materiais e procede do empresário

como excedente.

A industrialização crescente durante a revolução industrial britânica, leva ao

aprimoramento da firma e dos processos de produção. A Inglaterra defendia, nesse contexto, o

livre comércio, pois se encontrava em um estágio mais avançado de industrialização,

enquanto que, as demais nações buscam instituir tarifas protetoras para desenvolver suas

indústrias.

Neste contexto, o mundo vive a partir de 1870 sob um processo de formação de

Trustes e Cartéis, principalmente nos Estados Unidos e na Alemanha, a firma nesse contexto

tende a se fundir (pequenas e medias empresas) em grandes monopólios que exercem um

forte controle da produção, distribuição e preços de seus produtos. Muitos desses monopólios

estendem-se ao setor de crédito.

Com o desenvolvimento da capacidade de produção, geram-se grandes excedentes


36

industriais, levando a busca por criação de novos mercados e o controle das fontes primárias

de matéria prima.

Ao nos perguntarmos em que repousa o ideário da ‘produção de riqueza como

excedente que rege a firma do paradigma da Revolução industrial compreendemos com

Corsani (2000) que:

........a teoria de Adam Smith nunca foi desmentida: esta produção repousa sobre a
divisão do trabalho adotada como arma única na luta contra o tempo e, como
corolário, sobre a extensão dos mercados. Dito de outra forma, dada a “inclinação
natural à troca”, a divisão do trabalho, facultada pela extensão dos mercados, se
desenvolve e permite os ganhos de produtividade sobre os quais se estabelece a
produção do excedente. Sem jamais infirmar os postulados do pensamento clássico,
e aprofundando seus fundamentos, a economia, que se constrói como ciência com a
afirmação da teoria neoclássica, abandonará a análise do processo de acumulação
para se constituir como teoria do equilíbrio de mercado. Ela será essencialmente
teoria normativa dos mercados e das leis que garantem os princípios de eqüidade e
eficiência do sistema. Sob a hipótese de um comportamento individualista, o sujeito
produtor não deseja trabalhar com os outros; dito de outra forma, a cooperação é
excluída e resta somente o mercado para coordenar a ação dos agentes, cujo objetivo
último é um máximo individual de prazer. 24

Veremos ao longo deste trabalho uma anteposição a estes valores nos séculos XX e

XXI, nos quais surgem novos Arranjos institucionais baseados em organizações gerenciais por

um lado e reticuladas ou em rede por outro.

O panorama de operação da firma entre este dois séculos, passa a ser o das relações

inter-firmas concorrentes ou formando redes cooperativas. Tal rede é gradualmente formada

pelo uso e evolução de novas tecnologias e da inovação. Assim a decisão entre fazer, comprar

ou cooperar é neste século sempre tomada no contexto de uma rede concreta (em oposição ao

mercado abstrato). Observa-se que conexões inter-firmas vão emergindo ao longo do tempo e

que as redes de firmas são modeladas pela história de cooperação e coopetição.25

As idéias principais que ligam a estes acontecimentos envolvendo a atividade

24 Antonella CORSANI. Caminhando para uma renovação da economia política. Conceitos antigos e inovação teórica. Rio
de Janeiro UFRJ ed. Revista Lugar Comum, n. 11, 2000. p.129.
25 Neologismo que junta Cooperação e Competição num mesmo processo real em as firma buscam vantagens nos mercados
sem se aniquilarem uma as outras, esta realidade nova é embaraçante para os estudos microeconômicos tradicionais.
37

gerencial e de redes das firmas são antecedidas por idéias que se relacionam a constituição

interna da firma e sua forma de se relacionar com o meio externo, como por exemplo, a lei de

Say, formulada por Jean-Baptiste Say, em 1803, segundo a qual toda oferta é capaz de gerar

uma demanda, permitindo a economia trabalhar com utilização plena dos recursos. De acordo

com esta perspectiva, nega-se as crises econômicas, pois se pressupõem que os desequilíbrios

entre oferta e procura são temporários, neste sentido todo excesso de oferta perdura até que a

atividade econômica possa absorver este excesso.

Nesta mesma época, 1817, David Ricardo, desenvolve estudos sobre as condições

determinantes para a acumulação do Capital em Os Princípios da Política e da Taxação, o

autor examina que, quando sobem os preços dos insumos, sobem também os custos para

manter os trabalhadores em termos de salários, diminuindo o lucro da firma. O preço da mão-

de-obra pode ter influência do mercado e subir, quando esta se torna escassa e barata, e cair

quando abundante, assim, Ricardo elabora para a boa condução da firma industrial, a chamada

lei férrea dos salários, segundo a qual, um trabalhador deve receber apenas o necessário para a

sua sobrevivência e de sua família, esta idéia possui uma validade para o controle de uma

realidade social e econômica do passado, torna-se um problema readapta-la a realidade do

século XXI.

Ainda no contexto da Revolução Industrial, surge com o Capital de Karl Marx, 1867,

uma teoria antagônica que combate as discrepâncias e anomalias existentes na relação entre

Capital e Trabalho. Neste contexto teórico, o trabalho é examinado como uma mercadoria,

que possui características especiais, a firma capitalista o compra por um valor que

corresponde ao custo mínimo para sua sobrevivência e de sua família, como em Ricardo,

contudo, Marx analisa que nesta relação, a força de trabalho pode produzir mais do que o

valor necessário a reposição do seu salário em termos de mercadoria produzida.

A diferença entre o que o trabalhador recebe de salário e o valor que seu trabalho

adiciona à mercadoria que este produz se transforma em acumulação para a firma detentora

dos meios de produção, torna-se Mais-valia que, ao ser apropriada individualmente, assume
38

para a firma a função de lucro capitalista.

A firma neoclássica opera com o pressuposto da raridade de recursos (Teoria da

escassez) e visa a alocação ótima de recursos no mercado (teórico) da Concorrência Pura e

Perfeita. A firma da Nova Economia, por outro lado, opera com desafio dos recursos

abundantes. (Teoria da Abundancia).

A firma tradicional, de responsabilidade plena de seus proprietários se desenvolve em

um cenário, marcado pelo fim da partilha colonial e se firma dentro de um mercado mundial

baseado nos trustes e monopólios e na luta expansionista pelo controle dos mercados. Suas

preocupações e ações baseiam-se na racionalidade perfeita dos agentes, ênfase na análise das

relações de troca e equilíbrio.

Neste sentido, a organização da firma é estabelecida em termos de pequenas empresas,

especialização vertical, dependência das economias externas e do jogo econômico entre as

nações. Do ponto de vista dos sistemas nacionais de regulação, a firma é marcada por

atividades do estado minimamente regulatórias e não intervencionista se pode constatar,

embora muita coisa tenha mudado no século XXI, que algumas características da firma

clássica ainda perduram.


39

2 ECONOMIA NEOCLÁSSICA: A FIRMA TAYLORISTA NO PARADIGMA DA

REVOLUÇÃO INDUSTRIAL BRITÂNICA

2.1 A ABORDAGEM NEOCLÁSSICA DA FIRMA

A estrutura da firma em sua formação, está ligada a elementos de ordem histórica,

social e econômica. No que concerne a esta conformação, também modelam a firma os

norteadores teóricos, tais como, as escolas e Teorias econômicas. Por exemplo, a escola

neoclássica, os modelos econômicos evolucionistas e institucionalistas e os modelos como o

decrescimento endógeno, os quais traduzem o que é a firma em um tempo e contexto,

orientando o seu desenvolvimento.

O referencial empírico-histórico concernente a conformação da firma neoclássica pode

ser datado da Segunda metade do século XVIII, quando tem início a Revolução Industrial

britânica, processo decorrente das mudanças econômicas relacionadas à acumulação de

capital, proveniente, em primeiro lugar, da intensa e lucrativa atividade comercial nas

colônias e da mão de obra abundante.

A liderança econômica da Inglaterra deveu-se ao fato da mesma ter iniciado seu

processo de industrialização meio século antes dos demais países europeus, além disso, ela

introduz diversas inovações tecnológicas (máquina a vapor, tear mecânico, a usinagem do

aço) e mais tarde, inovações organizacionais (taylorismo), que vão influenciar o paradigma da

firma seguinte, o paradigma fordista gerencial.

Em 1880, afirma Tigre, a Inglaterra detinha cerca de 40% das exportações mundiais de
40

produtos manufaturados, enquanto os Estados Unidos, detinham apenas 6%. A produtividade

do trabalho britânica devia-se, certamente, ao desenvolvimento da firma segundo o modelo

taylorista, e era 14% maior do que a americana.

No final do século XIX, a Inglaterra se destaca, também, no processo de expansão

industrial, o qual marca a Segunda fase da Revolução Industrial (1860-1900) e mantém a sua

liderança econômica e a difusão dos princípios da industrialização na Europa, nos Estados

Unidos e no Japão, tornando-se o modelo industrial mais bem-sucedido do mundo.

As principais mudanças nos processos produtivos são, nesta fase, o emprego de novas

formas de energia, derivada da eletricidade e do petróleo, do aparecimento de novos produtos

químicos e da substituição do ferro pelo aço. Neste contexto, o sistema de preços e as

características de funcionamento e relacionamento da firma em diversas partes do mundo,

respondem ao padrão de firma britânico, que servirá de base às análises e generalizações

neoclássicas:

Embora a “firma” na teoria dos preços seja, segundo Demsetz (1993), um simples
artifício retórico adotado para facilitar a discussão do sistema de preços, o modelo
de operação das firmas típicas do mercado britânico não podia deixar de servir de
referência aos autores neoclássicos para idealizar e modelar o sistema econômico.26

A ciência econômica, como sabemos, consolida-se com a escola clássica. Os clássicos

para defender o liberalismo elaboram o modelo de racionalidade, segundo o qual o indivíduo

deve satisfazer as suas necessidades, sem preocupação com o bem estar coletivo. A despeito

disso, esta busca egoísta e competitiva estaria na base de todo bem público. Qualquer

intervenções nessas leis naturais, bloquearia o desenvolvimento das forças produtivas.

Empregando a metáfora de Adam Smith, os homens conduzidos por uma “mão

invisível”, acabavam por produzir um fim não intencional.

A economia Clássica e Neoclássica foi centrada nas reflexões sobre as transformações

do processo produtivo, trazidas pela Revolução Industrial, como a mecanização, a divisão

social do trabalho, as causas das crises econômicas, acumulo do capital e papel da firma.

26 Op.cit TIGRE, Paulo Bastos. p.74


41

Assim, o modelo neoclássico surge conforme Demsetz (Demsetz 1993), do debate entre

mercantilistas e defensores do livre mercado e sobre a discussão do papel do Estado na

economia.

A visão liberal se apoiava na idéia da “mão invisível” de Adam Smith, que já no

século XVIII apontava para a característica auto-reguladora do sistema de preços. Passados

mais de um século, a necessidade de combater aqueles que, a exemplo de Marx, evocavam a

necessidade de planejamento central, para evitar o caos econômico, levou os liberais a

examinarem, mais atentamente, as condições necessárias para que o sistema de preços

funcionassem de forma a substanciar os argumentos de Smith. Tais condições foram

formalizadas no modelo de competição perfeita. 27

O papel teórico-econômico influi bastante no modo de entender a firma, isto pode ser

visto claramente quando examinamos a conformação da firma a partir da formulação de uma

nova teoria de valor, surgida com a escola neoclássica marginalista, que foi inteiramente

inovadora em relação a Economia Clássica e vai estabelecer um novo padrão para a firma

taylorista, no paradigma da Revolução industrial britânica, com posterior influencia sobre o

modelo fordista.

A abordagem neoclássica relaciona-se as teses de equilíbrio geral, em que a firma é

parte de um sistema de determinação de preços e alocação de recursos. Nas condições ideais

de concorrência perfeita.

Esta corrente se opõe a teoria clássica do valor-trabalho, apoiada no utilitarismo de

Jeremy Bentham.

Para os economistas neoclássicos o valor de um produto é uma grandeza subjetiva e

está relacionado com a utilidade que este tem para cada individuo ou firma. Tal utilidade, por

seu turno, depende da quantidade do bem que o indivíduo ou a firma dispõem. Desse modo,

os preços das mercadorias e dos serviços passam a ser definidos pelo equilíbrio entre a oferta

27 Op.cit TIGRE, Paulo Bastos. p.72


42

e a procura, que funciona como uma lei do mercado. Tal lei do mercado, segundo esta

corrente, conduziria à estabilidade econômica.

A escola Marginalista causa impacto a economia tradicional clássica ao buscar um

novo equacionamento nas relações entre Capital e Trabalho. Os marginalistas, Stanley Jevons,

Karl Menger e Leon Walras desenvolvem teorias marginalistas de forma independente, mas

que visam repartir o bolo econômico de forma mais equânime, buscando minorar as diversas

contradições entre Capital e Trabalho, deslocando o conceito de valor-trabalho para o conceito

de valor utilidade e assim, desviando a atenção dos aspectos da produção para o consumo.

A contribuição de Walras, ao construir o modelo matemático de equilíbrio geral, foi


tentar ordenar de forma “lógica” o funcionamento da economia, através de um
sistema de equações simultâneas. Sua preocupação com as leis fundamentais que
regem a oferta e a demanda levou-o a adotar uma metodologia dedutiva, partindo do
geral para o específico, baseada em conceitos da física e da matemática adquiridos
em sua formação em engenharia de minas. Walras não tinha, portanto, preocupações
empíricas, e a firma era apenas um ponto em sua visão sistêmica da economia.28

Os consumidores, conforme a visão neoclássica decodificam, sem dificuldades, todas

as informações a respeito dos atributos dos bens e são capazes de escolher racionalmente

entre bens alternativos. A firma é assim, considerada um agente individual, interagindo com

agentes semelhantes, os consumidores individuais em um mercado.

Reiterando, para a Escola marginalista, o preço de um produto deve ser proporcional a

sua utilidade e deve ser definido a partir de uma fórmula de cálculo que leva em consideração

o número de consumidores para este produto e o valor (limite) máximo que estes estariam

dispostos a pagar. O comprador que atinge este limite é chamado de marginal, seu

comportamento pode mudar, no entanto, além desse limite, se o preço for um pouco acima do

limite, o consumidor tende a procurar outro produto que o satisfaça. Um preço muito abaixo

do limite mencionado provocaria uma oferta insuficiente e a firma não estaria recebendo o

lucro desejado para continuar sua atividade de forma competitiva no mercado.

28 Op.cit TIGRE, Paulo Bastos. p.73


43

A idéia acima esboçada, dá conformidade a diversos aspectos organizacionais no

interior das firmas e modela suas estratégias competitivas, servindo também de modelo à

explicação, para o preço do capital (lucro) e dos valores dos fatores de produção da firma

capitalista. Neste caso, o preço da mão-de-obra ou salário é determinado em condições de

plena concorrência, pela sua utilidade marginal, ou seja, o limite entre o mínimo que o

empregado aceita receber por seu trabalho e o máximo que o empregador quer pagar.

A firma na concepção neoclássica, é estruturada para lidar com o pressuposto da

raridade de recursos (escassez), que orienta a lei da oferta e da procura. O problema

fundamental da firma é a alocação ótima de tais recursos, daí deriva a sua orientação

taylorista. Os pressupostos de estruturação da firma são os que se seguem conforma Corsani:

Sendo a raridade de recursos o pressuposto teórico fundamental, o problema passa a


ser a alocação ótima desses recursos. Sob a hipótese dos rendimentos fatoriais
decrescentes, demonstra-se que o mercado (teórico) da Concorrência Pura e Perfeita
garante o respeito a um princípio ao mesmo tempo de eqüidade (na remuneração dos
recursos) e de eficiência (na alocação destes recursos). A hipótese do decréscimo dos
rendimentos não é neutra do ponto de vista da teoria da repartição: é a hipótese
necessária do princípio paretiano do ótimo social, que permite manter a teoria da
repartição não conflituosa fundada sobre o princípio da produtividade marginal dos
fatores trabalho e capital. A dimensão antagônica contida na repartição funcional da
renda, segundo Ricardo por um lado e Marx por outro, é assim ultrapassada por uma
teoria da eqüidade e do ótimo social definido nos termos do ótimo paretiano: no
equilíbrio, ninguém pode melhora sua situação sem prejudicar pelo menos uma outra
pessoa.”.29

Conforme Tigre, a teoria neoclássica tradicional, baseada nos modelos de equilíbrio

geral e parcial, guarda pouca relação com a realidade econômica atual, contudo ela ainda

serve como modelo abstrato de explicação do funcionamento do mercado nos cursos de

economia e no ensino da microeconomia. O contexto desta teoria e o do Paradigma da

Revolução Industrial britânica não, possuirá mais aplicação prática para análise de mercados e

tomada de decisões, nos paradigmas econômicos seguintes, apesar das inúmeras tentativas de

aperfeiçoar a metodologia utilizada na modelagem econômica e conforme Tigre, “dos

29 Op.cit CORSANI, Antonella. pp. 129-130.


44

esforços para revigorar a teoria, com incorporação de elementos da realidade econômica. Na

teoria neoclássica tradicional, o foco de interesse permanece vinculado à teoria dos preços e

alocação de recursos.”30

Neste contexto, a firma tem um papel extremamente limitado e uma conceitualização

demasiadamente simples. Segundo Tigre, a teoria neoclássica é marcada por um grande

irrealismo quanto aos seus princípios, no interior dos quais, podem ser constatadas as

seguintes premissas básicas:

 A firma é vista como uma “caixa-preta”, que combina fatores de produção do

mercado na produção de produtos comercializáveis;

 Condições de concorrência e informações perfeitas são estabelecidas pelo

mercado;

 A firma tende a um tamanho “ótimo” de equilíbrio;

 As possibilidades tecnológicas são usualmente representadas pela função de

produção;

 As tecnologias são fatores exógenos e são representadas pela função de produção;

 Tecnologias são disponibilizadas no mercado, através de bens de capital ou no

conhecimento incorporado pelos trabalhadores, trabalho e tecnologia são apenas

insumos;

 É assumida a racionalidade perfeita dos agentes, a firma se comporta como um

autômato programado uma vez por todas;

 A racionalidade perfeita dos agentes é garantia dos objetivos da firma de

maximização de lucros. 31

Assim, o empreendedor é visto apenas como um coordenador da produção. Walras

admite a existência de recursos específicos à empresa, que não são transferíveis pelo mercado

30 Op.cit TIGRE, Paulo Bastos. p. 70.


31 Op.cit TIGRE, Paulo Bastos. p.72.
45

e o empreendedor é identificado apenas como proprietário destes recursos e remunerado nesta

condição. Não se consubstancia, ainda, um pensamento gerencial para a firma, apenas um

modelo de coordenação pelo mercado, na visão de Walras:

O modelo de coordenação pelo mercado, característico da teoria neoclássica, estava


presente em grande parte da indústria britânica. A base institucional para a
coordenação do mercado era a firma-propriedade, uma empresa gerenciada pelos
próprios donos, geralmente uma família ou pequeno grupo de sócios. Restrita pelos
seus limitados recursos gerenciais e financeiros, a firma-propriedade tendia a ter
uma única planta, especializada em uma estreita gama de atividades. Em
conseqüência, ela tinha que recorrer ao mercado para obter os insumos necessários
e distribuir seus produtos. O papel do Estado era restrito à manutenção da lei e da
ordem e a cumprir funções sociais básicas, como educação e saúde pública. No
tocante à coordenação da atividade econômica, a indústria era deixada ao sabor das
forças não reguladas da oferta e da demanda.32

Para Alfred Marshall (1890), havia um irrealismo de muitas das hipóteses do modelo

walrasiano, isto levou a desenvolver teses para a realização de uma Economia Industrial e

tentar superar o caráter estático do modelo marginalista, através das teorias de equilíbrio

parcial. A concepção Marshaliana da determinação de preços, em situação de concorrência

constitui até hoje a base da microeconomia tradicional.

Marshall, por sua vez, não via a economia com suas análises e leis como corpo de
dogmas imutáveis e universais, mas “uma máquina para a descoberta da verdade
concreta”. Marshall procurou despojar a economia ortodoxa de seu pretenso
dogmatismo, universalidade e intemporalidade, submetendo seus postulados a um
rigoroso tratamento científico. Sua formação em Matemática em Cambridge e sua
vinculação à Escola Clássica Inglesa estabeleceram os fundamentos de seu
pensamento, mas não o impediram de reconhecer as limitações e dificuldades da
teoria em lidar com problemas econômicos. Marshall tinha em mente um modelo
idealizado de funcionamento da firma, derivado de observações casuais, que
guardava certa analogia com a realidade das firmas típicas de sua época.33

Marshall não assumia todos os pressupostos do que hoje se denomina concorrência

32 Op.cit TIGRE, Paulo Bastos. p.74.


33 Op.cit TIGRE, Paulo Bastos. p.73.
46

perfeita, como também não identificava os limites do crescimento da firma nas deseconomias

de escala, mas sim no ciclo de vida das firmas e empresários.

2.2 O MODELO DE RACIONALIDADE NA TEORIA NEOCLÁSSICA DA FIRMA

Como vimos a pouco, a teoria neoclássica apresenta a firma por uma função de

produção, que associa insumos a quantidade de produção, de acordo com as possibilidades

técnicas. Como vimos estas possibilidades, definidas de forma exógena pelo desenvolvimento

tecnológico, estão disponíveis no mercado, seja através de bens de capital ou no

conhecimento incorporado pelos trabalhadores.

O modelo geral de racionalidade que rege a firma neoclássica é bastante singelo: cabe

selecionar a melhor combinação de fatores, para maximizar lucro. Neste sentido, inexistem

variáveis endógenas, visto que é o mercado que impõe à firma as variáveis que ela utiliza em

suas decisões.

O modelo Particular de racionalidade da firma refere-se ao consumidor e ao

empregado da firma (fator de produção): a lógica aplicada aos indivíduos é também

empregada à firma, a qual procura maximizar sua utilidade e para isso, escolhe a melhor

alternativa de ação. A firma combina os fatores de produção disponíveis no mercado como

melhor alternativa para maximizar lucros.

Neste modelo de racionalidade da firma, temos a função de produção, a qual especifica

a produção correspondente a cada combinação possível de fatores. A firma apresentaria, nesta

lógica, um comportamento único, baseado na maximização dos lucros, que não pode ser

mantido a partir da utilidade subjetiva.


47

A firma é tratada não como instituição, mas sim como ator, com um status similar
ao consumidor individual. Um ator passivo e sem autonomia, cujas funções se
resumem em transformar fatores em produtos e otimizar as diferentes variáveis de
ação. A natureza das variáveis que a firma manipula não é determinada
endogenamente, mas sim pela estrutura de mercado que se impõem a ela.
Considerando a disponibilidade de informações, a perfeita capacidade de calculo e a
incerteza probalizada, a firma se comporta como um autômato, programado uma
vez para sempre. 34

Um aspecto problemático deste modelo de racionalidade, apontado por diversos

autores neoclássicos é que tal modelo não explica como a firma, apesar de formada por

pessoas, não apresenta diversidade de preferências, já que tem por pressuposto, que os

indivíduos, assim como a firma, pretendem maximizar suas vantagens, seja na forma de lucro

seja na forma de salários. A racionalidade maximizadora do indivíduo é simplesmente

transferida para a firma como função de produção de forma irreal.

A firma neoclássica tem seu foco de interesse permanente na teoria dos preços e

alocação de recursos em um sistema competitivo.

Não há uma preocupação, entre os autores neoclássicos, com o processo decisório da

firma ou de sua organização. Neste caso, o critério de decisão da firma é simplista,

fundamenta-se na habilidade para apreender informações do mercado. A consecução dos

objetivos atribuídos à firma, dependem do Mercado. Segundo Possas (1990), a firma

neoclássica está diluída no mercado e apresenta um comportamento “passivo”, ou seja,

submete-se às restrições de mercado.

2.3 DEBATES E CONTROVÉRSIAS SOBRE A ABORDAGEM NEOCLÁSSICA DA

FIRMA

Diversos autores refletiram sobre os problemas da abordagem neoclássica. O artigo de

Paul Mongin, The Marginalist Controversy no, The handbook of economic methodology

condensa estas críticas. Nesse Artigo o autor mostra como os conceitos neoclássicos da teoria
34 Bastos Tigre, op.cit, p.72.
48

da firma passaram a ser questionados a partir da controvérsia marginalista em 1946, quando

Lester e Machlup colocaram algumas dificuldades metodológicas e teóricas da abordagem

neoclássica, principalmente no que se refere à teoria marginalista.

De acordo com Philippe Mongin (1998)35, Robert Hall, deu uma importante

contribuição para tal discussão, do mesmos modo que Charles Hitch. Ambos defendiam, no

final da década de 30, o conceito de mark-up, que tinha por base dados empíricos e não

teóricos, com isto, criar um debate e questionamento da teoria marginalista. Conforme Victor

Pelaez e Adriana Sbicca :

Robert Hall e Charles Hitch afirmavam que as firmas estimavam ex ante o custo
médio e determinariam uma produção “normal” sobre a qual adicionariam uma ou
mais porcentagens marginais. Insistiam que este era o padrão de conduta das firmas
e que elas até podiam maximizar lucro, mas isto só ocorreria acidentalmente. Isto
causou uma colisão com a teoria neoclássica da firma. A defesa ocorreu em termos
curiosos: a teoria do mark-up referia-se a dados empíricos e não a um princípio
teórico como a teoria marginalista da firma. Dessa forma, Austin Robinson,
Machlup e Heflebower acreditavam que os dados empíricos acabariam sendo
reconciliados com a teoria e para isso o marginalismo deveria ser mais sofisticado.
Ainda em 1946, R. A. Lester também revelou dados que iam contrariamente ao que
a teoria da firma tradicional propunha, acirrando o debate. 36

Tendo por referencia Cyert e Hedrick (1972, p. 401) Pelaez e Sbicca, afirmam que

muitos modelos foram criados, à época, como extensão da teoria neoclássica para tentar num

acordo da teoria com a realidade. Mas, baseado nisto, o comportamento das firmas continua

sendo deduzido da hipótese que descreve o ambiente. Aquilo que não é adequado ao descrito

é visto como complicação e tratado como idiossincrasia.

Estes críticos refletem sobre a seleção das variáveis escolhidas para compreender a

firma no modelo neoclássico e da dificuldade em se focar todas elas. Utilizando este

35 Cf. http://ceco.polytechnique.fr/CHERCHEURS/MONGIN/PDF/Marginalist.pdf (texto PDF obtido em


http://ceco.polytechnique.fr/CHERCHEURS/MONGIN/).
36 Cf Victor, PELAEZ & Adriana, SBICCA. Do individualismo metodológico à racionalidade coletiva. (em:
www.economia.ufpr.br/publica/textos/2000/txt1400%20pelaez%20e%20sbicca%20 individualismo.doc)
49

argumento, sempre é possível introduzir uma nova variável no modelo da firma, tentando

torná-lo “mais realista”.

Outro aspecto mencionado pelos críticos é que o processo seletivo das firmas traz

elementos empíricos no mínimo complicados de serem apreendidos com base no

“individualismo metodológico”.37 Mesmo que seja assumido que as firmas maximizam e por

isso são racionais, é difícil explicar porque na luta pela sobrevivência das firmas estas são tão

diferentes, assim os críticos afirmam que:

Os defensores da firma neoclássica acabaram por introduzir uma explicação bastante


controvertida, o irrealismo das hipóteses. Esta idéia depois passou a ser conhecida
como de Friedman que argumentava o seguinte: “...the firm´s competitive type is a
matter for theoretical decision rather than empirical investigation.” (Mongin, 1998,
p. 280). A controvérsia acabou sendo contudo “resolvida” nos termos já existentes
do marginalismo, sem nenhuma grande transformação teórica (id.).
Uma análise da argumentação em favor da teoria neoclássica justificaria, um ou
muitos estudos no campo da retórica. Cyert e Hedrick (1972, p. 400), ao analisarem
artigos que traziam algum modelo de firma na The American Economic Review nos
anos 1970 e 71, chamaram a atenção para o fato de que muitos destes trabalhos se
utilizavam da construção “as if”. Desta maneira, qualquer resultado que mostrasse
que a firma não maximiza lucro, o que seria uma evidência contrária ao proposto
pela teoria neoclássica, não seria considerado à luz da justificativa do “as if”.
Introduziam, assim, condições que deveriam ser respeitadas para que o modelo
apresentado pudesse ser utilizado na análise da firma. Ainda, pesquisas empíricas
que contrariassem a teoria da firma marginalista eram vistas como inconclusivas,
enquanto dados encontrados a favor desta teoria eram entendidos como evidências
que deveriam reforçá-la.38

O pensamento neoclássico segundo Pelaez e Sbicca, é determinista. Segundo o

raciocínio neoclássico o meio é dado, e todas as firmas têm capacidade de apreendê-lo

recebendo informações completas de forma a maximizar a sua função de produção. As

diferentes estruturas internas não são envolvidas e as assimetrias de informação ou custos de

transação, também não, é assim, difícil explicar taxas de crescimento tão diferenciadas.

Conforme Silveira (1994, p. 61), citado pelos autores, “A maximização do lucro a longo prazo

37A lógica do pensamento neoclássico é baseada no individualismo metodológico esta tese é também a base filosófica do
pensamento neoclássico. Por individualismo metodológico entende-se, a tese que considera o indivíduo como a unidade de
análise fundamental.
38 0p.cit. PELAEZ, Victor & SBICCA, Adriana. pp.7-8
50

é aceita no abstrato, donde não mais do que norteia a formulação do conjunto operacional de

sub-objetivos. Falar de maximização na ciência aplicada é tão grotesco e impróprio quanto

faltar com a lógica no abstrato.”39

No que concerne a firma segundo Bastos Tigre, as críticas aos pensadores neoclássicos

apresentam em muitos aspectos, alguns pontos frágeis quanto a sua epistemologia. Mas

devemos considerar que tais críticas constituem o ponto de vista de um analista do final do

século XX e não do século XIX, por isto, os críticos muitas vezes ignoram aspectos empirico-

históricos relativos ao modelo de firma que vigorou na revolução industrial inglesa:

Havia na teoria neoclássica da firma, como mostram seus críticos, uma absoluta
desconsideração de fatores técnicos e organizacionais. A possibilidade de variação
infinitesimal da produção, em resposta à variação nos preços e na demanda, é um
exemplo extremo No entanto, outras premissas fundamentais não parecem
irrealistas, quando se leva em consideração o funcionamento do modelo industrial
de maior sucesso econômico do século XIX. Isso inclui o princípio de concorrência
(embora não perfeita), do caráter exógeno da tecnologia (incorporada nos
trabalhadores e máquinas), do tamanho ótimo de equilíbrio da firma (em um
ambiente de mudança tecnológica lenta) e de informações disponíveis (nos redutos
privilegiados dos grandes distritos industriais).40

A teoria neoclássica de competição perfeita estava mais concentrada no sistema de

preços, do que na competição e organização das firmas, por isto, muitas das exigências

empíricas e matemáticas, envolvem pressupostos de um contexto teórico diferente de uma

firma organizada em um outro contexto empírico: o pensamento neoclássico retratou um

modelo abstrato e descentralizado da economia, que não focava propriamente a firma.

Devemos lembrar como afirma Tigre, que tal modelo tem por base uma visão do tipo de firma

dominante na revolução industrial:

Diante deste quadro cabe indagar de que firma falam os autores neoclássicos e seus
críticos. O irrealismo das hipóteses sobre o comportamento da firma é reconhecido
e criticado ex-post por autores que se defrontavam com outra realidade empresarial.
Muito pouco foi realizado para entender o ambiente empresarial e competitivo que
inspirou os autores neoclássicos a desenvolverem suas teorias sobre o

39 0p.cit. PELAEZ, Victor & SBICCA, Adriana. p. 8.


40 Op.cit TIGRE, Paulo Bastos. p.77.
51

comportamento da firma e do mercado. Assim, as críticas à visão neoclássica da


firma, embora inteiramente pertinentes sob o ponto de vista de um analista do final
do século XX, desconsideram o modelo de firma que vigorou na revolução
industrial britânica.41

Segundo o autor acima, diversos são os fatores que podem justificar a direção

assumida pelos desenvolvimentos iniciais da teoria neoclássica e que impedem uma crítica

justa da mesma. Estes fatores são:

 Precários instrumentos metodológicos;

 A falta de dados quantitativos disponíveis na época;

 Certa motivação ideológica dos capitalistas.

O que causa espanto, quanto ao pensamento ortodoxo neoclássico, é a insistência de

muitos economistas em seguirem tais princípios em pleno século XX, em um contexto

econômico diferenciado quando a estrutura industrial já havia sofrido radicais transformações.

Segundo Pelaez e Sbicca, há muitos tipos de argumento em defesa da teoria

neoclássica, muitos deles se assemelham, por isto, segundo estes autores, estas formas de

defesa “nem sempre correspondem a alterações do cinturão protetor” desta teoria. Assim, um

exemplo clássico citado por estes autores, é que a economia neoclássica atribui pressupostos

comportamentais ao individuo e sobre eles descreve um comportamento esperado, no entanto,

quando os críticos levantam a complexidade das ações humanas, mostrando o quão distante

está a descrição neoclássica da realidade da firma ou do mercado, eles, os neoclássicos, se

defendem afirmando que suas análises se comportam conforme a cláusula ceteris paribus,

desde que tudo permaneça como definido a priori.

Os teóricos neoclássicos justificam esta simplificação, esquecendo que a Economia é

uma ciência social e não uma ciência exata. Afirmam que sua cláusula ceteris paribus é

legítima do ponto de vista científico, visto que isto é amplamente aceito nas demais ciências,

41 Op.cit TIGRE, Paulo Bastos. p.72.


52

mas tendo por base as ciências naturais. (mencionam o exemplo tradicional da física do

movimento sem atrito).

Hollis e Nell (1975, p. 67) retrucam que para se utilizar a cláusula ceteris paribus,
eliminando influências não pertinentes, é necessário que as variáveis, cujos valores
são adotados como zero ou constantes, sejam conhecidas a ponto de se saber se elas
são independentes e não influenciam outras variáveis que entram no modelo, bem
como as definições destas variáveis. Hollis e Nell (id.) afirmam que não é isto que a
economia neoclássica faz, mas um ajustamento dos valores observados para se
adequar ao que a teoria propõe. Os autores negam assim a semelhança entre
concorrência perfeita e o movimento sem atrito (ibid., p. 68). 42

Outra questão que é objeto de críticas à teoria neoclássica é a noção de deseconomias

de escala. A curva de custo em forma de “U” permite representar como em algum ponto às

deseconomias podem superar as economias de escala.

Marshall sustenta, afirma Tigre, que, quando a firma aumenta sua produção, ela pode

estabelecer deseconomias, tanto internas quanto externas, em virtude do aumento dos custos

variáveis como trabalho e insumos materiais por duas razões:

1. Os custos unitários sobem porque o aumento da demanda por insumos variáveis

pressiona seus preços no mercado (deseconomias externas) e também;

2. Porque os recursos fixos, como máquinas e administradores, não conseguem

interagir com um volume maior de produção com a mesma produtividade

(deseconomias de escala internas), dada a dificuldade em garantir qualidade, evitar

desperdícios e atrasos e controlar a eficiência da mão-de-obra.

O princípio de deseconomias de escala é bastante criticado ao longo do século XX. O

problema segundo Tigre é que tais críticas são descontextualizadas, pois, no capitalismo da

Revolução Industrial britânica do século XIX, não haviam ainda evidências empíricas que

dessem suporte a tais críticas.

42 0p.cit. PELAEZ, Victor & SBICCA, Adriana. p.10.


53

Sengundo Hindess (Hindess, 1994, p. 211), citado por Pelaez e Sbicca, 43 o uso da

Racionalidade Maximizadora para explicar o comportamento dos indivíduos, é proveniente

de sua base no individualismo metodológico. Há, neste caso, um reducionismo teórico no qual

o sistema social nada mais é que a soma dos indivíduos que o compõem. O conjunto dos

indivíduos e as interações entre eles não apresentam interesse e não são, portanto objeto de

análise.

Segundo Pelaez e Sbicca, citando Sampson (Sampson, 1986, p. 591), o pensamento

neoclássico explica os fenômenos econômicos através do comportamento dos agentes e por

isso o individualismo metodológico é base para a teoria neoclássica, estes autores afirmam:

Neste sentido, Hodgson (1995, p. 329) afirma que esta é uma característica de todo
o programa de pesquisa neoclássico que procura construir um quadro com unidades
atomísticas individuais, como a unidade central da mecânica newtoniana. Segundo
este autor, parece haver uma inspiração dos economistas na física clássica. Os
resultados das escolhas racionais envolvem claramente o ponto de vista do agente
individual. O comportamento não é explicado em termos de forças sociais de larga
escala como interesses de classe ou necessidades do sistema econômico capitalista
(id.). A ação segue as crenças e desejos do indivíduo que seleciona, de acordo com
estes, sua ação. Desde que os agentes são observados como maximizadores de suas
preferências, são geralmente definidos como self-interested. 44
Cabe reiterar que a teoria neoclássica tradicional, desenvolvida a partir do início do

século XX, manteve forte influencia da visão walrasiana em tratar a firma como agente

individual, sem reconhecer seus aspectos de entidade coletiva, isto levava a imputar à firma

um princípio comportamental único, a maximização do lucro, tendo por base o princípio de

utilidade de cada um dos agentes econômicos.

Na teoria da firma neoclássica, há também, um reducionismo, porque o grupo de

indivíduos que constitui a firma é tratado como uma unidade, coerente com a lógica racional

maximizadora do homus economicus neoclássico.

É interessante notar, a partir do que foi dito acima que, firma e indivíduo, são na visão

neoclássica, categorias sinônimas de análise. Esta forma de pensar é indiferente a dinâmica

social, na qual há interação entre indivíduos. Tal dinâmicas será importantíssima na firma do
43 0p.cit. PELAEZ, Victor & SBICCA, Adriana. p.9.
44 0p.cit. PELAEZ, Victor & SBICCA, Adriana. p. 9.
54

século XXI, cujos resultados podem ser bastante diversos do comportamento maximizador

neoclássico.

O comportamento maximizador neoclássico, está ligado a estrutura da Revolução

Industrial, organizada em distritos industriais dinâmicos, como os de Manchester, lembra

Tigre. Este modelo organizacional garantia a eficiência coletiva das empresas individuais

desta época.

As economias externas, como a dos distritos industriais, derivavam da disponibilidade

de fatores de produção de baixo custo no mercado. Sendo assim, não havia utilização

otimizadora dos recursos produtivos no interior da firma. As economias externas eram obtidas

com base na coordenação pelo mercado dos fatores de produção (e particularmente dos

fatores variáveis de produção) adquiridos pela firma. É interessante notar, como tais

princípios são empregados, ainda hoje, para planejar e descrever a atividade de distritos

industriais especializados em pleno século XXI.

O final do século XIX, particularmente o período entre 1873 e 1896, foi um período

caracterizado pela deflação, com uma queda média nos preços das commodities. A taxa de

juros também caiu, a um ponto tal, que os economistas teóricos passaram a admitir a

possibilidade de o capital ser abundante o suficiente para ser considerado um bem livre.

A noção de barreiras à entrada, seja técnica ou financeira, ainda não tinha sido

incorporada pelos economistas. Havia na teoria neoclássica da firma, como mostram seus

críticos, uma absoluta desconsideração de fatores técnicos e organizacionais daquela época: a

possibilidade de variação infinitesimal da produção, em resposta à variação nos preços e na

demanda, é um exemplo.

Os críticos neoclássica afirmam que a firma não apresentava um caráter de

comportamento coletivo ou instituição e sim um comportamento individual, o mesmo valia

para as pessoas que integravam a firma e seu proprietário.

Ao contrario do afirmado acima, segundo, Kincaid (1998, p. 297) citado por Pelaez e

Sbicca, o programa de pesquisa neoclássico não é totalmente reducionista: “...na medida em


55

que assume muitas estruturas de tipo institucional como, por exemplo, direitos de

propriedade, distribuição inicial e preferências desiguais”.45 Haveria assim, nesta visão, uma

redução teórica parcial.

O regime jurídico que regia a firma no século XIX, além de responsabilizar individual

e integralmente os seus proprietários, limitava o crescimento da firma e evitava a

concentração do mercado, este é o contexto do individualismo metodológico da visão

neoclássica.

Tal individualismo era a base do conservadorismo da classe empresarial britânica,

avessa a riscos que pudessem resultar em sua ruína pessoal enquanto proprietários de firma.

Podemos assim, concluir que o modelo competitivo da pequena e média firma

neoclássica da Revolução Industrial, deve ser analisado dentro do seu contexto histórico-

econômico que se apresentava em um regime jurídico, que atribuía responsabilidade integral

dos proprietários pelas dívidas da firma.

O regime de sociedades anônimas, como lembra Tigre, já existia efetivamente, mas os

sucessivos escândalos decorrentes da quebra de empresas, limitavam a aceitação pública desta

forma de organização legal da firma. As transformações econômicas do século XX darão

nascimento a um outro tipo de firma, dentro de outro regime jurídico e estrutura

organizacional: a firma fordista, ao qual a teoria neoclássica tentou se adaptar.

3 ECONOMIA INDUSTRIAL: AS TEORIAS DA FIRMA NO PARADIGMA


45 0p.cit. PELAEZ, Victor & SBICCA, Adriana. p.10.
56

FORDISTA

A firma da economia industrial fordista e seu contexto inauguram uma outra acepção

de “firma”, que mostra exatamente um momento importante de mudança na história do

desenvolvimento capitalista no século XX, fazendo com que os teóricos da organização, entre

eles os economistas, percebam que, em seu processo dinâmico, firmas criam mercados e não

ao contrário.

O que aconteceu com firma ao longo do século vinte em direção a realidade da Nova

Economia foi que, a firma deslocou seu foco de atenção da teoria, no âmbito do mercado,

enquanto mecanismo alocativo e regulador via preços, para o foco da firma enquanto unidade

decisória e de poder autônomo. Estes fenômenos decorrem do desenvolvimento de uma

economia industrial distinta da anterior, a partir de um novo paradigma: o paradigma fordista

(taylorista).

A Revolução Industrial britânica criou uma corrente econômica voltada à redução dos

custos dos produtos e a especialização dos trabalhadores, gerando destreza e organização nas

etapas do processo produtivo. No fordismo, do mesmo modo que nas indústrias oligopolísta, a

presença e importância da inovação tecnológica torna-se imperativa.

A inovação técnica e organizacional ganha importância crescente, permitindo uma

maior concentração econômica. A partir daí, “...as inovações permitiram que determinadas

firmas concretizassem a ‘lógica dinâmica do crescimento e competição’ baseadas na

exploração das oportunidades para obter economias de escala e de escopo e para reduzir os

custos de transação...”.46

Frederick Taylor nos seus Princípios da administração científica (Taylor 1911),

demonstrou as vantagens da economia de escala. Este novo contexto e as inovações técnicas e

transformações econômicas surgidas, fizeram com que a partir dos anos 20, a teoria

neoclássica tentasse responder a questionamentos quanto a seu realismo. Foi necessário,

assim, reexaminar as deseconomias de escala e o papel do mercado competitivo.


46 Op.cit TIGRE, Paulo Bastos. p. 79.
57

Por outro lado, no início do século XX, as características da firma se alteraram

radicalmente, e segundo Tigre, passa a acontecer o primeiro fenômeno de globalização de

mercados, implementado por uma intensa incorporação de novas tecnologias organizacionais,

bem como, tecnologias de produção em massa. Este contexto vai tornar a teoria da firma

neoclássica pouco a pouco ultrapassada.

Conforme Tigre, Marshall se deu conta desta realidade, percebendo que as firmas

apresentavam empiricamente dados que desabonariam a incorporação teórica das

deseconomias de escala. Para este autor, as firmas podem apresentar deseconomias de escala

internamente, porque “os recursos fixos, como máquinas e administradores, não conseguem

interagir com um volume maior de produção com a mesma produtividade” 47. A razão para

isto, segundo Marshall era a dificuldade em garantir qualidade, evitar desperdícios e controlar

a eficiência da mão-de-obra.

Uma crença neoclássica atribuída também a Marshall é que poderiam existir

deseconomias externas de modo que a demanda por insumos variáveis pressionaria os preços

no mercado.

Segundo Tigre, pensava-se deste modo, possivelmente pela falta de gerentes

profissionais que tivessem uma visão mais realista da firma.48

O desenvolvimento da Economia Industrial representa a consolidação de uma nova

organização do trabalho a partir da evolução da firma fordista, a qual se caracteriza pela linha

de montagem e funções específicas para cada indivíduo envolvido no processo produtivo.

Este modelo industrial será o predominante na indústria mundial até meados da década de

setenta.

A origem dos modelos de plantas indústrias em série da economia fordista, se remete

teoricamente a fábrica de alfinetes descrita por Adam Smith, no livro A riqueza das Nações.

Nas palavras de Adam Smith:

47 Op.cit TIGRE, Paulo Bastos. p. 75


48 Cf. TIGRE, Paulo Bastos. p. 76
58

Para dar um exemplo, poderemos citar uma indústria muito débil, mas cuja
divisão do trabalho tem sido muito notada: a fabricação de alfinetes. Um
trabalhador que não esteja habituado a esta indústria (que a divisão do
trabalho transformou numa atividade específica), ou às maquinas nela usadas
(para cuja invenção contribuiu provavelmente essa mesma divisão do
trabalho), dificilmente poderá, dada a sua falta de conhecimentos fazer um
alfinete num dia, e certamente não conseguiria fazer vinte. Mas devido à
maneira como atualmente esta atividade está organizada, não só constitui um
tipo de produção com característica muito especificas como ainda se
apresenta dividido num certo numero de ramos de atividade, grande parte dos
quais se assemelham a indústria distintas. Um homem transporta o fio
metálico, outro endireita-o, um terceiro corta-o, um quarto aguça a
extremidade, um quinto prepara a extremidade superior para receber a
cabeça; para fazer a cabeça são precisas duas ou três operações distintas;
colocá-la constitui também uma tarefa especifica, branquear o alfinete outra;
colocar os alfinetes sobre papel de embalagem é também uma tarefa
independente. O importante trabalho do fabrico de alfinetes está portanto
dividido em cerca de dezoito operações distintas que, em algumas fabricas
são efetuadas por diferentes operários, se bem que noutras o mesmo operário
possa realizar duas ou três delas.49

A evolução das idéias de Adam Smith e a análise dos Tempos e Movimentos de Taylor

tornaram-se realidade para Ford, que encontraria a aplicação prática dessas teorias na linha de

montagem.

O processo de produção industrial em escala, conhecido hoje, teve como antecedente o

modelo fordista e as idéias de Taylor. No fordismo a organização do trabalho é essencial à

produção. Taylor buscava a simplificação do trabalho e gerenciamento da firma, através de

parcelamentos das tarefas, o que permitia um aumento expressivo da produção e redução dos

custos. Taylor aplicava na prática a combinação do estudo de tempos e movimentos com a

otimização do uso das ferramentas, criando um aumento significativo da quantidade

produzida por jornada de trabalho. Estas mudanças tiveram impacto não apenas no chão-de-

fábrica, mas também na atividade interna da firma a partir de Taylor.

O modelo fordista, foi inspirado numa indústria de conserva que utilizava uma esteira

rolante para dar seqüência a produção. Ford adotou a idéia em sua fábrica, fazendo com que o

49 Adam SMITH, Investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações. (1776/84) São Paulo: Abril Cultural Ed.
1979, pp. 7-8
59

ritmo da produção passe a ser determinado pelo capital e não pelo trabalho, através do

emprego de técnicas Tayloristas.

Para Ford a palavra-chave para a firma de produção em massa era a simplicidade e a

organização.

O modelo fordista tornou-se uma revolução nas condições de produção e de trabalho,

o taylorismo e o fordismo passam a ser os princípios de organização do trabalho no setor de

bens de consumo, mas as firmas de outros setores passam a ser estruturadas a partir desse

paradigma.

O desenvolvimento do fordismo e o surgimento da teoria da administração industrial

na década de vinte, coincide com a criação da teoria da firma, que representa, pela primeira

vez, um amadurecimento gerencial na história da firma.

A teoria da firma resulta de um questionamento fecundo das fragilidades teóricas do

modelo de concorrência perfeita o qual apresentava uma dissonância reconhecida em relação

à realidade da firma.

A busca de coerência entre teoria e prática, permitirá a reelaboração de um novo

modelo de firma, a firma fordista, que surgirá a partir de diversas inovações técnicas e

organizacionais e também de gestão representa uma nova realidade tanto empírica quanto

teórica:

A teoria da firma desenvolve-se verdadeiramente a partir dos anos 20, com os


primeiros questionamentos do realismo e da coerência do modelo concorrencial
(concorrência perfeita), particularmente da versão marshaliana de equilíbrio parcial.
A crítica aos diferentes pressupostos neoclássicos de funcionamento da firma levam
a uma nova trajetória teórica, desvinculada de um quadro de referência único e
abstrato. Antes de descrever o desenvolvimento teórico relativo a firma e mercados,
é importante compreender a natureza das transformações tecnológicas e econômicas
ocorridas ao longo do século. O novo paradigma, estabelecido a partir de inovações
técnicas e organizacionais, abriu uma trajetória inteiramente nova para a organização
interna da firma e sua interação com o mercado, alterando a dinâmica da
acumulação de capital.50

50 Op.cit TIGRE, Paulo Bastos. p. 78


60

Assim, a flexibilização da produção na firma fordista pode ser efetivamente observada

a partir dos seguintes fatores:

 Tecnologia eletro-mecânica;

 Fácil reposição de trabalhadores, sem perda na eficiência do processo

produtivo;

 Trabalho fortemente especializado, baseado em rotinas, repetição e destreza;

 Produção em série;

 Aceitação de certo nível percentual de defeito;

 Utilização de esteiras rolantes;

 Economia de escala.

A iniciativa de partir para a produção em larga escala, coincidiu com o momento em

que os banqueiros, antes limitados aos financiamentos das estradas de ferro, passaram a dar

maior atenção à indústria.

Em 1903, a Ford fabricava 1.700 veículos; já em 1913 um automóvel era montado em

8,56 minutos. Com a linha de montagem, a fabricação na Ford passou para 300.000 unidades

em 1914. Em 1923 alcançou 1.900.000 unidades, fato extraordinário para época, no mesmo

ano, o mesmo automóvel era montado em 1,19 minutos.

Ford consegue por em prática essas idéias de combinação do estudo de tempos e

movimentos, e otimização das ferramentas, criando uma forma eficaz e criativa de produção

que irá revolucionar a produção industrial de sua época. No entanto a velocidade da produção

não era proporcional à demanda por veículos.

O motor da revolução foi o Ford T, com seu design estandardizado, cor preta, com
apenas 5 mil partes, linha de produção organizada e baixo custos, justamente para
que pudesse ser comprado por qualquer pessoa. [...]. Nos primeiros cinco anos de
pleno funcionamento, a linha de operação saltou de 17.771 carros para 202.667.
Onze anos mais tarde, somava 1,8 milhões de unidades. [...] De 950 dólares caíram
para 550 até fixar-se no patamar de 355 dólares.51

51 Revista isto é dinheiro, in. Biografia dos grandes empresários, Henry Ford, São Paulo: Três ed. n. 29 1998, p.14.
61

O modelo fordista criou as seguintes inovações organizacionais que transformaram o

padrão anterior da firma neoclássica, tais como:

 Sistema intensivo de mão-de-obra;

 Hierarquia formal: o dono da fábrica é o patrão, como Henry Ford;

 Salários rígidos: inflexibilidade de acordo com o operário e a indústria;

 Sindicatos fortes: grande união operária e oferta de emprego razoável.

Porque Ford teve um papel tão importante, levando reformulação de teorias ou a busca

de elaboração de novos modelos econômicos?

Devido a fatos simples, relativos a mescla de inovações organizacionais e técnicas que

levavam a resultados quantitativos expressivos, tais como: Ford, conseguiu em pouco tempo

reduzir a montagem do chassi de 12 horas e 8 minutos para 1 hora e 33 minutos, e a

montagem de motores de 9 horas e 54 minutos para 5 horas e 56 minutos. No ano de 1914,

quando as vendas subiam expressivamente, Ford elevou os ganhos diários de 2,34 para 5

dólares por dia. Resultando em uma maior motivação dos operários e fazendo com que o

absenteísmo caísse em torno de 85%. Além disso, numa perspectiva gerencial a Ford ofereceu

possibilidade à criação de novos consumidores para seus veículos.

Com o fordismo, a firma passa a contar com atividades de controle que irá evoluir para

atividades gerencias profissionais. Esta realidade, somada a transformações econômicas

importantes, impulsionadas pelo desenvolvimento industrial do início do século XX, levaram

os teóricos a buscarem uma visão mais realista da firma.

Além disso, a partir do final do século XIX, a firma se modifica bastante em relação

as formas neoclássicas anteriores de organização, por outro lado, as interações da firma com o

mercado também se transformam a partir de uma nova dinâmica de acumulação, em que a

inovação técnica passa a Ter um papel ainda mais preponderante que no passado.
62

O surgimento do telégrafo, das ferrovias e dos navios a vapor permitiu a unificação


de mercados (locais, nacionais e internacionais), destruindo barreiras econômicas
assentadas nos altos custos de transportes e criando oligopólios mais estáveis. Esta
visão é compartilhada por Chandler (1990), para quem a origem e o crescimento da
grande empresa moderna está associada a uma cadeia de eventos interligados. O
primeiro elo da cadeia foi o cluster de inovações inter-relacionadas que juntas
provocaram a revolução no campo dos transportes e das comunicações. O
significado destas inovações foi que elas facilitaram um substancial aumento tanto
no volume quanto na velocidade da produção. Ao mesmo tempo, as inovações
permitiram que determinadas firmas concretizassem a “lógica dinâmica do
crescimento e competição” baseadas na exploração das oportunidades para obter
economias de escala e de escopo e para reduzir os custos de transação. Chandler
associa tais inovações à estrutura do mercado, já que as empresas inovadoras obtêm
tantas vantagens competitivas que as indústrias em que atuam se tornam
rapidamente oligopolistas.52

Ao investigarem “por que as firmas se tornam maiores ou menores?” “por que

algumas firmas são capazes de escapar do equilíbrio enquanto outras permanecem suas

prisioneiras?” Os teóricos concluem que a firma fordista deva merecer uma pesquisa histórica

mais apurada.

Constata-se também, a necessidade de colocar a teoria da firma sobre bases mais

realísticas do que aquelas proporcionadas pelas teorias econômicas da firma convencional.

Assim, ao longo do tempo, se procurou investigar as conseqüências da separação entre

propriedade e controle administrativo, aspectos relativos à organização, estrutura interna e

estratégia das empresas.

Berle e Means (1932), entendem que atualmente a firma é considerada mais um agente

econômico real, dotado de conduta, distintamente da firma marginalista que meramente se

adapta às circunstâncias do mercado, o caso da firma fordista.

Os progressos nos meios de comunicação e transporte, mudam a imagem da firma

capitalista, o desenvolvimento de malhas de ferrovias nos Estados Unidos e Europa, o

telegrafo, a navegação a vapor e outras inovações no campo das comunicações e a

eletricidade, fazem aparecer um outro tipo de firma e um novo modo de conceber e gerenciar

os negócios das grandes empresas, no que concerne a difusão de inovações, Tigre afirma que:

52 Op.cit TIGRE, Paulo Bastos. p.78


63

Cabe lembrar que, do ponto de vista econômico, a inovação em si, ou seja, a


primeira aplicação comercial de uma invenção, pode não representar impactos
significativos. Muito mais importante é a velocidade e abrangência da difusão destas
inovações na economia. A difusão de inovações depende de um conjunto de fatores
condicionantes favoráveis, incluindo inovações complementares, criação de infra-
estrutura apropriada, quebra de resistência de empresários e consumidores,
mudanças na legislação e aprendizado na produção e uso de novas tecnologias.
Assim, embora a inovação abra oportunidades para empresas crescerem, criarem
mercados e exercerem o poder monopolístico temporário, somente sua difusão
ampla tem impacto macroeconômico. 53

Conforme Tigre, o papel das inovações é pouco explorado, na literatura econômica,

para a analise da constituição da firma fordista, principalmente no que concerne ao impacto

das mesmas, sobre a configuração, características e tamanho das firmas. As inovações

técnicas e organizacionais permitiram aumentar a produtividade pela standardização dos

processos e produtos, redução de custo e maximização da produtividade, isto devido a três

importantes áreas de inovação tecnológica:

Três áreas de inovações merecem análise mais detalhada por terem contribuído para
alterar radicalmente o perfil da estrutura da indústria, gerando modelos de firma e
mercados até então inexistentes. São elas a eletricidade, o motor a combustão e as
inovações organizacionais conhecidas como “fordistas -tayloristas”. Tais sistemas de
inovações mudaram o centro dinâmico do capitalismo para os Estados Unidos e, em
menor escala, para a Alemanha e França. As descobertas no campo da eletricidade e
magnetismo, e suas aplicações no campo industrial, foram responsáveis por grandes
transformações econômicas no século XX.54

As mencionadas ondas de inovação organizacional permitiram criar formas de

administração eficientes nas grandes firmas complexas do fordismo, eliminando suas

deseconomias internas de escala:

Ao contrário da indústria de equipamentos elétricos, a indústria automobilística


nasceu competitiva. No início do século haviam nos Estados Unidos cerca de cem
fabricantes de automóveis, organizados de forma quase artesanal, configurando uma
estrutura da indústria algo próxima da concorrência marshaliana. Poucas décadas

53 Op.cit TIGRE, Paulo Bastos. p.79


54 Op.cit TIGRE, Paulo Bastos. p.79
64

depois, graças a inovações organizacionais, a Ford e a General Motors dominavam


amplamente o mercado, consolidando um oligopólio que vigora até hoje.55

A terceira área de inovação tecnológica mencionada por Tigre, trouxe mudanças

importantes para a firma e o mercado. A idéia de produção em massa, associada a Henry Ford

e à indústria automobilística, como mencionado anteriormente, não é inteiramente nova,

todavia, como afirmamos, sua junção ao taylorismo traz resultados interessantes para a

industria:

As origens do sistema de produção em massa podem ser encontradas na obra de


Adam Smith, através de suas famosas observações sobre as vantagens da divisão do
trabalho em uma fábrica de alfinetes. Tal princípio foi explorado posteriormente por
teóricos industriais como Charles Babbage, que comparava a fábrica a uma máquina
complexa, com máquinas e trabalhadores especializados em tarefas específicas
organizadas de forma sistêmica. Mas foi somente com Frederick Taylor, através de
seus Princípios da administração científica, publicado em 1911, que as vantagens da
economia de escala foram definitivamente demonstradas. Taylor foi consultor de
Henry Ford em seu projeto de linha de montagem (1918), combinando os princípios
de divisão do trabalho, mecanização do processo, intercambialidade das partes e
administração científica racional.56

Segundo Chandler (Tigre,1998) houveram duas ondas de inovações importantes que

permitiram que as firma ultrapassassem seus limites de crescimento:

 A integração vertical da produção em atividades encadeadas em unidades distintas

da firma, no inicio do século XX (ex.: indústria de petróleo);

 A firma multidivisional a partir da década de 20 em que aparece a entidade do

escritório central, responsável pelo planejamento, coordenação e avaliação do

trabalho das divisões operacionais da firma alocando recursos para a produção como,

pessoal, capital, instalações etc.

55 Op.cit TIGRE, Paulo Bastos. p.81


56 Op.cit TIGRE, Paulo Bastos. p.82
65

Alem disso, tal forma divisional (descentralizada), corrente nos Estados Unidos após a

Primeira Guerra Mundial, não era restrita apenas a Ford, era também empregada pela General

Motors, Du Pont e Standard Oil, e foi imitada também, pelas grandes firmas em mercados

multiprodutos. O sucesso desta inovação organizacional transforma a firma proprietária

neoclássica em firma gerencial de grande abrangência, dentro dos mercados regionais e

internacionais:

Nas primeiras décadas do século XX, o “capitalismo proprietário” deu lugar ao


“capitalismo gerencial” como motor dominante do desenvolvimento econômico
(Lazonick, 1992). Inovações organizacionais e tecnológicas permitiam o uso de
estruturas gerenciais para planejar e coordenar a produção em larga escala e aplicar
conhecimento científico à indústria. O modelo de capitalismo proprietário se
mostrou inadequado para lidar com a crescente complexidade da atividade industrial
e os altos custos fixos derivados da produção em massa.57

A introdução das economias de escala nas economias capitalistas, não se deu

constatadamente, de forma uniforme e homogênea, pois, nem todas as firmas de todos os

setores estavam igualmente preparadas para o desenvolvimento de um novo modelo de firma.

Segundo Tigre, “... o potencial para a realização das economias de escala não estava

igualmente distribuído em todos os setores.” No entanto, uma nova dinâmica se impunha

através das firmas mais modernas em diversos setores da economia. A realidade destes setores

dinâmicos, cria novos desafios para as demais firmas, colocando dificuldades para aquelas

ainda vinculadas ao paradigma anterior. Diante destas mudanças o contexto da firma fordista

como fenômeno novo e heterogêneo não é incorporado pela teoria marchalliana.

As maiores empresas industriais do mundo estavam concentradas nos setores de


alimentos, química, petróleo, metais primários e os três setores de equipamentos:
máquinas elétricas e não elétricas e material de transporte. A realidade destes setores
dinâmicos colocava em xeque as teorias econômicas neoclássicas, exigindo uma
ampla revisão dos princípios de concorrência perfeita e deseconomias de escala. No
entanto, quase meio século foi necessário entre a emergência da grande corporação e
a consolidação de um corpo teórico alternativo que lidasse com as questões de
economias de escala, escopo, transações e oligopólio.58

57 Op.cit TIGRE, Paulo Bastos. p.82


58 Op.cit TIGRE, Paulo Bastos. p.83
66

As economias de escala ao se desenvolverem na economia industrial fordista e serem

teoricamente examinada sob a ótica do equilíbrio, revelaram a inadequação teórica do

principio neoclássico de equilíbrio competitivo a longo prazo. Verificando-se o que se

convencionou chamar de Dilema de Marchall (noção de Pietro Sraffa, 1926). Conforme

Possas (1987), e citado por Tigre (1988), este dilema mostra a contradição existente na teoria

marchalliana, em buscar conciliar a noção de concorrência de acordo com a tese do equilíbrio

competitivo, com os retornos crescentes de escala da firma industrial fordista.

Para Tigre, os teóricos neoclássicos ortodoxos têm dificuldade em incorporar às suas

teorias as novas dimensões assumidas pela firma capitalista no século XX. É provável que o

mesmo esteja acontecendo com os teóricos contemporâneos com relação a firma da Nova

Economia no século XXI.

Voltando à economia industrial fordista, nota-se um esforço teórico entre os

estudiosos, em reformular ou adaptar seus aparatos teóricos, de modo que possam ser úteis ao

exame da nova realidade fordista em relação a firma e aos mercados. Nesta direção,

caminharam por exemplo, Pietro Sraffa , Joan Robinson, Chamberlin, Shumpeter e Steindl.

Estes dois últimos terão, importância, ao oferecerem, a posteriori, instrumentos conceituais à

analise dos efeito das tecnologias e suas inovações sobre a firma e a economia.

Robinson procurou formular uma teoria da concorrência imperfeita, ao analisar a

relaçao entre firmas e mercado, ele entendia como irrealista a tese da concorrência perfeita

neoclássica.

Robinson (1931) trabalhou uma teoria da concorrência monopolista dando mais


realismo às teorias neoclássicas dos mercados e das firmas. A teoria assume nova
dimensão ao deslocar o centro de interesse da questão do equilíbrio das condições de
produção e de distribuição de bens e serviços para o estudo do comportamento e das
interações entre produtores. Neste contexto, a firma passa a assumir o papel
principal, dada a possibilidade de recorrer à diferenciação de produtos e a
estabelecer uma política de vendas. Assim, incorporam-se à firma variáveis
67

consideradas exógenas na teoria neoclássica, como a tecnologia e os preços.59

Estudando as evidências empíricas em que as grandes firmas usufruíam de economias

de escala, a autora constatou que cada firma acabava detendo um monopólio para seus

produtos, o qual resultava da preferência dos consumidores, que exerciam livremente sua

escolha a despeito dos produtos substitutos bastante semelhantes. Outro autor que segue este

mesmo caminho de análise foi, segundo Tigre (1998), E. H. Chamberlain.60

Somente a partir de 1952, conforme Coutinho (1983), citado por Tigre (1998) è que

ocorrerá uma ruptura em relação a microeconomia neoclássica, marchalliana e walrasiana,

isto ocorre a partir da publicação de Steindl, Maturidade e estagnação no capitalismo

americano.

Steindl estabeleceu um vinculo consistente entre teoria e realidade, abordando a firma,

o consumidor e os processos de acumulação e concentração, buscando evidencias empíricas

sobre a estrutura de custos, formação de preços e formas de concorrência em condições de

oligopólio em setores industriais.

Tomando por base a realidade econômica da década de cinqüenta, Steindl constrói

uma teoria completa e articulada do sistema concorrencial em que se situava a firma em sua

época. Este autor reconhece pela primeira vez, como elemento de análise econômica, o papel

da diferenciação do produto, da propaganda e da inovação, como importantes ao processo de

acumulação. Sua análise das assimetrias entre firmas, permitiu explicar a configuração das

estruturas de mercado das firmas da época.

O modelo de Steindl permitiu explicar o crescimento da firma fordista neste sentido,

“As empresas com menores custos e margens de lucros maiores são, segundo Steindl, as que

têm maiores possibilidades de crescer a longo prazo”. 61

Para Tigre, os teóricos neoclássicos da corrente ortodoxa defendem a idéia de

59 Op.cit TIGRE, Paulo Bastos. p.84


60 Cf TIGRE, Paulo Bastos. p.84
61 Op.cit TIGRE, Paulo Bastos. p.85
68

onipotência do mercado, desmerecendo o papel da firma, assim, esta é quase esquecida, por

esta corrente, como entidade digna de análise econômica. 62

No século XX, duas linhas de investigação importantes, não só consideram a firma

como entidade fundamental para a análise econômica, assim como, dão importância ao papel

da inovação tecnológica, a qual se tornará uma temática corrente no debate da economia do

século XXI, a partir das transformações econômicas e de mercados influenciados pela TICs.

A primeira dessas linhas de investigação é proposta por Coase (1937) e Willianson

(1979) e outros autores da Economia da Troca. A segunda dessas linhas de investigação é

proposta por Shumpeter.

Diversas orientações para o estudo da firma originam concepções de firma como:

 Firma/organização;

 Firma/instituição;

 Firma/custo transação;

 Firma como espaço de produção e criação de riquezas e inovação.

Algumas destas concepções teóricas sobre a firma, são identificadas por Coriat e

Weinstein(1995), que identificam de forma mais detalhada a firma, identificando seus

principais teórico:

i. Concepção de Firma organização: Os behavioristas Simon, Cyert e March

vêem a firma como uma ação coordenada entre indivíduos e grupos. Para assegurar

a sobrevivência da firma e seus membros tornou-se necessária a conversão do

conflito em cooperação, a mobilização de recursos e a coordenação dos esforços.

ii. Concepção de Firma instituição: Segundo Hodgson (1988), os chamados

“velhos institucionalistas” vão além da visão organizacional, incorporando a

dimensão social (sistema político, social e jurídico na qual a firma se insere e que

limita sua metamorfose). Isso inclui sistemas de propriedade, relações com bancos,

62 Cf TIGRE, Paulo Bastos. p.85


69

condições de produção e de mercado. Esta visão reconhece a diferença entre países e

períodos históricos. Pondé (1996) ressalta a ênfase dos institucionalistas nas relações

de poder que estão presentes nas economias de mercado, o foco na análise do

processo histórico de mudança da organização social e o holismo, no sentido de

conceber “a economia como parte de um todo em evolução”. Em contraposição ao

individualismo metodológico, as unidades de análise eleitas são as instituições.

iii. Concepção de Custos de transação e os novos institucionalistas: Coase

(1937) introduziu novas questões sobre a natureza da firma, passando a considerá-la

uma forma particular de organização econômica, ou seja, um arranjo institucional

alternativo ao mercado. 63

Na economia Industrial aqui discutida, o paradigma tecnológico e o modelo de

industrialização que dão forma a firma, são, como visto, fordistas em sua essência, pois são as

grandes firmas fordistas que orquestram os princípios gerais que vão reger a organização do

trabalho até a década de setenta.

A historia econômica e a economia política permitem notar que os princípios da firma fordista

não ficam restritos apenas a industria e não dependerão unicamente da inovação

organizacional e tecnológica, mas acompanharão o contexto cultural, histórico e a dinâmica

da economia, preparando pouco a pouco sua crítica e superação.

O fordismo é, segundo Lipietz e Leborne (1998) a conclusão da revolução taylorista,

cujos princípios são assim descritos:

Seus princípios são conhecidos: uma padronização rigorosa dos gestos operativos e
correlativamente uma rigorosa separação entre O&M e a fábrica, entre a concepção
e a execução manual. Essa racionalização através da separação tem dois objetivos.
O primeiro é o de generalizar o mais rapidamente possível o método aparentemente
mais eficaz (the one best way) e eliminar as hesitações sobre as distribuições das
diversas seções e suas disfunções. Visa assim a obter ganhos de “produtividade” no
sentido estrito (na eficácia de cada operação) pela socialização, organizada desde o
topo do processo de aprendizagem coletiva. O segundo objetivo, menos
explicitamente reivindicado, é o de obter, através do conhecimento preciso do
tempo requerido para levar a cabo cada operação, um controle rigoroso sobre a
intensidade do trabalho dos operadores (numero de operações por hora de trabalho),

63 Op.cit TIGRE, Paulo Bastos. p. 86. (grifo nosso)


70

de modo a limitar a “ociosidade” dos trabalhadores. Esse controle é exercido por


procedimentos padronizados comunicados aos operadores pele setor de O&M.64

O fordismo e o taylorismo ainda estão presentes na firma contemporânea e são sempre

revistos e revisitados a despeito das inovações organizacionais. Cabe lembrar, que o fordismo

se distingue do taylorismo, visto que muitas normas tayloristas são na firma fordista, não mais

incorporadas por agentes humanos, mas aos sistemas mecânicos e automáticos industriais,

visando do mesmo modo, melhorias na produção. Neste caso, o tempo e o movimento das

máquinas, substituem gradativamente a padronização rigorosa dos gestos operativos humanos,

de modo que, o movimento dos dispositivos automáticos da linha de montagem passa a ditar a

operação requerida e o tempo necessário para a realização do trabalho dentro das normas.

O sucesso do fordismo, como modelo de industrialização e de firma, se deve aos

ganhos de produtividade, tanto no senso estrito, quanto ganhos de intensidade, perfazendo

ganhos de produtividade aparente, os quais, podem ser examinados empiricamente pelo

economista.

Segundo Lipietz (1986) e Glyn (Glyn e al. 1987), analises econômicas da década de

oitenta, mostraram que a partir de 1970 a produtividade da firma fordista começou a diminuir.

Do ponto de vista macroeconômico, o capital fixo per capita começou a crescer, isto

ocasionou a queda da lucratividade, decorrendo destes fenômenos, uma expressiva queda da

taxa de acumulação. Um breve resumo da crise do fordismo é assim delineado por Lipietz e

Leborgne:

Uma interpretação comum da “crise da produção de massa” (qualificação um tanto


vaga do modelo fordista) insiste no “lado da demanda”: a estagnação dos mercados,
devido à pressão da concorrência internacional e o caráter crescentemente volátil da
estrutura da demanda (devido a esta mesma concorrência em um contexto de
saturação dos mercados centrais para os bens duráveis). Daí a caracterização da
crise como “crise de subconsumo” (interpretação popularizada nos Estados Unidos
pelo livro sutil e influente de Piore Sabel, 1984, p.254). A realidade é mais
complexa. Pode-se resumir a explicação alternativa que propomos (Lipietz, 1985b)
como segue. Primeiro, uma crise latente do paradigma industrial, com uma
desaceleração da produtividade e um crescimento da relação capital/produto,

64 Alain LIPIETZ e Danièle LEBORNE. O pós fordismo e seu espaço. Revista espaço e debate n. 25, 1998. p13
71

conduziu a uma queda da lucratividade nos anos 60. A reação dos empresários (via
internacionalização da produção) e do Estado (generalização das políticas de
austeridade) levou a uma crise do emprego e daí à crise do Estado-providência. A
internacionalizaçao e a estagnaçao dos rendimentos detonaram por sua vez a crise
“do lado da demanda”, no fim dos anos 70. A “flexibilidade” surgiu então como
uma adaptaçao a este último aspecto da crise, que é tao fundamental quanto o
aspecto “lucratividade”.65

Diante desta crise, a firma e os governos buscam rapidamente solução para a questão

da produtividade. Em meados da década de oitenta, dá-se inicio a um outro fenômeno com

repercussões econômicas positivas e negativas e bastante impactante do ponto de vista da

firma: trata-se do gradual, mas rápido, avanço da tecnologia computacional e microeletrônica

com resultados sobre o avanço da produção na industria encadeando uma revolução

tecnológica na informática, biotecnologia, desenvolvimento de novos materiais e matérias

prima, bem como, o aparecimento e avanço de novos campos produtivos e científicos com

repercussões sobre a economia mundial e imposição de uma nova organização do trabalho.

Este fenômeno econômico-científico é seguido de desemprego estrutural, no salto para a

microinformática. A partir daí ocorrerão estruturas de firmas em redes e uso intensivo de TI e

das TICs, que iniciarão o movimento para uma Nova Economia a qual é denominada,

Economia Informacional ou Digital. Trata-se de um surgimento de um novo paradigma,

relacionado a mudanças nas relações entre o capital e o trabalho, como se verá em seguida.

65 Op, cit. LIPIETZ, Alain e LEBORNE, pp. 15-16


72

4 INOVAÇÃO TECNOLÓGICA E IMPACTOS DAS NOVAS TECNOLOGIAS DA

INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO SOBRE A ECONOMIA: A FIRMA

TOYOTISTA E A FIRMA DA NOVA ECONOMIA

4.1 TECNOLOGIA, AUTOMAÇÃO E ORGANIZAÇÃO DA FIRMA PÓS-FORDISTA

As décadas de 80 e 90 representam para a firma contemporânea um momento de

grandes transformações organizacionais e técnicas, comportamentais e culturais. Surge uma

nova cultura organizacional e as mudanças organizacionais e tecnológicas tornam-se mais

freqüentes, o comportamento da firma, face ao meio externo comercial, fornecedores e

clientelas, vai mudando em diversos setores da economia a mediada que o século XXI se

aproxima.

As nações modernas, em seus programas de desenvolvimento, mostram a necessidade

de reavaliar a sua infra-estrutura mental e intelectual, para fazer face às mudanças impostas

pelas TICs aos diversos tipos e formas de firma. Isto é um reflexo do que Alvin Toffler

chamou de terceira onda66. Este autor criou tal conceito temporal, prevendo o que estamos

vivendo na economia hoje. Segundo ele passamos por um processo de evolução econômica

que pode ser examinado usando a metáfora de uma "onda". A primeira onda concerne ao
66 Cf. Alvin TOFFLER. A terceira onda. Os efeitos da terceira onda são examinados pelo mesmo autor em TOFFLER,
Alvin. Powershift. Bantham Books. New York, 1990.
73

período baseado na produção agrícola (8000 aC-1750) e é baseada no trabalho físico, a

segunda onda concerne ao período baseado na produção industrial, com base no trabalho com

máquinas mecânicas e eletromecânicas e nas engenharias, este periodo vai até o final deste

século. A terceira onda, da qual trata o livro de Toffler, começou nos anos 60 e vem

crescendo em direção a este século e é baseada na tecnologia digital e Intelectual, no

hardware, no Software e no trabalho com o conhecimento.

Esta forma de evolução pressupõe uma nova forma de economia, que não lida

essencialmente com tecnologias duras, as maquinas e processos industriais, mas com as

tecnologias Soft ou baseadas na informação, no conhecimento e na Inteligência das firmas.

Firmas como a General Electric e a Asea Brow Boveri (ABB), são exemplos citados

de empresas americanas que mudaram desde o fim da década de oitenta, o seu modo de

representar o mundo dos negócios e da produção e seus ambientes internos fazendo uso das

TICs67 Isto ocasionou uma evolução nas suas estruturas de gestão, em seu estilo de

administração e cultura.

O comportamento da firma globalizada è uma reação aos espaços econômicos

privilegiados das décadas anteriores, a globalização dos mercados representa para a firma um

processo de internacionalização, sem precedentes na busca pela competitividade em mercado

cada vez menos caracterizados pelas idiossincrasias das economias nacionais, e cada vez mais

impregnado de uma cultura organizacional e informacional mais uniforme, baseado em

tecnologias e automação (TICs).

Na Nova Economia, ou Economia Informacional existe uma matriz comum de formas

de organização nos processos produtivos, de consumo e distribuição de produtos, em que

prevalecem relações mediadas pelas novas tecnologias da informação e da comunicação.

Neste contexto, a constituição da firma tem por base a busca de competitividade pela

combinação de novas estratégias, inovações organizacionais e tecnológicas:

67 Cf. Jeremy HOPE e Tony HOPE. Competing in the Third Wave: The ten Key Management Issues of the Information
Age. Harvard Busines School Press. 253 p.
74

As tecnologias da informação têm um papel central neste processo de


transformações, sendo ao mesmo tempo causa e conseqüência das novas formas de
organização da produção. As TI não constituem apenas uma nova indústria, mas o
núcleo dinâmico de uma revolução tecnológica. Ao contrário de muitas tecnologias
que são específicas de processos particulares, as inovações derivadas de seu uso têm
a característica de permear, potencialmente, todo o tecido produtivo. A informática e
as comunicações contribuem não apenas para inovações em produtos e processos,
mas também para a reestruturação da organização das empresas e de sua relação
com o mercado. As comunicações globais são um instrumento poderoso de suporte
ao processo de globalização econômica, dada as possibilidades de interligar
mercados pela via eletrônica e difundir informações (e produtos) em nível global.68

Tigre afirma que a TI. abre um espaço de oportunidades à atividade inovadora da


69

firma e tem o potencial para o aumento da produtividade no processo de geração, distribuição

e exploração do conhecimento.

O conhecimento é assim, a palavra chave do desenvolvimento da firma; é o

conhecimento que permite a competitividade e a continuidade da inovação e também, a

agregação de valor a produtos e serviços. 70

Ao analisar o papel da TI para a firma contemporânea, desde o final da década de 80,

Tigre lista as vantagens competitivas e organizacionais da mesma, relacionando três aspectos

importantes:

 Substancial aumento da velocidade e qualidade dos processos e produtos;

 Redução dos custos das ferramentas e instrumentos de pesquisas básicas e

aplicadas (prototipação, simulação e modelagem);

 Ampliação do leque de opções tecnológicas e aumento do ritmo das inovações;

 Melhora da pesquisa através de ferramentas voltadas às redes informacionais.

Conforme Coriat, citado por Tigre, a evolução da firma fordista, relacionada a

produção em massa para a firma, voltada à produção flexível pós-fordista é identificada e

68 Op.cit TIGRE, Paulo Bastos. pp. 88-89


69 A sigla TI empregada desde a introdução para designar tecnologia da informação.
70 Cf. TIGRE, Paulo Bastos. p. 89
75

estudada inicialmente por Piore Sabel. Assim, a firma pós-fordista é identificada, no contexto

do paradigma das Tecnologias da Informação, neste contexto, três aspectos relevantes são

relacionados:

Primeiro, as tecnologias da informação permitiram aumentar o ritmo das inovações,


tanto em produtos quanto em processos. Protótipos passaram a ser projetados e
testados por simulação, em vez de fisicamente, tornando possível utilizar uma gama
arbitrariamente ampla de condições e obter resultados melhores e mais focalizados,
reduzindo o tempo entre as especificações iniciais e o projeto final.
Conseqüentemente, produtos e processos estão se tornando mais diferenciados e
renovados mais rapidamente, acelerando a velocidade do ciclo do produto e o ritmo
da obsolescência técnica. Segundo, os novos métodos de P&D permitem a
exploração contínua de um espectro mais amplo de variantes tecnológicas sem
sacrificar os benefícios derivados das economias de escala e do aprendizado
intensivo sobre uma determinada opção técnica. Com base na diversidade virtual
que é criada pela simulação, pode-se selecionar quais opções tecnológicas mais se
adequam ao problema proposto e desenvolvê-las paralelamente, testando diferentes
opções. Isso permite a exploração simultânea do aprendizado em condições de
diversidade e padronização. Terceiro, cabe destacar o crescente poder das redes
eletrônicas como ferramentas de pesquisa. As redes permitem o acesso a uma ampla
gama de fontes de informação disponíveis pública ou privadamente, tornando
possível o desenvolvimento paralelo, a transferência de tecnologia e o acesso
compartilhado a dados por colaboradores em projetos de P&D. Isso tem permitido a
superação geográfica na criação de redes de pesquisa e o estabelecimento de
objetivos comuns a diferentes pesquisadores. A possibilidade de compor “módulos”
adquiridos diretamente nas redes (a exemplo do desenvolvimento do software)
permite a multiplicação do potencial de cada unidade individual de pesquisa..71

O contexto acima é identificado, do ponto de vista tecnológico, como processo em que

ocorreu a densificação, cooperação e aceleração da mudança tecnológica, com importantes

implicações para a constituição de novas teorias da firma, na transição do industrialismo para

o informacionalismo ou Nova Economia, passando pelo Toyotismo.

De acordo com Harrison (1994), Semberger, Campbell (1992) e Willianson (1985);

nos anos 80 a economia mundial passou por uma reestruturação, induzindo á várias

estratégias organizacionais nas firmas, principalmente nas firmas comerciais. Sobre isto Tigre

afirma que:

71 Op.cit TIGRE, Paulo Bastos. pp. 89-90 (grifo nosso)


76

Em uma economia crescentemente globalizada e competitiva, as empresas se vêem


obrigadas a tratar os mercados como transitórios, ou “de moda”, nos quais os ciclos
do produto são curtos, e a mudança na demanda entre um produto e outro é volátil.
Neste contexto, é essencial assegurar total flexibilidade e lead time reduzido. Tal
flexibilidade requer a adoção de novas formas de organização da produção que
enfatizem uma estrutura horizontal de informação (a exemplo do kanbam),
descentralização da produção (ou modularização) e uma nova forma de coordenação
da força de trabalho, com ênfase na maior autonomia, polivalência e distribuição da
inteligência. Tais conceitos de gestão da força de trabalho contrastam fortemente
com a organização fordista, assentada na especialização, divisão do trabalho e
separação entre a concepção, execução e controle da produção. A necessidade de
adaptar o processo produtivo a freqüentes mudanças nas quantidades, mix e desenho
de produtos reduz substancialmente as vantagens da coordenação hierárquica. Em
conseqüência, cresce também a importância das redes de firmas como forma
intermediária de coordenação entre a firma verticalizada e o mercado atomizado.72

A crise da economia capitalista resultou na exaustão do sistema de produção em

massa, criando uma nova divisão industrial na historia da economia que, Coriat (1990),

identifica como a passagem do fordismo para o pós-fordismo.

Existem quatro pontos importantes desta transição para a transformação da firma, as

quais são relacionadas por Mauel Castells. A reestruturação econômica dos anos oitenta

orientou várias estratégias organizacionais nas firmas, alguns analistas, como Piore e Sabel,

afirmam, do mesmo modo, que a crise econômica da década de setenta resultou na exaustão

do sistema fordista, criando uma nova divisão industrial no capitalismo:

(...) Outros, a exemplo de Coriat, sugerem uma evolução de longo prazo do


“fordismo” ao “pós-fordismo”, como expressão de uma “grandiosa transição”, a
transformação histórica das relações entre, de um lado, produção e produtividade e,
de outro lado, consumo e concorrência. Mas apesar da diversidade de abordagens,
há coincidência em quatro pontos fundamentais da análise:

a) Quaisquer que sejam as causas e origens da transformação organizacional,


houve, de meados dos anos 70 em diante, uma divisão importante
(industrial ou outra) na organização da produção e dos mercados na
economia global.
b) As transformações organizacionais interagiram com a difusão da
tecnologia da informação, mas em geral eram independentes e procederam
essa difusão nas empresas comerciais.
c) O objetivo principal das transformações organizacionais em várias formas
era lidar com a incerteza causada pelo ritmo veloz das mudanças no

72 Op.cit TIGRE, Paulo Bastos. pp. 90-91


77

ambiente econômico, institucional e tecnológico da empresa, aumentando


a flexibilidade em produção, gerenciamento e marketing.
d) Muitas transformações organizacionais visaram definir os processos de
trabalho e as práticas de emprego, introduzindo o modelo da “produção
enxuta” com o objetivo de economizar mão de obra mediante a automação
de trabalhos, eliminação de tarefas e supressão de camadas
administrativas.73

O quadro de organização interna da firma pós-fordista tem estrutura reticularizada (em

rede), como forma intermediaria de coordenação entre a firma verticalizada e mercados


74

globalizados, envolvendo os seguintes aspectos relativos as novas oportunidades abertas pela

TI:

 Agregação de serviços ao produto como um elemento diferenciador;

 Agregação de mais informação e conhecimento ao processo de desenvolvimento,

fabricação, gestão logística e vendas, em detrimento do valor do produto em si;

 Oferecimento de serviços de informação gratuitos ou sob demanda;

 Os preços não guardam relação direta com os custos da produção, mas, com

atividade de P & D e comunicação com o mercado;

 Substituição do planejamento de produção (quantidade de produtos decididas

antecipadamente) pelos conceitos de just-in-time e visão estratégica;

 Monitoramento e interpretação das mudanças tecnológicas, informações e

conhecimentos, bem como, de suas implicações para o mercado de modo a garantir

a competitividade;

 Planejamento estratégico de modo a lidar com a velocidade da mudança em

ambientes competitivos, voláteis e mutáveis, baseados nas TICs e na inovação;

 Desenvolvimento da capacidade de responder e aprender rapidamente para manter-

se competitiva;

73 Manuel CASTELLS, A sociedade em Rede. São Paulo: Paz e Terra Ed. 1999, pp.173-174
74 Op. cit. SOUZA, Marco Antonio Lucas p. 162
78

 Trabalho com processo de seleção de informações, de pessoal qualificado

(competências e conhecimento), de formas e conteúdos de aprendizado e também

de meios para criar novas rotinas operacionais.

Tais aspectos, no entanto, não afetam a firma de forma homogênea, na visão de

Castells , variam conforme contextos culturais e estão relacionados às exigências específicas


75

da Nova Economia globalizada, assim, varias tendências organizacionais evoluíram de modo

não uniforme na reestruturação capitalista até a chegada do século XXI, sendo difícil, sem

uma analise, em separado, propor uma convergência de um novo paradigma organizacional da

firma.

Para Tigre, o desenvolvimento teórico da firma, levando em consideração a Nova

Economia que ele chama de paradigma informacional, depende de maior abertura dos teóricos

da economia para a multidiciplinaridade:

Por fim, o objeto da análise constitui outro complicador para a formulação de uma
teoria unificada da firma. Não existe um modelo único de firma capitalista. Mesmo
em um período de tempo delimitado existem diferentes tipos de firmas, indústrias e
mercados coexistindo em um ambiente econômico. A idéia de “paradigma” contribui
para estabelecer padrões de comportamento e identificar tecnologias-chave. Os
paradigmas, no entanto, são apenas visões idealizadas de modelos organizacionais e
tecnológicos dominantes em certos períodos de tempo. Os novos paradigmas se
desenvolvem mais rapidamente em certos países e setores econômicos do que em
outros. Sua difusão é geralmente assimétrica, resultando na heterogeneidade
econômica. Este aspecto reforça a necessidade de recorrer ao trabalho empírico para
entender firmas e mercados.76

O autor entende que neste contexto, ainda não se consolidou uma teoria unificada para

a firma, é necessário, além disso, que os teórico reconheçam devidamente a importância da

mudança tecnológica para a compreensão da configuração da firma na Nova Economia. Um

passo neste sentido foi dado por Shumpeter nos anos 50 e está sendo reelaborado pelas teorias

75 Cf. CASTELLS, Manuel.


76 Op.cit TIGRE, Paulo Bastos. p. 106. (aqui Bastos Tigre apresenta o papel dos paradigmas para a firma)
79

evolucionistas ou neo-shumpeterianas, as quais procuram entender o paradigma informacional

da Nova Economia.

A maior fragilidade das teorias da firma e de organização industrial existentes é sua


incapacidade de atribuir a importância devida ao papel da mudança tecnológica na
configuração da firma e dos mercados. Embora Schumpeter tivesse levantado estes
aspectos desde meados dos anos 50, suas idéias não chegaram a influenciar
decisivamente o pensamento dominante de sua época, seja por requererem maior
aprofundamento e sistematização, seja por estarem adiante de seu tempo. Foi
necessária uma mudança visível e empiricamente comprovável na natureza do
processo competitivo mundial para que seu trabalho fosse retomado, através da linha
evolucionista ou neo-schumpeteriana. As novas teorias da firma, voltadas para o
entendimento deste novo paradigma, ganham força com a análise das empresas
japonesas, principalmente pelo trabalho de Aoki e pelas análises históricas de
Chandler sobre as inovações organizacionais nas empresas americanas.77

Aoki ressalta a importância da aprendizagem para a firma contemporânea e o papel da

estrutura organizacional integrada horizontalmente.

A análise interna da firma como instituição-chave do capitalismo ganhou


importância na nova construção teórica. Aoki (1988,1990), provavelmente o mais
influente autor sobre a teoria da firma contemporânea, contrastou dois tipos
idealizados de empresas — a firma “A”, tipicamente americana e fordista, e a firma
“J” (japonesa) — visando identificar no aspecto “micromicro” os fundamentos do
novo paradigma organizacional. Aoki (1988) argumenta que a superioridade da
firma japonesa na indústria manufatureira, tipicamente em setores como
automobilístico e eletrônico, deve-se fundamentalmente à sua estrutura
organizacional integrada horizontalmente. O diferencial de produtividade entre os
dois tipos de empresas foi constatado empiricamente por diversos estudos e foi
associado a métodos diferentes de organizar e coordenar a produção, permitindo
versatilidade dos trabalhadores, flexibilidade na demarcação de tarefas e sua
integração em um processo coletivo de aprendizagem.78

4.2 O TOYOTISMO E SEU CONTEXTO ECONÔMICO E TECNOLÓGICO

77 Op.cit TIGRE, Paulo Bastos. pp. 91-92


78 Op.cit TIGRE, Paulo Bastos. p. 93
80

Vejamos algumas características da firma toyotista, que servem de base aos estudos de

Aoki e suas comparações com os modelos de produção das firmas anteriores, em especial da

firma fordista americana:

O Toyotismo ou modelo japonês é um conjunto de mudanças organizacionais na linha

de produção, que foi se aperfeiçoando a partir da década de oitenta e levou a criação, segundo

alguns autores, de um novo paradigma, intensivo em capital, tecnologia, informação e

conhecimento.

Segundo Coriat “A essência do sistema – determinado por sua ‘intenção’ fundadora –

é apresentada pelo japonês Taiichi Ohno, como consistindo na concepção de um sistema

adaptado à produção em séries restritas de produtos diferenciados e variados”.

A crise do fordismo no início dos anos setenta agravou-se. O contexto histórico da

economia era o enfraquecimento do vínculo entre crescimento nacional e controle da

demanda ao nível do país, fenômeno que conduziu ao monetarismo. De acordo com

Benko(1999, p. 115), havia dois fatos que caracterizavam a crise segundo as teorias da

regulação:

 O primeiro deles era uma enorme crise da oferta, que refletia a baixa tendência da

taxa de lucro, com causas encontráveis não nas condições do mercado, mas no

interior do sistema de produção de valor e também oriunda dos conflitos de

trabalho;

 O segundo foi uma crise da demanda, em conseqüência da internacionalização da

atividade econômica, gerada pela busca de economias de escala, também

relacionada ao fato de os trabalhadores manterem o conhecimento restrito ao eixo

familiar (conhecimento transmitido de pai para filho).

Por outro lado, o modelo keynesiano vai cedendo lugar para o neoliberalismo, que irá

procurar soluções para um mercado interno saturado com a procura de mercado externo,
81

usando modelos para a compreensão da taxa de crescimento, economias de escala, inovação

tecnológica, variação nos preços dos bens e serviços, evolução da demanda, volumes

produzidos e análise dos ciclos econômicos.

Assim, alguns autores neoclássicos passaram a se preocupar com as dificuldades

encontradas com as imperfeições do mercado, com as expectativas irracionais dos

consumidores e assalariados, com a situação da informação imperfeita e as interferências nos

mecanismos de mercado, associadas à ação dos monopólios, dos sindicatos, dos grupos de

interesses e dos governos.

Os aspectos acima, constituíram entre outros problemas, a busca de soluções para

questões relacionadas ao funcionamento do mercado naquele momento. Partindo desse

contexto e diagnosticado os problemas em diversos artigos e relatórios, os economistas

neoclássicos criaram estratégias como alternativa ao Estado-providência keynesiano, que

estava fracassando na maioria das economias.

A partir desta crise, um novo modelo produtivo despontou no Japão, representando

uma alternativa aos problemas mencionados. Este modelo inicialmente conhecido como

Modelo Japonês, era referenciado nos estudos econômicos e organizacionais, pela letra J. Os

resultados obtidos no setor industrial pelo novo modelo, criam um grande impacto na

economia japonesa e mundial, mudando consideravelmente o padrão de organização da

produção, por isto, alguns autores entenderam tratar-se de um novo paradigma da produção e

da firma.

Este novo padrão tecnológico que teve início na década de oitenta, tinha como

objetivo contornar a crise econômica e social que havia atingido repercussões mundiais e

afetado os sistemas produtivos e industriais da maioria dos países. Este padrão, implica em

uma nova metodologia.

Grandes séries de produtos rigorosamente idênticos contra séries restritas de


produtos diferenciados, eis, aí, sucintamente, o coração da oposição central,
82

fundamentalmente, entre os dois métodos e logo também a especificidade e a


singularidade da intenção que presidiram a formação do método Toyota. 79

O modelo “J” (japonês) da firma industrial fordista, foi caracterizado por:

 Ser orientado pela Demanda;

 Garantir Flexibilidade em produtos e processos;

 Organizar trabalho em sistema de produção multi-tarefas e multi-habilidades;

 Garantia de metas de Defeito zero;

 Dar maior poder para o operário da linha de produção;

 Envolvimento do trabalhador nas melhorias técnicas.

O toyotismos está vinculado ao que muitos autores denominam por Terceira revolução

industrial, caracterizada pela automação industrial, relacionada ao desenvolvimento da

microeletrônica, que encadeou uma onda de inovação tecnológica, associada à Pesquisa e

Desenvolvimento - P&D, em todo o mundo capitalista desenvolvido.

O ‘espírito Toyota’, idealizado por Ohno, inverte o conceito americano de produção

em escala para redução de custo, esta mudança é explorada teoricamente como campo de

investigação por Aoki, autor citado por Bastos Tigre.

O Toyotismo trabalha sobre o conceito de ‘fábrica mínima’, resolvendo problemas

ocultos que originavam custos onerosos para o sistema fabril, como por exemplo, os custos

relacionado ao estoque, que exigiam complexa organização logística, excesso de

equipamentos e também excessivo número de trabalhadores.

A noção de estoque zero (KanBan), esta relacionado a produção enxuta que reduz o

excesso de pessoal e traz a flexibilização da produção. Segundo Coriat:

79 Benjamin CORIAT (1994) Pensar pelo avesso. Rio de Janeiro: Revan-UFRJ. 1994.p. 31
83

O princípio aplicado por Ohno foi o seguinte: o trabalhador do ponto de trabalho


posterior (aqui tomado como ‘cliente’) se abastece sempre que necessário, de peças
(‘os produtos comprados’) no posto de trabalho anterior (a seção). Assim sendo, o
lançamento da fabricação no posto anterior só faz para realimentar a loja (a seção)
em peças (produtos) vendidas. [...] No fundo, o Kan-Ban se apresenta antes de mais
nada como uma revolução nas técnicas de controle do processo de fabricação e
encomendas e de otimização do lançamento das fabricações.80

A firma toyotista teve como antecedente a experiência na indústria Têxtil japonesa, e

soma três aspectos numa só proposta: a visão empresarial com a inovação tecnológica e

também, medidas para o melhor aproveitamento da força de trabalho humana. Seu

aperfeiçoamento envolve as seguintes diretivas de organização da firma industrial e

comercial:

 Flexibilização em diversos aspectos da administração e planejamento;

 Busca constante de novos segmentos de mercado;

 Busca de Qualidade Total: percentual Zero de defeito e problemas (Poka Yoké) em

produtos, processos e serviços;

 Administração baseada na observação de detalhes (pelos olhos);

 Linha de montagem com ênfase na atividade organizacional;

 Atividade orientada intensivamente em capital, informação e conhecimento.

4.3 OS NOVOS TEÓRICOS E AS NOVAS FIRMAS NO CONTEXTO DA INOVAÇÃO

O aparecimento do comércio eletrônico e das firmas com estruturas virtuais requer um

novo tratamento pela economia, envolvendo mudanças organizacionais e institucionais

relativas à firma.

80 Op. cit. CORIAT, Benjamin. p. 56


84

O que correntemente se denomina “Nova economia” está nitidamente ligado ao papel

da Inovação Tecnológica sobre uma nova orientação dos negócios, também chamado de

"Economia Digital" termo cunhado por Don Tapscott, este autor foi responsável por diversas

obras que fizeram surgir o conceito de ‘Nova Economia’.

Alguns economistas vem sendo retomados pelos teóricos para tentar resgatar no seio

da Ciência econômica o papel da inovação como interpretação das transformações da firma:

alguns autores, a exemplo de Joseph A. Schumpeter, foram capazes de identificar no

desenvolvimento da Economia, a evolução e as tendências básicas da organização da

produção levando em conta a Inovação como fator, estes fenômenos se tornaram mais visíveis

na economia dos séculos XX e XXI, isto é, vieram a ser reconhecidos como relevantes,

somente muitos anos depois de seus estudos terem sido publicados.

O impacto da inovação tecnológica, previsto por Schumpeter, sobre o

desenvolvimento da firma e das economias, somente pôde ter evidências empíricas a partir da

nova revolução tecnológica baseada no paradigma informacional. 81

Schumpeter ganha importância no cenário descrito anteriormente, sobretudo porque

seus trabalhos têm permitido entender com mais clareza as profundas mudanças tecnológicas,

econômicas e sociais por que tem passado o capitalismo contemporâneo. Principalmente no

que concerne ao conceito de inovação, este autor tem apresentado importantes contribuições à

economia no contexto das novas TICs, sua influência é marcante sobre as vertentes teóricas

"neo-schumpeterianas" ou "evolucionistas" tratadas a seguir.

A obra de Schumpeter tem dois aspectos, a do primeiro Schumpeter que relaciona-se

aos escritos realizados na juventude onde destacam-se A natureza e a essência da economia

teórica, obra de 1908, e Teoria do desenvolvimento econômico, de 1911. O segundo

81 Cf. Joseph A. SCHUMPETER. São Paulo: Abril Cultural Ed. Coleção Os Economistas. 1982. As idéias são ainda muito
atuais, principalmente no que tange o intensivo avanço científico e tecnológico do século XXI. No Brasil este autor tem sido
relido e reestruturado em diversos trabalhos, principalmente aqueles que discutem a nova Lei de Inovação brasileira.
85

Schumpeter toma uma outra direção de estudos, em que se destacam obras como

Capitalismo, socialismo e democracia, de 1942, Ciclos econômicos, de 1939, e História da

análise econômica, de 1954 .

Na Teoria do desenvolvimento econômico (1911) estão, ainda que de forma

incompleta, as principais teses defendidas pelo autor sobre a dinâmica da economia

capitalista. Ao expor sua teoria do desenvolvimento econômico, Schumpeter faz um contraste

com a teoria do equilíbrio, que, explícita ou implicitamente, "sempre foi e ainda é o centro da

teoria tradicional".

Este autor sustenta que é o empresário inovador que inicia a mudança econômica, os

consumidores são educados por ele, se necessário; são, por assim dizer, ensinados a querer

coisas novas, ou coisas que diferem, em um aspecto ou outro, daquelas que tinham o hábito de

usar.

Esta idéia é bastante atual. Um bom exemplo é o que acontece hoje com os telefones

celulares, em que os consumidores são levados pelo empreendedor a desejar display colorido,

câmera fotográfica embutida e acesso a Internet.

Para Schumpeter as inovações são o motor do processo de mudança do

desenvolvimento capitalista e resultam da iniciativa dos agentes econômicos. Os efeitos da

inovação são amplos e conduzem à reorganização da atividade econômica, levando ao aspecto

instável e evolutivo do sistema de produção. Para Schumpeter o desenvolvimento é definido

pela realização de inovações de forma empreendedora, no entanto:

As inovações caracterizam-se pela introdução de novas combinações produtivas ou


mudanças nas funções de produção. Schumpeter classifica essas modificações da
seguinte maneira. Em primeiro lugar, a introdução de um novo bem ou de uma nova
qualidade de um bem. Em segundo lugar, a introdução de um novo método de
produção, ou seja, um método ainda não verificado pela experiência naquele ramo
produtivo em que tal introdução é realizada e que não decorre necessariamente de
86

qualquer descoberta científica, mas que pode simplesmente consistir em um novo


método de tratar comercialmente uma mercadoria. .......

Mesmo com o sistema capitalista sendo movido por inovações, Schumpeter ressalta
que a lógica econômica prevalece sobre a lógica tecnológica. "E em conseqüência
vemos na vida real em toda a parte à nossa volta cordas rotas em vez de cabos de
aço, animais de tração defeituosos ao invés de linhagens de exposição, o trabalho
manual mais primitivo ao invés de máquinas perfeitas, uma desajeitada economia
baseada no dinheiro em vez de circulação de cheques, e assim por diante. O ótimo
econômico e o perfeito tecnologicamente não precisam divergir, no entanto o fazem
com freqüência, não apenas por causa da ignorância e da indolência, mas porque
métodos que são tecnologicamente inferiores ainda podem ser os que melhor se
ajustam às condições econômicas dadas. 82

Outro aspecto do pensamento schumpeteriano, chama a atenção para a idéia de

investimento em inovação e Capital de Risco, discutidos, em outros termos, bem antes do

aparecimento dos computadores. Para este economista, o crédito era um elemento essencial ao

processo econômico de inovação, para ele a inovação era função do agente capitalista

investidor principal: os bancos. Segundo Schumpeter deveriam existir fundos gerados por

inovações bem sucedidas, oriundos da capacidade dos bancos em criar poder de compra.

Alguns autores afirmam que Schumpeter exagerou na importância dada ao empresário

inovador no processo de desenvolvimento, no entanto, em trabalhos posteriores, observa-se

que Schumpeter faz uma análise mais realista, entendendo que outros agentes também podem

introduzir inovações no sistema econômico.

Don Tapscott, entende que na Economia Informacional em que estamos vivendo,

mudanças diversas são impostas aos sistemas nacionais de regulação, e aos sistemas estatais

intervencionistas, criando-se o desmembramento de muitas barreiras e a desregulamentação

de muitos setores da economia mundial, deve-se acrescentar estes elementos empíricos da

globalização, o papel da inovação tecnológica na economia.

82 Marcos Paulo FUCK. Teoria do desenvolvimento econômico: Uma investigação sobre lucros, capital, crédito, juro e o
ciclo econômico. In. http://www.comciencia.br, p. 02 acesso em 10/08/2004.
87

Chuck Martin é outro autor que amplia o conceito original de Economia Digital ou

Nova Economia, definindo um novo espaço político, econômico e social, que batizou de

"Estado digital". Este pesquisador é um dos primeiros a sistematizar as características das

estratégias de negócio e as mudanças da firma, norteadas pela inovação tecnológica e

organizacional das novas firmas em rede, estendendo este conceito para o Estado.

Cabe registrar, ser corrente, um certo ceticismo entre os economistas, quanto ao termo

“Nova Economia”, Economia Informacional ou Digital, a despeito destes termos remeterem a

uma dado contexto macro e micro-econômico em que as novas Tecnologias da Informação e

da Comunicação, possuem um papel fundamental para os negócios e para a economia.

Segundo outro teórico economista, o professor W. Brian Arthur, estamos convivendo

com duas economias distintas. São lógicas econômicas distintas no estilo, no comportamento,

na cultura. Exigem abordagens e instrumentos teóricos e conceituais novos, pois, possuem

técnicas de gestão diferentes, estratégias e códigos de regulamentação distintos. É errôneo

afirmar, segundo Brian que o que funciona na economia tradicional, funciona na economia

digital, ou que não existe nenhum fenômeno novo na economia contemporânea.

O professor W. Brian Arthur defende que os fenômenos econômicos que estão

acontecendo, representam o aparecimento de uma Nova Economia. Ele não é um economista

convencional, durante anos tem desafiado as teorias tradicionais sobre a dinâmica do

capitalismo, baseadas na lei dos rendimentos decrescentes dos fatores e na teoria do

equilíbrio, entendendo que esses instrumento não dão conta dos fenômenos recentes da

economia informacional. 83

W. Brian Arthur defende uma dinâmica de rendimentos crescentes dos fatores, ao

contrário do que se observava nas análises do capitalismo industrial. Ele se opõe a teoria do

83 O autor tem 'papers', publicados em revistas como a «Scientific American», o «The Economic Journal», e a «Harvard
Business Review», desenvolvem uma argumentação teórica que desafia a ortodoxia econômica desde os anos 80 em
trabalhos como, Competing Technologies, Increasing Returns and Lock-In by Historical Events, publicado no The Economic
Journal, 1989, volume 99, nº. 394 Positive Feedbacks in the Economy, publicado na revista Scientific American, na edição de
Fevereiro de 1990 (em formato Pdf no site do autor em www.santafe.edu/arthur/Papers/Pdf_files/SciAm_Article.pdf)
cf.Increasing Returns and the New World of Business, publicado na revista Harvard Business Review, na edição de
Julho/Agosto de 1996.
88

equilíbrio, propondo múltiplos pontos de equilíbrio. Do ponto de vista científico, e na visão

do próprio Schumpeter, isto é, uma aberração fora de qualquer controle analítico.

Para o professor Brian, a possibilidade de vários equilíbrios, foge ao controle dos

modelos e do dogmatismo de muitos economistas. Segundo este autor não se pode predizer

um equilíbrio ótimo.

A tecnologia é para ele uma variável que presume várias hipóteses em aberto e, em

geral, ela é fruto do acaso histórico que acaba por selecionar uma dada solução, que, por vezes

nem sequer é a melhor do ponto de vista tecnológico, mas, que vai nortear os caminhos

econômicos e tecnológicos por algum tempo, quando a vantagem seletiva inicial permite o

desenvolvimento de uma rede de agentes aderentes e de dependentes que reforçam

positivamente o posicionamento de liderança, como por exemplo, é o caso da rede liderada

pela Microsoft e a Intel.

Exemplos deste acaso que causam impactos econômicos sem precedentes foram o

nascimento do Vale do Silicone (Silicon Valley), fruto de um ato casual, de um empréstimo de

500 dólares feito a dois alunos de universidades, nos anos 30, que a partir dai criaram a

Hewlett Packard, HP. Outro exemplo é de dois jovens do Illinois, Marc Andreessen e Eric

Bina, que queriam teimosamente dar uma interface amigável para a Internet, criando a World

Wide Web, com interface para browsers, contra todas as forças antagônicas do mercado e

mesmo dos gestores da Internet mundial.

Outros casos como o da Apple Computers e mais recentes, como o do Yahoo e do

Google, mostram que fenômenos econômicos recentes, não têm uma origem nas grandes

corporações e capitais. 84

Para Brian, há assim, um paralelismo entre o que ocorre no mundo real da economia e

com o que se passa no mundo natural, explicado pela teoria física da não linearidade: para ele,

pequenas mudanças, insignificantes ao ocorrem em momentos críticos e ao acaso, geram

situações inesperadas na economia.

84 Op. cit. CORSANI, Antoella p.131


89

Boa parte dos teóricos modernos da economia, têm dificuldade em lidar com os pontos

de confluência entre o acaso e a necessidade na economia, em lidar com a incerteza e o risco.

Os economistas futuros serão cada vez mais, obrigados a conviver com isto, como por

exemplo, com o fato de que convivemos na economia contemporânea com duas realidades

econômicas bastante distintas, uma que envolve o paradigma informacional e a outra envolve,

ainda, o paradigma industrial fordista.

Para Brian, é importante entender que a lei dos rendimentos decrescentes vive na parte

tradicional da economia vigente, sobre a ótica tradicional, e que a lei dos rendimentos

crescentes é típica das economias lastreadas nos capitais do conhecimento, como a Economia

Informacional.

Kevin Kelly, outro teórico da Nova Economia, acha que os termos "revolução digital",

"sociedade digital" e “Economia Digital” não são apenas modismos, ou meras metáforas sem

fundamento. Os contextos reais a que estes termos se remetem e os fenômenos que daí se

originam, podem e devem ser formalizados pelo economista. Segundo ele, tais fenômenos

serão, pouco a pouco modelados na forma de teorias econômicas completas, visto que tratam

de uma realidade econômica empiricamente verificável.

A economia em rede, tem leis muito peculiares, afirma Kelly, algumas funcionam de

modo inverso daquelas a que nos habituamos na economia industrial. Ocorre neste contexto,

um novo tipo de tessitura dos negócios, que pode ser entendido através do conceito de

"economia em rede" ou Economia Digital. Segundo este autor a dinâmica atual da economia
85

não é mais "controlável" pelas regras capitalistas anteriores.

Para Kely, a Nova Economia segue os princípios que governam as redes

informatizadas e a Internet, estes fenômenos seguem um modelo de crescimento biológico,

ainda fora de controle, e isto afeta a economia.

85 Este autor sistematizou as regras da nova economia digital em num artigo, intitulado «New rules for the Economy:Twelve
dependable principles for thriving in a turbulent world» (www.wired.com/5.09/networkeconomy (Out of Control,
www.kk.org/outofcontrol/index.html)
90

Segundo o autor, muito do que dizemos ou teorizamos sobre os fenômenos

econômicos atuais, relacionados à Nova Economia ainda esta incipiente, pois não temos,

ainda, exterioridade suficiente para compreender este fenômeno econômico tão recente. Há

segundo ele, ainda muito mais por explicar em termo econômico-teórico.

Kely presume que nos próximos cinco anos, verdadeiros economistas começarão a

desenvolver modelos matemáticos mais rigorosos e teorias com maior univocidade, para se

perceber a fundo o que está ocorrendo na economia, neste momento. Ele afirma, “Passaremos

do nível da metáfora”, onde ele e Peter Drucker atuam para a “Ciência da Nova Economia”,

com seus instrumentos teóricos e maior precisão, mas é necessário que os economistas se

preparem para isto.

Para Kelvin, Paul Romer com suas idéias sobre os fenômenos atuais da economia e

sua Teoria do Crescimento Endógeno, é o economista que atualmente, reúne todas as

qualidades para protagonizar um avanço na teorização sobre os fenômenos econômicos

contemporâneos. Segundo o autor, Romer postulou, de forma correta que a principal questão

teórica que precisa ser explicada numa economia é a forma como cresce, e não a forma como

ela se "acomoda" ou se ajusta a abordagem corrente dos economistas tradicionais. Romer e

outros teóricos do "novo crescimento" ou Crescimento Endógeno, entendem o papel do

fenômeno da inovação na economia.

As empresas da nova Economia Digital, descobriram inovadoras formas de pensar

estrategicamente a firma neste novo meio, empreendeu novas formas de agir nestes novos

mercados em andamento.

Os mencionados autores aqui citados, procuram mostrar como a corrida competitiva

pela inovação tecnológica e organizacional, decorre de novas formas de pensar o negócio em

uma economia baseada na velocidade, mostrando que o feedback do mercado é o que orienta

seus investimentos e inovação.

As empresas da nova economia criam ou abraçam facilmente novos conceitos, como o

de "lançar primeiro e aprender em seguida", mudando suas estratégias e organização em


91

função dos desafios impostos pela competição, pela inovação e velocidade das respostas aos

mercados. Estas empresas subvertem a ordem tradicional de produção no que concerne a

processos e concepção de produtos, lançando no mercado produtos que acabam de deixar a

fase de prototipação, em alguns casos mesmo antes de ter sido plenamente testado

internamente, um produto já se encontra distribuído no mercado, buscando o apoio dos

consumidores no feedback deste. Enquanto isso o produto vai sendo refinado até ele ficar

correto, e continuou a ser modificado, adaptado e aperfeiçoado, permitindo que o próprio

mercado (de consumidores), participe na plena criação e desenvolvimento do novo produto,

bem como, de sua manutenção no mercado e definição do seu ciclo de vida. Um bom

exemplo disso foi à produção do I-pood da Apple Computers e de outros produtos com

memória flash (pen drive), cujo lançamento e desenvolvimento interferem no valor das ações

de uma companhia em tempo real.

Estamos assistindo, através da Mídia, que atividades, tais como, as industriais,

comércio varejista, (farmácias, livrarias, lojas de departamento, supermercados etc.), mercado

imobiliário, serviços financeiros (bancos, corretoras etc.), agências de viagens, entre outros

ramos, começam a utilizar as TICs e a Web, como poderosa ferramenta de transações e

atividades diversas, tais como, planejamento, organização da produção, projetos, criação,

transferência de valores, pagamentos, divulgação e comercialização de produtos, serviços e

etc.

Este novo processo econômico apresenta um crescimento bastante acelerado no Brasil

e o mesmo acontece no resto do mundo.

4.4 O PARADOXO DE SOLOW E OS INPACTOS TECNOLÒGICOS SOBRE A

ECONOMIA
92

O surto tecnológico da microeletrônica, microinformática, das redes informatizadas,

intranet seguido da Internet e Web, teve um impacto formidável sobre a firma e seu modo de

organização. Do ponto de vista econômico o fenômeno ainda está mal compreendido, causou

inicialmente, alguns desastres econômicos e muitos casos de sucesso em diversas economias

do mundo.

Robert Solow afirmou em 1987, em um artigo na New York Book Review, uma frase

conhecida como enunciadora do “paradoxo da produtividade”. “Vêem-se computadores em

toda parte, menos nas estatísticas de produtividade”. 86

O Paradoxo de Solow, pode ser resumido na seguinte questão: se a produtividade é a

medida fundamental da contribuição da tecnologia para a expansão econômica. Como então a

mesma pode declinar justamente durante um período em que a mudança tecnológica,

impulsionada pela microeletrônica, havia, aparentemente, se acelerado? (Ver tabela abaixo

apresentando um declínio no crescimento da produtividade). Todavia, a partir de 1990, a

produtividade apresentou um quadro de crescimento, apesar das taxas de investimentos

(formação bruta de capital) encontrar-se em patamares reduzidos.

Tabela 1: Crescimento da produtividade do setor privado


(percentual médio anual)

Paises Produtividade total dos fatores Produtividade do trabalho Produtividade do capital

Pré 1973 1974- 1980- Pré 1974- 1980-1990 Pré 1973 1974-1979 1980-1990
1979 1990 1973 1979
EUA 1,5 -0,4 0,2 2,1 0,0 0,6 0,1 -1,3 -0,7
Japão 4,6 0,9 1,6 8,0 2,9 2,9 -3,0 -3,5 -1,4
Alemanha 2,5 1,7 1,0 4,4 3,0 1,7 -1,4 -1,0 -0,5
França 3,8 1,6 1,5 5,3 2,9 2,4 0,9 -1,0 -0,2
Italia 4,1 1,9 1,2 6,1 2,8 1,9 0,4 0,3 -0,1
Reino Unido 2,5 0,5 1,6 3,6 1,5 2,1 -0,3 -1,6 0,4
Canadá 2,0 0,8 0,1 2,8 1,5 1,2 0,6 -0,5 -1,8
Média ponderada
da OECD (1) 2,7 0,5 0,8 4,3 1,5 1,6 -0,8 -1,8 -0,8

Fonte: OECD (1996)

86 Cf. “We’d Better Watch Out, ”artigo publicado no New York Times Book Review, de 12 de julho de 1987.
93

(1) Inclui, além dos países do G 7, listados na tabela, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, Grécia,
Islândia, Irlanda, Paíse Baixos, Noruega, Portugal, Espanha, Suécia, Austrália e Nova Zelândia.

A evolução do uso da tecnologia de informática e das redes passou por estágios bem

distintos:

 No inicio da década de 80, os computadores só tinham por objetivo a “modernização”

da firma, sem qualquer mudança real nos métodos de trabalho ou na cultura

organizacional;

 Em meados da década de 80, houve o desenvolvimento de uma cultura de informática

voltada à inovação organizacional. As redes e a informatização foram desenvolvidas

para o aumento da produtividade, melhoria da automação administração, organização

e métodos, eficiência corporativa e etc. Percebeu-se que os computadores poderiam

ser usados combinados a técnicas gerencias (“just in time”, “Kaizen”, “Downsizing”,

“terceirização”, etc.) para a eliminação de tarefas, redundantes, nos setores industriais

comerciais e de serviços;

 Da década de noventa em diante, há um desenvolvimento da Tecnologia da

Informação à consolidação das redes de firmas e a junção da TI com as tecnologias de

comunicação por satélite, para redes de auto-desempenho e abrangência. Neste

momento há forte globalização e estabelecimento do pensamento neoliberal, como

resposta aos problemas da economia keynesiana, também, ocorre o aparecimento de

sistemas mais eficientes (software), tecnologias e redes informatizadas de melhor

qualidade e eficiência.

O paradoxo apontado por Solow, aparece nesta segunda fase; quando diversos estudos

publicados na mesma década, procuravam demonstrar que, investimentos em tecnologia de

informação TI, não correspondiam ao retorno de capital esperado.


94

Por outro lado, diversos outros estudos, da mesma época, mostravam o contrário, que

os investimentos em TI, estavam intimamente relacionados à produtividade em muitas áreas

da economia.

Reconhecia-se a utilidade dos computadores e das redes e verificava-se

estatisticamente o aumento da produtividade com o uso de TI, mas do ponto de vista

econômico esta, realmente, parecia não afetar os lucros nas diversas economias, como

afirmava Solow.

Estudos diversos sobre a firma constataram que, enquanto várias tarefas iam se

tornando mais rápidas e eficientes, o número da mão de obra permaneceu estável. Resolver o

problema implicava em um impasse, já anteriormente ligado aos problemas relativos à

produtividade e desemprego tecnológico (estrutural), implicando em eliminar postos de

trabalho e colocando em jogo a “função social” das empresas.

A tese de Solow não indicava que a TI revertia realmente em pouca produtividade para

as firmas, mas que, para otimizar sua eficácia, cabia demitir e enxugar o quadro de

funcionários das empresas.

Investigando as respostas ao paradoxo, constata-se que se descobriu rapidamente que o

paradoxo não residia no fato, inverídico, de que os computadores “não ajudavam na

produção”, pois se podia constatar o contrário: Freeman e Peres constataram, naquele

momento, que havia uma incoerência entre os propósitos e orientação das firmas em relação a

TI e que isto não era um problema de cálculo, mas de cultura organizacional e de conciliação

de propósitos:

Uma das respostas dadas (Freemam & Perez) consistia em considerar que uma nova
revolução tecnológica se preparava, e não podia desdobrar seu potencial de
crescimento por causa de uma “incoerência”, de uma decalagem entre tecnologia e
instituições. Mais fundamentalmente, o despedaçamento da fábrica, a difusão de
formas inéditas de cooperação nos interstícios do espaço construído pela firma
fordista e o fato, enfim, de que a inovação escapa ao controle da grande empresa
estão produzindo um curto-circuito em todos os princípios do que se pretendia uma
“ciência dura”, apoiada na potência da ferramenta matemática.87

87 Op. cit. CORSANI, Antoella pp.130-131 (grifo nosso)


95

Com a forte globalização e difusão do pensamento liberal e o desenvolvimento de uma

cultura de informática mais eficiente, ocorre uma terceira fase no uso da tecnologia da

informação, em que os sistemas de TI são otimizados para reduzir custos e tornar a empresa

mais “competitiva” e enxuta.

O desenvolvimento da TI nesta direção, teve implicações efetivas nos custos e

investimentos do setor privado, as indústrias, o comércio varejista, os bancos e várias

empresas do setor de serviços, além de contarem com sistemas de melhor qualidade e

eficiência, passaram a “enxugar” suas estruturas de pessoal.

Nesta terceira fase, o paradoxo de Solow deixou de ser discutido tão fervorosamente

em favor de uma nova lógica empresarial, em que as TICs e a Internet passam a ser

agregadoras de valor em diversas fases da produção, comércio e serviços. No entanto, o

debate econômico em torno de soluções para a incerteza que o paradoxo lança, ainda continua

como veremos abaixo.

O debate em torno do paradoxo da produtividade, refere-se não apenas às causas do

crescimento da produtividade na década de noventa, mas também se elas seriam sustentáveis.

No caso do Brasil, dado o quadro econômico e empresarial brasileiro, a questão que era

colocada á época, era se a reestruturação empresarial, baseada em muitos casos de

investimentos em TI, conduziria o país a uma nova era de desenvolvimento, baseada no

crescimento expressivo da produtividade.

Como se sabe, há uma relação intrínseca entre Inovação, difusão de tecnologia,

mudanças organizacionais e crescimento da produtividade. Existem diversos estudos teórico-

empíricos sobre a relação entre difusão de TI, Inovação tecnológica e crescimento da

produtividade como resposta ao paradoxo de Solow.

As abordagens econométricas baseadas na função de produção, da tradição

neoclássica, mostram-se insuficientes para explicar o Paradoxo de Solow.


96

As quantificações advindas desse tipo de abordagem, podem ser úteis para tentar

identificar grandes tendências e a magnitude geral do problema, mas, a teoria tradicional de

crescimento econômico não consegue explicar as causas que estimulam e “impedem” a

expansão da produtividade em um contexto de rápidas transformações tecnológicas.

Como afirmamos anteriormente, o crescimento da produtividade e da produção é

estimulado pela interação de três variáveis principais:

 Acumulação de capital;

 Inovação tecnológica;

 Educação e aprendizado.

Sabe-se também, que em épocas de intensas mudanças tecnológicas, há realocação de

recursos produtivos e a obsolescência do “capital relativo ao conhecimento”, além dos

fenômenos de influência econômica muito rápidos e não lineares, quando matematicamente

estudados.

Para muitos economistas os investimentos, a tecnologia e a educação devem ser

tomados como forças complementares. A função de produção agregada que permite dividir os

créditos relativos ao impacto de cada força no crescimento econômico e na produtividade não

dá conta de muitos fenômenos que ocorrem na Nova Economia.

O debate em torno do Paradoxo de Solow tem influenciado os economistas brasileiros,

mostrando que o atual estágio de difusão das novas tecnologias, ainda apresenta

oportunidades para países que encontram-se mais atrasados na adoção do regime da Nova

Economia, em que o conhecimento e a tecnologias são fatores diferenciadores entre as

economias. Desta constatação surge a necessidade de o país aprimorar sua cultura técnica e

vencer seu analfabetismo digital.

O paradoxo aponta ainda, para as dificuldades de adoção de um novo “modelo de

crescimento” baseado nas tecnologias e na inovação.


97

Atualmente estes novos desafios impostos pela inovação e o uso das TICs têm

introduzido a temática da Nova Economia nas correntes e polêmicas econômicas que

discutem a política cambial, a abertura comercial e sistemas de regulação econômica. Tem se

observado que o aumento dos investimentos, qualificação da mão-de-obra e difusão de

tecnologias, com intenso aprendizado e inovação, são os elementos básicos para uma política

voltada à integração competitiva da economia brasileira no mundo globalizado.

O Brasil pode aprender com as experiências de outros países que se consagraram a

implementação de políticas públicas voltadas para o fortalecimento do aprendizado de

tecnologias digitais e gestão de Inovação tecnológica.

5 OS MODELOS ECONOMICOS EVOLUCIONISTA E NEO-

INSTITUCIONALISTAS E AS TEORIAS DA FIRMA NO PARADIGMA

INFORMACIONAL

5.1 A FIRMA RETICULARIZADA

A Nova Economia tem por base um Paradigma Organizacional e produtivo novo,

chamado de Paradigma Informacional, o qual representa uma maneira inteiramente nova de

fazer negócios e de tocar a produção no Século XXI.

O paradigma da Informação, relacionado às novas Tecnologias da Informação e

Comunicação, TICs, tem haver com a introdução da informatização e das redes no campo

empresarial, tal paradigma, fez pouco a pouco surgir uma nova economia, não mais baseada

na Escassez, mas na regra da Abundância, criando uma diferenciação nítida e paradigmática

em que não se pode ignorar o papel da inovação tecnológica, antes considerada como

secundária ou como fator exógeno para a economia.

As reflexões teóricas atuais sobre a firma procuram dar conta de tais fenômenos na

economia, procurando situar a questão da governança e da inovação tecnológica, num cenário


98

de velozes e permanentes mudanças. Diferente das épocas passadas, baseadas no paradigma

industrial fordista e no pensamento neoclássico.

O aparecimento do comercio eletrônico e das firmas com estruturas virtuais, requerem

um novo tratamento da firma pela economia, envolvendo mudanças organizacionais e

institucionais.

Trabalhos na área econômica relacionados à adequação das teorias da firma, procuram

entender, discutir e criar novos modelos para estes novos cenários em que se encontram, as

redes de firmas, as organizações em rede, os oligopólios globais reticulados (em rede), bem

como, suas transações financeiras e comerciais estabelecidas através das novas TICs. Estas

atividades em curso nos negócios, traduzem-se numa economia reticularizada baseada em


88

redes informatizadas, telecomunicações e serviços de Internet.

Aoki e Chandler, em suas propostas neo-institucionalistas estabeleceram uma nova

compreensão teórica da firma e, nisso, tem o apoio da Teoria da Regulação, que estuda

aspectos micro e macroeconômicos deste novo contexto da firma, no interior da economia

informacional e da firma industrial toyotista.

As firmas schumpeterianas ou empresas da Nova Economia, são como Schumpeter

jamais suporia, firmas completamente distintas das do seu tempo, firmas inovadoras com

produtos baseados na informação e no conhecimento de suas equipes ou times, trabalhando

em rede, independente do espaço e do tempo.

As firmas dedicadas ao comércio eletrônico e prestadoras de serviços de informação,

são distintas daquelas que apenas fazem uso das TICs em sua operações, elas são mais

intensivas em informação, são firmas baseadas no aprendizado como recurso, são learning

organizations. Estas firmas, buscam desenvolver uma inteligência empresarial e são em geral,

diretamente ligadas, a produção de novas tecnologias em TI (hardware e software) e também

dos serviços de tratamento, gerenciamento, armazenamento, transmissão de informações,

88 Cf. Marco Antonio Lucas de SOUZA


99

através de redes empregando a Internet e novas tecnologia para transmissão e compressão de

dados, bem como, serviços de satélites e redes de alto desempenho.

Tais firmas trabalham independentemente de uma localização geográfica e de um

espaço físico; formam vastas redes planetárias, oferecendo serviços e produtos em mercados

diversos. São exemplos destas firmas, os portais Google e Yahoo, e as empresas atuando em

diversos setores como a Intel, Sony, Toshiba, Sansung, Oracle, Sun e outras. Firmas deste tipo

e as firmas industriais integradas as redes de firmas e outras configurações organizacionais

tem sua produção relacionada aos avanços e a inovação tecnológica, sendo, portanto, foco de

interesse para os economistas e demais teóricos, no que concerne a Nova Economia e a teoria

da firma.

Os teóricos que se concentram nas questões relativas aos fenômenos da Nova

Economia e da firma contemporânea, tais como, Chandler, Aoki, Nelson e Winter e Romer,

ajudam a reavaliar os limites teóricos dos modelos econômicos tradicionais, concentrados nos

problemas da firma neoclássica e fordista.

Propostas de análise como a proposta Neo-institucionalista, Evolucionista e do

Crescimento Endógeno, oferecem uma alternativa teórico conceitual e uma renovação na

análise do contexto da economia informacional atual.

Vejamos então, como os neo-institucionalistas entendem as inovações organizacionais

e contexto de transformação da firma contemporânea.

5.2 OS TEÓRICOS NEO-INSTITUCIONALISTAS

Para os neo-institucionalistas a analise interna da firma (instituição) é importante para

a compreensão do capitalismo contemporâneo.

A base para a compreensão dos teóricos neo-istitucionalistas em relação à Nova

Economia, repousa sobre o pressuposto de que, as diferenças entre as performances


100

econômicas dos paises, relaciona-se às conformidades de suas instituições, as quais se

estruturam sobre um histórico-institucional (contingências institucionais, culturais, políticas e

econômicas de cada país) ou path dependency.

Os fatores acima, constituem um elo entre as estruturas institucionais do passado e do

presente, marcando uma trajetória institucional nítida do ponto de vista empírico.

A base institucional como a estrutura universitária, de pesquisa, educação, sistemas

financeiros e relações reguladoras da atividade econômica como a OMC (Organização

Mundial do Comércio) e o FMI (Fundo Monetário Internacional), são elementos

fundamentais da análise institucionalista.

Chandler (1962, 1977) iniciou estudos institucionalistas, dando ênfase às novas formas

de organização empresarial como elemento fundamental à competitividade da firma. Este

autor tem por base, o estudo das diferenças econômica em diversas regiões e países e suas

instituições. Seus estudos referem-se a este conjunto de elementos, os quais permitem analisar

as características específicas das estruturas empresariais.

Aoki, sendo um institucionalista, ao analisar as diferença entre a firma “J” (japonesa) e

a firma fordista, tornou-se um dos mais importantes teóricos da firma no contexto da inovação

organizacional da Nova Economia Informacional.

Ao refletir sobre a estrutura da firma industrial da era informacional, Aoki mostra

como as teorias dos custos de transação verificam-se inadequadas à análise do funcionamento

da indústria naquele contexto, criticando a visão mecânica da firma nos textos

microeconômicos neoclássicos e a falta de interesse empírico da proposta denominada caixa

preta. No entanto, segundo Tigre, esta crítica, a despeito de sua grande influência no campo

teórico da firma e para a engenharia de produção não apresenta novidade.

Aoki critica tanto as teorias neoclássicas quanto as teorias dos custos de transação
como inadequadas para analisar o funcionamento da indústria atual. Sua crítica à
teoria neoclássica não traz novidades, na medida em que apenas endossa os
argumentos da recente literatura econômica não-neoclássica sobre a inadequação e
o irrealismo do tratamento da firma como agente de maximização de lucros, cujas
oportunidades tecnológicas são exogenamente dadas na forma de função de
101

produção e função de custos. A visão mecânica da firma nos textos de


microeconomia é atribuída por Aoki à falta de interesse empírico dos economistas
pelo que ocorre no interior da “caixa preta”, deixando tal função para os
engenheiros industriais.89

Wllianson (1985), outro institucionalista, é um teórico do custo de transação e crítico

das novas tendências econômicas e das inovações organizacionais, como contribuição para

uma teoria da firma. Contemporâneo de Aoki, diverge deste, no que concerne a enfoque dos

custos de transação o qual este último critica.

Enquanto Aoki considera que a alternativa viável ao mecanismo de mercado seja a

hierarquia, Williansom identifica alternativas entre a firma e o mercado, a firma não supera o

mercado, gerando a grande empresa oligopolista:

A opção metodológica de observar o funcionamento interno da firma e focalizar as


organizações competitivas emergentes constitui elemento fundamental de análise
para superar o tratamento convencional dado à firma pelas teorias de custos de
transação. A análise de Aoki comparando a firma “J”, organizada de forma
descentralizada e articulada em rede, com a firma “A”, mais hierarquizada e
integrada verticalmente, está centrada na observação empírica das formas de
organização adotadas por ambos os tipos de empresa. Ele elucidou a questão de
como a indústria automobilística japonesa foi capaz de superar a toda-poderosa
indústria americana ao analisar detalhadamente a organização do trabalho, do
processo de geração e apropriação de tecnologia, e da relação com clientes e
fornecedores em “empresas típicas” como a Toyota e a General Motors. A
comparação de métodos organizacionais e tecnológicos colocou por terra os
argumentos puramente econômicos — como taxa de câmbio e salários — adotados
tradicionalmente para a explicar a maior competitividade japonesa.90

Segundo Wllianson (1985), a atitude típica dos agentes econômicos é o

comportamento oportunista, por esta razão, ele é cético com relação ao paradigma da

economia informacional e suas redes de firmas. Uma crítica que se pode fazer a este ceticismo

é sua ênfase na integração vertical e governança.

Apesar de Williamson ter identificado alternativas entre a firma e o mercado, seus


exemplos são de organizações produtivas primitivas, tais como o putting-out-

89 Op.cit TIGRE, Paulo Bastos. p. 93


90 Op.cit TIGRE, Paulo Bastos. p. 94-95
102

system e contratos internos à firma que historicamente precedem e foram


substituídos pelo sistema hierárquico. Ele se refere também a formas utópicas de
organização da produção, como as comunas de trabalhadores onde o trabalho é
rotativo e a propriedade do capital é comum, que nunca foram viáveis em larga
escala. Posteriormente Williamson (1993) reconheceu as redes de firmas como
formas híbridas de governance entre a firma integrada e o mercado atomizado, mas
esse espaço alternativo de coordenação é sutilmente desacreditado, por necessitar
de uma grande dose de confiança mútua para se consolidar. Para as redes de firmas
funcionarem, os “custos de transação” precisavam ser substancialmente reduzidos,
através de práticas baseadas em confiança mútua e em reciprocidade de ações,
contrariando assim a atitude mais típica atribuída por Williamson aos agentes
econômicos, que seria o comportamento oportunista.91

O enfoque de Williason oferece uma explicação para a superação do mercado pela

firma, ou seja, oferece um modelo explicativo para o sucesso da grande firma oligopolista

verticalmente integrada. Suas hipóteses baseiam-se nos custos alternativos de transação entre

a firma e o mercado. Para ele a única alternativa viável ao mecanismo de mercado, do ponto

de vista da eficiência, é a hierarquia, isto é, camadas de estruturas administrativas.

Esta visão serve apenas para análise da cadeia produtiva do petróleo e firmas

similares, onde, segundo Tigre, as economias de escala têm uma integração realmente

vertical, os produtos são homogêneos e onde há grande especificidade dos ativos. No entanto,

seu modelo teórico não da conta da evolução das firmas, seus mix de produtos e suas redes

diversificadas de clientes e fornecedores.

A contribuição de Williamson para o entendimento do sucesso da grande firma


verticalmente integrada baseada nos custos alternativos de transação entre o
mercado e a firma organizada hierarquicamente, através de camadas sucessivas de
estruturas administrativas, precisa, portanto ser qualificada. Ela é válida
principalmente para explicar por que em determinados segmentos da indústria,
onde a especificidade dos ativos é grande, os produtos homogêneos e as economias
de escala importantes permanecem integrados verticalmente, a exemplo da cadeia
produtiva do petróleo. Mas, do ponto de vista do avanço da ciência econômica no
entendimento das novas tendências da organização industrial nos setores industriais
mais dinâmicos em termos de mercado e tecnologia, como o automobilístico e o
eletrônico, é necessário incorporar um novo instrumental analítico baseado no
entendimento do papel da coordenação horizontal das redes de firmas e do
aprendizado coletivo.92

91 Op.cit TIGRE, Paulo Bastos. pp. 94-95


92 Op.cit TIGRE, Paulo Bastos. p. 95
103

5.3 A CORRENTE EVOLUCIONISTA DA ECONOMIA E A FIRMA

O Evolucionismo ou desenvolvimentismo é a corrente econômica que tem por

interesse explicar o movimento/evolução que permeia a atividade de produção da firma. Sua

proposta descreve como a estrutura econômica industrial e tecnológica muda ao longo do

tempo.

Os teóricos evolucionistas, também chamados de neo-schumpeterianos, preocupam-se

com a mudança da firma, a inovação, deste modo, com a economia informacional. Eles

entendem que indivíduos e organizações são entidades que aprendem. Apresentam um novo

panorama teórico com fins à construção de uma nova teoria da firma, capaz de dar conta dos

fenômenos organizacionais contemporâneos, sobre os quais a firma se estrutura:

Três princípios podem ser destacados como chaves para entender as teorias
evolucionistas. O primeiro é que a dinâmica econômica é baseada em inovações em
produtos, processos e nas formas de organização da produção. As inovações não são
necessariamente graduais, podendo assumir caráter radical ou paradigmático,
causando, neste caso, instabilidade ao sistema econômico. É atribuída grande
importância também à interação entre agentes econômicos, articulados em clusters
de produção. Os conceitos de “destruição criadora” de Schumpeter, de “paradigmas
técnico-econômicos” de Dosi e Perez e a analogia com a biologia evolucionista de
Darwin são esclarecedores da essência descontínua atribuída ao crescimento
econômico em função da inovação tecnológica. O segundo descarta qualquer
princípio de racionalidade invariante (ou substantiva) dos agentes econômicos.
Tomando por base as idéias de Simon, os evolucionistas (ver Winter, 1993; Dosi,
1991; Coriat e Weinstein, 1995) criticam as teorias de racionalidade substantiva que
pré-define o comportamento de firmas segundo o princípio da maximização. O
conceito de maximização não é útil, pois envolvem muitas variáveis que não podem
ser, a priori, conhecidas pelo empreendedor. Os evolucionistas apontam para a
necessidade de desenvolver uma visão da firma constituída de indivíduos distintos e
dotada de características cognitivas próprias. A diversidade leva os evolucionistas a
adotarem a idéia de racionalidade procedural, ou seja, de que a racionalidade dos
agentes não pode ser pré-definida, pois é resultante do processo de aprendizado ao
longo das interações com o mercado e novas tecnologias. O terceiro princípio se
refere à propriedade de auto-organização da firma, como resultado das flutuações do
mercado. É rejeitado qualquer tipo de equilíbrio de mercado, conforme proposto
pela teoria convencional, na medida em que não é possível alcançá-lo em ambiente
coletivo de flutuações de agentes individuais com rotinas e capacitações distintas.93

93 Op.cit TIGRE, Paulo Bastos. p. 98-99


104

As teorias evolucionistas são distintas das teorias neoclássicas e das teorias fordistas

da organização industrial, em razão de tomarem uma nova direção conceitual e

interdisciplinar, e por rejeitarem conceitos e hipóteses do pensamento econômico

convencional em favor de uma análise empírica da realidade econômica, considerada mais

compatível com as transformações sociais, intelectuais e tecnológicas da economia

contemporânea.

Os princípios básicos do evolucionismo são:

 Dinâmica econômica assentada na Inovação;

 Rejeição do principio de racionalidade invariante;

 Firma considerada como entidade auto-organizada.

Tigre esclarece os princípios básicos do Evolucionismo econômico da seguinte forma:

Sua origem é dupla: por um lado, Freeman (1974, 1984) foi o primeiro a resgatar a
contribuição de Schumpeter no sentido de incorporar o progresso técnico como
variável- chave do processo evolucionário da firma e do mercado. Freeman
recupera, aperfeiçoa e atualiza a teoria dos ciclos longos de Schumpeter, mostrando
como a difusão de inovações está no centro dos movimentos cíclicos da economia
mundial. Por outro lado, Nelson e Winter (1982) iniciaram uma linha de
investigações apoiada em Simon, Schumpeter e idéias transpostas da biologia
evolucionista, lançando as bases para a reconstrução das teorias da firma. A
corrente evolucionista se encontra atualmente em pleno desenvolvimento, contando
com contribuições de um número crescente de autores. 94

Os principais autores e fundadores do evolucionismo na Economia são Nelson e

Winter a partir de sua obra An evolucionary theory of economic change, (Nelson e Winter,

1982).

O conceito de evolução ou transformação gradual tem origem no darwinismo. Para os

autores evolucionistas os comportamentos dos agentes econômicos, sejam eles, firmas ou

94 Op.cit TIGRE, Paulo Bastos. p. 98-99


105

indivíduos, são caracterizados em sua origem, por elementos de herança ou rotinas,

elementos de mutação e comportamentos de pesquisa.

O evolucionismo procura explicar os procedimentos de tomada de decisão pelos

agentes, a partir de sua relação com outros agentes e da diversidade de posições dos mesmos.

Outro aspecto interessante do evolucionismo é sua hipótese cognitivista, em que se

enfatizam os mecanismos mentais de decisão com base na forma que estes indivíduos

representam o mundo e sua relação com o contexto da sua situação neste mundo.

A hipótese acima é conjugada à Hipótese da Racionalidade Procedural e é relativa ao

fato de que os comportamentos individuais dos agentes e os seus objetivos, serem construídos

no tempo, existirem em função das aprendizagens e as interações entre agentes.

O processo de aprendizagem produz novos conhecimentos codificados,


articuláveis, tácitos, ou ainda transmissíveis, transferíveis e não transferíveis em
função do seu modo de construção. Trata-se de um processo interativa que se
desenvolve no seio da firma, mas também entre ela e seu meio, seu mercado, os
sistema técnico ao qual ela pertence, suas redes. O ambiente da firma conta muito
para sua capacidade de inovação. Até os consumidores participam no processo de
aprendizagem, o processo de imitação/difusão sendo um processo criador. A
performance de uma tecnologia dependerá mais dos rendimentos crescentes de
usos inovadores do que de rendimento crescentes de adoção, como na concepção
clássica do sucesso pela extensão do mercado.95

Uma inovação organizacional típica da economia informacional é a constituição de

redes de firmas como um organismo instituído com base nas TICs e sobre regras flexíveis de

coordenação horizontal, assentadas no conhecimento dos indivíduos e no aprendizado

coletivo. Algumas de suas características básicas são descritas por Tigre (Tigre e Sati,1997)

em três categorias:

 Redes hierarquizadas;

 Redes não-hierarquizadas;

 Alianças estratégicas.

95 Op. cit. CORSANI, Antoella p.136


106

Estas redes se desenvolveram bastante desde a publicação do artigo de Bastos Tigre

(Tigre, 1998) que norteia esta monografia, é interessante entender melhor seus detalhes:

i) Redes hierarquizadas, onde uma firma domina a rede graças a seu poder
oligopsônico e garante o investimento de seus parceiros em ativos especializados,
através de contratos de longo prazo. No Brasil, este modelo de coordenação vem
sendo utilizado nos investimentos recentes das montadoras de automóveis, através
da constituição de “condomínios industriais” ou “consórcios modulares” onde a
empresa líder reduz suas operações industriais, integração de subconjuntos
montados por seus parceiros. A tendência das empresas líderes de desverticalizarem
a produção e concentrar em seus esforços no core business, onde detêm maior
competência, pode ser observada em vários outros setores industriais, a exemplo do
eletrônico e confecções. Grandes empresas como a IBM e a Benetton passaram a se
concentrar nas atividades de P&D e marketing, transferindo para terceiros a maioria
das operações de fabricação e vendas.
ii) Redes não hierarquizadas, onde não há empresas dominantes e astrocas são
estabelecidas a partir de padrões complementares de especialização. A confiança
mútua, estabelecida por relações de amizade, parentesco ou ao longo de muitos
anos de negócios garantem baixos custos de transação. Este tipo de rede é
característico dos distritos industriais especializados, como, por exemplo, os pólos
calçadistas brasileiros de Franca e Novo Hamburgo ou o “modelo Lombardo”
celebrado por Piori e Sabel (1984). O modelo tem sua origem na própria revolução
industrial e ganha renovada importância em segmentos da indústria onde a
oportunidade para economias de escala interna são limitadas e podem ser
substituídas por economias externas.
iii) Alianças estratégicas, formadas para complementar competências nas áreas de
P&D, produção e vendas. Tais alianças vêm sendo viabilizadas pelas redes
eletrônicas e empurradas pelas tendências recentes de aceleração do ciclo de vida
dos produtos, crescente complexidade tecnológica (exigindo capacitações em
diferentes e novas áreas do conhecimento) e competição em nível global. A
importância destas redes é crescente, sendo possível verificar um crescimento
exponencial nas alianças estratégicas entre empresas líderes em todo o mundo. 96

É importante destacar o papel da inovação para a corrente evolucionista como

elemento básico para a teorização da firma. De inspiração schumpeteriana, a hipótese

evolucionista do Papel Motor da Inovação (em termos de produto, processo, mercado e

inovação organizacional) é diferente da hipótese de Schumpeter, pois neste primeiro caso, o

agente na transformação social e econômica não é mais o Empresário Inovador, mas a Firma.

96 Op.cit TIGRE, Paulo Bastos. p. 95-97


107

A firma é o lugar natural da Inovação e de acumulação de conhecimentos importantes

à produção:

(...) A inovação é produto de inovações anteriores, mas só seleciona uma parte


dessa herança. Desse ponto de vista, a inovação procede a uma criação destrutiva,
para retomar, invertidos, os termos de Schumpeter.
O processo de inovação é um processo de aprendizagem, um processo cognitivo
que apresenta um grau elevado de irreversibilidade, o que nos leva a considerar que
as soluções eventualmente encontradas não são necessariamente as mais eficientes
em teoria, pois dependem das oportunidades abandonadas nas etapas anteriores. O
conceito de aprendizagem, que está no centro do evolucionismo, é concebido numa
lógica cibernética: as determinações internas se reforçam ao longo do seu trajeto, e
a diferenciação da heterogeneidade inicial é crescente. 97

O evolucionismo propõe que a Produção é baseada na Criatividade e Socialização

dentro do espaço interno da firma. A firma é sobretudo, lugar de aprendizagens coletivas

interativas. O evolucionismo considera os aspectos humanos da firma, fundamentais para a

economia.

Segundos os teóricos evolucionistas, uma parte importante dos conhecimentos

produzidos, como mencionado adiante, é tácita e portanto, não transferível ou especificada.

Eles entendem a firma como detentora de um patrimônio que é genuíno. Mas no entanto, tais

conhecimentos se degeneram rapidamente nas interações sociais.

A abordagem desenvolvimentista da evolução técnica enquanto Transformação

procura dar conta da real multiplicidade e heterogeneidade dos atores, da incerteza e

multiplicidade de possibilidades da firma do mundo real, evitando a ficção do agente único.

A heterogeneidade é um elemento teórico para a compreensão da diferença entre

firmas, em termos de suas Rotinas (herança) e regras de comportamento:

Só sobreviverão as firmas que conseguirem incorporar as rotinas necessárias para


enfrentar a transformação constante do ambiente competitivo. A heterogeneidade
está ligada à diversidade das rotinas e de seus modos de incorporação na história
própria a cada firma, no fim das contas. Mas essa diversidade é finalmente

97 Op. cit. CORSANI, Antoella p.136.


108

submetida à seleção, não à hipótese da cooperação, mas à da luta pela


sobrevivência. 98

A evolução da firma depende de sua capacidade de responder às mudanças, tal

capacidade depende dos seguintes fatores:

 Lidar com Aprendizagens e Rotinas;

 Gestão de competências acumuladas e ativos específicos ao longo do tempo, (Path

Dependency);

 Adaptação à pluralidade de Ambientes de Seleção;

 Desenvolvimento de Competência Central (Core Competence).

Cabe compreender melhor o significado de cada um desses itens:

Lidar com Aprendizagens e Rotinas: a aprendizagem e a rotina são temáticas

recorrentes na teorização evolucionista sobre a firma, a aprendizagem é coletiva e cumulativa.

Para aprender, a firma deve lidar com processos de repetição e experimentação, que levem o

aperfeiçoamento e execução de suas tarefas com rapidez e melhorias nos processos, bem

como, criar possibilidade para a experimentação contínua de novas oportunidades

operacionais (Coriat e Weinstein, 1995):

A partir deste sentido de dependência, os evolucionistas propõem uma teoria da


transformação da firma que consiste em uma explicação largamente endógena da mudança
ou bifurcação da atividade principal. A diferenciação entre ativos primários e secundários
permite entender o sentido das bifurcações, ou entrada em novos ramos de negócios. As
mudanças das competências principais são determinadas por oportunidades tecnológicas
defrontadas pela firma. Apesar de admitir possibilidades de mudanças de trajetória, os
evolucionistas sustentam que “a história conta” (Dosi, Teece e Winter, 1992), pois a firma só
acumula com base nos conhecimentos adquiridos anteriormente, e não se desvia de sua
trajetória de forma bem-sucedida a não ser por mudanças na conjuntura econômica ou na
natureza da tecnologia.99

98 Op. cit. CORSANI, Antoella p. 137.


99 Op.cit TIGRE, Paulo Bastos. p.100
109

A aprendizagem depende das Rotinas organizacionais codificadas (explícitas) e tácitas

e são determinantes do comportamento da firma.

Gestão de competências acumuladas e ativos específicos ao longo do tempo (Path

Dependency): a evolução da firma e seu desenvolvimento, não é nem gradual, nem aleatória e

muito menos lenta. A velocidade da sua mudança depende das competências acumuladas e da

natureza de seus ativos específicos os quais são necessários gerenciamentos.

Adaptação à pluralidade de Ambientes de Seleção: a firma deve ser capaz de se

adaptar a pluralidade de Ambientes de Seleção (as firmas que não conseguem a maximização

dos lucros não são eliminadas). Suas trajetórias tecnológicas são definidas e redefinidas

adaptativamente às estruturas de mercado e às características institucionais dos ambientes em

que podem continuar sobrevivendo, evoluindo e atuando:

Os evolucionistas propõem, alternativamente, o princípio da pluralidade de


ambientes de seleção. Este princípio permite explicar a existência de trajetórias
tecnológicas diferentes e a grande variedade de estruturas de mercado e de
características institucionais dos ambientes nos quais as firmas evoluem.
Tecnologias e estruturas de mercado são consideradas idiossincráticas ao tipo de
indústria e à natureza dinâmica das configurações particulares que condicionam o
processo competitivo. É necessário, portanto, conhecer a natureza das barreiras à
entrada, da regulamentação, do grau de competição e das possibilidades de explorar
economias de escala e escopo. Os evolucionistas propõem assim um conjunto de
representações alternativas à representação tradicional da concorrência, geralmente
limitada a taxonomias mais ou menos amplas de configurações de mercado.100

Desenvolvimento de Competência Central (Core Competence): a competitividade é


dada por um conjunto de competências tecnológicas diferenciadas, de Ativos
Complementares e de Rotinas (Core Competece) que são tácitas e não transferíveis,
individualizando a firma e dando a mesma uma característica única e diferenciada:

O conceito de competência central, desenvolvido principalmente por Teece, Dosi e


Winter, é importante para definir uma firma, explicar por que elas diferem e como
elas evoluem. A partir dele foram elaboradas tipologias sobre a “coerência” da
firma e suas possíveis estratégias de crescimento: especialização, integração
vertical, diversificação, conglomeração, participação em redes e estratégias.
“vazias” (apoiadas na sub-contratação).101

100 Op.cit TIGRE, Paulo Bastos. p.100-101


101 Op.cit TIGRE, Paulo Bastos. p.101
110

Coriat e Weinstein (1995) fazem um levantamento dos problemas que a teoria

evolucionista apresenta a despeito da sua importância teórica e conceitual para melhor

compreensão da firma contemporânea no paradigma pós-fordista. Assim, segundo os autores,

o evolucionismo é ainda incipiente do ponto de vista teórico:

• Falta nas teorias evolucionistas da firma um tratamento das condições históricas


(e sociais) que estão na base das inovações organizacionais, das competências e
rotinas. A contribuição de Chandler não foi retomada pelos evolucionistas.
• Não leva em consideração o conflito entre acionistas e gerentes, que a partir de
Berle e Means (1932) cobre uma parte crucial da literatura sobre a firma. Os
evolucionistas “esquecem” a gerência. Os conflitos e a falta de coerência não são
tratados na dimensão institucional, mas apenas tratados segundo o aspecto
cognitivo.
• Falta uma reflexão sistemática sobre as noções de comando e controle inerentes às
rotinas. As contradições entre capital e trabalho são esquecidas. Evolucionistas se
preocupam com a formação de habilidades técnicas e gerenciais (skills), mas
esquecem as questões relacionadas à formação do salário e à repartição dos
excedentes.
• A dimensão social e institucional é perdida atrás do cognitivismo e da metáfora
biológica. Só poderemos entender a firma se a consideramos uma “instituição
social”. A firma é um conjunto de competências organizacionais que apresenta
certas particularidades — ser construída no seio de instituições particulares — e
regras que são impostas aos agentes e atores sociais, cujos interesses divergem. 102

Os autores evolucionistas preocupam-se, sobretudo com a nova realidade econômica e

tecnológica da firma no século XXI. O evolucionismo está voltado ao novo paradigma

informacional, baseado nas TICs, que tem influenciado a economia mundial. Trata-se de uma

resposta teórica pós-fordista ao novo ambiente de firmas que incorporam velozmente

diferentes e inovadoras mudanças tecnológicas e organizacionais, bem como, o conhecimento

e a capacidade de aprendizado de suas equipes, em seu processo concorrencial e de

competitividade nos mercados globalizados.

102 Op.cit TIGRE, Paulo Bastos. p. 102-103


111

5.4 O MODELO DE CRESCIMENTO ENDÓGENO E A FIRMA NA PERSPECTIVA

GRADUALISTA DO PROCESSO DE MODERNIZAÇÃO

A nova teoria do crescimento ou teoria do crescimento endógeno, afirma que o

crescimento econômico de um país se deve essencialmente à acumulação de conhecimentos

que está sujeita a rendimentos crescentes. Alguns exemplos de atividades capazes de

apresentar rendimentos crescentes são os investimentos, relacionados ao desenvolvimento de

novas técnicas produtivas, a elaboração de fórmulas metalúrgicas e processos químicos, o

desenvolvimento de novos materiais e os projetos de designs mecânicos.

O resultado desses investimentos em conhecimentos, são traduzidos no

desenvolvimento de bens e de marcas, que têm duas características fundamentais: são não-

rivais e apenas parcialmente exclusivos. Conforme, Newton Paulo Bueno, o uso de tais bens

como insumo produtivo por uma firma, não excluiria sua utilização simultânea por outras

firmas virtualmente sem custos, este é um elemento característico da Nova Economia.103

Um exemplo, sobre o que foi dito acima é dado por Romer (1990a), segundo Bueno,

em que são confrontadas duas economias, operando em total isolamento, idênticas em todas

as características, inclusive na alocação dos recursos para pesquisa. Segundo a teoria clássica,

não haveriam ganhos para nenhuma delas, caso o isolamento comercial fosse rompido. No

entanto de acordo com o modelo do crescimento endógeno, os ganhos seriam bastante

significativos, pois não haveria limites para a utilização de bens não-rivais, por ambas as

firmas.

Firmas de dois países, não investem separadamente na resolução dos mesmos

problemas duas vezes, quando em atividade de comércio. Um país pode se beneficiar do

conhecimento gerado pelo outro país, o qual, não perde nada. Uma boa forma de entender o

papel chave do conhecimento nesse processo é assim indicada por Bueno:

103 Newton Paulo BUENO. A hipótese de evolução tecnológica por equilíbrios pontuados. Revista de Economia
Contemporânea. Rio de Janeiro: UFRJ, jan./jun. 2004. p. 100
112

Isso indica que a utilização de insumos não-rivais cria não-convexidades,


associadas com a existência de rendimentos crescentes de escala, que tornam a
função de produção não-côncava. Para visualizar isso, suponha-se que na função de
produção abaixo, ki representa investimento em conhecimento realizado pela firma
i, xi os demais insumos utilizados e K = Σki o estoque de conhecimento disponível.
Como o insumo conhecimento é não-rival, o aumento do investimento em
conhecimento gera retornos crescentes de escala, na medida em que o investimento
da firma individual aumenta o estoque global de conhecimento, implicando que a
produção aumentará numa proporção maior do que aumentou a utilização dos
insumos. Assim sendo, F é uma função homogênea de grau 1 nos investimentos em
conhecimento e nos demais insumos físicos, exibirá retornos crescentes em relação
ao estoque acumulado de conhecimento, e o crescimento tornar-se-á endógeno (por
causa dos retornos crescentes existentes na atividade de acumulação de
conhecimento), pois: F ( ωki, ωK, ωxi) > F ( ωki, K, ωxi) = ωF (ki, K, xi).104

Paul Romer (1990b), de acordo com Bueno, enuncia de forma semelhante um modelo
paradigmático a partir da sua teoria do crescimento endógeno, a qual confere à acumulação
de conhecimento um atributo essencial na explicação do desenvolvimento econômico e
também da firma. As principais hipóteses da evolução tecnológica por equilíbrios
pontuados105 de Romer são assim demonstradas por Bueno:

i) A economia modelada é composta por três setores: (1) o setor produtor de bens
finais, que usa como insumos trabalho, capital humano e bens de capital; (2) o setor
produtor de bens de capital, que transforma bens de consumo em bens de capital,
utilizando os designs produzidos pelo setor de pesquisa; e (3) o setor de pesquisa,
que usa capital humano e o estoque existente de conhecimento para produzir
designs de novos bens de capital, cujo montante constitui o estoque de
conhecimento da economia.

ii) O estoque de conhecimento A é definido como o número finito de bens de


capital já inventados e utilizados na produção de bens finais. Assim, se x = {xi}∞ i
= 1 é a lista dos insumos usados por uma firma produtora de bens finais, há algum
valor A tal que xi = 0 para todo i ≥ A.

iii) A é o componente não-rival do conhecimento, estando disponível para o uso de


todas as firmas produtoras de bens finais, mesmo para aquelas que não incorreram
nos custos de produção dos designs.

iv) H, a disponibilidade de capital humano, é o componente rival do conhecimento


e está dado para a economia como um todo em cada momento.

v) As firmas produtoras de bens finais e de designs são price takers e as produtoras


de bens de capital operam em concorrência imperfeita, cada uma delas produzindo

104 Op. cit. BUENO, Newton Paulo p. 100.


105 A tese dos equilíbrios pontuados foi formulada inicialmente por S. J. Gould para a biologia, e é empregada atualmente
pesquisas na fronteira da economia mainstream, esta tese ajuda a oferecer uma explicação consistente ao processo de
mudança tecnológica que é modelado pela nova teoria do crescimento, ou modelo do crescimento endógeno.
113

um tipo distinto i de bem de capital, deparando-se portanto com uma curva de


demanda negativamente inclinada por seu produto. O produto final agregado de
cada um dos setores, obedecendo às hipóteses acima, será dado por:

onde Hγ e HA são as parcelas do capital humano total da sociedade empregados


respectivamente na produção de bens finais e de novos designs, η é o coeficiente de
transformação de bens finais em bens de capital e os demais símbolos já foram
definidos anteriormente ou são os usuais em funções do tipo Cobb-Douglas.106

Na hipótese de evolução tecnológica por equilíbrios pontuados as decisões privadas de

produzir novos designs requerem uma maior alocação de capital humano em pesquisa.

Todavia, levando em conta a função de produção, ocorre um aumento do estoque de

conhecimento, o qual, pelo fato de Ter natureza não-rival, pode ser utilizado por firmas no

setor de bens finais que não tiveram custos fixos iniciais de produção dos designs. Assim,

conforme Bueno:

O aumento em A, em outras palavras (ao aumentar o intervalo de integração da


função de produção 1), aumenta os lucros totais mais do que os lucros adicionais
apropriados pelas firmas que encomendaram os novos designs de bens de capital.
Em termos mais rigorosos, a não-convexidade acima decorre essencialmente do
fato de que A entra como um insumo na produção de dois modos: indiretamente, ao
disponibilizar novos bens de capital para o conjunto da economia, e diretamente,
em conjunto com o capital humano no setor de pesquisa, ao viabilizar a produção
de novos designs de bens de capital.107

Segundo esta visão a taxa de crescimento econômico relaciona-se com a taxa de

crescimento da produção de conhecimento, através do volume do Capital Humano alocado

para pesquisa.

106 Op. cit. BUENO, Newton Paulo. pp. 101-102.


107 Op. cit. BUENO, Newton Paulo. p. 103
114

A taxa de crescimento econômico depende assim do estoque total de capital humano

do país, bem como, dos coeficientes da função de preferência intertemporal, que definem o

quanto a sociedade pode sacrificar do consumo presente, liberando capital humano da

produção de bens finais para a produção de conhecimento.

As idéias acima, formalizadas pela nova teoria do crescimento, permitem examinar e

prescrever medidas importantes a serem tomadas pelos países menos desenvolvidos,

permitindo nortear suas políticas de liberalização comercial, para permitir acelerar as suas

taxa de crescimento econômico, permitindo a esses países o verdadeiro acesso ao estoque de

conhecimento mundial, inacessível, de outro modo, em razão das deficiências em capital

humano nas economias menos desenvolvidas.

Indica-se, também, por este modelo, a importância da superação do analfabetismo

digital que pode vir a transformar muitos países em meros consumidores do estoque de

conhecimento de outros, sem produzir seu próprio estoque.

O capital humano é o elo de ligação entre o ritmo de inovação tecnológica e a taxa de

crescimento econômico.

O modelo de Romer, mostra como é possível estabelecer uma relação de

proporcionalidade entre o crescimento do produto e a taxa de inovação tecnológica, a qual

depende, por sua vez, da adequada alocação de trabalho entre a produção, a pesquisa e o

desenvolvimento. A capacidade de apropriação de lucros extraordinários gerados pelas

inovações, depende do tamanho da população do país e do grau de monopólio alcançado pelos

empresários inovadores.

Mas o modelo não é uma panacéia para todos os males econômicos, nem permite

salvar economias de paises subdesenvolvidos da noite para o dia. Este modelo aponta

soluções para problemas que estamos enfrentando e outros que ainda vamos enfrentar na

economia. Por outro lado, não podemos ter uma visão simplista dos problemas econômicos

mundiais, nos concentrando apenas na questão do conhecimento das nações e sua capacidade
115

de inovação e aprendizado, estas questões são muito mais complexas do que permite a

formalização econométrica endógena, como assinala Bueno:

O problema com a nova teoria do crescimento é que ela explica apenas uma parte
da questão. Deve ser óbvio que o crescimento econômico não depende só do
conhecimento. Se fosse assim, os países que liderassem a industrialização em uma
grande onda de inovação, como a Inglaterra no período da primeira revolução
industrial, dificilmente seriam superados por países retardatários, sendo difícil
mesmo compreender por que a revolução industrial ocorreu primeiramente na
Inglaterra, que não dispunha de muito mais capital humano do que outros países
europeus. Países com elevado nível de capital humano mas, por outro lado, onde
faltam outras condições para o crescimento, como Cuba, já teriam se inserido no
grupo dos países desenvolvidos (a respeito dessa discussão, ver Bueno, 1998). O
registro histórico, além disso, não mostra uma tendência ao crescimento gradual
dos países à medida que vão acumulando conhecimento, mas períodos curtos de
intensa atividade inovativa seguidos por períodos de estabilidade com taxas anuais
de crescimento às vezes surpreendentemente modestas, mesmo nos países líderes
(ver Crafts, 1995), exatamente como previsto pela hipótese da evolução tecnológica
por equilíbrios pontuados... 108

A hipótese de evolução tecnológica por equilíbrios pontuados, está relacionada à

história da tecnologia de um país e envolve as macromutações e as macroinvenções. Um

aspecto crucial da hipótese da evolução tecnológica por equilíbrios pontuados é que os

processos pelos quais surgem as microinvenções e as macroinvenções são bem diferentes.

As microinvenções estão ligadas à mudança tecnológica que relaciona os

investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento - P&D, com o Registro de Patentes ou

reduções de custo e respondem aos incentivos de mercado, sendo sensíveis em relação a

preços de fatores produtivos, restrições geográficas, relações de trabalho etc.

Todavia as microinvenções permanecem dentro de um mesmo paradigma tecnológico,

Enquanto que as macroinvenções criariam um novo paradigma e não poderiam ser explicadas

pelos mesmos mecanismos mencionados acima, mas por processos complexos que estão

ainda por ser compreendidos, como afirma Bueno:

108 Op. cit. BUENO, Newton Paulo. p. 104


116

Tudo o que se pode afirmar com segurança, com base na teoria da evolução por
equilíbrios pontuados, é que as macroinvenções aparecem em clusters e por isso
ocorrem os “estouros” de inovações que caracterizam as revoluções industriais.
Uma possível explicação para esse fenômeno, segundo a hipótese de evolução
tecnológica por equilíbrios pontuados do Mokyr (1990: 298), é que as
macroinvenções não são eventos independentes, mas influenciam umas as outras,
criando externalidades positivas. Um ou dois inventores isolados podem não ser
suficientes para começar uma revolução industrial, mas com alguns mais, os efeitos
mútuos de imitação e aprendizagem podem ficar fortes o bastante para começar
algo muito maior. 109

Iniciado o processo de introdução de inovações em um país, este segue a lógica de

rendimentos crescentes, utilizada pela teoria do crescimento endógeno.

A teoria do crescimento endógeno assume que a inovação tecnológica ocorre de forma

contínua ou através da introdução progressiva de microinovações, respondendo à acumulação

de conhecimento por todos os países de modo uniforme, desconsiderando suas idiossincrasias.

Já a hipótese da evolução por equilíbrios pontuados, apresenta uma interpretação mais

convincente, segundo Bueno, pois da conta das diferenças entre países e sua introdução na

história da modernização, procurando explicar aqueles momentos de inovação tecnológica

cruciais, em que ocorrem as macroinvenções, que mudam definitivamente as técnicas

produtivas.

O evolucionismo marca, juntamente com a proposta de Crescimento Endógeno de

Paul Romer, uma nova trajetória teórica e conceitual que foge aos princípios da economia

anterior inaugurando um novo Mainstream.

Na mudança paradigmática para um regime orientado pela microeletrônica e TICs,

ganha importância a difusão de inovações gerenciais e organizacionais, e em paralelo à

difusão das inovações tecnológicas.

109 Op. cit. BUENO, Newton Paulo. pp. 106-107


117

Os teóricos acima mencionados evidenciam o quanto às mudanças e as inovações são

imprescindíveis para que o potencial econômico dos países seja exercido.

Estas teorias são importantes, pois, mostram o quanto as TICs, juntamente com a

Inovação, podem se traduzir em reais aumentos de produtividade e se tornarem, cada vez

mais, condição (necessária, mesmo que não suficiente), para a melhoria dos níveis de

emprego, salários e condições de vida dos países.

As trajetórias de difusão das novas tecnologias, guardam relação com os diferentes

contextos sociais e institucionais: os fatores tecnológicos e de inovação, somados as

iniciativas das organizações e mercados, levam à mudanças institucionais e também a

mudanças no padrão de intervenção das políticas públicas, com relação a atividade de

produção de conhecimento e a aprendizagem.

Evidências empíricas disponíveis, a respeito das mudanças microeconômicas, em

curso, apontam para a constituição de um novo regime sociotécnico, ainda em processo, com

resultados identificáveis nas economias de diversos países.

Estão ocorrendo mudanças, em larga escala, que afetam estilos gerenciais, padrões

organizacionais, relações de trabalho e produção na firma contemporânea.

As novas firmas, ainda encontram barreiras consideráveis, principalmente de ordem

social e institucional para poderem continuar crescendo.

A intensiva interação entre tecnologia, firma e sociedade, tende a conformar diferentes

estruturas de aprendizado, que, por sua vez, condicionam o processo de difusão e mudança

tecnológica entre nações.

Sendo assim, não se pode pensar em mecanismos evolutivos que conduzam à

convergência para um único padrão de desenvolvimento tecnológico e organizacional, como

se existisse uma inevitabilidade histórica.

Neste sentido, a análise evolucionista, envolve o risco epistemológico de tratar

fenômenos de caráter intrinsecamente social como fenômenos evolutivos, estrito senso,


118

produzindo teses de caráter reducionista e determinista, o que é evitado no caso do modelo do

crescimento endógeno.

O pensamento econômico contemporâneo sobre a firma pode e deve orientar políticas

públicas que estejam preocupadas com uma real reconversão produtiva em torno das novas

tecnologias já disponíveis. O aprendizado tecnológico é um processo que acontece em um

meio social e que, portanto, não pode ser entendido, sem levar em consideração o contexto

institucional e cultural como um todo, e não apenas o espaço empresarial.

CONCLUSÃO

As Novas Tecnologias da Informação e do Conhecimento, TICs, promoveram um

deslocamento intenso de uma parte das

atividades das firmas para sistemas de redes, bases de dados, serviços da Internet,

reticularizando a firma (Souza, 2002). A firma contemporânea é intensiva em atividades

voltadas ao conhecimento e aprendizado e atividades de conteúdo informacional, empregando

as TICs para o tratamento e difusão a

distância, de diversos tipos de informação e processos envolvendo projetos, escrita, dados etc.

A firma informacional trabalha com fluxo de informação, em grandes volumes


119

entre pessoas e organizações. Além disso, para ela o conhecimento e o aprendizado são

formadores de formas de Capital Intelectual que influenciam sua atividade.

Investigou-se na presente monografia, o processo de mudança das firmas relacionados

aos diferentes paradigmas organizacionais, desde o seu início com a Revolução industrial

britânica, até o aparecimento das primeiras Redes Organizacionais da Era da Informação,

chamadas, de rede de organizações, em um processo chamado de reticularização da firma.

Vimos que as firmas, em seu desenvolvimento, começaram a mudar muito mais rápido

após a Era Industrial, dando origem a tipos de organização bastante diferenciadas umas das

outras e que ultrapassam as caracterizações correntes, conhecidas na literatura sobre a firma.

A compreensão de firma, na visão de Bastos Tigre, guarda uma relação com a teoria na

qual a firma se insere e por isto, com a visão de mundo que a teoria assume. Assim,

recuperamos historicamente aspectos tanto teóricos como empíricos sobre a firma.

A nova perspectiva da Firma da nova economia, se opõe radicalmente ao ponto de

vista neoclássico, nesta primeira perspectiva informacional, as relações que ligam atores e

instituições numa rede dentro da economia são vistas como elos que as ligam umas as outras

reticularizando-as e dando à economia sua característica particular.

A nova firma da economia informacional envolve o reconhecimento amplamente

aceito, da existência de esquemas organizacionais mistos, operando com formas e com

mecanismos distintos de coordenação no interior de uma economia baseada na informação,

cujos desafios não estão apenas nas mudanças, mas na velocidade das mudanças.

Vimos com Bastos Tigre, que ao analisar a evolução das teorias da firma, o

pesquisador se dá conta que há uma grande carência de análises empíricas sobre o

funcionamento da firma ao longo da história.

As diversas críticas às tradicionais teorias da firma, feitas contemporaneamente,

contam com o apoio de teóricos que buscam compreender de modo novo a realidade,

identificam paradoxos na economia e buscam novas conceituações, auxiliadas pela

incorporação de aportes científicos interdisciplinares e por dados estatísticos que mostram


120

mais claramente o padrão de crescimento da firma e da economia.

A análise de Tigre, que serviu de guia à esta monografia, permitiu a constatação de que

é possível proceder-se historicamente no campo econômico proporcionando-se assim, uma

revisão das teorias das firmas à luz das mudanças tecnológicas ocorridas no passado e que

estão ocorrendo no presente. Aliás, este foi o caminho desta monografia, que se concentrou

sobre a nova Economia Informacional, para entender o enfoque da inovação e das tecnologias

sobre a firma.

As firmas da Economia Informacional são voltadas ao trabalho em equipe, integrando

tais times através de tecnologias informatizadas para redes. As firmas, passam posteriormente,

a empregar tal integração para a Gestão de Conhecimento e produção de Capitais Intelectuais,

criando firmas diferenciadas com alto valor agregado, que merecem um estudo mais

aprofundado.

Desde a Era da Informação toyotista, até o estabelecimento da Economia

Informacional, a formação das Redes de firmas está ligada a fatores históricos, econômicos,

sociais, culturais e tecnológicos relacionados à passagem da Era Industrial para a Era da

informação e desta para a Era do Conhecimento, ou simplesmente Sociedade do

Conhecimento.

Entendemos com esta monografia que o estudo das mudanças das firmas até a

formação de Redes Organizacionais decorrem de uma separação bem nítida entre Economia

Industrial (cujas regras são a da Escassez) para Nova Economia Informacional, (cujas regras

são a Abundância). Tornando-se a Atenção dos clientes e mercados uma espécie de “produto

escasso”.

Notamos que fenômenos de globalização e a Economia Informacional intensificaram a

formação de redes e a preocupação com o conhecimento e as TICs, entendidas, como

diferencial competitivo, cada vez mais valorizado em diversos setores organizacionais.


121

Vimos que as firmas da Economia informacional possuem um estilo de gestão Web e

tem foco na Inovação Organizacional, a qual depende das ferramentas da Internet e das TICs,

desenvolvidas e gerenciadas para a melhoria do desempenho e competitividade das firmas.

Voltando ao caminho percorrido nesta monografia, contatamos que dão forma à firma:

as tecnologias, a inovação organizacional e as formas de organização de trabalho (paradigmas

de produção), como por ex. o paradigma da Revolução industrial, o paradigma fordista, o

paradigma toyotista e o paradigma informacional.

Também dão conformidade à firma, as estrutura macroeconômicas (tipos de regimes

de acumulação), além de um conjunto de normas implícitas e de regras institucionais (modos

de regulação) relativos às relações salariais e a concorrências entre capitais, além de uma

configuração internacional dos mercados e firmas, que representam uma dada visão

econômica de cada época (paradigma econômico).

No que concerne aos consumidores, na visão neoclássica, vimos que estes, ao menos

do ponto de vista teórico, decodificam sem dificuldades todas as informações a respeito dos

atributos dos bens, e são capazes de escolher racionalmente entre bens alternativos. A firma é

assim, considerada um agente individual, interagindo com agentes semelhantes: os

consumidores individuais em um mercado. Constatamos que na Economia informacional

estas relações mudaram radicalmente.

Vimos, de acordo a análise da firma de Bastos Tigre, que, no contexto da concorrência

perfeita, a função precípua da firma é transformar insumos em produtos, e para tanto cumpre á

firma o desenvolvimento da economia, as partir da seleção das técnicas mais apropriadas e

aquisição dos insumos necessários no mercado (incluindo trabalho e a tecnologia).

A escola neoclássica conforma a firma em ambiente competitivo simples, previsível e

inerte. Esta imagem de firma é coerente com as premissas do sistema econômico neoclássico,

baseado nos princípios de equilíbrio geral de Leon Walras. O lucro, neste caso, é considerado

um resíduo do valor das vendas, depois de remunerados os diferentes fatores de produção. O

preço de venda, assim como a taxa de remuneração do trabalho e do capital, é determinado


122

pelo mercado, sendo, portanto externo à firma. Walras, por exemplo, argumenta que a firma

atinge um equilíbrio quando o resíduo desaparece através da concorrência entre

empreendedores.

Por outro lado, Com a Nova Economia o lema "pensar global, atuar local" dos anos 80

é substituído pelo lema "pensar local e agir global". Novos mecanismos de produção

aparecem com as TICs, com a Internet e com a competição em torno da Inovação tecnológica

a qual comanda variados “nichos” de mercado: realidades que influem sobre as teorias da

firma e do consumidor, criando uma nova realidade econômica ainda desconhecida dos

economistas.

Na pesquisa para o presente trabalho vimos que o setor comercial na economia

informacional estabelece e se fortalece a partir de Comunidades de interesses interativas, que

passam a ser o motor do mercado, a atenção destas comunidades e do consumidor individual é

disputada nestes novos mercados.

Constatamos também que nesses novos mercados, as firmas reticuladas, como analisa

Souza, estabelecem Plataformas de ligação, isto é, os crescimento dos negócios na rede são

pensados como plataformas para outros se juntarem e se conectarem na execução de

transações, no fornecimento de serviços ou na disponibilização de conteúdos, através de

diversos nódulos nas redes.

No mundo da nova economia, os próprios consumidores podem difundir, divulgar,

vender ou acabar com o ciclo de vida de um produto, não se trata mais de empurrar uma

mercadoria para os cliente, são eles que puxam a informação que querem e interferem no

produto que desejam. Por isso, as empresas da economia informacional pensam na relação

com os clientes todo o tempo, e criam produtos e serviços que possam dar poder, isto é,

enpowerment ao consumidor. O produto escasso é a atenção dos consumidores.

A firma na nova economia se apresenta de forma distinta e independente, como afirma

Bill Gattes, inspirado nos teóricos evolucionistas, a firma se comporta como um sistema
123

biológico darwinista: como um sistema nervoso que engloba transações tradicionais e

inovadoras num sistema competitivo e cooperativo.

Vimos ao mesmo tempo, que o negócio da nova economia não é absolutamente um

apêndice do negócio tradicional ou das transações da economia tradicional.

Constatamos também que o desafio dos estudos teóricos sobre a nova economia,

consiste em acompanhar a forma como as empresas estabelecidas na economia tradicional

fazem a transição para o mundo da Economia Informacional.

As tecnologias de redes repercutem sobre o aparato cognitivo e intelectual das

empresas, mudando as formas de representação que as sustentam. Isto tem se refletido sobre o

design das organizações neste fim de século, fazendo com que os teóricos reflitam sobre e

sobre os seus modos de representar a realidade, o valor e os potenciais de seus ativos

intangíveis e capacidades intelectuais e criativas, a serem incorporados nos novos modelos

econômicos da firma.

As empresas tem se preocupado hoje, não apenas com as tecnologias duras, mas

essencialmente com as tecnologias intelectuais, soft: com aprendizado e os conhecimentos

tácitos, aqueles que tem por objetivo ampliar as capacidades cognitivas e a inteligência da

firma.

As organizações em rede podem existir para intercâmbio de informações, de serviços,

para apoiarem ou participarem de um dado processo em uma atividade empresarial em que

diversas organizações podem cooperar, nestas redes as atividades estão distribuídas em torno

de um sistema de parcerias e relacionamentos diversos, tendo por base as tecnologias e as

redes informatizadas.

As firmas em rede, conforme Souza, são formadas por links de relacionamentos em

uma estrutura reticulada, tal estrutura não é rigorosa ou rígida. As organizações em redes

fomentam atividades de valor agregado, assumem formas e relacionamentos, os mais


124

diferentes que podem variar do formal para o informal, existir temporariamente ou perdurar

por muitos anos.

As firmas em rede podem ter múltiplas funções dentro da rede na qual se encontram.

Ser pequena ou grande, não é garantia de sucesso, o que importa para o sucesso da firma é a

sua atuação na rede e a sua capacidade de cooperar e funcionar coordenadamente em

atividades afins com outras firmas. Sua integração a uma rede maior e o seu compromisso,

seriedade e honestidade vão lhes garantir inteira confiabilidade dentro da rede, e isto faz os

negócios funcionarem na nova economia.

A integração a uma rede, posiciona uma firma frente as suas concorrentes, parceiras e

a sua clientela, seja pela cooperação, pela competição ou pela busca de oportunidades. A

integração a uma rede, demonstra a capacidade de uma firma em obter sucesso pelo

estabelecimento de relacionamentos e cooperação.

As lideranças nas organizações em rede, se definem em torno da relevância das

informações que detém ou que são capazes de agenciar, do contexto da atividade e do papel e

objetivo de cada firma na rede. Estas lideranças se redefinem conforme os diferentes

contextos e estados em que se encontra a rede: o mercado é a rede.

As redes de firmas são marcadas pela existência de lideranças que são capazes de

coordenar o trabalho de equipes sem a necessidade de estruturas hierárquicas, mas em torno

de competências e interações que envolvem sobretudo o gerenciamento de informações e

conhecimentos. Além disso, tais lideranças devem estar preparadas para a mediação e

resolução de conflitos e problemas em tempo real, empregando estrategicamente as

informações e conhecimentos disponíveis e os que puder conseguir na rede.

As atividades organizacionais das firmas em redes tecnológicas e de relacionamentos,

não são de todo desierarquizadas, algum tipo de hierarquia perdura, mas não nos moldes

tradicionais. Nada que envolva privilégios, poder, mas a capacidade de gestão do

conhecimento e a manutenção do fluxo de informações e conhecimentos voltados a


125

competitividade. A cooperação e a tomada de decisões dentro da rede é baseada em

conhecimentos partilhados. Uma firma poderosa fora de uma rede, pode não sê-lo na mesma.

As firmas em rede funcionam de maneira coordenada e cooperativa conforme o grau

de responsabilidade e comprometimento de suas equipes numa atividade ou processo de

produção dentro da rede. A familiarização com a atividade em equipe, baseada em graus de

coordenação e cooperação é fundamental para a gestão de uma rede de firmas, dela depende o

fornecimento e as trocas de informações e transmissão de informações e do conhecimento

pelo aprendizado.

Outro aspecto, relativo às firmas em rede, diz respeito aos interesses e objetivos

comuns envolvidos nos relacionamentos dentro da rede, como fator de reforço entre links ou

nódulos e criação de novos links para a rede de relacionamentos. Quanto mais extensos e

múltiplos forem os relacionamentos, maior a possibilidade de comprometimento e realização

de novos relacionamentos, quanto mais intensos forem os interesses e motivações na rede,

maior será a busca pela coordenação e trabalho em equipe e pelo reforço dos relacionamentos,

isto vale para realização de negócios e não somente para os processos de organizações

internos à firma (Souza, 2002).

Os relacionamentos na rede se caracterizam, tanto pela qualidade das informações e

conhecimentos gerados e difundidos, quanto pela abertura confiança e compromisso com

projetos, tarefas, atividades e negócios realizados. 110

As firmas em redes produzem efeitos de rede multiplicadores de relacionamentos,

idéias e conhecimentos para as organizações e levam à expansão das redes de firmas, fazendo

com que seja quase obrigatório estar conectado a pelo menos uma rede, dentro do universo

organizacional reticulado(mercado global), para fazer negócios.

As redes constituem, hoje, os meios e as formas de organizar um empreendimento, e

para isto, se faz necessário o desenvolvimento de capital humano, através do aprendizado, de

110 Cf. Chuck MARTIN,. O patrimônio Digital. Sao Paulo:Makrom Books,1998. pp.73-99.
126

tecnologias e suas inovações, estes, juntamente com o conhecimento, estão caracterizando e

diferenciando as organizações do século XXI e por isto, não apenas, oferecem inúmeras

vantagens às firmas, como tornam-se objeto de analise econômica, relacionados a:

 Diluição de certos riscos pelo compartilhamento de recursos e serviços de diversos

tipos;

 Impedimento da duplicação de esforços independentes em torno de um mesmo

objetivo;

 Aumento da flexibilidade organizacional;

 Maior acesso ao Know-How compartilhado e às informações;

 Facilidade de criação de parcerias;

 Redefinição das fronteiras externas e internas, reunindo de maneira profícua

associados, acionistas, competidores, colaboradores, fornecedores, clientes e outros

envolvidos de algum modo com a firma;

 Criação de novas estruturas organizacionais distribuídas com grande atuação na

resolução de problemas.

No que concerne aos aspectos teóricos da firma vimos que, no passado os economistas

neoclássicos se distanciavam da realidade da firma, trabalhavam com o pressuposto teórico,

Ceateris Paribus, tudo deveria permanecer tal como previsto para que seus instrumentos

conceituais e teóricos funcionassem. Vimos que ao longo do tempo, a firma e os mercados

mudaram, mas os modelos teóricos sobre o comportamento da firma permaneciam estáticos e

por demais abstratos, se distanciando da realidade a ser explicada, havendo uma necessidade

de realismo da parte das teorias e modelos econômicos.

Vimos também que, os ganhos de produtividade aparente, que levaram a difusão do

fordismo, isto é, da firma fordista-taylorista, repercutiram na economia mundial de forma

importante, caracterizando um paradigma econômico novo, com influencia sobre o


127

crescimento econômico das nações até meados da década de setenta, quando diversas

transformações e crises na economia começam a despontar.

Os economistas, desde Marchall, já haviam constatado uma discrepância entre teoria e

realidade nos modelos neoclássicos oferecidos para dar conta da nova realidade industrial da

firma fordista. A noção de rendimentos decrescentes mostrava-se notadamente incompatível

com a nova realidade das economias de escala. Revela-se também que a teoria estática do

equilíbrio também não tinha como ser coerentemente aplicada à analise de produtos sujeitos a

lei de rendimentos crescentes.

Trabalhos na área econômica relacionados a adequação das teorias da firma, procuram

entender e discutir e criar novos modelos para estes novos cenários, em que se encontram as

firmas toyotistas da automação, as redes de firmas, os oligopólios globais reticulados (em

rede) e suas transações financeiras e comerciais estabelecidas através das novas TICs.

As atividades da firma informacional, em curso nos negócios atuais, se traduzem numa

economia baseada em redes informatizadas, telecomunicações e serviços de Internet e em

novos modelos de gestão e organização.

Vimos também, o modo como os teóricos neo-istitucionalistas vêem a nova economia

e compreendemos seus pressupostos sobre as diferenças entre as performances econômicas

dos paises, e como estes relacionam-se as conformidades de suas instituições, as quais se

estruturam sobre uma base histórico-institucional ou path dependency. A path dependency

constitui o elo entre as estruturas institucionais do passado e do presente, marcando trajetória

institucional das firmas.

Vimos com o estudo do Evolucionismo que para entender a firma é importante

explicar o movimento/evolução que permeia a atividade de produção.

O evolucionismo mostra o quanto é importante entender, como a estrutura econômica

industrial e tecnológica muda ao longo do tempo. Estes neo-schumpeterianos, como vimos,

preocupam-se com a mudança da firma, a inovação e deste modo, com a economia


128

informacional. Eles entendem que indivíduos e organizações são entidades que aprendem,

esta visão é um reconhecimento da nova realidade da firma contemporânea.

O evolucionismo, tendo em vista as estruturas em rede da economia contemporânea,

procura explicar os procedimentos de tomada de decisão pelos agentes econômicos, a partir

de sua relação com outros agentes e da diversidade de posições dos mesmos. A hipótese

cognitivista do evolucionismo tem haver com a Nova economia em que se valoriza os

mecanismos mentais de decisão, criação e produção na atividade da firma. Por esta razão, o

evolucionismo propõe que a produção deve ser baseada na Criatividade e Socialização dentro

do espaço interno da firma.

Por fim vimos com a Nova teoria do crescimento ou Teoria do Crescimento Endógeno

que o crescimento econômico de um país ou redes de firmas se deve essencialmente à

acumulação de conhecimento a qual está sujeita a rendimentos crescentes. O resultado desses

investimentos, em conhecimento, são traduzidos no desenvolvimento bens.

Vimos, também, que teoria do crescimento endógeno assume que a inovação

tecnológica ocorre de forma contínua ou através da introdução progressiva de

microinovações, respondendo à acumulação de conhecimento por todos os países ou firmas de

modo homogêneo.

As correntes e autores mencionados apontam para um novo panorama teórico com fins

a construção de uma nova teoria da firma, capaz de dar conta dos fenômenos organizacionais

contemporâneos sobre os quais a firma se estrutura.

Concluímos com o presente trabalho que para entender o funcionamento das

economias capitalistas, temos que considerar o progresso técnico: o entendimento de como a

tecnologia afeta a economia é fundamental para a compreensão do crescimento da riqueza dos

países e firmas e da dinâmica da economia contemporânea.

Além disso, o processo de globalização trouxe novos desafios relacionados a teoria da

firma. Ao entendermos o papel das inovações, concluímos que, elas transformam não apenas a
129

economia, mas afetam as estruturas organizacionais, o aprendizado e a configuração da firmas

em cada época, modificando a realidade econômica e social, além de aumentarem a

capacidade de acumulação de riqueza e geração de renda.

Aprendemos que a inovação tecnológica tem uma intrínseca relação com a dinâmica

de crescimento econômico e seus efeitos sobre a sociedade.

Entendemos com os diversos economistas estudados que, a produção da riqueza de

uma sociedade depende de inúmeros de fatores, além da inovação tecnológica e

organizacional. Ela é determinada, fundamentalmente, pela disponibilidade de recursos

naturais, estoque de capital e conhecimento disponível, volume e grau de qualificação de sua

mão de obra e aprendizado.

Nas teorias mais tradicionais da economia, a tecnologia estabelece como diversos

fatores econômicos poderão ser combinados para a produção de bens e serviços. Nos modelos

de desenvolvimento econômico, como o de Robert Solow, a tecnologia é um fator exógeno ao

desenvolvimento, estando relacionado à simples e natural evolução dos mercados, que

respondem ao crescimento da poupança e do investimento.

Por outro lado, os teóricos neo-schumpeterianos, entendem que visão neoclássica

reduz a importância que a tecnologia efetivamente tem como motivadora do desenvolvimento,

sendo considerada uma variável endógena na economia.

Vimos que para a escola de pensamento neo-schumpeteriana, tecnologia é a principal

arma dos empresários e do próprio governo para a promoção de competitividade e progresso

social.

Devemos acrescentar que o modelo mais aceito atualmente para a compreensão do

papel da inovação tecnológica e das relações entre as firmas é o chamado “chain-linked” que

é divulgado pela OECD. 111

111 Sigla para Organisation for Economic Co-operation and Development (http://oecd.org)
130

Segundo este modelo, devemos, para entender a firma e suas relações dentro dos

mercados contemporâneas, partir de suas repetidas interações e retroalimentações, as quais

caracterizam o processo de inovação e são representadas em torno da atividade de design, ou

projeto o qual é a atividade fundamental da firma na nova tecnologia.

Neste enfoque, neo-schumpeteriano, uma inovação científica e tecnológica consiste na

transformação de uma idéia em produto novo ou aperfeiçoado, introduzido com sucesso no

mercado. O processo de inovação tecnológica, neste sentido, é bastante complexo e requer a

interação de um conjunto de instituições e de competências.

Para a OECD, as firmas em rede devem ser integradas as redes de instituições dos

setores públicos a partir dessas interações se podem criar Sistemas Nacionais de Inovação,

fundamentais ao desenvolvimento dos países.

A busca por inovação e conhecimento tem sido permanente na Nova Economia e é

inerente ao processo de concorrência entre as empresas e da acumulação de capital.

As economias dinâmicas e mais desenvolvidas têm na inovação, nas universidades e

nas descobertas cientificas um de seus principais mecanismos de funcionamento. A forma de

concorrência mais importante entre as firmas dessas economias é pela inovação,

desenvolvimento do conhecimento e pela diferenciação possibilitada, pela incorporação de

progresso técnico e cientifico, seja no campo das tecnologias de produto ou de processo de

produção.
131

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