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Geopolítica

mundial
Material Teórico
Fim da Bipolaridade

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Ms. Flávio Silva

Revisão Textual:
Profª. Ms. Rosemary Toffoli
Fim da Bipolaridade

·· Introdução
·· Os Modelos Capitalistas
·· A Nova Ordem Mundial
·· A Periferia
·· Estado-Nação
·· Focos de Tensão e de Conflito

··Analisar o período que envolve o fim da bipolaridade entre os EUA e a


URSS, portanto, das ideologias capitalistas e socialistas.

Esta unidade sobre Geopolítica tem o objetivo de destacar a Nova Ordem Mundial e seus
modelos capitalistas, além do novo conceito de subdesenvolvimento, após o fim da Guerra
Fria. Estudaremos também os conceitos de Estado, Nação e Estado-Nação e os focos de
tensão e de conflito que assolam o mundo neste século.
É importante que você leia todo material teórico com atenção e assista às videoaulas para
que possa construir o conhecimento acerca do tema.
Ao final, as referências bibliográficas poderão ser utilizadas, caso você queira, para que se
aprofunde no tema.
Lembro também que, esta disciplina faz parte da grade curricular do seu curso, portanto, é
importante ao seu processo de formação.

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Unidade: Fim da Bipolaridade

Contextualização

Ideologias nacionalistas e foco de conflito


O Talibã é um grupo político que atua no Afeganistão e no Paquistão. A milícia tem origem
nas tribos que vivem na fronteira entre esses dois países e se formou em 1994, após a
ocupação soviética do Afeganistão (que durou de 1979 a 1989) e durante o governo dos
também rebeldes mujahedins.
Apesar de islâmico, esse governo era considerado muito liberal, deixando descontentes os
muçulmanos mais extremistas. Assim, a milícia invadiu a capital Cabul e tomou o poder,
governando o país de 1996 até a invasão americana, em 2001. Apesar de ter sido destituído
do governo formal, o grupo continuou sendo influente.
Atualmente, o objetivo do Talibã no Afeganistão é recuperar seu território e expulsar os
invasores dos Estados Unidos e da OTAN. Para tentar desestabilizar o inimigo, o grupo utiliza
táticas de guerrilha e ataques de homem-bomba. Uma hipótese é que o dinheiro para financiar
as ações venha de tributos cobrados dos plantadores de ópio. Mas a característica principal do
grupo é ter uma interpretação muito rígida dos textos islâmicos, incluindo proibição à cultura
ocidental e a obrigação ao uso da burka pelas mulheres.
Um dos maiores erros que o ocidente comete em relação ao Talibã é confundi-lo com os
terroristas da Al Qaeda, já que o Talibã é provincial, age apenas na sua região e não tem nada
a ver com os ataques a países do Ocidente.
Outra diferença entre as milícias é que a Al Qaeda é composta por árabes, enquanto o Talibã
congrega indivíduos das tribos afegãs, a maioria deles da etnia pashtun. Porém, apesar das
ideologias distintas, os dois grupos são aliados e se ajudam nas questões de logística, armas e
dinheiro. Além disso, quando expulso de vários países, Osama Bin Laden, um dos fundadores
da Al Qaeda, foi acolhido pelo Talibã, no Afeganistão.
Fonte: Gente que Educa/Editora Abril. Extraído integralmente.

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Introdução

Como foi visto na unidade anterior, no período entre o final da Segunda Guerra Mundial
e até a década de 1990, o mundo foi dominado por uma ordem bipolar que o dividia em
capitalista e socialista. O principal símbolo desta divisão era o Muro de Berlim que separava a
Europa em dois blocos. Com a sua queda, em 1989, podemos considerar que tenha sido este
o fim do marco desta divisão, já que, alguns anos mais tarde, a União Soviética e o próprio
socialismo deixariam de existir.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, ocorrido em 1945, várias alterações geopolíticas
ocorreram, principalmente na Europa. A Inglaterra, por exemplo, que mantinha um forte
domínio sobre várias regiões do globo durante os séculos anteriores, perdeu esta hegemonia,
principalmente na década de 1950, com o fim de sua dominação colonial. A nova potência
hegemônica que surgia, em decorrência dessa situação, foram os EUA (Estados Unidos da
América) que consolidou seu domínio capitalista, através de investimentos e implementação
do comércio com todos os continentes.

As então chamadas empresas multinacionais oriundas dos EUA, rapidamente se espalharam,


principalmente na África e na Ásia que, deixando de ter o perfil de colônias, passaram a
ser economias subdesenvolvidas. Já na América Latina, havia uma rivalidade pelo domínio
econômico, político e cultural entre os americanos e os ingleses, no entanto, o status social
divulgado pelos EUA através de filmes hollywoodianos, por exemplo, acabou sendo para
muitos cidadãos desses países um objetivo a ser atingido.

Em meados da década de 1950, o Produto Nacional Bruto1 dos EUA era equivalente ao
PNB de todos os países capitalistas desenvolvidos. Com a URSS não era diferente, pois o
valor anual de produção econômica era superior à soma de todos os países com economia
planificada.

No início da década de 1990, o PND da União Soviética era equivalente, no máximo, ao


do terceiro mundo, tal como a economia dos EUA que, apesar de ser superior a dos demais
países, já havia diminuído de forma sensível. Um fato que comprova isso é a comparação da
produção econômica dos doze países do Mercado Comum Europeu, à época, que era bem
superior a dos norte-americanos.

1 Produto Nacional Bruto (PNB) refere-se a soma de todas as riquezas produzidas por uma nação em um determinado período, considerando
o que é produzido em território nacional ou em territórios de outros países (empresas multinacionais).

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Unidade: Fim da Bipolaridade

A tabela a seguir demonstra a evolução dessa disparidade:

As maiores economias do mundo (em US$)


1950
País PNB / TOTAL RENDA / PER CAPITA
EUA 381 bilhões 2.536
URSS 126 bilhões 699
Reino Unido 71 bilhões 1.393
França 50 bilhões 1.172
Alemanha Ocidental 48 bilhões 1.001
Japão 32 bilhões 382

1980
País PNB / TOTAL RENDA / PER CAPITA
EUA 2590 bilhões 11.360
URSS 1205 bilhões 4.550
Japão 1157 bilhões 9.890
Alemanha Ocidental 828 bilhões 13.590
França 633 bilhões 11.730
Reino Unido 443 bilhões 7.920

1992
País PNB / TOTAL RENDA / PER CAPITA
EUA 5686 bilhões 22.560
Japão 3338 bilhões 26.920
Alemanha 1517 bilhões 23.650
França 1161 bilhões 20.600
Itália 1072 bilhões 18.580
Reino Unido 964 bilhões 16.750
Canadá 569 bilhões 21.260
Espanha 487 bilhões 12.460
Rússia 480 bilhões 3.220
Tabela 1 - Fonte: VESENTINI, 1996, P.19

Obviamente, o desenvolvimento demonstrado, que não foi uniforme nos países citados,
teve fundamentos: com a Guerra Fria, os gastos das duas superpotências (EUA e URSS)
na área militar foram assombrosamente altos, com a corrida armamentista e a instalação e
manutenção de bases militares nos mais diversos países. Para se ter uma ideia do volume de
gastos, no início da década de 1990, os EUA e a URSS tinham, cada um, um contingente de
500 mil soldados alocados e instalados em bases militares fora de seus respectivos territórios.

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Tal fato provocou situações que beneficiaram a outros países, como, por exemplo, o Japão
e a Alemanha Ocidental, já que, por uma imposição do pós-Segunda Guerra, não tiveram
gastos militares significativos, já que tinham tropas estrangeiras em seus territórios. Além disso,
a necessidade de se manter uma posição geopolítica pelos EUA ou pela URSS, praticamente
os obrigou a assinar acordos ou alianças que não eram vantajosos economicamente, mas
somente do ponto de vista do domínio geopolítico, tal como aconteceu, por exemplo, com
Cuba, localizada próximo aos EUA, na América Central, tendo sido um país beneficiado, com
veemência, pela URSS, com a aquisição de petróleo subsidiado pela superpotência socialista
ou, até mesmo, pelos EUA que, através do Plano Marshall, fizeram financiamentos a fundo
perdido (não recuperável) à Europa Ocidental ou ao Japão, através do Plano Colombo2 , na
década de 1950.
Após a recuperação da economia europeia, para continuar a garantir a expansão industrial
da Europa, os EUA continuaram a importar produtos manufaturados que, por consequência,
promoveu várias falências no setor industrial norte-americano, já que ocorreu em várias
situações, a prática de dumping 3 que promovia aos produtos manufaturados na Alemanha e
do Japão, um custo bem menor do que o similar manufaturado nos EUA.

Figura 1 - O MUNDO BIPOLAR DE 1945 ATÉ 1991

Fonte: VESENTINI, 2003, P.88

2 Plano Colombo foi, em seu início, um programa destinado a auxiliar economicamente os países do continente asiático em decorrência a
devastação ocorrida como resultado da Segunda Guerra Mundial.
3 Dumping é o termo utilizado para uma prática de concorrência industrial em que o preço final do produto é praticado em um valor abaixo
do custo para produzi-lo.

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Unidade: Fim da Bipolaridade

Os Modelos Capitalistas

Quando se faz referência ao capitalismo, principalmente no período a partir de 1990,


pós mundo bipolar, depara-se com várias linhas de trabalho, ou de pensamento, que foram,
inclusive, adotadas de forma diferente pelos países. Veremos algumas dessas linhas.
Neoliberalismo implementado pela então chamada “dama de ferro”, a primeira ministra
britânica, Margareth Tatcher4, tinha como uma de suas premissas a diminuição de gastos
públicos, como, por exemplo, a redução de gastos sociais do governo, além do incentivo
às empresas a migrarem de locais em que os salários fossem mais altos, para outros onde a
mão de obra fosse mais barata. Teve um forte apoio do presidente norte-americano Ronald
Reagan5 .
Capitalismo participativo, adotado pelo Japão, Alemanha e Itália, esta ordem, ao
contrário do neoliberalismo, não tinha como objetivo a redução de salários ou a redução dos
gastos sociais, mas, sim, uma política de incentivo aos trabalhadores, com investimentos em
educação, saúde, treinamentos, participação nos lucros das empresas, entre outros. O objetivo
era o aumento da produtividade e da qualidade.
A diferença entre os dois modelos está, exatamente, na intervenção do Estado: no caso
do neoliberalismo, o objetivo é que o Estado intervenha o mínimo possível. As políticas
industriais, por exemplo, devem ficar a cargo das empresas, motivo este que, nas décadas de
1970 e 1980, os EUA não formularam nenhuma política industrial. Um ponto que deve ser
considerado é o de que as empresas têm estratégias particulares, ou seja, o que interessa a
uma, nem sempre interessa a outra.
Já no caso do capitalismo social ou participativo, o Estado assume o controle estratégico
da vida econômica, no entanto, sem que assuma qualquer vínculo empresarial. Deve criar
políticas voltadas à exportação, inovação tecnológica, formação de mão de obra qualificada
e implementar metodologias e ações que evitem demissões e a garantia de se evitar
desabastecimento agrícola, com políticas de preços mínimos aos produtos do agronegócio.

4 Margareth Thatcher (1925-2013) foi a primeira mulher a ocupar o cargo de Primeiro-Ministro da Grã-Bretanha. Assumiu o posto em em
1979, tendo seu governo, durado por 11 anos.
5 Ronald Wilson Reagan (1911 -2004) foi o 40º Presidente dos Estados Unidos da América (1981-1989). Antes de assumir a Presidência
dos EUA, Reagan foi ator de Hollywood e Governador da California.

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A Nova Ordem Mundial

Após o fim da Guerra Fria, ou da Ordem Bipolar, portanto, de duas ideologias que coexistiam,
o cenário geopolítico mundial adotou um novo conceito de relações entre os Estados Nacionais.
Com o fim da URSS, a soberania capitalista e dos EUA se disseminou por todo o planeta e a
OTAN passou a ser a maior força militar do planeta. Tais situações permitiram o aparecimento
de várias expressões para definir esta Nova Ordem Mundial.
··Unipolaridade – os EUA passaram a ter total soberania, do ponto de vista militar, já
que nenhuma outra nação tem o mesmo poderio de confronto;
··Multipolaridade – o poderio militar deixa de ser o principal quesito para definir a soberania
de um Estado sobre outro. Aparece nesta situação o poder econômico, com o surgimento de
outras forças capazes de competir com os EUA, a saber, a União Europeia, Japão e a China.
··Unimultipolaridade – este termo abrange os outros dois conceitos citados, tanto do
ponto de vista militar, quanto na esfera econômica.
Vimos, na unidade anterior, que o mundo era dividido em primeiro mundo (capitalistas
desenvolvidos), segundo mundo (socialistas desenvolvidos) e terceiro mundo (países
subdesenvolvidos). A partir da nova situação geopolítica, o mundo passa a ser “dividido” em países
do Norte, que são os países desenvolvidos e os países do Sul, que são os países subdesenvolvidos.
No entanto, esta divisão Norte-Sul não obedece integralmente à divisão cartográfica.
Figura 2 – O MUNDO UNIMULTIPOLAR DO INÍCIO DO SÉCULO XXI

VESENTINI, 2003, P.99

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Unidade: Fim da Bipolaridade

Os EUA não têm mais o mesmo poder econômico que tinha na década de 1950. A União
Europeia, atualmente, tem sua produção econômica superior a dos EUA; a China cresce
anualmente em um ritmo muito acima ao dos EUA, prevendo-se que, na década de 2020,
deva ter a maior produção econômica anual do planeta, no entanto, vale a pena observar que
sua renda per capta não deverá sofrer qualquer mudança significativa, devendo se manter
baixa.
Outros países também se destacaram no cenário econômico internacional, diminuindo a
diferença de suas economias em relação aos EUA, como, por exemplo, a Índia e o Brasil.
Todas estas situações corroboram a construção da nova ordem mundial, muito diferente da
ordem bipolar existente durante, praticamente, toda a segunda metade do século XX.

Após o fim da URSS e do mundo socialista, a Rússia,


utilizando seus recursos naturais como o gás e o
petróleo para exportação, promoveu uma grande
Você sabia? recuperação econômica, nos últimos anos, no entanto,
sua economia ainda é frágil e pouco desenvolvida.

A Periferia

Os países localizados no “Sul”, tidos como subdesenvolvidos ou como anteriormente


era chamado de “Terceiro Mundo” são, quando comparados entre si, dotados de uma
heterogeneidade muito grande. Vários desses países são industrializados e suas economias
encontram-se em crescimento, enquanto outros ainda mantém a situação de miséria absoluta.
Analisando sob as mas diversas óticas, podemos identificar algumas situações, através do
agrupamento desses países sob os mais diferentes conjuntos, no entanto, veremos a seguir
três tipos que consideraremos principais de países do Sul ou de periferia.
Em primeiro lugar, podem ser identificados países que tem algum tipo de desenvolvimento
social e/ou econômico e que, por consequência, são também considerados, conforme
cita Vesentini6 , “polos econômico-tecnológicos da economia mundial”, considerados uma
periferia privilegiada.

“[...] Em muitos casos eles estão integrados – ou em vias de


integração – a um importante mercado constituído por áreas
desenvolvidas.” (VESENTINI, 1996, p. 54)

Não são países isolados, ou seja, têm forte integração com os países desenvolvidos no
âmbito tecnológico e econômico, como ocorrem com os chamados tigres asiáticos7 , o

6 Vesentini, José William, doutor em Geografia, professor e pesquisador do Departamento de Geografia da FFLCH/USP
7 Tigres Asiáticos são países como a Coréia do Sul, a Malásia, a Tailândia, Taiwan, Singapura ou Indonésia, que, desde a década de 80,
beneficiaram-se do crescimento da vizinha economia japonesa e promoveram um intenso processo de industrialização (Ferreira, 1998).

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México (que já está integrado ao Nafta8 ) e alguns países, principalmente na parte Oriental,
do continente Europeu.
Uma outra identificação seria em relação aos países mais pobres, definidos, na época
da bipolaridade, como os do terceiro mundo. Englobam, neste grupo, os países da África
Subsaariana (excetuando-se a África do Sul), da América Central, grande parte da América
do Sul (como o Brasil, por exemplo), do sul do continente Asiático e os que estão a Leste da
Oceania, tendo em comum o fato de não terem forte integração tecnológica e/ou econômica
com os demais países, ou seja, não “se modernizaram”. Suas economias baseiam-se,
principalmente, em atividades primárias de extração de minério, fornecimento de produtos
agrícolas e pouco variados, e força de trabalho com baixíssimos custos e sem qualquer formação
técnica, inclusive, com escolarização baixa.

A África, talvez possa ser definida como a região mais pobre do planeta, já que várias de suas
nações têm altas taxas de mortalidade infantil, além de serem vítimas da subnutrição.
Seus países foram colonizados, por séculos, pelos europeus, promovendo a exploração de
seus recursos naturais e humanos (com o próprio tráfico de escravos) gerando, nos dias atuais,
uma economia dependente. Além desse fator, na Conferência de Berlim, ocorrida entre 1844
e 1845, os países europeus traçaram um mapa geopolítico do continente, inicialmente como
Colônias que, posteriormente, transformaram-se em Estados, sem considerar os povos que
viviam nesses territórios, em vários Figura 3 - Continente Africano
casos, inimigos históricos, com idiomas
e costumes diferentes. Em outros casos,
os europeus promoveram a ruptura de
povos, com a demarcação de fronteiras,
cuja passagem era proibida. O resultado
desta situação foi a eclosão de conflitos
étnicos.
Atualmente, a África pode ser regionalizada,
utilizando critérios geográficos, étnicos e
culturais em duas grandes regiões:
África setentrional, que é constituída por
nove Estados (ao Norte do Continente
Africano);
África Subsaariana, que é constituída
pelos outros 44 Estados do continente.
Fonte: infoescola.com

Entre os dois grupos citados, no entanto, existe o que se chama de periferia intermediária,
composta por países tidos anteriormente como subdesenvolvidos, mas que se industrializaram
e buscam o aperfeiçoamento nas áreas econômica e social, como ocorre com alguns países
da América do Sul, da Ásia (como a Índia e a Turquia, esta última, com parte do território
localizado na Europa) e na África do Sul.

8 NAFTA (North American Free Trade Area) foi o primeiro acordo de integração regional entre um países em desenvolvimento, no caso o
México, e nações desenvolvidas (Estados Unidos e Canadá), tendo, o início da eliminação das barreiras, ocorrido em janeiro de 1994.

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Unidade: Fim da Bipolaridade

[...] São países com viabilidade hipotética, mas que necessitam de


profundas reformas econômicas e sociais para que isso se realize,
que precisam enfim redefinir suas estratégias para o futuro, para
enfrentar a modernização tecnológica e a nova ordem internacional.
As opções que eles fizeram a curto prazo – investir, ou não, mais e
melhor na educação e na pesquisa tecnológica, promover ou não
reformas econômicas no sentido de diminuir as desigualdades e
ampliar o mercado interno, etc. – irão determinar o caminho futuro
de cada um deles: ou a retomada do desenvolvimento em novas
bases mais sólidas, ou a continuação da decadência no sentido de
se aproximarem ainda mais do “Quarto Mundo”. (VESENTINI,
1996).

Enfim, este grupo de países tem todas as condições econômicas e tecnológicas para
que se aproximem dos países desenvolvidos, mas precisam de ajustes internos. A demora
ou a indiferença a essa questão poderá resultar, futuramente, que eles acabem por se
aproximarem dos países mais pobres que, para alguns autores, são tidos como os do Quarto
Mundo, fazendo alusão às antigas nações desenvolvidas do Terceiro Mundo no período da
ordem mundial bipolar.

O modelo desenvolvi-mentista da América Latina não é uniforme, atualmente


existem duas grandes
linhas de atuação: o
modelo liberal e o modelo Figura 5 - Países pertencentes a América Latina
estatizante. O Chile,
acompanhado de forma
mais discreta pelo México,
Peru e Colômbia, tem uma
tendência ao modelo
liberal, enquanto a
Venezuela, Equador,
Você sabia? Bolívia e Cuba, pelo
modelo estatizante. Pode-
se considerar que o Brasil
fica em uma posição
intermediária e a Argentina,
que também tentou manter
esta posição, atualmente
está com tendência a
aproximar seu modelo ao Fonte: infoescola.com
da Venezuela.

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Estado-Nação

O “Estado”, ao contrário do que possa parecer a primeira vista, não é algo de simples
definição. É muito mais complexa e abrangente do que se imagina.

O Estado pode ser definido simplesmente como uma instituição social organizada que
emana poderes sobre uma determinada porção de terra, nesse caso o território e tudo o que
nele contém (pessoas, meios de produção, serviços etc.).

“Para uns o estado é uma organização com poder de legislar e


tributar, para outros é também o sistema constitucional-legal, e para
outros, ainda, confunde-se com o estado-nação ou país. A primeira
acepção, redutora, é aquela que faz parte da linguagem corrente;
a terceira é empregada especialmente na literatura sobre relações
internacionais. A segunda, o estado é o sistema constitucional-legal
e a organização que o garante [...] (PEREIRA, 2008)

De acordo com o professor Luiz Carlos Bresser Pereira, a definição de Estado está associada
a uma definição político administrativa, independente desta ou daquela concepção.

Já o termo “Nação”, segundo outros autores, está ligado às questões inerentes à cultura,
identidade e aspectos históricos devidamente agrupados em uma sociedade, habitualmente
através de uma tradição histórica, podendo partilhar de costumes, cultura, idioma, enfim,
características semelhantes.

Quando se reporta à questão do “Estado-Nação”, pode-se entender que, o anteriormente


definido “Estado”, é um elemento constituinte a uma questão que engloba muito mais do que
uma definição político-administrativa, ou seja, engloba uma questão territorial ou do espaço
físico como sua base.

O Estado-nação consolida-se através de diversos fatores, englobando a questão da ideologia,


estrutura jurídica, a capacidade de impor uma soberania, sobre um povo dentro de um território
com fronteiras, além de moeda própria e suas próprias forças armadas.

Segundo o geógrafo Milton Santos, a atuação do Estado-nação acaba por ter uma
abrangência, inclusive, bem maior, já que, com o passar do tempo, aliado à própria evolução
da lógica capitalista e norteado pela mudança no uso do território, o conceito anterior de um
território limitado pelas suas fronteiras, sucumbiu a uma nova realidade, acrescentando as
atividades concentradas no território e nos demais territórios interligados por fronteiras ou por
processos e intercâmbios (comerciais, econômicos etc.):

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Unidade: Fim da Bipolaridade

O território são formas, mas o território usado, são objetos e


ações, [...] Com a globalização, passamos da noção de território
“estatizado”. [...] assim como tudo antes não era, digamos assim,
nacional, para a noção de território “transnacional”, mundial,
global. O território nacional é o espaço de todos, abrigo de todos.
Já o território “transnacional” é o de interesse das empresas,
habitado por um processo racionalizador e um conteúdo ideológico
de origem distante e que chegam a cada lugar com os objetos e as
normas estabelecidos para servi-los. (SANTOS, 1998).

O território passa a ser entendido como “transnacional”, alterando, portanto, a própria


lógica inicial do Estado-nação, já que a finalidade de sua existência se dá por diferentes
interesses.

Focos de Tensão e de Conflito

Quando se reporta a um assunto que envolve tensões e conflitos, inevitavelmente, o leitor


é remetido à ideia das guerras que, por sua vez, são milenares. Durante todos os períodos da
história, quando pesquisados, existe a questão dos conflitos pelos mais diversos motivos que,
por sua vez, são sempre oriundos da questão de dominação e/ou aumento do poder.

As guerras não são algo novo na história da humanidade. O


armamento, a motivação, a estratégia, os objetivos têm mudado
muito, mas elas existem há milhares de anos. É evidente que navios
a remo e muralhas de pedra não funcionam mais para atacar ou
defender cidades, como na Guerra do Peloponeso, na Grécia
Antiga: conflitos recentes, como a Guerra do Golfo, contaram
com armamento sofisticado e a mais moderna tecnologia da
informação. O que elas têm em comum, assim como todos os
embates, [...] é o fato de terem promovido mudanças fundamentais
na trajetória da humanidade. (MAGNOLI, 2006).

Além da própria questão da dominação ou do aumento do poder, outras questões como as


étnico-religiosas, desigualdades sociais, pobreza, entre outras, também são focos de tensão,
mas vale ressaltar que os conflitos trouxeram, e ainda trazem, perceptíveis mudanças na
trajetória da humanidade e em seu comportamento.

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Europa
Na Europa, os bascos9 lutam pela autonomia territorial há mais de 40 anos em relação,
principalmente, ao governo da Espanha. Estão distribuídos ao Nordeste da Espanha e ao
Sudoeste da França. O movimento separatista conhecido como ETA (Euskadi ta Askatsuna ou
Pátria Basca e Liberdade) utiliza-se desde sua criação, em 1959, de artifícios violentos, como
atentados, principalmente em relação às autoridades espanholas.
Outra região de conflito na Europa ocorre no Reino Unido formado pelo País de Gales,
Inglaterra, Escócia e Irlanda do Norte. Especificamente na Irlanda do Norte, há mais de 30 anos,
os católicos buscam a unificação com a República da Irlanda em uma luta contra os protestantes
que, por sua vez, sendo maioria, querem continuar na situação atual de pertencimento ao Reino
Unido. O IRA (Irish Republican Army) ou Exército Republicano Irlandês, fundado em 1919,
iniciou uma ofensiva terrorista dotada de grande intolerância religiosa, tendo seu fim em 2005
oficialmente, quando pôs fim à luta armada e adotou uma premissa pacífica reivindicatória.
Alguns dissidentes, no entanto, ainda tentam realizar atentados, mas sem grande significância.
Ainda na Europa, outro foco de conflitos acontece na Península balcânica, localizada
a sudeste do continente europeu. A principal desavença entre os povos se concentra em
decorrência às questões étnicas e nacionalistas, por alguns dos povos que habitam esta região,
tais como, os sérvios, croatas, eslovenos, montenegrinos, macedônicos, bósnios e albaneses.

África
Os conflitos que ocorrem no continente africano têm relação direta com o colonialismo
ocorrido ao final do século XIX e início do século XX pelos europeus. O primeiro ponto
que originou os conflitos foi a divisão do território africano em estados sem, no entanto,
considerar-se as diferentes etnias ou culturais dos habitantes locais que, em muitos casos, eram
rivais históricos ou, ainda, pela separação de grupos de mesma etnia.
Uma outra situação se iniciou durante a guerra fria através da instalação de ditaduras locais,
com o financiamento de armamentos, inclusive, para grupos guerrilheiros que, por sua vez,
através de princípios ideológicos, induzem, até hoje, as crianças ao ódio a diferentes etnias.
Um outro ponto que promove os conflitos naquele continente é o baixo nível socioeconômico.

Ásia
O continente asiático tem vários conflitos pelos mais diversos motivos. Um destes conflitos,
tido por muitos estudiosos como o principal, localiza-se no oriente médio e ocorre entre
os palestinos e israelenses. O principal motivo do confronto está relacionado à questões
históricas, culturais, religiosas, além de territoriais. Ambos os lados reivindicam áreas que têm
grande simbolismo no que tange ao sagrado.
Os palestinos reivindicam a criação de um Estado, sendo que grande parte dos israelenses
e dos palestinos entendem que a Cisjordânia e a faixa de Gaza poderão pertencer ao Estado

9 Os bascos são um gupo social que, provavelmente, tenha se instalado na península Ibérica há, aproximadamente, 2 mil anos, tendo
preservado seus costumes e tradições, além de suas línguas (euskara ou vaconço).

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Unidade: Fim da Bipolaridade

Palestino. Os grupos Hamas10 e Fatah11 uniram-se para a instauração de um governo de


conjunto, não tendo sido suficiente para se avançar nas negociações.
O Iraque tem divergências territoriais, étnicas, religiosas e econômicas. Em 1979, o general
sunita Saddam Hussein assumiu o poder no Iraque estabelecendo uma ditadura e executado
centenas de oposicionistas. Durante o período em que governou, o Iraque se envolveu em
duas guerras no Golfo, tendo sido uma contra o Irã, e outra na tentativa de anexar o Kuwait
ao seu país. Tal fato aliou exércitos poderosos contra si, a saber: o dos Estados Unidos e o da
Inglaterra.
Não bastando, como consequência, passou a sofrer sanções econômicas entre 1991 e
2003, quando os Estados Unidos promoveram uma nova Guerra do Golfo, que tinha como
motivação os crimes cometidos pelo Iraque. No entanto, não passava de uma estratégia
estadunidense para se apoderar das reservas de petróleo do país árabe, que culminou com o
fim do governo de Saddam Hussein, que foi executado.
Nesse contexto, de instabilidade política na região, da formatação e fortalecimento de
grupos terroristas como o Estado Islâmico12 , além dos confrontos dos sunitas e dos xiitas,
impossibilitam qualquer avanço interno nas relações entre as partes.
Em 11 de setembro de 2001, os Estados Unidos sofrem um atentado que entra tragicamente
para a História. As Torres Gêmeas do World Trade Center, em Nova Iorque, e o Pentágono,
em Virgínia, foram atingidos por aviões sequestrados por terroristas, liderados por Osama Bin
Laden13 e o grupo terrorista ao qual financiava, a Al Qaeda.
Em decorrência disso, aliado ao fato do Afeganistão apoiar o saudita, as tropas norte-
americanas, apoiadas pela OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), instauram a
chamada Guerra ao Terror e invadem aquele país, expulsando o Taliban prendendo, inclusive,
supostos terroristas afegãos na base militar de Guantánamo, em Cuba. As lutas, no entanto,
prosseguem entre o atual governo Afegão e facções rivais.
A região da Caxemira, localizada ao norte da Índia e a Nordeste do Paquistão, região
montanhosa, é alvo de interesses entre os dois países e a China, desde 1947. Após diversos
conflitos, estabeleceu-se uma divisão do territórios em duas zonas, sendo uma paquistanesa e
outra indiana. Atualmente, a região é ocupada pelos dois países, além da China que entende
que o local é uma região estratégica a duas localidades sob seu domínio: o Tibete e a Sinkiang.

10 Hamas, acrônimo de Harakat al-Muqãwamah al-Islãmiyyah (Movimento de Resistência Islâmica) é um movimento islâmico militante
palestino na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, que é dedicado à destruição de Israel e a criação de um Estado islâmico na Palestina.
Fundado em 1987, o Hamas se opôs aos 1993 acordos de paz entre Israel ea Organização de Libertação da Palestina (OLP). A partir do
final dos anos 1970, os ativistas islâmicos ligados à Irmandade Muçulmana pan-islâmico estabeleceram uma rede de instituições de
caridade, clínicas e escolas, e tornaram-se ativos nos territórios (Faixa de Gaza e Cisjordânia) ocupados por Israel depois de 1967 Guerra
dos Seis Dias.
11 Fatah, também escrito Fath é a sigla invertida de Harakat al-Tahrīr al-Waṭanī al-Filasṭīnī (Movimento de Libertação Nacional da Palestina),
organização política e militar dos palestinos árabes, fundada no final dos anos 1950 por Yasser Arafat e Khalīl al-Wazir (Abu Jihad) com
o objetivo de retirar a Palestina de controle israelense travando uma guerrilha terrorista.
12 Estado Islâmico no Iraque e do Levante (ISIL), em árabe al-Dawlah al-Islamiya al-Fi’Irāq wa al-Sham, abreviatura árabe Dā’ash, também
chamado Estado Islâmico no Iraque e na Síria (ISIS) trata-se de um grupo insurgente sunita (transnacional) operando principalmente no
oeste do Iraque e leste da Síria. Tendo aparecendo pela primeira vez sob o nome ISIL em abril de 2013, o grupo lançou uma ofensiva
no início de 2014 que expulsou as forças do governo iraquiano de cidades ocidentais, enquanto na Síria combateram simultaneamente
em as forças do governo e facções rebeldes na guerra civil síria. Seu objetivo é o de estabelecer um Califado, que é um modelo político
(do século VII) em que o califa é o sucessor do profeta, o chefe da nação e tem o poder de aplicar a sharia (a lei islâmica).
13 Osama Bin Laden, nasceu em 1957 e era filho de um magnata da construção civil saudita. Após a morte de seu pai, Osama Bin Laden
dedicou altas quantias para financiar guerrilheiros afegãos e construiu campos de treinamento para treinamento de guerrilheiros,
cujo nome era Al Qaeda (em árabe: a base). Financiou também a criação de forças paramilitares fiéis ao regime Taliban, que controlava
politicamente o Afeganistão.

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O Timor Leste é uma ex-colônia portuguesa, anexado à Indonésia logo depois da saída
de Portugal da região. A Frente Revolucionária do Timor Leste Independente luta pela
independência da região, no entanto, o governo da Indonésia fez uma forte repressão militar,
tendo forçado a adoção da língua indonésia e a islamização da população local, em sua maioria
católicos, mantendo a situação de conflito.

América do Sul
Na Colômbia, desde a década de 1960, movimentos guerrilheiros de ideologia marxista,
dentre eles as FARC14 , dominam a zona rural do País. A partir da década de 1980, passaram a
receber dinheiro dos traficantes a fim de promover o autofinanciamento. Após várias tentativas
de negociações com o governo colombiano e, em decorrência ao narcotráfico e produção de
drogas, as negociações estão paralisadas. Os rebeldes, que utilizam a produção de cocaína
para se financiar, pedem a liberação de zonas de produção legal da droga para fins medicinais,
o que o governo central reluta em concordar.

América do Norte
O narcotráfico no México tem suas origens no final do século XIX e início do século XX,
com a chegada dos chineses em áreas de mineração de Sinaloa, como mão de obra barata.
Eles plantaram flores de papoula usada como uma forma de adorno em pátios e jardins.
Durante a década de 1920, no entanto, a crise de mineração no norte do país fez o uso da
papoula como droga, crescendo o uso de ópio nestas áreas o que causou a expansão das
plantações no famoso triângulo dourado da droga, Sinaloa, Chihuahua, Durango, estados
produtores de heroína para o consumo dos americanos que retornavam da II Guerra Mundial.
Atualmente, o México combate diferentes grupos comandados por narcotraficantes, com
confrontos intensos nas regiões próximas à fronteira com os Estados Unidos, local em que
grupos rivais lutam pela ocupação e expansão de zonas de influência, já que é um local de
altíssima rentabilidade pelo contrabando de drogas.

14 As FARC, foram criadas em 1964, pelo ex-combatente liberal Pedro Antonio Marín, tendo surgido como um grupo de ideologia marxista-
leninista e atuando no meio rural com a adoção de táticas de guerrilha. Em seu discurso ideológico tem como premissa a implantação do
socialismo na Colômbia, promovendo a distribuição igualitária de renda, a reforma agrária, entre outros aspectos sociais.

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Unidade: Fim da Bipolaridade

Material Complementar

Neste texto, o autor aborda o nacionalismo como ideologia e sua relação com o estado-
nação, bem como com os países centrais e da periferia e, porque não dizer, com o próprio
capitalismo.
Trata-se de um material complementar interessante para,não só complementar o
conhecimento, mas também, como objeto de reflexão.

Site:
O texto de Luiz Carlos Bresser Pereira, faz parte de uma obra chamada “Dossiê
Nação Nacionalismo” e está disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142008000100012

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Referências

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COSTA, Wanderley Messias da. Geografia Política e Geopolítica. Discursos sobre o


Território e o Poder. São Paulo: Hucitec/Edusp, 1992.

DOMINGUES, Edson Paulo. Dimensão Regional e Setorial da Integração Brasleira na


Área de Livre Comércio das Américas, Tese-Doutorado. São Paulo: FEA/USP, 2002.

GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1979.

MACKINDER, Haldford John. “The Geographical Pivot Of History”. In: Democratic


Ideals ad Reality (with additional papers). New York: The Norton Library, 1962, p. 243.

MAGNOLI, Demétrio (Org). História das guerras / 3. Edição. São Paulo: Contexto, 2006.

MELLO, Leonel Itassu Almeida. Quem tem medo da Geopolítica? - São Paulo: Hucitec/
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Colônia a Colônia. Campinas: Editora Átomo, 2010.

SANTOS, Milton. SOUZA, Maria Adélia. SILVEIRA, Maria Laura (Org). Território,
Globalização e Fragmentação. São Paulo: Editora Hucitec/ANPUR, 1998.

VESENTINI, José William. A Nova Ordem Mundial. São Paulo: Ática, 1995.

VESENTINI, José William. A Nova Ordem, Imperialismo e Geopolítica Global.


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Unidade: Fim da Bipolaridade

Anotações

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