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Salazar faz a Benito Mussolini,

saudação romana protótipo do líder


com os ministros carismático fascista,
Francisco Nobre cujo retrato estava
Guedes e Carneiro na mesa de Salazar
Pacheco (encoberto) (ver pags. 10-11)

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delas retoma a afirmação de Saraiva, ideológico, as pessoas dizem/replicam Ora, se o salazarismo for uma forma de
para cuja desmontagem esperamos coisas que lhes convêm ou às quais são fascismo, a ordem jurídica portuguesa
contribuir nas próximas páginas. A ou- sensíveis. E para que servirá negar o torna-o ilegal, pelo que convém aos sa-
tra, falseando notícias de jornais de fascismo em Portugal, ou, nesse já refe- lazaristas que buscam legitimidade
1976, acusa Fernando Rosas de ter tido rido cúmulo de absurdez, considerar o institucional e eleitoral que não o seja.
comportamentos condenáveis, tentan- ditador antifascista? Só quase dois anos e meio depois da
do servir o propósito de o desacreditar Não é segredo que há em setores da promulgação da Constituição da Repú-
enquanto historiador por via do que foi sociedade portuguesa um fascínio as- blica Portuguesa (1976), que já contem-
ou do que é a sua militância. Por todos sumido ou latente – ou apenas grande plava tal interdição, a Lei n.º 64/78, de
os motivos e mais alguns, publicações curiosidade – pela figura do antigo pre- 6 de outubro, estipulou, regulamentan-
desse jaez, venham do recanto do es- sidente do Conselho de Ministros. Da do, que “são proibidas as organizações
pectro político de que vierem, devem votação pública “Grandes Portugue- que perfilhem a ideologia fascista”. A
ser denunciadas e desmentidas, ou ses” (2006/2007) ao sucesso comercial lei mantém-se inalterada, exceto em
clarificadas, sendo importante o con- de títulos editoriais (de ficção e de não dois detalhes: i) extinto o Conselho da
tributo das plataformas de verificação ficção) em que surge o seu nome, per- Revolução pela revisão constitucional
de factos já existentes. cebe-se que essa atração existe, até en- de 1982, deixou de ter intervenção nes-
Nestas páginas, o contributo passa, tre os que não se identificam com a fi- ta e em todas as matérias; ii) com a cria-
através de fundamentação assente na gura (ao fim e ao cabo, alguém que go- ção do Tribunal Constitucional (TC), na
historiografia, por tentar dotar os leito- vernou o país durante tanto tempo não mesma altura, passaram para este órgão
res de ferramentas que desincentivem, pode ser objeto de indiferença). Outro as competências que, na versão original
neste particular assunto, a partilha, re- fator que poderá contribuir para essa da lei e no âmbito desta, eram atribuídas
plicação e amplificação de conteúdos curiosidade e, sobretudo, para o en- ao Supremo Tribunal de Justiça.
declaradamente falsos ou, pelo menos, deusamento é a mitologia construída Cabe ao TC “declarar que uma qual-
parcialmente erróneos ou grosseira- ao longo de décadas pela propaganda quer organização perfilha a ideologia
mente manipulados. Seria bonito dizer salazarista, que deixou marcas no es- fascista e decretar a respectiva extin-
que a subversão da história – ou o ne- paço público ou num certo imaginário ção”. E quais são os critérios? Trans-
gacionismo puro e duro – não serve a salvífico (o homem honrado que nada crevemos o Artigo 3.º do diploma em
ninguém, mas a verdade é que existe, quis para ele, mas tudo para a Nação) questão:
justamente, para servir a alguém. Com que ainda se vai propagando, por “1 – Para o efeito do disposto no pre-
dolo ou por simples condicionamento exemplo em ambientes familiares. sente decreto, considera-se que perfi-

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