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SERES HUMANOS E NATUREZA EM ESPAÇOS DE EDUCAÇÃO

INFANTIL
Andressa Ferreira de Oliveira Bittencourt Lopes
UNIRIO
ddessabittencourt@gmail.com
Amanda Vollger Ribeiro
UNIRIO
vollgeramanda@gmail.com
Léa Tiriba
UNIRIO
tiribalea@gmail.com
Katia Bizzo Schaefer
Colégio Pedro II
katia.b.schaefer@gmail.com
Resumo
O presente trabalho tem a intenção de apresentar resultados parciais de investigação
realizada pelo Grupo de Pesquisa “Infâncias, Tradições Ancestrais e Cultura
Ambiental” (GiTaKa), na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO),
sobre relações entre seres humanos e natureza no cotidiano das instituições de
Educação Infantil. O texto que aqui apresentamos foi construído a partir de análises
das condições ambientais de escolas de Educação Infantil, tendo como referência
trabalhos escritos por professoras de redes municipais do Estado do Rio de Janeiro,
que foram alunas do Curso de Especialização em Docência na Educação Infantil
UNIRIO/MEC. As análises realizadas pelo grupo GiTaKa abordam três direitos
básicos, assegurados pela legislação brasileira às crianças: o direito à brincadeira, o
direito ao contato com a natureza e o direito aos movimentos amplos.

Palavras-chave: Educação Infantil; Criança; Natureza; Ambiente; Brincadeira

Introdução
De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil
(DCNEI) (BRASIL, 2009), as propostas pedagógicas de creches e pré-escolas devem
investir no sentido de que as crianças aprendam o cuidado, a preservação e o
conhecimento da biodiversidade e da sustentabilidade da vida na Terra (Art.9).
Cumprir as definições da lei, de fato, é um desafio, pois, logo na primeira infância, o
processo educativo promove uma desconexão do mundo natural, na medida em que
a organização dos tempos e espaços escolares não considera as necessidades e os
desejos das crianças de brincarem ao ar livre, em contato com o universo natural do
qual fazem parte (TIRIBA; PROFICE 2014).
Considerando que as crianças são modos de expressão da Natureza, seres
que se constituem em conexão com a natureza (SPINOZA, 2009), surgem algumas
perguntas importantes: como respeitar as crianças em sua integridade se no dia a dia
urbano o contato é cada vez mais rarefeito? Como vão aprender a respeitar a natureza
e preservá-la se não convivem com outros seres vivos e com elementos naturais?
Entendendo a importância do contato das crianças pequenas com a natureza,
é fundamental uma reflexão sobre até que ponto as práticas de proximidade se
incorporam ao cotidiano escolar; se criam uma verdadeira consciência ambiental, ou
se constituem apenas como eventos esporádicos, sem o olhar, periodicidade e as
condições adequadas.
Com este estudo, nosso interesse é verificar as condições ambientais
disponíveis às crianças nos espaços escolares: no dia a dia da escola, as crianças
vivenciam experiências de contato com a natureza? As interações e as brincadeiras
estão garantidas como eixos norteadores do processo educativo? Elas têm direito aos
deslocamentos e aos movimentos amplos, como lhe assegura a lei?

Metodologia
Inicialmente foi feito um levantamento e uma pesquisa bibliográfica sobre os
principais autores que tratam de temáticas relativas às relações das crianças com a
natureza, em especial os dos campos da Educação Infantil.
Em seguida, foram realizadas análises críticas de trabalhos produzidos por 27
professoras matriculadas no Curso de Especialização em Docência na Educação
infantil MEC/UNIRIO, no período 2013-2014. Trata-se de textos escritos como
trabalho final de uma das disciplinas, em que os alunos fizeram uma análise das
condições socioambientais das escolas onde atuavam, tendo como referência o texto
Critérios para um atendimento em creches que respeite os direitos fundamentais das
às crianças em creches e escolas de Educação Infantil. As análises destes trabalhos
abordaram 5 direitos: à brincadeira; a um ambiente aconchegante, seguro e
estimulante; ao contato com a natureza; a desenvolver sua curiosidade, imaginação e
capacidade de expressão; e aos movimentos amplos em espaços ao ar livre.

Seres humanos e natureza em espaços de Educação Infantil


A análise dos trabalhos está em andamento. No entanto, em resultados
parciais, obtidos a partir do estudo de 15 relatórios, podemos observar um pouco da
realidade de diversas áreas da cidade do Rio de Janeiro, além dos municípios de
Niterói, Maricá e São Gonçalo.
Inferimos que poucas das escolas analisadas garantem o direito ao contato
com a natureza, visto que, na maioria dos relatórios, a interação com o ambiente
natural se dá apenas no pátio, que muitas vezes é revestido de cimento sem a
presença de animais, plantas e canteiros. Dito isto, a chance de bebês terem conexão
com o meio ambiente é ainda menor, já que ainda são dependentes de um adulto. As
crianças pouco têm oportunidade de brincar com areia, argila, pedrinhas, gravetos e
até mesmo água, que fora o momento do banho, é raramente citada. Cabe ressaltar
que a rotina escolar não dá abertura para momentos ao ar livre, o que demonstra que
as escolas mantém suas práticas conservadoras, apesar da legislação avançada.
Quanto ao direito à brincadeira, percebemos que majoritariamente elas são
reduzidas às interações com brinquedos ou momentos curtos de brincadeiras livres.
No caso dos brinquedos, eles podem até estar ao alcance das crianças, mas não
estão disponíveis a todo momento e são as professoras que definem o tempo de
brincar. Em alguns relatos foi observado um anseio das educadoras por uma maior
interação entre elas e seus educandos.
O direito a movimentos em espaços amplos é associado em sua grande maioria
com as aulas de Educação Física, que ocorrem, no máximo, duas vezes na semana,
o que é considerado um fator limitante para as crianças quanto à garantia de sua
liberdade para correr, pular e saltar.

Conclusões
Percebemos que as ideias trazidas por novas concepções de humanos como
seres da natureza vêm provocando movimento de produção de espaços com uma
maior reconexão, mas ainda há uma expressiva limitação de tempo, espaço e
condições de criar novas possibilidades de atuação, rompendo com antigos
paradigmas que ainda predominam nas práticas educacionais.
Entendemos que existe uma pluralidade de sujeitos com diferentes formações
e perspectivas de infância, logo, é essencial que haja cada vez mais debates para que
as práticas respeitem os direitos das crianças, visando uma infância livre,
desemparedada, na qual os três direitos apresentados – de contato com a natureza,
à brincadeira e de movimentos amplos em espaços abertos – possam estar
garantidos.

Referências
BRASIL. Resolução nº 5, de 17 de dezembro de 2009. Fixa as Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação Infantil. Brasília, DF: MEC/CNE/CEB, 2009. Disponível
em:
<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=22
98-rceb005-09&category_slug=dezembro-2009-pdf&Itemid=30192> Visitado em
03/05/2017
CAMPOS, Maria Malta; ROSEMBERG, Fúlvia. Critérios para um atendimento em
creches que respeite os direitos fundamentais das crianças. Brasília:
MEC/SEF/COEDI, 1995.
SPINOZA, Benedictus de. Ética. Trad. De Tomaz Tadeu. 2ed. Belo Horizonte:
Autêntica, 2009.

TIRIBA, Léa; PROFICE, Christiana. O direito humano à interação com a natureza. In:
SILVA, Ainda Maria Monteiro; TIRIBA, Léa (orgs.). Direito ao ambiente como direito à
vida: desafios para a educação em direitos humanos. 1ed. São Paulo: Cortez, 2014.

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