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Direito Penal III

Prof. Arnaldo

Aborto; uma questão de vida.

Karla Maria M. Pimentel

João Pessoa

2011
O amor existe, pois em momentos decisivos, esquecermos de nós mesmos em prol
do outro.

Karla Pimentel.
Viver a vida como divina, intocável, sublime, alhures do
entendimento humano, o aborto vai de encontro a todos os valores
morais, éticos, humanísticos compreendidos por nós seres pensantes,
ditos, “homem médio.” Acabar de forma prematura, implacável e
cruel com o bem maior concedido. Gerar, permitir-se sentir sensações
jamais sentidas, viver para um amor incondicional, a maternidade é o
apogeu da divindade. Como compreender o incompreensível?
Torturar, mutilar, matar, parte de si mesmo ou de outrem quem não
tem a mínima chance de defesa, alguém que repousa em seu porto
“seguro”, que é pelo grandioso fato de sua existência, importante. A
banalização da vida faz com que a cegueira social atinja as mais
diversas classes, são políticos, artistas, formadores de opinião,
querendo passar por normal o que é anormal por natureza,
defendendo a bandeira da “liberdade”, liberdade para matar,
segundo eles, é melhor legalizar o aborto para amenizar o problema
da saude pública, já que é uma realidade as inúmeras mulheres que
recorrem ao SUS por abortamentos feitos de forma precária, sem
falar das que morrem decorrentes dos mesmos procedimentos, do
que tratar as pessoas com dignidade promovendo uma política social
humanizada e consciente, assinando assim a incompetência do
Estado, além de defender que a mulher tem direito autônomo sobre o
seu corpo, muito bem, sobre o seu corpo e não sobre o corpo alheio
ou ainda afirmar nas mais infelizes colocações que é melhor abortar
do que ver milhares de crianças nas ruas das grandes metrópoles ou
nos interiores das pequenas cidades passando fome, ressaltando
mais uma vez a incompetência do Estado que tem o dever de cuidar,
zelar, proteger, tutelar.

Entre as pessoas com princípios mais conservadores,


principalmente quem tem uma base religiosa formada ou no mundo
jurídico, fundamentado nos Princípios Universais contidos na
Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotado e proclamado
pela resolução 2179 (II) da Assembléia Geral das Nações Unidades de
10 de Dezembro de 1948. O aborto é um abominável crime contra a
vida, como assim é tipificado no CP, art.124 ao art.127. Havendo
apenas duas possibilidades de não ser punido, previstas no art. 128,
CP; o chamado aborto necessário; quando existe perigo de morte
para a gestante (natureza jurídica, estado de necessidade art.24)
chamado de aborto terapêutico ou profilático, inteiramente entendido
e unânime entre os grandes doutrinadores do Direito Penal, pelo fato
claro da existência de um confronto entre os bens juridicamente
tutelados, a vida da mãe e a vida do feto, preservando a lei, a vida da
mãe.
Afirma Rogério Greco:

“No caso, ambos os bens (vida da gestante e vida do feto) são


juridicamente protegidos. Um deve perecer para que o outro
subsista.”

Quanto à outra possibilidade de tornar um ato ilícito em


tolerável para o mundo penal é quando em decorrência de um
estupro surge uma gravidez indesejada. Chamado de aborto
sentimental, humanitário ou ético. Verdadeiras guerras entre os
doutrinadores, autores, são travadas, diversas opiniões e estudos
cercam a natureza jurídica do fato, não havendo como falar no art.
24. Não se tratando de um estado de necessidade, embora a defesa
do aborto humanitário venha pautando seus apontamentos positivos
nas excludentes de licitude, art.23, CP. Fernando Capez, por exemplo,
defende que o Estado não pode obrigar uma mulher gerar um filho de
um estuprador, mas, não deixa claro a natureza jurídica do inciso II do
art.128. “O Estado não pode obrigar a mulher a gerar um filho que é
fruto de um coito vagínico violento, dados os danos maiores, em
especial psicológicos, que isso lhe pode acarretar.” A mesma coisa
acontece com o penalista Nelson Hungria que afirma em suas
exposições: “trata-se de um caso especialmente destacado do estado
de necessidade.” Acompanhando o pensamento de Greco e fazendo
uma pequena reflexão sobre o art. 23 podemos afirmar, muito
embora seja o terreno por demais movediço, que as excludentes de
licitude quando confrontadas com art. 128, II, CP não fazem um
casamento perfeito, havendo uma briga entre o bem jurídico
protegido, principalmente quando se fala em “vida” e “sentimento” e
os seus pesos jurídicos.

A fatídica morte de um feto por te ele sido a prova viva da


pratica de um crime é demasiadamente cruel, sofre a mulher
duplamente, com a primeira violência o estupro e com a segunda
violência pensada, o aborto, que tira parte dela no âmbito psicológico,
muito embora, é sabido que o feto para a ciência não faz parte da
mulher e sim depende dela para o seu desenvolvimento,
sobrevivência, porem, o fator sentimental da maternidade é
fortíssimo e é colocado a prova diversas vezes, encarar o trauma do
pós aborto talvez seja pior do que conviver com um fruto que apesar
de concebido em evento traumático traz consigo características
particulares da genitora. Ademais é cientificamente comprovado que
a mulher produz hormônios na hora do parto, que na maioria das
vezes desperta um amor maternal pela criança que acaba de chegar
ao mundo. Não estou querendo com isso criminalizar as mulheres que
em condição de vitimas, optam pelo abortamento, ou tão pouco os
profissionais que aceitam fazer tal procedimento, mas, na simples e
pouco aprofundada exposição de uma estudante de Direito que teve
como subsídio um vídeo sobre o aborto e a leitura de algumas
doutrinas sobre o assunto, acredito que o mesmo deve ser abordado
com muita cautela e ética, afinal tratar-se de uma decisão irreversível
que pode optar pela vida ou pela morte.

Bibliografia

CAPEZ, F. Curso de Direito Penal parte geral, Volume I,


São Paulo, SP, Editora Saraiva, 2010, 14◦ Edição.

GRECO, R. Curso de Direito Penal parte especial, Volume


II, Niterói, RJ, Editora Impetus, 2011, 8◦ Edição.

GRECO, R. Código Penal Comentado, Niterói, RJ, Editora


Impetus, 2011, 5◦ Edição.

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