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Atualização

Gramatical

Aula

Crase

Amélia Lopes Dias de Araújo


Compreender o fenômeno da crase, fusão
sonora da preposição a com o artigo
feminino a e com outras palavras iniciadas
Meta pela mesma letra. Aplicar as regras de uso
da crase às situações exigidas pela
regência verbal e nominal.

Ao final da aula, você será capaz de:

1. Identificar o mecanismo que propicia a


fusão da preposição a com o artigo
feminino a;

2. Identificar as situações nas quais os


Objetivos pronomes demonstrativos e os relativos
podem ser antecedidos de preposição e,
serão, portanto, passíveis de receber o
acento indicativo de crase;

3. Comparar vocábulos e perceber a


diferença semântica gerada pelo uso do
acento grave.
sUMÁRIO
Introdução..................................................................................................................................4
4.1 Classificações da palavra a.........................................................................................5
4.2 Conceito de crase...........................................................................................................6
4.3 Preposição a + artigo a...............................................................................................7
4.4 Preposição a + pronome demonstrativo a(s)...................................................13
4.5 Preposição a + aquele(s), aquela(s), aquilo......................................................14
4.6 Crase antes do pronome relativo qual/quais....................................................15
4.7 Uso da crase em locuções adverbiais, prepositivas e conjuntivas........16
4.7.1 Locuções que não recebem crase........................................................................17
4.8 Paralelismo: dias e horas............................................................................................18
4.9 Casos em que a crase é opcional...........................................................................19
4.10 Substantivo feminino indeterminado..................................................................20
Conclusão...................................................................................................................................21
Referências................................................................................................................................22
aula 4 Crase

Introdução

E aa quarta feira
seguimte pela
manhãa topamos
aves a que chamam
fura buchos e neeste
dia a ora de bespera
ouueomos vista de
terra. (...) e aa
quinta feira pela
manhàa segujmos
dir.to aa terra (...)

Trecho da carta de Pero Vaz de Caminha. Imagem da carta original em Wikipedia

Observe, no trecho da carta de Pero Vaz de Caminha, a sequência de vogais a diante


das palavras quarta-feira, quinta-feira e terra. Como você pode perceber, não havia naquela
época nenhum mecanismo que indicasse a fusão de dois sons semelhantes. Por isso Pero
Vaz de Caminha era obrigado a repetir a letra a, quando o verbo e alguma palavra exigiam a
preposição a. Na ortografia atual, quando ocorre a união dessa preposição com palavra de
som semelhante empregamos o acento grave, indicativo da crase, para enfatizar que houve
a fusão de dois sons iguais.
Nós estudamos na aula anterior a regência verbal e a regência nominal. Esses dois
temas estão diretamente ligados ao estudo da crase, por isso, se você ainda tiver alguma
dúvida, releia o assunto ou envie uma mensagem para o fórum de dúvidas, no Moodle. Vamos
ver então como a regência relaciona-se com a crase?
O fenômeno da crase ocorre quando associamos a preposição a, exigida por um termo
regente, ao artigo feminino ou ao pronome demonstrativo, conforme você pode verificar no
esquema abaixo:
Termo regente Termo regido

O presidente foi favorável à retirada das tropas.

preposição artigo

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Antes de iniciar o estudo, é importante relembrar as diferentes classificações da


palavra a.

4.1 Classificações da palavra a

A palavra A pode ser:

• Artigo definido feminino;


• Preposição;
• Pronome pessoal oblíquo; e
• Pronome demonstrativo.

Vamos aprender a reconhecê-la? Não é nada difícil, basta que você se concentre nas
características de cada uma delas.

Artigo feminino a

Características:
• Aparece antes de substantivo feminino, determinando-o.
• É variável e concorda com o substantivo a que se refere.
Exemplos:

A Constituição brasileira foi promulgada em 1988.


As constituições republicanas foram estudadas por ele.

Preposição a

Características:
• É exigida por alguns verbos, substantivos, adjetivos ou advérbios.
• É invariável.
Exemplos:

Ele se referiu a uma mulher.


Ele se referiu a mulheres.

Pronome pessoal oblíquo a


Características:
• Funciona como objeto direto.
• Admite plural.

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Exemplo:

A Receita notificou a cidadã. A Receita notificou-a.

objeto direto pronome pessoal oblíquo

A Receita notificou as cidadãs. A Receita notificou-as.

Pronome demonstrativo a
Características:

• Ocorre em geral antes das palavras que e de.


• Pode ser substituído por aquela(s)

Exemplos:
Não quero sua revista, e sim a que lhe emprestei.

aquela

Esta dúvida é semelhante à de seu amigo.

aquela

Fácil, não é mesmo? Classificar corretamente essa palavra nos ajudará a usar o acento
indicativo da crase. Vamos então prosseguir. Agora veremos qual é o conceito da crase.

4.2 Conceito de crase

Crase é o nome que se dá à fusão de duas vogais semelhantes. Emprega-se o acento


grave (`) para marcar a crase de dois aa, que podem ser:

• A (preposição) + a (artigo feminino)


• A (preposição) + a (pronome demonstrativo)
• A (preposição) + a (a inicial dos pronomes aquele, aquela, aquilo)
• A (preposição) + a (a de a qual – pronome relativo)

Como você pode perceber, identificar morfologicamente a letra a é crucial para o


correto emprego da crase. Vejamos agora cada um dos casos acima em detalhes.

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4.3 Preposição a + artigo a

Para haver crase da preposição a com o artigo feminino a(s), é preciso a ocorrência de
duas condições, que devem ser atendidas conjuntamente:

1ª) O termo regente deve exigir a preposição a;

2ª) O termo regido precisa ser uma palavra feminina que admita o artigo a(s).

Veja na frase abaixo como as duas condições ocorrem:

Esta avenida é paralela a a rodovia.


termo regente termo regido

preposição artigo

Esta avenida é paralela à rodovia.

crase

SAIBA MAIS

Método prático
Para testar a ocorrência da crase, num primeiro momento, troca-se a palavra
feminina por outra masculina. Se aparecer ao(s) antes da masculina, haverá crase
diante da palavra feminina.

O resultado foi favorável ao partido.


O resultado foi favorável à candidata.

Cuidado: a palavra feminina deve ser substituída por outra de classificação


semelhante: substantivo comum por substantivo comum, pronome pessoal no
lugar de pronome pessoal, etc.

O corretor ortográfico do Word, nosso editor de textos de cada dia, insiste em identificar
com um sublinhado verde e ondulado qualquer letra a que esteja no meio de duas palavras.
Se você clicar com o botão esquerdo do mouse sobre o sublinhado, o Word recomendará o
uso do acento grave, como se toda palavra a exigisse esse acento. Contudo, quem conhece
a língua portuguesa sabe que nem sempre é necessário usar a crase, ainda que o verbo exija
a preposição a. E por que não? Há certas palavras femininas que rejeitam o uso do artigo
determinado. Lembre-se: para haver crase é necessário que as duas condições para a sua

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ocorrência aconteçam ao mesmo tempo. Então, tome cuidado com o Word, nem sempre ele
sugere a aplicação correta da crase. Cabe a você avaliar quando o acento grave deve ou não
ser usado. Vejamos então em que situações a crase é proibida.

Crase proibida

A condição necessária para a ocorrência de crase é a presença da preposição a +


artigo feminino a. Há certos tipos de palavras que não admitem o artigo; por isso não há
como ocorrer a fusão. Vejamos quais são esses casos:
Não ocorre crase:
a) Antes de palavra masculina:

Gosto de passear a cavalo.


Este motor é movido a óleo.

b) Antes de verbo:
Quem está disposto a voltar?
Começou a exigir a frequência em sala de aula.
Todos começaram a correr.

c) Antes de pronomes em geral:


Dirigi-me a ela. (pronome pessoal)
Não deu chance a nenhuma candidatura. (pronome indefinido)
Ele não deu valor a essa conquista. (pronome demonstrativo)
Juntou-se a Vossa Excelência. (pronome de tratamento)

Observação: Os pronomes de tratamento (Vossa Senhoria, Vossa Excelência, etc.) não


admitem artigo, com exceção de dona, senhora e senhorita:

Digo a Vossa Excelência.


Digo à senhora.

d) Antes de nome de cidade:


Você não vai a Fortaleza?
O avião retornou a Florianópolis.

Observação: Quando o nome de cidade vier com especificativo, ocorrerá a crase, se o termo
regente exigir a preposição a.
O navio retornou à bela Florianópolis.

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e) Antes da palavra casa sem especificativo:

Com a chuva, voltei a casa.

Observação: A palavra casa, quando especificada, admite artigo, logo ocorrerá crase se o
termo regente exigir a preposição a:

Voltei à casa de meus pais.

f) Antes da palavra terra com sentido oposto ao de água/mar:

Os náufragos chegaram a terra.

Observação: Quando o significado da palavra terra for “origem” ou “planeta” e a palavra


regente exigir a preposição a, ocorrerá crase:

Planejávamos voltar à terra de meus antepassados.


A espaçonave retornará à Terra em 2018.

g) No a (singular) antes de palavra no plural:

O advogado se referiu a ações transitadas em julgado.

Observação: Quando se apresenta sem o -s antes de uma palavra no plural, a palavra a


é apenas uma preposição, fato que indica a impossibilidade de ocorrência de crase e que
indetermina o termo regido. Ao se colocar o artigo, a flexão será obrigatória e ocorrerá, além
da crase, a mudança de sentido. Observe a diferença de significação nas frases abaixo:

Refiro-me a mulheres.
(sem artigo feminino: mulheres em geral)

Refiro-me às mulheres.
(com artigo feminino: mulheres especificadas, determinadas)

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h) Entre palavras repetidas:

Ficou frente a frente com o réu.

i) Entre datas: não ocorre artigo antes de numeral, logo em expressões que
envolvem datas temos apenas a preposição:

Usou o plano de saúde de 2000 a 2001.


De 1998 a 1999, trabalhou como professor.
catáfora: remete às ideias
expressas na oração seguin-
te:mesmo?
Quantas proibições, não é devemos
Agora aceitar
que você ojárecurso.
aprendeu quando o uso da
crase não é permitido, que tal fazermos um pequeno exercício para fixar as regras?

EXERCÍCIO

1. Observe a frase abaixo:


Gosto de andar a cavalo.

Constatamos que não se emprega a crase diante de palavras masculinas.

Complete convenientemente com a ou à:


a) Graças___ Deus você chegou.
b) Falou muito___ respeito do jogo.
c) O documento faz referência___ loja Men de Sá.
d) Quem não assistiu___aula?

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2. Observe:

Você assistiu ao filme? Você assistiu à aula?

Concluímos que se diante da palavra masculina apareceu “ao”, diante da feminina haverá
crase.
Complete com ao, à, aos, às:

a) Todos devem obedecer___regulamento.


Todos devem obedecer___lei.

b) O professor referiu-se___alunos.
O professor referiu-se___alunas.

c) Todos aspiravam___cargo.
Todos aspiravam___chefia.

d) Você não deve desobedecer___professor.


Você não deve desobedecer___professora.

3. Observe:

Começou a falar pausadamente.


Refiro-me a ela. Refiro-me a você.

Constatamos que não se emprega crase diante de verbos, pronomes pessoais e de


Pronomes de tratamento.
Complete com a ou à:
a) ____nós não convenceu a proposta.
b) Prestamos homenagens___diretora.
c) Prestamos homenagens___ela.
d) Prestamos homenagens___você.
e) Prestamos homenagens___Sua Excelência.
f) Ela não fez nenhuma referência___mim.

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4. Observe:

Sou favorável à decisão. Sou favorável a esta decisão.


Falou a uma pessoa apenas. Falou a certa pessoa.

Constatamos que não se emprega crase diante de pronomes demonstrativos, artigos


indefinidos, pronomes indefinidos (certa, cada, toda, alguma, nenhuma qualquer)
Complete com a, as, à, às, ao, aos:

a) Você já assistiu____este filme?


b) Você já assistiu____esta peça?
c) Você já assistiu____desfile?
d) Você já assistiu____conferência?
e) Pergunte isto____uma mulher.
f) Chegamos____conferência atrasados.
g) Chegamos____colégio atrasados.
h) Chegamos____esta conferência atrasados.
i) Explique tudo____diretora.
j) Explique tudo____diretor
k) Explique tudo____esta diretora.
l) Explique tudo____todos os colegas.
m) Explique tudo____cada colega.

Respostas:

1. a) a b) a c) à d) à
2. a) ao - à b) aos- às c) ao- à d) ao - à
3. a) a b) à c) a d) a e) a f) a
4. b) a c) ao d) à e) a f) à g) ao h) a i) à j) ao k) a l) a m) a

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"Quem tem frase de vidro não joga crase na frase


do vizinho."
Ferreira Gullar

Que tal uma pequena pausa? Afinal, como disse


Ferreira Gullar, a crase não foi feita para humilhar
ninguém. É possível até mesmo nos divertimos com ela.
Acesse o link e leia a interessante crônica desse autor
Uns craseiam, outros ganham fama.

Nada como humor para clarear a mente, não é? Agora podemos continuar com mais
tranquilidade. Vamos ver a crase da preposição a com o pronome demonstrativo a ou as.

4.4 Preposição a + pronome demonstrativo a(s)

A palavra a(s) é pronome demonstrativo quando aparece depois de que ou de e pode


ser trocada por aquela(s).
Para verificar a ocorrência de crase com esse pronome demonstrativo, pode-se usar o
seguinte teste:

Troque o substantivo feminino anterior ao a(s) por um substantivo masculino equivalente e


observe se:

Antes do que (ou de) aparece ao(s) Ocorre crase no a(s) da feminina.

Antes do que (ou de) aparece apenas o(s) Não ocorre crase no a(s) da feminina.

Vamos aplicar o teste nas frases abaixo:

Esta redação é semelhante à que fiz.

Este texto é semelhante ao que fiz.

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Aplicando o mesmo teste, constatamos que não há crase na frase abaixo:

Revisei esta revista, não a que está no prelo.

Revisei este livro, não o que está prelo.

Vejamos agora a aplicação do teste para verificar a ocorrência da crase antes da


preposição de:

Suas opiniões são idênticas às de meu professor.

Seus conselhos são idênticos aos de meu professor.

4.5 Preposição a + aquele(s), aquela(s), aquilo

Para ocorrer crase com esses demonstrativos, basta que o termo regente exija a
preposição a, visto que eles se iniciam com a letra a. Veja:

O professor fez referência a + aquele aluno = O professor fez referência àquele aluno.

Pode-se usar o método prático abaixo para verificar a ocorrência da crase antes desses
demonstrativos:

1) Substitua:

aquele(s) por este(s);


aquela(s) por esta(s);
aquilo por isto.

2) Se, antes do este, esta, isto, sobrar um a, coloque o sinal de crase no aquele, aquela,
aquilo.
Vamos aplicar o método nas frases a seguir:

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As causas de excludência precisam estender-se àquelas hipóteses.

As causas de excludência precisam estender-se a estas hipóteses.

Constatamos que o uso da crase é correto, pois a preposição a é exigida pelo termo
regente e fundiu-se ao a inicial do demonstrativo aquelas.
Vejamos outro exemplo em que a aplicação do método demonstra a impossibilidade
de ocorrência da crase:

Muitos turistas visitam aquele monumento.

Muitos turistas visitam Ø este monumento.

4.6 Crase antes do pronome relativo qual/quais

Os pronomes relativos a qual/as quais podem receber crase quando se referem a um


substantivo feminino antecedente e o termo regente exigir a preposição a. Para verificar a
ocorrência de crase, basta trocar o substantivo feminino por um masculino equivalente. Se
diante do masculino aparecer ao qual/aos quais, use o sinal indicativo da crase na frase
original. Veja os exemplos abaixo:

Aquela é a servidora à qual pedimos informações.

Aquele é o servidor ao qual pedimos informações.

Conversarei com a aluna a qual tem faltado muito.

Conversarei com o aluno o qual tem faltado muito.

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4.7 Uso da crase em locuções adverbiais, prepositivas e conjuntivas

Por uma questão de clareza, as locuções adverbiais, prepositivas e conjuntivas


femininas exigem o emprego da crase:

a) Locuções prepositivas: à cata de, à moda de, à custa de, à força de, à procura
de, à guisa de, à beira de, à esquerda de, à direita de, à frente de, à espera de, à mercê de, à
semelhança de, etc.
Estava à procura de trabalho.
A vítima ficou à mercê do algoz.
Ela estava à frente do trabalho.

b) Locuções conjuntivas: à medida que e à proporção que.

A dívida aumentava à medida que os gastos continuavam.

c) Locuções adverbiais: às vezes, às claras, às ocultas, às pressas, à toa, às fartas, às


escondidas, à noite, à tarde, à vista, à direita, à esquerda, às terças-feiras.

Saiu às pressas.
A reunião acontecerá à tarde.
Às vezes traz trabalho para casa.

Provavelmente você já se perguntou por que as locuções adverbiais femininas


precisam de crase. Em boa parte delas, o uso deve-se à tradição. Em outras, o seu emprego é
fundamental para evitar ambiguidade. Perceba, nas figuras abaixo, como a retirada da crase
na expressão à vista causou alteração de sentido.

Fonte: Revista Veja sala de aula

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d) Entre as locuções adverbiais de tempo incluem-se as que indicam horas:

A sessão plenária começará às nove horas.

ATENÇÃO
A crase pode ser usada em locuções adverbiais de instrumento para evitar
ambiguidade:
Bater à máquina.
Pescar à rede.
Fechar à chave.

4.7.1 Locuções que não recebem crase

São tantas as locuções adverbiais que às vezes ficamos até confusos. Para ajudá-lo,
trazemos a seguir uma lista de locuções que não recebem crase, ora por serem formadas por
palavras masculinas, ora por serem formadas por preposição seguida de palavra plural.
Consulte-a sempre que estiver em dúvida.

Locuções que não recebem crase

a álcool a estibordo a olho nu a seguir


a bel prazer a ferro a ouro a sério
a boa distância de a ferro e fogo a par a serviço
a bordo a facadas a partir de a sete chaves
a bordoadas a frio a pauladas a socos
a braçadas a fundo a passos largos a sós
a cabeçadas a galope a pé a sono alto
a cacetadas a gás a pedidos a termo
a calhar a gasolina a pequena distância a tiracolo
a cântaros a gosto a pilha a tiro
a caráter a grande distância a pino a toda
a cargo de a granel a ponta de espada a toda força
a cavalo a jato a pontapés a toda hora
a cerca de a joelhadas a ponto de a toque de caixa
a certa altura a juros a porretadas a trote
a certa distância a lápis a portas fechadas a valer
a chibatadas a lenha a postos a vapor

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a chicotadas a longa distância a pouca distância a vela


a começar de a longo prazo a prazo a zero
a contar de a mais a prestações de alto a baixo
a curto prazo a mando de a princípio de cabo a rabo
a dedo a marteladas a propósito de fora a fora
a diesel a medo a público de mais a mais
a distância a meia altura a punhalada de mal a pior
a duras penas a meia distância a pururuca de parte a parte
de alto a baixo a meio pau a quatro mãos de ponta a ponta
de cabo a rabo a menos a querosene fazer as vezes de
a eletricidade a meu ver a rigor folha a folha
a esmo a montante a rir frente a frente
a cerca de a nado a rodo meio a meio
a esse, a essa a juros a porretadas a trote
a este, a esta a óleo a seco hora a hora

4.8 Paralelismo: dias e horas

Há certas construções em que horas e dias costumam aparecer aos pares. Para
verificar se existe crase entre os dois numerais, é preciso verificar se há apenas preposição
antes do primeiro elemento da série. Se houver preposição e artigo, diante do segundo
elemento também haverá as mesmas palavras, nesse caso deveremos usar o acento grave
para indicar a crase. Observe:

sem crase

De segunda a sexta-feira.

preposição preposição

com crase

Da segunda à sexta-feira.

preposição preposição
+ +
artigo artigo

Observe agora a mesma situação em referência a horários:

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sem crase

De 8h a 11h30.

preposição preposição

com crase

Das 8h às 11h30.

preposição preposição
+ +
artigo artigo

Ânimo! Estamos quase chegando ao fim, faltam apenas alguns tópicos.

4.9 Casos em que a crase é opcional

O uso do artigo feminino é opcional em algumas palavras. Nesse caso, o uso da crase
também será opcional. Vejamos os três casos em que isso ocorre:
a) Antes de pronome possessivo feminino:
O uso do artigo feminino é opcional antes dos pronomes possessivos (minha, tua,
nossa, sua, etc.). Se a palavra regente exigir a preposição a, poderemos optar por usar ou não
a crase. Compare:

Ele fez referência a minha irmã. (apenas preposição)


Ele fez referência à minha irmã. (artigo feminino a + preposição a)

b) Antes de nomes de mulheres:


Como o artigo é opcional antes de nomes femininos, se o termo regente exigir a
preposição a, o uso da crase também será opcional:

Ele fez referência a Tatiana.


Ele fez referência à Tatiana.

c) Depois da palavra até:


Quando inicia expressões indicativas de lugar, a palavra até pode aparecer seguida da
preposição a (até a algum lugar) ou sozinha (até algum lugar). Dessa forma, se houver uma
palavra feminina que admita o artigo, a crase será opcional.
Eu o segui até a praça.

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4.10 Substantivo feminino indeterminado

Há situações em que o redator pretende dar ao período um sentido indeterminado,


para se referir a situações genéricas. Nesse caso, não se usa o sinal indicativo da crase,
pois teremos após o verbo apenas a preposição a. Compare as frases a seguir e perceba a
diferença de significado entre elas.

Deu mostras de ter aversão a criança. (a uma qualquer)


Deu mostras de ter aversão à criança. (a uma criança determinada)

Governo entregará prêmio a escola que aumentar o índice do IDEB. (qualquer escola)
Governo entregará prêmio à escola vencedora. (escola determinada)

Outra forma de generalizar o substantivo é usar a preposição a diante de substantivo


no plural. Nesse caso, não há razão para o uso do acento indicativo de crase, visto que temos
apenas a preposição.

Ele não é favorável a leis discriminatórias.


Deu mostras de ter aversão a crianças.

Vamos assistir
à videoaula?
Videoaula 4: crase

SAIBA MAIS
Conforme a Constituição ou à Constituição?

Segundo José Maria da Costa, em seu Manual de redação profissional, ambas


estão corretas:
Para Carlos Góis, tal palavra pode ser advérbio (significando
conformemente, em conformidade com), conjunção (com o sentido de
como), preposição (quando é sinônima de segundo) e adjetivo (com a
significação de resignado, conformado, concorde). (...) Nesse sentido
também é a lição de Eliasar Rosa, para quem tal palavra ‘pode ter, ou
deixar de ter, após si, a preposição a. Tanto se pode dizer que o juiz
decidiu conforme a lei, como se pode dizer conforme à lei. Assim, estão
igualmente corretos os exemplos a seguir: O advogado atuou conforme
a lei; b) O advogado atuou conforme á lei; c) O advogado atuou conforme
o ordenamento jurídico; O advogado atuou conforme ao ordenamento
jurídico.
[COSTA, José Maria da. Manual de redação profissional. 2. ed. São Paulo:
Millennium, 2004.]

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Conclusão

Nesta aula, vimos que as palavras estabelecem uma relação de interdependência


quando se combinam para formar frases. Em decorrência disso, as relações de regência
verbal e nominal estão intrinsecamente ligadas ao mecanismo da crase, fusão de duas letras
de sons semelhantes. Além de usar o acento grave para indicar a união da preposição a com o
artigo feminino a, vimos que esse mesmo fenômeno ocorre com os pronomes demonstrativos
a e aquilo e com o pronome relativo a qual. Você também deve ter constatado que o emprego
da crase é crucial para evitar ambiguidade.
Antes de encerrar essa aula, que tal fazer mais alguns exercícios de fixação? É
interessante também que você assista à videoaula sobre crase. Assim a revisão que fizemos
sobre o assunto se solidificará em sua mente. Vamos lá!

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Referências

ALMEIDA, Napoleão M. Dicionário de questões vernáculas. 4 ed. São Paulo: Ática, 1998.

BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. Rio de Janeiro: Ed. Lucerna, 1999.

BRASIL, Academia Brasileira de Letras. Vocabulário ortográfico da Língua Portuguesa.

5. ed. São Paulo: Global. 2009.

CEGALLA, Domingos Paschoal. Dicionário de dificuldades da língua portuguesa. Rio de


Janeiro: Nova Fronteira, 1996.

CUNHA, Celso & CINTRA, Lindley L. F. Nova gramática do português contemporâneo. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

COSTA, José Maria da. Manual de redação profissional. 2. ed. São Paulo: Millennium, 2004.

FERNANDES, F. Dicionário de regimes de substantivos e adjetivos. 28. ed. Porto Alegre:


Globo, 2005.

FERREIRA, Mauro. Aprender e praticar: Gramática. São Paulo: FTD, 2003.

FIORIN, L. J. & PLATÃO, F. Savioli. Para entender o texto: leitura e redação. São Paulo: Ática,
1990.

GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna. Rio de Janeiro: FGV: 1986.

LUFT, Celso Pedro. Dicionário prático de regência nominal. 4. ed. São Paulo: Ática. 2007.

LUFT, Celso Pedro. Dicionário prático de regência verbal. 8. ed. São Paulo: Ática. 2008.

MORENO, Cláudio. Guia prático do Português: sintaxe. Porto Alegre: LPM. 2011.

NEVES, Maria Helena Moura. Gramática de usos do português. São Paulo: Editora UNESP,
2000.

SACCONI, Luiz Antonio. Nossa gramática: teoria e prática. 18. ed. São Paulo: Atual. 1994.

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