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Érika Simone Matias Portugal dos Reis

Espaços Livres de Lazer

Estudo do Caso da Praça Estrela

Universidade Jean Piaget de Cabo Verde

Pólo Universitário da Cidade do Mindelo


Caixa Postal 165, Rua Angola
Cidade do Mindelo, São Vicente
Cabo Verde

8.7.20
Érika Simone Matias Portugal dos Reis

Espaços Livres de Lazer

Estudo do Caso da Praça Estrela

Universidade Jean Piaget de Cabo Verde

Pólo Universitário da Cidade do Mindelo


Caixa Postal 165, Rua Angola
Cidade do Mindelo, São Vicente
Cabo Verde

8.7.20
Érika Simone Matias Portugal dos Reis,
autora do Projeto Final intitulado Espaços
Livres de Lazer: Estudo do Caso da Praça
Estrela, declara que, salvo fontes
devidamente citadas e referidas, o presente
documento é fruto do meu trabalho pessoal,
individual e original.

Cidade do Mindelo aos 8 de julho de 2020

Érika Simone Matias Portugal dos Reis

Projeto Final apresentado à Universidade


Jean Piaget de Cabo Verde como parte dos
requisitos para a obtenção do grau de
Licenciatura em Arquitetura.
Sumário

Uma cidade como Mindelo, com potencial comercial e turístico — uma das capitais
financeiras do país — onde a urbanização da cidade fez-se de forma orgânica, priorizando os
espaços privados, destinando os espaços públicos apenas para o tráfego e desumanizando o
ambiente da cidade. E aconteceu que, os espaços públicos livres — especialmente os de lazer,
os desprovidos de cobertura — escassearam a medida que a zona urbanizada avançava para o
interior da ilha.

Por isso propõem-se um novo paradigma para o espaço público da Praça Estrela, que tem
como base o padrão de utilização da população e como objetivos a resolução dos problemas
existentes enaltecendo as potencialidades permitindo uma unificação e uma leitura ao nível do
largo, através da arborização do espaço e da envolvente anexa (Rua do Quartel) permitindo
uma leitura contínua através de elementos arbóreos, escolha de espécies similares assim como
a correta paginação dos pavimentos. A proposta de zonas de estadia e novos percursos
permite introduzir no espaço novas centralidades e ligações que contribuam para a
requalificação do espaço.

Palavras-chave: Praça, Urbanismo, Requalificação, Arquitetura Paisagística.


Espaços Livres de Lazer

Agradecimentos

Aos que ajudaram na realização deste trabalho; os que direta ou indiretamente estiveram
presentes durante cada etapa desta longa caminhada.

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Espaços Livres de Lazer

Índice
Introdução ............................................................................................................................ 7

Capítulo 1: Fundamentação Teórica ................................................................................ 12


1 Definições e Conceitos .................................................................................................. 12
1.1 Espaço & Lugar ............................................................................................................. 12
1.2 Evolução do Espaço Público ......................................................................................... 13
2 A Praça .......................................................................................................................... 15
2.1 Lazer .............................................................................................................................. 16

Capítulo 2: Estudos de Caso .............................................................................................. 17


1 Levinson Plaza / Mission Park ...................................................................................... 17
2 Praças de Mindelo ......................................................................................................... 20
3 Reflexões ....................................................................................................................... 24

Capítulo 3: Praça Estrela ................................................................................................... 25


1 Localização da Área de Estudo ..................................................................................... 25
1.1 Delimitação Física e Preceptiva .................................................................................... 26
1.2 Contexto Histórico de Criação ...................................................................................... 26
1.3 Tipologias da Praça Estrela ........................................................................................... 28
1.4 Morfologias da Praça Estrela ......................................................................................... 30
1.5 Tendências atuais e novas caraterísticas do espaço público .......................................... 31
1.6 A Identidade Urbana da Praça Estrela ........................................................................... 32

Capítulo 4: Projecto Praça Estrela.................................................................................... 37


1 Desenvolvimento do projeto.......................................................................................... 37
1.1 Analise SWOT / FOFA ................................................................................................. 38
1.2 Envolvente da Praça/Edifícios de Destaque .................................................................. 39
1.3 Estudo da Rede Viária de transportes ............................................................................ 40
1.4 Morfologia do Terreno .................................................................................................. 40
1.5 Estudo Dos Cheio e dos Vazios..................................................................................... 41
1.6 Concentração de Pessoas ............................................................................................... 41
1.7 Reflexões ....................................................................................................................... 42
2 Conceito Arquitetónico ................................................................................................. 43
2.1 Programa de Necessidades ............................................................................................ 44
3 Memorial Descritivo ...................................................................................................... 46
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3.1 Zoneamento ................................................................................................................... 48


3.2 Drenagem....................................................................................................................... 49
3.3 Piso/Pavimentos (Paginação dos Pisos) ........................................................................ 50
3.4 Mobiliário Urbano ......................................................................................................... 50
3.5 Vegetação ...................................................................................................................... 51

Conclusão .......................................................................................................................... 53

Bibliografia .......................................................................................................................... 56

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Tabelas
Tabela 1 – Tipos de pavimentos. .............................................................................................. 50

Tabela 2 – Tipo de Mobiliário. ................................................................................................. 50

Tabela 3 – Exemplos de espécies vegetais à introduzir no projeto. ......................................... 52

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Gráficos
Gráfico 1 - Desde quando frequenta o local? ........................................................................... 32

Gráfico 2 - O que faz no local .................................................................................................. 32

Gráfico 3 – Com que frequência? ............................................................................................. 33

Gráfico 4 – O que acha do local? ............................................................................................. 33

Gráfico 5 – Na sua opinião, quais os problemas aqui enfrentados? ......................................... 33

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Figuras
Figura 1 – Praça Estrela, lado oeste (barraca das vendedeiras). Fonte: acervo da autora. ......... 9
Figura 2 – Arredores da Praça Estrela. ..................................................................................... 10
Figura 3 – Ilustração da divisão do dia. .................................................................................... 16
Figura 4 - Planta do Levinson Plaza. ........................................................................................ 17
Figura 5 - Esquema de zoneamento do Levinson Park. ........................................................... 18
Figura 7 – Levinson Plaza. ....................................................................................................... 19
Figura 6 – Levinson Plaza. ....................................................................................................... 19
Figura 9 – Praça Estrela, em finais dos anos 40. ...................................................................... 22
Figura 8 - Praça Amílcar Cabral. .............................................................................................. 22
Figura 10 – Vista aérea da praça. ............................................................................................. 25
Figura 11 – Espaço traçado da Praça Estrela. ........................................................................... 26
Figura 12 – Praça Estrela, em finais dos anos 40. .................................................................... 27
Figura 13 – Vista panorâmica da plataforma oeste da Praça Estrela........................................ 28
Figura 14 - Dinâmica da praça. ................................................................................................ 29
Figura 15 – Painel de azulejos oferecido pela camara do Porto. Fonte: acervo da autora. ...... 30
Figura 16 - Ruas entre as barracas de venda da Praça Estrela. ................................................. 31
Figura 17 - O piso da praça e arredores. ................................................................................... 32
Figura 18 - Diagrama do Espaço. ............................................................................................. 35
Figura 19 – Envolvente da Praça Estrela. ................................................................................. 38
Figura 20 – Edifícios a Norte da Praça. .................................................................................... 39
Figura 21 – Estudo da rede viária de intervenção. ................................................................... 40
Figura 22 – Mapa hipsométrico da área. .................................................................................. 40
Figura 23 – Estudo do edificado na área de intervenção. ......................................................... 41
Figura 24 – Estudo da dinâmica na área de intervenção. ......................................................... 42
Figura 25 – Proposta de Projeto para a Praça Estrela ............................................................... 46
Figura 26 – Delonix Regia........................................................................................................ 47
Figura 27 – Proposta de Projeto para a Praça Estrela (Vista de Topo). ................................... 47
Figura 28 – Mapa do Zoneamento das Áreas do Projeto. ........................................................ 48
Figura 29 – Escultura de Bronze feita por Nilo-Ró, da Interart, em 1989. .............................. 51

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Introdução

Este projeto baseia-se na reconstrução de um espaço público de proximidade na área de


Urbanismo e Arquitetura, onde a forma do desenho influencia o uso dos espaços que o
compõem. Desenvolve-se na Praça Estrela, espaço público de grande interesse urbano por
parte da Cidade do Mindelo, uma referência para a ilha de São Vicente. Conhecida pelo seu
comércio informal que era, há décadas atras, um espaço de lazer – é uma estratégia, tanto a
nível arquitetónico como a nível urbano, de recuperar a identidade perdida da Praça e criar
uma nova memória do lugar, mas sem danificar a antiga. Fizeram-se pesquizas sobre os
conceitos de vários autores para a definição de espaço público e a sua evolução ao longo do
tempo, bem como as suas designações e apropriações (e outras características do projeto).

Não serão feitas apologias aos espaços públicos e nem críticas incisivas, tampouco a
descrição das diferenças entre as várias formas de uso e apropriação, porque poder-se-ia dizer
que essas diferenças são óbvias em função dos seus atributos físicos. Buscar-se-á então
caracterizar as diferenças através dos seus detalhes, a fim de explicar relações sócio espaciais
com novos significados. Sobre esse aspeto, posteriormente serão reveladas particularidades de
máxima importância na reflexão das verdadeiras intenções e funções atribuídas aos espaços.
Deste modo, o levantamento bibliográfico e fotográfico do assunto, junto aos elementos
teóricos com os dados atuais dos espaços públicos de lazer da cidade de Mindelo, mais
concretamente da Praça Estrela (antiga Praça da Independência), concluiu-se esta proposta de
revitalização.

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Objetivo Geral

Requalificação da Praça Estrela.

Objetivos Específicos

 Demostrar a importância da Praça Estrela para a urbe;


 Conceituar as temáticas de lazer mediante o uso do espaço público;
 Demarcar a importância desse espaço para o desenrolar de outros fatores de mais
relevância para a urbe;
 Colaborar para a reflexão a respeito da apropriação do espaço público para o lazer;
 Idealizar e propor um espaço público que se identifique com o bairro onde a actual
Praça Estrela se encontra inserida.

Este trabalho procura trazer a luz as qualidades/atributos os espaços públicos devem possuir e
as várias formas de apropriação informais e formais que acontecem nos espaços públicos de
lazer e recreação — como praças e parques, a fim de alimentar, teoricamente, futuros
trabalhos de requalificação desses mesmos espaços, mais concretamente, dos Espaços Público
de Lazer.

Metodologia

Durante a realização do trabalho, a pesquisa foi em três vertentes: abordagem teórica,


abordagem qualitativa e a abordagem quantitativa dos dados adquiridos no terreno, visando o
entendimento das dinâmicas dos diversos temas envolvidos com o objeto de estudo por meio
de pesquisas1. Optou-se pelo uso de Estudo de caso, de forma a catalogar estratégias que
ajudassem a compreender a interação usuário-ambiente e empregando a estas uma abordagem
qualitativa que objetiva a interpretação e a compreensão dos dados coletados em campo.

Foram elaboradas etapas processuais que considerarão os levantamentos realizados tanto de


referencial teórico quanto os levantamentos dos dados da região com a finalidade de otimizar
o andamento da pesquisa. Assim, praças e parques do município foram identificados e os
espaços com maior e menor potencial de apropriação pelos usuários, sendo estas últimas
descartadas na fase de observação dos locais.

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Este processo não abrange apenas a identificação de problemas e potencialidades do local, mas também a
avaliação in loco dos seus componentes e formadores.
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A observação do local foi importante para compreender como os indivíduos se apropriam e


utilizam os espaços, todavia, o desenvolvimento de diálogos como os usuários é importante,
na medida que agrega informações importantes quando se quer compreender o que atrai
pessoas a utilizarem ou não tal ambiente, quais suas expectativas em relação ao local, o que
poderia melhorar ou o que poderia ser evitado. Para tal foi fez-se a observação e o estudo do
espaço e pelo auxílio de imagens (fotografias) que ajudam na compreensão de como este
espaço é utilizado.

Finalmente, depois de realizadas todas as pesquisas e de se ter construído um programa


sustentável para a proposta projeto, passa-se a sua realização — sendo ela superficial e, após a
demolição do atual edifício — recorrendo a softwares afins: AutoCAD, Paint (da Office), e
Google SketchUp (para criar o volume virtual).

Justificativa da Escolha do Tema

A Praça Estrela foi alvo desse estudo, principalmente devido a sua identidade e a sua história
que foi esquecida. Porque a memória coletiva resultante desse espaço, tem ficado cada vez
mais subentendida e camuflada entre os novos usos que se dão a esse espaço público.

Hoje em dia os mais jovens nem


sabem o porquê do nome Praça
Estrela. A identidade urbana tem-se
perdido ao longo dos tempos e os
documentos que podem reinstalar a
memória coletiva são acessados
apenas para fins académicos. Na
disciplina de teoria de urbanismo,
Figura 1 – Praça Estrela, lado oeste (barraca das onde foi proposto o tema
vendedeiras). Fonte: acervo da autora.
Diagnostico Dos Valores Identitários
Do Espaço Público Da Cidade De Mindelo, resultou a base deste estudo, onde reflectiu-se
sobre o espaço da Praça Estrela e os seus vários valores. Uma área que pode ser aproveitada
para vários fins e, um destes principais fins, que é o lazer, já foi há muito expulso do espaço:
isso deve-se ao desinteresse da autarquia pelo espaço, uma vez que os vários equipamentos
públicos, que deviam suportar o local, encontram-se degradados ou inexistentes. E sem a

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presença de guarda, uma patrulha noturna, mesmo que se reinstale esses equipamentos, eles
serão danificados e retirados em pouco tempo — principalmente pelos vândalos.

Depois de suportar a reintegração de um espaço de lazer na praça, a demolição dos quiosques


(construídos em 1998) é inevitavel, uma vez que a permanência do comércio dos dois lados
da praça, não é uma ocupação muito sustentável. O lazer ficara restrito ao lado este, enquanto
o comércio ficava exclusivo para a área oeste — mais próximo ao mercado de verduras e do
Matingim (onde desenvolvem outras formas de comercialização informal). E, assim, a Praça
poderá ser reintegrada a malha urbana como sendo um espaço de lazer de qualidade e não
apenas um mercado.

Assim, juntamente com as pesquisas técnicas, prevê-se criar um programa de requalificação


que intervenha na renovação da identidade do espaço e da sua infraestrutura básica, o que ira
resultar num novo desenho de soluções de pavimentação, iluminação, elementos de drenagem
e mobiliário público.

Figura 2 – Arredores da Praça Estrela.


Foto: Vinícios Venâncio de Sousa (2017).

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Estrutura do Trabalho

Estruturalmente, o trabalho encontra-se repartido em quatro capítulos, que se organizam


segundo as pretensões do sistema académico e seguem a logica do desenvolvimento de um
trabalho.

Para a elaboração deste trabalho será necessário, primeiramente, conceituar as temáticas


abordadas. Por isso, o primeiro capítulo iniciar-se-á com a breve conceptualização e
contextualização do lazer, do espaço público e as suas identidades. Em seguida, os conceitos e
as opiniões chave dos autores serão explanados, criando uma série de fundamentos teóricos
que suportaram o desenvolvimento e o desfecho do trabalho com sucesso.

O capítulo seguinte trará a importância e a exposição dos Estudo de caso, que serão o
exemplo dos fundamentos do capítulo anterior, apoiados na prática e em casos idênticos aos
enfrentados no espaço da intervenção. Após a apresentação dos mesmos, será feita uma
pequena conclusão dos mesmos sob forma de analisar o melhor que tais casos poderão
oferecer a proposta.

O terceiro capítulo, será exclusivo para se analisar o impacto que os espaços livres de lazer
tiveram na cidade do Mindelo, mais especificamente o estudo da praça estrela e a sua
evolução influencia pelas outras praças que se desenvolveram ao redor. Seguir-se-á depois
para a apresentação do objeto de estudo, mediante a sua descrição e levantamento histórico.
Nesta etapa, poder-se-á verificar a relação usuário-espaço e o vínculo entre o objeto de estudo
e a envolvente.

Uma vez compreendida a relação do são-vicentino e a praça Estrela, será feito o confronto
entre os conceitos e o cenário atual com a intenção de se reunir as caraterísticas essenciais
para a proposta de um espaço público de lazer bem-sucedido.

E, finalmente o último capítulo, onde serão desenvolvidas as bases da proposta, tais como e o
conceito, a memoria descritiva e a representação da proposta final, sob forma de peças
desenhadas e representações 3D, que suportarão a compreensão da proposta final e dos
fundamentos teóricos aplicados a mesma.

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Capítulo 1: Fundamentação Teórica

1 Definições e Conceitos

1.1 Espaço & Lugar


“O lugar é segurança e o espaço é liberdade: estamos ligados ao primeiro e desejamos o
segundo” (Tuan, 1983). São, portanto, conceitos que não se podem definir
independentemente.

A palavra espaço traduz-se numa “extensão indefinida”, podendo esta extensão ser uma
“extensão de tempo” ou “superficial. Deriva do latim spatium. Lugar pode-se definir como
um “espaço ocupado por um corpo; espaço em que está alguém ou alguma coisa; espaço
independentemente do que pode conter” (Figueiredo, 1991).

Para Lefebvre (1986, citado por Silvano, 2010) observar o espaço significa observar as
práticas sociais que o constituem. O autor avança com conceitos de quatro tipos de espaços
possíveis: o espaço absoluto, que é natural até ser ocupado e transformado pelo homem; o
espaço abstrato, em que o espaço ganha uma função instrumental nos processos de produção e
reprodução; o espaço contraditório, que resulta das contradições do espaço abstrato, revelando
a desintegração ou aparecimento de novos espaços; o espaço diferencial, aquele que resulta da
composição de diferentes lugares, e que realmente têm.

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1.1.1 Espaço Público


O conceito de espaço público é estudado e definido por diversas áreas, desde a Arquitetura,
Arquitetura Paisagística à Geografia passando obrigatoriamente pela Sociologia. São diversos
os autores que se focam nesta temática discutindo e atribuindo uma elevada importância ao
conceito. Em termos gerais, quando se pensa em espaço público, define-se como o espaço
físico ao qual qualquer cidadão poderá e devera ter livre acesso. Pensa-se, em primeira
instância, nos parques e jardins urbanos, nas ruas e praças, mas também nos centros
comerciais, que embora sejam de domínio privado, o seu acesso é público. Mas espaço
público é mais que isso.

De acordo com Borja (2001), geógrafo e urbanista, o espaço público não é meramente o
espaço vazio entre edifícios e ruas, nem um espaço vazio considerado público por razões
exclusivamente jurídicas. É mais do que isso. É um espaço multifuncional que serve de palco
à sociedade; é um espaço físico, simbólico e político onde as relações sociais se estabelecem.
Borja, afirma também, que contar a história do espaço público é contar a história da própria
cidade, e que a qualidade da cidade poderá ser avaliada através do seu espaço público, pois
indica a qualidade de vida dos cidadãos e o seu grau de cidadania.

1.2 Evolução do Espaço Público


O espaço público, local por excelência da vida das sociedades, tem vindo a evoluir desde a
Grécia e Roma Antigas, assumindo-se sempre como um lugar de referência nos diferentes
contextos históricos e culturais, sempre existiu. Sucessivas modificações no contexto social,
económico e ambiental ocorreram, alterando os hábitos dos cidadãos e tendo essas alterações
vindo a ser refletidas no espaço público.

O conceito de que a cidade possui um espaço dedicado aos cidadãos e à vida enquanto
comunidade não é atual, existe desde há muitos séculos. Não pretendendo apresentar uma
descrição exaustiva da evolução do espaço público, apresenta-se um breve resumo acerca
desta temática.

A Ágora Grega e o Fórum Romano são talvez os primeiros espaços projetados de que há
registo claro, com o intuito de serem espaços públicos, espaços feitos para os cidadãos que
possibilitem a sua vida enquanto sociedade. A Ágora consistia num espaço público localizado
no centro da Polis onde os cidadãos se reuniam para debater questões inerentes à sociedade.
Era o espaço onde atividades políticas, comerciais e religiosas tinham lugar. O Fórum à
semelhança da Ágora encontrava-se no centro da cidade rodeada por edifícios públicos do
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centro simbólico e por edifícios públicos importantes. Era o espaço da cidadania, da política,
da religião e do comércio, tal como na Grécia Antiga.

Posteriormente, na Idade Média, a cidade é um espaço fechado, delimitado por muralhas e


contendo um castelo. Entrava-se através da sua “porta” e deambulava-se por ruas estreitas que
iriam terminar em praças. A praça torna-se o elemento do espaço público; “aliás, é um
concentrado de recursos económicos e especificidades culturais que caraterizam as diversas
cidades e como tal funcionou desde a época medieval até aos nossos dias”. A praça resultava
de um vazio na estrutura urbana e funcionava como um largo onde se desenvolviam
atividades sociais e comerciais. A cidade medieval cresceu e desenvolveu-se sem ordem
pensada e estruturada, onde se ligavam os seus diversos elementos que constituíam o espaço
público. (Almeida, 2006).

Na cidade Renascentista, a rua constitui o elemento estruturante da organização da cidade,


servindo como elo de ligação e acesso de todos os pontos da cidade. É nesta altura que as
árvores começam a ser inseridas no traçado da cidade por razões funcionais, estéticas e
climáticas. A praça deixa de ser um vazio resultante da malha urbana e passa a ser um ponto
central desenhado e projetado da cidade, onde os principais edifícios e monumentos eram
erguidos. Continua, no entanto, a ser um espaço de elevado valor político e social e também
artístico e simbólico. “Apresenta-se como um cenário, espaço decorado e embelezado,
simbolizando competência e prestígio.” (Almeida, 2006).

A partir do Barroco o quarteirão ganha um novo valor na forma, desenho e integração da


malha urbana. O quarteirão é limitado por vias que delimitam edifícios e lotes. Os
alinhamentos de árvores ao longo das ruas continuam nesta época a constituir uma importante
alteração desde o Renascimento, assumindo uma elevada importância na definição de eixos e
da monumentalidade dos edifícios. (Almeida, 2006).

É no século XIX, que o desenvolvimento de novas tecnologias e o crescente interesse pela


ciência ganha expressão impulsionando a Revolução Industrial. A nova “era” trouxe
naturalmente alterações às cidades e, consequentemente, ao espaço público. Uma das
consequências foi a concentração de população nas cidades. Os significados de outrora do
espaço público perderam-se passando a criação do espaço a ser feita com princípios utilitários
e funções especificas a determinadas classes. É certo que os jardins já existiam, mas é nesta
altura que se tornam num importante elemento urbano e que surge a Arquitetura Paisagista.
“O conceito de espaço verde, com utilidade coletiva e local de convívio social, remonta a um

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passado antigo (…). A apropriação pública dos espaços verdes da cidade surge,
principalmente, depois da Revolução Industrial, em sintonia com as crescentes preocupações
higienistas em melhorar a qualidade de vida na cidade industrial.” (Almeida A. , 2006).

A revolta contra a industrialização manifestou-se, “dizendo” os entendidos, que se deveria


retornar ao “natural”, favorecendo a qualidade no que se refere à água, iluminação natural,
jardins e espaços de recreio. Assim, a cidade industrial começa a ser posta em causa. A
reflexão sobre as cidades industriais, leva a que o espaço público seja por vezes privilegiado
em função da circulação e outras vezes em função da vida comunitária. No Modernismo, o
espaço público segue a linha orientadora que define este movimento, a função. Surgem
espaços fragmentados e destruturados, como espaços residuais entre os edifícios, muitos deles
sem alma, onde o seu uso era só um.

Já na década de 80 volta-se a questionar esta construção do espaço público, voltando à


necessidade de criar espaços onde seja possível a existência de uma maior qualidade de vida.
Atualmente tenta-se renovar o(s) espaço(s) público(s), de forma a criar espaços com alma e
onde os cidadãos voltem a fazer a sua vida social, sendo dada uma maior importância à
identidade do local e à participação pública.

2 A Praça
A praça, para Lamas (2004) “é um elemento morfológico das cidades ocidentais”, inexistentes
anteriormente, distinguindo-se “de outros espaços, que são o resultado acidental de
alargamento ou confluência de traçados — pela organização espacial e intencionalidade de
desenho. [...] A praça pressupõe a vontade e o desenho de uma forma e de um programa”.
Deste modo, o autor caracteriza a rua como “lugar de circulação” e a praça como “lugar
intencional do encontro, da permanência, dos acontecimentos, de práticas sociais, de
manifestações de vida urbana e comunitária e de prestígio, e, consequentemente, de funções
estruturantes e arquiteturas significativas” (Lamas, 2004, p. 102). Lamas indica ainda que a
praça na cidade tradicional, como a rua, estabelece “estreita relação do vazio (espaço de
permanência) com os edifícios, os seus planos marginais e as fachadas. Estas definem os
limites da praça e caracterizam-na, organizando o cenário urbano” (Lamas, 2004, p. 102).
Para o autor, este é um aspeto menos presente na praça da urbanística moderna, tendo em
vista “as dificuldades de delimitação e definição provocadas pela menor incidência dos
edifícios e fachadas” (Lamas, 2004, p. 102).
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2.1 Lazer

O lazer, historicamente, está


relacionado a uma gama de
experiências (e espaços) que o homem
“pode” usufruir, tais como: teatros,
cinemas, músicas, bibliotecas, parques,
estádios, praças, práticas desportivas e
mais recentemente, com o advento da
globalização, também são tidos como
espaços de lazer a televisão, a internet,
os centros comerciais, as viagens
Figura 3 – Ilustração da divisão do dia.
turísticas, etc. Fonte. Quora.com.

2.1.1 Revitalização e Requalificação


Em relação à revitalização de áreas ociosas é de extrema importância e se faz necessário o
máximo cuidado em relação aos impactos urbanos do modo como as operações de
reanimação são realizadas.

Moreira (2007) afirma que os conceitos utilizados diversificavam entre revitalização,


recuperação ou reabilitação, aparentemente designando o mesmo processo. Tem o conceito de
“recuperar o sentido da ubiquação residencial das populações, através de múltiplas ações e
medidas, que vão da infra-estruturação à valorização da imagem interna e externa, passando
pela provisão dos adequados serviços e pela equidade no acesso ao emprego (Moreira, 2007).

A Requalificação urbana procura reintroduzir as qualidades urbanas, as acessibilidades e a


centralidade de uma determinada área, provocando a sua mudança ao nível paisagístico,
cultural, social e económico. Tendo uma enorme semelhança com a reabilitação urbana, pode
ser compreendida como uma operação de intervenção no espaço urbano que tem como
objetivo a sua transformação, incluindo assim ações tão dissemelhantes como a reabilitação
do edificado ou mesmo a sua renovação e a qualificação do espaço público. Provoca a
mudança do valor da área, ao nível económico (atividades económicas com alto valor
financeiro), cultural (localização de usos económicos relacionados com a cultura),
paisagístico e social (produção de espaços públicos com valor de centralidade).

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Capítulo 2: Estudos de Caso

1 Levinson Plaza / Mission Park


Localização: E.U.A., Boston.

Arquiteto: Mikyoung Kim Design.

Ano de construção: 2008.

Área construída: 9144m2.

Figura 4 - Planta do Levinson Plaza.


Fonte: Archdaily.
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Concebido como um bosque urbano, este espaço central de reunião representa a convergência
da comunidade neste desenvolvimento residencial diversificado e de renda mista. O projeto
acomoda um programa complexo, dividindo os variados usos multiculturais e interrelacionais
com uma série de espaços significativos de coleta e recreação para os residentes. Tai Chi,
xadrez, áreas de recreação infantil e áreas de estar contemplativas permitem que vários grupos
utilizem os espaços do jardim de diferentes maneiras. As áreas de gramado podem ser usadas
para banhos de sol no verão e também fornecem à comunidade áreas para programação
flexível durante reuniões maiores, como celebrações para o Ano Novo Chinês, o Dia da
Unidade da Rússia e outros eventos culturais e cívicos (Kim, 2018).

Figura 5 - Esquema de zoneamento do Levinson Park.


Fonte: Archdaily.

O projeto paisagístico da praça foca em fornecer ao Mission Park uma paisagem que atrai seu
espírito dos jardins regionais da Nova Inglaterra. A praça usa materiais de pavimentação que
resistirão aos invernos longos e desafiadores, enquanto a padronização em si é projetada com
base nos padrões de espinha de peixe de paisagens residenciais. O padrão da praça costura as
áreas de coleta e passagem juntas, trazendo uma escala humana para esse grande espaço da
praça. As áreas pavimentadas dentro do jardim são esculpidas no bosque para permitir o
acesso direto aos principais pontos de entrada e ao transporte público.

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O plantio é composto por espécies que


foram naturalizadas na paisagem urbana
da Nova Inglaterra. Esta paleta de plantas
é capaz de suportar as condições
exigentes que uma cidade oferece; ventos
fortes, aplicações de sal de inverno,
condições pobres do solo e altas variações
na temperatura do ar / solo.
Considerações de design abordaram as
preocupações dos moradores com a
triagem visual e sonora da Huntington
Avenue, uma via principal congestionada
que acomoda o trem e quatro faixas de
tráfego de veículos. Linhas de sebes em
camadas que consistem em River Birch e
Figura 7 – Levinson Plaza.
Zelkova filtram estas condições urbanas
Fonte: Archdaily.
enquanto mantêm vistas para a segurança
em todo o espaço.

O design para este projeto de 30.000 pés


quadrados (9144 metros quadrados) cria
um ambiente confortável ao ar livre.
Anteriormente definido por uma praça
central elevada, o espaço foi exposto ao
congestionamento do tráfego e do trem na
vizinha Huntington Avenue. O novo
design do site remove as alterações de Figura 6 – Levinson Plaza.
Fonte:Archdaily.com.
classificação para criar uma paisagem
universalmente acessível para os moradores dessa comunidade, ao mesmo tempo em que
utiliza uma rica paleta de plantas que permite que vários tipos de atividades programáticas
ocorram simultaneamente em várias salas de jardim. As camadas das copas das árvores, dos
canteiros e das superfícies pavimentadas reforçam a unidade e a natureza democrática da
praça.

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Com isso, o projeto busca integrar tanto o entorno construído quanto o natural e criar espaços
conectados e que possibilitem diversos usos — como por exemplo, áreas para eventos
culturais e para as crianças brincarem. Em razão dos invernos rígidos da região, o piso
escolhido é de concreto e foi desenhado com um padrão geométrico para trazer movimento e
vida ao grande espaço. Também por causa das condições climáticas específicas as espécies
vegetais propostas são todas adaptadas à região de New England.

Ao observar o zoneamento, percebe-se que de fato a praça integra diversos usos, mas estão
todos localizados lado a lado, convivendo em harmonia, as pessoas podem praticar várias
atividades distintas entre si no mesmo espaço físico, o que incentiva a convivência pacífica
entre os diferentes. O mobiliário usado tem linhas simples e acompanham o estilo do projeto
como um todo. Existem dois tipos de bancos, um com encosto e outro sem, apenas como um
volume. A iluminação é voltada aos usuários, com postes baixos e que não “lavam” a praça
inteira, mas se concentram em criar ambientes. Outra caraterística marcante do projeto é a
preocupação em deixar várias áreas expostas ao sol, uma vez que, na maior parte do ano, a
temperatura é baixa e a incidência de raios UV não é tão agressiva quanto em Cabo Verde.

2 Praças de Mindelo
A Praça Dom Luiz (1879), localizada na Avenida Marginal do Mindelo, em São Vicente,
passou por uma serie de transformações e alterações ate que foi transplantada no local onde
de encontra a atual Praça Nova ou Praça Amílcar Cabral. Esta mudança arbitrária
desencadeou um veemente protesto. Contudo, todos os protestos e manifestações não
resultaram em nada, uma vez que era um assunto da Coroa Britânica. Assim, de acordo com
Ramos (2003), por volta de 1858, foi construída a Praça Dom Luiz, que se situava ao lado dos
escritórios da antiga Millers & Corys, mais precisamente onde de situa a Agencia Nacional de
Viagens. A Praça ocupava todo o quarteirão do atual Centro Cultural Francês, locais onde
estava também os antigos Armazéns da EMPA e a antiga Secção de Encomendas Postais. A
Praça Dom Luiz era muito bonita e concorrida, pois era o único ponto de encontro das
pessoas de todas as idades e camadas sociais, uma vez que não haviam locais de diversão e a
povoação de Mindelo contava com pouco mais de três mil habitantes.

Todos os domingos, quintas-feiras e feriados, a Orquestra Sinfonia dava concertos ali.


Haviam candeeiros de ferro fundido alimentados a acetileno e petróleo. No centro da mesma,
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em 1879, fora instalado um grande candelabro de seis bocas que, além de embelezar a praça,
iluminava profusamente o espaço equipado com acentos fortes e confortáveis. Havia um belo
jardim bem tratado e um muro de resguardo, devido as frequentes invasões da mare – uma
vez que se situava próxima ao mar.

Deste modo, os ingleses necessitavam dessa área para construir os depósitos de carvão da
CSVCV, por isso foi-lhes concedido o sítio. Assim, tudo começou com o Decreto Régio de
26/9/1891. O povo rebelou. O seu lugar de prazer e ócio iria ser-lhes confiscado. Por
intermédio dos Agentes da CSVCV, Senhores Ferro & Irmão e António Júlio Machado, foi
construída uma nova praça na Fonte Nova e dai a carismática Praça Nova, embora
oficialmente fosse a Praça Serpa Pinto.

Contudo, contra a vontade do povo, a Praça Dom Luiz foi demolida em 1891. Os ingleses
construíram os enormes quintais como depósitos de carvão, que por sua vez, alimentavam as
navegações que demandavam o Porto Grande. Construíram grande ponte de metal ate ao
primeiro andar com caminhos-de-ferro nos dois níveis, por onde passavam as vagonetas que
atravessavam a rua ate ao cais. Ali eram atracadas por um guindaste giratório.

Todo esse movimento de carga e descarga era o mesmo para todas as companhias carvoeiras,
desde a Wilson & Sons, Millers & Corys Bros., ate a CSVCV, devidamente apetrechadas e
bem instaladas. E todo esse trabalho gerava postos de trabalho: homens e mulheres ganham o
seu sustento e, os vários barcos que estava sempre a descarregar e a carregar carvão,
erradicaram a miséria do povo. Porem, o povo ainda estava descontente. A nova praça ficava
muito longe do centro urbano, na zona da Fonte Nova e, segundo as superstições, era um local
amaldiçoado. Os pouquíssimos moradores da zona ficavam assombrados a noite devido a
presença de tarrafes e bombardeiras que abundavam ali. De toda a forma, a Praça Nova foi
entregue a Camara Municipal e inaugurada no dia 29 de Novembros de 1894.

Segundo Ramos (2003), o recheio da praça era constituído por um coreto poligonal com oito
colunas de ferro em relevo, estes sustentavam o teto rendilhado em cima e a volta, num
varandim também em ferro trabalhado; um belíssimo chafariz circular em mármore polido, ao
centro do mesmo havia um bonito repuxo assente sobre uma redoma de ferro fundido
artisticamente trabalhado; cadeiras fortes e confortáveis à volta e ao centro, com candeeiros
tipo ‘kitson’ assentes sobre colunas de ferro fundido, com relevos à decorar. Todo esse
material foi importado da Inglaterra, produtos da Glasgow – o nome do fabricante encontrava-

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se inscrito em placas de bronze afixadas nas costas das cadeiras e nas colunas de ferro. Talvez
seja por isso que a praça foi chamada Praça Glasgow, por uns tempos.

Depois da independência, a Praça Nova, Praça Glasgow ou Praça Serpa Pinto foi designada
Praça Amílcar Cabral. Mas,
independente do nome, o espaço
tem vindo a sofrer modificações
desde o seu início. Reconstruiu-se
o coreto (o que ainda existe) com
os materiais do antigo, e em 1960
foi construída a Esplanada
Quiosque no local deste (que
também existe nos dias atuais).
Figura 9 - Praça Amílcar Cabral. Em 1993, a Camara Municipal
Fonte: Cardo & Lopes (2016).
restaurou completamente a praça,
tronando-a num lugar mais atraente e encantador. Construiu-se um muro em angulo reto, com
cerca de um metro de altura, precisamente para defender a praça das fortes enxurradas que, de
acordo com Ramos (2003):

Figura 8 – Praça Estrela, em finais dos anos 40.


Fonte: Foto Melo.
Antigamente, em anos de boas-águas quando chovia a potes, corriam ribeiras
caudalosas que metiam medo as pessoas e, se na sua fúria apanhassem alguém ele
seria logo arrastado para o mar. A forte corrente trazia muito lixo e grande
quantidade de pedras, latas, garrafas, trapos, papeis e muita coisa malcheirosa que
invadia a praça cobrindo-a com mais de cinco palmos de lama suja […]. Contudo,
mais tarde, o muro foi demolido, talvez por que as chuvas tenham fugido de cá, ou
por que o mesmo já não se conformava com a realidade da cidade (Ramos, 2003).

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Apesar do seu ‘nascimento’ conturbado, a Praça Nova tornou-se parte da nossa cultura e é
considerada a sala de visitas do Mindelo. Apreciado por pessoas de todas as idades e camadas
sociais e onde os estudantes confraternizam. Noutros tempos, nem todos podiam passear
dentro da praça; a polícia proibia que as pessoas descalças aí permanecessem. Obviamente
que isso revoltou muita gente, mas, infelizmente, ninguém se atrevia a protestar uma vez que,
depois de habituarem-se, parecia normal. Com a evolução dos tempos, a liberdade e os
direitos do homem convenceram o povo de que essa velha ordem era discriminatória e
simplesmente humilhante, desrespeitava a dignidade das pessoas pobres.

Assim, haveriam mais pessoas na praça e os bancos não eram suficientes para responder a
essa demanda, então, para se sentarem, alugavam-se cadeiras portáteis por um escudo cada,
que pertenciam a Camara Municipal. Havia um urinol bem asseado mesmo à esquina do
Cinema Éden Park, também pertencente ao Município. Houve também uma época em que,
com a demolição do urinol, as pessoas passaram a aliviar-se nas paredes alheias.

A banda tocava na praça no período da tarde. Os jovens pais e avos, levavam os seus filhos e
netos para brincarem na praça. Há quem diga que era uma verdadeira escola de dança sem
mestre. Algo admirado ate pelos estrangeiros que cooperavam e residiam também em São
Vicente, levavam também os seus filhos.

Hoje em dia, pelo que se percebe facilmente, a praça ainda desempenha a sua função de
desafogar o centro, como plataforma giratória, um espaço para o lazer e que apoia as várias
atividades que se desenvolvem na cidade – especialmente durante o Carnaval, altura em que a
praça é totalmente isolada/contida e as viaturas são barradas, transformando toda a área
envolvente numa via pedestre. Durante os finais-de-semana, a praça esta preenchida
adolescentes (mas, antes, eram na sua maioria crianças, que hoje me dia se divertem na Praça
Nhô Roque) que passeiam, criam conflitos (conversas e discussões tipicamente juvenis) e põe
as ‘conversas em dia’ ou apenas aproveitam a oferta de Wi-fi grátis.

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3 Reflexões
O primeiro estudo, a Levinson Plaza, concebido como um bosque urbano que cria, ao mesmo
tempo, vários espaços multiculturais e interrelacionais para um programa complexo. A Praça
antes era elevada, mas, para uma paisagem mais acessível aos moradores, optaram por
rebaixa-la.

Fala-se da evolução dos espaços públicos de lazer do Mindelo, mais concretamente da Praça
Estrela, do Largo Dom Luiz e da Praça Nova (Amílcar Cabral) e nas suas relações.
Descobriu-se que a Praça Nova era afinal uma introdução brusca na malha urbana, renegada
pela população nos primeiros tempos, uma vez que se situava os confins da cidade, uma área
pouco populosa. Mas, com o tempo, as pessoas acabaram por aceitar a intervenção e, ate os
dias de hoje, e um elemento emblemático da nossa Cidade.

Esses estudos servem para prever e ponderar sobre as intervenções que desejo fazer na Praça
Estrela. As ações e alterações, se forem para trazem o bem do público e uma maior qualidade
de vida para os seus usuários, acaba por ser aceite, mediante a sua nova existência na malha
urbana.

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Capítulo 3: Praça Estrela

1 Localização da Área de Estudo


A área de intervenção localiza-se na Cidade do Mindelo, mais concretamente, próxima a baía
que banha a Avenida Marginal (o início da Avenida). Um largo gerado por edifícios, onde se
desenvolvem atividades como o comércio e a restauração. Encontra-se entre edifícios de
grande destaque como: o Mercado de Verduras, a Réplica da Torre de Belém, a Sede da
ENACOL, o antigo edifício da Serradas — onde hoje esta o RVM, o campo de ténis e o
Jardim Infantil Amílcar Cabral.

Figura 10 – Vista aérea da praça.


Fonte: Wikimapia.com.
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1.1 Delimitação Física e Preceptiva


Delimitada pelas ruas Eduardo
Balsemão, Ruas São João e
Pela Avenida 12 de Julho e o
início da Avenida Marginal
(artéria principal da Cidade do
Mindelo), a praça esta dividida
em duas partes
desproporcionais pela Rua da
Luz (a mesma que passa a
Figura 11 – Espaço traçado da Praça Estrela.
Fonte: Wikimapia.com. frente da Igreja Nossa Senhora
da Luz). Esta última rua será
eliminada com o projeto, uma vez que apenas corta a continuidade da praça e não prioriza o
deslocamento pedestre — algo que vai completamente à contramão dos objetivos do projeto.

1.2 Contexto Histórico de Criação

O primeiro nome do largo foi Salinas, isto por que um comandante quis lá fazer exploração de
uma salina em toda a zona que vai da ENACOL e engloba toda a Praça. Esta intenção nunca
foi concretizada, mas o vasto terreno foi tendo diferentes usos ao longo do tempo. Na década
de cinquenta do século XIX funcionou aí um cemitério onde foram sepultadas as vítimas do
surto de cólera que assolou a ilha sendo uma delas o primeiro Cônsul Inglês, John Rendall,
que faleceu a 30 de novembro 1854; na altura a zona constituía o limite da cidade a sul.

O local onde hoje se encontram as instalações da ENACOL foi o primeiro curral do concelho.
Em 1874 esta foi tomada pela Cory Brothers que construiu casas, oficinas, depósitos de
carvão e também o Quintal da Vascónia, já com um edifício. Em 1881 por questões e saúde
pública foi exigido secar o pântano do subsolo e foi nesta altura que se transformou o local
em Campo Desportivo para jogos de Cricket e Futebol, função que durou cerca de cinquenta
anos. Deixou de ser o limite sul da cidade com a implantação da Aldeia da Craca e
subsequente alargamento para a Rua de Morguino, Rua do Douro, Rua Guibara, Rua do
Matadouro Velho e Rua do Minho que formaram a localidade denominada Monte.

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A praça foi construída em 1940 e foi nela construída um obelisco em honra dos desportistas
Mindelenses e um coreto. O campo foi dividido em duas partes por um “corredor”, foram
plantadas acácias nas “estrelas”, que deram a praça o seu nome popular. Mas o seu nome
oficial era Largo Almirante Reis que substituiu o antigo Largo Lacerda; em 1975 passou a
chamar-se Praça da Independência.

Para a comemoração do
centenário da Cidade do
Mindelo a Praça foi ocupada
por uma feira popular (1979-
1980), que até hoje é falada
entre a população porque por
um lado a feira deixou
saudades, mas também por
causa dos muros que foram
Figura 12 – Praça Estrela, em finais dos anos 40. feitos para a proteger e que
Fonte: Foto Melo.
foram muito contestados. Mais
tarde foi retirado o Obelisco colocou-se a estátua do Diogo Afonso (1961) que se encontra
atualmente na Praceta do Navegador. Em 1999 a Praça foi refeita e desta vez metade foi
destinada a um mercado para albergar os comerciantes do antigo Mercado “Tiosco” e os
comerciantes ambulantes vindos da Costa Ocidental de África e a outra metade continuou
como uma Praça com um Quiosque, um coreto e espaços cobertos que hoje em dia está
completamente tomado pelas vendedeiras de verduras e por comerciantes de roupa de
segunda mão, provenientes de E.U.A. (República de Cabo Verde, 1984). A estatua de Diogo
Afonso foi retirada e instalada do lado esquerdo da Réplica do Palácio de Belém, fulminando
o horizonte que até hoje me dia tem sofrido diversas alterações. Nas paredes dos atuais
barracões de vendedores da Praça foram colocadas pinturas em azulejos alusivos à história do
Mindelo (DGT, Inventario dos Recursos Turísticos do Município de São Vicente).

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1.3 Tipologias da Praça Estrela

A praça em questão é um espaço público concreto. Os espaços públicos concretos, por seu
lado, radicam na ordem da interação e da sociabilidade de proximidade, isto é, das relações
sociais face à face, ainda que exista uma certa distância entre a desatenção civil (muito
próxima da atitude blasé analisada por Simmel (1967) e o contacto corpo a corpo de
encurtamento da distância social. Finalmente, diz-se que existe também, espaço público
central por estar próximo ou o local público que tem a concentração do poder (económico,
político, social, cultural e simbólico), de forte visibilidade e normalmente fundadores da
imagem hegemónica de cidade. Poderia também ser de uma forte carga patrimonial,
oficialmente classificada, que resultaria num movimento de preservação, recuperação da
memória e de restauração histórica e patrimonial. Mas ao movimentarem a estatua de Diogo
Gomes para a Praia dos Botes (no dia da independência do país), que para alguns
descaracteriza o monumento, retiram a memória e a historicidade da praça. Antes tratada por
Praça da Independência ou Praça Amílcar Cabral (Papini, 1984).

Figura 13 – Vista panorâmica da plataforma oeste da Praça Estrela.


Fonte: acervo da autora.

A praça passa por ser um espaço traçado de encontro: é uma referência na zona; delimitada
pelas ruas Eduardo de Balsemão, Rua São João, Rua da Luz e Rua D’Coco. Outra que corta a
praça em duas, bastante solicitada pelos carros, que causam alguns constrangimentos por
impedirem a livre passagem dos utentes entres as praças.

Uma das imagens mais fortes da cidade é a rua, espaço plurifuncional, onde os
mais variados fatos ocorrem, do comércio à circulação, do ponto de encontro ao
local de desfile. Ela, juntamente com a praça, sempre representou o espaço da
liberdade, o espaço do cidadão, o espaço de fora, o espaço público, o espaço de
coletividade, que se contrapõe ao espaço de dentro, ao espaço íntimo, ao espaço do
controle familiar, das regras individuais. (Souza, 2008)

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Pode ser classificado como um espaço comercial semiexterior pela existência de mercados
informais, espaços de compra e venda locais, e até mesmo de restauração. Mesmo o Mercado
de Peixe tem-lhe alguma influência, pois as peixeiras e outras vendedeiras acabam por
espalhar-se pelos lados da praça. O lado mais comercial é o mais próximo do mar, ou dos
mercados de peixe e verduras que aí se localizam. As praças “são lugares para ver e ser visto,
para compras e fazer negócios, para passear e fazer política”.

Figura 14 - Dinâmica da praça.


Fonte: acervo da autora.

Essas funções necessitam de ser dinamizadas pelo bem da praça; as atividades rotineiras da
vida urbana como caminhar, deslocar entre a residência e o trabalho (os transportes públicos
passam pela praça), o ato de fazer compras, não dependem do espaço público, mas colaboram
para o uso destes.

Espaço gerado por edifícios. Também detém essa característica, por ser um largo que fora
estipulado para desafogar e garantir qualidade de vida aos moradores. Pois as praças são
fundamentais na configuração urbana e constituem um importante espaço público para o
desenrolar da história citadina. Mesmo a praça é definida pelos campos de ténis a este, pelo
limite da zona do Monte ao sul — onde também se encontram vários edifícios de serviços e
negócios, pelo mercado e pela estação de bombagem da ENACOL ao oeste e pela rua de
Matingim ao noroeste.

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Espaço de memória monumental.


Um espaço de memória, retratada
para nos remeter a uma viagem
temporal que nos dê a conhecer o
antigo “espaço urbano”. Um painel
que serviu de referencia a um
utente, para que ele pudesse
relembrar em que ano a praça fora
modificada. Serve para despertar o
interesse a que se digne a observar Figura 15 – Painel de azulejos oferecido pela camara do
Porto. Fonte: acervo da autora.
esta arte e possa notar os vínculos
“invisíveis”, para que possa respeitar o espaço e para que viva um espaço de exposição ao ar
livre (isso já remete ao turismo).

A iluminação das vias anexas é boa, mas a da praça é quase inexistente e os postes de
iluminação são baixos. Isso possibilita o vandalismo dos mesmos. Na plataforma maior pode-
se contar seis, dos quais dois funcionam. O mobiliário urbano é quase inexistente, limitando-
se a quatro cadeiras vandalizadas e que possibilitam que o utente tenha a face banhada pelo
sol durante todo o dia. Devido à escassez de elementos verdes que providenciem sombra, as
pessoas não se deslocam a praça (a não ser em casos de extrema necessidade) e preferem
acabar os afazeres e irem imediatamente para casa, isso não estimula o comércio.

1.4 Morfologias da Praça Estrela

A escala de ambas as plataformas da praça, em relação as vias rodoviárias são maiores e isso
é bom, na medida em que a população está mais resguardada dos automóveis em cima da
praça. E ela encontra-se elevada a um bom metro e vinte de altura, possibilitando o seu
funcionamento na época das chuvas de forma a não congelar os negócios.

O piso das vias rodoviárias são todas alcatroadas, excluídas as adjacentes as vias
circundantes, possuem calçada artística, todas as estradas têm duas faixas duplas, ou seja, os
carros podem circular em dois sentidos. Já a via que encabeceia a praça, a principal que faz
ligação com a Avenida Marginal e dirige-a zona de Monte Sossego, tem quatro faixas de
sentido duplo e, tem como separador o sistema de drenagem da área.

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Os edifícios circundantes possuem todos cerca de dois a três pisos, a maioria possui ainda o
estilo antigo: traços da antiga arquitetura. O soco é bastante elevado em algumas edificações e
os traços de infiltração são latentes em todas elas; a proximidade das águas do mar possibilita
a elevação da água por capilaridade. A organização da malha urbana é ortogonal, sendo a
primeira devidamente planejada desde a fundação da cidade a 14 de abril de 1879. As vias
bem organizadas, sobre infraestruturas bem desenvolvidas, juntamente com o ar cosmopolita,
oferecem ao projeto uma oportunidade de integração com a envolvente sob vertentes mais
modernas.

1.5 Tendências atuais e novas caraterísticas do espaço público

Marcada pela exterioridade, pelo investimento heterogéneo, pelos fluxos que levam e trazem
estrangeirismos e misturam corpos, visões de mundo e estilos de vida, esta praça não é apenas
um lugar, mas uma experiência e uma prática social de espaço. E, a partir das noções de
funcionalidade e setorização do espaço público, tem-se de dar a praça a “cultura do lazer”
oposta a essa “cultura do trabalho e da produção” que encontramos. Há que levar as gentes à
praça e a rua. Em linhas gerais, Borja (2001)afirma que “todos precisam usar as ruas” e que a
segurança pública é garantida justamente pela presença dos usuários — vários utentes
reclamam dos roubos constantes e pela falta de eficácia da polícia. A diversidade urbana
garante “olhos atentos para a rua”, e pode ser obtida essencialmente através dos usos
combinados e concentração das pessoas.

Figura 16 - Ruas entre as barracas de venda da Praça Estrela.


Fonte: Acervo da autora.
Tais caraterísticas asseguram a vitalidade urbana, em termos económicos, termos sociais,
através da troca impessoal e inter-relacional, mas também em termos económicos, por
garantir a sustentabilidade entre os usos. Nesse sentido, torna-se necessário que o espaço livre
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público incorpore novas roupagens, torne-se capaz de garantir a interação e facilitar as


relações sociais, resgatando valores num espaço fragmentado numa sociedade quase virtual.
A praça tem de ser recriada e reabilitada, buscando suprir as exigências e necessidades do
usuário da cidade contemporânea, criando lugares capazes de integrar, interagir e
proporcionar a prática da vida urbana numa cultura de segregação.

E isso deve ser impedido, pois queremos que a praça de torne a nossa identidade, que ela seja
são-vicentina, para que ela não perca parte de nós, e se torne um local fruto da globalização e
que gere especulação imobiliária, acabando por destruir as relações sociais.

Figura 17 - O piso da praça e arredores.


Fonte: acervo da autora

1.6 A Identidade Urbana da Praça Estrela

Desde quando frequenta o O que faz no local?


local?
10% Compras
Mais de 15 anos 8%
25% Trabalho
40% 27%
Entre 15 a 10 anos Venda ambulante
21%
Entre 10 a 5 anos 31% Passagem
14% 24%
Há menos de 5 anos Venda fixa

Gráfico 2 - Desde quando frequenta o local? Gráfico 2 - O que faz no local


Fonte: acervo da autora. Fonte: acervo da autora.

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Durante toda a avaliação feita com base na pesquisa teórica juntamente com a vertente
empírica do estudo, este valor é descaracterizado pelo sentimento que pertença que aos
utentes está-lhe mais difusa por que a praça não lhes satisfaz todos os requisitos de um local
público de lazer, pelo que muitos vendedores perdem clientela e ficam expostos ao sinistro —
podem ser assaltados a qualquer hora, especialmente nas horas de menor tráfego de pessoas.

Mesmo os que vendem no espaço sentem-se desconfortáveis, pior ainda quando as instalações
sanitárias ficam bastante afastadas do seu local de trabalho, o que os leva a abandonarem as
vendas para de dirigirem ao wc. Mais próximo, que fica na plataforma mais próxima ao
mercado — que lhe restringe a satisfação de algumas necessidades — e a que fica no mercado
(muito longe).

Com que frequência? O que acha do local?

Agradável
Muitas vezes 24%
17% Muito barulho
37%
8%
Moderadamente Poluído
6%
75%
Indiferente
Poucas vezes 33%

Gráfico 4 – Com que frequência? Gráfico 4 – O que acha do local?


Fonte: acervo da autora. Fonte: acervo da autora.

Na sua opinião, quais os problemas aqui enfrentados ?

22% Climáticos (incidência solar, falta de vegetação,


conforto térmico e acústico…)
42%
Sociais (segurança, criminalidade, prostituição,
drogas, discriminação, convivência…)
36%
Físicos (condições das barracas, acessos,
conservação do local…)

Gráfico 5 – Na sua opinião, quais os problemas aqui enfrentados?


Fonte: acervo da autora.

A área que circunda Praça Estrela é, basicamente mística, com edifícios que abarcam funções
e atividades diversas, desde mercearias, lojas de chineses, pacatos restaurantes e bares, a
clube de futebol, quadra de ténis, pensões, agência funerária, clínica dentária, lavandarias,
padarias, oficinas, posto de abastecimento de combustíveis, entre outros. Sendo o local de

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trabalho para muitas pessoas e representando parte significativa no dia a dia económico e
comercial, direta ou indiretamente, outras vezes social e culturalmente, para muitas pessoas.

Da amostragem conseguida, a maior parte é constituída por pessoas com venda ambulante e
venda fixa através das barracas existentes, em que a Praça Estrela representa o seu local de
trabalho, estando por isso muitas vezes ali, já que a sua presença é efetiva quase todos os dias
da semana. Para além disso, apesar dos restaurantes ou bares pitorescos existentes, a Praça
Estrela é vista, pelos habitantes de São Vicente que vivem na cidade de Mindelo, como um
local de compras e de passagem, visto que pela localização fica entre a parte centro norte da
cidade (zonas a norte e o centro histórico e comercial) e a parte sul (zonas maioritariamente
residenciais a sul, posteriormente a zona industrial).

A princípio, a opinião maioritária é de que o espaço é agradável, porém com alguma poluição
principalmente sonora. Outros se encontram indiferentes a essa questão, parecendo que o
público mindelense ainda se encontra numa posição de resguardo quanto às questões públicas,
ignorando de certa forma os problemas que num local pode haver. Normalmente há muito
trafico duramte o período de manhã, por causa do comércio local através dos vendedores e
vendedeiras ambulantes que ficam ao redor e vendem hortaliças, legumes, frutas, peixes, e
algumas vezes, carne fresca, por outro lado, vendedeiras que se instalam temporariamente
debaixo de alguma árvore e vendem vestuários e outros produtos que familiares emigrantes
lhes enviam. Mesmo em alguns feriados a movimentação não para, como constatou-se numa
visita no dia 1 de junho, feriado nacional para comemoração do dia das Crianças.

1.6.1 Valores e indicadores

A dimensão funcional dos espaços públicos aborda aspetos sobre o funcionamento dos
espaços tanto a nível do desenho urbano, como do conforto ambiental, pois só dessa forma
poder-se-á criar um espaço mais atrativo para as pessoas. Embora este assunto tenha sido
frequentemente reduzido a critérios estéticos ou técnicos como a densidade de tráfico ou o
acesso em circulação, alguns autores argumentavam que a dimensão funcional também deve
ser vista sobre o ponto de vista social. Em outras palavras, ela deve ser vista dando ênfase em
como as pessoas usam o espaço.

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Quanto ao acesso à praça em si, pode se dizer que a plataforma mais próxima do mercado
possui uma rampa que permite aos utentes de mobilidade reduzida usarem, de forma razoável,
é bastante inclinada. Já a rampa da outra plataforma da praça, tem uma elevação que chega
aos dez centímetros, além de ser bastante inclinada. Fora isso, há muitas escadas, de
diferentes tipologias, algumas mais degradas que outras.

Praça Estrela está muito bem localizada nas questões da acessibilidade, visto que se encontra
no término do centro histórico de Mindelo, presente numa malha urbana regular, e tem ao seu
redor várias ruas organizadas e vias rodoviárias que dão fluência e mobilidade para qualquer
parte da cidade e da ilha. Os locais mais próximos são o cais de pesca, o Mercado de Peixe, a
“Praia d’ Bote” onde há muita circulação e permanência de pessoas em atividades ligadas ao
mar, ao comércio e não só, o Museu do Mar, o Mercado de Produtos Agrícolas, a sede da
empresa de combustível ENACOL.

A rede de transporte público possibilita o fácil acesso a este espaço comercial diversificado
das 6 horas à meia-noite, e há uma paragem improvisada, na rua que fica entre a Praça Estrela
e o Mercado Agrícola, onde outros transportes alternativos como “Yaces” e “Juvitas” fazem a
ligação da cidade com as zonas suburbanas rurais ou piscatórias

Figura 18 - Diagrama do Espaço.


Fonte: PPS, 2012.
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1.6.2 Imagem da Praça

Caraterísticas especiais nas fachadas, a vegetação e a situação visual das próprias ruas são
aspetos apontados por Lynch (1999) para uma maior ou menor importância das ruas. A clara
identificação das ruas de maior importância torna fácil a leitura da imagem de uma cidade.
Pelo contrário, se as mesmas são dificilmente identificáveis ou facilmente confundíveis, essa
imagem torna-se de difícil legibilidade. Por outro lado, é necessário que essas ruas tenham
continuidade, sendo a exigência fundamental “que o atual percurso ou o lugar de pavimento
continue” (Lynch, 1999:63).

Na categoria Estrutura encontram-se os elementos da morfologia urbana que promovem a


conexão visual e funcional entre as distintas edificações e espaços abertos, e a consequente
formação de uma imagem ambiental coerente dos distintos setores urbanos. Ao assegurar que
as pessoas possam aceder e interligar os diferentes espaços urbanos numa estrutura coerente, a
estrutura leva-as a formar uma imagem do sistema urbano, numa coerência de relações entre
as imagens que são, por sua vez, afetadas pela identidade e pelo significado. A estrutura é
determinada pela permeabilidade ou acessibilidade funcional, a caraterística física que define
as possibilidades de destinos, considerada um fator crítico para a qualidade do espaço aberto.
A permeabilidade depende do número de percursos alternativos oferecidos entre diferentes
destinos, visualmente identificáveis.

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Capítulo 4: Projecto Praça Estrela

1 Desenvolvimento do projeto
Inicialmente é feita uma observação dos usos existentes, do comportamento das pessoas e de
como funciona aquele espaço, acompanhada de medições, como contagem de tráfego, de
pedestres e de ciclistas.

Realizar entrevistas é outro instrumento importante, tanto na fase prévia à implementação do


projeto-piloto, como na fase de experimentação. Com as entrevistas, é possível avaliar a
perceção da população em relação à segurança e conforto, às interferências nos
deslocamentos, aos impactos para o comércio local e também especulações sobre o redesenho
urbano. Outro recurso é realizar percursos com voluntários que possuam necessidades
especiais ou mobilidade com reduzida, deficiente visual ou pessoa com carrinho de bebé. As
métricas também podem ser usadas para se priorizar a área de intervenção, ajudando na
escolha do melhor lugar para se implementar determinadas mudanças no desenho urbano.

Desta forma será possível que se tenha um diagnóstico preciso dos problemas existentes, de
forma a inserir o edifício na paisagem com sucesso (seguido sempre as normas da secção I,
capitulo II do Boletim Oficial (2012)).

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1.1 Analise SWOT / FOFA

Figura 19 – Envolvente da Praça Estrela.


Fonte: Acervo da autora.

SWOT é a sigla dos termos ingleses Strengths, Weakness, Opportunities and Threats, que
traduzida (e reorganizada) significa: Forças, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças (FOFA). É
uma ferramenta de análise bastante popular no âmbito empresarial, utilizado para um
planeamento estratégico que consiste em recolher dados importantes que caracterizam o
ambiente interno (forças e fraquezas) e o externo (oportunidades e ameaças). Elaborada por
Albert Humphrey da Universidade de Stanford, entre as décadas de 60 e 70, durante o
desenvolvimento de uma pesquisa com dados da Fortune 500 — umas das revistas que
compõem o ranking das maiores empresas americanas (Padilha, Cabral, Muniz, Aviz, &
Lenzi, 2018).

Este tipo de análise visa, como dito acima, auxiliar o estudo dos pontos fortes e os pontos
fracos da praça, incluindo as potencialidades e ameaças na sua envolvente e outras
caraterísticas naturais — como o estudo da morfologia do terreno — de modo a se obter
informação necessária para o Programa de Necessidades. Tais pontos fortes e fracos vão ser
apontados durante a análise do entorno e da praça em relação aos demais espaços públicos.
Por meio das análises dos vários mapas que se seguem, pode-se notar que a determinação de
um ponto fraco ou forte vai de acordo com a morfologia, dinâmica e localização da praça em
si mesma, e não de uma mera observação.

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1.2 Envolvente da Praça/Edifícios de Destaque

Os vários edifícios e
espaços públicos que
circulam e desenham
a forma da praça, tem
toda uma história, tal
como a praça. Porem,
alguns deles, tal
como a Sede da
ENACOL (área
vermelha) — com os
seus depósitos de
Figura 20 – Edifícios a Norte da Praça. combustível e o
Fonte: Acervo da autora.
constante trabalho
industrial — deveria ser transplantado num outro espaço, longe do centro da cidade, afastada
dos pontos públicos de modo a aumentar a qualidade do espaço (criar um espaço
essencialmente público, de lazer e comércio). E, segundo Oliveira (2009):

As ações urbanísticas localizadas, de que constituem o exemplo contemporâneo a


renovação urbana de zonas portuárias, de áreas industriais, constitui oportunidades
singulares para realizar intervenções urbanas estratégicas e localizam-se, com
frequência, dentro das áreas centrais e consolidadas da cidade, permitindo assim a
sua reestruturação. As frentes de água tornaram-se assim, áreas que adjacentes à
esfera do comércio central, estão desocupadas e decadentes, em consequência da
obsolescência tecnológica dos equipamentos portuários e à desindustrialização.
(Oliveira, 2009)

O Quintal da Vascónia (área a castanho), também poderia ser uma nova área revitalizada, pois
carece de cuidados e tem grandes potencialidades. Por enquanto, uma área pública existente
ali é o Quintal das Artes, uma inteligente acupuntura que reativou parte da construção. Porem,
há muito que ser feito, outras áreas a serem propostas e revitalizada — tal como a área
traseira, mais próxima a praça, onde as vendedeiras guardam os seus produtos sem nenhuma
refrigeração adequada ou outro tipo de conservação (o espaço em si é sufocante).

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1.3 Estudo da Rede Viária de transportes


Quanto ao estudo da rede
viária, constata-se que não
existem áreas exclusivas aos
pedestres. Na via que separa a
praça da Quinta da Vascónia,
há paragens de autocarros que
transportam as pessoas para
os locais mais afastados do
centro. Porem, não há
travessias que possam
assegurar a segurança das
Figura 21 – Estudo da rede viária de intervenção.
pessoas na hora de atravessar, Fonte: acervo da autora.

não há nenhuma sinalização vertical de suporte e muito menos horizontal. Não há áreas de
espera, apenas o curto e estreito passeio. Com o projeto, prevê-se transformar essa área numa
pedonal, de acesso exclusivo aos autocarros.

1.4 Morfologia do Terreno


De acordo com o mapa
hipsométrico, figura ao lado,
onde o tom de laranja diminui
com a altitude, pode-se notar
que a praça se encontra
assentada numa bacia
hidrográfica — e também pela
sua proximidade ao mar.
Assim sendo, pode-se ter uma
ideia do que acontece na área
na época das chuvas: ela fica Figura 22 – Mapa hipsométrico da área.
alagada, mas que um bom Fonte: acervo da autora.

sistema de drenagem não resolva.

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1.5 Estudo Dos Cheio e dos Vazios


De acordo com a figura a
esquerda, onde a área a negro
sinaliza a área livre e a branco
a área bruta/construída, pode-
se dizer que a parte sul da
cidade tem na Praça Estrela
uma área despojada. Um local
onde a área verde deveria
predominar junto a qualidade
de vida e a qualidade
ambiental. A estrutura urbana
vai além do uso que os Figura 23 – Estudo do edificado na área de intervenção.
Fonte: acervo da autora.
habitantes urbanos fazem do
mesmo, possuem papel de promoção do equilíbrio ecológico do espaço urbano, onde além de
contribuírem com um visual deslumbrante da natureza, garantem a biodiversidade local e seus
serviços ambientais.

Há falta de espaços que respondam às necessidades urbanas atuais, interação social e


interação com a natureza, objetivos da cidade sustentável de contar com qualidade de vida e
qualidade ambiental. A qualidade de vida está associada de forma mais direta ao Parque de
Lazer não sendo desprezível o papel da área verde, a qualidade ambiental do espaço urbano
será dada pela identificação dos atributos espaciais do meio físico biótico por técnicas de
planeamento da paisagem. Isso demanda uma abordagem diferenciada da forma atual de
elaboração dos Planos Diretores Urbanos para incorporar a aptidão do sitio para os diferentes
usos urbanos rompendo a vertente funcionalista. Essa abordagem pode garantir a preservação
de atributos ambientais que vão oferecer à cidade e à população, serviços urbanos que não
podem ser obtidos por artifícios tecnológicos.

1.6 Concentração de Pessoas


De acordo com a figura ao lado, que trata do estudo da concentração de pessoas na área de
intervenção, pode-se entender porque a rua pode ser um espaço de permanecia, porque a praça
está em decadência e porque há necessidade de uma intervenção urgente. O número de

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pessoas que permanecem


em cada área, não foi
apenas determinado pela
área ocupada, mas pela
frequência de ocupação. Da
cor mais forte para a cor
mais clara, o numero de
pessoas avança em número
decrescente. Ou seja, há
mais pessoas na Rua
Matingim do que na Praça
Estrela, que deveria, por Figura 24 – Estudo da dinâmica na área de intervenção.
Fonte: acervo da autora.
definição e nomenclatura,
concentrar o maior número de pessoas possíveis. A área vermelha existe na plataforma mais a
sul da praça não é por causa do tráfego intenso de utentes, mas sim de comerciante e as suas
famílias. Isso deve-se, primeiramente, a falta de equipamentos e mobiliário público que apoie
a permanecia de pessoas na praça, falta de sombreamento e de iluminação — porque, ao cair
da noite, a área torna-se deserta.

1.7 Reflexões
Ainda que colhendo referências em autores e matérias distintas, esse trabalho propõe um olhar
particular sobre os valores atribuídos a praça. Os instrumentos analíticos e os arcabouços
teóricos distintos articularam-se para construir um caminho específico para a identificação
dos valores do espaço em questão e apreciar o resultado extraído. Esse caminho foi visto, em
alguns pontos, pela economia da cultura e sociologia do território, e de que maneira os
elementos de valorização do espaço influam no processo de reabilitação desse espaço público
– o objetivo secundário era o de articular a componente teórica ao olhar empírico sobre o
contexto urbano, e sugerir algumas modificações que seriam plausíveis ao retorno da vivência
urbana. Nesse ambiente onde o comercio informal apropria-se das atividades do dia a dia
(Certeau, 1994) por meio da repassa de mercadorias refugadas das industrias, venda de artigos
de produção artesanal, serviços de “fundo de quintal” ou mesmo em relação aos distribuidores
de artigos raro; isto tudo constituindo um elemento de fixação de práticas caracterizadoras de

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um local geográfico especifico – Praça Estrela. Que é tido, por parte dos utentes, como um
local de passagem (Augé M. , 1994), neste caso em particular, poderá transforma-se num
espaço praticado para a cultura. Pois essa forma de comércio tem a capacidade de atuar como
tradutora de consumo desinibido.

Para satisfazer a todos os que utilizam a praça, deve-se atribuir também outros usos ao
espaço, nomeadamente algum que chame mais atenção a população jovem contemporânea. A
praça, na realidade, precisa de ser estudada mais a fundo – de forma a libertar os ares da
cidade, em termos de valor simbólico e em termos de práticas sociais.

2 Conceito Arquitetónico
Esta proposta de intervenção tem como objetivo principal integrar a requalificação urbana ao
seu potencial de marco simbólico da praça e do seu movimento comercial aliado ao papel de
agregar as pessoas. Porém, há que se atrair mais pessoas das várias camadas sociais e faixas
etárias. Pretende-se contrariar a imagem fragmentada e degradada da Praça Estrela na nossa
cidade, potenciando e valorizando o espaço público considerado obsoleto, criando espaços
multifuncionais e específicos, que possam ser os novos espaços de estadia, de passagem,
recreio/lazer ou de contemplação da natureza. Pretende-se resolver os problemas, valorizar e
maximizar a aptidão de uso.

Diante das caraterísticas desejadas pelo fragmento alvo das entrevistas, foi necessário
estabelecer delineamentos a respeito do conceito que ira nortear a proposta daqui em diante.
Por isso, levou-se em consideração a necessidade de uso comunitário, o papel de atrair
pessoas e, ao mesmo tempo, manter a identidade e o valor simbólico do espaço. Assim,
pensando na importância desse “imã” de funções e a forma que as pessoas se apropriam da
praça, fazendo dela o ponto focal do bairro, a ideia seria criar um espaço distribuído por
planos — tal como se encontra hoje —, porem os usos seriam melhor distribuídos. A
afluência de pessoas de um plano para o outro será contínua, a divisão entre os dois espaços
seria somente a nível do material, ou seja, a separação física que existe entre as duas
plataformas que compõem a Praça Estrela será anulada. Desta forma, a afluência de pessoas,
culturas e convivências será feita sobre o mesmo nível.

A drenagem da área deverá ser atendida, visto que, por estar assente sobre uma Bacia
Hidrográfica, no tempo das chuvas, o local ficará inundado. Embutindo sistemas de drenagem

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de modo a aumentar a mobilidade e acessibilidade na Praça durante as chuvas, sem que ela
deixe de ser um espaço de desafogo e um local de conflitos (discussões, conversas e outras
atividades afins).

Procura-se, para o resgate da identidade e para se fazer jus ao nome, desenvolver o projeto em
torno de um pentágono, fazendo uso também da estrela de cinco pontas douradas: que
representa a igualdade entre homens e mulheres, de todos os grupos étnicos e religiosos – pelo
menos em África, fazendo parte de uma das Bandeiras mais Antigas de Africa – Etiópia, e da
nossa, simbolizando cada uma das dez ilhas, em cor amarela, transmitindo a prosperidade, o
sol das ilhas, o calor, luz e descontração .

Mesmo niveladas, os usos serão separados de forma a proporcionar as pessoas a oportunidade


de escolha entre o repousar e o comércio, entre o lazer e o trabalho. Os usos similares seriam
aproximados: os barracões serão redesenhados do lado oeste da praça, mais próximo ao
mercado, desta forma o Oeste seria apenas para o comércio e, quanto ao lado este, seria
apenas para o lazer, repouso e a recreação, produzindo um espaço hábil para convidar as
pessoas para desfrutar de um momento e paz. A distribuição dos usos será feita de forma
radial por meio de forma concêntrica que se direcionam para o centro da praça, seguindo ao
mesmo tempo, a forma estrelar que havia nos canteiros inicialmente que deram nome a praça
e, assim, resgatar parte da memória coletiva já perdida.

2.1 Programa de Necessidades


Para montar um programa de necessidades integral, foi essencial realizar entrevistas; as
informações obtidas a partir dai constituíram um instrumento essencial para a identificação
das falhas e necessidades do espaço. Foi possível assim, perceber a falta de conforto e
segurança, aos impactos para o comércio local e também as especulações sobre o redesenho
urbano. E o percurso, juntamente com uma análise superficial ao espaço, foi possível notar a
que alguém com necessidades especiais ou mesmo quem transporta um carrinho de bebe, a
acessibilidade e condicionada. As métricas também podem ser usadas para se priorizar a área
de intervenção, ajudando na escolha do melhor lugar para se implementar determinadas
mudanças no desenho urbano.

A conceção desta proposta de requalificação tem como base todos os estudos demonstrados
acima, o entendimento sobre espaços livres e públicos, praças e principalmente o contexto em
que está inserida a área de estudo. Dessa forma, definiram-se os elementos essenciais para a
proposta, aqui descritos em forma de diretrizes projetais.

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 Manter e melhorar a configuração da praça;


 Estimular a utilização dos espaços pela população em diferentes dias e horários por
meio de uma proposta que promova multiplicidade de usos, a partir da revitalização
das áreas existentes, tornando-as capazes de atender os públicos de todas as idades;
 Privilegiar o pedestre através do tratamento dos passeios e a criação de pedonais, em
acordo com as diretrizes do Manual de Espaços Públicos (Gatti, 2013), e da adoção de
soluções que tornam o espaço do automóvel secundário;
 Proporcionar bastante área verde, a fim de estimular o contato dos usuários com a
natureza e minimizar os efeitos da insolação direta na área;
 Potencializar as funções de lazer e repouso (espera e descanso) identificadas na área,
bem como o comércio desenvolvido ali.

A partir das diretrizes citadas e os desejos dos usuários entrevistados, o programa de


necessidades foi definido, considerando, também, que os usos antigos deveriam ser mantidos
e melhorados significativamente. Dessa forma, o programa de necessidades está composto
pelos seguintes elementos:

1. Área de repouso;
2. Revitalizar o pavimento e os acessos;
3. Pista fitness;
4. Instalação sanitária pública;
5. Posto policial/Guarita;
6. Estacionamento;
7. Revitalização do mobiliário (bancos e lixeiras);
8. Manter os usos antigos;
9. Redefinição da iluminação artificial.

Levando-se em consideração, que a Praça Dom Luiz I possui um espaço livre próprio para a
realização de atividades diversas, foi decidido não definir esse uso no projeto em questão,
visto que as duas praças são bastante próximas e atendem a mesma avenida.

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3 Memorial Descritivo
Procede-se então a respetiva
Figura 25 – Proposta de Projeto para a Praça Estrela (Vista de
Topo, sem elementos arbóreos ou arbustivos). análise do protótipo do projeto
Fonte: acervo da autora.
para a Requalificação e
Revitalização do Espaço Livre
de Lazer Praça Estrela.

A zona de intervenção,
encontra-se confinada pelos
edifícios históricos – resíduos
da arquitetura colonial,
pretende albergar os mesmos
usos que o espaço atual: ócio e
negócio, porem o projeto
encontra-se mais voltado para
o destaque do ócio, ou seja,
lazer. Primeiramente, vale ressaltar que o local não possui parques de estacionamento e esta
não é a melhor localização para este feito. A poucos metros da área há espaços onde os
condutores podem parar e estacionar os seus veículos, sendo um destes o Vazio Urbano ao
lado do supermercado RVM (claramente este espaço não se encontra dotado da estrutura
perfeita para este uso e isto poderá muito bem ser um tema para um projeto futuro).

As duas plataformas foram unidas, eliminando a via que as separava — Rua da Luz, dando
assim continuidade ao espaço, mais segurança e melhor apoio aos pedestres. A Praça foi
rebaixada de modo a dar continuidade a placa e apoiar o espaço de ‘desafogo’ da cidade.
Além disso, um espaço ao nível do solo torna-se mais atraente ao povo, uma vez que o acesso
a praça não carece de nenhum esforço. Torna-se uma obra a vista de todos, sem qualquer
desnível que obstrua o panorama do projeto.

A real plataforma onde toda a praça se desenvolve, continua e quebrada/descontinua apenas


visualmente, em contraste com a atual construção onde há vários desníveis, sendo alguns
deles as escadarias para os quiosques centrais – e algumas ‘rampas’ (a situação das mesmas é
precária, onde a inclinação inicia-se após uma elevação de dez centímetros).

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Nesta única plataforma há


Figura 27 – Proposta de Projeto para a Praça Estrela (Vista de
Topo). apenas um quiosque, de fácil
Fonte: acervo da autora.
acesso e centrado numa
estrela inscrita no piso por
meio de uma laje de betão
perfurada, de modo a
facilitar a drenagem. A dita
estrela, cujos lados
encontram-se entre dez
estrelas, canteiros, de modo
a reinventar a memória
coletiva. E nestes canteiros,
como nos outros canteiros
— espaços a verde na acima
— na sua maioria,
encontram-se preenchidos de espécies arbóreas que se adequam ao clima de Cabo Verde,
nomeadamente a Acácia Rubra (Delonix Regia), que além de prover sombra com a sua larga
copa, serve também de espécie decorativa, devido as suas flores vermelhas. A área verde2 visa
também a purificação do ar e a diminuição da insolação de modo a tornar a área o mais
aprazível possível. Na plataforma também se desenvolvem dois edifícios: o Quiosque de
Restauração e o Bloco de Lojas; outras áreas cada uma com uma função não especifica,
apenas uma solicitação de uso.
Figura 26 – Delonix Regia.
Fonte: acervo da autora.

2
Em conformidade com o artigo 14º, secção I, capitulo II do Boletim Oficial (2012).
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3.1 Zoneamento

Figura 28 – Mapa do Zoneamento das Áreas do Projeto.


Fonte: acervo da autora.

Legenda do Zoneamento

Área de Jogos (3ª


idade)de Restauração
Área

Entrada Principal
Área Infantil (crianças)
Área Multiusos
Área de Leitura

De acordo com a figura acima, pode-se organizar projeto em 7 áreas principais: a de jogos, a
de restauração, a de leitura, a infantil, a multiusos, os blocos de lojas e a entrada principal. A
maior de todas é a multiusos, uma área que pode ser usada, como diz o nome, para vários fins.
Sejam fins culturais, de diversão ou recreação, tem-se área suficiente de apoio, para não falar
que é um espaço sem mais mobiliários ou outros objetos fixos que possam atrapalhar o
desenvolvimento de uma grande atividade (lazer ativo). Há uma grande conectividade entre as
diferentes áreas, as árvores, que dividem visualmente o espaço e também desempenham a
função de bloquear parte do som que poderia passar de uma zona para outra.

O Bloco de lojas conta com um número aproximado de 38 lojas e/ou áreas que podem ser
usadas para armazém. O motivo do projeto ter poucos espaços comerciais, relativamente ao
projeto atual, é porque, durante as entrevistas, notou-se que são negócios familiares: tios, tias,
irmão, irmãs, pais e filhos, juntam as suas lojas e pagam a mesma renda (apenas porque
desejam um espaço maior). O tamanho e a área dos espaços comerciais da proposta visam
resolver o assunto, oferecendo um espaço maior e melhor posicionado. E há mais dois
espaços, mais a norte do complexo (vide Planta do Rés-Chão), que se destina a albergar
câmaras frias, de modo a auxiliar a conservação dos produtos do mercado e assim contribuir
para a saúde pública. A cobertura do complexo estende-se como uma rampa com inclinação
menor ou igual a 8% em algumas áreas, conduzindo os utentes até a cobertura verde, a mais

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de 3 metros do chão (lazer contemplativo). Há uma guarita com primeiros socorros, destinada
à salvaguarda do utente em caso de acidente.

Sobre os espaços verdes, alguns dos canteiros encontram-se delimitados por bancos elevados
a 40cm em toda a sua extensão, protegendo as plantas e fornecendo o mobiliário público
destinado ao descanso. Nos outros espaços a iluminação foi bem distribuída e localiza-se nas
zonas de maior necessidade, especialmente nos canteiros onde as sombras se acumulam mais.

A sinalização, dentro do espaço, será feita com ajuda de placas fixas nos postes de iluminação
ou nas paredes mais expostas dos edifícios, especialmente placas que denominem cada zona e
com instruções que possam ajudar o utente se orientar em cada área, mas de forma cuidada.

As fachadas serão em betão branco, tanto para dar mais ‘luminosidade’ ao espaço
resguardado pela cobertura que sombreia todo o piso, como para refrescar o espaço – o calor
radiante será absorvido pelas paredes e pelas pedras de grande inércia, diminuindo a
amplitude térmica de noite, ao devolver o calor armazenado para a atmosfera.

3.2 Drenagem

Segundo Barreto, Valle, & Barreto (2009), a água, por ser um recurso natural essencial a sua
utilização deve ser equilibrada. Sempre que possível serão previstas formas de retenção e
armazenamento de águas residuais pluviais3, evitando assim zonas de águas paradas, que
impliquem custos para a saúde pública. Desta forma prever-se-á zonas verdes que se
sustentem com base na agua infiltrada no solo e, para isso, há que se aumentar a
permeabilidade do solo — a praça também se encontra sob lençóis de agua provenientes do
mar. As áreas pavimentadas serão drenadas por escorrimento superficial das águas pluviais —
garantindo uma inclinação mínima de 1,5%. Para as áreas plantadas a drenagem será por
infiltração. As áreas plantadas em cobertura ou sobre laje apresentarão um esquema de
drenagem próprio e adequado às especiais condições (Barreto, Valle, & Barreto, 2009).

3
De acordo com o artigo 9º, nº 1, alínea f, capitulo I do Boletim Oficial (2012), as aguas residuais pluviais são
resultantes da precipitação atmosférica caída diretamente sobre o local a drenar ou a ele afluentes, a partir dos
terrenos limítrofes, e que não tenham sido sensivelmente alterados nas suas caraterísticas físico-químicas durante
o escoamento.
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3.3 Piso/Pavimentos (Paginação dos Pisos)

A paginação dos pisos, especialmente os exteriores, deve respeitar o traçado e o


enquadramento que têm no projeto — as especificidades e os usos dos espaços, bem como as
diferentes funções que acarretam, refletem na escolha do pavimento. Os materiais foram
escolhidos tendo em vista a economia e a sustentabilidade, adequadas para o uso a que se
destinam. Tais pavimentos serão: antiderrapantes, laváveis, duráveis, confortáveis,
agradáveis, e regulares, porem serão de fácil manutenção, estáveis, flexíveis e seguros. A
seguir, no quadro abaixo, serão apresentados alguns exemplos das áreas produzidas e o tipo
de pavimento mais adequado a cada área.
Tabela 1 – Tipos de pavimentos.
Fonte: Barreto, Valle & Barreto (2009).

Áreas a pavimentar Tipos de pavimento (sugestões)


Pavimentos amortecedores em borracha reciclada – tipo
Área infantil (espaço de recreio
KRAIBRUG (ou relva sintética desenrolada sobre uma camada
e jogos)
de espuma/flexpiso).
Betuminoso simples e colorido
Área multiusos da praça (geral)
(tipo Neosfalto).
Áreas de lazer (leitura e Pavimento continuou – flexpiso, com colagem própria,
restauração) betuminoso colorido, pavimento aglomerado com sistema PPA.
Circuitos internos Betuminoso e microbetuminoso.

3.4 Mobiliário Urbano

Todo o mobiliário a aplicar deverá ser de qualidade, resistente à agressividade do meio e ao


vandalismo, de fácil manutenção ou reparação, reforçar a identidade da praça, proteger a
saúde e o bem-estar da comunidade, assegurar a funcionalidade do uso. Segundo a tabela
abaixo, os tipos de mobiliários mais comuns seriam:
Tabela 2 – Tipo de Mobiliário.
Fonte: Barreto, Valle, & Barreto (2009)
Tipo Caraterísticas
Confortáveis;
Ergonómicos;
Bancos de Mesas Em materiais com pouca inércia térmica;
Robustos e resistentes;
De fácil substituição.
Colocados em locais apropriados, acompanhando bancos, em locais
de consumo de bebidas e alimentos;
Papeleiras Normalizados no tamanho, cor e forma;
Colocados a uma altura de fácil utilização;
De fácil despejo e lavagem.
Colocados em locais apropriados;
Em materiais resistentes, com formas equilibradas, cores vibrantes;
Caixotes de lixo, contentores
De identificação explícita quanto ao lixo a que se destina e que seja
de fácil despejo e lavagem.
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Regulados por mecanismos de fecho automático;


Fáceis de manobrar;
Bebedouros
Águas recolhidas em recipientes que não produzam salpicos;
De fácil limpeza e que garantam a higiene.
Suportes para bicicletas Resistentes
Duplos (a 0,7m e a 1m);
Elementos de proteção Colocados de ambos os lados de rampas e escadas (corrimão);
Colocados a volta da praça (guarda-corpos).

E ainda há os sistemas de
comunicação, que são os de
orientação (um mapa do espaço a
entrada da praça), de informação (um
relógio na parede cega do edifício
central e um breve historial da praça
logo a entrada), placas de
identificação de cada espaço (apenas
sugestões de uso), sinais reguladores
(anúncios legais, sinalizações e saída Figura 29 – Escultura de Bronze feita por Nilo-Ró, da
Interart, em 1989. Fonte: Acervo da autora.
e instruções em caso de emergência, Fonte: acervo da autora.

etc.) e ornamentos (uma placa com a bandeira do nosso país). Também elementos especiais
para pessoas com capacidade visual diminuída e os mobiliários de caráter didático, como a
escultura de bronze que devera ser mantida, assim como os azulejos oferecidos pela Câmara
Municipal do Porto.

3.5 Vegetação

Serão usadas plantas próprias do nosso clima tropical seco — cuja densidade da folhagem
permita a diminuição significativa da insolação no espaço. A acácia mais comum na ilha, o
famoso mot d’cuxim, conhecido por Neem, serão excluídos da lista divido ao seu odor forte
caso (maior a densidade de plantação, maior a propagação do cheiro), assim sendo Acácia
Rubra (Delonix Regia), a Palmeira-de-leque (Washingtonia fiflifera) e o Café-de-jardim são
uma ótima escolha. As espécies já existentes, depois abatidas pelas autoridades competentes,
serão substituídas por arbustos ou pelas plantas decorativas mais comuns, as autóctones que
existem em Mindelo (Loendro – Nerium oleander, Carrapato – Furcraea foetida,
Cardeal/Hibisco ou Hibiscus rosa – sinensis, Brinco-de-princesa ou Hibisco-crespo –
Hibiscus schizopetalus, Sempre-noiva/Vinca – Catharanthus roseus), em quase todos os

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espaços públicos, sendo que, especialmente para a cobertura, preferível que seja uma planta
de folha carnuda ou resistentes a seca (babosa ou saião – aeonium gorgoneum).

Tabela 3 – Exemplos de espécies vegetais à introduzir no projeto.


Fonte: (Silva, 2012)
Acácia Rubra Palmeira-de-leque Café-de-jardim Loendro

Carrapato Cardeal/Hibisco Sempre-noiva/Vinca Brinco-de-princesa

3.5.1 Iluminação/Energia

A iluminação exterior foi disposta de modo a garantir uma boa distribuição de luz, de forma
equilibrada e uniforme. Nas altas horas da noite, a iluminação artificial será priorizada. As
iluminarias, LED de baixo consumo, serão estanques, esteticamente apropriadas e resistentes
a exposição ás intempéries e as ações mecânicas, principalmente nos elementos pentagonais
da fachada. Próximo aos edifícios, privilegia-se a iluminação de fachada tipo ‘bollar’.

Serão promovidas o uso de energias renováveis por meio de instalação de iluminarias com
painéis fotovoltaicos e baterias que possam armazenar a energia captada durante o dia, e usa-
la durante a noite. Pretende-se também fazer uso dos restos e despojos das edificações que
foram demolidas, de forma de reciclar e diminuir os custos da construção. A lojas terão
fachadas em betão e alvenaria aparente, com apenas uma (ou quantas forem necessárias)
demãos de verniz, de forma a dar brilho e impermeabilização ao lugar.

3.6 Elaboração do Projeto

Peças desenhadas no Anexo IV.

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Conclusão

O equipamento proposto não só poderá dar resposta as necessidades e a melhoria da


qualidade de vida da população do bairro, mas de toda a cidade, cuja utilização do
espaço vai ser irregular, com diferentes padrões culturais e etários bem como posições
sociais. A proposta da configuração do espaço e a sua multifuncionalidade são uma
tentativa de lidar com essa multiplicidade de intervenientes. O mesmo tenta responder
às expectativas de um público heterogéneo com o objetivo de diminuir a segregação
existente e aumentar aceitação de todos na sociedade. Pois as pessoas necessitam do
lazer para ter melhor qualidade de vida, mas que os espaços de lazer deveriam ganhar
mais atenção das autoridades, para que não ocorra o afastamento dos usuários dos
espaços públicos para os privados e até mesmo para que os usuários não deixem de
usufruir de opções de lazer por medo. As opções para que haja uma melhoria nestes
espaços seriam torná-los mais atrativos, fazendo com que sejam voltados para os
diferentes públicos, com atividades de dança, música, recreações com crianças e onde
seja dada maior atenção para a sua conservação e segurança.

Todas essas medidas fariam com que os espaços públicos de lazer não se tornassem
algo monótono ou não fossem substituídos por espaços privados, que acabam
segregando o seu público pelo grande apelo de consumo, o que estimularia esta
discriminação. Há que estimular a relação de complementaridade entre esses usos,
eliminando zonas mortas, sem uso e sem vigilância.

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O Poder Público deve incentivar o uso dos espaços públicos e analisá-lo. Deve-se
atingir o que as pessoas desejam de fato, para estimular o seu uso e não tornar esses
espaços ociosos. Então todos teriam direito e acesso ao lazer, melhorando assim a
qualidade de vida de cada cidadão e a sua socialização.

Ainda que colhendo referências em autores e matérias distintas, esse trabalho propõe
um olhar particular sobre os valores atribuídos a praça. Os instrumentos analíticos e os
arcabouços teóricos distintos articularam-se para construir um caminho específico para
a identificação dos valores do espaço em questão e apreciar o resultado extraído. Nesse
ambiente onde o comércio informal apropria-se das atividades do dia a dia por meio da
repassa de mercadorias refugadas das industrias, venda de artigos de produção artesanal,
serviços de “fundo de quintal” ou mesmo em relação aos distribuidores de artigos raros;
isto tudo constituindo um elemento de fixação de práticas caracterizadoras de um local
geográfico específico, a Praça Estrela. Que é tido, por parte dos utentes, como um local
de passagem (Auge, 1994), neste caso em particular, poderá transformar-se num espaço
praticado para a cultura. Pois essa forma de comércio consegue de atuar como tradutora
de consumo desinibido.

Para satisfazer a todos os que utilizam a praça, e diversificar esse uso, deve-se atribuir
também outros usos ao espaço, nomeadamente algum que chame mais atenção a
população jovem contemporânea, em termos de segurança, manutenção, facilidade de
utilização e adequar o uso a todos. A imagem da praça deve ser clara, bem distribuída,
com boas vistas, iluminação e sinalização. E fazer todos perceberem o valor identitário
do espaço é um grande passo para o seu sucesso.

É necessário considerar que ao trabalhar com diferentes usos dos espaços públicos, está
se entendendo como uma ação da dinâmica da produção do espaço urbano. Observando
as diferentes relações socio espaciais, acumulação de capital ligada a estas ações e sua
reprodução, não ocorrem de forma homogénea em todos os lugares. O caminhar futuro
dos espaços públicos de lazer remete a discutir o processo dinâmico de produzir e
consumir o espaço urbano de forma múltipla, sustentável e principalmente,
compreendendo-os como elementos que se transformam de acordo com o período, com
a sociedade e com os diferentes interesses que se moldam nos tempos.

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Portanto, tal estudo, mais do que conclusões, pretende introduzir reflexões futuras e
páginas abertas para que as mesmas possam ser escritas, analisadas e novos desafios.
Não se pode deixar de comentar a necessidade de se continuar os estudos sobre os
espaços públicos no âmbito da ciência geográfica, analisando a cidade, o espaço
público, os seus diferentes usuários e utentes, a sua complexidade, diferentes, agentes,
interesses que surgem no produzir a cidade e o urbano.

Deve-se também continuar avançando nas análises multidisciplinares ao se trabalhar o


espaço público de lazer, pensando como estão sendo produzidos e apropriados espaços
públicos do Mindelo. Tornar a ideia de que os espaços públicos na atualidade são tidos
como espaços do abandono, da violência, não-lugares, obsoleta; devendo apenas
continuar a insistir a escrever as páginas em branco que ainda estão por vir sobre a
importância que o mesmo exerce no quotidiano das cidades.

Esse projeto/estudo4 embrionário foi bastante útil para o estudo de instrumentos e


políticas que possam reconstruir um espaço — mas a praça, na realidade, precisa de ser
estudada mais a fundo — de forma a libertar os ares da cidade, em termos de valor
simbólico e em termos de práticas sociais.

4
Este trabalho segue o novo acordo ortográfico.

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