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CARLOS HENRIQUE DE MELO VASSOLER

7. Análise de circuitos em CC: Resistores

7.1 Lei de Ohm


A Lei de Ohm é das mais importantes relações da eletricidade e muito utilizada na
análise de circuitos. Por meio da Lei de Ohm verifica-se na prática que a corrente que
atravessa um resistor depende da tensão entre seus terminais por meio da seguinte
expressão:

V = R·I (7.1)

Em que:
• V : Tensão em volt [V ];
• R: Resistência em ohm [Ω];
• I: Corrente em àmpere [A].

V
+ -

Tabela 7.1: Um resistor submetido a uma tensão V é atravessado por uma corrente de
intensidade I

Exercício 7.1 Qual a tensão entre os terminais de um resistor de 30 Ω sob uma cor-
rente de 5 A? 

Exercício 7.2 Qual a corrente em um resistor de 500 Ω submetido a uma tensão de


30V entre seus terminais? 

Exercício 7.3 Qual a resistência de um circuito sabendo que a tensão entre seus ter-
minais é 24V e sua corrente de 500 mA? 
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50 Capítulo 7. Análise de circuitos em CC: Resistores

7.1.1 Resistores ôhmicos


Todo resistor que obedece a Lei de Ohm é denominado resistor ôhmico. Grafica-
mente, a proporcionalidade entre a tensão V e a intensidade de corrente I é represen-
tada por uma reta que passa pela origem de um sistema de eixos cartesianos, onde a
tensão é representada pelo eixo y e a corrente pelo eixo x conforme mostra o gráfico
da Figura 7.1.

I
Figura 7.1: Característica de um resistor ôhmico

Nos resistores ôhmicos, alterando-se a tensão nos terminais se modifica a a inten-


sidade da corrente, mas a resistência elétrica (R = VI ) permanece constante.

7.1.2 Resistores não-ôhmicos


Existem resistores que alterando-se a tensão V entre seus terminais, altera-se a in-
tensidade da corrente I, mas as duas grandezas não variam proporcionalmente. Tais re-
sistores não obedecem a Lei de Ohm, sendo denominados de resistores não-ôhmicos.
A Figura 7.2 mostra a curva característica de um resistor não-ôhmico.

I
Figura 7.2: Curva característica de um resistor não-ôhmico

Nos resistores não-ôhmicos a resistência não se mantém constante, a resistência


elétrica depende da tensão aplicada.
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7.2 Leis de Kirchhoff 51

Exercício 7.4 O gráfico abaixo exibe a curva V × I de um resistor. Responda:

(a) Qual a resistência do resistor?


(b) Qual o valor da corrente quando a tensão nos terminais do resistor for de
50V ?

V [V]

6,0

1,5

0,1 0,4 I [A]

Exercício 7.5 O gráfico abaixo exibe a curva V × I de um resistor. Responda:

(a) Qual a resistência do resistor quando a tensão em seus terminais é 15V ?


(b) Qual a resistência do resistor quando a tensão em seus terminais é 25V ?

V [V]

25
20
15
10
5

1 2 3 4 5 6 7 I [A]

7.2 Leis de Kirchhoff


As Leis de Kirchhoff são ferramentas importantes para análise de circuitos mais
complexos, que incluam vários percursos fechados.
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52 Capítulo 7. Análise de circuitos em CC: Resistores

Primeiramente, antes de aprofundar as análises de circuitos, vamos convencionar


a simbologia de geradores CC de acordo com a simbologia exibido na Figura 7.3.

Símbolo Significado
Fonte CC

+
-
Fonte CC

+
-
Figura 7.3: Simbologia de geradores CC

Para este tipo de gerador, o traço menor simboliza o pólo negativo e o traço maior
simboliza o pólo positivo do gerador.

7.2.1 Primeira Lei de Kirchhoff


A Lei de Kirchhoff para corrente (LKI), conhecida também como lei dos nós, primei-
ramente, um nó é uma "derivação"onde conectam-se vários elementos.
A LKI diz que a corrente total que entra em um nó é igual a corrente total que sai
de um nó. Podemos expressar LKI por:

n m
∑ Ii = ∑ Is (7.2)
i=n s=n+1

Em que:
• Ii : Correntes de entrada em ampère [A];
• Is : Correntes de saída em ampère [A].

 Exemplo 7.1 Em um nó "y"entra uma corrente I1 = 10 A, então a corrente total de

saída deve ser igual a 10 A. Qual o valor de I4 sabendo que I2 = 2 A e I3 = 5 A.

I2=2A
I1=10A I3=5A
y
I4

n m
∑ Ii = ∑ Is
i=n s=n+1

I1 = I2 + I3 + I4
10 = 2 + 5 + I4
10 − 2 − 5 = I4
I4 = 3 A

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7.2 Leis de Kirchhoff 53

Exercício 7.6 Em um nó "y"entram I1 = 10 A e I2 = 3 A e uma corrente de saída é I3 =


3, 6 A, qual o valor da corrente de saída I4 ? 

7.2.2 Segunda Lei de Kirchhoff


A Segunda Lei de Kirchhoff para tensão (LKT), conhecida também como lei das
malhas,estabelece que o somatório das tensões em um caminho fechado (malha fe-
chada) por um único sentido é igual a zero.

n
∑ Vi = 0 (7.3)
n=i

Em que:
• Vi : Tensões ao longo da malha em volt [V ].

 Exemplo 7.2 Encontre a tensão V f da fonte pelo método das malhas.

10V 15V 20V


+ - + - + -

+ Vf
-

Seguindo o caminho da malha temos:

+V f −VR1 −VR2 −VR3 = 0


+V f − 10 − 15 − 20 = 0
+V f − 45 = 0
V f = 45V


Exercício 7.7 Considere o circuito elétrico da figura, onde adotamos o ponto T como
referencial nulo (terra) e considere R = 2 Ω. Qual o potencial no ponto P e a intensi-
dade de corrente que circula pelo circuito?

+ 26V 6V +-
-
T


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54 Capítulo 7. Análise de circuitos em CC: Resistores

7.3 Associação de resistores


Na análise de circuitos, é comum encontrar associações de resistores com diferen-
tes valores de resistências, os resistores podem ser associados em série ou paralelo.
Quando os dois tipos de associação são encontrados nos circuitos é conhecida como
associação mista.
O resistor equivalente à associação é o resistor único que ao ser submetido sob a
mesma tensão que a associação é atravessado por uma corrente de intensidade igual
a que atravessa a associação.

7.3.1 Associação de resistores em série


Vamos tomar como demonstração o exemplo abaixo, em que queremos saber a
resistência equivalente da associação em série de 3 resistores:
R1 R2 R3 Req

+ +
- -

Quando os resistores são associados em série, a corrente que percorre todos os


resistores é igual, ou seja:

Ieq = I1 = I2 = I3

E de acordo com a LKT, a somatória das tensões em uma malha fechada é sempre
zero, temos:

Veq = V1 +V2 +V3

De acordo com a Lei de Ohm, V = R · I

Req · Ieq = R1 · I1 + R2 · I2 + R3 · I3

Como todas as correntes são iguais, enfim temos que a resistência equivalente da
associação em série é:

Req = R1 + R2 + R3

Dessa forma, podemos concluir que o resistor equivalente de uma associação em


série é a soma dos resistores associados.

n
Req = ∑ Ri (7.4)
i=1
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7.3 Associação de resistores 55

A tensão em cada resistor da associação em série pode ser calculada pela regra
do divisor de tensão que estabelce que:

RX
VX = VF · (7.5)
Req

Em que:
• VX : Tensão no resistor X em volt [V ];
• VF : Tensão total da fonte em volt [V ];
• RX : Resistência do resistor X em ohm [Ω];
• Req : Resistência equivalente em ohm [Ω].

Exercício 7.8 Calcule o resistor equivalente, a corrente do circuito da associação em


série dos resistores e a tensão sobre cada R1 .

(a) R1 = 10Ω; R2 = 10Ω e R3 = 20Ω

10Ω 10Ω 20Ω

+ 25V
-

(b) R1 = 2kΩ e R2 = 150Ω

2kΩ 150Ω

+ 5V
-

(c) R1 = 5kΩ; R2 = 10kΩ e R3 = 200kΩ

5kΩ 10kΩ 200kΩ

+ 5V
-


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7.3.2 Associação de resistores em paralelo


Outra forma de associação dos resistores é associação em paralelo, vamos encon-
trar a resistência equivalente através do exemplo abaixo com três resistores associa-
dos em paralelo:
Req

+ R1 R2 R3 +
- -

Na configuração em paralelo, todos os resitores estão submetidos a mesma tensão,


portanto:

Veq = V1 = V2 = V3
De acordo com LKI, a corrente que entra um nó é igual a corrente que sai do nó.
Dessa forma temos:

Ieq = I1 + I2 + I3
De acordo com a Lei de Ohm, V = R · I

Veq V1 V2 V3
= + +
Req R1 R2 R3
Como as tensões são iguais, por fim temos:

1 1 1 1
= + +
Req R1 R2 R3
Dessa forma, podemos concluir que em uma associação em paralelo, o inverso do
resistor equivalente é igual a soma dos inversos dos resistores associados, da seguinte
forma:

n
1 1
=∑ (7.6)
Req i=1 Ri
A corrente em cada resistor associado em paralelo pode ser descrita pela regra da
divisão de corrente:

Re q
IX = IF · (7.7)
RX
Em que:
• IX : Corrente no resistor X em ampère [A];
• IF : Corrente total da fonte em ampère [A];
• RX : Resistência do resistor X em ohm [Ω];
• Req : Resistência equivalente em ohm [Ω].
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7.3 Associação de resistores 57

Exercício 7.9 Calcule o resistor equivalente, a corrente do circuito da associação em


paralelo dos resistores e a corrente sobre cada R1 .

(a) R1 = 10Ω; R2 = 10Ω e R3 = 20Ω

20Ω
10Ω

10Ω
25V +-

(b) R1 = 2kΩ e 150Ω


150Ω
2kΩ

5V +-

(c) R1 = 5kΩ; R2 = 10kΩ e R3 = 200kΩ


200kΩ
10kΩ
5kΩ

5V +-

(d) R1 = 2kΩ; R2 = 150Ω; R3 = 2kΩ e R4 = 300Ω


300Ω
150Ω
2kΩ

2kΩ

50V +-

Exercício 7.10 Deduza uma equação que represente a associação em paralelo de


dois resistores. 
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58 Capítulo 7. Análise de circuitos em CC: Resistores

7.3.3 Associação mista de resistores


Os circuitos de associações mistas de resistores combinam associações em para-
lelo com associações em série.
Nesses casos para encontrar a resistência equivalente é preciso decompor o cir-
cuito em circuitos menores com associações em série e paralelo.
É importante lembrar que circuitos com os mesmos resistores podem apresentar
resistência equivalente diferente de acordo com a configuração do circuito.

Exercício 7.11 Considere os resistores:


R1 = 10Ω R2 = 12Ω R3 = 16Ω
R4 = 20Ω R5 = 15Ω R6 = 25Ω
Calcule a resistência equivalente e a corrente dos circuitos abaixo:

(a) (b)
R1 R2 R3 R1 R2 R3

R4 R5 R6 R4 R5 R6

+ 25V + 25V
- -

7.3.4 Curto-circuito em um resistor


O curto-circuito é quando os terminais de um resistor são ligados por um fio condu-
tor de resistência elétrica nula. A Figura 7.4 mostra um curto-circuito em um resistor.

R
A B
I I

R'=0
Figura 7.4: Resistor em curto-circuito

Se em um circuito elétrico, os terminais de um resistor forem ligados por um fio


condutor de resistência elétrica desprezível, a tensão entre os terminais se torna nula.

V = R·I V =0⇒I=0
Neste caso, dizemos que o resistor está em curto-circuito pois não está sendo
atravessado por corrente. Como já observado, em uma associação em paralelo, quanto
menor a resistência do resistor associado, maior será a corrente que atravessa por
ele, e neste caso, havendo o curto-circuito, toda a corrente se desvia pelo condutor de
resistência nula.
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7.3 Associação de resistores 59

7.3.5 Resistor aberto


O circuito aberto de um resistor é quando o resistor não possui algum de seus
terminais conectados. A Figura 7.5 mostra um circuito com resistor R2 aberto.

R1 R2
A B C
I I

Vf +- I
I

Figura 7.5: Circuito com resistor R2 em aberto

A corrente precisa de um caminho fechado para sua circulação, mas no circuito


aberto não existe um caminho fechado, portanto não existe circulação de corrente,
dessa forma, de acordo com a Lei de Ohm também não existe queda de tensão no
resistor em aberto.

V = R·I I =0⇒V =0

Exercício 7.12 Encontre a corrente em cada ramo dos circuitos abaixo.


a) b) 2Ω 2Ω
10Ω 5Ω

50V +- 150V +- 40V +- 12V +- 12V +-




20Ω 10Ω 5Ω 5Ω

Exercício 7.13 De acordo com o circuito abaixo. Determine:


(a) V1 (b) V2 (c) VAB

R3=6Ω R4=2Ω

+ -
B
V2

R1=5Ω R2=3Ω
E1=6V +- A E2=18V +-
+ -
V1


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Exercício 7.14 Encontre os resistores equivalentes das associações abaixo.

a) 6Ω b) 30Ω 36Ω

5Ω 4Ω 12Ω
A B A B

4Ω 20Ω 18Ω

12Ω
c) A
d)
12Ω 12Ω 12Ω
A B

12Ω

12Ω
12Ω
B

e)
10Ω 27Ω 12Ω 18Ω 15Ω
A
12Ω

12Ω

15Ω

12Ω

12Ω
B


A A
f) g)






B B

i)
50Ω 50Ω

h) A
45Ω
12Ω


30Ω
B


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7.3 Associação de resistores 61

7.3.6 Conversões Y-∆


Em alguns circuitos os resistores não estão associados em série e nem em paralelo,
muitas vezes os circuitos podem estar nas associações Y ou ∆. A Figura 7.6 mostra as
associações Y e ∆.

a b a b
RC
R1
R2

RB

RA
R3

Y ∆
c c
Figura 7.6: Circuitos Y e ∆

Conversão ∆-Y
É possível converter o circuito ∆ em um equivalente em Y por meio das equações:

RB · RC
R1 = (7.8)
RA + RB + RC

RA · RC
R2 = (7.9)
RA + RB + RC

RA · RB
R3 = (7.10)
RA + RB + RC
Cada resistor do Y é igual ao produto dos resistores nos dois ramos mais próximos
do ∆ dividido pela soma dos resistores do ∆.

Conversão Y-∆
Também é possível converter um circuito Y em um equivalente em ∆ por meio das
equações:

R1 · R2 + R1 · R3 + R2 · R3
RA = (7.11)
R1

R1 · R2 + R1 · R3 + R2 · R3
RB = (7.12)
R2

R1 · R2 + R1 · R3 + R2 · R3
RC = (7.13)
R3
Cada resistor do ∆ é igual à soma das possíveis combinações dos produtos das
resistências do Y dividida pela resistência do Y mais distante do resistor a ser determi-
nado.
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Exercício 7.15 Calcule a resistência equivalente entre os pontos A e B.


a) A b) A c) A

12Ω

12


Ω
Ω 9Ω Ω 9Ω
10 18
6Ω 6Ω 5Ω

B



B B


7.3.7 Ponte de Wheatstone


Diversas aplicações utilizam a configuração de circuitos em ponte, a Figura 7.7 mos-
tra configurações de circuitos em ponte.

R2
R1 R2
R1

R2

4
R

R
1
R5 R5

R5
R4
R3

R3 R4 R3

Figura 7.7: Circuitos em ponte

Os circuitos em ponte podem aparecer nos três formatos acima, as conversões Y-∆
são utilizadas para análise de circuitos em ponte.
A Ponte de Wheatstone é um circuito notável, muito utilizado em aplicações de
sensores e eletrônica analógica. A Figura 7.8 mostra uma configuração da Ponte de
Wheatstone.
C

RX R

I2 I2

A A B

I1 I1
R1 2
R

D
IT
+
-

Figura 7.8: Ponte de Wheatstone


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7.3 Associação de resistores 63

Na Ponte de Wheatstone da figura acima, RX é uma resistência elétrica a ser de-


terminada, R é a resistência elétrica de um reostato, R1 e R2 são resistência elétricas
conhecidas. O elemento entre os nós C e D é um amperímetro, aparelho utilizado para
medição de corrente e será estudado melhor adiante.
Ao variar o valor da resistência R do reostato, chega-se em uma condição de equi-
líbrio onde o amperímetro não registra passagem de corrente (ICD = 0), ou seja, os
potenciais dos pontos C e D são iguais (VC = VD ).
A corrente total do circuito IT fornecida pela fonte se divide em I1 que segue por R1
e R2 e I2 que segue por R e RX . Aplicando a Lei de Ohm em cada trecho desse circuito
temos:

VA −VC = RX · I2 (a)

VC −VB = R · I2 (b)
VA −VD = R1 · I1 (c)
VD −VB = R2 · I1 (d)
Devido a igualdade entre os potenciais VC e VD podemos igualar as equações (a) e
(c) e (b) e (d) e assim obtemos:

RX · I2 = R1 · I1 (e)

R · I2 = R2 · I1 (f)
Dividindo, membro a membro, vem:

RX · R2 = R · R1 (7.14)

Portanto, na Ponte de Wheatstone em equilíbrio, é constante o produto das resis-


tências situados em lados opostos.

Exercício 7.16 De acordo com o circuito abaixo responda:

(a) Qual deve ser o valor da resistência X para que o amperímetro não acuse
a passagem de corrente elétrica?
(b) Qual resistência equivalente do circuito?

Ω 5Ω
10

A A B

X 2Ω
+
-


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64 Capítulo 7. Análise de circuitos em CC: Resistores

Exercício 7.17 De acordo com os circuito abaixo, determine:

(a) O valor da resistência X para que o amperímetro não acuse a passagem


de corrente
(b) Corrente em cada ramo do circuito.
(I) 5Ω 2Ω (II) 30Ω 60Ω
A A

48V +- 150V +-

120Ω
50Ω


C A D C A D

30Ω
15Ω

X
4Ω 30Ω

B B
5Ω 50Ω

7.4 Potência elétrica


A potência elétrica pode ser definida fisicamente como a razão entre a energia
elétrica e o intervalo de tempo ∆t:

Eel étrica
P= (7.15)
∆t
• P: Potência em Watt [W ];
• Eel étrica : Energia elétrica em joule [J];
• ∆t: Tempos em segundos [s].

A potência elétrica de qualquer aparelho pode ser calculada multiplicando-se a


intensidade da corrente pela respectiva tensão elétrica entre seus terminais. Dessa
forma, a expressão para potência elétrica é:

P =V ·I (7.16)

Em que:
• P: Potência em Watt [W ];
• V : Tensão entre os terminais aparelho/dispositivo em volt [V ];
• I: Corrente que atravessa o dispositivo em ampère [A].

No SI a unidade de medida para energia é o joule [J], porém na prática comercial a


unidade de medida mais utilizada é quilowatt-hora [kW · h]. A equivalência de joule [J]
para quilowatt-hora [kW · h] é:

1 kW · h = 3, 6 · 106 J (7.17)
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7.4 Potência elétrica 65

Exercício 7.18 Um chuveiro tem as seguintes especificações:


• Potência: 4.400W /5.500W •Tensão: 220V .

(a) Qual a intensidade da corrente se for ligado na opção verão (4.400W )?


(b) Qual a intensidade da corrente se for ligado na opção inverno (5.500W )?
(c) Supondo que o chuveiro ficou ligado na posição inverno no total de 30
horas ao longo de um mês, qual o consumo de energia elétrica desse
chuveiro?
(d) Qual será o valor gasto pelo chuveiro considerando o preço do [kW · h] de
R$ 0,80?

Exercício 7.19 Para iluminar um campo de futebol são ligadas ao mesmo tempo 96
refletores com potência de 250W em tensão de 127V .

(a) Qual a corrente de uma lâmpada?


(b) Qual o consumo de energia elétrica de 1 hora com iluminação ligada (em
kW · h e J)?
(c) Qual será o valor gasto pela iluminação considerando o preço do [kW · h]
de R$ 0,80?

Exercício 7.20 Responda de acordo com o circuito abaixo:

(a) Qual a potência do circuito?


(b) Qual a potência do resistor entre os ramos A e B?
(c) Qual a potência do resistor entre os ramos C e D?
(d) Qual a potência do resistor entre os ramos A e C?
(e) Qual a potência do resistor entre os ramos B e D?

20Ω 15Ω
A C
10Ω

15Ω

50V +-
10Ω 10Ω

B D


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7.5 Efeito Joule


Todo resistor possui a função de transformar energia elétrica em energia térmica,
pois, ao atravessar um condutor, as cargas elétricas elementares que constituem a cor-
rente elétrica têm sua energia convertida em energia térmica em virtude da interação
com os átomos e moléculas que constituem o condutor. Essa conversão de energia
recebe o nome de Efeito Joule e é responsável pelo aquecimento do condutor ao ser
atravessado por corrente elétrica.
A potência dissipada no resistor pode ser determinada por:

P =V ·I

De acordo com a Lei de Ohm:

V = R·I

Dessa forma, obtemos a potência dissipada no resistor:

P = R · I2 (7.18)

Em que:
• P: Potência dissipada no resistor em watt [W ];
• R: Resistência do resistor em ohm [Ω];
• I: Corrente do resistor em àmpere [A].

O Efeito Joule é a energia elétrica dissipada pelo resistor em energia térmica, de


acordo com a Equação 7.15 a energia pode ser expressa por:

Eel étrica = P · ∆t

E a potência pode ser substituída pela Equação 7.18, então:

Eel étrica = R · I 2 · ∆t (7.19)

Em que:
• Eel étrica : Energia elétrica convertida em energia térmica pelo resistor em joule [J];
• R: Resistência do resitor em ohm [Ω];
• I: Corrente no resistor em àmpere [A];
• ∆t: Tempo em segundos [s].

O Efeito Joule é um dos fatores mais importantes para o dimensionamento de con-


dutores nas instalações elétricas, pois o aquecimento excessivo do condutor pode le-
var ao derretimento da isolação, a isolação mais comum é a de PVC, que consiste em
um polímero sintético de plástico com temperatura de fusão abaixo dos 200ºC. Ao
perder a isolação o condutor pode encostar em outros condutores e ocasionar curto-
circuito, ou ainda pior, uma pessoa pode encostar no condutor sem insolação e dessa
forma tomando um choque.
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7.5 Efeito Joule 67

Uma das maneiras que se utiliza para detectar sobrecargas em condutores nas ins-
talações elétricas e anormalidades no funcionamento de máquinas é a termografia,
que consiste na detecção de calor por meio de câmeras térmicas que detectam radia-
ção infravermelha. A Figura 7.9 mostra algumas aplicações de termografias.

(a) Termografia de motores (b) Imagem de câmera de termografia

Figura 7.9: Detecção de problemas por termografia

Exercício 7.21 Qual a energia elétrica dissipada por um condutor com resistência de
5Ω percorrido por uma corrente de 25 A durante 30 minutos? 

Exercício 7.22 Considere as situações a seguir e responda:


• Situação I: condutor de cobre com comprimento de 150 m, e bitola de 2, 5mm2
que será percorrido por uma corrente de 15 A por 24 horas por dia.
• Situação II: condutor de alumínio com comprimento de 150 m, e bitola de 6, 0mm2
que será percorrido por uma corrente de 15 A por 24 horas por dia.
Qual das situações apresenta melhor eficiência energética? 

Exercício 7.23 A chave do circuito abaixo permaneceu fechada por 320 s. Qual foi a
energia dissipada pelo circuito?

20Ω
20Ω

10Ω

20V +-
50Ω 10Ω


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68 Capítulo 7. Análise de circuitos em CC: Resistores

7.6 Gerador elétrico real


Como já vimos anteriormente, o gerador elétrico é o dispositivo que fornece energia
às cargas elementares, resumidamente, o gerador é um dispositivo que converte para
energia elétrica a partir de outras fontes de energia.
As pilhas e baterias são exemplos de geradores químicos, pois transformam ener-
gia química em energia elétrica. Nas usinas hidroelétricas temos geradores mecânicos
que convertem energia mecânica de uma queda d’água em energia elétrica. As usinas
nucleares podem ser classificadas como geradores nucleares que convertem energia
nuclear em energia elétrica.
O gerador ideal é aquele que fornece toda sua energia sem dissipação, porém no
gerador real uma parte da energia energia elétrica que o gerador obtém de outra forma
de energia é dissipada por Efeito Joule no seu próprio interior, isso se deve ao fato que
o resistor real possui uma resistência r interna.
A Figura 7.10a exibe um gerador ideal, semelhante aos estudados até o presente
momento. A Figura 7.10b mostra a representação de um gerador real.

GERADOR REAL
A B A B
+

+
-

-
VCC r VCC
I R1 I R1

(a) Gerador ideal (b) Gerador real

Figura 7.10: Geradores CC

No gerador ideal, a tensão entre os pontos A e B é igual a tensão VCC da fonte,


enquanto que no gerador real a tensão entre os pontos A e B pode ser expressa por:

V = E −r·I (7.20)

Em que:
• V : Tensão do gerador em volt [V ];
• E: Força eletromotriz em volt [V ];
• r: Resistência interna do gerador em ohm [Ω];
• R: Resistência equivalente do circuito em ohm [Ω].

A Equação 7.20 é conhecida como equação característica do gerador elétrico, e


conforme a equação demonstra apenas uma parte da tensão do gerador fica disponí-
vel, já que existe uma queda de tensão interna devido a resistência interna. A parcela
da tensão que fica disponível para utilização do circuito é conhecida como força ele-
tromotriz.
CARLOS HENRIQUE DE MELO VASSOLER
7.6 Gerador elétrico real 69

7.6.1 Potência elétrica no gerador


Como já vimos anteriormente, a função básica do gerador é transformar outra forma
de energia em energia elétrica para que as cargas se mantenha circulando no circuito.
Sabemos que a potência elétrica fornecida PF pelo gerador para o circuito externo é:

PF = V · I (7.21)
Em que:
• PF : Potência fornecida ao circuito pelo gerador em watt [W ];
• V : Tensão nos terminais externos do gerador em volt [V ];
• I: Corrente fornecida pelo gerador em ampère [A].

A potência fornecida também é denominada por potência útil. Se o gerador fosse


ideal, não tendo resistência interna, a potência gerada seria igual a potência fornecida.
No gerador real, a potência dissipada na sua resistência interna r é dada pelo pro-
duto da resistência com o quadrado da intensidade da corrente fornecida para o cir-
cuito:

PD = r · I 2 (7.22)
Em que:
• PD : Potência dissipada pela resistência interna do gerador em watt [W ];
• r: Resistência interna do gerador em ohm [Ω];
• I: Corrente fornecida pelo gerador para o circuito em ampère [A].

Pelo princípio de conservação da energia, a potência no gerador PG pode ser ex-


pressa como a soma da potência fornecida PF e potência dissipada PD :

PG = PF + PD (7.23)
Em que:
• PG : Potência total do gerador em watt [W ];
• PF : Potência fornecida ao circuito pelo gerador em watt [W ];
• PD : Potência dissipada pela resistência interna do gerador em watt [W ].

7.6.2 Rendimento elétrico do gerador


Para qualquer aparelho elétrico, define-se o rendimento elétrico pela relação entre
a potência útil (aproveitada de acordo com o fim a que se destina) e a potência total
desenvolvida em seu funcionamento:
Pot ência útil
η=
Pot ência total
No gerador, a potência útil é a que o gerador fornece ao circuito externo PF e a
potência total que o gerador produz PG , dessa forma:

PF
η= (7.24)
PG
Em que:
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70 Capítulo 7. Análise de circuitos em CC: Resistores

• η : Rendimento (adimensional);
• PG : Potência total do gerador em watt [W ];
• PF : Potência fornecida ao circuito pelo gerador em watt [W ].

Também é comum apresentar o rendimento por meio de porcentagem, dessa forma:

η (%) = η · 100% (7.25)

Exercício 7.24 O circuito abaixo apresenta uma corrente de 2, 0 A. Responda:

(a) Qual o valor da resistência interna r do gerador?


(b) Qual a potência fornecida para o circuito?
(c) Qual a potência dissipada no gerador devido a resistência interna?
(d) Qual o rendimento do gerador?
+
-

22V r
10Ω I

Exercício 7.25 O circuito abaixo apresenta uma corrente de 2, 0 A. Responda:

(a) Qual o valor da resistência interna r do gerador?


(b) Qual a potência fornecida para o circuito?
(c) Qual a potência dissipada no gerador devido a resistência interna?
(d) Qual o rendimento do gerador?
+
-

54V r
40Ω

40Ω
60Ω

10Ω


CARLOS HENRIQUE DE MELO VASSOLER
7.6 Gerador elétrico real 71

7.6.3 Potência máxima fornecida pelo gerador


Já vimos anteriormente que a potência fornecida pelo gerador ao circuito externo
no qual está ligado é dada pela Equação 7.23:

PF = PG − PD

Substituindo a potência total gerada e a potência dissipada, obtemos:

PF = E · I − r · I 2 (7.26)

Portanto, essa potência fornecida varia com a intensidade da corrente segundo


uma equação do segundo grau. Lembrando que a potência fornecida é nula em dois
momentos: quando a tensão nos terminais do gerador é nula (V = 0; curto-circuito) ou
quando a intensidade de corrente é nula (I = 0; circuito aberto).
Na relação da Equação 7.26, fazendo PF = 0, obtemos as raízes da equação I1 = 0
(tensão em aberto) e I2 = ICC = E/r (curto circuito).
Representando graficamente a potência elétrica fornecida ao circuito externo em
função da intensidade da corrente, obtemos o gráfico fa Figura 7.11.

P [W]

Pmáx

I [A]
I' ICC

Figura 7.11: Potência elétrica fornecida pelo gerador para o circuito externo em função
da corrente

Como observado, o gráfico é uma parábola com concavidade voltada para baixo,
que intercepta o eixo das abscissas na origem e na corrente de curto-circuito.
Observemos que a potência fornecida máxima Pmáx corresponde ao vértice da pa-
rábola, e por simetria corresponde a uma corrente de intensidade igual à metade da
intensidade da corrente de curto-circuito ICC :

ICC
I′ =
2
Como a corrente de curto-circuito ICC equivale a:
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72 Capítulo 7. Análise de circuitos em CC: Resistores

E
ICC =
r
Logo, obtemos a intensidade da corrente de potência máxima I ′ :

E
I′ = (7.27)
2·r
Em que:
• I ′ : Corrente de potência máxima do gerador em ampère [A];
• E: Força eletromotriz do gerador em volt [V ];
• r: Resistência interna do gerador em ohm [Ω].

Substituindo na Equação 7.20 (equação característica do gerador) pela corrente de


potência máxima da Equação 7.27 obtemos:

V = E −r·I

E E
V = E −r· =E−
2·r 2
Logo, obtemos:

E
V= (7.28)
2
A Equação 7.28 demonstra que na potência máxima, a tensão nos terminais exter-
nos do gerador é igual a metade da força eletromotriz do gerador. Este fato implica
que na potência máxima fornecida, metade da força eletromotriz está disponível nos
terminais do gerador, e outra metade está sendo dissipada na resistência interna, ou
seja, na potência máxima fornecida pelo gerador a resistência interna do gerador r é
igual a resistência R do circuito externo.

Exercício 7.26 O circuito abaixo apresenta um resistor variável RV . Qual deve ser o
valor de RV para que o gerador forneça máxima potência
+
-

60V r=1,5Ω
40Ω
60Ω

Rv

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