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10/05/2021 online (1).

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Tribunal de Justiça do Estado da Bahia


PODER JUDICIÁRIO
SALVADOR
14ª VSJE DO CONSUMIDOR (VESPERTINO) - PROJUDI

PADRE CASIMIRO QUIROGA, 2403, 2º ANDAR (FÓRUM IMBUÍ), IMBUÍ - SALVADOR


ssa-14vsje-consumo@tjba.jus.br - Tel.: (71) 3372-7381
PROCESSO N.º: 0002586-60.2021.8.05.0001

AUTORES:
REGINA CELIA GOMES ARMEDE

RÉUS:
BANCO PAN S A

SENTENÇA
Vistos, etc.,
Dispensado o relatório, consoante o disposto no art. 38 da Lei 9.099/05.
Rejeito a preliminar de incompetência material suscitada pela ré. Tenta afastar a parte
Acionada a competência deste MM. Juízo sob a alegação da necessidade de produção de provas
incompatíveis com o rito procedimental previsto na Lei 9.099/95, cuja competência material foi
fixada em seu art. 3º. O enunciado 54 do FONAJE é claro ao estatuir que a menor complexidade da
causa para a fixação da competência é aferida pelo objeto da prova e não em face do direito
material, todavia, no caso concreto, não vislumbro a necessidade de produção de prova pericial,
haja vista que as provas encartadas aos autos são suficientes para formar o convencimento desta
magistrada. AFASTO, portanto, a preliminar de incompetência por complexidade da causa.
No mérito,
Trata-se de demanda através da qual a parte autora pretende indenização pelos danos
sofridos, restituição dos valores pagos, anulação do contrato, bem como devolução de valor
indevidamente depositado em sua conta, em razão de vício na consolidação do contrato. A ré, por
sua vez, impugna especificamente os pedidos da autora.
Pois bem. Verifica-se que a lide gira em torno da (i)licitude da conduta da ré, que teria
perfectibilizado contrato de empréstimo sem a autorização da autora.
Invertido o ônus da prova em decisão judicial, cabia à acionada trazer aos autos o
contrato de empréstimo consignado firmado entre as partes.
A parte ré acostou aos autos o contrato supostamente assinado pela autora. Ocorre,
todavia, que, da simples análise do instrumento colacionado, verifica-se diversas incongruências.
Inicialmente, a assinatura constante no contrato diverge da assinatura constante no documento de
identidade autora. Ademais, o contrato teria sido firmado em Brasília, tendo a autora comprovado
que, na data da contratação, residia na cidade de Salvador, estando em tratamento de câncer. Por
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fim, o RG constante no contrato apresentado pela acionada é divergente do número de RG da


autora. Tais incongruências demonstram que a autora jamais firmou o contrato com a ré.
Assim, deve ser declarado nulo o contrato firmado, determinando-se que a parte ré se
abstenha de deduzir valores na pensão recebida pela acionante e devolva o que já foi debitado.
Quanto ao pedido de restituição, defiro em dobro, nos termos do art. 42, parágrafo
único do CDC e conforme orientação do Superior Tribunal de Justiça. Saliente-se a existência de
cobrança indevida, do pagamento e da ausência de erro justificável. É oportuno esclarecer que o
Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento pela desnecessidade de má-fé para a incidência da
dobra legal (STJ. Corte Especial. EAREsp 676608/RS, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em
21/10/2020.). Com o julgamento mais recente da Corte Superior ficou superada a tese 7 do
Jurisprudência em Teses do STJ (ed. 39).
Não é o caso de conhecimento do pedido contraposto, já que pessoas jurídicas não
podem postular em sede de Juizados por força da norma do Art. 8º, § 1º, da Lei 9.099/95, com
exceção das microempresas e empresas de pequeno porte (Art. 74, da Lei Complementar 123/2006).
Entretanto, de ofício, com a finalidade de evitar enriquecimento sem causa de uma parte em
detrimento da outra, determino a compensação do valor a ser restituído ao consumidor com o valor
liberado em sua conta. Valor a ser restituído ao consumidor, levando em consideração a dobra legal:
R$ 4.064,06 (considero o valor informado na inicial, uma vez que o autor não informou nos autos
eventuais valores pagos durante a demanda), Valor liberado para o autor: R$ 4.210,94 (-), Diferença
encontrada a favor do réu: R$ 146,88 (-).
Em relação ao pedido de DANOS MORAIS formulado, faz jus a parte Autora ao
recebimento de indenização por dano moral, tendo em vista a situação ora descrita ultrapassa a
esfera do mero aborrecimento, resultando em frustração, que se traduz em aborrecimento, aflição,
angústia e intranquilidade psíquica, cujo montante respectivo arbitro em face das circunstâncias do
fato, bem como a necessidade de sancionar a Acionada a fim de que fatos semelhantes não voltem a
ocorrer.
Presente o dano à esfera extrapatrimonial da parte Autora, por certo que, a despeito do
requerimento, a indenização sub examine não pode alcançar níveis estratosféricos e desarrazoados,
mesmo porque, à reparação colima compensar o lesado pela lesão sofrida, é um alento, não um
investimento lucrativo, a ponto de parecer conveniente ou vantajoso suportar o abalo.
Nesse tema controvertido e movediço, à falta de diretrizes legais para o arbitramento,
ensinam a doutrina e jurisprudência, que para aplicação do quantum deve o magistrado agir com
cautela e prudência, de modo a não ensejar um enriquecimento sem causa ao ofendido, em
detrimento do ofensor, independentemente da pujança financeira deste.
Assim, na fixação do montante indenizatório, devem ser consideradas as funções da
responsabilidade civil, ou seja, para a vítima, a indenização tem caráter compensatório, tendo como
finalidade minimizar o sofrimento e constrangimento suportado e para o lesante, o montante
indenizatório deve significar uma punição pelo seu comportamento e, outrossim, um instrumento
inibitório de sua repetição (função preventiva).

Diante do exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE os pedidos


deduzidos na exordial, para:

1) DECLARAR nulo o contrato celebrado entre as partes, extinguindo todas as


obrigações que decorreram de sua realização;
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2) CONDENAR a acionada a liberar a margem consignável respectiva, bem como a


suspender imediatamente os descontos, no prazo de 10 dias contados da intimação desta
sentença, tudo sob pena de multa fixa no importe de R$ 2.000,00 (dois mil reais), valor e
periodicidade que podem ser alterados em caso de descumprimento.

3) CONDENAR a acionada a devolver em dobro os valores debitados na pensão da


autora, cujo valor até o ingresso da demanda (R$ 4.064,06) deve ser abatido do montante
transferido para a conta da autora (R$ 4.210,94), ficando um saldo devedor da autora no
montante de R$ 146,88 (-). Condeno a acionada a devolver em dobro os valores debitados no
curso da ação até o transito em julgado.

4) CONDENAR a acionada a indenizar a autora pelos danos morais sofridos no


montante de R$ 4.000,00 (-), acrescido de correção monetária desde o arbitramento e juros de
mora de 1% ao mês desde o evento danoso (20/12/2019).

Partes isentas do pagamento de custas processuais e honorários advocatícios nessa


fase procedimental (art. 54 da lei nº 9.099/95).

Havendo eventual interposição de recurso inominado e, uma vez certificada a sua


tempestividade e preparo, recebo-o sem efeito suspensivo, intimando-se a parte recorrida para
apresentar as suas contrarrazões no prazo de 10 (dez) dias. Decorrido o prazo assinalado, subam
os autos à Turma Recursal.

Em caso de requerimento da gratuidade da justiça, a sua apreciação dar-se-á quando


da interposição do recurso, bem como seu deferimento ficará condicionado à apresentação de
documentos que comprovem a efetiva insuficiência de recursos (DECORE, contra-cheque,
declaração de IR, despesas ordinárias de manutenção da unidade familiar), os quais devem
instruir obrigatoriamente a petição de interposição do recurso.

Para que produza seus jurídicos e legais efeitos, homologo a Sentença do Juiz Leigo
Bruna Saback de Almeida Rosa na forma do art. 3º, §4º, da Resolução TJBA N. 7, de 28 de
julho de 2010, publicada no DJE do dia 02 de agosto de 2010.

P.R.I

Salvador, data da assinatura eletrônica.

ANDRÉA TOURINHO CERQUEIRA DE ARAÚJO


Juíza de Direito

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Documento Assinado Eletronicamente

Assinado eletronicamente por: ANDREA TOURINHO CERQUEIRA DE ARAUJO


Código de validação do documento: 7b0d5b62 a ser validado no sítio do PROJUDI - TJBA.

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