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Faculdade de Direito
Belo Horizonte
2016
Steevan Tadeu Soares de Oliveira
Belo Horizonte
2016
Oliveira, Steevan Tadeu Soares de
O48t A tropa de choque e a efetividade do direito de reunião /
Steevan Tadeu Soares de Oliveira. - 2016.
CDU(1976) 342.729
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Juliana Moreira Pinto CRB 6/1178
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
________________________________________________________________
Orientadora: Profa. Dra. Mônica Sette Lopes
________________________________________________________________
Professor Convidado:
________________________________________________________________
Professor Membro:
Belo Horizonte
2016
Dedico esta obra a Tadeu e Marlene,
por renunciarem à própria vida para
proporcionar vida mais digna aos filhos...
AGRADECIMENTOS
Renato Teixeira
RESUMO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 13
2 SITUANDO O DIREITO DE REUNIÃO NO MUNDO DA VIDA ............................. 22
2.1 Dificuldades na aplicação do direito nas ruas ........................................... 22
2.2 Anverso e reverso do direito de reunião .................................................... 26
2.2.1 Relevância do direito de reunião em contextos democráticos ....... 26
2.2.1.1 Para uma política de baixo para cima .................................... 26
2.2.1.2 As múltiplas faces do direito de reunião ............................... 31
2.2.2 O “Lado B” ........................................................................................... 35
2.2.2.1 Quando o exercício do meu direito afeta o do outro ............ 35
2.2.2.2 Direito e divergências no tempo e no espaço ....................... 41
2.3 A metáfora da guerra de todos contra todos e o direito como
decidibilidade ................................................................................................ 48
3 OS CONFLITOS E A LEI: POSSIBILIDADES E IMPOSSIBILIDADES ............... 57
3.1 Pode uma lei regulamentar o direito de reunião?...................................... 57
3.2 Quem pode regulamentar o direito de reunião? ........................................ 63
3.3 Concorrência de direitos fundamentais ..................................................... 71
3.4 A participação da polícia na construção do sentido normativo............... 79
4 OS CONFLITOS E A LEI: LEGISPRUDÊNCIA E A APLICAÇÃO DA LEI
PELA POLÍCIA ..................................................................................................... 81
4.1 Legisprudência no passado e a Revolta da Vacina: o que a lei e
a polícia conseguem controlar?.................................................................. 81
4.2 Legisprudência no presente e junho de 2013: o que a lei e a polícia
conseguem controlar? ................................................................................. 93
4.2.1 A proibição das máscaras e a produção legislativa nas
Câmaras Municipais e nas Assembleias Legislativas.................. 101
4.2.2 As manifestações e a retórica da criminalização no
Congresso Nacional ........................................................................ 115
4.3 As leis e as ruas .......................................................................................... 124
5 OS CONFLITOS E A DECISÃO JUDICIAL ........................................................ 126
5.1 A Doutrina do Fórum Público na Suprema Corte dos Estados
Unidos.......................................................................................................... 130
5.2 A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal ....................................... 134
5.2 Jurisprudência nos Tribunais de Justiça ................................................. 143
5.3 Uma resposta que se dá no caso concreto .............................................. 150
6 OS CONFLITOS E A POLÍCIA ............................................................................ 159
6.1 Escrito e espada.......................................................................................... 159
6.2 Uma polícia do Estado................................................................................ 160
6.3 Solução que não soluciona........................................................................ 162
6.4 Força policial: entre a estrita legalidade e a legitimidade....................... 168
6.5 Uma polícia para aplicação do Direito ...................................................... 178
6.6 Os protestos e a normatividade de tessitura aberta ............................... 182
6.7 A sombra do Leviathan .............................................................................. 187
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 196
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 198
13
1 INTRODUÇÃO
1
IT’S our future: Youg protesters march against EU referendum result. Metro, 24 jun. 2016. Disponível
em: <http://metro.co.uk>. Acesso em: 4 jul. 2016.
2
PROTESTO contra Trump no Oregon termina em violência. Carta Capital, 11 nov. 2016. Disponível
em: <http://www.cartacapital.com.br>. Acesso 11 nov. 2016.
3
MOTORISTA se irrita com manifestação na Av. Paulista. BOL vídeos, 12 jun. 2013. Disponível em:
<http://videos.bol.uol.com.br>. Acesso em: 4 jul. 2016.
14
4
Ibid.
5
Ibid.
6
CALVINO, Ítalo. O visconde partido ao meio. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
15
11
DINIZ, Maria Helena. Dicionário Jurídico. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. v. 4. p. 25.
12
OLIVEIRA, Steevan Tadeu Soares de. O uso da força pela Tropa de Choque sob o prisma do
Direito Internacional dos Direitos Humanos. In: CAPUCIO, Camilla et al. (Orgs.). A proteção do
indivíduo e da coletividade. Belo Horizonte: Arraes Editores, 2013. (Direito Internacional no Nosso
Tempo, v. 2). p. 137-151.
13
Também denominado direito de protesto ou de manifestação, tomados aqui como sinônimos, dá-se
preferência a direito de reunião, tendo em vista que a Constituição da República Federativa do Brasil
de 1988 (CRFB/88) o escolhe: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: […] XVI -
todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente
17
de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local,
sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente;” (BRASIL, 1988)
14
FERRAZ JUNIOR, Tércio Sampaio. Introdução ao estudo do Direito. 8. ed. rev. ampl. São Paulo:
Atlas, 2015, p. 159-160. BARROSO, Luís Roberto. O Direito Constitucional e a Efetividade de suas
normas: limites e possibilidades da Constiuição Brasileira. 8. ed. atual. Rio de Janeiro: Renovar,
2006. p. 82-83.
15
GUSTIN, Miracy Barbosa de Sousa; DIAS, Maria Tereza Fonseca. (Re)Pensando a pesquisa
jurídica. 4. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2013. p. 22.
16
HESPANHA, António Manuel. O caleidoscópio do direito – o direito e a justiça nos dias e no mundo
de hoje. 2. ed. Coimbra: Almedina, 2009.
17
Ibid., p. 9
18
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de Metodologia Científica. 5a.
ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 174-196.
18
omissão seja a causa dos diversos problemas que surgem nas ruas, entretanto é
certo que sinaliza o potencial ainda desperdiçado da contribuição que investigações
acadêmicas podem ensejar à concreção do direito na prática policial.
Trata-se de tema delicado, seja no Brasil ou em outros países, tanto que o
Police Executive Research Forum reconhece que talvez não exista desafio maior
para policiais em contextos democráticos do que atuar em manifestações públicas.19
Não obstante, cada vez mais a polícia é chamada a simultaneamente garantir o
direito de reunião e prevenir ações violentas que possam ocorrer durante os
protestos. Para se ter uma ideia, em Portugal no ano de 2009 as forças de
segurança realizaram 167 operações para garantir o exercício do direito de reunião;
em 2012, esse número ultrapassou a barreira de três mil operações anuais e desde
então nunca mais retornou aos padrões anteriores20, tendo o cenário se tornado
uma das principais preocupações das polícias lusitanas em 2015, em virtude de
manifestações de extrema-direita.21
Para explorar o tema, a estratégia metodológica principal foi a pesquisa-
participante, na qual o pesquisador integra o campo investigado.22 O autor é, desde
2002, integrante da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), e, durante cinco anos,
entre dezembro de 2009 e dezembro de 2014, trabalhou no Comando de
Policiamento Especializado (CPE)23. Nesse período, desenvolveu diversas
atividades relacionadas a protestos e manifestações, sendo duas delas de maior
relevância para esta pesquisa: (a) o comando de tropa de choque, a pé ou com
19
WEXLER, Chuck. Foreword. NARR, Tony et al. Police Management of Mass Demonstrations:
Identifying Issues and Successful Approaches. Washington: Police Executive Research Forum,
2006. p. i.
20
PORTUGAL. Relatório Anual de Segurança Interna 2009. Lisboa: Sistema de Segurança Interna,
2010; PORTUGAL. Relatório Anual de Segurança Interna 2010. Lisboa: Sistema de Segurança
Interna, 2011; PORTUGAL. Relatório Anual de Segurança Interna 2011. Lisboa: Sistema de
Segurança Interna, 2012; PORTUGAL. Relatório Anual de Segurança Interna 2012. Lisboa: Sistema
de Segurança Interna, 2013; PORTUGAL. Relatório Anual de Segurança Interna 2013. Lisboa:
Sistema de Segurança Interna, 2014; PORTUGAL. Relatório Anual de Segurança Interna 2014.
Lisboa: Sistema de Segurança Interna, 2015; PORTUGAL. Relatório Anual de Segurança Interna
2015. Lisboa: Sistema de Segurança Interna, 2016.
21
PORTUGAL. op. cit., 2016, p. 77; 81.
22
GUSTIN; DIAS. op. cit., p. 90.
23
Em Minas Gerais, a concepção operacional da polícia é pautada pela divisão territorial do Estado
em Regiões de Polícia Militar (RPM). De modo geral, cada Região subdivide-se em Batalhões, que
são numerados cronologicamente de acordo com sua criação e, por sua vez, subdivididos em
Companhias. Assim, o espaço geográfico é fragmentado nas RPMs, que têm como atribuição as
atividades policiais-militares. Em recobrimento a todas as demais regiões, existe o Comando de
Policiamento Especializado (CPE), que, não tendo uma área específica para atuar, apoia os demais
comandos, sobretudo em ocorrêcias típicas de unidades especiais, como Batalhão de
Radiopatrulhamento Aéreo (Btl RpAer), Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) e
Batalhão de Choque (BPChoque).
19
24
Comando de turno operacional e de Pelotão de Choque do atual Batalhão de Polícia de Choque
(BPChoque) e de Pelotão de Choque com cães da Companhia Independente de Policiamento com
Cães (ROCCA – Rondas Ostensivas Com Cães).
25
Cursos básicos entendidos como os treinamentos voltados para praças ou oficiais sem experiência
na área de Controle de Distúrbios, tais como os cursos de Controle de Distúrbios Civis (CDC),
Operações de Controle de Distúrbios (OCD) e Policiamento em Praças Desportivas. Por sua vez, os
cursos avançados seriam as capacitações voltadas para militares na função de comando de tropa,
tais como OCD Multiplicador e Intervenções Estratégicas em Movimentos Sociais.
26
Permanecer no interior dos quartéis aguardando acionamento.
27
Cf. entre outros, SÃO PAULO. Polícia Militar. Manual de Controle de Distúrbios da Polícia Militar. 3.
ed. São Paulo: Setor Gráfico do CSM/M Int, 1997; DORECKI, André Cristiano. LIMA, Alexsandro
Rodrigo R. Manual de Controle de Distúrbios Civis. Curitiba: Associação da Vila Militar/Polícia Militar
do Paraná, 2000; DISTRITO FEDERAL. Polícia Militar. Manual de Operações de Choque (M-2-PM).
2. ed. Brasília: Polícia Militar do Distrito Federal, 2012; ESPÍRITO SANTO. Polícia Militar. Manual de
Operações de Choque. Vitória: Polícia Militar do Espírito Santo, 2012; MINAS GERAIS. Polícia
Militar. Caderno doutrinário 10: Operações de controle de distúrbios. Belo Horizonte: Academia de
Polícia Militar, 2013; RIO GRANDE DO NORTE. Polícia Militar. Manual Técnico: Operações de
Choque. Natal: Polícia Militar do Rio Grande do Norte, 2013.
28
O Batalhão de Choque em Minas Gerais foi criado no ano de 1979; em 1997, passou a se chamar
Batalhão de Polícia de Eventos (BPE) e, em 2014, resgatou-se a primeira designação.
29
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. São Paulo: Martins Fontes, 2015.
20
30
No original: “[...] ‘concreción’ en cuanto acomodación del derecho a las realidades […]” (ENGISCH,
Karl. La idea de concreción en el derecho y en la ciencia jurídica actuales. Granada: Comares,
2004. p. 192)
22
31
Em 2 de julho de 2013, o Atlético-MG foi até a cidade de Rosário para disputar a primeira partida
das semifinais da Copa Libertadores da América. Na cidade argentina, também houve concentração
de torcedores, entretanto, pacíficos, em ambiente amistoso e com objetivo de tirar fotos e de tietar
os jogadores brasileiros, conforme se pode ver em: LACERDA, Bernardo. Argentinos vão ao hotel
do Atlético-MG em Rosário para tietar Ronaldinho Gaúcho. Portal UOL, Futebol, Libertadores, 2 jul.
2013. Disponível em: <http://esporte.uol.com.br/futebol/campeonatos/libertadores/ultimas-
noticias/2013/07/02/hotel-do-atletico-mg-atrai-argentinos-mas-atletas-se-isolam-em-rosario.htm>.
Acesso em: 4 mar. 2015.
32
No original: “por lo que me contaron, en Rosario la policía hizo su trabajo. Yo no estuve, así que no
lo se. Aquí la PM no hace nada.” (CASAR, Alejandro. Twiter: @acasar. Belo Horizonte, 9 jul. 2013.
Disponível em: <https://twitter.com/acasar>. Acesso em: 4 mar. 2015)
33
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de
1988. Diário Oficial da União, 5 out. 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 16 jun.
2016.
24
34
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional positivo. 29. ed. rev. atual. São Paulo:
Malheiros Editores, 2007. p. 264-265.
35
Ibid. p. 266.
36
ASCENSÃO, José de Oliveira. O Direito: introdução e teoria geral. 13. ed. Coimbra: Almedina,
2013. p. 595.
37
KAUFMANN, Arthur. Filosofia do Direito. 4. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2010. p.
111.
25
possível. Pelo menos nas ciências normativas não basta a dedução apenas.
Isso seria uma perspectiva demasiado unilateralmente normativista (que se
encontra de forma extrema em Kelsen) e que não considera de forma
38
suficiente o mundo dos factos.
38
KAUFMANN, Arthur. Filosofia do Direito. 4. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2010. p.
115.
39
Id. Analogía y naturaleza de la cosa: Hacia una teoría de la compresión jurídica. Santiago: Editorial
Jurídica de Chile, 1976. p. 40.
40
Ibid. p. 43.
41
Ibid. p. 117.
42
LOPES, Mônica Sette. A equidade e os poderes do juiz. Belo Horizonte: Del Rey, 1993. p. 42.
26
pessoas eventualmente possam ser afetadas pelo exercício desse direito, sob pena
de o direito não servir à sua função estabilizadora de fixar e garantir as expectativas
das pessoas.43
Portanto, parece não ser possível construir uma solução jurídica para a
questão dissociada do problema a ser resolvido e sem testar os sentidos e
resultados possíveis, conforme indica Luís Roberto Barroso.44 Por esse prisma mais
amplo, nota-se que, para encontrar uma resposta adequada, é preciso trazer à lume
mais que um único preceito normativo, mas também as múltiplas perspectivas
acerca do problema e seus efeitos.
43
HESPANHA, António Manuel. O caleidoscópio do direito – o direito e a justiça nos dias e no mundo
de hoje. 2. ed. Coimbra: Almedina, 2009. p. 209.
44
BARROSO, Luís Roberto. Curso de Direito Constitucional contemporâneo: os conceitos
fundamentais e a construção do novo modelo. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 309.
27
qual atividades essenciais como fazer comida, utilizar o banheiro, lavar louças e
roupas ficaram comprometidas.
Apesar da diferença de ambientes, a ausência de alternativas para a solução
remete à análise feita por David Harvey em texto sobre o movimento Occupy Wall
Street, que aconteceu em 2012 em Nova Iorque. Segundo o autor, “uma vez que
todos os outros canais de expressão estão fechados para nós pelo poder do
dinheiro, não temos outra opção a não ser ocupar os parques, praças e ruas de
nossas cidades [...]”45.
Ainda que distantes da bolsa de valores de Nova Iorque, os moradores do
Morro Alto parecem ter despertado consciência semelhante. A proximidade do bairro
com a rodovia MG-10 guarda potencial reivindicativo considerável. Atualmente essa
rodovia é um importante elo na mobilidade urbana ao ligar o centro de BH ao
Aeroporto Internacional de Confins e à Cidade Administrativa, sede do governo
estadual. Assim, após uma semana sem esse serviço essencial, mesmo diante da
tendência de situações extremas serem pouco favoráveis a protestos46, os
moradores viram no fechamento da MG-10 uma forma de pressionarem as
autoridades e exigirem novamente água para seus lares.
O jurista português Sérvulo Correia afirma que o direito à manifestação não é
um direito de participação política e, por isso, os manifestantes não podem querer
substituir os mecanismos democráticos representativos ou sobrepor-se a eles47; a
influência dos protestos é somente indireta e, além disso, não podem pretender
identificar-se com o povo em sua totalidade. Entrementes, quando se observa o que
de fato acontece nas ruas, parece fazer mais sentido o pensamento oposto, que vê
45
HARVEY, David. Os rebeldes na rua: o Partido de Wall Street encontra sua nêmesis. In: HARVEY,
David et al. Occupy: Movimentos de protestos que tomaram as ruas. São Paulo: Boitempo, 2012. p.
61.
46
Em pesquisa sobre ativismo em protesto e privação relativa, Clarice Mendonça e Mario Fuks
concluíram que: “A situação de extrema insatisfação com a vida parece mesmo ser pouco favorável
à participação em protestos. As causas desse fenômeno ainda necessitam ser averiguadas. Pode
ser que as pessoas muito insatisfeitas vislumbrem poucas chances de melhoria das suas condições
e, por isso, não encontrem motivação para reivindicá-las publicamente. Ou, ainda, que essas
pessoas estejam mesmo em condições de extrema vulnerabilidade social, em que condições
básicas de vida não estão disponíveis, não dispondo dos recursos necessários à participação”.
(MENDONÇA, Clarice; FUKS, Mario. Privação relativa e ativismo em protestos no Brasil: uma
investigação sobre o horizonte do possível. Opinião Pública, Campinas, v. 21, n. 3. p. 626-642, dez.
2015. p. 637).
47
CORREIA, Sérvulo. O direito de manifestação: âmbito de proteção e restrições. Coimbra:
Almedina, 2006. p. 39.
28
nos protestos uma ferramenta política.48 Nesse sentido, o direito de reunião tem se
mostrado um meio de os cidadãos reprovarem os atos dos governantes e exigirem
novos rumos, como aconteceu em dezembro de 2015 em São Paulo, quando
diversas manifestações de rua e ocupações de escolas conseguiram fazer com que
o governo estadual desistisse de um projeto para a educação que estava sendo
implementado.49 Nas manifestações durante a Copa das Confederações no Brasil, o
“não vai ter Copa” falado nas ruas não se concretizou, mas conseguiu impedir
naquele momento o aumento da tarifa dos transportes públicos.50 Os protestos na
Tunísia entre 2010 e 2011 fizeram com que o ditador Ben Ali abandonasse o país51;
na Finlândia, em 2009, entre as conquistas dos manifestantes estava a antecipação
das eleições52. Diversos outros exemplos poderiam ser utilizados para demonstrar
que os protestos têm sido eficazes na interferência dos rumos políticos dos
governos; ademais, restringir a democracia aos mecanismos representativos é fazer
tabula rasa da noção de soberania popular. Exatamente por ser uma ferramenta
política é que qualquer relativização do direito de manifestação deve ser observada
com receio.
Quando as vias democrático-formais parecem insuficientes para a efetivação
dos anseios populares e ocorre um descompasso entre o que querem os cidadãos e
as medidas efetivamente adotadas pelas autoridades, o direito de reunião permite
que a democracia seja de fato um processo dinâmico, ao impedir que medidas
sejam impostas verticalmente, de cima para baixo. Portanto, quanto menos
responsivo aos anseios sociais é um governo, mais importante parece ser o direito
de reunião, pois por meio dele os espaços públicos são apropriados pelas pessoas
para o exercício da democracia em oposição ou em complementariedade às vias
48
VIRCHOW, Fabian. Capturing the streets: Marches as a political instrument of the extreme right in
contemporary German. In: REISS, Matthias (Ed.). The street as stage: Protest marches and public
rallies since the nineteenth century. Oxford: Oxford University Press/The German Historical Institute
London, 2007. p. 301. TARTAKOWSKY, Danielle. Is the french manif still specific? Changes in
french street demonstration. In: REISS, Matthias (Ed.). The street as stage: Protest marches and
public rallies since the nineteenth century. Oxford: Oxford University Press/The German Historical
Institute London, 2007. p. 306.
49
GASPARI, Elio. Viva a garotada da Escola Fernão Dias. Folha de S. Paulo, São Paulo, Coluna Elio
Gaspari, 10 jan. 2016. Disponível em:
<http://m.folha.uol.com.br/colunas/eliogaspari/2016/01/1727809-viva-a-garotada-da-escola-fernao-
dias.shtml>. Acesso em: 11 jan. 2016.
50
SAKAMOTO, Leonardo. Em São Paulo, o Facebook e o Twitter foram às ruas. In: HARVEY, David
et al. Cidades Rebeldes: Passe livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil. São Paulo:
Boitempo, 2013. p. 97.
51
CASTELLS, Manuel. Redes de indignação e esperança: Movimentos sociais na era da internet. Rio
de Janeiro: Zahar, 2013. p. 29.
52
Ibid. p. 40.
29
53
TATAGIBA, Luciana. 1984, 1992 e 2013. Sobre ciclos de protestos e democracia no Brasil. Política
e sociedade, Florianópolis, v. 13, n. 28, set./dez. 2014. p. 39.
54
EL-HAJ, Tabatha Abu. The neglected right of assembly. In: RUSSEL, Margaret M. (Org). The First
Amendment: Freedom of assembly and petition – its constitutional history and the contemporary
debate. New York: Prometheus Books, 2010. p. 205.
55
Cf., entre outros, KELLER, Lisa. Triumph of order: Democracy & public space in New York and
London. New York: Columbia University Press, 2009; e ALMEIDA, Fernando Dias Menezes de.
Liberdade de reunião. São Paulo: Max Limonad, 2001. p. 158-159.
56
Os constitucionalistas utilizados como referência neste trabalho divergem quanto ao emprego da
palavra ‘restrição’ ou ‘relativização’ de direitos fundamentais. Enquanto autores como Paulo
Gustavo Gonet Branco e Gilmar Mendes (Curso de Direito Constitucional. 7. ed. rev. atual. São
Paulo: Saraiva, 2012) falam em restrições aos direitos fundamentais, Márcio Luís de Oliveira (A
Constituição juridicamente adequada: Transformações do constitucionalismo e atualização
principiológica dos direitos, garantias e deveres fundamentais. Belo Horizonte: Arraes Editores,
2013.) adota a terminologia relativização. Como para o recorte aqui proposto a diferença não tem
efeitos na prática, adotou-se livremente uma ou outra como sinônimos.
57
A jurisprudência da Suprema Corte americana será analisada no item 5.1 do trabalho.
58
KELLER, op. cit. 2009.
59
YOUNG, Iris Marion. Desafios ativistas à democracia deliberativa. Revista Brasileira de Ciência
Política, Brasília, n. 13. p. 187-212, jan./abr. 2014. p. 196.
60
Ibid. p. 188.
30
61
Ibid. p. 199.
62
Ibid. p. 210.
63
CASTELLS, Manuel. Redes de indignação e esperança: Movimentos sociais na era da internet. Rio
de Janeiro: Zahar, 2013. p. 14.
64
BAUMAN, Zygmunt. Confiança e medo na cidade. Rio de Janeiro: Zahar, 2009.
65
Ibid. p. 62.
66
Ibid. p. 27.
67
BAUMAN, Zygmunt. A sociedade individualizada: Vidas contadas e histórias vividas. Rio de
Janeiro: Zahar, 2008. p. 53.
31
vez que fisicamente os bairros fechados onde residem os mais ricos encontram-se
dentro da cidade, mas socialmente não.68 Estes só utilizam as vias dos subúrbios
como passagens inevitáveis, ainda assim em seus carros altos, protegidos, com ar-
condicionado ligado e vidros fechados, quase completamente seguros, o que
aumenta ainda mais a distância entre esses dois mundos. Esse afastamento parece
ser ainda mais forte em cidades de países como o Brasil, segundo Bauman:
68
BAUMAN, Zygmunt. Confiança e medo na cidade. Rio de Janeiro: Zahar, 2009.p. 39.
69
Ibid., p. 40.
70
ROSA, Samuel; AMARAL, Chico. Esmola. Intérprete: Skank. In: SKANK. Calango. [S.l.]: Chaos
[Sony Music], 1994. 1CD. Faixa 3.
32
73
Fonte: Henfil.
71
MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 7. ed.
rev. atual. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 336.
72
MARCHA da Maconha. Disponível em: <http://blog.marchadamaconha.net>. Acesso em: 20 jun.
2015.
73
HENFIL. Henfil e as Diretas Já. Zona Curva, Memória, 5 fev. 2014. Disponível em:
<http://zonacurva.com.br/henfil-e-diretas-ja/>. Acesso em: 24 mar. 2016.
33
74
FIESP sofre esculacho por financiamento à ditadura. Caros Amigos, Caderno Política, 9 abr. 2014.
Disponível em: <http://www.carosamigos.com.br>. Acesso em: 28 abr. 2014.
75
REPUBLICAÇÃO de charges gera protestos na Dinamarca. Estadão, 16 fev. 2011. Disponível em:
<http://www.estadao.com.br>. Acesso em: 28 abr. 2014.
76
BECKER, Beatriz; MACHADO, Mônica. Brasil entre as telas e as ruas: Produção e consumo das
narrativas jornalísticas audiovisuais sobre os protestos nacionais de junho de 2013. Discursos
Fotográficos, Londrina, v. 10, n. 17. p. 39-60, jul./dez. 2014.
77
CHAVES, Fabio. Convocação: Ocupa São Roque: protesto contra o Instituto Royal. Sábado, 19/10.
Vista-se, 16 out. 2013. Disponível em: <https://vista-se.com.br/convocacao-ocupa-sao-roque-
%E2%80%A2-protesto-contra-o-instituto-royal-%E2%80%A2-sabado-1910/>. Acesso em: 27 maio
2016.
78
Cf. entre outros: SANTANA, Marco Aurélio. Entre ruptura e a continuidade: Visões da história do
movimento sindical brasileiro. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 14, n. 41. p. 103-120, out.
1999. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbcsoc/v14n41/1754>. Acesso em: 9 jan. 2015.;
ALVES, Giovanni. Do “Novo Sindicalismo” à “Concertação Social” – Ascensão (e crise) do
sindicalismo no Brasil (1978-1998). Revista de Sociologia e Política, Curitiba, n. 15. p. 111-124, nov.
2000; FREIRE, Américo. Grandes manifestações políticas no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro:
ALERJ, 2002; MATTOS, Marcelo Badaró (Coord.). Trabalhadores em greve, polícia em guarda:
Greves e repressão policial na formação da classe trabalhadora carioca. Rio de Janeiro: Bom
Texto/FAPERJ, 2004; FORÇA SINDICAL. Memória sindical. Disponível em:
<http://fsindical.org.br/memoria-sindical/>. Acesso em: 12 dez. 2014.; CUNHA, Jurandir Persicchinni.
Uma história proibida pelo golpe de 1964. Memória Cult, Ouro Preto, ano V, n. 15, dez. 2015.
79
BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
80
COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. São Paulo: Saraiva,
2007.
34
século XIX81; nas conquistas do voto feminino ou da jornada diária de oito horas82;
na luta de negros e mulheres pelos direitos civis nos Estado Unidos da América dos
anos 196083; ou na melhoria dos salários das polícias no Brasil em um movimento
que se iniciou em 1997 em Minas Gerais e se alastrou para outros estados da
federação84. Portanto, seja em questões locais, como a ausência de água no Bairro
Morro Alto, ou nos protestos transnacionais da Europa85, o direito de reunião tem
sido cada vez mais importante para a democracia. Por isso, alguns autores têm
utilizado a expressão “democracia de protesto” ao se referirem ao atual estágio das
democracias ocidentais.86
Sendo a história dos direitos humanos uma caminhada de lutas, disputas e
conquistas, e não de benesses ofertadas caritativamente por autoridades
indulgentes, os protestos e manifestações são de extrema importância para todos os
demais direitos constitucionais. Garantir o direito de reunião é muito mais do que
assegurar a possibilidade de as pessoas se reunirem em espaços públicos, é
também garantir a liberdade de expressão, a divergência política, a igualdade
material, a efetiva participação popular no governo e outras tantas noções
fundamentais ao Estado Democrático de Direito. Ante essa dimensão, o argentino
Roberto Gargarella considera o direito de reunião o primeiro direito, o direito a exigir
os outros direitos.87
Além de viabilizar outros direitos, a apropriação dos espaços públicos pelas
pessoas pode ser, em si, o que se busca. O binômio trabalho-moradia da cidade
81
MATTOS, Marcelo Badaró. Greves e repressão policial aos sindicatos no processo de formação da
classe trabalhadora carioca (1850-1910). In: MATTOS, Marcelo Badaró (Coord.). Trabalhadores em
greve, polícia em guarda: Greves e repressão policial na formação da classe trabalhadora carioca.
Rio de Janeiro: Bom Texto/FAPERJ, 2004. p. 25.
82
YOUNG, Iris Marion. Desafios ativistas à democracia deliberativa. Revista Brasileira de Ciência
Política, Brasília, n. 13. p. 187-212, jan./abr. 2014. p. 187.
83
ROHDE, Stephen F. Freedom of assembly. New York: Facts On File, 2005.
84
BARROS, José Márcio. Cultura e comunicação nas Avenidas de Contorno em Belo Horizonte e La
Plata. Belo Horizonte: Editora PUC-Minas, 2005.; ALMEIDA, Juniele Rabêlo de. Tropas em protesto:
O ciclo de movimentos reivindicatórios dos policiais militares brasileiros no ano de 1997. 2010. Tese
(Doutorado em História) – Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas, Universidade de São
Paulo (USP), São Paulo, 2010.
85
DELLA PORTA, Donatella; REITER, Herbert. The policing of global protest: The G8 at Genoa and
its aftermath. In: DELLA PORTA, Donatella; PETERSON, Abby; REITER, Herbert (Ed.). The policing
of transnational protest. Hampshire: Ashgate, 2006. p. 13-41.
86
RIBEIRO, Renato Janine. O Brasil e a democracia de protesto. Matrizes, São Paulo, v. 8, n. 1. p.
93-117, jan./jun. 2014.
87
GARGARELLA, Roberto. El derecho a la protesta: El primer derecho. Buenos Aires: AD-HOC,
2014.
35
fordista não é o mesmo do começo do século XX.88 E isso indica que é preciso
repensar a relação do ser humano com a cidade. Trata-se de reconhecer que os
espaços públicos não são destinados apenas à circulação de carros e pessoas, e
que o ambiente urbano deve ser explorado sob outras perspectivas, conforme já
reconheceram a Comissão Interamericana de Direitos Humanos e o Tribunal
Constitucional Espanhol.89 Esse é um novo modo de pensar a cidade, no qual a
trama urbana, marcada pela complexa teia social, muda a concepção de mobilidade:
a rua deixa de ser apenas um caminho em direção a outro lugar para ser o próprio
lugar.90 Conforme Felipe Brito e Pedro Rocha de Oliveira expõem, “a cidade não é
só o palco das lutas, mas é também aquilo pelo que se luta”91. Essa cidade pensada
como espaço de cidadania seria uma inflexão ao que Raquel Rolnik aponta como
fruto de um programa de intervenção do Estado de pensadores utópicos em prol de
uma leitura mecânica, da circulação de fluxos, da regularidade e da repetição.
Portanto, sempre que se falar em intervenção estatal ou limites ao direito de
reunião, é preciso muita prudência para não legitimar o Leviathan autoritário, que
surge como metáfora para despojar os cidadãos da regência do corpo social. Assim,
considerando a existência da força pública como uma necessidade para a garantia
dos direitos fundamentais, o papel da polícia em cenário de manifestações deve ser
o de contribuir para a efetividade desse direito, ou seja, proteger as manifestações
públicas.
2.2.2 O “Lado B”
88
TELLES, Vera da Silva. A cidade nas fronteiras do legal e ilegal. Belo Horizonte: Argvmentvm,
2010. p. 15.
89
COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS (CIDH). Report on the situation of
human rights defenders in the Americas. OEA/Ser.L/V/II.124 Doc. 5 rev. 1. March 2006. Disponível
em: <http://www.cidh.oas.org/countryrep/Defenders/defenderstoc.htm>. Acesso em: 11 de jun. 2013.
90
SIQUEIRA, Gustavo Silveira; VASQUES, Pedro Henrique Ramos Prado. The street carnival of Rio
de Janeiro as an exercise of the right to the city. In: WORLD CONGRESS OF PHILOSOPHY OF
LAW AND SOCIAL PHILOSOPHY, 26., Belo Horizonte. Anais... Belo Horizonte: Fórum, 2013.
91
BRITO; Felipe; OLIVEIRA, Pedro Rocha de. Territórios transversais. In: HARVEY, David et al.
Cidades rebeldes: Passe livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil. São Paulo:
Boitempo, 2013. (Coleção Tinta Vermelha). p. 69.
36
94
Fonte: Denny Cesare.
92
Cf. entre outros, PROTESTANTES liberam acesso ao Aeroporto Viracopos: Manifestação dos
funcionários da construção civil do novo termina pede negociação salarial. Bom Dia Online, Caderno
Notícia, 11 dez. 2014. Disponível em: <http://www.redebomdia.com.br>. Acesso em: 6 mar. 2016.;
MANIFESTAÇÃO fecha principal acesso a Viracopos por duas horas. Destak Jornal, Caderno
Notícias, Campinas, 11 dez. 2014. Disponível em: <http://www.destakjornal.com.br>. Acesso em: 6
mar. 2016.
93
PROTESTO fecha acesso ao Aeroporto de Viracopos em Campinas: Manifestação interrompe
trânsito na rodovia Miguel Melhado (SP-234). Portal G1, Caderno Campinas, Notícia, 11 dez. 2014.
Disponível em: <http://g1.globo.com>. Acesso em: 6 mar. 2016.
94
PROTESTO fecha acesso ao Aeroporto de Viracopos em Campinas: Manifestação interrompe
trânsito na rodovia Miguel Melhado (SP-234). Portal G1, Caderno Campinas, Notícia, 11 dez. 2014.
Disponível em: <http://g1.globo.com>. Acesso em: 6 mar. 2016.
37
95
Cf. entre outros, MANIFESTANTES interditam rodovia que dá acesso ao aeroporto de Viracopos.
Agência Brasil, Caderno Notícia, 4 jul. 2013. Disponível em:
<http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2013-07-04/manifestantes-interditam-rodovia-que-
da-acesso-ao-aeroporto-de-viracopos>. Acesso em: 6 mar. 2016.; SAMPAIO, Lucas. Manifestação
em Campinas complica trânsito em Viracopos. Folha de São Paulo, Caderno Cotidiano, 30 ago.
2013. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/08/1334447-manifestacao-em-
campinas-complica-transito-em-viracopos.shtml>. Acesso em: 6 mar. 2016.; PROTESTO bloqueia
rodovia que liga Campinas a Viracopos: Segundo a Polícia Rodoviária cerca de 100 pessoas
carregavam cartazes. Diário do Poder, Caderno Notícia, 23 fev. 2016. Disponível em:
<http://www.diariodopoder.com.br/noticia.php?i=49678266580>. Acesso em: 6 mar. 2016.
96
MANIFESTAÇÃO bloqueia por 5h acesso ao aeroporto Viracopos.: pneus, madeiras, sacos de lixo
e móveis abandonados foram incendiados no meio da estrada para impedir a passagem de
veículos. Gazeta do Povo, Caderno Vida e Cidadania, 4 jul. 2013. Disponível em:
<http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/manifestacao-bloqueia-por-5-h-acesso-ao-
aeroporto-de-viracopos-bll2irv9qt959fv3bq8e86yby>. Acesso em: 6 mar. 2016.
97
SUNSTEIN, Cass R. Designing Democracy: What Constitutions Do. Oxford: Oxford University
Press, 2001. p. 56; HESPANHA, António Manuel. O caleidoscópio do direito – o direito e a justiça
nos dias e no mundo de hoje. 2. ed. Coimbra: Almedina, 2009. p. 711.
38
funcionários públicos, a informação sobre seus salários, algo pessoal, passa a ter
interesse coletivo; o proprietário de um imóvel possui limitações à reforma da própria
casa se sobre ela incidir interesse relativo ao patrimônio histórico-cultural, entre
outros. À medida que se garante um direito, se restringe o outro. Portanto, é preciso
perceber que as Constituições afirmam preceitos divergentes e até mesmo
contraditórios.
Assim como o direito de reunião está previsto na CRFB/88, também está o
direito de ir e vir (inciso XV, do art. 5o). Todavia, as implicações de um protesto vão
além do direito de locomoção. Uma manifestação que inviabilize o fluxo de veículos
pode afetar o direito à saúde ou à vida de uma pessoa a caminho do hospital, seja
em ambulância ou carro particular; um protesto ruidoso pode impedir que pessoas
descansem, estudem ou trabalhem; a paralisação do tráfego de veículos pode levar
à deterioração de cargas perecíveis, ao fechamento do comércio ou à inviabilização
do acesso a escolas, universidades, local de trabalho ou residência. Em julgado no
STF Gilmar Mendes menciona o caso de reuniões de igrejas protestantes-
pentecostais, que têm o costume de ligar aparelhagem de som e podem acabar
incomodando os vizinhos dos templos.98
Esses conflitos são naturais para a ciência do Direito, estão marcados em sua
gênese: a razão de existir o Direito decorre da inevitabilidade da divergência no seio
social. Assim, a afirmação de que o âmbito de proteção do direito de reunião é o que
decorre unicamente de uma interpretação literal do enunciado normativo do inciso
XVI, art. 5o, da CRFB/88, não encontra suporte no Direito Constitucional, pois, se
assim fosse, se negariam diversos outros direitos também expressos na
Constituição.
A questão fica ainda mais complicada quando se considera que os direitos
fundamentais que as instituições públicas devem garantir aos cidadãos vão além do
rol dos direitos previstos no texto da Constituição de 1988, pois, como lembra Sílvia
Loureiro, aquela não é uma relação exaustiva.99 O conceito materialmente aberto de
direitos fundamentais no Direito Constitucional brasileiro faz com que existam
98
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade 1969/DF. Reqtes.:
Partido dos Trabalhadores – PT; Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura –
CONTAG; Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação – CNTE; Central Única dos
Trabalhadores – CUT. Rel.: Min. Ricardo Lewandowski. Julg. 28/06/2007, DJ 31/08/2007. Disponível
em: <http://www.stf.jus.br>. Acesso em: 04 fev. 2016.
99
LOUREIRO, Sílvia Maria da Silveira. Tratados Internacionais sobre Direitos Humanos na
Constituição. Belo Horizonte: Del Rey, 2005. p. 72.
39
100
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 10. ed. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2011. p. 78.
101
BRASIL. Decreto nº 678, de 6 de novembro de 1992. Promulga a Convenção Americana sobre
Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), de 22 de novembro de 1969. Diário Oficial da
União, 9 nov. 1992. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 15 jun. 2016.
102
TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. Tratado Internacional dos Direitos Humanos. v. 1. Porto
Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1997.
103
PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o Direito Constitucional internacional. 11. ed. rev. atual.
São Paulo: Saraiva, 2010. p. 105.
104
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. A influência dos tratados internacionais de proteção aos direitos
humanos no Direito interno brasileiro e a primazia da norma mais favorável como regra de
hermenêutica internacional. Revista de Direito Comparado, Belo Horizonte, Faculdade de Direito da
UFMG, v. 5. p. 215-243, ago. 2000. p. 221.
105
HESSE, Konrad. A Força Normativa da Constituição. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris Editor,
1991.
106
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 10. ed. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2011.
40
O direito tem muito a ver com a história das pessoas, de cada pessoa, de
cada empresa. Ele não é apenas uma armação seca distante da vida. Acho
uma delícia, então, comparar o direito com uma estrada, como se ele fosse
um personagem a carregar as pessoas, a ser carregado por elas também,
numa recíproca interminável. Ele próprio tomado da vida das pessoas, da
vida de cada um que penetra seus processos pelo escorregão do conflito,
pela beleza que é a descoberta da justiça no acerto das diferenças que
podem existir um dia e deixar de existir no outro, para voltar depois de
algum tempo de outro jeito, num outro lugar, vinculado a outra história, a
outras pessoas. O movimento da vida é também o movimento do direito, é
matéria prima dele, matéria prima da ciência que quer entender como o
direito é, como ele funciona, como ele atinge a aplicação na realidade. Se
antigamente a pretensão do meio ambiente não era um problema, hoje é.
Se antigamente se admitia a escravidão, hoje não se admite. Se
antigamente havia quem não era reconhecido pelo pai, hoje também há. E o
lugar de chegada, aquele em que tudo ficará bem e todos serão felizes e
que o direito será espontaneamente cumprido nas suas leis e decisões,
111
esse ainda demora a acontecer.
107
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e teoria da Constituição. 7. ed.
Coimbra: Almedina, 2003. p. 1.270.
108
Ibid.. p. 1.225.
109
MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 7. ed.
rev. atual. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 273.
110
HESPANHA, António Manuel. O caleidoscópio do direito – o direito e a justiça nos dias e no
mundo de hoje. 2. ed. Coimbra: Almedina, 2009. p. 157.
111
LOPES, Mônica Sette. Programa n. 541. Apresentadora: Mônica Sette Lopes. In: RÁDIO UFMG.
Direito é Música. Belo Horizonte: Rádio UFMG, 12 dez. 2015. Programa de rádio. Disponível em:
<www.radiojustica.jus.br>. Acesso em: 2 nov. 15.
41
A resposta para essas questões de conflitos entre direitos não estão prontas
nas constituições. Não há no texto o indicador cabal de quando o exercício de um
direito constitucional deixa de ser mero uso e passa a ser abuso para que a polícia
aja. Não existe uma régua precisa que indique onde se situa esse limite. E isso tem
implicações relevantes. Luís Roberto Barroso destaca que o grau de generalização
do texto constitucional transfere parte da criação do direito para o intérprete, que
aplica o enunciado à luz do problema a ser resolvido.112 Essa abertura ou vagueza
de sua linguagem faz com que a interpretação constitucional extrapole a
argumentação puramente dogmático-analítica,113 que foca no aspecto formal do
Direito.114 Por isso, resolver o conflito no plano da validade ou da vigência da norma
não está em questão. O que se pretende demonstrar é a existência de diversos
direitos constitucionais, todos de mesmo nível, e que, na medida em que se garante
um, compromete-se outro.
Mesmo que existam diferentes direitos afetados pelas manifestações de rua,
parece ser na disputa pela utilização do espaço público que o conflito ganha mais
relevo e intensidade. Veja o exemplo de Belo Horizonte: em 1940, possuía 207.236
habitantes, já o censo de 2000 indicou 2.238.526115 . Se se considerar os outros 34
municípios na RMBH, o número absoluto de habitantes aumenta ainda mais.
Segundo dados oficiais, em janeiro de 2001, a frota registrada em Belo Horizonte
112
BARROSO, Curso de Direito Constitucional contemporâneo: os conceitos fundamentais e a
construção do novo modelo. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 199.
113
Ibid.. p. 273.
114
FERRAZ JUNIOR., Tércio Sampaio. Introdução ao Estudo do Direito. 8. ed. rev. ampl. São Paulo:
Atlas, 2015. p. 64.
115
BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Tendências demográficas: uma
análise da população com base nos resultados dos censos demográficos de 1940 e 2000. Rio de
Janeiro: IBGE, 2007. p. 28.
42
116
BRASIL. Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN). Frota de veículos. Disponível em:
<http://www.denatran.gov.br/frota.htm>. Acesso em: 13 jan. 2015.
117
OLIVEIRA, Márcio Luís de. A Constituição juridicamente adequada: Transformações do
constitucionalismo e atualização principiológica dos direitos, garantias e deveres fundamentais. Belo
Horizonte: Arraes Editores, 2013. p. 217-218.
118
Cf. CONFRONTO de perueiros e PM em Belo Horizonte. Estadão Brasil, 19 jul. 2001. Disponível
em: <http://www.estadao.com.br>. Acesso em: 12 abr. 2015; RESTRIÇÃO da Justiça a perueiros
provocou manifestação em BH. Folha de S. Paulo, Caderno Cotidiano, 19 jul. 2001. Disponível em:
<http://www.folha.uol.com.br>. Acesso em: 12 abr. 2015.
119
SCHNEIDER, Luciana. Manifestação deixa 20 mil sem ônibus. Folha de S. Paulo, Caderno
Cotidiano, 20 março 1997. Disponível em: <www.folha.uol.com.br>. Acesso em: 12 abr. 2015.
120
BAUMAN, Zygmunt. A modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. p. 123.
43
vez mais escassos, nos quais novos agentes e fatores assomam-se em ritmo
exponencial.
Se por um lado a obstrução do trânsito pode ser de extrema importância para
os que vivem às margens do progresso, da cidadania e dos direitos, e por isso
decidem ignorar o fluxo de uma cidade, que por sua vez os ignora, por vezes são
eles também os mais prejudicados por protestos. Em 2011, um grupo de
aproximadamente 20 estudantes secundaristas fechou por um tempo considerável a
Avenida Amazonas, uma das principais da capital mineira, em virtude do término do
contrato de trabalho de um professor temporário da escola. Como o protesto
aconteceu por volta das 17h30min, milhares de cidadãos ficaram enclausurados, em
pé, no ambiente quente e abafado dos ônibus lotados, mesmo após um dia
exaustivo de trabalho. Ainda que a pauta de uma manifestação possa ser
extremamente importante, é preciso considerar a precariedade dos transportes
coletivos, a opção equivocada dos governantes pelo transporte individual e a
pluralidade da visão de mundo na qual as pessoas não concordam sobre o que é ou
não importante, assim como podem divergir sobre participar ou não da reivindicação.
Inviabilizar materialmente o exercício dos direitos de outras pessoas por meio
de protestos é, em alguma medida, querer estabelecer a efetividade do direito pelas
próprias mãos e uma forma de se valer do outro como meio para as próprias
demandas, o instrumentaliza, portanto, para os objetivos elegidos individualmente ou
por um grupo específico. Universalizar a lógica por trás dessa conduta é, no mínimo,
um risco para o Estado Democrático de Direito. “Vontade do povo” é um ponto
controverso, tendo em vista a impossibilidade de se definir “quem é o povo” ou
“quem pode falar pelo povo”. Os jovens estudantes que interrompiam o trânsito ou
os trabalhadores que queriam o trânsito livre de interrupções? Por isso, se o
exercício do direito de reunião não importava antes em conflitos entre as pessoas,
hoje talvez possa importar e, por isso, não se pode esquecer que o Direito, como
toda obra humana, reflete as condições históricas de seu tempo, o que exige a
busca por uma forma de lidar, de conviver com esse conflito, sem que as
manifestações se resumam a disputas de força física.
Se, por volta das décadas de 1920 e 1930, as marchas mostravam-se
essenciais para a divulgação da mensagem dos manifestantes por onde
44
121
REISS, Matthias. Marching on the capital: National protest marches of the British unemployed in
the 1920s and 1930s. In: REISS, Matthias (Ed.). The street as stage: Protest marches and public
rallies since the nineteenth century. Oxford: Oxford University Press/The German Historical Institute
London, 2007. p. 155.
122
RECUERO, Raquel; ZAGO, Gabriel, BASTOS, Marco Toledo. O discurso dos #ProtestosBR:
Análise de conteúdo do Twitter. Galáxia, São Paulo, n. 28. p. 199-216, dez. 2014.
123
ARAÚJO, Wilian Fernandes. Ciberativismo: Levantamento do estado da arte na pesquisa no
Brasil. In: SIMPÓSIO NACIONAL ABCiber, 5., Florianópolis/SC. Anais… Florianópolis/SC:
UDESC/UFSC, 16 a 18 nov. 2011.
124
SCHERER-WARREN, Ilse. Manifestações de rua no Brasil 2013: Encontros e desencontros na
política. Caderno CRH, Salvador, v. 27, n. 71. p. 417-429, maio/ago. 2014.
125
LEMOS, André. Ciberativismo. Correio Brasiliense, Caderno Pensar, 15 nov. 2003. Disponível em:
<http://www.facom.ufba.br/ciberpesquisa/lemos/ciberativismo.pdf>. Acesso em: 15 fev. 2016.
126
LIMA, Daniela. Internet é arma política para 71% dos jovens. Folha de São Paulo, Caderno Poder,
13 jun. 2011. Disponível em: <http://www.folha.uol.com.br >. Acesso em: 15 fev. 2016.
127
20 MIL sapatos marcham por Paris. Observador, Cimeira do Clima 2015, 29 nov. 2015. Disponível
em: <http://observador.pt/2015/11/29/20-mil-sapatos-marcham-pelo-clima-em-paris/>. Acesso em:
27 abr. 2016.
45
elemento que conseguiu atrair a atenção para a causa. Portanto, interromper o fluxo
de pessoas e a dinâmica da cidade não é, necessariamente, a única ou a melhor
forma de realizar uma manifestação.
128
Fonte: AFP/Getty Images.
Uma resposta que permita conviver com a diversidade sem suprimi-la não
pode negligenciar que as manifestações de rua durante a década de 1970 traziam
menos conflitos que o fechamento dos centros urbanos das metrópoles de hoje, ao
mesmo tempo que se deve ter de forma clara que protestos de rua continuam sendo
fundamentais para a democracia. Como lembra Bernardo Sorj, “dois milhões de
assinaturas virtuais, no melhor dos casos, viram notícias de jornal, ao passo que
dois milhões de pessoas nas ruas podem derrubar governos”.129 Desconsiderar
qualquer dessas faces dos protestos constitui análise parcial.
No atual cenário de pluralidade de valores, de luta pelo espaço público, de
metrópoles sufocantes e de divergências que parecem insuperáveis, questões como
128
FALCÃO, Catarina. 20 mil sapatos marcham pelo clima em Paris (os do Papa também).
Observador, 29/11/2015. Disponível em: <http://observador.pt/2015/11/29/20-mil-sapatos-marcham-
pelo-clima-em-paris/>. Acesso em: 27 abr. 2016.
129
SORJ, Bernardo. Entre o local e o global. In: FIGUEIREDO, Rubens (Org.). Junho de 2013: A
sociedade enfrenta o Estado. São Paulo: Summus, 2014. p. 91.
46
130
MONTEFELTRO, Michel. Jovem morto em protesto de 2013 ganha busto com nome errado em
SP. Portal G1, Ribeirão Preto e Franca, 18 jun. 2014. Disponível em: <http://g1.globo.com>. Acesso
em: 26 abr. 2016.
131
AZEVEDO, Lucas. Caminhoneiro é morto após furar bloqueio grevista no RS; é a 1ª vítima em três
dias de protesto. Uol Notícias, Caderno Cotidiano, 4 jul. 2013. Disponível em:
<http://noticias.uol.com.br>. Acesso em: 26 abr. 2016.
132
CAMINHONEIRO pega acesso proibido e atropela dois jovens em Guarujá, SP. Portal G1, Santos
e Região, 27 jun. 2013. Disponível em: <http://g1.globo.com>. Acesso em: 26 abr. 2016.
133
RESENDE, Paula. Duas mulheres morrem atropeladas em protesto na BR-251, em Cristalina.
Portal G1, Goiás, 24 jun. 2013. Disponível em: <http://g1.globo.com>. Acesso em: 18 out. 2015.
134
ESTUDANTES convocam novas manifestações em Teresina. Jornal Luzilândia, 24 jun. 2013.
Disponível em: <http://www.jornaldeluzilandia.com.br/txt.php?id=24763>. Acesso em: 18 out. 2015.
MAIA, Rômulo. Taxistas prestam solidariedade a Paulo Patrick. Portal O Dia, Piauí, 8 jul. 2014.
Disponível em: <http://www.portalodia.com/noticias/piaui/taxistas-prestam-solidariedade-a-paulo-
patrick-176140.html>. Acesso em: 18 out. 2015.
135
MARTINS, Cid. Homem morre de asma ao ficar preso em ônibus durante protesto. Gaúcha,
Notícia Aberta, 24 dez. 2014. Disponível em: <http://gaucha.clicrbs.com.br>. Acesso em: 18 out.
2015.
47
136
MULHER morre atropelada por caminhoneiro em São Paulo. Jovem Pan, Caderno Polícia, 7 abr.
2014. Disponível em: <http://jovempan.uol.com.br>. Acesso em: 26 abr. 2016.
137
CAMINHONEIRO quebra clavícula após furar bloqueio de manifestantes e tombar veículo no
Oeste de SC. Diário Catarinense, Caderno Notícias, 21 fev. 2015. Disponível em:
<http://dc.clicrbs.com.br>. Acesso em: 26 abr. 2016.
138
PROTESTO do MST provoca morte de 3 pessoas em Sergipe. O Estado, Fortaleza, Caderno
Nacional, 12 mar. 2015. Disponível em: <http://www.oestadoce.com.br/nacional/protesto-do-mst-
provoca-morte-de-3-pessoas-em-sergipe>. Acesso em: 18 out. 2015.
139
SEGUNDO protesto contra aumento das tarifas de ônibus de BH transcorre de forma pacífica.
Itatiaia, 14 ago. 2014. Disponível em: <http://www.itatiaia.com.br>. Acesso em: 24 abr. 2016.
48
140
NÚMERO de feridos em protesto contra parada gay sobe a 95 na Sérvia. Portal G1, Caderno
Mundo, Notícia, 10 out. 2010. Disponível em: <http://g1.globo.com>. Acesso em: 17 fev. 2013.
141
KOLLER, Christian. Demonstrating in Zurich between 1830 and 1940: From bourgeois protest to
proletarian street politics. In: REISS, Matthias (Ed.). The street as stage: protest marches and public
rallies since the nineteenth century. Oxford: Oxford University Press/The German Historical Institute
London, 2007. p. 207.
142
FREIRE, Américo. Grandes manifestações políticas no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: ALERJ,
2002. p. 61.
49
143
UBER quer reagir a agressões. O Tempo, Belo Horizonte, 7 jul. 2015, Caderno Cidades. p. 28.
144
CONFUSÃO e quebradeira. Super Notícia, Belo Horizonte, Caderno Cidades, 4 jul. 2015. p. 3.
145
“Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida
para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos
seguintes órgãos: […] § 5º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem
pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a
execução de atividades de defesa civil” (BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República
Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988. Diário Oficial da União, 5 out. 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 16 jun. 2012).
146
MANIFESTAÇÕES no centro: presidente da ALERJ calcula prejuízos de até R$ 2 milhões: outros
prédios históricos foram danificados no protesto. R7 Notícias, Caderno Rio de Janeiro, 18 jun. 2013.
Disponível em: <http://noticias.r7.com>. Acesso em: 13 set. 2014.
50
O jogo está sendo jogado e a atual incapacidade das elites políticas e dos
partidos políticos de esquerda de dialogar com esse novo e complexo ator
coletivo e buscar encaminhar suas demandas por dentro das instituições
sugere que a radicalização, a polarização e o uso da violência como
147
estratégia vieram para ficar.
147
TATAGIBA, Luciana. 1984, 1992 e 2013. Sobre ciclos de protestos e democracia no Brasil. Política
e Sociedade, Florianópolis, v. 13, n. 28, set./dez. 2014. p. 59.
148
CONFRONTO tem tiro e dois presos. O Tempo, Belo Horizonte, 19 nov. 2015b, Caderno Política.
p. 8.
149
AVRITZER, Leonardo. Os impasses da democracia no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2016. p. 16.
150
Ibid.. p. 72.
51
151
Fonte: Diogo Salles.
152
Fonte: Antônio Cruz.
151
SALLES, Diogo. PM: Polícia Militante. O Estadão, São Paulo, Trágico e Cômico, 7 fev. 2012.
Disponível em: <http://blogs.estadao.com.br/tragico-e-comico/2012/02/07/pm-policia-militante/>.
Acesso em: 27 out. 2015.
52
152
In: CAZARRÉ, Marieta. Tumulto leva à prisão de dois policiais civis durante marcha em Brasília.
Agência Brasil, Notícia, 18/11/2015. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br>. Acesso em:
13 maio 2016.
153
JARMAN, Neil. Another Form of troubles: Parades, protests, and the Northern Ireland peace
process. In: REISS, Matthias (Ed.). The street as stage: Protest marches and public rallies since the
nineteenth century. Oxford: Oxford University Press/The German Historical Institute London, 2007.
p. 258.
154
CANNON, Lou. Official negligence: how Rodney King and the riots changed Los Angeles and the
LAPD. Boulder: Westview Press, 1999. p. xix.
155
ENGLAND Riots. BBC News, United Kingdom, 29 out. 2012. Disponível em:
<http://www.bbc.co.uk>. Acesso em: 11 de mai. 2013. UK RIOTS 2011. The Guardian. Disponível
em: <http://www.guardian.co.uk>. Acesso em: 11 maio 2013.
156
REICHARDT, Sven. Fascist marches in Italy and Germany: Squadre and SA before the seizure of
power. In: REISS, Matthias (Ed.). The street as stage: protest marches and public rallies since the
nineteenth century. Oxford: Oxford University Press/The German Historical Institute London, 2007.
p. 169-189.
53
157
BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. p. 45.
158
BAUMAN, Zygmunt. A sociedade individualizada: vidas contadas e histórias vividas. Rio de
Janeiro: Zahar, 2008. p. 75-76.
54
Na luta pelo poder, queremos sempre que o outro lado seja mais “ordeiro”,
mais previsível; são sempre os passos dados pelo outro que desejamos
tornar rotineiros e despidos de todos os elementos de contingência e
surpresa, enquanto deixamos para nós o direito de não observar a rotina de
159
nos movermos erraticamente.
159
Ibid., 2008, p. 47-48
160
KELLER, Lisa. Triumph of order: Democracy & public space in New York and London. New York:
Columbia University Press, 2009. p. xiv.
161
No original: “this was achieved through a consensus process, in which ‘rules’ were not imposed
from the outside but were the result of a negotiated process between resident and government”
(KELLER, Lisa. Triumph of order: Democracy & public space in New York and London. New York:
Columbia University Press, 2009. p. 129).
162
Ibid.. p. 223.
55
163
DAHRENDORF, Ralf. A lei e a ordem. Rio de Janeiro: Instituto Liberal, 1997. p. 14.
164
Ibid.. p. 42.
165
Ibid.. p. 41.
166
BAUMAN, Zygmunt. A modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. p. 58.
167
LOPES, Mônica Sette. Programa n. 637. Apresentadora: Mônica Sette Lopes. In: RÁDIO UFMG.
Direito é Música. Belo Horizonte: Rádio UFMG, 15 ago. 2014. Programa de rádio. Disponível em:
<www.radiojustica.jus.br>. Acesso em: 2 nov. 15.
168
FERRAZ JUNIOR, Tércio Sampaio. Introdução ao estudo do Direito. 8. ed. rev. ampl. São Paulo:
Atlas, 2015. p. 272.
56
incompatibilidade que exige decisão é porque ele não pode ser dissolvido,
não pode acabar, pois então precisamos de decisão, mas de simples opção
que já estava, desde sempre, implícita entre as alternativas. Decisões,
portanto, absorvem insegurança, não porque eliminam o conflito, mas
169
porque transformam.
169
Ibid., p. 274.
57
[...]
Artigo XII
Parágrafo único
Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.
170
[...]”
170
MELLO, Thiago de. Os estatutos do homem. Santiago do Chile, abr. 1964. Disponível em:
<http://www.jornaldepoesia.jor.br/tmello.html#estat>. Acesso em: 23 jun. 2016.
171
COSTA, Arthur Barretto de Almeida. Entrevista com Daniela de Freitas Marques. Alethes, v. 4, n.
6. p. 474-486, jul./dez. 2014. Disponível em: <http://periodicoalethes.com.br/media/pdf/6/periodico-
alethes-edicao-6.pdf>. Acesso em: 7 mar. 2016. p. 475.
58
que não amava ninguém [...]”.172 A poesia do itabirano não é sobre como o mundo
deveria ou poderia ser, mas sobre como ele é. E no mundo da vida, pluricultural
como se tem revelado, as pessoas divergem sobre quem amar, como amar e sobre
quase tudo que se possa conceber. Nessas divergências, como fatos da vida, o
papel da teoria crítica, segundo Boaventura de Sousa Santos, seria o de
compreender o que está empiricamente dado, mas sem reduzir a realidade ao que
existe. Para o sociólogo português, “o desconforto, o inconformismo ou a indignação
perante o que existe suscita impulso para teorizar a superação”.173 Assim, ainda que
se tenha como ponto de partida a impossibilidade de um mundo ideal, perfeito, da
liberdade absoluta, isso não elimina a busca por algo melhor do que o que está
posto. Se o mundo da vida é marcado pela divergência, pelo dissenso, pelos
desencontros, Vinícius de Morais ensina que a vida é a arte de construir pontes, de
fazer encontros: “A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela
vida”174 . Nos desencontros da vida se encontra a matéria prima do Direito; é a partir
das diferenças que o jurista trabalha para tentar contribuir para uma vida
compartilhada possível.
Como mostrado no capítulo anterior, a generalidade e abstração do texto
constitucional não entregam para a sociedade uma resposta pronta sobre os limites
concretos do direito de reunião. Em uma sociedade plural e heterogênea, para
algumas pessoas o direito ao descanso após um dia de trabalho é mais importante
que a luta por melhores salários da categoria profissional que está lhe prejudicando
o retorno para casa. Nesta disputa, tanto o trabalhador que quer usar a rua para ir
para a casa quanto o que quer usá-la para protestar conseguem fundamentar na
Constituição de 1988 os respectivos interesses e divergem sobre a real extensão do
direito de reunião. Essas divergências morais e políticas é que fazem, segundo
Jeremy Waldron, as leis serem necessárias.175
Após os atos de violência nos protestos no contexto da Copa das
Confederações em 2013 no Brasil, a ALERJ buscou regulamentar o direito de
reunião. Foi aprovado o Projeto de Lei (PL) nº 2.405/13, que deixava fora do âmbito
172
ANDRADE, Carlos Drummond de. 100 Poemas. Tradução/Traducción Manuel Graña Etcheverry.
Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002.
173
SANTOS, Boaventura de Sousa. A crítica da razão indolente: Contra o desperdício da experiência.
4. ed. São Paulo: Cortez, 2002. p. 23.
174
MORAES, Vinícius; POWELL, Baden. Samba da bênção. Intérprete: Vinícius de Moraes. In:
VINÍCIUS DE MORAES. Como dizia o poeta. Rio de Janeiro: Som Livre, 2001. 1CD. Faixa 5.
175
WALDRON, Jeremy. Law and Disagreement. Oxford: Oxford University Press, 1999. p. 39.
59
176
RIO DE JANEIRO (ESTADO). Assembleia Legislativa. Projeto de Lei nº 2.405/13. Regulamenta o
artigo 23 da Constituição do Estado. Diário Oficial do Estado, 30 ago. 2013. Disponível em:
<http://www.alerj.rj.gov.br>. Acesso em: 6 nov. 2015.
177
ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL. Seccional do Rio de Janeiro – OAB-RJ. Ofício nº
124/2013, de 11 de setembro de 2013. Disponível em: <http://www.oabrj.org.br/arquivos/files/-
Upload/mascaras_oficio.pdf>. Acesso em: 11 jun. 2016. p. 2.
178
Ibid.. p. 3.
179
RIO DE JANEIRO (ESTADO). Lei nº 6.528, de 11 de setembro de 2013. Regulamenta o artigo 23
da Constituição do Estado. Diário Oficial do Estado, 12 set. 2013. Disponível em:
<http://www.alerj.rj.gov.br>. Acesso em: 6 nov. 2015..
180
INSTITUTO DOS ADVOGADOS BRASILEIROS – IAB. Parecer. Indicação n. 051/2013. Rel.: Leila
Maria Bittencourt da Silva. Disponível em: <http://www.calepino.com.br/~iabnac/IMG/pdf/doc-
15434.pdf>. Acesso em: 11 jun. 2016. p. 2-3.
181
Ibid.. p. 7
182
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e teoria da Constituição. 7. ed.
Coimbra: Almedina, 2003. p. 378.
60
podem ser recortados, como afirma Canotilho, por três formas distintas.183 A
primeira, conhecida como restrição constitucional imediata, são as realizadas
diretamente pela Constituição. Como exemplo, cita-se a liberdade de expressão na
CRFB/88: “Art. 5o [...] IV – É livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o
anonimato”. Ao mesmo tempo que estabelece como direito a conduta de manifestar
o próprio pensamento, a Constituição dispõe que fazê-lo de forma anônima está fora
do âmbito de proteção da norma. A Constituição mesmo, portanto, define esse
limite. A segunda possibilidade abarca as limitações fixadas por leis previstas
expressamente no texto constitucional, que ocorre quando a regulamentação
infraconstitucional vem mencionada de forma literal. Na CRFB/88, temos como
exemplo o inciso VII, art. 5o: “é assegurada, nos termos da lei, a prestação de
assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva”.184 Nessa
modalidade, lei regulamentadora irá esclarecer o âmbito de garantia constitucional
efetiva. A terceira e última hipótese, na tipologia de Canotilho, são as restrições
operadas por lei, mas sem autorização expressa na Constituição, que são
denominadas restrições não expressamente autorizadas e são postuladas em
virtude da necessidade da resolução de conflitos de direitos. O jurista português
esclarece essa terceira forma de restrição de direitos:
183
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e teoria da Constituição. 7. ed.
Coimbra: Almedina, 2003. p. 450.
184
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de
1988. Diário Oficial da União, 5 out. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em:
16 jun. 2016.
185
“Artigo 45. Direito de reunião e de manifestação 1. Os cidadãos têm o direito de se reunir,
pacificamente e sem armas, mesmo em lugares abertos ao público, sem necessidade de qualquer
autorização. 2. A todos os cidadãos é reconhecido o direito de manifestação.” (PORTUGAL.
Constituição (1976). Constituição da República Portuguesa, de 2 de abril de 1976. Disponível em:
<http://www.parlamento.pt/Legislacao/Documents/constpt2005.pdf>. Acesso em: 19 jul. 2015)
186
CANOTILHO, op. cit., loc. cit.
61
não ter sido diretamente mencionado pelo constituinte no preceito que estabeleceu o
direito, a admissibilidade da limitação se dá em virtude da salvaguarda de outros
direitos ou bens também previstos na Constituição.187 No país de Canotilho, pelo
menos desde a Constituição de 1838, já se vislumbrava a necessidade de
regulamentar o exercício do direito de reunião.188
Trata-se de uma questão lógica, de coerência do sistema. Por exemplo: a
determinação judicial que imponha restrições de lugares a que se possa ir,
consubstanciada na medida cautelar de proibição de ausentar-se da Comarca (art.
319 do Código de Processo Penal brasileiro)189 colide frontalmente com o direito de
locomoção definido no inciso XV do art. 5o da CRFB/88,190 porque no inciso que
estabelece o direito de ir e vir não há previsão de relativizá-lo por força de lei
infraconstitucional. Todavia, se fundamentada no Código de Processo Penal, a
ordem do magistrado não pode ser considerada inconstitucional, ao argumento de
que a Constituição garante que é livre a locomoção no território nacional sem
qualquer outro impedimento. Somente se consegue deslindar a real extensão do
direito de locomoção em interpretação sistemática.
A regulamentação seria o meio de proporcionar densidade normativa ao
preceito e, assim, proporcionar sentido mais concreto ao texto constitucional. Isso
ocorre porque o caráter geral e indeterminado das normas constitucionais faz com
que elas se abram à mediação legislativa concretizadora.191 E ante a interpretação
sistêmica necessária para compreender o texto constitucional, o papel do Poder
Legislativo não pode ser o de repetir a literalidade da Constituição. Na empreitada
regulamentadora, o legislador agasalha uma perspectiva criadora do direito, na qual
deve balancear os princípios constitucionais e levar em consideração todos os
interesses relevantes para encontrar uma solução aceitável. Nas palavras de Jan
Sieckmann:
187
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e teoria da Constituição. 7. ed.
Coimbra: Almedina, 2003. p. 1.277.
188
BAPTISTA, Eduardo Correia. Os direitos de reunião e de manifestação no Direito português.
Coimbra: Almedina, 2006. p. 26.
189
“Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: [...] IV – Proibição de ausentar-se da
Comarca quando a permanência seja conveniente ou necessária para a investigação ou instrução;”.
(BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Diário Oficial
da União, 13 out. 1941. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 12 dez. 2014)
190
“Art. 5º. [...] XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer
pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;” (BRASIL.
Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988. Diário
Oficial da União, 5 out. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 16 jun. 2012)
191
CANOTILHO, op. cit., p. 1.181.
62
192
No original: “[...] legislation in a democratic constitutional state consists to great extent, and in
particular as far as fundamental rights apply, in the implementation of constitutional law. In this
context, implementation means, not mere application of constitutional norms, but a creative or
constructive process of establishing norms based on the balancing of constitutional principles.”.
(SIECKMANN, Jan. Legislation as implementation of constitutional law: A foundation for the demand
of legislative rationality. In: WINTGENS, Luc J; OLIVER-LALANA, A Daniel. (Ed.) The rationality and
justification of legislation: Essays on legisprudence. Cham: Springer, 2013. p. 108)
193
ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. São Paulo: Malheiros, 2012. p. 276.
63
194
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de
1988. Diário Oficial da União, 5 out. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em:
16 jun. 2016.
195
“Art. 23 – Todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos,
independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada
para o mesmo local, sendo exigido apenas o prévio aviso à autoridade. § Único – A força policial só
intervirá para garantir o exercício do direito de reunião e demais liberdades constitucionais, bem
como para a defesa da segurança pessoal e do patrimônio público e provado, cabendo
responsabilidade pelos excessos que cometer.” (RIO DE JANEIRO (ESTADO). Lei nº 6.528, de 11
de setembro de 2013. Regulamenta o artigo 23 da Constituição do Estado. Diário Oficial do Estado,
12 set. 2013. Disponível em: <http://www.alerj.rj.gov.br>. Acesso em: 6 nov. 2015)
64
197
Fonte: Comissão Construtora da Nova Capital.
196
BARROS, José Márcio. Cultura e comunicação nas Avenidas de Contorno em Belo Horizonte e La
Plata. Belo Horizonte: Editora PUC-Minas, 2005.
197
COMISSÃO CONSTRUCTORA DA NOVA CAPITAL. Planta geral da cidade de Minas. Aprovada
pelo Decreto nº 817, de 15 de abril de 1895. Arquivo Público Mineiro. Disponível em:
<http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br>. Acesso em: 03 jun. 2016.
65
desordem ainda é uma questão latente para a capital mineira, assim como talvez
seja para toda e qualquer grande cidade.
Em 22 de agosto de 2011, foi apresentado à CMBH o PL nº 1.896, de 2011. A
proposta tinha o escopo de criar o Parlatório Democrático do Município em uma
praça pública para a realização de manifestações. Em contrapartida, proibia as
manifestações públicas nas ruas e avenidas compreendidas dentro da Avenida do
Contorno, no horário das 6h às 20h. A distinção entre o interior ordenado da Avenida
do Contorno e seu exterior suburbano e negligenciado estava presente na criação
no século XIX198 e parece voltar no século XXI sob nova roupagem. Em fragmento
da justificativa do PL:
198
BARROS, José Márcio. Cultura e comunicação nas Avenidas de Contorno em Belo Horizonte e La
Plata. Belo Horizonte: Editora PUC-Minas, 2005, p. 139.
199
BELO HORIZONTE. Câmara Municipal. Projeto de Lei nº 1.896/2011, de 22 de agosto de 2011.
Dispõe sobre a instituição de Parlatório Democrático no Município e dá outras providências. Inicial.
Disponível em: <http://www.cmbh.mg.gov.br>. Acesso em: 11 maio 2015. p. 2.
200
WISNIK, Guilherme. O ativismo urbano e o valor e uso do espaço público. Folha de São Paulo,
Caderno Ilustríssima, 15 nov. 2015. Ilustração Marina Rheingantz. Disponível em:
<http://www.folha.uol.com.br>. Acesso em: 1º dez. 2015.
66
Urbana rejeitou a proposta ao afirmar, em síntese: “[...] não vemos com bons olhos a
instituição de um espaço para a manifestação da democracia, pois esta
manifestação independe de delimitação territorial”. Na Comissão de
Desenvolvimento Econômico, Transporte e Sistema Viário, o projeto também foi
rejeitado, ao argumento central de que “a matéria está por demais contida na
legislação municipal e constitucional pertinente à matéria”. A Comissão de Direitos
Humanos e Defesa do Consumidor perdeu o prazo em virtude de não emissão do
parecer pelo relator. Em nova abertura de prazo, o projeto foi rejeitado com o
argumento central de que os objetivos da manifestação não serão alcançados se as
manifestações ficarem restritas ao local definido no PL, além disso, pontuou a
relatora que “o direito de reunião é uma manifestação coletiva da liberdade de
expressão e qualquer tipo de censura consiste em violação do direito fundamental
consagrado na Constituição Federal”. Após as rejeições, o autor do PL apresentou
recurso em março de 2012, entretanto, encerrou-se a legislatura sem sua
apreciação no Plenário, o que resultou no arquivamento em 2 de janeiro de 2013.201
Instigante perceber o trâmite legislativo. Além do arquivamento pela falta de
análise, durante o processo metajurídico o prazo de manifestação não foi cumprido
por duas das quatro comissões pelas quais tramitou, exatamente aquelas nas quais
deveriam ser debatidas questões atinentes à justiça e aos direitos humanos. Esses
entraves podem ser sintomas das controvérsias que o tema gera, do receio de ser
encarado como censura e dos desafios de se fazer o encontro dos desencontros
sobre os limites entre uso e abuso do direito de reunião.
Os argumentos utilizados de impossibilidade normativa de qualquer tipo de
limitação ou que a densificação existente no Brasil é suficiente, entre outras
questões, despertam a atenção para a qualidade jurídica da norma: além da
preocupação acerca da competência (who) e do conteúdo (which, what) da
regulamentação, o modo (how) como a norma é produzida também deve ser
analisado, sendo essa a preocupação de Luc Wintgens, quando sugere termos mais
limitados para a presumida racionalidade do legislador e, consequentemente, da
201
BELO HORIZONTE. Câmara Municipal. Projeto de Lei nº 1.896/2011, de 22 de agosto de 2011.
Dispõe sobre a instituição de Parlatório Democrático no Município e dá outras providências.
Tramitação. Disponível em: <http://www.cmbh.mg.gov.br>. Acesso em: 11 maio 2015.
67
202
WINTGENS, Luc J. The rational legislator revisited. Bounded rationality and legisprudence. In:
WINTGENS, Luc J; OLIVER-LALANA, A Daniel. (Ed.) The rationality and justification of legislation:
Essays on legisprudence. Cham: Springer, 2013.
203
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de
1988. Diário Oficial da União, 5 out. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em:
16 jun. 2016.
204
“Art. 104 – A proposição que não for apreciada até o término da legislatura será mantida em
o
tramitação. § 1 – Os projetos mantidos em tramitação continuarão esta da fase em que estavam
quando do término da legislatura, com as seguintes exceções: I – se terminada a discussão, mas
ainda não votado o projeto, aquela será reaberta.” (BELO HORIZONTE. Câmara Municipal.
Resolução nº 1.480, de 7 de dezembro de 1990. Contém o Regimento Interno da Câmara Municipal
de Belo Horizonte, de 7 de dezembro de 1990. DOMG, 8 dez. 1990. Disponível em:
<http://www.cmbh.mg.gov.br>. Acesso em: 11 maio 2015)
68
205
BELO HORIZONTE. Câmara Municipal. Projeto de Lei nº 281/2013, de 2 de janeiro de 2013.
Dispõe sobre a instituição do Parlatório Democrático no Município e dá outras providências.
Tramitação. Disponível em: <http://www.cmbh.mg.gov.br>. Acesso em: 23 maio 2016.
206
Estão previstas para outubro de 2016 eleições para prefeito, vice-prefeito e vereador, encerrando
o período de 4 anos compreendido na legislatura 2012-2016.
207
CARLOS, Ana Fani Alessandri. A (re)produção do espaço urbano. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo, 1994. p. 70 apud MAGALHÃES, Fabiano Rosa de. Estratégias de rua:
manifestações político-sindicais do Sindicato dos Bancários na Praça Sete de Belo Horizonte. 186 f.
Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) – Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2008. p. 78.
208
MANIFESTANTES interditam rodovia que dá acesso ao aeroporto de Viracopos. Agência Brasil,
Caderno Notícia, 4 jul. 2013. Disponível em: <http://www.ebc.com.br>. Acesso em: 6 mar. 2016.
209
MINUZZI, Evelize Dorneles; MARIN, Elizara Carolina; FRIZZO, Giovanni Ernst. As manifestações
sociais como contratendência ao espetáculo olímpico de entretenimento planetário. Motrivivência,
Florianópolis, UFSC, ano XXV, n. 41. p. 27-41, dez. 2013. Disponível em:
<https://periodicos.ufsc.br/index.php/motrivivencia/article/view/2175-8042.2013v25n41p27/25811>.
Acesso em: 06 mar. 2016. p. 35.
210
INDONÉSIA: Jacarta cria o “protestródromo”. Jornal do Brasil (JB), Caderno Internacional,
Notícias, 4 fev. 2010. Disponível em: <http://www.jb.com.br>. Acesso em: 6 mar. 2016.
69
212
Fonte: Foto de Lígia Machado Pinto.
211
HARNIK, Simone. Estudantes vencem concurso de arquitetura com ‘protestródromo’: alunos da
UFMG imaginaram uma estrutura de protestos em Brasília. Portal G1, Caderno Notícias, Vestibular,
10 out. 2010. Disponível em: <http://g1.globo.com>. Acesso em: 17 fev. 2013.
212
HARNIK, Simone. Estudantes vencem concurso de arquitetura com ‘protestródromo’: alunos da
UFMG imaginaram uma estrutura de protestos em Brasília. Portal G1, Caderno Notícias, Vestibular,
10 out. 2010. Disponível em: <http://g1.globo.com>. Acesso em: 17 fev. 2013.
70
213
Fonte: Foto de Lígia Machado Pinto.
213
Ibid.
214
RANCIÈRE, Jacques. Ódio à democracia. São Paulo: Boitempo, 2014. p. 117.
71
Como pontua Henri Lefebvre, “o urbano é assim, mais ou menos, a obra dos
citadinos em lugar de se impor a eles como um sistema: como um livro já
acabado”.215
218
MAGALHÃES, José Luiz Quadros. Direito Constitucional. Tomo I. Belo Horizonte: Mandamentos,
2000. p. 108.
73
Portanto, há uma afetação de bem público que define como deve ser seu uso,
definindo que os pedestres devem andar nos passeios. Em uma manobra
hermenêutica, se poderia afirmar que a lei assegura os passeios aos pedestres, mas
não proíbe que eles utilizem as pistas de rolamento. Todavia, a lei veda
expressamente a utilização destas pelo pedestre, inclusive impondo multa:
219
BRASIL. Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997. Institui o Código de Trânsito Brasileiro. Diário
Oficial da União, 24 set. 1997. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 26 set.
2013.
220
BRASIL. Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997. Institui o Código de Trânsito Brasileiro. Diário
Oficial da União, 24 set. 1997. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 26 set.
2013.
74
Art. 95. Nenhuma obra ou evento que possa perturbar ou interromper a livre
circulação de veículos e pedestres, ou colocar em risco sua segurança, será
iniciada sem permissão prévia do órgão ou entidade de trânsito com
222
circunscrição sobre a via.
Percebe-se que, pela Lei nº 9.503/97, a utilização das faixas de trânsito por
pessoas está sujeita a autorização, o que é diferente do mero aviso mencionado no
direito de reunião. Como se verá no capítulo 5, esses preceitos do CTB já foram
utilizados por tribunais para impor limites a protestos. Assim, caberia a indagação se
tais preceitos são inconstitucionais ou se, ao assegurar o direito de reunião, a
CRFB/88 o estaria garantindo apenas em lugares não proibidos pelo CTB, como
praças, parques, calçadões e outros lugares destinados aos pedestres. Se essa
interpretação for tida por constitucional, teria como consequência a desnecessidade
de autorização para manifestações realizadas em praças e similares, porém, caso
se deseje realizar ato que interfira no fluxo de veículos, seria preciso a autorização
do órgão com circunscrição sobre a via, conforme expresso no CTB. Assim, haveria
no Brasil um modelo semelhante ao de Nova Iorque, respaldado pela Suprema
Corte norte-americana,223 que proíbe protestos nas vias de trânsito destinadas aos
veículos. Porém, como se verá no capítulo 5, essa antinomia nunca foi enfrentada
pelo Supremo Tribunal Federal.
A interpretação favorável à aplicação do CTB parece ter sido o
posicionamento do governo e do Congresso federais em 2015. Após um período de
intensa greve e manifestações de caminhoneiros contra o governo federal, em prol
do aumento do valor dos fretes e contra o aumento do preço dos combustíveis, em
221
Ibid.
222
Ibid.
223
Objeto de estudo no Capítulo 5.
75
224
CAMINHONEIROS fazem protestos e bloqueiam rodovias no Brasil. Folha de S. Paulo, Caderno
Mercado, 9 nov. 2015. Disponível em: <http://www.folha.uol.com.br>. Acesso em: 26 abr. 2016.
225
A redação original da MP diferenciava-se em alguns pontos da que se converteu em lei no
Senado, sendo a proposta original ainda mais severa quanto às penalidades. Na redação da MP nº
699: “Art. 253-A – Usar veículo para, deliberadamente, interromper, restringir ou perturbar a
circulação na via: Infração gravíssima; Penalidade – multa (trinta vezes), suspensão do direito de
dirigir por doze meses e apreensão do veículo; Medida Administrativa – recolhimento do documento
de habilitação, remoção do veículo e proibição de receber incentivo creditício por dez anos para
o
aquisição de veículos. § 1 Aplica-se a multa agravada cem vezes aos organizadores da conduta
o
prevista no caput. § 2 Aplica-se em dobro a multa em caso de reincidência no período de doze
meses” (BRASIL. Medida Provisória nº 699, de 10 de novembro de 2015. Altera a Lei nº 9.503, de
23 de setembro de 1997, que institui o Código de Trânsito Brasileiro. Diário Oficial da União, 11 nov.
2015.. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 26 set. 2015).
226
BRASIL. Lei de Conversão nº 4/2016. Altera a Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997, que
institui o Código de Trânsito Brasileiro. Disponível em: <http://www.camara.gov.br>. Acesso em: 19
maio 2016.
76
227
Fonte: Agência Brasil.
227
AGÊNCIA BRASIL. Taxistas que bloquearam ruas foram multados em 5,7 mil. O Tempo, Capa, 3
abr. 2016. Disponível em: <http://www.otempo.com.br>. Acesso em: 20 maio 2016.
77
228
BRASIL. Mensagem nº 194, de 4 de maio de 2016. Mensagem de veto à Lei n 13.281, de 4 de
maio de 2016. Diário Oficial da União, 5 maio 2016. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>.
Acesso em: 19 maio 2016.
229
BRASIL. EMI nº 00237/2015 MJ MCIDADES. Exposição de Motivos da Medida Provisória nº 699.
Brasília, 10 nov. 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 18 mar. 2016.
78
Seção II
Da Passeata e Manifestação Popular
Art. 58 - A realização de passeata ou manifestação popular em logradouro
público é livre, desde que:
I - não haja outro evento previsto para o mesmo local;
II - tenha sido feita comunicação oficial ao Executivo e ao Batalhão de
Eventos da Polícia Militar de Minas Gerais, informando dia, local e natureza
do evento, com, no mínimo, 24 (vinte e quatro) horas de antecedência;
230
III - não ofereça risco à segurança pública.
230
BELO HORIZONTE. Prefeitura de Belo Horizonte. Lei nº 8.616, de 14 de julho de 2003. Contém o
Código de Posturas do Município de Belo Horizonte. Disponível em: <http://www.pbh.gov.br>.
Acesso em: 11 maio 2013.
231
OST, François. O tempo do direito. Lisboa: Instituto Piaget, 2001. p. 301.
79
232
BRASIL. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Diário Oficial da União,
de 31 dez. 1940. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 5 out. 2015.
80
233
UNITED STATES. Supreme Court. Texas v. Johnson, 491 U.S. 397. (1989). Disponível em:
<https://www.law.cornell.edu/supremecourt/text/491/397>. Acesso em: 13 maio 2016.
234
O caso foi novamente debatido em 2005 com proposta de emenda constitucional. Cf.: SENATOR
Clinton, in pander mode. New York Times, The Opinion Pages, 7 Dec. 2005. Disponível em:
<http://www.nytimes.com>. Acesso em: 13 maio 2016).
235
Para estudo das divergências entre Legislativo e Judiciário na conformação do direito, cf. as
seguintes obras: MENDES, Conrado Hübner. Direitos fundamentais, separação de poderes e
deliberação. São Paulo: Saraiva, 2011; MENDES, Conrado Hübner. Controle de constitucionalidade
e democracia. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.
236
CLARK, John A.; McGUIRE, Kevin T. Congress, the Supreme Court and the flag. Political
Research Quarterly, v. 49, i. 4. p. 771-781, Dec. 1996.
237
BAPTISTA, op. cit., p. 265.
238
CLARK; McGUIRE, op. cit.
81
Por mais que legalidade seja uma noção extremamente relevante para o
Direito, as paixões humanas e o improviso da vida escapam à escrita hermética,
sobretudo quando a regulamentação desconsidera a importância do
comprometimento social para efetividade da norma.
A esse respeito, a história dos protestos no Brasil tem dois casos
emblemáticos, a Revolta da Vacina de 1904 e as Manifestações de 2013. Ambos
ricos em questões sobre os limites da lei para a solução de controvérsias no Estado
Democrático de Direito, sobretudo com o enfoque legisprudencial e da aplicação do
direito pela polícia, merecendo, portanto, capítulo autônomo para análise.
239
SEVCENKO, Nicolau. Revolta da Vacina: Mentes insanas em corpos rebeldes. São Paulo:
Scipione, 1993. p. 3.
82
Não por acaso, muitos dos chefes do governo municipal no período em foco
foram médicos ou engenheiros [...] Muitos destes técnicos eram
republicanos [...] chegados ao poder, do espírito republicano guardavam no
máximo alguma preocupação com o bem público, desde que o público, o
povo, não participasse do processo de decisão. O positivismo, ou certa
leitura positivista da República, que enfatizava, de um lado, a ideia de
progresso pela ciência e, de outro, o conceito de ditadura republicana,
contribuía poderosamente para o reforço da postura tecnocrática e
243
autoritária.
240
Cf. CARVALHO, José Murilo de. Perfis brasileiros: D. Pedro II. Coordenação Elio Gaspari e Lilia M.
Schwarcz. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
241
Alusão a Augusto Comte, sociólogo francês que viveu de 1798 a 1857. O pensador defendia a
sociologia, ou física social, como uma ciência capaz de explicar as leis universais da sociedade
assim como procedia as ciências naturais com o mundo físico. Ao se descobrir tais leis seria
possível, para Comte, interferir e controlar os fenômenos que nos rodeiam e melhorar o bem-estar
da humanidade. (GIDDENS, Anthony. Sociología. 4. ed. Madrid: Alianza Editorial, 2001. p. 34-35)
242
Cf. CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi. 3.
ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
243
Ibid., p. 35.
244
Ibid., p. 162.
83
245
Ibid., p. 92.
246
Ibid., p. 93.
247
BRETAS, Marcos Luiz. Ordem na cidade: o exercício cotidiano da autoridade policial no Rio de
Janeiro: 1907-1930. Rio de Janeiro: Rocco, 1997. p. 21.
248
RIO DE JANEIRO (CIDADE). Secretaria Especial de Comunicação Social. Caderno Memórias:
1904 – Revolta da Vacina. A Maior Batalha do Rio. Rio de Janeiro: Prefeitura da Cidade do Rio de
Janeiro, 2006. p. 22.
249
CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi. 3. ed.
São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 19.
250
RIO DE JANEIRO (CIDADE). op. cit., p. 26.
84
Proibiu cães vadios e vacas leiteiras nas ruas; mandou recolher a asilos os
mendigos; proibiu a cultura de hortas e capinzais, a criação de suínos, a
venda ambulante de bilhetes de loteria. Mandou também que não se
cuspissem nas ruas e dentro dos veículos, que não se urinasse fora dos
251
Ibid.. p. 24.
252
CARVALHO, José Murilo de. op. cit., 2015. p. 94.
253
CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi. 3. ed.
São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 34.
254
SEVCENKO, Nicolau. Revolta da Vacina: Mentes insanas em corpos rebeldes. São Paulo:
Scipione, 1993. p. 52.
85
255
CARVALHO, José Murilo de. op. cit., 2015. p. 95.
256
BARROS, José Márcio. Cultura e comunicação nas Avenidas de Contorno em Belo Horizonte e La
Plata. Belo Horizonte: Editora PUC-Minas, 2005. p. 82.
257
SEVCENKO, Nicolau. Revolta da Vacina: Mentes insanas em corpos rebeldes. São Paulo:
Scipione, 1993. p. 46.
258
CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi. 3. ed.
São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 96.
86
259
SEVCENKO, op. cit., p. 14.
260
Ibid.. p. 15.
261
RIO DE JANEIRO (CIDADE). Secretaria Especial de Comunicação Social. Caderno Memórias:
1904 – Revolta da Vacina. A Maior Batalha do Rio. Rio de Janeiro: Prefeitura da Cidade do Rio de
Janeiro, 2006. p. 20.
262
SEVCENKO, Nicolau. Revolta da Vacina: Mentes insanas em corpos rebeldes. São Paulo:
Scipione, 1993. p. 15.
263
WINTGENS, Luc J. Legisprudence as a new theory of legislation. Ratio Juris, v. 19, n. 1. p. 1-25,
March 2006. p. 1.
264
WINTGENS, Luc J. The rational legislator revisited. Bounded rationality and legisprudence. In:
WINTGENS, Luc J; OLIVER-LALANA, A Daniel. (Ed.) The rationality and justification of legislation:
Essays on legisprudence. Cham: Springer, 2013. p. 1-32.
87
265
SOARES, Fabiana de Menezes. Teoria da legislação: Formação e conhecimento da lei na idade
tecnológica. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2004. p. 27.
266
CHANG, Cheoljoon. Legisprudence in the Korean context: a practical approach focusing on the
confuncian effects on rationality. In: WINTGENS, Luc J; OLIVER-LALANA, A Daniel. (Ed.) The
rationality and justification of legislation: Essays on legisprudence. Cham: Springer, 2013. p. 65.
267
NASCIMENTO, Luciana Marino do; SILVA, Francisco Bento da. De protestos e levantes: As
revoltas da vacina e da chibata na música popular. Recorte, Revista Eletrônica do Programa do
Mestrado em Letras: Linguagem, Discurso e Cultura/UNINCOR, Três Corações, v. 9, n. 2, 2012. p.
3.
268
SCHUELER, Paulo. Revolta sonora: Oswaldo Cruz, as vacinas e a ironia dos carnavais. Fundação
Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), Caderno Notícias, 4 fev. 2015. Disponível em: <https://portal.fiocruz.br>.
Acesso em: 26 abr. 2016.
88
271
Fonte: J. Carlos.
269
SOARES, Fabiana de Menezes. Teoria da legislação: Formação e conhecimento da lei na idade
tecnológica. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2004. p. 37.
270
CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi. 3. ed.
São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 159.
271
RIO DE JANEIRO (CIDADE). Secretaria Especial de Comunicação Social. Caderno Memórias:
1904 – Revolta da Vacina. A Maior Batalha do Rio. Rio de Janeiro: Prefeitura da Cidade do Rio de
Janeiro, 2006. p. 16
89
272
SEVCENKO, Nicolau. Revolta da Vacina: Mentes insanas em corpos rebeldes. São Paulo:
Scipione, 1993. p. 17.
273
RIO DE JANEIRO (CIDADE). op. cit., p. 52.
274
SOARES, Fabiana de Menezes. Teoria da legislação: Formação e conhecimento da lei na idade
tecnológica. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2004.
275
SHIM, Woomin. Disagreement and proceduralism in the perspective of legisprudence. In:
WINTGENS, Luc J; OLIVER-LALANA, A Daniel. (Ed.) The rationality and justification of legislation:
Essays on legisprudence. Cham: Springer, 2013. p. 131.
90
276
RIO DE JANEIRO (CIDADE). Secretaria Especial de Comunicação Social. Caderno Memórias:
1904 – Revolta da Vacina. A Maior Batalha do Rio. Rio de Janeiro: Prefeitura da Cidade do Rio de
Janeiro, 2006. p. 101.
277
SEVCENKO, Nicolau. Revolta da Vacina: Mentes insanas em corpos rebeldes. São Paulo:
Scipione, 1993. p. 52-53.
278
CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi. 3. ed.
São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 159.
279
SEVCENKO, op. cit., p. 10 e 28.
91
280
Ibid.. p. 18.
281
CARVALHO, José Murilo de. op. cit., 2015, p. 104.
282 o
Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, de 24 de fevereiro de 1891, Art. 72, § 8 ,
“A todos é lícito associarem-se e se reunirem livremente e sem armas; não podendo intervir a
polícia senão para manter a ordem pública”. (BRASIL. Constituição (1891). Constituição da
República dos Estados Unidos do Brasil, de 24 de fevereiro de 1891. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao91.htm>. Acesso em: 20 set. 2015)
283
SEVCENKO, Nicolau. Revolta da Vacina: Mentes insanas em corpos rebeldes. São Paulo:
Scipione, 1993. p. 19.
284
Ibid.. p. 21.
92
285
MEADE, Teresa. Civilizing Rio: Reform and resistance in a Brazilian City 1889-1930. University
Park/PA: The Pennsylvania State University Press, 1999. p. 104.
286
SEVCENKO, op. cit., p. 21.
287
CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi. 3. ed.
São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 117-118.
288
SEVCENKO, op. cit., p. 70.
289
CARVALHO, op. cit., 2015, p. 117.
290
NASCIMENTO, Luciana Marino do. Avessos da Belle Époque: Os revoltosos da vacina deportados
para a Amazônia. Recorte, Revista Eletrônica do Programa do Mestrado em Letras: Linguagem,
Discurso e Cultura / UNINCOR, Três Corações, v. 10, n. 2, 2013. p. 6.
291
FAUSTO, Boris. História do Brasil. 2. ed. São Paulo: Editora da USP, 1995. p. 248.
93
292
Versão preliminar desse tópico foi publicada anteriormente em uma obra coletiva de professores e
alunos do Programa de Pós-graduação em Direito da UFMG (PPGD/UFMG).
293
ZIZEK, Slavoj. O violento silêncio de um novo começo. In: HARVEY, David et al. Occupy:
movimentos de protesto que tomaram as ruas. São Paulo: Boitempo, Carta Maior, 2012. p. 15-30.
ZIZEK, Slavoj. Problemas no paraíso. In: HARVEY, David et al. Cidades rebeldes: Passe livre e as
manifestações que tomaram as ruas do Brasil. São Paulo: Boitempo, Carta Maior, 2013. p. 101-109.
294
RESENDE, André Lara. O mal-estar contemporâneo. Valor Econômico, Cultura, 5 jul. 2013.
Disponível em: <http://www.valor.com.br>. Acesso em: 12 abr. 2015. MACEDO, Roberto. Uma visão
econômica e política dos protestos juninos. In: FIGUEIREDO, Rubens (Org.). Junho de 2013: A
sociedade enfrenta o Estado. São Paulo: Summus, 2014. p. 39-60.
295
CASTELLS, Manuel. Redes de indignação e esperança: movimentos sociais na era da internet.
Rio de Janeiro: Zahar, 2013.
296
Cf., entre outros, MATTOS, Marcelo Badaró. Greves e repressão policial aos sindicatos no
processo de formação da classe trabalhadora carioca (1850-1910). In: MATTOS, Marcelo Badaró
(Coord.). Trabalhadores em greve, polícia em guarda: greves e repressão policial na formação da
classe trabalhadora carioca. Rio de Janeiro: Bom Texto/FAPERJ, 2004. p. 39-40; CARVALHO, José
94
Murilo de. Os bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi. 3. ed. São Paulo:
Companhia das Letras, 2015. p. 70 e 134.
297
MOVIMENTO PASSE LIVRE. Não Começou em Salvador, não vai terminar em São Paulo.
HARVEY, David et al. Cidades rebeldes: passe livre e as manifestações que tomaram as ruas do
Brasil. São Paulo: Boitempo, 2013. (Coleção Tinta Vermelha) p. 13-18.
298
SELIGSON, Mitchell A.; SMITH, Amy Erica; ZECHMEISTER, Elizabeth. The political culture of
democracy in the Americas, 2012: Towards equality of opportunity. [S.l.]: Latin American Public
Opinion Project / Americas Barometer / Vanderbilt University, 2012.
299
CAMPANERUT, Camila. Dilma é aprovada por 79% e supera Lula e FHC, diz CNI/IBOPE. UOL,
Caderno Política, 19 mar. 2013. Disponível em: <http://noticias.uol.com.br>. Acesso em: 22 abr.
2016.
95
300
IZIQUE, Cláudia. Não foi só pelos 20 centavos. FIGUEIREDO, Rubens (Org.). Junho de 2013: A
sociedade enfrenta o Estado. São Paulo: Summus, 2014. p. 19.
301
SECCO, Lincoln. As jornadas de junho. In: HARVEY, David et al. Cidades rebeldes: Passe livre e
as manifestações que tomaram as ruas do Brasil. São Paulo: Boitempo, 2013. p. 73.
302
Cf. entre outros, AVRITZER, Leonardo. Os impasses da democracia no Brasil. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2016. p. 71; TATAGIBA, Luciana. 1984, 1992 e 2013. Sobre ciclos de
protestos e democracia no Brasil. Política e Sociedade, Florianópolis, v. 13, n. 28, set./dez. 2014. p.
36, RIBEIRO, Renato Janine. O Brasil e a democracia de protesto. Matrizes, São Paulo, v. 8, n. 1. p.
93-117, jan./jun. 2014. p. 96; MARIN, Tiago Rodrigo; MASSOLA, Gustavo Martineli. As
manifestações de junho de 2013 em São Paulo e a alteridade urbana: contribuições para a
psicologia social. Mnemosine, Rio de Janeiro, v. 10, n. 2. p. 30-55, 2014. p. 32; MORGENSTERN,
Flávio. Por trás da máscara: Do passe livre aos black blocs, as manifestações que tomaram as ruas
do Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Record, 2015.
303
CASTELLS, Manuel. Redes de indignação e esperança: movimentos sociais na era da internet.
Rio de Janeiro: Zahar, 2013. p. 168.
304
MARIN; MASSOLA. op. cit., p. 38-39.
96
306
Fonte: Folha de São Paulo.
305
MORGENSTERN. op. cit., p. 21.
306
JORNAL Folha de São Paulo. Edição de 12 de junho de 2013. Disponível em:
<http://acervo.folha.uol.com.br/fsp/2013/06/12/2/>. Acesso em: 24 jun. 2016.
97
Não era apenas a imprensa que estava contra os protestos. A cronologia dos
fatos elaborada por Cláudia Izique evidencia como as manifestações foram
enfrentadas por autoridades públicas de âmbito municipal, estadual e federal, à
esquerda e à direita, com certa insensibilidade política e com discurso de que não
iriam transigir ante os protestos.307
Ao mesmo tempo que havia, inicialmente, a demanda pela intervenção
policial, uma pesquisa da Datafolha expõe que o crescimento da percepção de que a
polícia era mais violenta do que deveria foi acompanhado pelo aumento do número
de pessoas que apoiavam a luta contra o aumento da passagem,308 ainda que a
intervenção policial tenha ocorrido no mesmo sentido das falas dos governantes, da
mídia e até mesmo de parcela da população. O aspecto da força ou violência na
intervenção da polícia nos protestos serão analisados no Capítulo 6, bastando, por
agora, perceber que uma das poucas afirmações que se pode fazer sobre o tema é
que a intervenção policial ou a forma como ela ocorreu foram capazes de aumentar
o apoio popular aos protestos.
Entretanto, percebeu-se também que a crítica à ação da polícia foi
acompanhada da contraditória crítica a sua omissão. “A polícia já estava sabendo e
nada fez para proteger as lojas que estavam no caminho dos manifestantes”,309
afirmou o gerente de uma das concessionárias da Av. Antônio Carlos que tiveram 16
milhões de prejuízos durante um único protesto, em uma única rua em Belo
Horizonte. A diferença na percepção sobre o que acontecia refletiu até no nome
dados aos protestos: o que para uns era “Jornadas de Junho”, outros viram como
“Junho Negro”. O patrimônio público também foi afetado, os prejuízos ao Paço
Imperial no Rio de Janeiro e a outros prédios públicos ou de valor histórico são
provas nesse sentido.
Outras incoerências marcaram os protestos que lutavam por transporte
público gratuito e de qualidade, mas deixavam estações de metrô, coletivos e pontos
de ônibus totalmente destruídos. E, se a intervenção policial foi capaz de difundir em
âmbito nacional os protestos, a ausência da polícia parece ter contribuído para a
307
IZIQUE, Cláudia. Não foi só pelos 20 centavos. FIGUEIREDO, Rubens (Org.). Junho de 2013: A
sociedade enfrenta o Estado. São Paulo: Summus, 2014. passim.
308
PROTESTOS sobre aumento na tarifa dos Transportes II, PO813688. DataFolha, , 18 jun. 2013.
Disponível em: <http://media.folha.uol.com.br/datafolha/2013/06/19/protestos-aumento-tarifa-ii.pdf>.
Acesso em: 3 nov. 2015. p. 27 e 29.
309
OLIVEIRA, Marcello. Concessionárias de veículos têm prejuízos de R$ 16 milhões após ações de
vandalismo em manifestação. Vrum Website, 28 jun. 2013. Disponível em:
<http://estadodeminas.vrum.com.br>. Acesso em: 24 jun. 2016.
98
310
OLIVEIRA, Adriano; COSTA, Simara; NETO, Luma. As manifestações de junho de 2013 à luz da
opinião pública: causas, significados e mudanças de opinião. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
PESQUISA, 6., 2014. Disponível em:
<http://www.cenariointeligencia.com.br/files/abep14012013.pdf>. Acesso em: 16 abr. 2016.
311
SCHERER-WARREN, Ilse. Manifestações de rua no Brasil 2013: Encontros e desencontros na
política. Caderno CRH, Salvador, v. 27, n. 71. p. 417-429, maio/ago. 2014. p. 419.
312
IZIQUE, Cláudia. Não foi só pelos 20 centavos. FIGUEIREDO, Rubens (Org.). Junho de 2013: A
sociedade enfrenta o Estado. São Paulo: Summus, 2014. p. 19.
99
[...] diante da Prefeitura Municipal, não raro, quando alguém era visto
pichando os arredores da região, barulhos de explosões eram ouvidos sem
que nenhum policial estivesse agindo. Também neste cenário, alguns
poucos presentes na manifestação em frente à Prefeitura atacaram-na com
o intuito de destruição, enquanto lojas do centro da cidade eram saqueadas.
[...] Neste dia o vandalismo mostrou-se como um arbitrário midiático:
fenômenos distintos e complexos eram agrupados em um único corpo de
discurso e depredações, saques a lojas e resistências em combate eram
313
compreendidos como sendo a mesma coisa.
313
MARIN, Tiago Rodrigo; MASSOLA, Gustavo Martineli. As manifestações de junho de 2013 em São
Paulo e a alteridade urbana: contribuições para a psicologia social. Mnemosine, Rio de Janeiro, v.
10, n. 2. p. 30-55, 2014. p. 45.
314
BECKER, Beatriz; MACHADO, Mônica. Brasil entre as telas e as ruas: produção e consumo das
narrativas jornalísticas audiovisuais sobre os protestos nacionais de junho de 2013. Discursos
Fotográficos, Londrina, v. 10, n. 17. p. 39-60, jul./dez. 2014. p. 48.
315
GOHN, Maria da Glória. A sociedade brasileira em movimento: vozes das ruas e seus ecos
políticos e sociais. Caderno CRH, Salvador, v. 27, n. 71. p. 431-441, maio/ago. 2014. p. 439.
316
Ibid.. p. 44.
317
SCHERER-WARREN, Ilse. Manifestações de rua no Brasil 2013: Encontros e desencontros na
política. Caderno CRH, Salvador, v. 27, n. 71. p. 417-429, maio/ago. 2014. p. 420
318
GOHN, op. cit., p. 434.
319
DATAFOLHA. Termômetro Paulistano – Manifestações. PO813712, de 25 de outubro de 2013.
Disponível em:<http://media.folha.uol.com.br/datafolha/2013/10/28/manifestacoes-2013-10-27.pdf>.
Acesso em: 24 jun. 2016. p. 10.
100
323
DATAFOLHA. Termômetro Paulistano – Manifestações. PO813705, de 11 de setembro de 2013.
Disponível em: <http://media.folha.uol.com.br/datafolha/2013/09/16/relatorio-manifestacoes-11-
09.pdf>. Acesso em: 24 jun. 2016.
324
OLIVEIRA, Márcio Luís de. A Constituição juridicamente adequada: Transformações do
constitucionalismo e atualização principiológica dos direitos, garantias e deveres fundamentais. Belo
Horizonte: Arraes Editores, 2013. p. 124.
325
RIO DE JANEIRO (ESTADO). Lei nº 6.528, de 11 de setembro de 2013. Regulamenta o artigo 23
da Constituição do Estado. Diário Oficial do Estado, 12 set. 2013. Disponível em:
<http://www.alerj.rj.gov.br>. Acesso em: 6 nov. 2015.
326
MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 7. ed.
rev. atual. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 241.
102
327
SIECKMANN, Jan. Legislation as implementation of constitutional law: A foundation for the
demand of legislative rationality. In: WINTGENS, Luc J; OLIVER-LALANA, A Daniel. (Ed.) The
rationality and justification of legislation: Essays on legisprudence. Cham: Springer, 2013. p. 108.
328
Cf. entre outros, KASSIN, Saul; FEIN, Steve; HAZEL, Rose Markus. Social psychology. 8. ed.
Belmont: Wadsworth, 2011; MCKINLAY, Andrew; MCVITTIE, Chris. Social psychology and
discourse. Malden: Wiley-BlackWell, 2008; TUFFIN, Keith. Understanding critical social psychology.
London: Sage Publications, 2005.
329
RIO DE JANEIRO. Lei Estadual nº 6.528, de 11 de setembro de 2013. Regulamenta o art. 23 da
Constituição do Estado. Diário Oficial, 12 set. 2013. Disponível em: <http://www.alerj.rj.gov.br>.
Acesso em: 24 jun. 2016.
330
WINTGENS, Luc J. Legisprudence as a new theory of legislation. Ratio Juris, v. 19, n. 1. p. 1-25,
March 2006. p. 11.
331
KRISTAN, Andrej. Three grounds for tests of the justifiability of legislative action: Freedom,
representative democracy, and rule of law. In: WINTGENS, Luc J; OLIVER-LALANA, A Daniel. (Ed.)
The Rationality and justification of legislation: Essays on legisprudence. Cham: Springer, 2013.
(Legisprudence Library, v. 1). p. 55.
103
332
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO RIO DE JANEIRO. Projeto de Lei nº 2.405/2013. Regulamenta o
art. 23 da Constituição do Estado. Disponível em: <http://www.alerj.rj.gov.br>. Acesso em: 24 jun.
2016.
333
Na versão final da norma verificam-se dois parágrafos com redação praticamente idênticas que
poderiam ser fundidos em apenas um sem dificuldades. O § 2º, art. 3º da Lei dispõe que “Para os
fins do inciso V do caput, a comunicação deverá ser feita à delegacia cuja circunscrição se realize
ou, pelo menos, inicie a reunião pública para a manifestação de pensamento”, enquanto o § 4º da
lei tem a mesma redação, porém, diz que a comunicação deverá ser feita ao batalhão, vejamos: “§
4º - Para os fins do inciso V do caput deste artigo a comunicação deverá ser feita ao batalhão em
cuja circunscrição se realize ou, pelo menos, inicie a reunião pública para a manifestação do
pensamento.” Assim, vê-se que o objetivo é que a mesma comunicação seja feita às Polícia Civil e
Militar.
334
O § único, art. 2º do PL tinha a redação “É vedada qualquer forma de anonimato no exercício do
direito constitucional à reunião pública para manifestação de pensamento”, tendo sido alterado na
versão final para “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”. Além de não
dispor de alteração de conteúdo, constata-se que a nova redação é mera repetição do inciso IV, art.
5º da Constituição da República de 1988, portanto, duplamente inútil.
104
335
TEIXEIRA, Fábio. Lei contra máscaras no Rio é inconstitucional, diz OAB-RJ. O Globo, Rio de
Janeiro, 10 set. 2013. Disponível em: <http://oglobo.globo.com>. Acesso em: 31 ago. 2015.
336
LAUREANO, Maximiano. Proibição do uso de máscaras nos protestos viola direito à livre
manifestação. Vozes das Comunidades, Rio de Janeiro, 23 set. 2013. Disponível em:
<http://vozesdascomunidades.org>. Acesso em: 31 ago. 2015.
337
SHIM, Woomin. Disagreement and proceduralism in the perspective of legisprudence. In:
WINTGENS, Luc J; OLIVER-LALANA, A Daniel. (Ed.) The rationality and justification of legislation:
Essays on legisprudence. Cham: Springer, 2013. p. 131.
338
SOARES, Fabiana de Menezes. Legística e desenvolvimento: A qualidade da lei no quadro da
otimização de uma melhor legislação. Revista da Faculdade de Direito da UFMG, Belo Horizonte, n.
50. p. 124-142, jan./jul. 2007. p. 129.
339
Em sessão que julgou ações propostas pela OAB/RJ e Partido da República (PR),
respectivamente nos processos 0052756-30.2013.8.19.0000 e 0053071-58.2013.8.19.0000. Cf.: LEI
fluminense que proíbe máscaras em manifestações é constitucional. Migalhas, 11 nov. 2014.
Disponível em: <http://www.migalhas.com.br>. Acesso em: 1º jul. 2016.
340
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO RIO GRANDE DO SUL. Projeto de Lei nº 283/2013. Disponível
em: <http://www.al.rs.gov.br>. Acesso em: 24 jun. 2016.
105
surgiu na Câmara de Vereadores da capital,341 de forma que o prefeito que teve sua
residência alvo do vandalismo foi o mesmo que promulgou lei municipal sobre o
tema em abril de 2014.342
Um mês e dez dias após a aprovação da lei porto-alegrense a Câmara
Municipal de Santa Maria aprovou legislação praticamente idêntica:343
341
CÂMARA MUNICIPAL DE PORTO ALEGRE. Projeto de Lei nº 312/13. Proíbe os cidadãos de
utilizarem mascara ou qualquer meio capaz de ocultar o rosto com o propósito de impedir sua
identificação em manifestações públicas no município de Porto Alegre e normatiza o direito
constitucional dos cidadãos à participação em reuniões públicas. Diário Oficial da Assembleia
Legislativa, 8 nov. 2013. <http://www.camarapoa.rs.gov.br>. Acesso em: 23 jun. 2016.
342
PORTO ALEGRE. Lei Municipal nº 11.596, de 2 de abril de 2014. Proíbe os cidadãos de utilizarem
máscara ou qualquer meio capaz de ocultar o rosto com o propósito de impedir sua identificação em
manifestações públicas no Município de Porto Alegre e normatiza o direito constitucional dos
cidadãos à participação em reuniões públicas. DOPA, 3 abr. 2014. Disponível em:
<http://www.portoalegre.rs.gov.br>. Acesso em: 23 jul. 2016.
343
CÂMARA MUNICIPAL DE SANTA MARIA. Lei nº 5.864/14. Disponível em: <http://www.camara-
sm.rs.gov.br>. Acesso em: 6 jun. 2016.
106
344
Art. 1. Fica proibido, em logradouros públicos, o uso de máscaras ou quaisquer peças que cubram
o rosto do cidadão com o propósito de impedir sua identificação no âmbito do Município de
Pelotas/RS.
Art. 2. O direito Constitucional de reunião pública para manifestação de pensamento será exercido:
I – de forma pacífica;
II – sem o porte ou uso de quaisquer armas;
III – sem o uso de máscaras nem quaisquer peças que cubram o rosto do cidadão ou dificultem sua
identificação; [...] (PELOTAS. Lei nº 6.083, de 30 de janeiro de 2014. Disponível em:
<http://www.pelotas.rs.gov.br>. Acesso em: 24 jun. 2016)
345
CÂMARA MUNICIPAL DE CAXIAS DO SUL. Projeto de Lei nº 238/2013. Disponível em:
<http://www.camaracaxias.rs.gov.br>. Acesso em: 24 jun. 2016.
346
PASSO FUNDO. Lei nº 5.157, de 29 de outubro de 2015. Disponível em:
<https://leismunicipais.com.br/a2/rs/p/passo-fundo/lei-ordinaria/2015/516/5157/lei-ordinaria-n-5157-
2015-dispoe-sobre-a-proibicao-do-uso-de-mascaras-ou-de-qualquer-outro-objeto-que-dificulte-a-
identificacao-das-pessoas-em-manifestacoes-publicas-no-municipio-de-passo-fundo?q=5157>.
Acesso em: 24 jun. 2016.
347
CÂMARA MUNICIPAL DE NOVO HAMBURGO. Projeto de Lei nº 146, de 30 de setembro de
2013. Disponível em: <http://portal.camaranh.rs.gov.br>. Acesso em: 24 jun. 2016.
107
348
CÂMARA MUNICIPAL DE NOVO HAMBURGO. Projeto de Lei nº 71, de 19 de maio de 2014.
Disponível em: <http://portal.camaranh.rs.gov.br>. Acesso em: 24 jun. 2016.
349
CÂMARA MUNICIPAL DE NOVO HAMBURGO. Lei Municipal nº 2.741, de 1º de setembro de
2014. Disponível em: <http://portal.camaranh.rs.gov.br>. Acesso em: 24 jun. 2016.
350
CÂMARA MUNICIPAL DE CAMPO BOM. Projeto de Lei Municipal nº 14, de 16 de setembro de
2014. Disponível em: <http://www.camaracb.rs.gov.br>. Acesso em: 24 jun. 2016.
351
ISOLA-MIETTINEN, Hannele. The principled legislative strategy: Rationality of legal principles in
the creation of law? In: WINTGENS, Luc J; OLIVER-LALANA, A Daniel. (Ed.) The rationality and
justification of legislation: Essays on legisprudence. Cham: Springer, 2013. p. 49.
352
PROIBIÇÃO de máscaras em manifestações na pauta em Campo Bom. Jornal Repercussão,
Campo Bom, Coluna Geral, 29 maio 2014. Disponível em: <http://www.jornalrepercussao.com.br>.
Acesso em: 31 ago. 2015.
353
SPENGLER, Mauri. De 18 a 24 de julho de 2014. A Gazeta, Campo Bom, Coluna Rebatendo, 24
jul. 2014. Disponível em: <http://www.agazetacb.com.br>. Acesso em: 31 ago. 2015.
108
354
PERNAMBUCO. Assembleia Legislativa. Projeto de Lei Ordinária nº 1.830/2014. Disponível em:
<http://www.alepe.pe.gov.br>. Acesso em 21 jun. 2016.
355
MEIRELES, Amauri. O tempo e a violência. Belo Horizonte: Gráfica Belo Horizonte, 2007. p. 91.
356
MEIRELES, Amauri; ESPÍRITO SANTO, Lúcio Emílio do. A síndrome da violência urbana. O
Alferes, Belo Horizonte, n. 7. p. 95-119, set./dez. 1985.
357
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DE SANTA CATARINA. Projeto de lei nº 376.8/2013, de 17 de
setembro de 2013. Disponível em: <http://www.alesc.sc.gov.br>. Acesso em: 25 jun. 2016.
358
CÂMARA MUNICIPAL DE JOINVILLE. Projeto de Lei Ordinária nº 53, de 18 de março de 2015.
Disponível em: <http://www.cvj.sc.gov.br>. Acesso em: 25 jun. 2016.
359
MATO GROSSO. Lei nº 10.191, de 26 de novembro de 2014. Dá efetividade ao exercício do
direito de reunião e manifestação pública. Disponível em: <http://www.pjc.mt.gov.br>. Acesso em:
25 jun. 2016.
360
CÂMARA MUNICIPAL DE CARIACICA. Projeto de Lei CM nº 029/2014. Dispõe sobre a proibição
do uso de máscaras ou qualquer outra forma de ocultar o rosto do cidadão com o propósito de
impedir-lhe a sua identificação em manifestações no âmbito do município de Cariacica e dá outras
providências. Disponível em: <http://www.camaracariacica.es.gov.br>. Acesso em: 1º jul. 2016.
361
Aprovação mencionada no sítio do partido do vereador que propôs a medida mas não se
conseguiu a confirmação no portal da Câmara Municipal. Cf.: APROVADO projeto de Sérgio Camilo
que proíbe o uso de máscaras em manifestações populares em Cariacica. PRB Website, 14 mar.
2015. Disponível em: <http://www.prb10.org.br>. Acesso em: 1º jul. 2016.
109
362
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DE ALAGOAS. Lei Estadual nº 7.692, de 8 de abril de 2015.
Disponível em: <http://www.al.al.leg.br> Acesso em: 24 jun. 2016
363
CINARA, Gilca. Governo sanciona lei e uso de máscara em manifestações públicas fica proibido
em Alagoas. Cada Minuto, 14. abr. 2015. Disponível em: <http://www.cadaminuto.com.br>. Acesso
em: 27 maio 2016.
364
DERRUBADO veto do prefeito: usar máscara em protesto está proibido em Novo Hamburgo.
Martin Behrend Website, 26 ago. 2014. Disponível em: <http://www.martinbehrend.com.br>. Acesso
em: 1º jul. 2016.
365
CÂMARA MUNICIPAL DE CURITIBA. Projeto de Lei Ordinária nº 005.00158.2014, de 20 de junho
de 2014. Restringe o uso de máscara, venda ou qualquer cobertura que oculte a face em eventos
multitudinários. Disponível em: <http://www.cmc.pr.gov.br>. Acesso em: 1º jul. 2016.
366
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO PARANÁ. Projeto de Lei nº 324, de 7 de julho de
2014. Regulamenta, no âmbito do estado, os direitos e deveres individuais e coletivos que
especifica. Disponível em: <http://www.alep.pr.gov.br>. Acesso em: 1º jul. 2016.
110
teoria da legislação que não se preocupa apenas com o texto final da lei, mas
também com a forma na qual as normas são feitas.367
Em Minas Gerais, a proibição de máscaras em ambientes com aglomerações
de pessoas já havia ocorrido meses antes dos protestos de 2013. No ritmo do lema
“Caiu no Horto está morto”, alusão ao bairro do estádio de futebol no qual o Atlético-
MG realizou a maior parte dos jogos na conquista do título da Libertadores da
América em 2013, os torcedores começaram a ir para o evento com a máscara da
personagem “Morte”, do filme Pânico.368 Assim, ainda no início do ano, valendo-se
do seu poder de polícia e de preceitos do Estatuto do Torcedor,369 a Polícia proibiu a
entrada de máscaras nos Estádios.
Após os protestos da Copa das Confederações, no mesmo ano, o impulso
que ecoava pelo país reverberou no legislativo mineiro. Em um intervalo de 30 dias,
três projetos de lei sobre a proibição do uso de máscaras em manifestações foram
propostos apenas na AL-MG. O primeiro (PL nº 4.474/2013) foi apresentado em
regime de urgência. Neste, observa-se uma redação distinta das demais propostas
que se via pelo país, entre elas a previsão de multa pecuniária para os que não
obedecerem a ordem policial para retirar a máscara.370 Entretanto, os parlamentares
pareceram não acompanhar as proposições de seus pares. Mesmo já existindo o PL
visando impedir o uso de máscaras nas manifestações, na semana seguinte foi
apresentado o PL nº 4.516371 e três semanas depois o PL nº 4.596,372 que em quase
sua totalidade tem a mesma redação do projeto da AL-RJ e dos demais que o
replicam. Cabe ainda a menção de que o autor do projeto surgido por último é do
367
WINTGENS, Luc J. The rational legislator revisited. Bounded rationality and legisprudence. In:
WINTGENS, Luc J; OLIVER-LALANA, A Daniel. (Ed.) The rationality and justification of legislation:
Essays on legisprudence. Cham: Springer, 2013. p. 13.
368
CRAVE, Wes (Direção). Pânico (no original, Scream). 1997. Trailer disponível em:
<http://www.adorocinema.com/filmes/filme-11091/>. Acesso em: 25 jun. 2016.
369
Art. 13-A, I. (BRASIL. Lei nº 10.671, de 15 de maio de 2003. Dispõe sobre o Estatuto de Defesa do
Torcedor e dá outras providências. Diário Oficial da União, 16 maio 2003. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 25 jun. 2016)
370
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DE MINAS GERAIS. Projeto de Lei nº 4.474, de 10 de setembro de
2013. Restringe o uso de máscara, venda ou qualquer cobertura que oculte a face em eventos
multitudinários e dá outras providências. Disponível em: <https://www.almg.gov.br>. Acesso em: 25
jun. 2016.
371
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DE MINAS GERAIS. Projeto de Lei nº 4.516, de 19 de setembro de
2013. Proíbe o uso de máscara ou de qualquer adereço que oculte o rosto e impeça a identificação
de cidadão em manifestações públicas. Disponível em: <http://www.almg.gov.br>. Acesso em: 25
jun. 2016.
372
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DE MINAS GERAIS. Projeto de Lei nº 4.596, de 12 de outubro de
2013. Dispõe sobre a realização de protesto e manifestações no estado de minas gerais. Disponível
em: <http://www.almg.gov.br>. Acesso em: 25 jun. 2016.
111
mesmo partido do autor do primeiro projeto, o que parece indicar que não há diálogo
sobre os temas nem quando os parlamentares pertencem à mesma sigla partidária.
O primeiro dos projetos foi sancionado cinco dias após a abertura da Copa do
Mundo FIFA de 2014.373
Assim como no Rio Grande do Sul, em Minas, o ímpeto de legislar ganhou o
interior. Em setembro de 2014 o município de Juiz de Fora, na zona da mata
mineira, promulgou a Lei nº 13.029, que proibia a utilização de artifícios para impedir
a identificação dentro de repartições públicas.374 No caso da lei juiz-forana,
aparecem sintomas do não amadurecimento suficiente da discussão parlamentar,
pois, nos meses seguintes foi promulgada a Lei nº 13.175, que estendeu a proibição
da primeira norma às ruas e avenidas da cidade.375
Na também mineira Governador Valadares surgiu o Projeto de Lei nº 098/14,
que em duas discussões e duas votações, todas no mesmo dia, foi aprovado por
unanimidade em 15 de agosto de 2014, transformando-se na Lei nº 6.566.376 Deve-
se reconhecer a possibilidade de diálogos entre os parlamentares fora das sessões,
todavia parece ser mais caso de o rito na criação da lei ter sido adotado pelos
vereadores apenas como uma formalidade a ser cumprida.
Outra cidade do interior de Minas Gerais com proposição sobre a proibição de
máscaras em manifestações foi Três Corações, que teve PL em 2014.377
Os casos das cidades mineiras de Governador Valadares e de Juiz de Fora
explicitam ainda um aspecto inquietante da hipertrofia legislativa. Em ambos, a
proibição municipal de se ocultar a face nos protestos ocorreu quando já em vigor lei
estadual que proibia a conduta. Assim, as leis municipais proibiam conduta
expressamente já proibida por norma estadual. Esse fato aponta para a conclusão
373
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DE MINAS GERAIS. Lei nº 21.324, de 17 de junho de 2014.
Restringe o uso de máscara, venda ou qualquer cobertura que oculte a face em eventos
multitudinários. Diário do Executivo de Minas Gerais, 18 jun. 2014. Disponível em:
<http://www.almg.gov.br>. Acesso em: 25 jun. 2016.
374
CÂMARA MUNICIPAL DE JUIZ DE FORA. Lei nº 13.029, de 24 de setembro de 2014. Dispõe
sobre a proibição do uso de máscaras e capuzes nas manifestações em repartições públicas
municipais e dá outras providências. Diário Regional, 25 set. 2014. Disponível em:
<http://www.camarajf.mg.gov.br>. Acesso em: 25 jun. 2016.
375
JUIZ DE FORA. Lei nº 13.175, de 21 de junho de 2015. Dispõe sobre a alteração da redação do
art. 1º da Lei n. 13.029, de 24 de setembro de 2014. Diário Oficial Eletrônico, 22 jul. 2015.
Disponível em: <http://www.jflegis.pjf.mg.gov.br>. Acesso em: 25 jun. 2016.
376
CÂMARA MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES. Com aprovação da CM vira lei a
proibição de máscaras em manifestações. Disponível em: <http://camaragv.mg.gov.br>. Acesso em:
25 jun. 2016.
377
USO de máscaras em manifestações é proibido em Três Corações. Marreta na Bigorna Website,
15 mar. 2014. Disponível em: <http://amarretanabigorna.blogspot.com.br>. Acesso em: 25 jun.
2016.
112
378
SOARES, Fabiana de Menezes. Legística e desenvolvimento: A qualidade da lei no quadro da
otimização de uma melhor legislação. Revista da Faculdade de Direito da UFMG, Belo Horizonte, n.
50. p. 124-142, jan./jul. 2007. p. 131.
379
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE GOIÁS. Processo nº 2013004177. Dispõe sobre a
proibição no âmbito do estado de Goiás do uso de máscaras em manifestações que impeçam a
identificação do usuário e dá outras providências. Data Autuação: 08/11/2013. Disponível em:
<http://al.go.leg.br>. Acesso em: 1º jul. 2016.
380
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Projeto de Lei nº 631, de 13 de
setembro de 2013. Assegura no Estado os direitos e garantias individuais e coletivos previstos nos
incisos IV e XVI do artigo 5º da Constituição Federal. Disponível em: <http://www.al.sp.gov.br>.
Acesso em: 24 jun. 2016.
381
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Projeto de Lei nº 50, de 12 de
fevereiro de 2014. Regulamenta, no âmbito do Estado, os direitos e deveres individuais e coletivos
que especifica. Parecer nº 1062, de 2014, de relator especial pela Comissão de Justiça e Redação.
Disponível em: <http://www.al.sp.gov.br>. Acesso em: 24 jun. 2016.
382
Entre os dois projetos foram insignificantes, no que tange o conteúdo, as alterações: onde se lia no
art. 1º “nos termos de que dispõe os incisos IV e XVI” passou a constar “nos termos dos incisos IV e
XVI”; onde se via no artigo 3º “A proibição constitucional de se portar” passou a ser “A proibição
constitucional de portar”, entre outras alterações semelhantes.
113
383
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Lei nº 15.556, de 29 de agosto de
2014. Restringe o uso de máscaras ou qualquer paramento que oculte o rosto da pessoa em
manifestações e reuniões, na forma que especifica, e dá providências correlatas. Diário Oficial
Estadual, 30 ago. 2014. Disponível em: <http://www.al.sp.gov.br>. Acesso em: 25 jun. 2016.
384
CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO PAULO. Projeto de Lei nº 567, de 12 de setembro de 2013.
Dispõe sobre a proibição do uso de máscaras e capuzes nas manifestações em próprios municipais.
Disponível em: <http://www.camara.sp.gov.br>. Acesso em: 25 jun. 2016.
385
SOARES, Fabiana de Menezes. Legística e desenvolvimento: A qualidade da lei no quadro da
otimização de uma melhor legislação. Revista da Faculdade de Direito da UFMG, Belo Horizonte, n.
50. p. 124-142, jan./jul. 2007. p. 137.
386
CÂMARA MUNICIPAL DE PIRACICABA. Projeto de Lei nº 417, de 12 de dezembro de 2013.
Proíbe o uso de máscara ou qualquer outra forma de ocultação da identidade do cidadão nas
manifestações públicas realizadas em próprios públicos municipais. Disponível em:
<http://www.camarapiracicaba.sp.gov.br>. Acesso em: 25 jun. 2016.
387
RIBEIRÃO PRETO. Lei nº 13.217, de 4 de abril de 2014. Dispõe sobre a proibição do uso de
máscaras e capuzes nas manifestações realizadas nas dependências da câmara municipal de
ribeirão preto e dá outras providências. Disponível em: <http://www.ribeiraopreto.sp.gov.br>. Acesso
em: 25 jun. 2016.
114
388
BARUERI. Lei nº 2.298, de 26 de novembro de 2013. "Proibição do uso de máscara, capuz e
bandeira nas manifestações em prédios municipais do município". Disponível em:
<https://leismunicipais.com.br/a/sp/b/barueri/lei-ordinaria/2013/230/2298/lei-ordinaria-n-2298-2013-
probicao-do-uso-de-mascara-capuz-e-bandeira-nas-manifestacoes-em-predios-municipais-do-
municipio>. Acesso em: 25 jun. 2016.
389
CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO. Projeto de Lei nº 268/2013. Proíbe os
cidadãos de utilizarem máscara ou qualquer meio capaz de ocultar o rosto com o propósito de
impedir sua identificação em manifestações públicas no Município de São José do Rio Preto.
Publicado em Jornal D’Hoje, em 15 jul. 2014. Disponível em:
<http://www.saojosedoriopreto.sp.leg.br>. Acesso em: 1º jul. 2016.
390
CÂMARA MUNICIPAL DE SOROCABA. Lei nº 10.809, de 7 de maio de 2014. Diário Oficial do
Município, 7 maio 2014. Disponível em: <http://www.camarasorocaba.sp.gov.br>. Acesso em: 1º jul.
2016.
115
previamente que prenderiam quem estivesse usando máscara, mesmo não existindo
lei sobre a proibição. Foi o caso, por exemplo, do Distrito Federal391 e do Recife.392
Portanto, o que se vê é que, nos meses seguintes aos grandes protestos que
marcaram a Copa das Confederações de 2013, houve intenso impulso legislativo no
sentido de proibição do uso de máscara e ocultamento do rosto durante
manifestações. Parcela considerável dos projetos apresentados foram cópias de
outros, não observaram diversos aspectos da legisprudência e foram aprovados sem
efetivo debate acerca do tema. Ademais, diversos elementos no processo de
aprovação das normas evidenciam que a preocupação não parece ter sido a
questão da segurança nas manifestações, mas apenas a produção de lei para
mostrar que os parlamentares não estavam inertes frente ao clamor público. Sobre
essa produção frenética de leis em nosso país, é pertinente o alerta de Letícia
Camila dos Santos, para quem:
391
ALENCASTRO, Catarina. Mascarados serão presos em manifestações de 7 de setembro em
Brasília. O Globo, Rio de Janeiro, 5 set. 2013. Disponível em: <http://oglobo.globo.com>. Acesso
em: 31 ago. 2015.
392
LINS, Letícia. Após confusão, Recife proíbe mascaras em protestos. O Globo, São Paulo, 22 ago.
2013. Disponível em: <http://oglobo.globo.com>. Acesso em: 31 ago. 2015.
393
SANTOS, Letícia Camila dos. Análise da decisão judicial no quadro da legisprudência: O diálogo
das fontes do direito. 2011. 173 f. Dissertação (Mestrado em Direito) – Faculdade de Direito,
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, 2011. p. 94.
116
[...] se a pessoa pratica o crime com o rosto coberto, isto constitui apenas
um meio de não ser identificado, para fugir à ação da Polícia, porém, os
valores protegidos são outros, como a integridade das pessoas e em
398
relação a isto o Código Penal já dispõe convenientemente.
400
CUNHA, Luana Magalhães de Araújo. O direito produto da notícia: a morte estampada nos jornais.
2014. Dissertação (Mestrado em Direito) – Faculdade de Direito, Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG), Belo Horizonte, 2014. p. 30.
401
Ibid.. p. 11
402
Dentre esses, 4 (quatro) fazem menção expressa ao nome do cinegrafista na justificativa do texto
normativo; preceitos de direito criminal também aparecem em 4 (quatro) dos projetos.
118
0
jul/13
set/13
nov/13
dez/13
jan/14
nov/14
fev/14
ago/13
out/13
mar/14
jun/14
jul/14
set/14
jan/15
fev/15
mar/15
abr/14
mai/14
ago/14
out/14
dez/14
Fonte: elaborado pelo autor, com dados da Câmara dos Deputados.
403
Art. 22, I, da CRFB/88.
404
BATISTA, Nilo. Introdução crítica ao direito penal brasileiro. 12. ed. rev. atual. Rio de Janeiro:
Renavam, 2011; ZAFFARONI, Eugênio Raúl. Em busca das penas perdidas: a perda de
legitimidade do sistema penal. Rio de Janeiro: Renavam, 1991.
405
FERRAJOLI, Luigi. Direito e Razão: teoria do garantismo penal. 4. ed. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2014. p. 434.
119
A fala de Marcos Rolim é também sustentada por pesquisa realizada por Luís
Wanderley Gazoto, que demonstrou que aproximadamente 80% das leis afetas ao
direito penal que surgiram no Congresso Nacional desde a criação do Código Penal
até o ano de 1998 criavam crimes, aumentavam penas ou restringiam direitos
penais, fenômeno denominado de populismo penal.408 Ao estudar essa postura do
legislador brasileiro, Gazoto afirma que “os únicos que obtêm vantagens com o
populismo penal são os políticos e aspirantes a políticos”.409
Em face do medo, em razão de circunstância em que se aflora a violência ou
em momentos nos quais essa é explorada pela mídia, alguns parlamentares
apressam-se em oferecer leis incriminadoras como solução no intuito de demonstrar
para a sociedade que não estão inertes. Se não houver resultado, a culpa passa a
ser da polícia, que não consegue prevenir, e do judiciário, que não mantém as
406
Na leitura dos projetos verifica-se que 11 (onze) criaram tipos ou contravenções penais, ou então
tornam condutas relativas a protestos como qualificadoras de crime ou causa de aumento de pena,
dando ensejo ao que comumente se denomina aumento do rigor penal; outros 02 (dois) projetos
realizam a interpretação autêntica ao estabelecerem que determinadas condutas durante protestos
caracterizam tipos penais já existentes; 01 projeto remete à possibilidade de responsabilização
criminal dos organizadores do evento em determinadas circunstâncias.
407
ROLIM, Marcos. A síndrome da rainha vermelha: Policiamento e segurança pública no século XXI.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006. p. 44.
408
GAZOTO, Luís Wanderley. Justificativas do Congresso Nacional Brasileiro ao rigor penal
legislativo: o estabelecimento do populismo penal no Brasil contemporâneo. 377 f. Tese (Doutorado
em Sociologia) – Instituto de Ciências Sociais, Departamento de Sociologia, Universidade de
Brasília (UnB), Brasília, 2010. p. 210.
409
Ibid.. p. 295.
120
pessoas no cárcere. Como o problema persiste, os motivos que legitimam o voto nos
candidatos que fazem da violência plataforma de campanha também continuam.
No caso das leis antimáscaras, o viés eleitoreiro parece saltar aos olhos
quando se observa o processo metajurídico de tramitação dos projetos. Por se tratar
de matéria idêntica ou correlata, 14 (quatorze) projetos foram apensados e
tramitavam conjuntamente, todavia, pelo menos 8 (oito) requerimentos foram
apresentados pelos autores dos projetos objetivando a desapensação.410 Se, por um
lado, tais ações podem ser tentativas de conferir celeridade à um projeto no qual se
acredita, por outro, pode ser uma repetição do que aconteceu nos estados e
municípios, onde surgiram elementos para se afirmar que os legisladores
preocupam-se com “suas próprias leis”, o que é sintomático do enfoque na
produtividade legislativa e não no efetivo debate acerca do tema.
Outra característica que se pode observar no contexto do impulso legislativo
decorrente das manifestações de 2013 é que, tanto integrantes da bancada do
governo, quanto da oposição, propuseram PL.411 Assim, outra vez mais, em regra
geral, parece que a divergência ideológica fica em segundo plano quando se discute
a criação de tipos penais ou enrijecimento de penas.
À conclusão semelhante chegou Ricardo Sontag quando estudou o perfil
ideológico-partidário entre os propositores de PL após os ataques do Primeiro
Comando da Capital (PCC) em São Paulo. Pelos dados analisados pelo autor, não
há grande distinção entre os partidos quando se trata de enrijecimento de penas:
“direita, esquerda, centro, todos apresentaram praticamente o mesmo nesse
tema”.412 Assim, a tendência geral parece ser a de não debater o projeto do
concorrente e materialmente propor a mesma pauta, além de poucos sinais de
preocupação efetiva e fundamentada com o fenômeno que se tenta regular.
Ao se analisar o conteúdo dos projetos, outras críticas afloram, como o
desprezo às noções de bem jurídico e lesividade que deveriam nortear o que deve e
o que não deve ser crime quando se propõe penalizar o uso de máscara sem que
410
Os requerimentos solicitavam diretamente a desapensação ou o desarquivamento do projeto que
não estavam arquivado, estavam apenas tramitando conjuntamente: 575/2015, 291/2015, 225/2015,
9686/2014, 101/2015, 527/2015, 8873/2013, 9686/2014.
411
Parlamentares dos seguintes partidos propuserem leis sobre a temática após os protestos de
2013: PR, PMDB, DEM, PP, PSDB, PSD, PSOL, PSC.
412
SONTAG, Ricardo. O excesso como medida: Os projetos de enrijecimento após os “ataques do
PCC” e a cultura punitiva contemporânea. Espaço Jurídico: Journal of Law, Chapecó, v. 8, n. 1. p.
47-60, 2007. p. 52.
121
essa conduta afete diretamente qualquer bem tutelado pelo Direito413. A tipificação
da conduta de usar máscara em protesto realiza o que se denomina crime de perigo
abstrato ou presumido, no qual há um resultado lesivo hipotético, tendo em vista que
a conduta carece de materialidade e, em si, não viola bem jurídico algum. Sobre
esses crimes, cabe ressaltar que a dogmática penal mantém certa reserva acerca de
sua constitucionalidade, pois, muitas das vezes, são apenas condutas-meio para
outros delitos.414
A leitura dos PL e suas justificativas ainda expõe assertivas que beiram as
aberrações jurídicas, como o reconhecimento manifesto da função meramente
simbólica do delito que se propõe criar, por exemplo, na justificativa do PL 6.614/13,
na qual se afirma:
Dessa forma, verifica-se que nos termos propostos não há uma diferença
muito grande entre os projetos surgidos no Congresso Nacional e os apresentados
nos municípios e estados. A ressalva deve ser feita para o conteúdo criminal, que
surge apenas no Congresso. Além disso, cabe mencionar que, nos projetos de lei
originados no Senado, há uma tendência a justificativas um pouco mais elaboradas,
com estudos de caso acerca do assunto a ser regulamentado e argumentos
técnicos-científicos, em que pese o resultado compartilhar o mesmo ímpeto
criminalizante.
Passados três anos da euforia legiferante,416 os diversos projetos no
Congresso Nacional ainda tramitam, o que evidencia a dificuldade de enfrentar o
problema, e que provavelmente o frenesi causado pelas máscaras passou. Pesquisa
jurídica pautada não no plano dogmático-normativo, mas sociologicamente, no que
de fato tem acontecido nas cidades e estados que aprovaram a proibição das
413
Proposta presente nos projetos de lei 6.198/13, 6.461/13 e 6.614/13.
414
FERRAJOLI, Luigi. Direito e Razão: teoria do garantismo penal. 4. ed. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2014. p. 438-439
415
BRASIL. Projeto de Lei nº 6.614/2013. Esta Lei proíbe a utilização de máscaras, capacete de
motociclista ou cobertura que impeça a identificação da pessoa durante manifestações públicas.
Disponível em: <http://www.camara.gov.br>. Acesso em: 25 jun. 2016.
416
Último acompanhamento realizado em 26 de junho de 2016.
122
Figura 13 - Protesto com pessoas com rostos tampados no Rio de Janeiro, um mês
após a proibição da conduta.
418
Fonte: Isabela Marinho.
417
HESPANHA, António Manuel. Pluralismo Jurídico e Direito Democrático. São Paulo: Annablume,
2013. p. 77.
418
MARINHO, Isabela. Protesto no Centro do Rio reivindica direito a manifestação. G1, 31 out. 2013.
Disponível em: <http://g1.globo.com>. Acesso em: 26 jun. 2016.
123
419
Fonte: André Lucas/C.H.O.C Documental
419
In: CONTRA a máfia da merenda, os estudantes de SP ocuparam o Centro Paulo Souza. Vice, 28
abr. 2016. Disponível em: <http://www.vice.com>. Acesso em: 26 jun. 2016.
124
421
Fonte: Nelson Antoine.
420
LOPES, Mônica Sette. Programa n. 346. Apresentadora: Mônica Sette Lopes. In: RÁDIO UFMG.
Direito é Música. Belo Horizonte: Rádio UFMG, 18 nov. 2014. Programa de rádio. Disponível em:
<www.radiojustica.jus.br>. Acesso em: 2 nov. 15.
421
ANTOINE, Nelson. In: PROTESTO em São Paulo. Folha de São Paulo, 26 out. 2013. Disponível
em: <http://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/20148-protesto-em-sao-paulo#foto-330236>. Acesso
em: 26 jun. 2016
125
422
MAGALHÃES, Fabiano Rosa de. Estratégias de Rua: manifestações político-sindicais do Sindicato
dos Bancários na Praça Sete de Belo Horizonte. 2008. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais)
– Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerais, Belo Horizonte, 2008. p. 88.
423
Ibid. p. 137.
424
Ibid.. p. 180.
425
Ibid.. p. 182.
426
Ibid.. p. 138.
427
US SUPREME COURT. National Socialist Party of America v. Village of Skokie 432 US 43 (1977).
Justia Website. Disponível em: <https://supreme.justia.com/cases/federal/us/432/43/case.html>.
Acesso em: 24 jun. 2016.
127
Em nossa casa, meu pai nunca dormia sem acordar várias vezes, em seus
sonhos matando nazistas, dizia ele. Minha mãe raramente dormia na cama,
ao contrário, sentava no escuro, no chão de nossa sala, espreitando para
fora da janela, como a manter uma vigília para perigos à frente. Minha irmã
e eu não éramos autorizados a tomar banho de chuveiros - apenas de
banheira - e me levou anos para entender o medo dos chuveiros de meus
430
pais.
428
WINKLER, Joe. When the nazis came to Skokie. Jewish Telegraphic Agency, 20 June 2013.
Disponível em: <http://www.jta.org/2013/06/20/news-opinion/the-telegraph/nazis-marching-through-
skokie>. Acesso em: 12 dez. 2015.
429
HOROWITZ, Irving Louis; BRAMSON, Victoria Curtis. Skokie, the ACLU and the endurance of
democratic theory. Law and Contemporary Problems, n. 43. p. 328-349, Spring 1979. Disponível em:
<http://scholarship.law.duke.edu/lcp/vol43/iss2/17/> Acesso em: 15 fev. 2016. p. 329.
430
No original: “In our house, my father never made it through a night's sleep without waking up
several times, in his dreams killing Nazis, he said. My mother rarely slept in bed, instead sitting in the
dark on our living room floor, peering out the window, as if keeping a vigil for dangers ahead. My
sister and I were not allowed to take showers — only baths — and it took me years to understand my
parents' fear of them.” (REICH, Howard. Reawakening the ghosts of Skokie. Chicago Tribune,
Entertainment, 16 Jan. 2013. Disponível em: <http://www.chicagotribune.com>. Acesso em: 12 dez.
2015.
431
ROHDE, Stephen F. Freedom of assembly. New York: Facts On File, 2005. p. 85.
128
432
No original: “[…] it would test whether constitutional rights belongs only to those who espouse
acceptable views or also to those who stand for things that are hateful and contrary to the deepest
held views of a majority of Americans.” (ROHDE, Stephen F. Freedom of assembly. New York: Facts
On File, 2005. p. 85).
433
Ibid., p. 85.
434
No original: “When someone wants to come marching into your town, with the announced intention
to kill you, there was hardly anything left to discuss.” (REICH, Howard. Reawakening the ghosts of
Skokie. Chicago Tribune, 16 Jan. 2013. Disponível em: <http://www.chicagotribune.com>. Acesso
em: 12 dez. 2015.
435
HOROWITZ, Irving Louis; BRAMSON, Victoria Curtis. Skokie, the ACLU and the endurance of
democratic theory. Law and Contemporary Problems, n. 43. p. 328-349, Spring 1979. Disponível em:
<http://scholarship.law.duke.edu/lcp/vol43/iss2/17/> Acesso em: 15 fev. 2016. p. 330.
129
436
Fonte: Victora Bekiempis.
[...] é preciso notar que os tribunais apenas resolvem uma ínfima parte de
todos os conflitos cuja resolução lhes é pedida. É preciso dar-se conta,
436
BEKIEMPIS, Victora. Why the ACLU is right to represent the Ku Klux Klan. The Guardian Website,
29 jun. 2012. Disponível em: <http://www.theguardian.com>. Acesso em: 23 jun. 2016.
130
também, que esses próprios conflitos apenas constituem uma ínfima parte
de todos os conflitos de interesses cuja resolução se possa conceber pedir
ao tribunal e uma parte ainda menor do conjunto de litígios que se
437
produzem na sociedade.
437
GALANTER, Marc. A justiça não se encontra apenas nas decisões dos tribunais. HESPANHA,
Antonio Manuel Hespanha. Justiça e Litigiosidade: história e prospectiva. Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian, 1993. p. 67.
438
Nome pelo qual ficaram conhecidas as manifestações que questionam a proibição dos derivados
da cannabis.
439
SÃO PAULO. Tribunal de Justiça. Mandado de Segurança 0103416-72.2009.8.26.0000
(990.09.103416-9). Relator: Maria Tereza do Amaral. São Paulo, 17 de mar. 2010. Disponível em:
<http://www.tjsp.jus.br>. Acesso em: 24 jun. 2016.
440
SÃO PAULO. Tribunal de Justiça. Mandado de Segurança 0235543-37.2010.8.26.0000
(990.10.235543-8). Relator: Sérgio Ribas. São Paulo, 22 de jul. 2010. Disponível em: <
https://www.tjsp.jus.br>. Acesso em: 24 jun. 2016.
441
ABOS, Márcia. Marcha da Maconha acaba em conflito com a Polícia Militar. O Globo Website, 21
jun. 2011. Disponível em: <http://oglobo.globo.com>. Acesso em: 24 jun. 2016.
442
Ver à frente, tópico 5.3, sobre a decisão do STF na ADPF nº 187.
443
TOMÉ, Pedro Ivo. Policiais e manifestantes entram em conflito, mas Marcha da Maconha segue.
Folha de São Paulo, 8 jun. 2013. Disponível em: <http://www.folha.uol.com.br >. Acesso em: 24 jun.
2016.
131
444
LOPES, Mônica Sette. A equidade e os poderes do juiz. Belo Horizonte: Del Rey, 1993. p. 29.
445
OLIVEIRA, Márcio Luís de. A Constituição juridicamente adequada: Transformações do
constitucionalismo e atualização principiológica dos direitos, garantias e deveres fundamentais. Belo
Horizonte: Arraes Editores, 2013. p. 141.
446
US SUPREME COURT. Marbury v. Madison, 5 US 137 (1803). Justia Website. Disponível em:
<https://supreme.justia.com/cases/federal/us/5/137/case.html>. Acesso em: 26 jun. 2016.
447
MENDES, Conrado Hübner. Controle de Constitucionalidade e Democracia. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2008. p. 14.
448
ROHDE, Stephen F. Freedom of assembly. New York: Facts On File, 2005. p. 3-7.
449
No original: “Congress shall make no law [...] or abridging the freedom of speech, or of the press;
or the right of the people peaceably to assemble [...]” (UNITED STATES. Constitution of United
States. Disponível em: <http://www.senate.gov/civics/constitution_item/constitution.htm>. Acesso
em: 29 abr. 2016)
450
Cf. entre outros, De Jonge v. Oregon 299 US 353 (1937), Hague v. Committee for Industrial
Organization 307 US 496 (1939), Thornhill v. Alabama 310 US 88 (1940), Cox v. Louisiana 379 US
536 (1965), Gregory v. City of Chicago 394 US 111 (1969), Police Department of the City of Chicago
132
luta pelos direitos civis nos Estados Unidos nas décadas de 60, 70 e 80 do século
XX.452 Nesse esquema teórico, os espaços públicos são divididos em três categorias
quanto à sua utilização costumeira. Os primeiros são os tradicionalmente
reconhecidos como fórum público (traditional public forums), como ruas, parques
abertos e passeios, nos quais o governo não pode restringir protestos com base no
conteúdo da fala, embora possa impor limites razoáveis de tempo, lugar e modo às
manifestações. A segunda categoria seria composta pelos lugares reconhecidos
como fóruns púbicos limitados (limited public forum), que são aqueles previamente
restritos, por exemplo, em horário ou propósito da atividade, como aeroportos,
lugares de reuniões das universidades e teatros municipais. Desde que abertos ao
público, mantêm-se os mesmos parâmetros da primeira categoria. Os lugares não-
públicos (nonpublic forum) estariam abarcados pelo terceiro tipo, caracterizando
aqueles que não são designados nem tradicionalmente utilizados para a liberdade
de expressão. Nestes, o governo pode fazer outras restrições além das anteriores,
de acordo com a finalidade do lugar se, por exemplo, a manifestação atrapalhar o
funcionamento regular do local.
Assim, os precedentes da Suprema Corte reconhecem a possibilidade de o
governo regular o uso dos lugares sob sua circunscrição, o que viabiliza a exigência
de autorização prévia para protestos em certos espaços, como o já mencionado
modelo de Nova Iorque, estudado por Lisa Keller.453
Em seus julgados, a corte constitucional americana busca estabelecer um
equilíbrio caso a caso entre o poder do Governo de intervir no direito de reunião e os
v. Mosley 408 US 92 (1972), Davis v. Massachusetts 167 US 43 (1897), Cornelius v. NAACP Legal
Defense & Education Fund, Inc. 473 US 788 (1985).
451
Cf., entre outros, SNYDER, John V. Forum over substance: Cornelius v. NAACP Legal Defense &
Education Found. Catholic University Law Review, v. 35, i. 1. p. 307-333, Fall 1985; McPHAIL, Clark;
SCHWEINGRUBER, David; McCARTHY, John. Policing Protest in the United States: 1960-1995.
DELLA PORTA, Donatella; REITER, Herbert. (Org). Policing protest: The control of mass
demonstrations in western democracies. Minneapolis: University of Minnesota Press; DELLA
PORTA, Donatella; REITER, Herbert. (Org). Policing protest: The control of mass demonstrations in
western democracies. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1998; INAZU, John D. The First
Amendment’s public forum. William & Mary Law Review, v. 56, i. 4. p. 1159-1197, 2015. Disponível
em: <http://scholarship.law.wm.edu/wmlr/vol56/iss4/5>. Acesso em: 22 fev. 2016.
452
McPHAIL, Clark; SCHWEINGRUBER, David; McCARTHY, John. Policing Protest in the United
States: 1960-1995. DELLA PORTA, Donatella; REITER, Herbert. (Org). Policing protest: The control
of mass demonstrations in western democracies. Minneapolis: University of Minnesota Press;
DELLA PORTA, Donatella; REITER, Herbert. (Org). Policing protest: The control of mass
demonstrations in western democracies. Minneapolis: University of Minnesota Press. p. 57.
453
KELLER, Lisa. Triumph of order: Democracy & public space in New York and London. New York:
Columbia University Press, 2009.
133
Em uma visão geral, pode-se afirmar que há uma especial consideração com
a liberdade de expressão, como visto no caso da manifestação neonazista relatada
anteriormente. Nesse sentido, a Suprema Corte deixa expressa a inadmissibilidade
de restrições baseadas no conteúdo das mensagens. Em alguns casos, a corte
decidiu se a fundamentação do Governo para restringir a reunião se baseou de fato
na doutrina do fórum público ou se, por trás da aparente justificativa, ocorreu uma
restrição à liberdade de expressão, como no caso Brown v. Louisiana455. Nesse
precedente, cinco jovens foram presos quando faziam um protesto silencioso na sala
de leitura de uma biblioteca pública. A Corte considerou que, apesar de o local não
ser tradicionalmente utilizado como fórum público, o que legitimaria a restrição, o
protesto simbólico foi proibido porque os jovens eram negros, já que a utilização do
espaço foi realizada em conformidade com seu uso habitual, silenciosamente.
Julgados como este mostram que, apesar de ser instrumento para analisar se há ou
não uma violação do direito de reunião, o modelo do fórum público não é isento de
riscos. Como demonstra John Inazu, é possível esvaziar a própria ideia de protesto
utilizando argumentos a partir das restrições de tempo, lugar e modo.456
Mesmo após os anos 80, a Suprema Corte continuou detalhando sua
jurisprudência sobre o direito de reunião. Para citar apenas dois casos, em Hurley
454
No original: “[...] a device used to evaluate the constitutionality of regulating expressive activity on
government property by balancing the mandates of the first amendment against the government’s
power to restrict the use of property to its intended purpose. Under forum analysis, the government’s
power to regulate speech depends largely on the degree to which that speech would interfere with
the use the government intends for the forum property and the public and nonpublic nature of
property.” (SNYDER, John V. Forum over substance: Cornelius v. NAACP Legal Defense &
Education Found. Catholic University Law Review, v. 35, i. 1. p. 307-333, Fall 1985. p. 308)
455
US SUPREME COURT. Brown v. Louisiana 383 US 131 (1966). Justia Website. Disponível em:
<https://supreme.justia.com/cases/federal/us/383/131/>. Acesso em: 24 jun. 2016.
456
INAZU, John D. The First Amendment’s public forum. William & Mary Law Review, v. 56, i. 4. p.
1159-1197, 2015. Disponível em: <http://scholarship.law.wm.edu/wmlr/vol56/iss4/5>. Acesso em: 22
fev. 2016. p. 1180-1182.
134
vs. Irish-American Gay, Lesbian and Bisexual Group457 a Corte decidiu que os
organizadores de uma marcha podem recusar a participação de pessoas em seus
protestos; e, no Hill v. Colorado,458 manifestantes contrários ao aborto foram
proibidos de permanecer no passeio de uma clínica que realiza o procedimento,
apesar do local ser considerado fórum público.
Portanto, de um modo geral, a jurisprudência da Suprema Corte Americana
indica que são possíveis restrições ao direito de reunião por parte de autoridades
públicas no que concerne a duração/horário, ao local e aos meios utilizados pelos
manifestantes, proibindo apenas limitações quanto ao conteúdo das manifestações.
457
US SUPREME COURT. Hurley v. Irish-American Gay, Lesbian & Bisexual Group of Boston, Inc.
515 US 557 (1995). Justia Website. Disponível em:
<https://supreme.justia.com/cases/federal/us/515/557/case.html>. Acesso em: 24 jun. 2016.
458
US SUPREME COURT. Hill v. Colorado 530 US 703 (2000). Justia Website. Disponível em:
<https://supreme.justia.com/cases/federal/us/530/703/case.html>. Acesso em: 24 jun. 2016.
459
LIMA, Luciano Mendonça de. Quebra-Quilos: uma revolta popular na periferia do império. In:
DANTAS, Mônica Duarte (Org.). Revoltas, motins, revoluções: Homens livres, pobres e libertos no
Brasil do século XIX. São Paulo: Alameda, 2011. p. 449-483.
460
Ibid.. p. 454.
461
LIMA, Luciano Mendonça de. Quebra-Quilos: uma revolta popular na periferia do império. In:
DANTAS, Mônica Duarte (Org.). Revoltas, motins, revoluções: Homens livres, pobres e libertos no
Brasil do século XIX. São Paulo: Alameda, 2011. p. 456.
135
462
Ibid.. p. 459.
463
Ibid.. p. 457.
464
Ibid.. p. 462.
465
Ibid.. p. 462.
136
466
LIMA, Luciano Mendonça de. Quebra-Quilos: uma revolta popular na periferia do império. In:
DANTAS, Mônica Duarte (Org.). Revoltas, motins, revoluções: Homens livres, pobres e libertos no
Brasil do século XIX. São Paulo: Alameda, 2011. p. 462-467.
467
Ibid.. p. 453, 452, 468.
468
Ibid.. p. 469.
469
ALMEIDA, Fernando Dias Menezes de. Liberdade de reunião. São Paulo: Max Limonad, 2001. p.
291-292.
137
470
REPOLÊS, Maria Fernanda Salcedo. Quem deve ser o Guardião da Constituição? Do Poder
Moderador ao Supremo Tribunal Federal. Belo Horizonte: Mandamentos, 2008. p. 89-91.
138
471
“Art. 100. Compete Privativamente ao Governador do Distrito Federal: [...] VII – sancionar,
promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel
execução” (DISTRITO FEDERAL. Lei Orgânica do Distrito Federal, de 8 de junho de 1993. Diário
Oficial do Distrito Federal, 9 jun. 1993. Disponível em: <http://www.senado.leg.br>. Acesso em: 24
jun. 2016)
472 o
“Art. 1 – Fica vedada a realização de qualquer manifestação pública, exceto as de caráter cívico-
militar, religioso e cultural, nos locais a seguir descritos: I – Praça dos Três Poderes; Esplanada dos
o
Ministérios; Praça do Buriti. Art. 2 – Este decreto entra em vigor na data de sua publicação”
(DISTRITO FEDERAL. Decreto nº 20.007, de 14 de janeiro de 1999. Disciplina as manifestações
públicas em locais que menciona. Diário Oficial do Distrito Federal, 15 jan. 1999. Disponível em:
<http://www.tc.df.gov.br>. Acesso em: 24 jun. 2016)
473 o
“Considerando que o disposto no art. 5 , XVI, da Constituição Federal há que ser exercitado em
conjunto com a legislação infraconstitucional; Considerando, também, que a questão da livre
reunião merece um disciplinamento, de molde a que esteja sempre presente o respeito mútuo, sem
que seja agredido os postulados básicos da democracia; Considerando, finalmente, que o Decreto
n. 20.007, de 14 de janeiro de 1999, está a merecer uma revisão para que se possa adequá-la aos
ditames dos supracitados considerandos” (DISTRITO FEDERAL. Decreto nº 20.010, de 20 de
janeiro de 1999. Disciplina as manifestações públicas em locais que menciona. Diário Oficial do
Distrito Federal, 21 jan. 1999. Disponível em: <http://www.tc.df.gov.br>. Acesso em: 24 jun. 2016)
474 o
“Art. 1 – Fica vedada, com a utilização de carro de som ou assemelhados, a realização de
manifestações públicas, nos locais abaixo descriminados: I – Praça dos Três Poderes; II –
o
Esplanada dos Ministérios; III – Praça do buriti. Art. 2 – Este decreto entra em vigor na data de sua
publicação” (DISTRITO FEDERAL. Decreto nº 20.010, de 20 de janeiro de 1999. Disciplina as
manifestações públicas em locais que menciona. Diário Oficial do Distrito Federal, 21 jan. 1999.
Disponível em: <http://www.tc.df.gov.br>. Acesso em: 24 jun. 2016)
139
475 o
“Art. 1 – Fica vedada a realização de manifestações públicas, com a utilização de carros,
aparelhos e objetos sonoros na Praça dos Três Poderes, Esplanada dos Ministérios e Praça do
buriti e vias adjacentes.” (DISTRITO FEDERAL. Decreto nº 20.098, de 15 de março de 1999.
Disciplina as manifestações públicas em locais que menciona. Diário Oficial do Distrito Federal, 16
mar. 1999. Disponível em: <http://www.tc.df.gov.br>. Acesso em: 24 jun. 2016)
476
“A chamada Constituição cidadã, promulgada em 1988, na senda aberta pelas cartas anteriores,
o
ao mesmo tempo em que garantiu a liberdade de reunião, no art. 5 , XVI, estabeleceu, no próprio
texto magno, de forma parcimoniosa, os limites e condições para o seu exercício, quais sejam,
‘reunir-se pacificamente’, ‘sem armas’, ‘que não frustrem outra reunião anteriormente convocada
para o mesmo local’ e o ‘prévio aviso à autoridade competente’.” (BRASIL. Supremo Tribunal
Federal. ADI nº 1.969-4/DF. Voto do Relator, Min. Ricardo Lewandowski, Tribunal Pleno, julgado em
28/06/2007, DJe-092 public 31-08-2007. Disponível em: <http://www.stf.jus.br>. Acesso em: 24 jun.
2016. p. 376-377)
477
“Não se ignora, é verdade, que a liberdade de reunião não é um direito absoluto. Nenhum direito,
aliás, o é. Até mesmo os direitos havidos como fundamentais encontram limites explícitos e
implícitos no texto das constituições” (Ibid.. p. 377)
478
“Ora, certo que uma manifestação sonora nas imediações de hospitais afetaria a tranquilidade
necessária a esse tipo de ambiente, podendo, até mesmo causar prejuízo irreparáveis aos
pacientes. Ter-se-ia, nesse caso, uma hipótese de colisão entre direitos fundamentais, na qual o
direito dos pacientes à recuperação da saúde certamente prevaleceria sobre o direito de reunião
140
análise, proibir os carros de som nas praças mencionadas seria o mesmo que proibir
as próprias manifestações.479 Lewandowski também menciona a comunicação à
autoridade competente prevista na Constituição, que serve para que a administração
pública possa se organizar de modo a não deixar que as manifestações inviabilizem
o fluxo de pessoas e veículos.480 Por fim, votou pela inconstitucionalidade do
decreto, cuja restrição havia sido inadequada, desnecessária e desproporcional face
à vontade da Constituição.481
O Ministro Eros Grau, por sua vez, afirmou que há uma inconstitucionalidade
formal no decreto, o que prejudica considerações sobre o mérito. Para esse ministro,
o direito de reunião poderia até ser regulamentado, mas apenas por lei, jamais por
ato normativo do Executivo.482
O ministro Celso de Melo em oito folhas discute a legitimidade de um dos
requerentes para a ADI, em um parágrafo parabeniza o relator, em três fala da
importância do direito de reunião e num último parágrafo acompanha o voto do
Lewandowski. Por sua vez, o ministro Ayres Brito entendeu que o próprio inciso XVI
do art. 5º já indicaria todas as condições para seu exercício.483 O ministro Cezar
Peluso, sem tecer considerações, acompanhou o relator.
com tais características. Numa situação como essa, a restrição ao uso de carros, aparelhos e
objetos sonoros mostrar-se-ia perfeitamente razoável” (Ibid.. p. 378)
479
“Na verdade, o Decreto distrital 20.098/99 simplesmente inviabiliza a liberdade de reunião e de
manifestação [...] Proibir a utilização ‘de carros, aparelhos e objetos sonoros’, nesse e em outros
espaços públicos que o Decreto vergastado discrimina, inviabilizaria por completo a livre expressão
do pensamento nas reuniões levadas a efeito nesses locais, porque as tornaria emudecidas, sem
qualquer eficácia para os propósitos pretendidos” (Ibid.. p. 379)
480
“Ademais, analisando-se a questão sob uma ótica pragmática, cumpre considerar que as reuniões
devem ser, segundo a dicção constitucional previamente comunicadas às autoridades competentes,
que haverão de organizá-las de modo a não inviabilizar o fluxo de pessoas e veículos pelas vias
públicas” (Ibid.. p. 380)
481
“A restrição ao direito de reunião estabelecida pelo Decreto distrital 20.098/99, a toda evidência,
mostra-se inadequada, desnecessária, e desproporcional quando confrontada com a vontade da
Constituição (Wille zur Verfassung), que é, no caso presente caso, a permitir que todos os cidadãos
possam reunir-se pacificamente para fins lícitos, expressando as suas opiniões livremente” (Ibid.. p.
381-382)
482
“O direito de reunião pode até ser regulamentado, mas não pode decreto, só por lei. Com relação
aos aspectos materiais, reservo-me de qualquer consideração. A razão fundamental que me leva a
votar pela inconstitucionalidade é não haver sentido na regulação da matéria por um decerto. Há
inconstitucionalidade formal, que prejudica a consideração sobre o aspecto material.” (BRASIL.
Supremo Tribunal Federal. ADI nº 1.969-4/DF. Inteiro Teor. Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
Tribunal Pleno, julgado em 28/06/2007, DJe-092 public 31-08-2007. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br>. Acesso em: 24 jun. 2016. p. 383)
483
“Relativamente à matéria, a Constituição brasileira é tão enfática e comprometida com a liberdade
de reunião, que chega a ser regulamentar. Num dispositivo de eficácia plena, quanto ao seu teor de
normatividade, ela não só consagra o direito de reunião como também, por conta própria, indica
todas as condições para o exercício desse direito.” (Ibid.. p. 394)
141
489
Autores como Luís Roberto Barroso apontam uma postura maximalista, ou ativismo judicial, da
corte constitucional brasileira, tanto em razão da extensão quanto do volume de decisões. Para ele,
o desenho constitucional brasileiro privilegia a centralidade do papel da jurisdição. Isso ocorre em
razão de uma convergência de fatores tais como: a presença do controle concentrado e difuso de
constitucionalidade simultaneamente; a constitucionalização abrangente, seguindo os modelos de
Portugal (1976) e Espanha (1978), no qual diversos conteúdos antes deixados for a, foram incluídos
nas constituições, dando ensejo a um texto analítico e ambicioso; expansão institucional do
Ministério Público para além da área estritamente penal; presença crescente da Defensoria Pública
em diferentes partes do Brasil. (BARROSO, Luís Roberto. Judicialização, Ativismo judicial e
legitimidade democrática. Revista Eletrônica de Direito do Estado, Salvador, n. 18, abr./maio/jun.
2009. p. 1-2)
490
FERNANDES, Bernardo Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. 5. ed. rev. ampl. e atual. São
Paulo: JusPodivm, 2013. p. 206.
491
SUNSTEIN, Cass Robert. One case at a time: Judicial minimalism on the Supreme Court.
Cambridge: Harvard University Press, 2001. p. 61.
492
Cf. FERRAZ JUNIOR. op. cit., 2015. FERRAZ JR, Tércio Sampaio. A Ciência do Direito. 3. ed. São
Paulo: Atlas, 2014.
143
493
HESPANHA, António Manuel. Pluralismo Jurídico e Direito Democrático. São Paulo: Annablume,
2013. p. 209.
494
AVRITZER, Leonardo. Os impasses da democracia no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2016. p. 7-8.
144
Além disso, a casa na qual viviam foi considerada bem público em sentido
amplo e não um simples imóvel privado, mesmo a Chefe do Executivo não residindo
no Palácio do Piratini, moradia oficial do ocupante do cargo. Cabe destacar ainda
que o Tribunal considerou que a falta de prévio aviso não tornaria ilícito o ato e que
o fato de os familiares terem conseguido se deslocar após a chegada da Brigada
Militar (BM) fez com que não tenha ocorrido impedimento à liberdade de ir e vir.495
496
Fonte: Ronaldo Bernardi.
498
MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça. Justiça determina que PM não impeça manifestações contra
a Copa do Mundo, 25 jun. 2014. Disponível em: <http://www.tjmg.jus.br>. Acesso em: 16 maio 2016.
499
CARMONA, Bruna; ZSCHABER, Laura. Cerco da PM a manifestantes pode virar guerra de
liminares. O Tempo, 26 jun. 2014. Disponível em: <http://www.otempo.com.br>. Acesso em: 26 jun.
2016.
500
MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça. Liminar que restringia atuação da polícia em manifestações é
suspensa, 26 jun. 2014. Disponível em: <http://www.tjmg.jus.br/portal/imprensa/noticias/justica-
determina-que-pm-nao-impeca-manifestacoes-contra-a-copa-do-mundo-1.htm#.V3hYEq5K6_0>.
Acesso em: 16 maio 2016.
501 a
MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça. Mandado de Segurança 1874933-91.2014.8.13.0024, 7
Fazenda Estadual. Disponível em: <http://www.tjmg.jus.br>. Acesso em 20 jun. 2016
502
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. São Paulo. Síntese. Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/estadosat/perfil.php?sigla=sp>. Acesso em: 1º jul. 2016.
503
ALMEIDA, Fernando Dias Menezes de. op. cit.,. p. 288.
146
504
SAINT-EXUPÉRY, Antoine. Terra dos Homens. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015. p. 63.
505
ALMEIDA, op. cit., p. 289.
506
SÃO PAULO. Tribunal de Justiça. Apelação 570.835-4/8. Relator Desembargador Ênio Santarelli
Zuliani. São Paulo, 25 de jun. 2009. Disponível em: <https://www.tjsp.jus.br>. Acesso em: 2 jun.
2015.
507
SÃO PAULO. Ministério Público do Estado de São Paulo. Apelação Cível com Pedido de
Antecipação de Tutela s/n. Promotor Maurício Antônio Ribeiro Lopes. São Paulo, 10 de jul. 2014.
Disponível em:
<http://www.mpsp.mp.br/portal/pls/portal/!PORTAL.wwpob_page.show?_docname=2467164.PDF>.
Acesso em: 2 jun. 2015.
508
Em São Paulo os protestos são regulamentados pela Lei Municipal nº 12.151/96, combinada com
Decreto nº 36.767/97. A Avenida Paulista possui regulamentação específica por meio da Lei
Municipal nº 12.153/96 e do Decreto Regulamentador nº 36.329/96. Além da legislação pertinente,
há recomendações formais da Secretaria de Segurança Pública estadual, que orienta a Polícia a
não permitir manifestações na Avenida Paulista que invadam o leito carroçável e perturbem o
trânsito (PIGNATARI, Marcelo da Silva. Gestão Estratégica para Atuação da Polícia Militar em
Manifestações Públicas. Tese. Doutorado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública.
Polícia Militar do Estado de São Paulo / Centro de Altos Estudos de Segurança - CAES “Cel PM
Nelson Freire Terra”. São Paulo, 2012. p. 75)
147
509
SÃO PAULO. Tribunal de Justiça. Apelação Cível 9158154-90.2005.8.26.0000. Relator
Desembargador Milton Carvalho. São Paulo, 9 de nov. 2011b. Disponível em:
<https://www.tjsp.jus.br>. Acesso em: 2 jun. 2015.
510
SÃO PAULO. Tribunal de Justiça. Apelação Cível 129.040.4/8. Relator Desembargador Ruiter
Oliva. São Paulo, 6 de ago. 2002. Disponível em: <https://www.tjsp.jus.br>. Acesso em: 2 jun. 2015.
511
Ver Capítulo 3.3 quando foi discutido a concorrência de direitos fundamentais.
512
Art. 95. Nenhuma obra ou evento que possa perturbar ou interromper a livre circulação de veículos
e pedestres, ou colocar em risco sua segurança, será iniciada sem permissão prévia do órgão ou
entidade de trânsito com circunscrição sobre a via. § 1º A obrigação de sinalizar é do responsável
pela execução ou manutenção da obra ou do evento. § 2º Salvo em casos de emergência, a
autoridade de trânsito com circunscrição sobre a via avisará a comunidade, por intermédio dos
meios de comunicação social, com quarenta e oito horas de antecedência, de qualquer interdição
da via, indicando-se os caminhos alternativos a serem utilizados. 3º A inobservância do disposto
neste artigo será punida com multa que varia entre cinqüenta e trezentas UFIR, independentemente
148
município teria indeferido o pedido dos organizadores por causa da duração e lugar
escolhidos, solicitando a estes a realização do evento em dia e horário de menor
fluxo de pedestres e veículos. O acórdão que decidiu pela aplicação do CTB
menciona o conflito de direitos constitucionais:
das cominações cíveis e penais cabíveis. § 4º Ao servidor público responsável pela inobservância
de qualquer das normas previstas neste e nos arts. 93 e 94, a autoridade de trânsito aplicará multa
diária na base de cinqüenta por cento do dia de vencimento ou remuneração devida enquanto
permanecer a irregularidade. (BRASIL. Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997. Institui o Código
de Trânsito Brasileiro. Diário Oficial da União, 24 set. 1997. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 24 jun. 2016.)
513
SÃO PAULO. Tribunal de Justiça. Apelação Cível 074.432-0/8-00. Relator Desembargador Álvaro
Lazzarini. São Paulo, 7 de jun. 2001. Disponível em: <https://www.tjsp.jus.br>. Acesso em: 2 jun.
2015. p. 4.
514
SÃO PAULO. Tribunal de Justiça. Agravo de Instrumento 607.853-5/6-00. Relator
Desembargadora Teresa Ramos Marques. São Paulo, 12 de mar. 2007. p. 3. Disponível em:
<https:// www.tjsp.jus.br >. Acesso em: 2 jun. 2015.
515
SÃO PAULO. Tribunal de Justiça. Agravo de Instrumento 2142035-27.2015.8.26.0000. Relator
Desembargador Rubens Rihl. São Paulo, 16 de set. 2015. Disponível em: <https:// www.tjsp.jus.br
>. Acesso em: 22 jan. 2016.
149
518
Sobre os protestos de 2013 no Brasil confira o Capítulo 4.
519
APESAR de decisão judicial, protesto na free way está mantido. Diário de Cachoeirinha, Região,
20 nov. 2015. Disponível em: <http://www.diariocachoeirinha.com.br>. Acesso em: 15 de jan. 2015.
151
520
INAZU, John D. Liberty’s Refuge: The forgotten freedom of assembly. New Haven: Yale University
Press, 2012. p. 31 e 36.
521
A Cronologia dos fatos pode ser encontrada, entre outros lugares, nos sites dos jornais Domínio
Público, do El País ou na obra de Manuel Castells (CASTELLS, Manuel. Redes de indignação e
esperança: movimentos sociais na era da internet. Rio de Janeiro: Zahar, 2013. p. 198-206).
522
O movimento por vezes é referido como “Indignados”, em virtude do livro “Indignai-vos”, de
Stéphane Hessel, e também por Spanish Revolution.
523
CRONOLOGÍA de la acampada ‘indignada’ en la Puerta del Sol. Diario Público, Cuaderno
Actualidad, 31 maio 2011. Disponível em: <http://www.publico.es/actualidad/cronologia-acampada-
indignada-puerta-del.html>. Acesso em: 31 ago. 2015.
524
CASTELLS, Manuel. op. cit., p. 198.
152
525
ESPANHA. Ley Orgánica 5/1985, de 19 de junio, del Régimen Electoral General. BOE-A-1985-
11672. Disponível em: <https://www.boe.es/buscar/doc.php?id=BOE-A-1985-11672>. Acesso em:
24 jun. 2016.
526
CRONOLOGÍA… op. cit.
527
No original: “Acuerda: comunicar a todas las Juntas Electorales así como al Abogado General del
Estado que las concentraciones y reuniones a las que se refieren las consultas elevadas a esta
Junta son contrarias a la legislación electoral desde las cero horas del sábado 21 de mayo hasta las
24 horas del domingo 22 de mayo de 2011 y en consecuencia no podrán celebrarse.” (ESPAÑA.
Junta Electoral Central. Ley Orgánica 5/1985, de 19 de Junio. Del régimen electoral general.
Disponível em: <http://www.juntaelectoralcentral.es/cs/jec/loreg>. Acesso em: 14 mar. 2016,
tradução nossa.
528
Manuel Castells diz que o Tribunal Constitucional declarou a constitucionalidade dos protestos,
sem mencionar a fonte ou em qual precedente. Consultas em noticiários e no site do próprio tribunal
não localizaram a referida decisão. (CASTELLS, op. cit., p. 199) Lluís Aguiló Lúcia afirma que
durante os atos alguns jornais equivocadamente divulgaram que o Alto Tribunal teria declarado a
constitucionalidade dos protestos que estavam acontecendo (LÚCIA, Lluis Aguiló. Sobre el acuerdo
de la Junta Electoral Central de 19 de mayo de 2011 y el Movimiento 15M. Cuadernos Manuel
Giménez Abad, n. 2. p. 65-70, Dic. 2011. p. 67). Portanto, acredita-se que Castells tenha baseado
sua fala nessas notícias inverídicas. (ELOLA, Joseba. La carga policial desata la indignación en
Barcelona. El País, España, Cuaderno Politica, 27 May 2011. Disponível em:
153
532
Fonte: Álvaro Garcia.
533
BELAZA, Mónica Ceberio; GONZÁLEZ, Migual. Interior descarta el desalojo del Sol. El País,
España, 21 May 2011. Disponível em: <http://elpais.com>. Acesso em: 14 mar. 2016.
534
No original: “no existe democracia si no se cumplen las leyes” (RUBALCABA: ‘La Policía sabe lo
que tiene que hacer’. El Mundo, Cuaderno Elecciones 2011, 20 Abr. 2011. Disponível em:
<http://www.elmundo.es/elmundo/2011/05/20/espana/1305886042.html>. Acesso em: 30 maio
2016.)
535
No original: “la policía no crea problemas, los resuelve. Veremos los acontecimientos y, en función
de ellos, la policía tomará sus decisiones” (RUBALCABA: ‘La Policía sabe lo que tiene que hacer’. El
Mundo, Cuaderno Elecciones 2011, 20 Abr. 2011. Disponível em:
<http://www.elmundo.es/elmundo/2011/05/20/espana/1305886042.html>. Acesso em: 30 maio
2016.)
536
ibid.,
537
SUNSTEIN, Cass Robert; VERMEULE, Adrian. Interpretation and institutions. University of
Chicago Law and Economics Working Paper, n. 156, 2nd series, Chicago, 2002. p. 2.
155
Como vamos insistir, debates sobre interpretação jurídica não podem ser
sensivelmente resolvidos sem atenções a essas capacidades. A questão
central não é ‘como, em princípio, pode um texto ser interpretado?’ A
questão é ao contrário ‘como podem certas instituições, com suas distintivas
538
habilidades e limitações, interpretar certos textos?’ (tradução nossa)
538
No original: “As we shall urge, debates over legal interpretation cannot be sensibly resolved without
attention to those capacities. The central question is not “how, in principle, should a text be
interpreted?” The question instead is “how should certain institutions, with their distinctive abilities
and limitations, interpret certain texts?” (SUNSTEIN, Cass Robert; VERMEULE, Adrian.
Interpretation and institutions. University of Chicago Law and Economics Working Paper, n. 156, 2nd
series, Chicago, 2002. p. 2.
539
DELLA PORTA, Donatella; REITER, Herbert. The policing of protest in western democracies. In:
DELLA PORTA, Donatella; REITER, Herbert. (Org). Policing protest: The control of mass
demonstrations in western democracies. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1998. p. 9-10.
540
LOPES, Mônica Sette. A equidade e os poderes do juiz. Belo Horizonte: Del Rey, 1993. p. 110.
541
Sobre a Revolta da Vacina, cf. capítulo 4.
156
542
LARENZ, Karl. Metodologia da Ciência do Direito. 7. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian,
2014. p. 391.
158
543
MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça. Cautelar Inominada n. 1.0000.13.041148-1/000, de 13 de
jun. 2013. Cautelar Inominada. Relator Desembargador Barros Levenhagen. Belo Horizonte,
Disponível em: <http://www.agenciaminas.mg.gov.br/media/uploads/2013/06/14/decisao-tjmg -
copa.pdf>. Acesso em: 29 set. 2013.
544
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Rcl 15887, Relator(a): Min. LUIZ FUX, julgado em 19/06/2013,
publicado em processo eletrônico DJe-120 DIVULG 21/06/2013 PUBLIC 24/06/2013. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br>. Acesso em: 24 jun. 2016.
159
6 OS CONFLITOS E A POLÍCIA
O direito não é mero pensamento, mas sim força viva. Por isso, a Justiça
segura, numa das mãos, a balança, com a qual pesa o direito, e na outra a
espada, com a qual a defende. A espada sem a balança é a força bruta, a
balança sem a espada é fraqueza do direito. Ambas se completam e o
verdadeiro estado de direito só existe onde a força, com a qual a Justiça
547
empunha a espada, usa a mesma destreza com que maneja a balança.
547
IHERING, Rudolf von. A luta pelo direito. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1998. p. 27.
548
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. 500 Anos de Direito Administrativo Brasileiro. Revista Diálogo
Jurídico, CAJ – Centro de Atualização Jurídica, Salvador, Bahia, n. 10, jan. 2002. Disponível em:
<http://www.direitopublico.com.br>. Acesso em 4 abr. 2016. p. 19.
549
ROULAND, Norbert. Nos confins do direito. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2008. p. 159.
161
550
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de
1988. Diário Oficial da União, 5 out. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em:
16 jun. 2016.
551
BRASIL. Decreto nº 88.777, de 30 de setembro de 1983. Aprova o regulamento para as polícias
militares e corpos de bombeiros militares (R-200). Diário Oficial da União, 4 out. 1983. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 16 jun. 2016.
552
Cf., entre outros, EMSLEY, Clive. The History of Crime and Crime Control Institutions. In:
MAGUIRE, Mike; MORGAN, Rod; REINER, Robert (Coords.). The Oxford Handbook of Criminology.
2nd. Oxford: Oxford University Press, 1997. p. 57-86; MONET, Jean-Claude. Polícias e Sociedades
na Europa. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006; BAYLEY, David H. Padrões de
Policiamento. 2. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006; COTTA, Francis
Albert. Breve História da Polícia Militar de Minas Gerais. Belo Horizonte: Crisálida, 2006;
MONJARDET, Dominique. O que Faz a Polícia: sociologia da força pública. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo, 2012.
553
Cf. entre outros, SULOCKI, Victória-Amália de Barros Carvalho G. de. Segurança pública e
democracia: Aspectos constitucionais das políticas de segurança pública. Rio de Janeiro: Lumen
162
Juris, 2007. p. 63; COTTA, Francis Albert. Matrizes do sistema policial brasileiro. Belo Horizonte:
Crisálida, 2012. p. 58.
554
COTTA, op. cit., 2012. p. 51
555
CARVALHO, Keila Auxiliadora de. Colônia Santa Izabel: a lepra e o isolamento em Minas Gerais
(1920-1960). 2012. Tese (Doutorado em História) – Instituto de Ciências Humanas e Filosofia,
Universidade Federal Fluminense (UFF), Niterói, 2012.
556
BÍBLIA. Números, 12.
557
CARVALHO, op. cit..
558
Ibid., p. 62.
163
próximos de seus familiares. Nos arredores dos doentes da Colônia Santa Izabel em
Betim surgiu uma vila chamada Saúde, mais tarde rebatizada de Citrolândia.559
Se o passado evidencia a formação a partir de políticas sanitárias
excludentes, o presente e o futuro parecem não reservar horizontes muito distintos
para a região. Localizada às margens da BR-381 e da riqueza que nela viaja entre
BH e São Paulo, os moradores sofrem, entre outras carências, com a falta de
passarelas. Idosos e crianças são as vítimas mais frequentes dos constantes
atropelamentos. Em 2010, numa sexta-feira como outra qualquer, mais uma criança
morreu atropelada enquanto tentava ir de um lado para o outro da rodovia. A
segunda em um curto intervalo de dias segundo relato dos moradores.
Após tantos casos e histórias semelhantes, a tristeza veio acompanhada de
indignação. Os moradores montaram barricadas com madeiras e pneus na rodovia e
atearam fogo ao material. Juntamente com as chamas e fumaça das labaredas,
pessoas, cartazes e faixas ocuparam a via pública. Os gritos dos atados às margens
da rodovia e do reconhecimento exigiam novos caminhos para os problemas de
sempre.
O trecho da BR-381 que une BH a São Paulo recebe o nome de Rodovia
Fernão Dias. Dados do DER-MG dão conta que, entre outros números impactantes,
43% da economia mineira e 60% da produção brasileira de ferro-gusa passam por
ali.560 A manifestação dos moradores do Citrolândia já estava interrompendo essa
dinâmica econômica por horas e horas nos dois sentidos dessa via que liga a capital
mineira ao principal polo econômico-financeiro do país. O trânsito intenso de
véspera de final de semana fez com que uma fila de dezenas de quilômetros de
carros, caminhões e ônibus se formasse logo nos primeiros minutos. Em efeito
cascata, o fluxo de veículos nos acessos à rodovia, nas ruas e até nos bairros
adjacentes restava prejudicado ou completamente obstruído. Aumentava-se
copiosamente a aglomeração de pessoas, para as quais o protesto era um estorvo
em suas vidas. Trabalhadores cansados, que em um dia normal já consomem mais
de três horas na migração pendular, teriam cada minuto das horas de manifestação
e de seus desdobramentos acrescidos ao deslocamento diário ao final do dia e da
559
LARA, Maria do Carmo. Santa Izabel e Citrolândia: uma história de resistência. Brasília: Câmara
dos Deputados. 15 mai. 2002. Pronunciamento da deputada durante sessão na Câmara. Disponível
em: < http://www.camara.leg.br>. Acesso em: 28 abr. 2016.
560
DEPARTAMENTO DE ESTRADAS DE RODAGEM DE MINAS GERAIS [DER-MG]. A Rodovia
Fernão Dias: história e importância da Fernão Dias. Disponível em:
<http://200.198.22.36/html/conheca/BR381/historia.html>. Acesso em: 10 mar. 2014.
164
561
“Atentado contra a segurança de outro meio de transporte [que não seja o ferroviário, marítimo,
fluvial ou aéreo]: Art. 262 - Expor a perigo outro meio de transporte público, impedir-lhe ou dificultar-
lhe o funcionamento: Pena - detenção, de um a dois anos.” (BRASIL. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de
dezembro de 1940. Código Penal. Diário Oficial da União, de 31 dez. 1940. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 5 out. 2015)
165
Dentre as várias questões que o paralelo entre casos suscita, uma delas é a
de que o problema da falta da passarela na região já se arrasta no mínimo desde os
anos 1990, com situações de fechamentos da rodovia e enfrentamento, talvez
mudando apenas aqueles que fazem os papéis de manifestantes e de policiais. Há
duas décadas a polícia dispersa a população e ela volta a protestar no mesmo local,
pelo mesmo motivo, há duas décadas os moradores pedem passarelas e recebem
granadas.
Se por um lado a falta de passarelas não foi causada nem será resolvida pela
polícia, por outro, as consequências que podem advir de uma intervenção policial
exigem uma reflexão calma e ponderada e a clareza de que o policial não é um
autômato da lei, assim como não o é o juiz ou qualquer outro que tenha a
incumbência de aplicar a lei abstrata ao caso concreto. Da mesma forma que tem
lastro na Constituição o Código Penal que criminaliza a conduta de dificultar o
funcionamento do transporte público, há também na Constituição o direito de
reunião, que sempre acontecerá com algum transtorno para a sociedade e para os
transportes coletivos. Portanto, em situações como a de Citrolândia, o militar na
função de comando precisa considerar, no processo de tomada de decisão, a
finalidade da lei e os resultados de sua aplicação, o que se chama de teleologia da
lei.564 Assim, podem contribuir para a decisão indagações como: quais bens
562
ALMEIDA, Juniele Rabêlo de. Tropas em protesto: o ciclo de movimentos reivindicatórios dos
policiais militares brasileiros no ano de 1997. 2010. Tese (Doutorado em História) – Faculdade de
Filosofia Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, 2010.
563
Ibid.. p. 277.
564
Segundo José Jairo Gomes, “A técnica teleológica ou sociológica tem em mira a finalidade para a
qual a norma jurídica foi editada, os resultados que ela visa a alcançar no meio social. Há que se
indagar, pois, a razão ou a finalidade da norma para, a partir daí, estabelecer seu sentido. No
o
sistema jurídico brasileiro, por imposição do artigo 5 da Lei de Introdução ao Código Civil [,
166
atualmente designada como Lei de Introdução ao Direito Brasileiro,] o aplicador da lei deve sempre
atender aos fins sociais a que ela se destina e às exigências do bem comum.” (GOMES, José Jairo.
Direito Civil: introdução e parte geral. Belo Horizonte: Del Rey, 2006. p. 66)
565
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. São Paulo: Martins Fontes, 2015. p. 390.
566
Cf. entre outros, SKOLNICK, Jerome H; BAYLEY, David H. Policiamento Comunitário. São Paulo:
Editora da Universidade de São Paulo, 2006; OLIVEIRA, Nilson Vieira (Coord.). Policiamento
Comunitário: Experiências no Brasil 2000-2002. São Paulo: Página Viva, 2002; BRASIL. Secretaria
Nacional de Segurança Pública (SENASP). Curso Nacional de Promotor de Polícia Comunitária.
Brasília: SENASP, 2007; BRASIL. Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP)/Núcleo de
Estudos da Violência da Universidade de São Paulo. Manual de Policiamento Comunitário: Polícia e
Comunidade na Construção da Segurança. São Paulo: SENASP/NEV, 2009; MINAS GERAIS.
Polícia Militar. Diretriz Para a Produção de Serviço de Segurança Pública n. 04: A filosofia de Polícia
Comunitária na Polícia Militar de Minas Gerais. Belo Horizonte: Centro de Pesquisa e Pós-
graduação, 2005.
167
567
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. São Paulo: Martins Fontes, 2015. p. 388.
568
Caso estudado no capítulo 5.3.
569
BARROSO, Javier F. La república de Sol reflexiona. El País Website, 21 maio 2011. Disponível
em: <http://elpais.com/diario/2011/05/21/madrid/1305977054_850215.html>. Acesso em: 1º jul.
2016.
168
570
Fonte: Javier F. Barroso.
570
BARROSO, Javier F. La república de Sol reflexiona. El País Website, 21 maio 2011. Disponível
em: <http://elpais.com/diario/2011/05/21/madrid/1305977054_850215.html>. Acesso em: 1º jul. 2016
169
agredir; seu dono não foi o capitão, mas o Pit Bull que parece existir dentro de cada
um: como lembra Nietzsche em Humano, Demasiado Humano, “é duvidoso que um
homem muito viajado tenha encontrado em alguma parte do mundo regiões mais
feias do que no rosto humano”.571
Condutas contrárias aos preceitos constitucionais por parte dos policiais
precisam ser enfrentadas na polícia e em todos os segmentos do Estado. A violência
policial é um problema no Brasil, mas também em todos os países europeus como
indicou a European Union Network of Independent Experts in Fundamental Rights,572
em especial ante manifestações;573 o que pode ser um sinal que polícia e violência
sejam irmãs siameses em qualquer parte do mundo, em uma relação muito mais
íntima e tensa do que se costuma admitir. Assim, pretende-se demonstrar que a
natureza da atividade policial é mais problemática do que habitualmente alguns
livros sugerem. As análises e estudos muitas vezes superficiais não permitem
enfrentar de maneira franca os entraves na prática. É preciso notar que as críticas à
utilização da força não se resumem à polícia que não cumpre a lei. Se não
bastassem os casos de truculência de policiais que agem fora da moldura permitida
pelo ordenamento jurídico, o contratempo pode estar além do binômio legal-ilegal
estabelecido pelo direito positivo. Sendo mais claro: pode estar na própria
concretização do direito estatal na vida das pessoas. Em alguma medida, as revoltas
da Vacina ou Quebra-Quilos,574 entre outros exemplos, ajudam a compreender o
impasse que pode ocorrer quando a polícia tenta levar a cabo a literalidade de uma
ordenação social que vem de cima e as pessoas recusam.
Diferentemente das funções jurisdicional e legislativa, a materialização da
coercibilidade é uma característica da atuação do executivo-polícia.575 Efetivar a
coação estatal pode ensejar o emprego de força física contra a pessoa que não
cumpre espontaneamente a norma. A aceitação obediente ao direito estatal
evidencia cada vez mais ser uma quimera. Como lembra Hespanha:
571
NIETZSCHE, Friedrich. Humano, demasiado humano: um livro para espíritos livres. São Paulo:
Companhia das Letras, 2005. p. 184.
572
UNIÃO EUROPEIA. E. U. Network of independent experts in fundamental rights (CFR-CDF).
Report on the situation of fundamental rights in European Union and its member states in 2002.
Disponível em: <http://ec.europa.eu/justice/fundamental-rights/files/cfr_cdf_2002_report_en.pdf>.
Acesso em: 1º jul. 2016. p. 57.
573
Ibid.. p. 58.
574
Respectivamente analisadas nos Capítulos 4 e 5.
575
Cf. entre outros, DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 15. ed. São Paulo: Atlas,
2003.. p. 115; MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 26. ed. rev.
atual. São Paulo: Malheiros, 2009. p. 824.
170
576
HESPANHA, António Manuel. Pluralismo Jurídico e Direito Democrático. São Paulo: Annablume,
2013. p. 10.
577
CAMINHONEIRO quebra clavícula após furar bloqueio de manifestantes e tombar veículo no
Oeste de SC. Diário Catarinense, Caderno Notícias, 26 abr. 2016. Disponível em:
<http://dc.clicrbs.com.br/sc/noticias/noticia/2015/02/caminhoneiro-quebra-clavicula-apos-furar-
bloqueio-de-manifestantes-e-tombar-veiculo-no-oeste-de-sc-4704921.html>. Acesso em: 15 mar.
2015.
578
Art. 129 do Código Penal. “Lesão Corporal: Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano. Lesão corporal de natureza grave. § 1º Se resulta: I -
Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias; [...] Pena - reclusão, de um a
cinco anos. (BRASIL. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Diário Oficial
da União, de 31 dez. 1940. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/Del2848.htm>. Acesso em: 5 out. 2015)
579
MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno. 14. ed. rev. atual. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2010. p. 49.
171
582
Fonte: Polícia Militar de Minas Gerais.
580
REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 71.
581
A partir de normas de direito internacional e dos manuais das polícias-militares o Ministério da
Justiça e a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República publicaram em dezembro
de 2010 a Portaria Interministerial 4.226, que dispõe na Diretriz 2 que os princípios da legalidade,
necessidade, proporcionalidade, moderação e conveniência devem reger o uso da força pela polícia
(BRASIL. Portaria Interministerial nº 4.226, de 31 de dezembro de 2010. Estabelece diretrizes sobre
o uso da força pelos agentes de segurança pública. Disponível em:
<http://download.rj.gov.br/documentos/10112/1188889/DLFE-
54510.pdf/portaria4226usodaforca.pdf>. Acesso em: 1º jul. 2016.).
582
MINAS GERAIS. Polícia Militar. Caderno doutrinário 01: Intervenção Policial, Verbalização e Uso
da Força. Belo Horizonte: Academia de Polícia Militar, 2010. p. 87.
172
583
Entre outros autores que utilização a expressão, cf. BENJAMIN, Walter. Documentos de Cultura,
Documentos de Barbárie. São Paulo: Cultrix/Editora da Universidade de São Paulo, 1986.
584
MINAS GERAIS. Polícia Militar. Diretriz Para a Produção de Serviço de Segurança Pública n. 01:
Emprego da Polícia Militar de Minas Gerais na Segurança Pública. Belo Horizonte: Centro de
Pesquisa e Pós-graduação, 2002. p. 24.
585
BRASIL. Portaria Interministerial nº 4.226, de 31 de dezembro de 2010. Estabelece diretrizes
sobre o uso da força pelos agentes de segurança pública. Disponível em:
<http://download.rj.gov.br/documentos/10112/1188889/DLFE-
54510.pdf/portaria4226usodaforca.pdf>. Acesso em: 1º jul. 2016.
586
Cf. entre outros, MINAS GERAIS. Polícia Militar. Caderno doutrinário 01: Intervenção Policial,
Verbalização e Uso da Força. Belo Horizonte: Academia de Polícia Militar, 2010.
587
Diversas normas de direito internacional tocam o tema do uso de força e armas de fogo pelas
forças de segurança. Para uma abordagem mais geral cf., entre outros, OLIVEIRA, Steevan Tadeu
Soares de. O uso da força pela Tropa de Choque sob o prisma do Direito Internacional dos Direitos
Humanos. In: CAPUCIO, Camilla et al. (Orgs.). A proteção do indivíduo e da coletividade. Belo
Horizonte: Arraes Editores, 2013. (Direito Internacional no Nosso Tempo, v. 2). p. 137-151.
173
588
FERRAJOLI, Luigi. Direito e Razão: teoria do garantismo penal. 4. ed. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2014. p. 718.
589
Código Penal: “Atentado contra a segurança de outro meio de transporte [que não seja o
ferroviário, marítimo, fluvial ou aéreo]: Art. 262 - Expor a perigo outro meio de transporte público,
impedir-lhe ou dificultar-lhe o funcionamento: Pena - detenção, de um a dois anos § 1 – Se do fato
resultar desastre, a pena é de reclusão, de dois a cinco anos” (BRASIL. Decreto-Lei nº 2.848, de 7
de dezembro de 1940. Código Penal. Diário Oficial da União, de 31 dez. 1940. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 5 out. 2015)
590
BITENCOURT, Cezar Roberto. Código Penal Comentado. 8. ed. São Paulo, Saraiva, 2014. p.
1120.
591
Cf.: PROTESTO do MST provoca morte de 3 pessoas em Sergipe. O Estado Website, 12 mar.
2015. Disponível em: <http://www.oestadoce.com.br/nacional/protesto-do-mst-provoca-morte-de-3-
pessoas-em-sergipe>. Acesso em: 1º jul. 2016.
174
Segundo Lisa Keller, à época, o antagonismo contra a polícia cresceu e “quão mais
a polícia tentava reprimir as reuniões, mais elas cresciam”.598 Segundo Nikola
Dimitrov, em estudos sobre protestos em Sofia, Bulgária, nos anos de 1996 e 1997,
percebeu-se que a intervenção da polícia em manifestações deu causa a distúrbios
não somente na capital, mas também em cidades do interior do país.599
Assim, se por um lado deixar à escolha dos próprios manifestantes se
cumprem ou não leis e decisões judiciais pode originar graves problemas práticos,
com as pessoas afetadas pelo protesto, e teóricos à noção de Estado Democrático
de Direito, por outro, a tentativa de dar efetividade ao aspecto formal do Direito pode
ter um resultado mais nefasto do que o embaraço que se tentava equacionar.
Independentemente das circunstâncias positivadas nas normas, se a polícia
empregar grande quantidade de força, ainda que necessária para as circunstâncias,
os que visualizam a cena podem vir a repudiar a ação, como pontua Mathias Reiss:
598
No original: “the more the police tried to repress meeting, the larger they grew.” (Ibid., p. 124)
599
DIMITROV, Nikola D. Streets of Anger: Opposition protests in Belgrade and Sofia during the Winter
months of 1996-1997. In: REISS, Matthias (Ed.). The street as stage: protest marches and public
rallies since the nineteenth century. Oxford: Oxford University Press/The German Historical Institute
London, 2007. p. 249.
600
No original: “The use of force can increase the profile of protest marches, cast the usually
structurally inferior protesters into the role of victims, and thereby increase public support for them.
As one aim of demonstrations is to increase support for a particular cause or movement, the use of
force by the state, even if provoked by lawless behavior on the part of the protestors themselves, can
therefore backfire.” (REISS, Matthias (Ed.). The Street as Stage: protest marches and public rallies
since the nineteenth century. Oxford: Oxford University Press/The German Historical Institute
London, 2007. p. 18, tradução nossa)
177
601
DOWBOR, Monika. SZWAKO, José. Respeitável Público... Performance e organização dos
movimentos antes dos protestos de 2013. Novos Estudos - CEBRAP, São Paulo, n. 97. p. 43-55,
nov. 2013. p. 44-45.
602
DOWBOR, Monika. SZWAKO, José. Respeitável Público... Performance e organização dos
movimentos antes dos protestos de 2013. Novos Estudos - CEBRAP, São Paulo, n. 97. p. 43-55,
nov. 2013. p. 54.
603
Ibid.. loc. cit..
604
RUCHT, Dieter. On the sociology of protest marches. In: REISS, Matthias (Ed.). The Street as
stage: Protest marches and public rallies since the nineteenth century. Oxford: Oxford University
Press/The German Historical Institute London, 2007. p. 51.
605
BADER-ZAAR, Birgitta. With Banners Flying: A comparative view of women’s suffrage
demonstrations 1906-1914. In: REISS, Matthias (Ed.). The street as stage: protest marches and
public rallies since the nineteenth century. Oxford: Oxford University Press/The German Historical
Institute London, 2007. p. 108.
606
MORGENSTERN, Flávio. Por trás da máscara: Do passe livre aos black blocs, as manifestações
que tomaram as ruas do Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Record, 2015. p. 168-182.
178
607
No original: "It would be misleading to base an explanation of the handling of protest solely on an
analysis of the legal and material means at the disposal of the political authorities. In France, the
practice of protest policing is characterized precisely by the two following aspects: first, the
continuous search, through negotiation and compromise, for agreement even if such agreement is
not necessarily based on the range of legal means; second, the underuse of available coercive
means” (FILLIEULE, Olivier; JOBARD, Fabien. The policing of protest in France: Toward a model of
protest policing. In: PORTA, D. D.; REITER, H. (Org). Policing protest: The control of mass
demonstrations in western democracies. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1998. p. 75,
tradução nossa)
179
608
No original: “[...] a model of negotiation, based on a more active police presence with the objective
of mediating between the demonstrators and ‘nondemonstrators’ who are said to suffer the disruptive
effects of protests” (DELLA PORTA, Donatella; REITER, Herbert. The policing of protest in western
democracies. In: DELLA PORTA, Donatella; REITER, Herbert. (Org). Policing protest: The control of
mass demonstrations in western democracies. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1998. p.
8, tradução nossa)
609
POLICE EXECUTIVE RESEARCH FORUM. Managing major events: Best practices from the field.
Washington, D.C.: Police Executive Research Forum, 2011.
610
“In fact, the VPD uses its discretion in allowing public gatherings which may violate the Motor
Vehicle Act or municipal bylaws […]”. VANCOUVER POLICE DEPARTMENT. Public demonstration
guidelines. Vancouver: Vancouver Police Department, 2012. p. 4.
611
VANCOUVER POLICE DEPARTMENT. 2011 Stanley Cup Riot Review. Vancouver: Vancouver
Police Department, 2011. p. 26.
612
BRYAN, Dominic et al. The Flag Dispute. Belfast: Queen’s University Belfast/Institute for the Study
of Conflict Transformation and Social Justice; JARMAN, Neil. Another form of troubles: Parades,
protests, and the Northern Ireland peace process. In: REISS, Matthias (Ed.). The street as stage:
Protest marches and public rallies since the nineteenth century. Oxford: Oxford University Press/The
German Historical Institute London, 2007. p. 255-272; BYRNE, Jonny. Reflections on the Northern
Ireland experience: The lessons underpinning the normalization of policing and security in a divided
society. Belfast: Police Service Of Northern Ireland, Intercomm, SafeWorld, 2014.
613
ADANG, Otto M. J.. Reforming the Policing of Public Order in Sweden: combining research and
practice. Policing, 30 out. 2012. Disponível em:
180
público deve aplicar o Direito, e não só a literalidade de uma lei, de acordo com as
circunstâncias do caso concreto.
Perceber a função policial como aplicadora do Direito parece ter um outro
fator de estorvo no Brasil. Enquanto para o Judiciário geralmente se diz que se
aplica a lei como sinônimo de sua atribuição jurisdicional de dizer o Direito, as
polícias geralmente são vistas em uma perspectiva mais estéril, o que dificulta
assumir uma atividade de articulação de princípios constitucionais e mesmo de
composição de acordos com os manifestantes.
Na língua inglesa, costuma-se fazer alusão aos policiais como Law
Enforcement Officials.620 Naquele idioma, o ato do Estado emanado do Legislativo
que designamos por lei, é law, mas também statute ou act. Por sua vez, o termo law
é utilizado tanto na acepção de lei em sentido estrito quanto para o sistema jurídico
como um todo, semelhante ao vocábulo Direito no português.621 Na tradução de Law
Enforcement Officials para o português, consolidaram-se as expressões funcionários
encarregados de fazer cumprir a lei622 ou de aplicar a lei,623 o que tem, portanto,
uma dimensão bem mais restrita do que nos países anglo-saxões, cuja expressão
pode ser entendida com agentes encarregados de aplicar o Direito. Essa percepção
mais restrita pode fazer com que os lusófonos concebam polícia unicamente como
atividade que faz com que as pessoas cumpram as leis ou aplicadora da literalidade
das regras.
Por causa disso, em certas circunstâncias, quando na aplicação da norma é
possível prever problemas maiores do que os que se tenta resolver, pode ser mais
fácil para as polícias de matriz anglo-saxã admitir que adotam uma interpretação em
conformidade com os resultados. Dessa maneira, não é de todo despropositado que
620
Por exemplo nas versões em inglês dos tratados e normas internacionais sobre o uso da força
pela polícia. Sobre o tema, cf., entre outros, OLIVEIRA, Steevan Tadeu Soares de. O uso da força
pela Tropa de Choque sob o prisma do Direito Internacional dos Direitos Humanos. In: CAPUCIO,
Camilla et al. (Orgs.). A proteção do indivíduo e da coletividade. Belo Horizonte: Arraes Editores,
2013. (Direito Internacional no Nosso Tempo, v. 2). p. 137-151.
621
Para comparar o emprego dos vocábulos, cf. FONSECA, Luciana Carvalho. Inglês Jurídico:
tradução e terminologia. São Paulo: Lexema, 2014. E os dicionários OXFORD Advanced Learner’s
Dictionary. 8. ed. Oxford: Oxford University Press, 2010; e CASTRO, Flávio de. Compacto:
Dicionário Jurídico Inglês-Português. Rio de Janeiro: Aide, 1994.
622
REGULAÇÃO do uso da força pelos funcionários encarregados de fazer cumprir a lei. Naciones
Unidas, Derechos Humanos Website, 20 jan. 2012. Disponível em: <http://acnudh.org/pt-
br/regulacao-do-uso-da-forca-pelos-funcionarios-encarregados-de-fazer-cumprir-a-lei/>. Acesso em:
1º jul. 2016.
623
NAÇÕES UNIDAS. Código de conduta para os funcionários responsáveis pela aplicação da lei.
Adotado pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 17 de dezembro de 1979, através da
Resolução nº 34/169. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/sileg/integras/931761.pdf>. Acesso
em: 1º jul. 2016.
182
624
A Espanha, assim como Brasil e Portugal, tem como matriz jurídica o civil law do direito
continental, o modelo de polícia francesa, e na tradução para o Espanhol a expressão Law
Enforcement Officials ficou como Código de Conductas para Funcionarios Encargados de Hacer
Cumplir la Ley.
625
HESPANHA, António Manuel. Pluralismo Jurídico e Direito Democrático. São Paulo: Annablume,
2013. p. 80.
626
RIBEIRO, Fernando Armando. Conflitos no Estado Constitucional Democrático: por uma
compreensão jurídica da Desobediência Civil. Belo Horizonte: Mandamentos, 2004. p. 18.
627
Ibid.. p. 26
183
628
ARNAUD, André-Jean. O Direito Traído Pela Filosofia. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris Editor,
1991. p. 246.
629
SANTOS, Letícia Camila dos. Análise da decisão judicial no quadro da legisprudência: O diálogo
das fontes do direito. 2011. 173 f. Dissertação (Mestrado em Direito) – Faculdade de Direito,
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, 2011. p. 205.
630
ARNAUD, André-Jean. Da Regulação pelo direito na era da globalização. In: MELLO, Celso
Antônio Albuquerque. Anuário Direito e Globalização: A Soberania. Rio de Janeiro: Renovar, 1999.
p. 24.
631
ARNAUD, André-Jean. Governar Sem Fronteiras: entre globalização e pós-globalização. Crítica da
Razão Jurídica. v. 2. Rio do Janeiro: Lumen Juris, 2007. p. XX.
632
OST, François. O tempo do direito. Lisboa: Instituto Piaget, 2001. p. 13.
184
[...] vários sinais parecem mostrar que as diferentes instâncias que compõe
a sociedade civil almejam diminuir, se não suprimir, o papel instituidor do
social que o Estado pretende desempenhar há dois séculos. Isso não
significa que o Estado deve desaparecer, mas, antes, modificar-se, mostrar-
se mais o agente coordenador de novas solidariedades: em suma, mais um
conciliador do que um regulador. Aqui nós nos juntaríamos às aspirações a
um direito estatal mais inspirado na ordem negociada e ao recolhimento de
um autêntico pluralismo jurídico, irredutível a uma única técnica de
634
desconcentração.
633
SANTOS, Boaventura de Sousa. Poderá o direito ser emancipatório? Revista Crítica de Ciências
Sociais, Coimbra, n. 65. p. 3-76, maio 2003. p. 65.
634
ROULAND, Norbert. Nos confins do direito. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2008. p. 168.
635
RIBEIRO, Fernando Armando. Constitucionalismo e Teoria do Direito. Belo Horizonte: Del Rey,
2013. p. 43.
636
RIBEIRO, Fernando Armando. Conflitos no Estado Constitucional Democrático: por uma
compreensão jurídica da Desobediência Civil. Belo Horizonte: Mandamentos, 2004. p. 218.
637
Estudado no Capítulo 3.2.
185
Direito de teor aberto; pretende mais instituir o social do que colaborar com ele. O
conteúdo da norma opera uma ordenação social hermética, que desconsidera a
participação das pessoas e a realidade dos protestos na capital mineira que
tradicionalmente acontecem onde a norma proíbe, tornando ilegais manifestações
nos bairros centrais e permitindo apenas os protestos realizados entre 20h e 6h, ou
em uma praça fechada da capital. Quais não seriam os empecilhos encontrados
pela polícia para conseguir proporcionar efetividade a tal regulamentação?
André-Jean Arnaud contribui para entender o reconhecimento do controle
excessivo do Estado quando diferencia regulação de regulamentação. Enquanto a
primeira seria “[...] uma orientação de ação no âmbito de um sistema organizado em
intercâmbio com o ambiente, e que põe em prática processos de adaptação”,638 a
regulamentação “[...] remete à autoridade suprema do Estado no seu poder de dizer
o direito”.639 Assim, ainda que se possa admitir certas restrições espaciais aos
protestos,640 a criação do Protestródromo em BH, ou Parlatório Democrático do
Município, como diz a lei, mais regulamenta do que regula e provavelmente não terá
eficácia social, a não ser sob o custo de uma ação igualmente rígida da polícia,
baseada na força.
Em sentido oposto, em alguns protestos em Belo Horizonte foi possível
perceber que um viés negocial-conciliador parece ser mais adequado do que a
ordenação verticalizada. Acordos entre polícia e manifestantes sobre o fechamento
da Praça Sete para um abraço simbólico ao obelisco da cidade geralmente levaram
a resultados positivos para os diversos interessados. Antes de realizarem a
manifestação, PM e lideranças dos movimentos pactuavam um tempo razoável para
o ato. Pelo ajustado, a polícia fechava ou desviava o trânsito para garantir a
segurança dos manifestantes que, com o apoio policial, envolviam o monumento,
faziam discursos, filmagens, fotografias e após alguns minutos retiravam-se do local,
permitindo a dinâmica rotineira do centro da cidade. Assim, evitava-se que
motoristas atropelassem manifestantes ou que ocorressem brigas entre
manifestantes e não-manifestantes, ao mesmo tempo que se garantia que os
transtornos inerentes aos protestos não fossem abusivos para os que também
queriam utilizar as vias públicas em deslocamentos. Com essa composição dos
638
ARNAUD, André-Jean. Governar Sem Fronteiras: entre globalização e pós-globalização. Crítica da
Razão Jurídica. v. 2. Rio do Janeiro: Lumen Juris, 2007. p. 66.
639
Ibid.. p. 53.
640
Ver Capítulo 2.
186
641
Fonte: Andrea Carla Ferreira.
641
FERREIRA, Andrea Carla. Greve do Caixa Escolar em Belo Horizonte! CSP Conlutas Website.
Disponível em: <http://cspconlutasmg.blogspot.com.br/2012/07/greve-do-caixa-escolar-em-
belo.html>. Acesso em: 1º jul. 2016
187
642
GUSTIN, Miracy Barbosa de Sousa. Das necessidades humanas aos direitos: ensaio de sociologia
e filosofia do direito. Belo Horizonte: Del Rey, 1999. p. 31.
643
NICÁCIO, Camila Silva. Direito e Mediação de Conflitos: entre metamorfose da regulação social e
administração plural da justiça. Revista da Faculdade de Direito UFMG, Belo Horizonte, n. 59. p. 11-
56 – jul./dez. 2011. p. 35
644
SANTOS, Letícia Camila dos. Análise da decisão judicial no quadro da legisprudência: O diálogo
das fontes do direito. 2011. 173 f. Dissertação (Mestrado em Direito) – Faculdade de Direito,
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, 2011. p. 37.
645
CERQUEIRA, Carlos Magno Nazareth. O Futuro de uma Ilusão: o sonho de uma nova polícia. Rio
de Janeiro: Freitas Bastos Editora, 2001. p. 170.
646
Os estádios Governador Magalhães Pinto (Mineirão) e Raimundo Sampaio (Independência)
ficaram fechados durante parte dos anos de 2010, 2011 e 2012 para reformas tendo em vista os
188
jogos que Belo Horizonte iria sediar na Copa das Confederações e na Copa do Mundo de Futebol.
Durante o período em que ambos os estádios da capital estavam fechados, grande parte dos jogos
com mando de campo dos times de Belo Horizonte aconteceram no Estádio Joaquim Henrique
Nogueira (Arena do Jacaré), localizado na cidade de Sete Lagoas, interior de Minas Gerais.
647
Série A do Campeonato Brasileiro de Futebol da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
189
contou até mesmo com briga generalizada dentro da própria torcida do Cruzeiro
quando rivalidades entre diferentes torcidas organizadas cruzeirenses afloraram.
Ao final da partida, os torcedores do Cruzeiro resolveram protestar contra os
jogadores que vestiam a camisa do time e que, para os fãs, não estavam jogando
com a mesma paixão com que os torcedores defendiam o clube. Em um local onde
o ônibus dos atletas sairia do estacionamento e precisaria fazer uma manobra,
começaram a se aglomerar torcedores mineiros. No lugar, havia grande quantidade
de materiais de construção como britas, pedras e pedaços de madeira que pareciam
ser restos de alguma obra. Próximos à centena de torcedores que já se
encontravam ali, diversos policiais militares também aguardavam a passagem do
ônibus do Cruzeiro. O cenário parecia denunciar as cenas que estavam por vir. Os
ânimos exaltados, as brigas, a rivalidade, os jogadores, as paixões e as pedras.
Inserido nesse ambiente, o militar mais antigo foi ao encontro dos torcedores
procurar pelas lideranças das torcidas presentes. Outros torcedores e câmeras
televisivos fizeram um círculo, acompanhando atentamente o diálogo que se
iniciava. A rotina de jogos já havia tornado militares da tropa de choque e as
lideranças das organizadas conhecidos uns dos outros. Enquanto o militar tentava
convencer que ali não seria nem dia nem local para manifestar a indignação, as
lideranças das torcidas afirmavam que o objetivo era um protesto pacífico, que
conseguiriam conter a torcida e apenas queriam demonstrar para os jogadores e
direção do clube que estavam insatisfeitos com o desempenho em campo. Em uma
negociação tensa, na qual parecia ser impossível um acordo, um dirigente da Máfia
Azul apontou para uma das crianças no local e disse: “O senhor acha que eu vou
querer brigar com meu filho aqui presente?”, sendo respondido de que era também
por essa e outras crianças que o protesto não poderia acontecer ali, naquele dia e
local. As sugestões de realizar o protesto no dia seguinte, com as emoções menos à
flor da pele, na porta da administração ou no centro de treinamento do clube
Cruzeiro eram todas recusadas e a torcida estava convicta de que permaneceria até
os jogadores passarem. Quando ficou evidente que não haveria acordo possível,
uma liderança dos torcedores indagou: “Então pelo visto o senhor não vai deixar a
gente manifestar?”, “Exato, hoje e aqui não vai ter esse protesto!”, respondeu o
militar.
Os militares formaram uma linha que ocupava toda a extremidade da rua e ao
avançar forçavam a saída dos torcedores. Ao perceberem que não conseguiriam
190
a mais forte. Assim, é preciso perceber que, para superar a violência do particular e
para manter o Estado Democrático de Direito e suas leis, a força pode vir a ser
empregada, apesar de todos os problemas para sua legitimação, pois a polícia atua
no frágil, incerto, ou mesmo impossível equilíbrio entre a legitimidade das ruas e a
legitimidade dos representantes eleitos. Por isso, Jean-Claude Monet refere-se à
atuação da polícia em protestos como “o fio da navalha”.651
O poder de polícia permite a intervenção estatal no sentido de limitar direitos
individuais em prol da segurança, da tranquilidade e da ordem pública, e sobre o
tema dispõe o art. 78 da Lei nº 5.172/1966:
651
MONET, Jean-Claude. Polícias e Sociedades na Europa. São Paulo: Editora da Universidade de
São Paulo, 2006. p. 213.
652
BRASIL. Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966. Código Tributário Nacional. Diário Oficial da
União, 27 out. 1966. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 1º jul. 2016.
653
Art. 21. Direito de Reunião. O direito de reunião pacifica será reconhecido. O exercício desse
direito estará sujeito apenas às restrições previstas em lei e que se façam necessárias, em uma
sociedade democrática, no interesse da segurança nacional, da segurança ou da ordem pública, ou
para proteger a saúde ou a moral pública ou os direitos e as liberdades das demais pessoas.
(BRASIL. Decreto nº 592, de 6 de julho de 1992. Atos Internacionais. Pacto Internacional sobre
Direitos Civis e Políticos. Promulgação, de 16 de dezembro de 1966. Diário Oficial da União, 6 jul.
1992. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 15 jun. 2016).
654
Art 11. Liberdade de Reunião e Associação. 1. Qualquer pessoa tem direito à liberdade de reunião
pacífica e à liberdade de associação, incluindo o direito de, com outrem, fundar e filiar-se em
sindicatos para a defesa dos seus interesses. 2. O exercício deste direito só pode ser objecto de
restrições que, sendo previstas na lei, constituírem disposições necessárias, numa sociedade
democrática, para a segurança nacional, a segurança pública, a defesa da ordem e a prevenção do
crime, a protecção da saúde ou da moral, ou a protecção dos direitos e das liberdades de terceiros. O
presente artigo não proíbe que sejam impostas restrições legítimas ao exercício destes direitos aos
membros das forças armadas, da polícia ou da administração do Estado. (EUROPEAN COURT OF
HUMAN RIGHTS. Covenção Europeia dos Direitos do Homem, Roma, 4 de nov. 1950. Disponível
em: < http://www.echr.coe.int>. Acesso em: 15 jun. 2016)
655
Art. 15. Direito de Reunião. É reconhecido o direito de reunião pacífica e sem armas. O exercício de
tal direito só pode estar sujeito às restrições previstas pela lei e que sejam necessárias, numa sociedade
democrática, no interesse da segurança nacional, da segurança ou da ordem públicas, ou para proteger
a saúde ou a moral públicas ou os direitos e liberdades das demais pessoas. (BRASIL. Decreto nº 678,
de 6 de novembro de 1992. Promulga a Convenção Americana sobre Direitos Humanos - Pacto de
São José da Costa Rica, de 22 de novembro de 1969. Diário Oficial da União, 9 nov. 1992. Disponível
em: <https://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 15 jun. 2016).
192
656
TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. Democracia e Derechos Humanos: el régimen emergente
de la promoción internacional de la democracia y del estado de derecho. Revista do Instituto
Brasileiro de Direitos Humanos, v.1, n.1, Fortaleza, Ceará, 1999.
657
Sobre poder de polícia, cf., entre outras obras, LAZZARINI, Álvaro. Direito Administrativo da
Ordem Pública. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1987; LAZZARINI, Álvaro. Temas de Direito
Administrativo. 2. ed. rev. atual. São Paulo: Revista dos Tribunais; 2003; CRETELLA JÚNIOR, José.
Do Poder de Polícia. Rio de Janeiro: Forense, 1999.
658
FERRAZ JUNIOR, Tércio Sampaio. Introdução ao estudo do Direito. 8. ed. rev. ampl. São Paulo:
Atlas, 2015. p. 58.
193
659
PROTESTO na Toca tem ofensas a jogadores e pedras atiradas em portão. Globo Esporte, 24 set.
2011. Disponível em: <http://globoesporte.globo.com>. Acesso em: 1º jun. 2016.
660
ARAÚJO, Guyanne. Muro da Toca da Raposa é pichado com ameaça ao presidente do Cruzeiro.
Uol Futebol, 23 set. 2011. Disponível em: <http://esporte.uol.com.br/futebol>. Acesso em: 1º jun.
2016.
661
Entre outras não registradas em Boletim de Ocorrência Policial (REDS n. 2011-001766411-001).
662
LAFER, Celso. Prefácio. In: FERRAZ JUNIOR., Tércio Sampaio. Introdução ao estudo do Direito.
8. ed. rev. ampl. São Paulo: Atlas, 2015. p. xviii.
663
Sobre equidade, cf. entre outros, ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. In: ARISTÓTELES. Os
Pensadores. v. IV. São Paulo: Abril Cultural, 1973. p. 336; LOPES., Mônica Sette. A equidade e os
poderes do juiz. Belo Horizonte: Del Rey, 1993; FERRAZ JUNIOR. op. cit., 2015. p. 267-268;
ASCENSÃO. op. cit., 2013. p. 245-249, 442-443, 504.
194
664
DAHRENDORF, Ralf. A lei e a ordem. Rio de Janeiro: Instituto Liberal, 1997. p.115.
665
KAUFMANN, Arthur. Filosofia do Direito. 4. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2010.p.
454.
666
LOPES, Mônica Sette. A equidade e os poderes do juiz. Belo Horizonte: Del Rey, 1993. p. 37.
195
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Coração Blindado
667
GESSINGER, Humberto; FONSECA, Bernardo; AYALA, Gláucio; AUGUSTO, Pedro; ARANHA,
Fernando. Coração Blindado. Intérprete: Engenheiros do Hawaii. In: Engenheiros do Hawaii. Novos
Horizontes. [S.l.]: Universal Music, 2007. 1CD. Faixa 9.
197
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2015. Disponível em: <http://observador.pt/2015/11/29/20-mil-sapatos-marcham-
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