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vlges.ma .,egulluCI �Çll�.

no ponto móvel e preciso em que todos os acontecimentos


se reúnem assim em um só que se opera a transmutação: o Porcelana e Vulcão
ponto em que a morte se volta contra a morte, em que o
morrer é como a destituição da morte, em que a impessoali­
dade do morrer não marca mais somente o momento em que
me perco fora de mim, e a figura que toma a vida mais sin­
gular para se substituir a mim '.

"Toda vida é, obviamente, um processo de demoli­


ção" '. Poucas frases ressoam tanto em nossa cabeça com
este ruído de martelo. Poucos textos têm este caráter irre­
mediável de obra-prima e de impor silêncio, de forçar uma
aquiescência atemorizada, tanto como a curta novela de
Fitzgerald. Toda a obra de Fitzgerald é o desenvolvimento
único desta proposição e sobretudo de seu "obviamente".
Eis um homem e uma mulher, eis casais (por que casais, a
não ser porque já se trata de um movimento, de um
processo definido como o da díada?) que têm tudo para
serem felizes, como se diz; belos, encantadores, ricos,
superficiais e cheios de talento. E depois alguma coisa se
passa, fazendo com que eles se quebrem exatamente como
um prato ou um copo. Terrível tête-à-tête da esquizo­
frênica e do alcoólatra, a menos que a morte os apanhe a
ambos. Será isto a famosa autodestruição? E o que foi
que aconteceu exatamente? Eles não tentaram nada de
especial que estivesse acima de suas forças; no entanto,
despertam como se saíssem de uma batalha grande demais
para eles, o corpo quebrado, os músculos pisados, a alma
morta: "eu tinha o sentimento de estar de pé ao crepúsculo
em um campo de tiro abandonado, um fuzil vazio na mão
e os alvos abatidos. Nenhum problema para resolver,
simplesmente o silêncio e o ruído de minha respiração ...
Minha imolação de mim mesmo era um rojão sombrio e
molhado". Certamente, muitas coisas se passaram tanto no
exterior como no interior: a guerra, a bancarrota financeira,
5. �f. Maurice Blanchot, op. cit., p. 155: "Este esforço para elevar a
um certo envelhecimento, a depressão, a doença, a fuga do
morte a Sl mesma. para fazer coincidir o POnto em que ela se perde nela e
?que� em qur; me perco fora de mim, não é um simples a.ssunto interior, ma s
lmplica uma lmensa responsabilidade a respeito das coisas e não é possiveI
1. FITZGERALD. F. S. "A Fissura"(The Crack Up). In: La Felure, trad. fr .
senão pela mediação delas ... Gallima.rd. 1936, p. 341.
talento. Mas todos estes acidentes ruidosos já produtiram
os seus efeitos de imediato; e eles não seriam suficientes dilacerada. . . Em um esforço acima de sua natureza de
por si sós se não cavassem, se não aprofundassem algo de pedra ela se aproximava da outr�, se derramava em �reces,
uma outra natureza e que, ao contrário, só é revelado por em lágrimas apaixonadas, oferec�a todo o s�u perdao: ..a
eles à distância e quando já é muito tarde: a fissura outra impassível ficava. Tudo Isto esta, mUito bem, dIZIa
silenciosa. "Por que perdemos a paz, o amor, a saúde, ela, mas acontece que é por sua culpa e quanto a mim
um após o outro?" Havia uma fissura silenciosa, imper­ pretendo desintegrar-me a me? be l-praze.r"2.)
_ .
ceptível, na superfície, único Acontecimento de superfície, Por mais estreita que seja a sua junçao, ha, a.� dOIS
como suspenso sobre si mesmo, planando sobre si, sobre­ elementos, dois processos que diferem em �atw;eza: a fissura
voando seu próprio campo. A verdadeira diferença não é que prolonga sua linha reta incorporaI e sil�nclosa na �uper­
entre o interior e o exterior. A fissura não é nem interior fíeie, e os golpes exteriores ou os impulsos mte;nos rUidosos
nem exterior, ela se acha na fronteira, insensível, incorporaI, que a fazem desviar que a aprofundam e a mscrevem o.u
ideal. Assim, ela tem com o que acontece no exterior e a efetuam na espess�a do corpo. Não são este� �s d?IS
no interior relações complexas de interferência e de cruza­ aspectos da morte que, ainda há pouco, Blanchot distingUia:
mento, junção saltitante, um passo para um, um passo para a morte como acontecimento, inseparável do passado e do
o outro, em dois ritmos diferentes: tudo o que acontece futuro nos quais ela se di�ide, nunca pr':,sente, a morte
de ruidoso acontece na borda da fissura e não seria nada impessoal que é "a inapreenslvel, o que eu na? posso captar,
sem ela; inversamente, a fissura não prossegue em seu que não está ligada a mim por nenhuma relaça? de nen,h�n;�
caminho silencioso, não muda de direção segundo linhas de espécie, que não vem nunca, para a qual eu nao me ,dirIJO ,
menor resistência, não estende sua teia a não ser., sob e a morte pessoal que acontece e se .efetua no, mais duro
os golpes daquilo que acontece. Até o momento em que presente "que tem como extremo honzonte a liberdade de
os dois, em que o ruído e o silêncio se esposam estreítà­ morrer � o poder de se arriscar mortalmente"., Podemos
mente, continuamente, no desmantelamento e na explosão do citar várias maneiras bastante diversas pelas quais se faz a
fim que significam agora que todo o jogo da fissura se junção dos dois processos: o suicídio, a loucura, o uso
encarnou na profundidade do corpo, ao mesmo tempo em das drogas ou do álcool. Estes dois meios são :alv�z os
que o trabalho do interior e do exterior lhe distendeu as mais perfeitos, pelo tempo que eles tomam, ao mves de
bordas. confundir as duas linhas em um ponto fatal. Mas em todos
(O que poderíamos responder ao amigo que nos os casos há alguma coisa de ilusório. Quando . B!a�chot
consola: "Por Deus, se eu me fendesse, eu faria ,explodir considera o suicídio como vontade de fazer c01!,cldrr os
o mundo comigo. Vejamos! O mundo não existe anão dois semblantes da morte, de prolongar a m�rte Iml?�ssoal
.
ser pela maneira segundo a qual o apreendeis, então é�uito pelo ato o mais pessoal, ele mostra bem a ;ne�ltabilidade
melhor dizer que não é em vós que se encontra a falha, desta concordância, desta tentação de conc�rdancla, mas . ele
nias, sim no Grande Canon". Este consolo à american�, por tenta também definir sua ilusão 3. SubSiste, com efeito,
projeção, não é bom para aqueles que sabem que a fissura toda a diferença de natureza entre o que se esposa ou se
não era mais interior do que exterior e que sua projeção prolonga estreitamente. .
para o exterior não marca menos a aproximação do fim Mas o problema não está aí. Para quem subSiste esta
do que a introjeção mais pura. E se a fissura se torna a diferença de natureza senão para � pensador abstrato? E
.
do Grande Canon ou de um rochedo na Sierra Madre, se como poderia o pensador, em rel�çao a este problema, nao
as imagens cósmicas de ravina, de montanha e de vulcão ser ridículo? Os dois processos diferem em natureza, certa­
substituem a porcelana íntima e familiar, o que é que muda mente. Mas como fazer para que um não prolong�e o
e como impedir-nos de experimentar uma insuportável outro natural e necessariamente? Como o traçado slle l:'­
piedade pelas pedras, uma identificação petrificante? Como cioso da fi�sur,a incorporaI na superfície não se tornaria
Lowry faz dizer, por sua vez, o componente de um !lutro -.(V(fl.if.-.=/� ,,��"'>h.
t-- 2 LowRy M. Acima do 'OUlcão. Tradução francesa Buchet Chastel,
casal, "admitindo-se que ela se tivesse fendido, não teria pp. 'n'", E p�a o que precede cf. Apêndice V. ' .
104-105' "Pelo sUlcídIO, quero mat ar-me
7'"
havido nenhum meio, antes que a desintegração total se

M O '
em � !!;:='dete��;d�:t'li��' a morte' a agora.: sim, a�ora, ag a,
tivesse produzido, de salvar-lhe pelo menos as metades nada mostra mais a ilusão, a loucura deste eu quero, pou � rn��e n!:
éstá presente... O suicídio nisto não é � � aco e !rtm° antesé
� é que
separadas? . . Oh!, mas por que, por alguma fantástica \
o que gostaria de suprimi-la como futuro, tirar- e es: p e de u o
taumaturgia geológica, não se poderia soldar de novo estes como a sua essência ,.. Nilo podemos ",.ot�f' DOS matarmos, , preparamo-nos
ara isso agimos tendo em vista o gesto últimO que pertence am . da à cate-
fragmentos? Yvonne desejava ardentemente curar a rocha iorta no:mal das coisas a fazer, mas este gesto não ,� em .
VIsta da morte,
ele não a olha, ele não a ma ntém em sua presença ...
talento. Mas todos estes acidentes ruidosos já produtiram
os seus efeitos de imediato; e eles não seriam suficientes dilacerada. . . Em um esforço acima de sua natureza de
por si sós se não cavassem, se não aprofundassem algo de pedra ela se aproximava da outr�, se derramava em �reces,
uma outra natureza e que, ao contrário, só é revelado por em lágrimas apaixonadas, oferec�a todo o s�u perdao: ..a
eles à distância e quando já é muito tarde: a fissura outra impassível ficava. Tudo Isto esta, mUito bem, dIZIa
silenciosa. "Por que perdemos a paz, o amor, a saúde, ela, mas acontece que é por sua culpa e quanto a mim
um após o outro?" Havia uma fissura silenciosa, imper­ pretendo desintegrar-me a me? be l-praze.r"2.)
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ceptível, na superfície, único Acontecimento de superfície, Por mais estreita que seja a sua junçao, ha, a.� dOIS
como suspenso sobre si mesmo, planando sobre si, sobre­ elementos, dois processos que diferem em �atw;eza: a fissura
voando seu próprio campo. A verdadeira diferença não é que prolonga sua linha reta incorporaI e sil�nclosa na �uper­
entre o interior e o exterior. A fissura não é nem interior fíeie, e os golpes exteriores ou os impulsos mte;nos rUidosos
nem exterior, ela se acha na fronteira, insensível, incorporaI, que a fazem desviar que a aprofundam e a mscrevem o.u
ideal. Assim, ela tem com o que acontece no exterior e a efetuam na espess�a do corpo. Não são este� �s d?IS
no interior relações complexas de interferência e de cruza­ aspectos da morte que, ainda há pouco, Blanchot distingUia:
mento, junção saltitante, um passo para um, um passo para a morte como acontecimento, inseparável do passado e do
o outro, em dois ritmos diferentes: tudo o que acontece futuro nos quais ela se di�ide, nunca pr':,sente, a morte
de ruidoso acontece na borda da fissura e não seria nada impessoal que é "a inapreenslvel, o que eu na? posso captar,
sem ela; inversamente, a fissura não prossegue em seu que não está ligada a mim por nenhuma relaça? de nen,h�n;�
caminho silencioso, não muda de direção segundo linhas de espécie, que não vem nunca, para a qual eu nao me ,dirIJO ,
menor resistência, não estende sua teia a não ser., sob e a morte pessoal que acontece e se .efetua no, mais duro
os golpes daquilo que acontece. Até o momento em que presente "que tem como extremo honzonte a liberdade de
os dois, em que o ruído e o silêncio se esposam estreítà­ morrer � o poder de se arriscar mortalmente"., Podemos
mente, continuamente, no desmantelamento e na explosão do citar várias maneiras bastante diversas pelas quais se faz a
fim que significam agora que todo o jogo da fissura se junção dos dois processos: o suicídio, a loucura, o uso
encarnou na profundidade do corpo, ao mesmo tempo em das drogas ou do álcool. Estes dois meios são :alv�z os
que o trabalho do interior e do exterior lhe distendeu as mais perfeitos, pelo tempo que eles tomam, ao mves de
bordas. confundir as duas linhas em um ponto fatal. Mas em todos
(O que poderíamos responder ao amigo que nos os casos há alguma coisa de ilusório. Quando . B!a�chot
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ser pela maneira segundo a qual o apreendeis, então é�uito pelo ato o mais pessoal, ele mostra bem a ;ne�ltabilidade
melhor dizer que não é em vós que se encontra a falha, desta concordância, desta tentação de conc�rdancla, mas . ele
nias, sim no Grande Canon". Este consolo à american�, por tenta também definir sua ilusão 3. SubSiste, com efeito,
projeção, não é bom para aqueles que sabem que a fissura toda a diferença de natureza entre o que se esposa ou se
não era mais interior do que exterior e que sua projeção prolonga estreitamente. .
para o exterior não marca menos a aproximação do fim Mas o problema não está aí. Para quem subSiste esta
do que a introjeção mais pura. E se a fissura se torna a diferença de natureza senão para � pensador abstrato? E
.
do Grande Canon ou de um rochedo na Sierra Madre, se como poderia o pensador, em rel�çao a este problema, nao
as imagens cósmicas de ravina, de montanha e de vulcão ser ridículo? Os dois processos diferem em natureza, certa­
substituem a porcelana íntima e familiar, o que é que muda mente. Mas como fazer para que um não prolong�e o
e como impedir-nos de experimentar uma insuportável outro natural e necessariamente? Como o traçado slle l:'­
piedade pelas pedras, uma identificação petrificante? Como cioso da fi�sur,a incorporaI na superfície não se tornaria
Lowry faz dizer, por sua vez, o componente de um !lutro -.(V(fl.if.-.=/� ,,��"'>h.
t-- 2 LowRy M. Acima do 'OUlcão. Tradução francesa Buchet Chastel,
casal, "admitindo-se que ela se tivesse fendido, não teria pp. 'n'", E p�a o que precede cf. Apêndice V. ' .
104-105' "Pelo sUlcídIO, quero mat ar-me
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havido nenhum meio, antes que a desintegração total se

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em � !!;:='dete��;d�:t'li��' a morte' a agora.: sim, a�ora, ag a,
tivesse produzido, de salvar-lhe pelo menos as metades nada mostra mais a ilusão, a loucura deste eu quero, pou � rn��e n!:
éstá presente... O suicídio nisto não é � � aco e !rtm° antesé
� é que
separadas? . . Oh!, mas por que, por alguma fantástica \
o que gostaria de suprimi-la como futuro, tirar- e es: p e de u o
taumaturgia geológica, não se poderia soldar de novo estes como a sua essência ,.. Nilo podemos ",.ot�f' DOS matarmos, , preparamo-nos
ara isso agimos tendo em vista o gesto últimO que pertence am . da à cate-
fragmentos? Yvonne desejava ardentemente curar a rocha iorta no:mal das coisas a fazer, mas este gesto não ,� em .
VIsta da morte,
ele não a olha, ele não a ma ntém em sua presença ...
também seu aprofundamento na espessura de um corpo aprofundá-Ia irremediavelmente? Para onde quer que nos
ruidoso? Como o corte de superfície não se tornaria nma voltemos, tudo parece triste. Em verdade, Como ficar na
Spaltung profunda e o não-senso de superfície um não-senso superficie sem permanecer à margem? Como salvar-se, sal­
das profundidades? Se querer é querer o acontecimento, vando a superfície e toda a organização de superfície,
como não haveríamos de querer também sua plena efetua­ inclusive a linguagem e a vida? Como atingir esta política,
ção em uma mistura corporal e sob esta vontade trágica esta guerrilha completa? (Quantas lições a receber ainda
que preside a todas as ingestões? Se a ordem da superfície do estoicismo ... )
é por si mesma fendida, como não haveria ela mesma de O alcoolismo não aparece como a busca de um prazer,
se quebrar, como nos impedirmos de precipitar a sua des­ mas de um efeito. Este efeito consiste principalmente
truição, com o risco de perder todas as vantagens a ela nisto: um extraordinário endurecimento do presente. Vive­
ligadas, a organização da linguagem e a própria vida? -se em dois tempos simultaneamente, vive-se dois momentos
Como não haveríamos de chegar a este ponto em qne nada simultaneamente, mas não à maneira proustiana. O outro
mais se pode além de soletrar e gritar, em uma espécie de momento pode remeter a projetos tanto quanto a lembranças
profundidade esquizofrênica, mas não mais, absolutamente, da vida sobria; mas nem por isso ele deixa de existir de
falar? Se existe a fissura na superfície, como evitar que a um modo completamente diferente, profundamente modifi­
vida profnnda se transforme em empresa de demolição e cado, .apreendido neste presente endurecido que o cerca
se torne tal, "obviamente"? Será possível manter a insis­ como um tenro botão em uma carne endurecida. Neste
tência da fissura incorporaI evitando, ao mesmo tempo, centro mole do outro momento, o alcoólatra pode, pois,
fazê-Ia existir, encarná-Ia na profundidade do corpo? Mais identificar-se aos objetos de seu amor, "de seu horror e
precisamente, será possível ater-se à contra-efetuação de um de sua compaixão", enquanto que a dureza vivida e que­
acontecimento, simples representação plana do ator ou do rida do momento presente lhe permite manter à distância
dançarino, evitando ao mesmo tempo a plena efetuação que a realidade 4. E o alcoólatra não ama menos esta rigidez
caracteriza a vítima Ou verdadeiro paciente? Todas estas que o ganha do que a doçura que ela envolve e encerra.
questões acusam o ridículo do pensador: sim, sempre, os Um dos momentos está no outro, e o presente não se
dois aspectos, os dois processos diferem em natureza. Mas endureceu tanto, não se tetanizou a não ser para investir
,quando Bousquet fala da verdade eterna do ferimento, é este ponto de moleza prestes a estourar. Os dois momentos
em nome de um ferimento pessoal abominável que ele simultâneos se compõem estranhamente: o alcoólatra não
carrega em seu corpo. Quando Fitzgerald ou Lowry falam vive nada no imperfeito ou no futuro, ele não tem senão
desta fissura metafísica incorporaI, quando nesta encontram, um passado composto . Mas um passado composto muito
ao mesmo tempo, o lugar e o obstáculo de seu pensamento, especial. De sua embriaguez ele compõe um passado
a fonte e o estancamento de seu pensamento, o sentido e o
imaginário, como se a doçura do particípio passado viesse
não-sentido, é com todos os litros de álcool que eles bebe­ se combinar com a dureza do auxiliar presente: eu tenho
,
I ram, que efetuaram a fissura no corpo. Quando Artaud amado (j'ai aimé), eu tenho feito (j'ai fait), eu tenho visto
fala da erosão do pensamento como de alguma coisa de (j'ai vu) eis o que exprime a copulação dos dois
-

essencial e de acidental ao mesmo tempo, radical impotência momentos, a maneira pela qual o alcoólatra experimenta um
e, entretanto, autopoder, já o faz partindo do fundo da no outro desfrutando de uma onipotência maníaca. AqUI
esquizofrenia. Cada qual arriscava alguma coisa, foi o mais li Ó"'-6<lriN::I.1 (t,... � h ÁOpT""'-<>, ..{ �...... _

longe neste risco e tira daí um direito imprescritível. Que 4. FrrzGERALd. Op. cit., pp. 353-354: "Eu queria so�ente . antetran-
da
'1üilidade absoluta para decidir por que dera para me tornar triste dl�
resta ao pensador abstrato quando dá conselhos de sabedoria tristeza, melancólico diante da melancolia e trágico diante da tragédia;. po
r

e de distinção? Então, falar sempre do fermento de Bous­ que me pusera a me identificar aos objetos de me:u horror ou de IlUnha
compaixão. . . Uma identificação deste gênero eqUlvale à morte A d� t�a
quet, do alcoolismo de Fitzgerald e de Lowry, da loucura realização' � algo deste gênero que impede os loucos de trabalhar. Lenm nao
suportava de boa vontade o sofrimento de seu proletariado, nem George
de Nietzsche e de Artaud, ficando à margem? Transfor­ Washington de suas tropas, nem Dickens de seus pobres londrinos. E quando

Tolst6i tentou confundir-se assim com os objetos de sua atençao acabou


mar-se no profissional destas conversações? Desejar apenas chegando a uma trapaça e a um malogro ... " Este texto é uma notável
que aqueles que foram atingidos não se afundem demais? jluslraçiio das teorias psicanalíticas e notadamente kleinianas sobre o� estados
manfaco-dep,essivos. No entanto, como veremos no que se segue, �Ols P�'?tos
Fazer subscrições e números especiais? Ou então irmos constituem problemas nesta teoria: a mania é nelas apresentada 1DIUS frcq'!e. n-
temente como 'urna reação ao estado depressivo, quando ela parece, �o cO�!Tarl.?,
nós mesmos provar um pouco, sermos um pouco alcoólatras, detenniná-Io, pelo menos na estrutura alco6latra; por outro lado, a ldentiflc�ao
um pouco loucos, um pouco suicidas, um pouco guerrilheiros, é mais freqüentemente apresentada como uma reação à perda de objeto,
quando ela parece também determinar esta perda, provocá-la e mesmo "de­
apenas o bastante para aumentar a fissura, mas não para iejá-Ia".
também seu aprofundamento na espessura de um corpo aprofundá-Ia irremediavelmente? Para onde quer que nos
ruidoso? Como o corte de superfície não se tornaria nma voltemos, tudo parece triste. Em verdade, Como ficar na
Spaltung profunda e o não-senso de superfície um não-senso superficie sem permanecer à margem? Como salvar-se, sal­
das profundidades? Se querer é querer o acontecimento, vando a superfície e toda a organização de superfície,
como não haveríamos de querer também sua plena efetua­ inclusive a linguagem e a vida? Como atingir esta política,
ção em uma mistura corporal e sob esta vontade trágica esta guerrilha completa? (Quantas lições a receber ainda
que preside a todas as ingestões? Se a ordem da superfície do estoicismo ... )
é por si mesma fendida, como não haveria ela mesma de O alcoolismo não aparece como a busca de um prazer,
se quebrar, como nos impedirmos de precipitar a sua des­ mas de um efeito. Este efeito consiste principalmente
truição, com o risco de perder todas as vantagens a ela nisto: um extraordinário endurecimento do presente. Vive­
ligadas, a organização da linguagem e a própria vida? -se em dois tempos simultaneamente, vive-se dois momentos
Como não haveríamos de chegar a este ponto em qne nada simultaneamente, mas não à maneira proustiana. O outro
mais se pode além de soletrar e gritar, em uma espécie de momento pode remeter a projetos tanto quanto a lembranças
profundidade esquizofrênica, mas não mais, absolutamente, da vida sobria; mas nem por isso ele deixa de existir de
falar? Se existe a fissura na superfície, como evitar que a um modo completamente diferente, profundamente modifi­
vida profnnda se transforme em empresa de demolição e cado, .apreendido neste presente endurecido que o cerca
se torne tal, "obviamente"? Será possível manter a insis­ como um tenro botão em uma carne endurecida. Neste
tência da fissura incorporaI evitando, ao mesmo tempo, centro mole do outro momento, o alcoólatra pode, pois,
fazê-Ia existir, encarná-Ia na profundidade do corpo? Mais identificar-se aos objetos de seu amor, "de seu horror e
precisamente, será possível ater-se à contra-efetuação de um de sua compaixão", enquanto que a dureza vivida e que­
acontecimento, simples representação plana do ator ou do rida do momento presente lhe permite manter à distância
dançarino, evitando ao mesmo tempo a plena efetuação que a realidade 4. E o alcoólatra não ama menos esta rigidez
caracteriza a vítima Ou verdadeiro paciente? Todas estas que o ganha do que a doçura que ela envolve e encerra.
questões acusam o ridículo do pensador: sim, sempre, os Um dos momentos está no outro, e o presente não se
dois aspectos, os dois processos diferem em natureza. Mas endureceu tanto, não se tetanizou a não ser para investir
,quando Bousquet fala da verdade eterna do ferimento, é este ponto de moleza prestes a estourar. Os dois momentos
em nome de um ferimento pessoal abominável que ele simultâneos se compõem estranhamente: o alcoólatra não
carrega em seu corpo. Quando Fitzgerald ou Lowry falam vive nada no imperfeito ou no futuro, ele não tem senão
desta fissura metafísica incorporaI, quando nesta encontram, um passado composto . Mas um passado composto muito
ao mesmo tempo, o lugar e o obstáculo de seu pensamento, especial. De sua embriaguez ele compõe um passado
a fonte e o estancamento de seu pensamento, o sentido e o
imaginário, como se a doçura do particípio passado viesse
não-sentido, é com todos os litros de álcool que eles bebe­ se combinar com a dureza do auxiliar presente: eu tenho
,
I ram, que efetuaram a fissura no corpo. Quando Artaud amado (j'ai aimé), eu tenho feito (j'ai fait), eu tenho visto
fala da erosão do pensamento como de alguma coisa de (j'ai vu) eis o que exprime a copulação dos dois
-

essencial e de acidental ao mesmo tempo, radical impotência momentos, a maneira pela qual o alcoólatra experimenta um
e, entretanto, autopoder, já o faz partindo do fundo da no outro desfrutando de uma onipotência maníaca. AqUI
esquizofrenia. Cada qual arriscava alguma coisa, foi o mais li Ó"'-6<lriN::I.1 (t,... � h ÁOpT""'-<>, ..{ �...... _

longe neste risco e tira daí um direito imprescritível. Que 4. FrrzGERALd. Op. cit., pp. 353-354: "Eu queria so�ente . antetran-
da
'1üilidade absoluta para decidir por que dera para me tornar triste dl�
resta ao pensador abstrato quando dá conselhos de sabedoria tristeza, melancólico diante da melancolia e trágico diante da tragédia;. po
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e de distinção? Então, falar sempre do fermento de Bous­ que me pusera a me identificar aos objetos de me:u horror ou de IlUnha
compaixão. . . Uma identificação deste gênero eqUlvale à morte A d� t�a
quet, do alcoolismo de Fitzgerald e de Lowry, da loucura realização' � algo deste gênero que impede os loucos de trabalhar. Lenm nao
suportava de boa vontade o sofrimento de seu proletariado, nem George
de Nietzsche e de Artaud, ficando à margem? Transfor­ Washington de suas tropas, nem Dickens de seus pobres londrinos. E quando

Tolst6i tentou confundir-se assim com os objetos de sua atençao acabou


mar-se no profissional destas conversações? Desejar apenas chegando a uma trapaça e a um malogro ... " Este texto é uma notável
que aqueles que foram atingidos não se afundem demais? jluslraçiio das teorias psicanalíticas e notadamente kleinianas sobre o� estados
manfaco-dep,essivos. No entanto, como veremos no que se segue, �Ols P�'?tos
Fazer subscrições e números especiais? Ou então irmos constituem problemas nesta teoria: a mania é nelas apresentada 1DIUS frcq'!e. n-
temente como 'urna reação ao estado depressivo, quando ela parece, �o cO�!Tarl.?,
nós mesmos provar um pouco, sermos um pouco alcoólatras, detenniná-Io, pelo menos na estrutura alco6latra; por outro lado, a ldentiflc�ao
um pouco loucos, um pouco suicidas, um pouco guerrilheiros, é mais freqüentemente apresentada como uma reação à perda de objeto,
quando ela parece também determinar esta perda, provocá-la e mesmo "de­
apenas o bastante para aumentar a fissura, mas não para iejá-Ia".
o passado composto não exprime absolutamente uma dis­ vivido como um futuro anterior, com uma terrível precipi­
tância ou um acabamento. O momento presente é o do tação ainda aqui deste futuro composto, um efeito do efeito
verbo ter, enquanto que todo o ser é "passado" no outro que vai até à morte)s. Para os heróis de Fitzgerald, o
, ?�me �to simultâne �, no momento da participação, da iden­ alcoolismo é o próprio processo de demolição enquanto
. .
�Iflcaçao. do partiClplO. Mas que estranha tensão quase determina o efeito de fuga do passado: não somente do
msuportavel, este amplexo, esta maneira pela .qual o pre­ passado sóbrio de que eles se separaram ("Meu Deus,
sente envolve e investe, encerra outro momento. O pre­ bêbado durante dez anos"), mas não menos o passado
sente se fez círculo de cristal ou de granito, em torno do próximo em que acabam de beber e o passado fantástico
centro mole, lava, vidro líquido ou pastoso. Entretanto, do. primeiro efeito. Tudo se tornou igualmente longínquo e
esta tensão desata-se em proveito de outra coisa ainda. determina a necessidade de beber de novo, ou antes de ter
Pois pertence ao passado composto o tornar-se um j'ai-bu de novo bebido, para triunfar deste presente endurecido e
(eu tenho bebido). O momento presente não é mais o descolorido que subsiste só e siguifica a morte. É por isso
do efeito alcoólico, mas o do efeito do efeito. E agora o que o alcoolismo é exemplar. Pois este efeito-álcool, muitos
outro momento compreende indiferentemente o passado outros acontecimentos podem produzi-lo à sua maneira: a
próximo (o momento em que eu bebia), o sistema das perda de dinheiro, a perda de amor, a perda da terra natal,
identificações imaginárias que este passado próximo encerra a perda do sucesso. Eles o produzem independentemente
e os elementos reais do passado sóbrio mais ou menos do álcool e de maneira exterior, mas eles se parecem com a
distanciado. Assim o endurecimento do presente mudou "saída" do álcool. O dinheiro, por exemplo, Fitzgerald o
completamente de sentido; o presente na sua ·dureza tornou­ vive como um "eu fui rico", que o separa tanto do momento
,
-se sem força e descolorido, não encerra mais nada e põe em que ele não o era ainda quanto do momento em que
r
ele se tornou rico e das identificações aos "verdadeiros ricos"
igualmente à distância todos os aspectos do outro momento.
às quais ele se entregava então. Consideremos, por exem­
Dir-se-ia que o passado próximo, mas também o passado
plo, a grande cena amorosa de Gatsby: no momento em
de identificações que se constituiu nele, e enfim o passado
que ele ama e é amado, Gatsby na sua espantosa sentimen­
sóbrio que f ?rnecia uma matéria, tudo isto fugiu rapida­
. talidade se conduz como um homem bêbado. Ele endurece
mente, tudo Isto esta Igualmente longe, mantido à distância
este presente com todas as suas forças, e quer fazê-lo
por uma expansão generalizada deste presente descolorido,
encerrar a mais terna identificação, aquela que se faz com
pela nova rigidez deste novo presente em um deserto cres­
um passado composto em que ele teria sido amado por uma
cente. Os passados compostos do primeiro efeito são subs­
mesma mulher, absolutamente, exclusivamente e sem parti­
tituídos pelo exclusivo j' ai-bu (eu tenho bebido) do segundo
lha (os cinco anos de ausência como os dez anos de embria­
efeito, em que o auxiliar presente não exprime mais do que
guez). É neste cume da identificação - de que Fitzgerald
a distância infiuita de todo particípio e de toda participação.
. dizia: ele equivale "à morte de toda realização" - que
O endurecimento do presente (eu tenho) está agora em
Gatsby se quebra como vidro, perde tudo, tanto seu amor
relação com um efeito de fuga do passado "bebido". Tudo
próximo como seu antigo amor e seu amor fantástico. O
culmina em um ha� been. Este efeito de fuga do passado,
que dá ao alcoolismo um valor exemplar, entretanto, entre
esta perda do objeto em todos os sentidos, constitui o
todos estes acontecimentos do mesmo tipo, é que o álcool
aspecto depressivo do alcoolismo. E este efeito de fuga é,
é ao mesmo tempo o amor e a perda do amor, o dinheiro
talvez, o que faz a maior força da obra de Fitzgerald' o
que ele exprimin o mais profundamente. 5. Em Lowry, também o alcoolismo é inseparável das identificações que
O curioso é que Fitzgerald não apresenta, ou o faz toma possível e da falência destas identificações: O romance perdido de
Lowry, em BaIlast to the White Sea. tinha por tema a identificação e a chance
raramente, seus personagens bebendo ou procurando beber. de uma salvação pot identificação: cf. Choix de Lettres. Denoel, p. 265 e 55.
Encontraríamos em todo caso no futuro anterior uma precipitação análoga
Fitzgerald não vive o alcoolismo sob a forma da falta e da àquela que vimos para o passado composto.
Em um artigo bem interessante, Gunther Stein analisava os caracteres do

necessi de:. �
lvez pudor, ou então ele pôde sempre beber, futuro anterior; o futuro prolongado, como o passado composto, deixa de
ou entao ha vanas formas de alcoolismo, um voltado para pertenc:r ao hOmem. "A este tempo não convém nem mesmo mais a direçl0
especifica do tempo, o sentido positivo: ele se reduz a alguma coisa que não
seu passado mesmo o mais próximo. (Lowry ao con­ s17rá mais futuro, a um Mon irrelevante para o eu; o homem certamente pode
amda pensar e indicar a existência deste Aion, mas de uma maneira estéril,
trário. . . Mas, quando o alcoolismo é vivido sob esta sem compreendê-Io e sem realizá-lo... O eu serei se converteu doravante em
forma aguda da necessidade, aparece uma deformação não um o q,ue será, eu não o seTei. A expressão positiva desta forma é o futuro
anterior: eu terei sido" ("Patologia da hberdade. ensaio sobre a não-identiIi�
menos profunda do tempo; desta vez é todo futuro que é cação", Recherches Philosophiques, VI, 1936-1937).
o passado composto não exprime absolutamente uma dis­ vivido como um futuro anterior, com uma terrível precipi­
tância ou um acabamento. O momento presente é o do tação ainda aqui deste futuro composto, um efeito do efeito
verbo ter, enquanto que todo o ser é "passado" no outro que vai até à morte)s. Para os heróis de Fitzgerald, o
, ?�me �to simultâne �, no momento da participação, da iden­ alcoolismo é o próprio processo de demolição enquanto
. .
�Iflcaçao. do partiClplO. Mas que estranha tensão quase determina o efeito de fuga do passado: não somente do
msuportavel, este amplexo, esta maneira pela .qual o pre­ passado sóbrio de que eles se separaram ("Meu Deus,
sente envolve e investe, encerra outro momento. O pre­ bêbado durante dez anos"), mas não menos o passado
sente se fez círculo de cristal ou de granito, em torno do próximo em que acabam de beber e o passado fantástico
centro mole, lava, vidro líquido ou pastoso. Entretanto, do. primeiro efeito. Tudo se tornou igualmente longínquo e
esta tensão desata-se em proveito de outra coisa ainda. determina a necessidade de beber de novo, ou antes de ter
Pois pertence ao passado composto o tornar-se um j'ai-bu de novo bebido, para triunfar deste presente endurecido e
(eu tenho bebido). O momento presente não é mais o descolorido que subsiste só e siguifica a morte. É por isso
do efeito alcoólico, mas o do efeito do efeito. E agora o que o alcoolismo é exemplar. Pois este efeito-álcool, muitos
outro momento compreende indiferentemente o passado outros acontecimentos podem produzi-lo à sua maneira: a
próximo (o momento em que eu bebia), o sistema das perda de dinheiro, a perda de amor, a perda da terra natal,
identificações imaginárias que este passado próximo encerra a perda do sucesso. Eles o produzem independentemente
e os elementos reais do passado sóbrio mais ou menos do álcool e de maneira exterior, mas eles se parecem com a
distanciado. Assim o endurecimento do presente mudou "saída" do álcool. O dinheiro, por exemplo, Fitzgerald o
completamente de sentido; o presente na sua ·dureza tornou­ vive como um "eu fui rico", que o separa tanto do momento
,
-se sem força e descolorido, não encerra mais nada e põe em que ele não o era ainda quanto do momento em que
r
ele se tornou rico e das identificações aos "verdadeiros ricos"
igualmente à distância todos os aspectos do outro momento.
às quais ele se entregava então. Consideremos, por exem­
Dir-se-ia que o passado próximo, mas também o passado
plo, a grande cena amorosa de Gatsby: no momento em
de identificações que se constituiu nele, e enfim o passado
que ele ama e é amado, Gatsby na sua espantosa sentimen­
sóbrio que f ?rnecia uma matéria, tudo isto fugiu rapida­
. talidade se conduz como um homem bêbado. Ele endurece
mente, tudo Isto esta Igualmente longe, mantido à distância
este presente com todas as suas forças, e quer fazê-lo
por uma expansão generalizada deste presente descolorido,
encerrar a mais terna identificação, aquela que se faz com
pela nova rigidez deste novo presente em um deserto cres­
um passado composto em que ele teria sido amado por uma
cente. Os passados compostos do primeiro efeito são subs­
mesma mulher, absolutamente, exclusivamente e sem parti­
tituídos pelo exclusivo j' ai-bu (eu tenho bebido) do segundo
lha (os cinco anos de ausência como os dez anos de embria­
efeito, em que o auxiliar presente não exprime mais do que
guez). É neste cume da identificação - de que Fitzgerald
a distância infiuita de todo particípio e de toda participação.
. dizia: ele equivale "à morte de toda realização" - que
O endurecimento do presente (eu tenho) está agora em
Gatsby se quebra como vidro, perde tudo, tanto seu amor
relação com um efeito de fuga do passado "bebido". Tudo
próximo como seu antigo amor e seu amor fantástico. O
culmina em um ha� been. Este efeito de fuga do passado,
que dá ao alcoolismo um valor exemplar, entretanto, entre
esta perda do objeto em todos os sentidos, constitui o
todos estes acontecimentos do mesmo tipo, é que o álcool
aspecto depressivo do alcoolismo. E este efeito de fuga é,
é ao mesmo tempo o amor e a perda do amor, o dinheiro
talvez, o que faz a maior força da obra de Fitzgerald' o
que ele exprimin o mais profundamente. 5. Em Lowry, também o alcoolismo é inseparável das identificações que
O curioso é que Fitzgerald não apresenta, ou o faz toma possível e da falência destas identificações: O romance perdido de
Lowry, em BaIlast to the White Sea. tinha por tema a identificação e a chance
raramente, seus personagens bebendo ou procurando beber. de uma salvação pot identificação: cf. Choix de Lettres. Denoel, p. 265 e 55.
Encontraríamos em todo caso no futuro anterior uma precipitação análoga
Fitzgerald não vive o alcoolismo sob a forma da falta e da àquela que vimos para o passado composto.
Em um artigo bem interessante, Gunther Stein analisava os caracteres do

necessi de:. �
lvez pudor, ou então ele pôde sempre beber, futuro anterior; o futuro prolongado, como o passado composto, deixa de
ou entao ha vanas formas de alcoolismo, um voltado para pertenc:r ao hOmem. "A este tempo não convém nem mesmo mais a direçl0
especifica do tempo, o sentido positivo: ele se reduz a alguma coisa que não
seu passado mesmo o mais próximo. (Lowry ao con­ s17rá mais futuro, a um Mon irrelevante para o eu; o homem certamente pode
amda pensar e indicar a existência deste Aion, mas de uma maneira estéril,
trário. . . Mas, quando o alcoolismo é vivido sob esta sem compreendê-Io e sem realizá-lo... O eu serei se converteu doravante em
forma aguda da necessidade, aparece uma deformação não um o q,ue será, eu não o seTei. A expressão positiva desta forma é o futuro
anterior: eu terei sido" ("Patologia da hberdade. ensaio sobre a não-identiIi�
menos profunda do tempo; desta vez é todo futuro que é cação", Recherches Philosophiques, VI, 1936-1937).
s de exploração revolu�i�­
e a perda do dinheiro, a terra natal e sua perda. Ele é, minam são convertidas em meio
nanos. BurroUghS escreve sobr

e este ponto estra as pagi­
ao mesmo tempo, o objeto, a perda do objeto e a lei desta a da grande Saude, nossa
nas que dão testemunho desta busc
perda em processo concertado de demolição ("obviamente"). "Im agin ai que tudo o que s.e
maneira de ser piedosos:
A questão de saber se a fissura pode evitar encarnar­ é acessível por outros catnl­
ode atingir por vias químicas
-se, efetuar-se no corpo sob esta ou outra forma, não é rfíc:ie para transmutar o
evidentemente justificável a partir de regras gerais. A
� os ... " Metralhamento da supe
psicodeha.
apunhalamento dos corpos, ó
fissura continua sendo apenas uma palavra enquanto o corpo
não estiver comprometido e enquanto o fígado e o cérebro,
os órgãos, não apresentem estas linhas a partir das quais se
prediz o futuro e que profetizam por si mesmas. Se
perguntamos por que não bastaria a saúde, por que a fissura
é desejável é porque, talvez, nunca pensamos a não ser
por ela e sobre suas bordas e que tudo o que foi bom e
grande na humanidade entra e sai por ela, em pessoas
prontas a se destruir a si mesmas e que é antes a morte
do que a saúde que se nos propõem. Haverá uma outra
saúde, como um corpo que sobrevive tão longe quanto
possível à sua própria cicatriz, como Lowry sonhando em
reescrever uma "Fissura" que acabaria bem e jamais renUD­
ciando à idéia de uma reconquista vital? f: verdade que
a fissura não é nada se não compromete o corpo, mas
ela não cessa menos de ser e de valer quando confunde
sua linha com a outra linha, no interior do corpo. Não
se pode dizê-lo de antemão, é preciso arriscar permanecendo
o mais tempo possível, não perder de vista a grande saúde.
Não se apreende a verdade eterna do acontecimento a não
ser que o acontecimento se inscreva também na carne; mas
cada vez devemos duplicar esta efetuação dolorosa por uma
contra-efetuação que a limita, a representa, a transfigura.
f: preciso acompanhar-se a si mesmo, primeiro para sobre­
viver, mas inclusive quando morremos. A contra-efetuação
não é nada, é a do bnfão quando ela opera só e pretende
valer para o que teria podido acontecer. Mas ser o mímico
do que acontece efetivamente, duplicar a efetuação com uma
contra-efetuação, a identificação com uma distância, tal o
ator verdadeiro ou o dançarino, é dar à verdade do aconte­
cimento a chance única de não se confundir com sua inevi­
tável efetuação, à fissura a chance de sobrevoar seu campo
de snperfície incorporai sem se deter na quebradura de cada
corpo e a nós de irmos mais longe do que teríamos acredita,
do poder. Tanto quanto o acontecimento puro se aprisiona
para sempre na .sua efetuação, a contra-efetuação o libera
sempre para outras vezes. Não podemos renunciar à espe­
rança de que os efeitos da droga ou do álcool (suas "revela­
ções") poderão ser revividos e recuperados por si mesmos
na superfície do mundo, independentemente do uso das
substâncias, se as técnicas de alienação social que o deter-
s de exploração revolu�i�­
e a perda do dinheiro, a terra natal e sua perda. Ele é, minam são convertidas em meio
nanos. BurroUghS escreve sobr

e este ponto estra as pagi­
ao mesmo tempo, o objeto, a perda do objeto e a lei desta a da grande Saude, nossa
nas que dão testemunho desta busc
perda em processo concertado de demolição ("obviamente"). "Im agin ai que tudo o que s.e
maneira de ser piedosos:
A questão de saber se a fissura pode evitar encarnar­ é acessível por outros catnl­
ode atingir por vias químicas
-se, efetuar-se no corpo sob esta ou outra forma, não é rfíc:ie para transmutar o
evidentemente justificável a partir de regras gerais. A
� os ... " Metralhamento da supe
psicodeha.
apunhalamento dos corpos, ó
fissura continua sendo apenas uma palavra enquanto o corpo
não estiver comprometido e enquanto o fígado e o cérebro,
os órgãos, não apresentem estas linhas a partir das quais se
prediz o futuro e que profetizam por si mesmas. Se
perguntamos por que não bastaria a saúde, por que a fissura
é desejável é porque, talvez, nunca pensamos a não ser
por ela e sobre suas bordas e que tudo o que foi bom e
grande na humanidade entra e sai por ela, em pessoas
prontas a se destruir a si mesmas e que é antes a morte
do que a saúde que se nos propõem. Haverá uma outra
saúde, como um corpo que sobrevive tão longe quanto
possível à sua própria cicatriz, como Lowry sonhando em
reescrever uma "Fissura" que acabaria bem e jamais renUD­
ciando à idéia de uma reconquista vital? f: verdade que
a fissura não é nada se não compromete o corpo, mas
ela não cessa menos de ser e de valer quando confunde
sua linha com a outra linha, no interior do corpo. Não
se pode dizê-lo de antemão, é preciso arriscar permanecendo
o mais tempo possível, não perder de vista a grande saúde.
Não se apreende a verdade eterna do acontecimento a não
ser que o acontecimento se inscreva também na carne; mas
cada vez devemos duplicar esta efetuação dolorosa por uma
contra-efetuação que a limita, a representa, a transfigura.
f: preciso acompanhar-se a si mesmo, primeiro para sobre­
viver, mas inclusive quando morremos. A contra-efetuação
não é nada, é a do bnfão quando ela opera só e pretende
valer para o que teria podido acontecer. Mas ser o mímico
do que acontece efetivamente, duplicar a efetuação com uma
contra-efetuação, a identificação com uma distância, tal o
ator verdadeiro ou o dançarino, é dar à verdade do aconte­
cimento a chance única de não se confundir com sua inevi­
tável efetuação, à fissura a chance de sobrevoar seu campo
de snperfície incorporai sem se deter na quebradura de cada
corpo e a nós de irmos mais longe do que teríamos acredita,
do poder. Tanto quanto o acontecimento puro se aprisiona
para sempre na .sua efetuação, a contra-efetuação o libera
sempre para outras vezes. Não podemos renunciar à espe­
rança de que os efeitos da droga ou do álcool (suas "revela­
ções") poderão ser revividos e recuperados por si mesmos
na superfície do mundo, independentemente do uso das
substâncias, se as técnicas de alienação social que o deter-

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