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VLÁDIA COSTA PEREIRA – MATRÍCULA: 202110072

DOAÇÃO DE ÓRGÃOS

FACULDADE SENA AIRES


BRASÍLIA, ABRIL DE 2021
VLÁDIA COSTA PEREIRA – MATRÍCULA: 202110072

DOAÇÃO DE ÓRGÃOS

Trabalho de aproveitamento da disciplina


Direito Civil, do curso Bacharelado em
Direito, sob a orientação da professora
MSc. Nara Josefina Dorneles Graça

FACULDADE SENA AIRES


BRASÍLIA, ABRIL DE 2021
Doação de órgãos
Por um viés Jurídico conforme art. 14 e 15 do Código Civil.

Vládia Costa Pereira

RESUMO

Trabalho com o objetivo de levar o leitor a conhecer como funciona e qual a


estrutura dos órgãos competentes pelo processo de doação de órgãos no Brasil.
Levando ao conhecimento do leitor sobre seus direitos constante no nosso
ordenamento jurídico, apresenta de forma clara que todos os procedimentos
envolvidos no processo são especificados em lei, decretos e ou acordos. Demonstra
também que a doação pode ser pos morte ou entre pessoas vivas, contudo na
doação pos morte e imprescindível a autorização da família.

PALAVRAS - CHAVE:
DOAÇÃO, ÓRGÃOS, DIREITO
Doação de órgãos
Por um viés Jurídico conforme art. 14 e 15 do Código Civil.

ABSTRACT
I work with the objective of getting the reader to know how it works and what is the
structure of Organs competent organs through the organ donation process in Brazil.
Bringing the reader to know about his rights in our legal system, he clearly presents
that all the procedures involved in the process are specified in law, decrees and or
agreements. It also demonstrates that the donation can be post-mortem or among
living people, however in the post-mortem donation and the authorization of the
family is essential.

KEYWORDS
DONATION, BODIES, LAW.

Doação de órgãos
Por um viés Jurídico.
INTRODUÇÃO
Podemos visualizar a situação de transplante no Brasil por várias vertentes,
uma delas está presente neste trabalho por um viés jurídico apresentando leis que
regularizam a prática.
Para o direito o corpo humano é um bem tutelado em nosso ordenamento
jurídico, sendo assim em hipótese alguma, objeto de comercialização. Na linha de
proteção a integridade física e disposição do próprio corpo em vida e pós morte é
regulamentada no art 14 do Código Civil (disposição do corpo após a morte).
Em tempo veremos algumas condutas tipificadas pela lei 9.434/97 e
perceberemos a necessidade de políticas publicas para refletirmos sobre a doação
de órgãos, apresentarei também alguns tratados que o Brasil é consignatário e
alguns decretos para fixar o entendimento sobre a matéria.

DESENVOLVIMENTO
No Brasil ainda estamos a desejar no que diz respeito a número de
transplantes segundo a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO)
quando nos informa, que na Espanha o maior referencial em transplante no mundo,
há um referencial de 40 transplante por 1 milhão de habitantes, e no Brasil em 2019
/ 2020 obtivemos a faixa de 16 transplantes por 1 milhão, portanto estamos
crescendo nesse sentido. Segundo a ABTO consta na lista oficial mais de 35 mil
pessoas a espera de um transplante de órgãos hoje no país.

Abordar esse tema é de suma importância para o conhecimento de todos os


leitores, pois é partindo dessa conscientização instruiremos de maneira mais eficaz
aqueles que se interessa em realizar doação e conhecer todo o processo e como ele
e legalizado nos país. Este artigo tem o objetivo de informar como se dá o demanda
de doação e cientificar que todo processo é cercado e norteado por leis que
amparam tanto o doador e sua vontade como também o receptor dando maior
publicidade e transparência a todo o processo.
Esclarecemos à existência de dois tipos de doações, a doação Post Mortem
(após a morte) e Inter vivos (entre pessoas vivas). O instituto responsável pelas
cirurgias de transplantes é o Sistema Nacional de Transplante (SNT), órgão
integrado ao Ministério da Saúde. Todo procedimento é regulado pela Lei 9.434 de
04 de fevereiro de 1997, dispõe sobre a remoção dos órgãos e pela lei 10.211 /01
que disciplina quem pode doar e quais estabelecimentos são autorizados a praticar
o transplante, ou seja, normatiza todo o processo, entre tanto deixa claro a
gratuidade da doação.

Hoje são vários os motivos apontados pela Associação Brasileira de


Transplantes de Órgãos (ABTO) que justificam a fila de transplante de órgãos no
Brasil são inúmeros os desafios encontrados para que possamos aumentar a
quantidade de doadores efetivos. O primeiro deles é que mesmo que conste a
vontade do agente em doar seus órgãos pós morte, é delegado aos familiares à
decisão de doação dos órgãos do ente que faleceu após a comprovação da morte
cerebral.

Partindo desse princípio um dos maiores obstáculos para se concretizar a


doação de órgãos é a família obter o conhecimento de toda a sistemática que
envolve o processo de doação, pois em muitos casos a família não consegue
entender a situação onde após o fim da atividade cerebral é que se dá a morte real,
fazendo um link com essa informação podemos afirmar que para o direito, o fim da
personalidade civil, termina com a morte física, deixando o indivíduo de ser sujeito
de direitos e obrigações. A morte, portanto, é o momento extintivo dos direitos
da personalidade.

A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos
ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva. (ART 6º
CC)

Para maior conhecimento seriam necessários campanhas nas redes sociais


para a divulgação ampla da existência da lei, que disciplina e dá providencias sobre
a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e
tratamento, dando a familiares a segurança e credibilidade do ato em si.
Art. 3o A retirada post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano
destinados a transplante ou tratamento deverá ser precedida de diagnóstico de
morte encefálica, constatada e registrada por dois médicos não participantes das
equipes de remoção e transplante, mediante a utilização de critérios clínicos e
tecnológicos definidos por resolução do Conselho Federal de Medicina. (Lei no
9.434, de 4 de fevereiro de 1997).

Pensando nessa situação A Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania


(CCJ), aprova e altera a lei de transplantes (Lei 9.434, de 1997) para que o
consentimento da família só seja considerado quando o potencial doador não tenha
sido expresso em vida ou em algum registro documental. Atualmente a Lei exige
autorização de cônjuge ou parente maior de idade, ate o segundo grau. Com o
amparo legal a essa dispensa de autorização familiar, há um projeto de Lei
tramitando desde 2019 no senado tendo como autor o Senador Lasier Martins
(PODEMOS – RS), invocou a tutela da autonomia da vontade do titular do direito da
personalidade, constante no Código Civil (Lei 10.406, de 2002), este instituto implica
que uma vez manifestada à vontade do doador para a retirada de seus órgãos pós
morte será suficiente para que sua vontade seja cumprida e ou respeitada. Partindo
desse princípio seria uma maneira encontrada para que se assegure o aumento de
doação de órgãos em nosso país.

Entretanto, no caso, o óbice encontrado nos centros de regulação de


transplantes de órgãos era em algumas situações a perda do órgão por falta de
transporte desses órgãos para o encontro do seu receptor. Sensível a essa
problemática foi decretado pelo Presidente em Exercício Michel Temer determinou
que a Aeronáutica mantenha permanentemente à disposição um jato da Força
Aérea Brasileira (FAB) para atuar no transporte de órgãos e tecidos para
transplantes.
“Assinei um decreto, que será publicado, onde se determina à Aeronáutica que se mantenha
permanentemente um avião no solo à disposição para qualquer chamado para transporte desses
órgãos. Ou ainda, se for para transportar aquele paciente para o local onde está órgão ou tecido, que
assim também se faça" (Michel Temer – Presidente em Exercício à época).

1. DISPOSIÇÃO DO CORPO EM VIDA OU PÓS MORTE A LUZ DO CÓDIDO CIVIL


BRASILEIRO ARTIGOS 13 e 14.

Disposições artigo 13, CC/2002 disposição do seu corpo em vida.


Para positivar a nossa afirmativa apresentamos fontes do direito que nos dão
embasamento para o discorrermos sobre essa matéria, iniciaremos pelo Art. 13 do
código civil que tutela sobre a disposição do próprio corpo em vida. A disposição do
corpo ou parte dele pode ser realizada em modo testamentário ou ato entre vivos,
podendo a qualquer tempo ser revogada. Entende – se por testamento vital
(instrumento particular ou publico) Transfusão de sangue, Realizar amputação e
Quimioterapia.
Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo,
quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar
os bons costumes. Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será
admitido para fins de transplante, na forma estabelecida em lei especial
(Art. 13, código Civil).

Com esse instituto a lei prevê que em vida também podemos dispor de partes
do nosso corpo desde que não ocorra a agressão ou diminuição da integridade física
do doador, que contrarie os bons costumes ou por exigência médica, nesse caso
seria um exemplo bem claro a amputação. Com relação ao transplante de órgãos a
constituição federal de 1988 em seu artigo 199 § 4º instrui a necessidade de Lei
especifica para regulação dos atos.
A lei disporá sobre as condições e os requisitos que facilitem a remoção de
órgãos, tecidos e substancias humanas para fins de transplante, pesquisa e
tratamento, bem como a coleta, processamento e transfusão de sangue e
seus derivados, sendo vedado todo tipo de comercialização. (Art. 199, § 4,
CF/88).

Segundo Conselho da Justiça Federal, nas na IV, V e VI Jornadas de Direito


Civil, publicou os seguintes enunciados:
A) Enunciado 6, da I Jornada prevê relacionado ao art 13, quando se tratar
“exigência medica” assegura-se o bem estar físico e psíquico do disponente.
B) Enunciado 276, da II Jornada, dispõe sobre as cirurgias de transgenitalização,
quando menciona disposição do próprio corpo por exigência médica conforme
estabelecido pelo Conselho Federal de Medicina, e em consonância com o
ato em si a alteração do pré nome e do sexo no Registro Civil.
C) Enunciado 401, na V Jornada não contraria os bons costumes a cessão
gratuita de direitos de uso de material biológico desde que haja a livre
manifestação da vontade podendo ser revogada a qualquer tempo.
D) Enunciado 532, Jornada VI a disposição do próprio corpo é permitida com
objetivo exclusivamente científica, sendo gratuita sua disposição, nos termos
dos arts. 11 e 13 do Código Civil.
A lei 9.434 / 97 (Lei de transplante) especifica e dispõe sobre a doação de
órgãos em vida.

Art. 9º É permitido à pessoa juridicamente capaz dispor gratuitamente de tecidos,


órgãos e partes do próprio corpo vivo para fins terapêuticos ou para transplantes
em cônjuge ou parentes consangüíneos até o quarto grau, inclusive, na forma do §
4o deste artigo, ou em qualquer outra pessoa, mediante autorização judicial,
dispensada esta em relação à medula óssea.

Disposições artigo 14, CC/2002 disposição do corpo em vida e pós morte.

O Art. 14 do Código Civil permite a pessoa dispor sobre o destino do seu


corpo após a morte, embora o cadáver não seja pessoa, uma vez que a
personalidade cessa com a morte, a lei impõe algumas restrições no ato de dispor
do corpo pós morte, no mesmo sentido de disposição do corpo pós morte inclui-se a
cremação mesmo não estando em nosso habito é considerado ato lícito e muito
utilizada em nossos dias atuais.
Art. 14 É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do
próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte. Parágrafo único. O ato
de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo.

Na linha de proteção da integridade física, notoriamente o direito reserva a


pessoa o direito de recusar tratamento médico ou intervenção cirúrgica ou qualquer
tipo de tratamento. Em caso do paciente não obter capacidade plena para opinar
frente ao seu tratamento, é transferida a seus familiares o poder dessa decisão,
esse é o princípio da dignidade da pessoa humana e autonomia da vontade.
Torna-se importante mencionar, que o indivíduo que desrespeita a integridade
física de outrem, desrespeita a norma constitucional, em conseqüência comete
crime por lesão corporal onde há “qualquer alteração desfavorável produzida no
organismo de outrem, anatômica ou funcional, local ou generalizada de natureza
física (…) seja qual for o meio empregado para produzi-la” (MIRABETTE, 2001,
p.105)
LEGISLAÇOES PERTINENTES

● Lei nº 9.434, de 4 de fevereiro de 1997, que dispõe sobre a remoção de


órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e
tratamento e dá outras providências;
● Decreto nº 2.268, de 30 de junho de 1997, que regulamenta a Lei nº 9.434, de
1997;
● Portaria nº 2.600/GM/MS, de 21 de outubro de 2009, que aprova o
Regulamento Técnico do Sistema Nacional de Transplantes;
● Considerando a adesão do Brasil à Declaração de Istambul sobre Tráfico de
Órgãos e Turismo de Transplante, que deu origem à
Resolução da Organização Mundial da Saúde (OMS) WHA 63.22, que trata
do tráfico de órgãos, tecido e células; e
● Portaria nº 201 de 07 de fevereiro de 2012, o Brasil passou a ser
consignatário da DECLARAÇÃO DE ISTAMBUL, prevê o transplante de órgão
e tecidos financiado pelo SUS deva ser precedido de acordo internacional em
base de reciprocidade.
● Declaração da Pontifícia Academia de Ciências do Vaticano sobre o Tráfico
de Pessoas com propósito de Remoção de Orgãos e Tráfico de Orgãos para
Transplantes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A falta de informação sobre a legalidade do processo de doação de órgãos ou


a falta ou pouca publicidade direcionada a este tema pode ser o responsável pela
crescente fila para a doação de órgãos. Mas em relação a tempos atrás podemos
observar que vem crescendo a preocupação da administração pública para que
seja dado confiabilidade ao processo de doação. Importante ressaltar que todos
os receptores são cadastrados em uma lista única chamada de Sistema de Lista
Única.
Diante de toda problemática, podemos afirmar que a legislação vigente tem
toda a preocupação no intuito de acompanhar o receptor em todas as fases do
processo de doação e recepção. Hoje o Sistema Único de Saúde (SUS) está
oferecendo não só a cirurgia gratuita mas todo o tratamento pós transplante,
oferecendo aos receptores medicamentos imunossupressores.

REFERENCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS – ABTO. Disponível


em: https://site.abto.org.br/. Acessado em 14 abril de 2021

BIBLIOTECA VIRTUAL EM SAÚDE MS – Disponível em: bvsms.saude.gov.br.


Acessado em 17 de abril de 2021

DECLARAÇÃO DE ISTAMBUL SOBRE O TRÁFICO DE ÓRGÃOS E TURISMO DE


TRANSPLANTE – Disponível em: http://www.declarationofistambul.org. Acessado
em 17 de abril de 2021

TARTUCE, Flávio. Lei de Introdução ao código civil parte geral. Ed.Forense, 2017.
164 p.

MELLO, Cleyson de Moraes. Direito Civil Parte Geral 3 edição. Ed. Freitas Barros
Editora, 2017. 181 p.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.


Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.

BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.

SARCINELLI, Andrezza Rocha Dias. A doação de órgãos post mortem à luz das
legislações brasileira, espanhola e portuguesa. Revsita Ambito Jurídico, Vitória, nº
170 – Ano XXI – Março/2018.

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