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Arquitectura Geriátrica

Mário José Melanda da Silva


Orientador Professor Doutor Pedro Maurício Borges
Departamento de Arquitectura da FCTUC - Agosto 2009
Índice

Resumo 5

Introdução 7

Problemática 7

Conceitos 11

Contexto e problemática social 11

Políticas de cuidados de saúde para os idosos durante os últimos anos 13

Objectivos de um Lar - Programa Geral 15

Processo de interpretação de espaço objectivo e subjectivo 17

Concepção de um lar - Programa 19

Parâmetros-chave do projecto 23

Alguns aspectos da concepção arquitectónica contemporânea 25

3
Casos de Estudo 29

Apresentação 29

Residencial Home for elderly 31

100 WoZoCo’s 41

Elderly people’s home 51

Residências Assistidas da 3ª Idade 61

Conjunto Residencial de Apoio à Terceira Idade 71

Conclusão 81

Bibliografia Básica 85

Créditos de Imagens 91

4
Resumo

Resumo

Este trabalho tem como finalidade saber até (Geriátrica) exige um conhecimento teórico
que ponto existe uma “Arquitectura Geriátrica”, profundo, para responder não só aos desafios
ou seja, uma Arquitectura específica para os conceptuais do arquitecto perante a execução
lares de idosos. Esta investigação é feita através de uma obra coerente, mas também às
da análise crítica comparativa, com base especificidades de um equipamento com
nos exemplos recentes dos Lares de Idosos, características muito próprias.
recorrendo à metodologia da confrontação
dos programas, elementos arquitectónicos e
linguagens, entre outros, evocando sempre Foram seleccionados para estudo as seguintes
o discurso do arquitecto responsável pelo obras/autores: Residential Home for Elderly
projecto, assim como as críticas de outros em Chur – Peter Zumthor; 100 Wozoco’s em
arquitectos, e uma critica pessoal, ainda que Osdorp – MVRDV; Elderly People’s home em
com uma componente meramente académica. Yatsushiro – Toyo Ito; Residências Assistidas da

Terceira Idade em Parede – Frederico Valsassina;


A partir da análise de algumas obras eruditas
Conjunto Residencial de Apoio à Terceira Idade
de alguns autores contemporâneos, pretende-
em Lisboa – Risco.
se demonstrar também que a Arquitectura

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Mário Melanda — Arquitectura Geriátrica

6
Introdução

Introdução

Problemática Torna-se necessária a introdução da Arquitectura


em edifícios hospitalares e de saúde em geral,
No início deste século, a longevidade do
de modo a valorizar não só todo o projecto,
homem moderno e a falta de tempo da
como meio para criar bem-estar, reinventando
população mais jovem para cuidar dos mais
novas soluções e novos modos operativos. A
idosos obrigam a uma profunda análise de
Arquitectura tem, nesta área, como objectivo
novos contornos de um habitat adequado para
fundamental a humanização dos espaços da
a população idosa. As novas tecnologias aliadas
saúde e a sua importância profilática.3
à boa1 Arquitectura permitem que os mais idosos
tenham melhores condições de vida. Contudo,
trata-se de um problema social com lacunas
nas comunidades ocidentais, onde se colocam
3 Aalto, quando escreveu este texto sobre a humanização
questões principalmente económicas.2 da Arquitectura, defendeu uma via experimental das
diversas tecnologias para dar um maior sentido ao bem-
1 Refiro-me à boa arquitectura no sentido da estar humano, apoiando-se nos seus estudos da cor,
Arquitectura que complementa as necessidades das da luz natural e artificial, do ruído, da ventilação, do
pessoas através da criação de bem-estar, originando aquecimento, e outros, para, além de outros aspectos,
espaços e ambientes específicos e optimizando a relação optimizar a relação entre o alojamento e o doente.
entre a habitação e o utente (normalmente debilitado) – a Estudos e experimentações desenvolvidos no seu notável
Humanização da Arquitectura. Ver nota 3 Hospital para Tuberculosos em Paimio-Finlândia 1927-
2 Ver fig. 1 1933.

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Introdução

Manuel da Silva Fernandes4 refere: “A “Diz M. Brullet que, sendo um hospital um


Arquitectura condiciona comportamentos e lugar onde se cura, se morre, se vive, se sofre, se
interfere na parte psicológica dos seus principais visita, se trabalha, se tem ilusões, deveria então
utilizadores, os doentes. Um Hospital, um Centro ser caracterizado pela intimidade, privacidade
de Saúde recebe pessoas em estado psicológico e e conforto [do habitar] dando, por esta razão,
físico diminuído; por isso reclamo a urgência da uma importância muito acentuada ao seu
presença da Arquitectura nos edifícios de saúde, contexto urbano, à sua localização criteriosa,
não os entendendo como objectos arquitectónicos ao seu desenho interior e, naturalmente, ao seu
inevitavelmente perdidos pela sua carga mobiliário.”8
funcional e tecnológica, o que me parece hoje
Enquanto arquitectos cabe-nos contrariar a
inadmissível.”5
tendência e levar a boa Arquitectura para os
Manuel Brullet6 defende a transformação do edifícios hospitalares, e, neste caso particular,
espaço hospitalar em locais de multiplicidade de para os lares de idosos. É necessário criar um
usos como galerias comerciais, supermercados ambiente acolhedor e humanizado, que a
ou até restaurantes, contrariando deste modo Arquitectura permite potenciar, e desta forma
a herança americana da tipologia hospitalar, fazer com que os utentes, doentes e funcionários
inflexível e desumanizada, que se assemelhava se sintam confortáveis, como da sua casa se
em tudo à tipologia da Arquitectura Prisional.7 tratasse ou até mesmo como usufruíssem do
4 Manuel Alexandre Oliveira Silva Fernandes, membro espaço de um museu ou dum centro cultural.
de Órgãos Científico-Pedagógicos e docente do Curso de
Arquitectura da Universidade Lusíada de Lisboa, autor do Na análise destes trabalhos, podemos ver como
texto de enquadramento ao número temático da revista cada arquitecto demonstra uma aproximação
Arquitectura Ibérica nº 11 dedicada aos Equipamentos
diferente ao projecto, de modo a estabelecer
na área da saúde.
o equilíbrio entre o respeito pela privacidade
5 Reflexões sobre a arquitectura da saúde - Manuel
Alexandre Silva Fernandes Arquitectura Ibérica nº11 – dos utentes, o incentivo à actividade social
Equipamentos, pág 23 e o encontro entre todos os utilizadores das
6 Manuel Brullet Tenas (Mataró, 1941) Arquitecto
Residências.
Catalão. Estudou e é actualmente Docente na Escola
Técnica Superior de Arquitectura de Barcelona. É
É interessante realçar como os autores dão
responsável por projectos como o Hospital del Mar
importância ao desenho dos quartos com uma
em Barcelona e do Centro de Assistência Primária em
Marató, entre outros.
7 Reflexões sobre a arquitectura da saúde Manuel 8 Reflexões sobre a arquitectura da saúde Manuel
Alexandre Silva Fernandes Arquitectura Ibérica nº11 – Alexandre Silva Fernandes Arquitectura Ibérica nº11 –
Equipamentos, pág 18 Equipamentos, pág 19

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Fig. 1 - Evolução e previsão da população idosa na Europa (em%) - Fonte: Eurostat

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Introdução

maior quantidade possível de entradas de luz relacionadas com os idosos.”9


natural, com cores que atenuam o ambiente e
A definição segundo a Santa Casa da Misericórdia
com pormenorizações arquitectónicas como o
de Lisboa de “Residência (categoria de serviços
desenho de camas com alturas calculadas para
e equipamentos para idosos) é a resposta social
permitir aos doentes verem o exterior quando
desenvolvida em equipamento constituído por
estão deitados. Em suma, que questões devemos
um conjunto de apartamentos com serviços de
levantar acerca da Arquitectura Geriátrica?
utilização comum, para idosos com autonomia
Conseguimos definir um modelo para os lares
total ou parcial”.10
de terceira idade contemporâneos? Haverá uma
tipologia específica? E, por outro lado, seremos Contexto e problemática social
nós – arquitectos – capazes de corresponder
A geração que dominará o século XXI europeu
às necessidades arquitectónicas com bons
é o idoso, já que são os idosos e os adultos que
exemplos de Arquitectura?
constituem uma percentagem cada vez maior
Conceitos da população. É verdade que a população
mundial está a envelhecer, graças a uma melhor
Segundo o Despacho Normativo nº 12/98 de
alimentação e estilo de vida com hábitos
25 de Fevereiro de 1998, DR 47/98 - SÉRIE
positivos – evitar fumar, exercício físico, entre
I-B Emitido Por Ministério do Trabalho e da
outros, – a melhores serviços médicos, e a todos
Solidariedade, considera-se lar para idosos o
os avanços na medicina que, efectivamente
estabelecimento em que sejam desenvolvidas
ajudaram a estender o tempo de vida.11
actividades de apoio social a pessoas idosas
através do alojamento colectivo, de utilização É este um dos paradoxos perturbadores
temporária ou permanente, fornecimento de dos tempos modernos: preconiza a tomada
alimentação, cuidados de saúde, higiene e de cuidados para prolongar a vida, mas as
conforto, fomentando o convívio e propiciando respostas e soluções revelam-se insignificantes.
a animação social e a ocupação dos tempos Contrariamente, a globalização resulta numa
livres dos utentes. maior quantidade de pessoas conscientes da
insegurança, tanto em termos de assistência
Geriatria designa um ramo da medicina que
trata das doenças e problemas da velhice assim
9 COSTA, Maria Arminda Mendes – O Idoso,
como das pessoas que estão a envelhecer. Ou
Problemas e Realidades. Coimbra, Formasau, 1999.
seja, é o “ramo da medicina que se ocupa da 10 SCML – carta de equipamentos sociais, 2005
descrição, investigação e tratamento das doenças 11 VAVILI, Fani – Designing for the Elderly. Thessaloniki.
University Studio Press. 2002. p.11

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Introdução

social como em termos de condições de vida dos estado de saúde, ou seja, se as suas capacidades
idosos, e permite questionar se as comunidades físicas e mentais lhe permitem acompanhar o
vão tomar medidas eficazes neste âmbito. quotidiano.
Infelizmente, a ideia de uma família alargada e
Políticas de cuidados de saúde para
a sua importância tem vindo a decair. Por essa os idosos durante os últimos anos
razão, gastamos dinheiro quase ilimitadamente
para manter as pessoas vivas, internando-as Até ao final da década de 1970, a prática da
em lares, centros de acolhimento, ou noutros política social para os idosos foi restringida
espaços que consideramos adequados, mas às pensões e aos limitados subsídios. Surgiu
pouco se faz para valorizar e dinamizar a vida a necessidade da existência de parcerias

do idoso. Propiciámos uma nova população públicas e comunitárias, contribuindo para


idosa, mas pouco fizemos para lhes criar uma a implementação de medidas eficazes para
nova vida, uma vez que os principais problemas manter as pessoas idosas física e socialmente

dos idosos são o isolamento social e perda activas e autónomas. A des-institucionalização


de importância na vida activa. Tudo isto tem dos serviços, a diminuição da dependência
particular repercussão no caso das cidades, e os cuidados do internamento e tratamento

onde o ambiente é mais hostil para os idosos dos idosos foram medidas essenciais para
comparativamente ao passado. Por outro lado, proporcionar uma melhor qualidade de vida e
é também nas cidades que se manifestam um sobretudo uma qualidade de vida adaptada ao
maior número de programas, tais como Centros envelhecimento.
de Convívio, Centros de Dia, Actividade
Consequentemente, o modelo institucional de
Sénior, Dia dos Avós, Universidade da Terceira
cuidados residenciais foi a principal medida
Idade, entre outras, que vão minimizando essa
formal de serviços de cuidados para os idosos
lacuna.
durante os anos 1970 e 1980 na maioria dos países

Num grande número de países da comunidade europeus, mas também este está em decadência.
europeia, dada a existência de infra-estruturas Durante os últimos anos, praticamente todos
especificamente criadas, uma diversidade os países europeus têm adoptado medidas
de respostas torna já possível outras opções para aumentar a permanência do idoso na
para além do internamento em lar, tais como comunidade e têm providenciado serviços de
residir num pequeno apartamento ou a até cuidados especializados para os idosos como

permanência no domicílio. Contudo, manter uma alternativa para os cuidados institucionais,

o idoso na sua própria casa depende do seu de forma a satisfazer as suas necessidades através

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Introdução

de políticas que apoiam a independência, de Dia, Oportunidades de Habitação Elder


autonomia e participação na sociedade. Cottage, Envelhecimento em Casa, Habitação
Sénior, Casas de Saúde, entre outros12, tendo os
Assim, vários países europeus estão agora a
últimos mais implicações arquitectónicas.
promover a criação de instalações residenciais
e a reduzir a prevalência das taxas de Objectivos de um Lar - Programa
Geral
institucionalização, oferecendo à comunidade
cuidados domiciliários, serviços e creches, Independentemente da multiplicidade de
com a participação de ambas as redes formais e respostas em ensaio, a resposta tipo ao
informais – família, comunidade e organizações problema do idoso tem sido o “lar”. O objectivo
voluntárias. O objectivo é manter os idosos no específico dos lares é, fundamentalmente,
seu próprio ambiente – lares e comunidade proporcionar serviços permanentes adequados
– tanto tempo quanto possível, a fim de à problemática do idoso, contribuindo de certo
assegurar a independência, qualidade de vida modo para a qualidade de vida no processo de
e a sua integração social. É importante que a envelhecimento. É também o de desenvolver
individualidade, a privacidade e a orientação os apoios necessários às famílias dos idosos de
comunitária sejam características comuns nas modo a fortalecer a relação inter-familiar, assim
instalações para os idosos. como promover a integração adequada destes
equipamentos na comunidade.
Por todas as razões acima referidas, as não-
estruturas hospitalares, tanto privadas Naturalmente que todos estes objectivos só
como públicas, têm de ser desenvolvidas podem ser desenvolvidos e conseguidos se
e implementadas em Portugal. A intensa o lar, como espaço físico, reunir condições
especulação sobre o problema tem origem na para o desenvolvimento das várias actividades
evolução de novos modelos, semelhante à de específicas, num ambiente de conforto,
outros países. Pode-se perceber que existem respeitando a individualidade, privacidade e
várias estruturas alternativas com diferentes independência dos idosos, como temos vindo
modalidades e valências, apesar de terem a referir.
quase o mesmo conteúdo funcional, que estão
a ser praticadas actualmente. Algumas dessas O lar exerce, assim, uma dupla função: apoiar
estruturas são: Planos de Vida Assistida, os idosos em regime de internamento no lar e

Comunidades de Ocorrência Natural de simultaneamente assegurar o acompanhamento


Aposentação (NORC’s), Estruturas de Utilização 12 VAVILI, Fani – Designing for the Elderly. Thessaloniki.
Mista, Habitats Multigeracionais, Centros University Studio Press. 2002. p.17

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Introdução

dos idosos residentes na comunidade. o processo de terapia.

Para a sua localização desejável deve: Existem inúmeros parâmetros que determinam
decisões relativas à concepção de residências para
• Situar-se nos aglomerados habitacionais,
adultos. Relativamente ao projecto e organização,
tendo em conta a facilidade dos percursos a
deve-se dar prioridade às necessidades diárias,
pé e na proximidade de outros equipamentos
actividades, preferências, memórias, bem como
(jardins, centros culturais, lojas, correios,
a muitas outras características que têm que ver
bancos, cinemas, lugares de culto, estruturas de
com a vida quotidiana das pessoas idosas e que
saúde.)
poderiam ser inúmeras.
• Permitir fácil acesso aos meios de transporte
As características humanas que influenciam o
(público ou privado, ambulâncias, bombeiros.)
projecto são inúmeras e podem ser relacionados
e também ao abastecimento e remoção de lixo.
com as capacidades físicas e mentais do homem,
• Ser servido de infra-estruturas básicas bem como com a sua profissão, sexo, valores,
(abastecimento de água, electricidade, esgotos idade, ou até outras características, permanentes
e telefone e internet). ou temporárias, tais como as emoções. Assim,
estudar os possíveis atributos que as pessoas
• O edifício deve ser implantado em zona com idosas têm em comum pode revelar-se muito
boa salubridade, longe de estruturas ou infra- útil ou mesmo fundamental, no processo de
estruturas que provoquem ruído, vibrações, desenvolvimento de novas formas, ao adoptar
cheiro, fumos ou outros poluentes considerados a utilização de novos princípios inovadores
perigosos para a saúde pública e que perturbem na concepção da Arquitectura para cidadãos
ou interfiram no quotidiano dos utilizadores do seniores, ou seja, o programa é fundamental.
lar.
Pesquisas sobre pressuposições dos idosos
Processo de interpretação de
e sobre os seus significados, experiências
espaço objectivo e subjectivo
passadas e memórias ao longo do tempo, sobre
Podemos perceber que esse grupo especial a civilização e cultura, preconceitos, crenças
de pessoas que suporta tantas características religiosas, e experiências individuais, estilo de
diferenciadas, necessita de um desenho vida pessoal, educação e significativos factos
arquitectónico interior absolutamente marcantes durante toda a sua vida, podem
confortável e moderno, resultando em lugares e oferecer uma perspectiva inestimável para os
ambientes que incentivam o bem-estar, a vida e novos tipos de habitação para idosos e outras

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Introdução

estruturas de cuidados de saúde. embora possibilitando o convívio entre os


vários grupos.
Isso significa que uma integração profunda
na investigação gerontológica sobre este tipo A concepção arquitectónica de um lar para
de projecto, pode ser muito mais saudável – idosos deverá traduzir preocupações não só
metaforicamente ou não, em vez de se concentrar de qualidade e de conforto, como também de
apenas na estética do edifício e negligenciando custos. A noção de qualidade dos equipamentos
outros temas tão sensíveis e relevantes –, e é está, muitas vezes, ligada à existência de
determinante para a elaboração de um programa grandes áreas, nomeadamente nas salas de
e resposta arquitectónica adequados. estar e de refeições, na cozinha e lavandaria ou
nas circulações e escadas. De facto, o conforto
Concepção de um lar - Programa
de um espaço está também relacionado com o
Quanto à concepção dos lares, podemos binómio função/área. Interessa considerar no
considerar, em princípio, dois tipos de seu dimensionamento a forma como eles se
instalação: organizam e se inter-relacionam.

• ocupando totalmente um edifício Importa assim descrever alguns dos espaços


mais importantes, elaborado a partir do Núcleo
• integrado em edifício destinado a outros
de Documentação Técnica e Divulgação da
fins
Direcção Geral da Acção Social:13
Qualquer destes dois tipos de instalação pode
• Átrio – recepção, primeiro contacto e
admitir-se em edifício expressamente executado
informação. É o espaço de animação e de
para esse fim – construção de raiz – ou edifício
movimento por excelência e, pela sua natureza,
já existente – adaptação. A instalação em
acessível a todos, pelo que deverá ser estudado
edifício já existente é de considerar, desde que se
de forma a prever o movimento de entradas e
verifiquem as respectivas obras de recuperação
saídas e também a sua função de recepção e
e de adaptação, necessárias ao cumprimento
espera para os visitantes.
do conjunto dos requisitos regulamentares,
técnicos e programáticos, inerentes a este tipo • Sala de estar – Deve estar à disposição
de equipamento. Nas instalações integradas
13 DGAS – Direcção-Geral da Acção Social – Núcleo
em edifícios também destinados a outros fins,
de documentação técnica e divulgação – Lar de idosos,
deverão ser adaptadas soluções que permitam a
documento em pdf disponível em http://www.forma-te.
total independência e privacidade dos utentes, com/mediateca/view-document-details/1507-lar-de-
idosos.html

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Introdução

dos idosos para a actividade de relaxamento e • Logradouro – Este espaço exterior


convívio, nomeadamente o diálogo, a leitura, a representa uma forma aliciante de convívio
televisão, entre outros. Poderá incluir um bar. entre as pessoas idosas e um local onde podem
Este espaço deve oferecer às pessoas idosas desenvolver actividades de lazer, nomeadamente
um conjunto de estímulos (visuais, olfactivos e a hortofloricultura e a ginástica.
auditivos) cuja função é torná-las mais activas
• Gabinete de saúde – Espaço específico com a
e participantes. Deve estar em contacto com o
finalidade de consultas médicas e de preparação
átrio, a sala de refeições e o exterior.
da medicação dos residentes, podendo também
• Sala de refeições – Esta sala deve situar-se arquivar os processos médicos dos utentes.
junto da cozinha e em contacto com o exterior.
• Os espaços destinados à circulação,
As refeições constituem uma boa ocasião para o
nomeadamente os corredores, rampas e
convívio, dada a aproximação obrigatória entre
elevadores, deverão permitir a circulação
as pessoas.
de cadeiras de rodas, sem contudo serem
• Sala de actividades – O objectivo é a sobredimensionados. A largura das escadas não
motivação dos idosos para o desenvolvimento deve exceder as medidas regulamentares para
de actividades criativas, nomeadamente os edifícios de habitação.
trabalhos manuais, procurando contrariar a
A fim de proporcionar às pessoas idosas
sua natural propensão para a inactividade e
melhores condições de conforto/ambiente,
favorecendo o seu relacionamento.
deverá ter-se em conta, na execução dos
• Quartos – O espaço dos quartos deve ser projectos, a importância de diversos factores,
concebido para que cada idoso sinta a sua tais como: revestimentos, temperatura do
intimidade preservada e com diferentes zonas ar, humidade relativa, pureza do ar, ruído e
de apropriação. Devem estar dispostos de forma iluminação.
contígua para facilitar o acompanhamento e a
Relativamente ao mobiliário e equipamento,
vigia.
deve ter as características de conforto semelhante
• Instalações sanitárias – Na zona dos às de uma habitação, de forma a conseguir-se
quartos, para além das instalações sanitárias um ambiente tanto quanto possível familiar, ou
completas privativas dos quartos, deverão ainda então disponibilizar espaço e condições para
prever-se uma instalação para banhos ajudados, que as pessoas possam colocar as suas próprias
equipados com banheira, sanita e lavatório. mobílias de modo a que se sintam como em

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Introdução

suas próprias casas. nesse sentido que os arquitectos têm de ter


uma visão abrangente da vida quotidiana dos
Parâmetros-chave do projecto
idosos – e isso inclui os fenómenos sociais – e,
Gerontologistas, psicólogos e cientistas sociais consequentemente, transmiti-la para a proposta
concordaram “sobre a natureza das mudanças do projecto, de modo a que seja o mais correcto
relacionadas com a idade e adaptações que para as condições de vida possível. Há também
seriam adequadas para tornar o ambiente orientações de concepção publicadas por
físico menos stressante”.14 Assim, o declínio pesquisadores e autoridades em todo o mundo.
sensorial, especialmente depois dos 85 anos de Estas informações referem-se à localização e
idade, torna-se tão importante que prejudica à orientação de edifícios, à sua configuração
a capacidade de recolher informações e de (por exemplo, vantagens da planta em cruz
participar na interacção social, alterando a ou em H) , à importância de pátios e espaços
15

percepção do ambiente, que, por sua vez, ao ar livre, à concepção dos espaços comuns,
diminui a qualidade de vida dos idosos. Então, dos quartos, da cozinha, dos sanitários, entre

a Arquitectura surge como instrumento outros. Durante a sua concepção, as questões

para minimizar esse declínio, criando bem- de segurança, bem como os receios de queda

estar, fortalecendo sensações, auxiliando em dos residentes, têm de ser cuidadosamente

problemas como a percepção de profundidade, ponderados.

visão prejudicada, a importância do contraste


É sabido que os idosos são uma população
da cor, a luz e iluminação necessárias, brilho
vulnerável, pelo que os acabamentos interiores,
e luz indirecta, assim como a insuficiência do
tais como mobiliário e questões especiais
espaço, recursos confusos, a falta de significados
relacionadas com a conveniência ou a segurança
culturais ou objectos.
(por exemplo, aparelhos eléctricos) têm que ser

Os Arquitectos são chamados a colmatar o planeados com muito cuidado. Paralelamente a


fosso entre as diferenciadas, diversificadas isso, deve ser dada atenção à circulação livre de
e imperativas necessidades dos cidadãos barreiras, enquanto se deslocam de um lugar para
idosos e a criação de ambientes que possam outro, à construção de elevadores e estruturas
ser realmente significativos, úteis e solidários,
15 As principais vantagens da planta em cruz ou em
de modo a que os idosos possam continuar H são: libertar área de fachada, permitindo assim
as suas vidas com orgulho na sua idade. É melhor insolação e iluminação, (p. ex. plano Voisin de
Le Corbusier, Paris 1926) e também a possibilidade de
14 MALKIN, J. – Hospital Interior Architecture. New centralização de serviços de modo a que estes sejam
York. A van Nostrand Reinhold Book. 1992. p. 75 equidistantes das zonas de quartos.

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Fig 2 - Casulo HPOd

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Introdução

necessárias para pessoas com necessidades corredor – elo de ligação entre espaços –, que
especiais, bem como ao redimensionamento e parece ser transformado pelos arquitectos.
ao redesenho das áreas externas e de espaços Houve várias tentativas constantes de encurtar
comuns a fim de se tornarem mais acessíveis. o seu comprimento, alargar os seus limites
ou mesmo evitá-lo completamente quando
Alguns aspectos da concepção
possível, pensando noutras tipologias de
arquitectónica contemporânea
distribuição.
1. A questão dos espaços públicos é um
A maioria das soluções de concepção inovadora
dos principais factores arquitectónicos uma
sugere um aumento do espaço de circulação,
vez que pode afectar e mesmo determinar
aberturas para luz solar e, geralmente, uma
comportamentos sociais do indivíduo.
interrupção da monotonia. Os corredores,
Infelizmente, um grande número de moradores
normalmente zonas sem vida, são parcialmente
tem mobilidade condicionada e o estado de
convertidos para espaços de estar, filtrando
“vida comum” leva-os a ter sentimentos de
os espaços públicos e permitindo a actividade
dependência extrema. Assim, o processo de
social.
projecto de alguns destes edifícios desenvolve a
criação de edifícios para pequenas comunidades 4. O papel da Arquitectura para o processo de
de idosos. recuperação da doença está a ganhar cada vez
mais importância. Desde que a concepção criativa
2. O modelo de cidade tem sido utilizado em
arquitectónica seja coordenada com o uso de
várias tipologias arquitectónicas (por exemplo,
programas científicos especiais ou mesmo com
o centro comercial). Nesses casos, o acesso às
a terapia ou a actividade, os resultados podem
diversas áreas do equipamento é realmente
ser realmente espantosos. A proposição de um
importante e deve ser abordado com cuidado,
“casulo” de cura conhecida como “HPOd”16
durante a concepção. Além disso, deverá existir
é um perfeito paradigma contemporâneo
uma precisa distinção entre espaços públicos e
da investigação, já com resultados. Este
privados, bem como a criação de espaços com
características intermediárias. Estes espaços 16 HPOd consiste numa espécie de casulo individual
podem ter uma combinação de atributos em que as pessoas doentes se sentam e recebem uma
quantidade de sensações, de acordo com a “receita”
privados e públicos.
de cada pessoa. Foi concebido para mostrar como
quartos individuais em hospitais podem responder às
3. Todos estes esforços para a
necessidades do doente através da tecnologia de um
“desinstitucionalização” estão
também cartão inteligente. Em WILL HURST. Building Design.
fortemente relacionados com a função do London. 2007. vol 1752. p2 - ver fig2.

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Mário Melanda — Arquitectura Geriátrica

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Introdução

processo único, introduzido pelos Arquitectos


Nightingale Associates, é citado como uma
possível alternativa terapêutica futura. Baseia-
se na ideia de manipular os cinco sentidos,
de modo a reforçar e acelerar o processo de
recuperação do doente. Esta cápsula inovadora
pode responder às necessidades de cada doente
com base na cor, pontos de vista, iluminação,
toque, como diz Hurst caracteristicamente,
“Estudos têm mostrado que visões de neve
e de gelo pode reduzir a dor das vítimas de
queimaduras. Sabemos que a cor laranja ajuda
mães a amamentar e o cheiro de baunilha ajuda
a alimentar os bebés.” 17 [Fig HPOd]

17 WILL HURST. Building Design.London. 2007. vol


1752. p2.

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Mário Melanda — Arquitectura Geriátrica

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