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7 : 9- 1 9 , 1 98 4 .
UNI TER MOS: Mito; m i tologia; consciência m ítica; ideologia; sagrado e profa n o ; narrativa.
o c o nc e i t o de m i t o , de m a n e i r a g e r a l , se r e fe r e a um p r oced i m e n t o m e n t a l n o s
q uadros d a c u l t u ra arcaica o u selvagem . N e s t e s e n t i d o , u m m i to a p e n a s o é a t é q u e sej a
perceb i d o c o m o t a l n u m a ava l i ação e x t e r n a , e n t r a n d o a s s i m em c r i s e . O p r i s m a q u e v a
mos a b o r d a r agora r e f l e t e o s e n t i d o o p o s t o : p a r a o p e n s a m e n t o n ã o arcaico o u s e lva
gem , u m mito p a s s a a s ê - l o depois d e i d e n t i f ic a d o como t a l , e s u a c o n o t ação mais d i re
ta é a de u m a c r e n ç a r u d i m e n t a r e e n g a n o s a , u m a ficção , u m a m e n t i r a , e n f i m . É n e s t e
c o n t e x t o q u e s e cha m a " m i t ô m a n o " a o m e n t i r o s o c o m p u l s ivo .
No p r i m e i r o caso , d ev i d o a d e s l oca m e n t o s p r o f u n d o s n a s u p e r es t r u t u r a de d e t e r
m i n ad a c u l t u r a , q u e p o d e m provir d e m u da n ç a s operadas n a i n fra-es t r u t u r a e n a i nt e
ração e n t r e a m b a s d e n t r o d e u m p r ocesso h i s t ór ico - c o m o é o c a s o d a s t r a n s f o r m a
ções no m u n d o grego e n t r e 8 e 4 a . C . (2 1 ) - ou p o r i n te r fe r ê nc i a a b r u p t a e r a d ic a l d e
e l e m e n t o e x t e r n o - d a c iv i l ização e u r o p é i a n a s c u l t u ra s d i t a s p r i m i t iv a s , p o r e x e m p l o
- a c o n sc i ê nc i a m í t ic a e o u n iverso s o b r e e l a e s t r u t u r a d o e n t r a m e m c rise e s ã o s u b s t i
t u í d o s p o r o u t r a e p i s t em e : o s m i t o s d o u n iv e r s o ago ni z a n t e d e i x a m d e s e r m i t o s n o p r i
m e i r o s e n t i d o p a s s a n d o a sê- l o n o s eg u n d o . N o o u t r o c a s o , n o c o n t e x t o d e s t a n ov a
e p i s t e m e , a l g u m e l e m e n t o , até e ntão n ã o p r o b l e m at i z a d o é a u m a c e r t a a l t u r a p o s t o e m
q uestão - p a s s a a s e r p e rce b i d o c o m o f a l s o , o u se p e rc e b e q u e a l g o e r a t o m a d o c o m o
o q u e n ã o e r a , o u se l h e d e n u nc i a o c a rá t e r f e tich i s t a e p a s s a a s e r u m " m i to " . A p a l a
vra é u s a d a n e s t e e sp ec t r o - c om a l g u m a'va ri a ç ão - q u a n d o se d i z q u e ' ' a d e m oc r ac i a
soc i a l esc a n d i n av a é u m m i to " , i s t o é , u m a ficção , o u " M ar i l y n M o n ro e f o i u m m i t o
s e x u a l d o s a n o s 5 0 " e o u t r o s c l ichês j o r n a l í s t ic o s d o gênero " P e l é , o s B e a t l e s o u S t a l i n
são m i t os " , i s t o é , d e s um an iz a d o s e rever t i d o s à co n d ição d e í d o l o o u f e tiche c o m o a l
v o d e adoração ( o u d e o j e r i za ) . E s t e . p r i s m a d i z r e s p e i t o a e s t a passagem : q ua n d o o m i
to d e i x a de ( o u c o m e ç a a) sê- l o , i s t o é , p a s s a a ser r ec o nh ec i d o cc,mo t a l ? Q u a i s as c a -
* Departamento d e Antropologia, Filosofia e Politica � Instituto d e Letras. Ciências Sociais c Educaçào - UNESP _
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FI K E R , R . - Do m i t o o r i g i n a l ao m i t o i d eológ i c o : a l g u n s perc u r s o s . T r a n s / F o r m / A ç ã o , São P a u l o ,
7 : 9- 1 9 , 1 984.
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FI K E R , R . - Do m i t o o r i g i n a l ao m i t o i d e o l ó g i c o : a l g u n s perc u r s o s . Trans/Forml Ação, São P a u l o ,
7 : 9- 1 9 , 1 98 4 .
II
FI K E R , R . - Do m i to o r i g i n a l ao m i t o i d e o l ó g i c o : a l g u n s perc u r s o s . Trans/Form/ Ação, São Pau l o ,
7 : 9- 1 9 , 1 9 8 4 .
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FI KER, R. - Do mito original ao mito ideológico: alguns percursos. Trans/"orm/ Ação, São Paulo,
7:9-19,1984.
nia, para o discurso amoroso (11, p. 253-99). Estes valores, na relação entre os sexos,
tinham tanto a ver com a realidade quanto nas sociedades modernas o têm os valores c
parâmetros cristãos, democráticos e socialistas nos países que se intitulam como tais.
Estes véus mitológicos criam para uma época um universo inexistente, cujas imagens
transparentes podem ser atravessadas pelos corpos como eles passam através de um
fantasma. Sua superposição embaça o mundo real das relações concretas entre os ho
mens, cujo panorama, visto do outro lado das projeções fantasmagóricas, se torna
opaco e carente de significa<,:ào densa e instantânca (como a que fornecc o mito). Os va
lores neles produzidos constituem pontos de referência ritualísticos vazios c a intersec
ção entre o discurso manifeslO e seu conteúdo latente ocorre no avcsso de cada parte. E
não faltam os grandes motivos do mito original, vestígio a identificar o (deslocado)
procedimento geral: se o cavaleiro andante tem entre seu repertório arquetípico a tare
fa de matar um dragão (representação do caos nas cosmogonias arcaicas) e salvar a
princesa (imagem que nos chega exausta como elichê e motivo de paródia), já para o
homem moderno nas sociedades tecnológicas, entre as imagens mais freqüentcs do dis
curso ideológico que envolve seu conjunto de valores-fantasma, está o de que estes va
lores devem ser preservados (no mais das vezes contra eles mesmos, em sua versão real)
para evitar que o "caos" e a "treva" que amea,çam "nosso mundo" terminem por
descosmificá-Io de vez.
2. Do sagrado ao dogmático
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FIKER, R. - Do m i to o r i g i n a l ao m i t o i d e o l ó g i c o : a l g u n s p e rc u rsos . Trans/Form/ Ação, São P a u l o ,
7 : 9- 1 9 , 1 9 8 4 .
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FIKER, R. - Do m i t o o r i g i n a l ao m i t o i d e o l ó g i c o : a l g u n s perc u r s o s . Trans/Form/ A<;ão, São P a u l o ,
7 : 9- 1 9 , 1 9 8 4 .
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FI KER, R. - Do m i to o r i g i n a l ao m i t o i d e o l ó g i c o : a l g u n s p e rc u rsos . T r a n s / F n r m / A �' ã n , S ã o P a u l o ,
7 : 9- 1 9. 1 9R4.
5 . D a un icidade à desagre;;ação
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FIKER, R. - Do m i t o o r i g i n a l ao m i t o i d e o l ó g i c o : a l g u n s pe r c u r s o s . Trans/Form/ A ç ã u . São P a u l o .
7 : 9- 1 9 , 1 9 8 4 .
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F I K E R , R . - Do m i t o o r i g i n a l ao m i to i d e o l ó g i c o : a l g u n s perc u r s o s . Trans/Form/ Ação, São P a u l o ,
7 : 9 - 1 9, 1 984.
A BS TRA CT: This arlicle belon{ts, a s a pari of i l , ori{tinal/y lO t h e dissertation for t h e attainment
of the Master (M. A . ) , t itled "Mylh and Parody : their structure and role in the litterary text ", presen
ted in n o vember 1983, at the Inst ituto de Esludos da L ing ual!.em / UNICA MP. The present text belonl!.s
to a chapter Ihat develops the myth eonceptualizatio n . It tries to dinam ical/y apprehend some of its ba
sic aspects, in lhe transit ion from ils original form, such as it oeeurs in the prim itive and archaic socie
ties, to its ideolo{tieal succedaneous in the context of h istorie soeieties.
K E Y- WOR DS: Myt h ; myth o lol!.Y; myt h ic conseiousness; ideolol!.Y; saered and profane; narrative.
REFERÊNCIAS B I B L IOGRÁFICAS
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F I K E R , R . - Do m i to o r i g i n a l ao m i t o i d e o l ó g i c o : a l g u n s perc u r s o s . Trans/F"orm/ Ação, São P a u l o ,
7 : 9- 1 9 , 1 98 4 .
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