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Visualização de Acórdão

Processo: 0350471-0

APELAÇÃO CÍVEL N.º 350.471- 0 - VARA CÍVEL E ANEXOS DA COMARCA DE


MATINHOS - PR
Apelante: KEMELMEIER CONSTRUÇÕES CIVIS LTDA, CLAÚDIO KEMELMEIER
FILHO, KAREN MEYER KEMELMEIER.
Apelado: ERNESTO MARTIN BORTOLINI e MARIZE DO ROCIO FERREIRA
BORTOLINI
Relator: DESEMBARGADOR CLAUDIO DE ANDRADE
Revisor: DESEMBARGADOR RENATO BRAGA BETTEGA
Revisora Convocada: JUÍZA LENICE BODSTEIN

APELAÇÃO CÍVEL - RESCISÃO CONTRATUAL - CONTRATO DE COMPRA E


VENDA DE IMÓVEL - PAGAMENTO DO TERRENO - PARTE EM DINHEIRO E,
OUTRA PARTE, ENTREGA DE UM APARTAMENTO NO EDIFÍCIO A SER
CONSTRUÍDO NO TERRENO ALIENADO - PRAZO DE DOIS ANOS PARA O
TÉRMINO DAS OBRAS A CONTAR DO LEVANTAMENTO DOS EMBARGOS
CONCEDIDOS LIMINARMENTE EM AÇÃO CÍVIL PÚBLICA OU DA EXPEDIÇÃO
DO ALVARÁ DE CONSTRUÇÃO - EMBARGOS OCASIONADOS POR CULPA DA
CONSTRUTORA - REVOGAÇÃO DA LIMINAR DE EMBARGOS POR PERÍODO
SUPERIOR A DOIS ANOS - DEVER DA CONSTRUTRA EM CONCLUIR A OBRA -
INADIMPLEMENTO CARACTERIZADO - DEFERIMENTO DA RESCISÃO DO
CONTRATO - SENTENÇA MANTIDA - APELAÇÃO CONHECIDA E
DESPROVIDA.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de apelação cível n. 350.471-0 da Vara Cível de
Matinhos, em que são apelantes KEMELMEIER CONSTRUÇÕES CIVIS LTDA,
CLAÚDIO KEMELMEIER FILHO, KAREN MEYER KEMELMEIER e são apelados
ERNESTO MARTIN BORTOLINI e MARIZE DO ROCIO FERREIRA BORTOLINI.

I - RELATÓRIO

ERNESTO MARTIN BORTOLINI e MARIZE DO ROCIO FERREIRA BORTOLINI


ajuizaram demanda de rescisão de contrato, cumulada com perdas e danos e reintegração
de posse em face de KEMELMEIER CONSTRUÇÕES CIVIS LTDA, CLAÚDIO
KEMELMEIER FILHO, KAREN MEYER KEMELMEIER alegando que: (a) autores e
réus firmaram contrato particular de compra e venda no dia 28 de setembro de 1993, no
qual estavam formalizando contrato verbal realizado em 30 de setembro de 1990; (b) neste
contrato ficou acordado que os autores venderiam aos réus a fração ideal de 1.800m2 do
imóvel descrito no contrato celebrado; (c) a forma de pagamento ficou estipulada na

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cláusula segunda do contrato, que estabelece o preço total no valor de um milhão de


cruzeiros, pagos Cr$212.000,00 à vista e o restante, Cr$788.000,00 no final da obra com a
entrega de um apartamento no último andar, no valor de Cr$3.875.000,00; (d) em 30 de
novembro de 1993, as partes realizaram aditivo contratual, na qual fixaram novo prazo
para a conclusão da obra, ou seja, dois anos contados após o levantamento do embargo
judicial vinculado aos autos n. 265/02 da ação civil pública ou, alternativamente, após a
concessão do alvará pela prefeitura de Paranaguá, o que ocorrer primeiro; (e) o alvará foi
liberado em 03 de junho de 1994, sendo assim o prazo contratual teve inicio e seu termo
final ocorreu em 03 de junho de 1996, mas, no entanto, a obra não foi concluída até a data
da propositura da ação; (f) os réus descumpriram cláusula segunda do contrato, pelo que
este deve ser rescindido cumulativamente ao pagamento de multa, sem prejuízo das perdas
e danos; (g) a obra simplesmente foi abandonada a mais de oito anos, tanto é que houve
interpelação judicial para que os réus continuassem a obra, mas os mesmos não tomaram
qualquer atitude; (h) devidamente constituídos em mora os réus permaneceram
inadimplentes; (i) o contrato deve ser rescindido, em decorrência do inadimplemento por
parte dos réus, os quais deixaram de cumprir o prazo de entrega da obra, muito embora
notificados para tanto, abandonaram-na; (j) com a rescisão do contrato deverá ser pago a
multa contratual estipulada na cláusula quarta do contrato no valor de 10% sobre o valor
total do contrato, devidamente corrigido; (k) os autores deverão ser reintegrados na posse
do imóvel e os réus condenados à demolição do esqueleto da edificação, com a retirada dos
escombros; e, por fim, (l) requer o provimento do pedido inicial.
Os autores juntaram documentos com a petição inicial (fls. 19 a 88).
Os réus foram citados e apresentaram contestação argumentando, preliminarmente, a
ilegitimidade passiva de Cláudio Kemelmeier Filho e de Karen Mayer Kemelmeier, os
quais figuram no contrato celebrado entre as partes apenas como garantidores, não tendo
assumido a responsabilidade pelo cumprimento do contrato; bem como a inépcia do pedido
inicial, pois parte do pedido é impossível, porque o pagamento do valor total do contrato e,
ainda assim, a perda do mesmo terreno não é medida coerente. Quanto ao mérito afirmam,
ainda, que: (a) o contratado foi a permuta de um lote de terreno por uma parte ideal da obra
que nele seria construída, constituída por um apartamento; (b) a responsabilidade pela não
conclusão da obra não pode ser-lhes imputada, pois decorreu de ato alheio a sua vontade,
ou seja, embargo judicial imposto por meio de ação civil pública; (c) a simples autorização
pelo poder público para a construção não tinha o condão de autorizar o prosseguimento da
obra embargada; (d) a paralisação da obra não a beneficiaria, pois fez inúmeros
investimentos no local, pagando inclusive parte do valor do terreno; (e) vendeu seis
unidades de apartamento e já recebeu parte do valor, sendo que precisará devolver tais
valores, ante a impossibilidade de conclusão da obra; (f) a não conclusão da obra decorre
de caso fortuito ou força maior, ou seja, do embargo; (g) ao tempo da consumação do
negócio já vigorava a liminar que impedia o prosseguimento da obra, pelo que não pode
ocorrer a rescisão contratual, pois ainda persiste o impedimento legal; e, (i) requer o
acolhimento das preliminares com a extinção do processo, e, caso não seja este o
entendimento, requer que o pedido seja julgado improcedente.
Os réus juntaram documentos com a contestação (fls. 115 a 151).

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Os autores apresentaram impugnação à contestação (fls. 153 a 165) e, na oportunidade,


juntaram novos documentos (fls. 167 a 219).
Foi realizada audiência de conciliação, a qual restou infrutífera (fl. 250).
O juiz singular determinou no despacho saneador ser necessário apenas à juntada de
informações acerca do andamento da ação civil pública (fl. 274), o que foi cumprido (fl.
277).
Foi proferida sentença (fls. 292 a 307), a qual julgou procedente o pedido inicial para o
efeito de declarar rescindido o pacto negocial firmado entre as partes, restituindo aos
autores a posse sobre a área litigiosa, e condenando os réus a promoverem, no prazo de
sessenta dias, a demolição das obras inseridas no imóvel, com a conseqüente retirada dos
escombros, sob pena de perda em favor dos autores, sem direito a ação indenização, bem
como condenar os réus ao pagamento da multa contratual fixada em 10% do valor do
contrato e, também, a perdas e danos, representados por juros de mora incidentes sobre a
parcela que deveria ter sido quitada em 03/06/96, calculados à ordem de 0,5% ao mês até
10 de janeiro de 2003 e, a partir daí, à ordem de 1% ao mês, de acordo com o artigo 406 do
CCB, acrescidos de correção monetária pela média do INPC/IGP-DI, de acordo com o
artigo 1.062 do CCB. Condenou, ainda, os réus ao pagamento das custas processuais e
honorários do advogado, fixados em 20% sobre o valor da condenação, devidamente
corrigido.
Inconformados com a decisão, os réus interpuseram recurso de apelação (fls. 309 a 315),
no qual alegam que: (a) a sentença não foi medida de justiça; (b) firmaram contrato e
aditivo contratual, este último em decorrência do conhecimento do ajuizamento de ação
civil pública; (c) uma das condições para a conclusão da obra, estabelecida no aditivo
contratual celebrado entre as partes, era a concessão de alvará de construção e não
somente isto, mas também a solução da ação civil pública n. 1256/1999 da Vara Cível de
Matinhos (antes autuada sob n. 265/92 na Comarca de Paranaguá); (d) até a presente data
não houve o término do processo, na qual vigora liminar que impede qualquer edificação
no imóvel, sob pena de incidência em multa diária; (e) a certidão de fl. 277 demonstra que
o processo ainda está em andamento e que a liminar concedida está em pleno vigor; (f) a
morosidade do Poder Judiciário não pode ser imputada aos apelantes, pois a ação civil
pública tramita há mais de catorze anos na Vara Cível de Matinhos (primeira instância) e,
até agora, não apresentou solução alguma; (g) o deferimento do pedido de rescisão
contratual prejudicaria terceiros de boa-fé, os quais estavam cientes da existência dos
embargos; (h) a obra não foi concluída em decorrência de um elemento surpresa, ou seja,
liminar deferida em maio de 1992, circunstância nova no curso do contrato; (i) os apelados
ficaram cientes da situação, tanto é que celebraram o aditivo contratual, que previa o início
do prazo de dois anos estabelecido no contrato, no momento da extinção dos embargos
sobre a obra; e, (j) requerem o provimento do recurso com a reforma da sentença singular.
Os apelantes juntaram documento (fl. 316).
Os apelados apresentaram contra-razões (fls. 321 a 327).
Após, os presentes autos foram remetidos a este Tribunal e distribuídos a esta Câmara.
Preparado.
É o relatório.

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II - VOTO

Preliminarmente, observo que o recurso de apelação preenche os requisitos extrínsecos


(recorribilidade do ato decisório, a tempestividade da irresignação, a singularidade do
recurso e seu preparo) e intrínsecos (legitimidade e inexistência de fato impeditivo) de
admissibilidade, pelo que dele conheço e nego-lhe provimento.
O ponto nodal da questão está na possibilidade de rescisão do contrato de compra e venda
celebrado entre as partes por inadimplemento.
O pedido inicial é de rescisão contratual e pagamento de multa contratual e perdas e danos
pelo descumprimento da obrigação (inadimplemento contratual). Os autores alegam que
celebraram contrato de compra e venda com os réus ficando estabelecida a entrega de parte
ideal de um terreno, no qual seria construído, pelos réus, um edifício de apartamentos. Os
autores, ora apelados, receberam pelo terreno o valor de Cr$220.000,00, à vista, sendo
convencionado que no momento da conclusão da obra seria quitado o saldo devedor e
entregue uma unidade de apartamento devidamente descrita no contrato. O prazo para a
conclusão da obra foi estabelecido em dois anos, contados do levantamento do embargo
judicial decorrente de ação civil pública proposta pelo Ministério Público ou da concessão,
pelo poder público, de alvará autorizando a construção, o que acontecesse primeiro.
Por outro lado, os réus alegam que não podem ser responsabilizados pela obra estar
inacabada. Tudo porque, segundo o entendimento deles, a não conclusão do prédio ocorreu
exclusivamente por causa do embargo judicial, concedido em liminar de ação civil pública,
o que constitui fato alheio às suas vontades.
O argumento dos apelantes não é de prosperar. Tudo porque há indícios de que o embargo
judicial ocorreu por culpa da construtora, a qual não providenciou documentação essencial
para o início das obras, qual seja anuência prévia do Conselho do Litoral, conforme
demonstra o documento de fl. 191. O embargo judicial não pode ser enquadrado em caso
fortuito ou força maior. É dever da construtora providenciar todas as documentações
necessárias para a construção de um empreendimento. Outrossim, a certidão de fl. 151
demonstra que a liminar de embargo judicial foi revogada em 27/10/1992 e, somente no
dia 14/11/1994, voltou a vigorar. A obra ficou livre de qualquer embargo pelo período
superior de dois anos, sendo assim o prazo contratual fluiu livremente, mas os réus não
cumpriram com suas obrigações. O alvará judicial foi concedido apenas em 03 de junho de
1994 (fls. 78 e 79). Ocorre que no aditivo contratual ficou estabelecido que o prazo de dois
anos iria fluir da data do levantamento do embargo judicial ou da expedição do alvará de
construção. Como o levantamento do embargo ocorreu em 27/10/1992, o prazo contratual
para a conclusão da obra esgotou-se em 27/10/1994. Assim, indiscutivelmente os apelantes
foram inadimplentes.
O juiz singular bem analisou a questão ao constatar que os apelantes foram inertes na
defesa de seus interesses: "(...) outros proprietários que também tiveram suas obras
suspensas em razão da liminar deferida na ação civil pública obtiveram decisões em sede

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recursal que lhes garantiu o prosseguimento, e finalização das obras, a evidenciar a total
inércia dos réus na defesa de seus interesses. Nota-se que embora os réus não estivessem
obrigados a buscar a proteção jurisdicional na defesa de seus interesses, tal inércia acabou
por ensejar o descumprimento do contrato entabulado com os autores, dando azo ao
presente e motivado pedido de rescisão (...)" (fls. 392 e 393).
Dessa forma, a não conclusão da obra decorreu da omissão dos apelantes, os quais não
providenciaram documentação essencial e necessária para sua execução. A alegada
"demora" do Poder Judiciário para julgar a ação civil pública não foi o motivo para o
inadimplemento contratual. Certamente o fato de que os apelados tinham conhecimento
dos embargos não exime de culpa os apelantes, ainda mais quando a liminar de embargo
ficou revogada por período superior a dois anos. Por fim, é incontroverso o fato de que
outras construtoras concluíram suas obras, pois impugnaram a liminar de embargo deferida
na ação civil pública.
O juiz singular analisou corretamente a questão.
Nestas condições, nego provimento ao recurso de apelação.
É como voto.

III - DECISÃO

Ante o exposto, acordam os desembargadores integrantes da Décima Oitava Câmara Cível


do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em conhecer do
recurso e negar provimento, nos termos do voto.
Participaram do julgamento os Senhores Desembargadores Carlos Mansur Arida e José
Carlos Dalacqua e Excelentíssima Senhora Doutora Juíza Substituta em Segundo Grau
Convocada Lenice Bodstein.
Curitiba, 26 de setembro de 2007.

DES. CLAUDIO DE ANDRADE


Relator

Não vale como certidão ou intimação.

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