Você está na página 1de 8

 


 


 
  




 
 
 
 
 
 
  
   
   

 



    
   !
  


5 
$  
Este artigo tem como objetivo The article discusses networking as an
estabelecer uma discussão sobre o intervention procedure in Social work. To
Trabalho com Redes, como procedimento this end, first the contradictory and
de intervenção, na área do trabalho social. complex context where networking
Para tanto, por um lado, é considerado o operates is taken into account, involving
contexto contraditório onde a proposta the Welfare State crisis, the emergence of
se movimenta, que envolve a crise do the Third Sector and the constant
Wellfare State, o florescimento do Terceiro changes in the configuration of life in
Setor e as transformações das condições, society; then, a brief account of the main
dos modos e dos estilos de vida da contributions to the debate on the topic
sociedade atual. Por outro lado, realiza- is given from the perspective of mental
se uma breve abordagem das contri- health and the social dimension. On the
buições para o debate do tema a partir do basis of these considerations, the article   "#  
 $


campo social e da saúde mental. attempts to put forward the idea of


Ancorados nesses itens, busca-se networking as a possibility of breaking
colocar o Trabalho com Redes como uma away from traditional forms of response Professora adjunta do Curso de
possibilidade de romper com as formas to the ever increasing and complex Graduação e do Programa de Mestrado
cristalizadas de atendimento dos serviços demands resulting from contemporary em Serviço Social da Universidade
que se defrontam com demandas cada vez societal transformations. Federal de Santa Catarina – UFSC.
mais complexas, decorrentes das transfor-
mações societárias contemporâneas. Doutora em Saúde Mental pela Uni-
versidade de Campinas – UNICAMP/SP.
Palavras-chave: Trabalho com Redes, Key words: networking, professional
intervenção profissional, área social. intervention, the professional-social
Pós-doutora em Antropologia, pelo
dimension.
Istituto de Etnologia e Antropologia
Culturalle da Universitá di Perugia – IEA/
Perugia/Italia.

* Este trabalho contou com apoio do CNPq


(processo 300750/99-4).
 

  

 


'
e acordo com o rela- social, desencadearam demandas que autores que a questão está atrelada à
tório Harvard (1995), desbordam os limites das respostas crise do Estado de Bem-estar Social,
o grosso dos problemas institucionalizadas. ao surgimento do chamado Terceiro
de saúde mental na América Latina, Setor e, obviamente, às transforma-
Neste contexto, nos últimos anos,
Ásia, Oriente Médio, assim como nas ções societárias. Estas envolvem des-
vem sendo fortalecida a idéia do Tra-
grandes cidades (Tóquio, Los Angeles, de a reestruturação produtiva, as no-
balho com Redes como uma alterna-
Sidney), é constituído por problemas de vas configurações das desigualdades
tiva de intervenção capaz de respon-
alcoolismo, adição a drogas, suicídios, sociais, o novo perfil demográfico da
der às novas demandas. A discussão
tentativas de suicídio, violência contra população, a fragmentação das redes
sobre este tema, de maneira geral,
a mulher, abuso e abandono de crian- familiares e informais, até as mudan-
está associada a redes de solidarie-
ças, prostituição forçada, crimes e vi- ças e diversidade de estilos de vida.
dade, redes de suporte social, redes
olência nas ruas, conflitos étnicos, des- De tudo isto resultou um outro sujei-
primárias que, recorrentemente, são
locamentos e migrações forçadas. Isto to social.
utilizadas como sinônimos.
significa que as doenças mentais, no
senso estrito do termo, apresentariam Esta “indiferenciação” pode ser A crise do Estado de Bem-estar
apenas uma parte das condições de creditada à fragmentação do debate, Social, como é de domínio comum,
morbidade social e psicológica. que está inserido em muitos setores de implica na redução do papel do Es-
(FRATTURA, 1997). estudo e que assume significados di- tado no âmbito da proteção social,
versos de acordo com o contexto de havendo uma significativa conten-
Estes são os principais problemas ção dos recursos destinados à ga-
referência. Isso reflete a dificuldade de
que o Judiciário enfrenta e para os rantia dos direitos sociais, especial-
apreensão do objeto na sua complexi-
quais a população tem reclamado so- mente da seguridade social. Desta
dade, além de apontar o hiato existen-
lução, reivindicando tanto pela garan- forma o reconhecimento, ainda que
te entre o conhecimento que se tem
tia de direitos como por medidas de frágil em décadas precedentes, dos
sobre redes e os processos de inter-
segurança e proteção dos cidadãos. direitos dos indivíduos através das
venção com redes. Esta discussão é
Finalmente, não é diferente também
particularmente importante para o políticas públicas vai sendo
a agenda dos serviços sociais e de
Serviço Social pois, embora não seja reinterpretado atualmente. Esta
saúde de maneira geral, onde técni-
explicitamente discutida no âmbito da reinterpretação acontece principal-
cos de diferentes áreas se sentem
profissão, a intervenção com redes mente dentro de duas lógicas. Da
cada vez mais impotentes para o aten-
sempre fez parte dos processos de tra- lógica economicista da contabilida-
dimento de suas demandas.
balho dos assistentes sociais. de do Estado e da lógica cultural do
Esta situação nos indica que as fortalecimento da solidariedade.
formas tradicionais de intervenção, O presente artigo é conduzido jus-
movidas pelo princípio da segmen- tamente pelo interesse em analisar a Conseqüentemente, a questão da
tação de necessidades e por respos- intervenção em redes, como uma for- garantia dos direitos individuais fica,
tas setorizadas e especializadas, são ma de trabalho social. Para tanto se por um lado, reduzida ao problema
inócuas diante da realidade atual. busca explicitar os marcos contextuais do custo/benefício com o qual o Es-
Nesta perspectiva, há o reconheci- e conceituais mais significativos para tado não poderia arcar, devido ao
mento crescente de que tais proble- se pensar a intervenção em redes, e número crescente de dependentes.
mas não são realidades vinculadas discuti-la criticamente como procedi- Por outro, trabalha-se com a noção
apenas ao pequeno mundo dos sujei- mento de intervenção na área social. que os direitos individuais, ao forta-
tos que os expressam. Ao contrário, lecer o individualismo, teriam um efei-
estão diretamente relacionadas ao to destrutivo na solidariedade famili-
impacto social dos ajustamentos es- 
%

&
 
ar, além de provocar uma dependên-
cia do cidadão, indevida e negativa,
truturais de uma sociedade “globa-  

 

em relação ao Estado. Sob este ân-
lizada”, que submete grande parte da
população a contínuos processos de  gulo a responsabilidade pública,
deterioração das condições de vida e direcionada ao bem-estar dos cida-
de trabalho, além da perda de direitos A discussão do Trabalho com Re- dãos, vai sendo gradativamente di-
fundamentais com a crise do Estado des na última década relaciona-se minuída. (BIMBI, 1995). Paralela-
de Bem-estar Social. Assim, as trans- especialmente à utilização de recur- mente, vem sendo aumentada a re-
formações ocorridas no âmbito das sos no campo dos serviços sociais, que levância das redes de serviços do
relações sociais, tais como o enfra- envolve tanto a contenção de despe- voluntariado e reforçada a idéia da
quecimento das formas comunitárias sas como a requalificação das inter- solidariedade familiar. (SARACENO,
de vida e o aumento da mobilidade venções. Existe um consenso entre os 1998; FALEIROS, 1999).




 



  
!!
" # $% 

&'



)
# * +

# * +
,
-
,
%#,-
-
#./
%#0 1
 (

Assim as redes primárias, particu- intervenção em situações cotidianas às condições de vida, aos modos de
larmente as famílias, são recolocadas das instituições. vida e às expectativas de vida da po-
em cena. Elas ressurgem muito mais A primeira questão está relacio- pulação, seja por categorias coletivas
vinculadas ao apelo moral sobre suas nada às mudanças ocorridas na es- (idosos, portadores de deficiências e
funções, do que sobre a análise de suas trutura demográfica da população. outras) ou por sujeitos individuais. Isto
possibilidades objetivas de cumprirem Os dados demonstram que o novo indica que os serviços sociais tendem
as expectativas sociais. Elas são vis- perfil demográfico está marcado, par- a tratar cada vez mais com uma
tas como possibilidade de substituição ticularmente, pelo aumento da popu- pluralidade de condições econômicas,
do sistema de direitos sociais. lação idosa e pela fragilização da vida culturais, físicas, relacionais e com si-
(BIANCO, 1995; MIOTO, 2001). familiar (aumento do número de di- tuações cada vez menos homogêneas
vórcios, aumento de famílias monopa- que, por sua vez, exigem uma diversi-
Neste contexto desenvolve-se o
rentais e unipessoais) e da vida co- ficação de respostas dos serviços.
denominado Terceiro Setor, que
munitária (aumento da mobilidade da Dessa forma, as respostas estão con-
marca o estabelecimento de uma nova
população, concentração em centros dicionadas cada vez mais às análises
relação entre o Estado e Sociedade
urbanos). Esta constatação eviden- diferenciadas das dinâmicas existen-
no âmbito da responsabilidade da pro-
cia o aumento do nível de dependên- ciais, no âmbito do interjogo da singu-
teção social. Ele se efetiva através da
cia de parcelas significativas da po- laridade e globalidade.(VITA, 1995).
criação das chamadas Organizações
Sociais que se caracterizam como pulação aos serviços assistenciais, Nesta nova configuração a socie-
entidades sem fins lucrativos, organi- que requerem novas alocações de re- dade se dá conta também de que nem
zações não governamentais e organi- cursos, considerando o critério da todas as demandas colocadas aos ser-
zações voluntárias. (BATISTA, 1999; eqüidade entre as gerações. (MIO- viços podem ser atendidas dentro de
FALEIROS, 1999a). TO, 2000). um contexto institucionalizado. No
Paradoxalmente, enquanto o per- âmbito das sociedades complexas tem
Através dessas organizações, a
fil populacional se constitui numa in- aumentado, por um lado, as expres-
sociedade é chamada a “participar”
dicação clara que existe um nível sões de “mal-estar” que fogem aos
da gestão do bem-estar. À medida
crescente de necessidades a serem enquadramentos tradicionais da doen-
que a gestão dos direitos é realizada
atendidas, convivemos com uma cla- ça e da delinqüência. As situações de
pelo Terceiro Setor, os serviços ofe-
ra redução de recursos do Estado vida cotidiana levam indivíduos, ou
recidos para a população deixam de
destinados às políticas sociais. Além grupos de indivíduos, a expressarem
ter o caráter público e universal como
disso a fragmentação das redes fa- de forma cada vez mais difusa o so-
referência, para atrelarem-se ao par-
miliares, aliada ao empobrecimento frimento e os sentimentos de “não ser”,
ticular, que é definido com base nos
acelerado, sinaliza para a impossibili- “não encontrar-se” e de solidão, típi-
critérios de cada organização. Parti-
dade do retorno a um estado onde a cos da contemporaneidade.
cularmente, no Brasil, o processo de
família seja o centro do bem-estar. A
discussão e estabelecimento do mar- Por outro lado, especialmente nas
cada dia mais nos damos conta do
co legal do Terceiro Setor acontece sociedades estruturalmente desiguais,
aumento do número de pessoas
em paralelo à nova regulamentação cresce o número de sujeitos que, ao
fragilizadas na gestão autônoma da
da filantropia e ambos estão claramen- viverem em ambientes hostis ou em
própria vida e da restrição do número
te direcionados à redução do papel do situações de abandono, necessitam de
de pessoas em condições de assegu-
Estado no âmbito das políticas soci- rar assistência necessária para com- outros contextos afetivos para tocarem
ais. (GOMES, 1999; MONTAÑO, pensar ou fazer frente às dificulda- a vida. A institucionalização, pela ex-
1999; FALEIROS, 1999b). des cotidianas. O resultado disso é o periência histórica, mostrou-se como
crescimento da demanda aos serviços. uma alternativa indesejável e mesmo
Tanto a crise do Estado de Bem-
equivocada para lidar com os proble-
estar Social como o Terceiro Setor O aumento da demanda aos ser- mas do abandono, das doenças men-
florescem num contexto de trans- viços constitui-se como a segunda tais e outros. Não é por acaso, por
formações societárias das quais se questão significativa para o debate exemplo, que o Estatuto da Criança e
desprendem, também, novas formas sobre redes, dado aos problemas que do Adolescente reconhece o direito de
de convivência social, novos estilos apresenta. Dentre eles se colocam a todas as crianças e adolescentes à
de vida e outras demandas sociais. diversificação e os limites institu- convivência familiar e comunitária.
Na complexidade e na contradito- cionais para atender determinados ti-
riedade deste contexto é que sur- pos de demandas. Além de todas essas transforma-
gem algumas questões fundamen- ções societárias, que têm resultado no
tais para a discussão do Trabalho A acentuada diversificação de de- aumento acentuado de riscos, patolo-
com Redes, como procedimento de mandas está diretamente relacionada gias e problemas que demandam cada











  
!!
" # $% 

&'
2 

  

 


vez mais assistência, defrontamo-nos, ser subestimada no debate. Trata-se deste artigo, tende a se concentrar
também nesse contexto, com profun- dos chamados efeitos de irradiação do muito no seu componente empírico e
das modificações culturais a respeito sofrimento de indivíduos com proble- pouco sobre as referências teóricas que
da própria concepção de assistência1 . mas graves sobre os que lhe são pró- lhe sustentam. Por isso apresentamos
ximos, como familiares, amigos e vi- nesta seção, ainda que de maneira su-
De acordo com Folgheraiter
zinhos. Estes por estarem expostos a cinta, as vertentes do debate no cam-
(1994), no conceito clássico de assis-
situações de convivência estressante po social e a proposta construída na
tência prevalecia uma dimensão de
tendem a necessitar também de pro- área da saúde mental, a partir dos es-
suporte, sem a intenção de eliminar
teção e suporte dos serviços. Portan- tudos antropológicos sobre redes.
ou reduzir os danos. Deveria ocorrer,
to, embora a família, amigos e vizi-
através de apoio material ou afetivo,
nhos possam ser importantes recur-
em situações da vida cotidiana, por li- ' (
) 
 
sos para o cuidado de indivíduos, como
mitações pessoais ou familiares de
diferentes ordens, ou ainda por doen-
doentes mentais, doentes crônicos 
  
 

graves e outros, eles são potencial-
ças e incapacidades. Com o desen-
mente sujeitos necessitados de cuida- Na perspectiva de Di Nicola
volvimento do welfare state emergiu
do e de suporte. Nestas situações os (1989), os estudos e debates sobre re-
a dimensão compensatória da assis-
“outros significativos” do usuário de- des sociais têm se realizado especial-
tência, prevendo “cuidados” de longo
signado são ao mesmo tempo parcei- mente a partir das matrizes da network
prazo, e também, atenção a situações
ros naturais do processo de cuidado e analysis e do suporte social.
de emergência, que se caracterizava
fonte de preocupação dos serviços.
como uma intervenção intensiva e
focalizada. Contando com ajuda dos Através das pontuações realizadas
especialistas, a assistência focalizada é possível observar que o momento ( 
 * +
buscava transformar a personalidade exige uma requalificação dos modelos
ou o estilo de vida de indivíduos, quan- assistenciais que tem norteado o aten-
 ,  
do julgados como disfuncionais ou dimento das demandas da população.
patológicos (exemplos: alcoolismo, Sejam eles da área social, sanitária, 
+  -.
delinqüência, doença mental). jurídica/judiciária ou educacional. A
forma indiscriminada de trabalhar com

   
 
Para o autor, estes conceitos foram
estas questões, as articulações que se
se alterando em decorrência das ex-
tem feito entre elas, a partir da lógica 
 / 
 
+
pectativas assistenciais contemporâne-
de redução do papel do Estado e a
as, uma vez que além da assistência a
delegação dos processos assistenciais #  #   
ser dispensada às pessoas em estado
ao Terceiro Setor, tem colocado em
de sofrimento, passou-se a pensar na
cena – sob muitos holofotes – a im-   0 +
prevenção dessas situações e também
portância da participação comunitária
na promoção do bem-estar e da quali-
e com ela tem se evidenciado as pos-    

dade de vida. Ou seja, é muito mais
sibilidades de Trabalho com Redes.
pertinente sensibilizar um bebedor
Esta associação, restrita, entre Traba- 
 ,
1
moderado que reabilitar um alcoolista,
lho com Redes e Terceiro Setor, tem
é muito mais pertinente trabalhar na
dificultado uma discussão frutífera so-
promoção da saúde que no seu aspec- Considera a realidade social como
bre um procedimento, que não é novo,
to curativo. Esta nova perspectiva teve um conjunto puntiforme, cuja disposi-
mas que pode fazer parte do leque de
e tem tido profundas implicações na ção no espaço se torna a própria es-
opções de intervenção dos profissio-
organização da assistência, uma vez trutura da realidade social. O objetivo
nais inseridos nos serviços.
que implica em fazer desaparecer os desta abordagem é analisar, através
problemas antes que apareçam. Com de sua técnica, fenômenos e compor-
isso a assistência deixa de ser algo re- tamentos individuais ou coletivos,
lacionado apenas aos serviços, espraia- $
     como decorrentes da estrutura de re-
se por toda a sociedade e exige políti-
cas públicas muito mais sofisticadas e
 
 
 

lações que sustentam o fenômeno ou
o comportamento analisado. De acor-
a formação de operadores sociais ca-  do com Chiesi (1991), a novidade da
pazes de operá-las. network analysis consiste no deslo-
Por fim, ainda referente à assis- A discussão sobre intervenção em camento do interesse teórico em ex-
tência, uma última questão não pode redes, como apontado na introdução plicar a ação social a partir da estru-




 



  
!!
" # $% 

&'



)
# * +

# * +
,
-
,
%#,-
-
#./
%#0 1
 

tura reticular da qual o indivíduo é par- que estabelece uma total identifica- venção em nível de rede passou a ser
te e não mais como uma característi- ção entre redes sociais e redes de entendida como o trabalho que envol-
ca social do indivíduo. suporte social. ve um grupo de pessoas (membros da
família, vizinhos, amigos e outras pes-
Nesta perspectiva a rede social é
soas ou grupos institucionais) capazes
entendida como um conjunto especí- 2  (
) 
  de prestar apoio real e duradouro a um
fico de vínculos entre um conjunto
específico de pessoas. Vínculos cujas

  
  3  indivíduo ou a uma família. Apresen-
tou-se como importante alternativa de
características podem ser utilizadas
A idéia do trabalho com redes, intervenção em situações agudas ou
para interpretarem o comportamento
enquanto construção metodológica crônicas ou naquelas onde se tem che-
social das pessoas neles envolvidas.
específica de intervenção em saúde gado à imobilidade ou ausência de so-
Trata a análise de redes de maneira
mental, estruturou-se na década de luções por métodos tradicionais.
geral, não assumindo a rede primária
1970 em países como Estados Uni- (SPECK, 1989; DESMARAIS, 1989).
como objeto privilegiado de estudo.
dos, Canadá e França. Foi inspirada A partir de então a intervenção em
A segunda matriz, do suporte so- na obra de Elizabeth Bott, antropólo- redes nesta área teve um amplo deba-
cial, tem um caráter eminentemente ga e psicanalista inglesa, denominada te envolvendo nomes como o de Mony
empírico. O seu objeto de análise está família e rede social baseada no con- Elkaim, Robert Castel, Felix Guatarri,
centrado nas pessoas e mais especi- ceito de rede social, formulado na entre outros. Passou a ser reconheci-
ficamente nas performances individu- década de 1950. Para Speck (1989), da como uma alternativa que poderia
ais para enfrentarem os riscos da vida o contato com os estudos antropoló- proporcionar o contexto necessário
cotidiana. Assim, a atenção tem se gicos possibilitou a construção de uma para a articulação das relações entre
voltado, com maior intensidade, para técnica de trabalho para atender pes- estrutura social e psicodinâmica. Atra-
os aspectos psicológicos do compor- soas portadoras de sofrimento psíqui- vés dela poder-se-iam realizar mudan-
tamento, como, por exemplo, as rea- co, que não se beneficiavam das te- ças necessárias nas interações dos sis-
ções ao estresse, depressão e respos- rapias convencionais. temas sociais, objetivando tanto a pre-
tas positivas aos eventos de lutos.
Nesta perspectiva foram desenvol- venção de doenças mentais como a
Desta forma o conceito de rede é uti-
vidas inúmeras técnicas de Trabalho melhoria da capacidade psicológica dos
lizado para explicar o comportamen-
com Redes, envolvendo tanto as cha- indivíduos para resolver os problemas
to individual e a rede é definida a par-
madas redes primárias como as secun- da existência.
tir da importância simbólica e afetiva
para o sujeito. Esta vertente de análi- dárias. As redes primárias são consi- Para estudiosos da área, a inter-
se de redes tem como tendência de deradas como a encruzilhada da vida venção em redes possibilitaria o rom-
fundo o estabelecimento de uma equi- “privada” e “pública” e são formadas pimento da dicotomia público e pri-
valência entre a rede social primária pelo conjunto de indivíduos que se re- vado, uma vez que esta dicotomia fa-
e rede de suporte social. lacionam a partir de laços afetivos. vorece a interpretação de que os
Habitualmente, a rede primária é defi- transtornos mentais estão vinculados
Para Di Nicola (1989), o alinha- nida a partir de uma pessoa. É consti-
mento teórico das contribuições ao mundo privado e desvinculados da
tuída por parentes, amigos e vizinhos vida pública. Desmarais et all (1989)
empíricas dessa matriz se não estão
e se transforma no decorrer da vida afirmam que a resistência em expres-
referenciadas na network analysis,
de acordo com a idade, as circunstân- sar publicamente o sofrimento está
encontram sustentação nas premis-
cias e a posição social. As redes se- relacionada ao fato de que a análise
sas do funcionalismo, especialmente
cundárias se definem a partir de insti- desse sofrimento remeteria a condi-
na perspectiva da família extensa
tuições e são formadas pelo conjunto ções objetivas de injustiça e explo-
modificada. Esta denominação, de
de pessoas reunidas em torno de uma ração. Por isso o Trabalho com Re-
autoria do sociólogo E. Litwak, indi-
mesma função, dentro de um marco des teria o papel político de desmas-
ca a persistência de relações entre a
institucionalizado. carar o funcionamento da ideologia
família nuclear e a rede de parentela,
mesmo na ausência da coabitação, e O conceito de rede primária em dominante. Permitiria a coletivização
que estas não seriam disfuncionais em saúde mental permite a discussão dos dos problemas e a concretização de
referência à mobilidade social dos laços entre os fatores psicológicos e um processo de participação nas
sujeitos, como propunha inicialmente sociais. A rede primária abarca o con- vivências afetivas que, quando ali-
a escola funcionalista. Dessa forma junto das relações afetivas de uma mentadas pela análise ideológica, re-
se reconhece toda a troca de bens pessoa e é sabido que cada pessoa dundariam em questionamentos e
materiais, serviços e ajuda mútua en- esgota na sua rede primária seus prin- confrontações que desembocariam
tre a família nuclear e sua parentela cipais recursos psicossociais. A inter- também em ações coletivas.











  
!!
" # $% 

&'
3 

  

 


Com base nestas postulações, pas- intervenção em redes consiste em to- ferência básica a existência de uma
saremos a discutir o Trabalho com dos aqueles “atos assistenciais” que rede social primária. Porém, este bem-
Redes como procedimento de inter- se realizam via auxílio, ativação e estar, no âmbito das sociedades com-
venção. modificação, além da revisão das pró- plexas, não depende apenas do con-
prias necessidades, das redes sociais junto das redes sociais primárias. Mui-
que sustentam o sujeito que manifes- to pelo contrário, o bem-estar passa a
ta uma necessidade singular. depender muito mais das redes formais
 

 

de assistência e cuidado e também das

 
  
Segundo essa autora, o Trabalho
redes secundárias, como grupos orga-
com Redes possui as seguintes carac-
nizados de apoio (exemplo: associação
terísticas:
dos alcoólicos das redes secundárias,
Considerando as discussões a) não é aleatório ou espon- voluntários para companhia de idosos
efetuadas nos itens anteriores, pode- taneísta; que vivem só e outros).
se dizer inicialmente que a proposta
do trabalho de redes, atualmente, ten- b) não é inespecífico, pois nasce No entanto, mesmo com a exis-
de a se movimentar através de duas para responder determinadas tência de uma rede, mais ou menos
lógicas. Uma que responde a uma ins- demandas; capilar, de serviços formais (públicos
tância substancialmente adaptativa à c) não é genérico, é uma interven- ou privados), muitas tarefas assis-
medida em que a proposta é valoriza- ção que pode ser realizada em tenciais são desenvolvidas em nível
da em função da redução de recur- diversos níveis de complexida- informal. Isto permite que necessida-
sos e guiada pelo princípio da desres- de, frente a situações particu- des de saúde, de assistência, de edu-
ponsabilização do Estado na gestão do lares de necessidades; cação nunca se transformem em de-
bem-estar social. Sob esta perspecti- mandas quando satisfeitas anterior-
va o Trabalho com Redes é utilizado d) não é a-profissional. A ativação mente, até porque muitas dessas ne-
como uma estratégia de intervenção de uma intervenção em rede cessidades jamais serão satisfeitas por
capaz de atender às mais diversas pressupõe a capacidade de arti- vias institucionais. Dessa forma é que
demandas, cujo objetivo é buscar e cular adequadamente a deman- se acredita que as intervenções
encontrar soluções para elas, fora dos da com a resposta. Para isso é institucionais têm resultados muito
serviços, através de um processo de necessário ter a capacidade de melhores quando se pode trabalhar
delegação de responsabilidades. Nes- avaliar e decidir, num leque de com uma rede de relações (primárias
te processo as redes primárias, identi- possibilidades de intervenção por e secundárias) nas quais os sujeitos,
ficadas como redes de suporte social, aquela que mais se adapta a de- destinatários dos serviços, possam
são supervalorizadas como recurso e, manda apresentada, e estar inseridos, o que implica na ava-
conseqüentemente, sobrecarregadas, e) a intervenção em rede deve liação global dos serviços e dos re-
e o Terceiro Setor aparece como peça acontecer vinculada aos seto- cursos que existem na coletividade
fundamental, através do voluntariado. res formais de cuidado e assis- capazes de produzir bem-estar. A pro-
tência. dução desse bem-estar está relacio-
A outra lógica se encaminha para nada, prioritariamente, à interdepen-
responder a uma instância prevalen- Tais características desfazem a dência recíproca e à conexão existen-
temente emancipatória ao reconhecer falsa idéia de que o Trabalho com tes entre as diversas redes.
a necessidade da requalificação dos Redes pode se sustentar na capaci-
processos interventivos, da avaliação dade terapêutica e de apoio das re- A intervenção em rede, como tra-
dos setores tradicionalmente respon- des em si mesmas. Ou seja, que as balho profissional, coloca-se como al-
sáveis por esses processos nas mais redes sociais primárias, sobretudo as ternativa importante em três situações:
diversas áreas e que não podem ser de pertencimento dos sujeitos, operam a) quando a rede de referência do
mais cobertos pela lógica burocráti- sempre para o bem-estar de seus sujeito demonstra impossibilidade de
ca, setorial e especializada. Tal membros. Com base nas contribui- desenvolver suas tarefas de cuidado
requalificação visa atender às deman- ções teóricas sobre o tema seria im- ou de lidar com expressões particula-
das decorrentes das transformações procedente estabelecer uma relação res de sofrimento de seus membros;
b) quando as redes não existem ou
societárias utilizando, de forma inte- de equivalência entre rede de
são excessivamente fragmentadas e
grada e articulada, os recursos dis- pertencimento e rede de suporte, seja
dispersas e c) quando as redes estão
poníveis, a partir da afirmação da res- material ou psicológico.
sobrecarregadas, demonstrando cres-
ponsabilidade do Estado.
De maneira geral o Trabalho com cente dificuldade de desenvolver suas
Trabalhando a partir dessa lógica, Redes está ancorado na idéia de que o tarefas de cuidado e assistência. Par-
Di Nicola (1991, p.146) afirma que a bem-estar dos sujeitos tem como re- ticularmente têm sido indicadas para




 



  
!!
" # $% 

&'



)
# * +

# * +
,
-
,
%#,-
-
#./
%#0 1
 4

situações que envolvem doença men- cuidado, tornando menos estressante ando em redes, a partir de demandas
tal, problemas afetivos, isolamento a situação em que se vive e possibili- particulares, este trabalho não está li-
social e solidão (especialmente de ido- tar, na maioria das vezes, à família fa- mitado aos critérios relacionais ou
sos), dependência química, violência zer frente às suas tarefas de cuidado. psicológicos. Integra outros compo-
doméstica, abuso e maltrato de crian- nentes como problemas de desempre-
A potencialização e a criação
ças e adolescentes e situações de ex- go, de fracassos, de discriminação, de
de redes está vinculada ao trabalho
clusão. (DI NICOLA, 1991). mobilidade social. A participação da
sócio-terapêutico e comunitário pro-
rede dos operadores sociais, no âm-
Partindo dessas indicações o tra- posto por grupos de trabalhadores da
bito dessa intervenção, possibilita a
balho poderia ser enquadrado em área da saúde mental, belgas e cana-
condução de respostas integradas e
modalidades diversas, dentre as quais denses. O modelo de intervenção tem
coerentes com a demanda efetivada.
se destacam duas: a de sustentação como referência a network analysis
de redes sobrecarregadas e a de e seu objetivo é a transformação de Em segundo plano este tipo de pro-
potencialização e criação de redes. práticas sociais e políticas no campo posta permite a criação de novas re-
da exclusão social.. des a partir das demandas que vão
sendo redefinidas e de associações,
( 
  Pluymaekers (1989) observou que
que vão sendo estabelecidas entre os
muitos dos problemas, das dificulda-
sujeitos participantes do processo.
  
.   des e principalmente as decisões para
exclusão das pessoas de seus luga-

  #  res, através de internações dos mais
variados tipos, estão vinculados ao "
 

momento em que os problemas vivi-


 
   
 dos dentro das famílias entram num A título de conclusão é importante
processo público. Para ele os vizinhos,
 
    parentes, diretores de escola, opera-
reafirmar que a discussão sobre o
Trabalho com Redes acontece num
dores sociais, serviços especializados
4  0 + tendem a atuar no processo de con-
momento em que as transformações
da sociedade contemporânea têm co-
firmação do problema e induzem, com locado desafios no atendimento de
  
  + a justificativa da ajuda, formas con- suas novas demandas e exigem res-
vencionais e reducionistas aos proble- postas cada vez mais qualificadas dos

    
mas, por exemplo à própria exclusão. profissionais que trabalham na área
social. As respostas a serem dadas,
    
1 Partindo desta análise, a proposta
no nível da operacionalidade, estão
de trabalho é guiada por duas idéias.
A primeira é dirigir o trabalho no sen- condicionadas aos projetos societários
A assistência a elas pode ser atra- tido em que os integrantes da rede que têm se colocado no âmbito do de-
vés da prestação de serviços de dife- primária (família, vizinhos, amigos) bate político e ideológico. Isto signifi-
rentes naturezas, inclusive a domicilio mantenham o problema num nível que ca que o Trabalho com Redes não
ou em auxílio material, de forma possam controlá-lo, e, ao mesmo tem- acontece no vazio e nem é desprovi-
episódica ou contínua. po, que compreendam a dimensão do de sentido político. Portanto a sua
coletiva da questão. A segunda con- utilização, como procedimento de in-
Esta sustentação pode estar tervenção, está diretamente relacio-
centrada, por um lado, em sujeitos por- siste em trabalhar também com a rede
de operadores sociais envolvidos com nada à implicação dos operadores so-
tadores de problemas, como idosos, ciais nos projetos societários em pau-
o problema, na perspectiva de rom-
portadores de deficiências, doentes ta na nossa sociedade hoje. O Traba-
per com os esquemas analíticos que
mentais, ou nos sujeitos que se ocu- lho com Redes pode se revestir de
reduzem a complexidade do proble-
pam do seu cuidado, ou mesmo na fa- características predominantemente
ma de optar por intervenções linea-
mília dando-lhe a possibilidade de tem- adaptativas ou de características emi-
res e burocratizadas.
po livre. Por outro lado, em situações nentemente emancipatórias.
de crise, provocadas por acontecimen- Esta perspectiva implica num pri-
tos, como nascimentos, doenças, mor- meiro plano na potencialização das re- Dessa forma, pensamos que o Tra-
tes, desemprego e outros, que exigem des primárias para que elas possam balho com Redes possa ser uma alter-
a reorganização dos recursos da pró- se organizar segundo os seus interes- nativa possível para romper com os
pria rede para fazer frente à situação. ses, utilizando-se adequadamente dos modelos assistenciais cristalizados no
Esta forma de intervenção tem a fina- recursos de que dispõem ou de que âmbito das instituições, guiados por
lidade de corroborar a competência de possam dispor. Portanto, mesmo atu- uma lógica pontual e fragmentária que











  
!!
" # $% 

&'
' 

  

 


não responde a complexidade das si- FALEIROS, Vicente de Paula. As y desarrolo. In: Redes. España:
tuações que se colocam cotidianamen- reformas da Seguridade Social: o Gedisa, 1989.
te. Como diz Berlinguer, bem-estar contexto mundial e o caso canadense.
VITA, Roberto De. Politiche Sociali
social hoje é muito mais que seguridade In: Ser Social, n. 4. Brasília: SER, e Servizi Sociali: soggettività e
social no âmbito da previdência, saúde UNB, 1999. progettualità. In: La Politica Sociale
e assistência, implica em oltre la Crisi del Welfare State.
_____. Desafios do Serviço Social na
era da globalização. In: Serviço Milano: FrancoAngeli, 1994.
promoção do trabalho e da
Social e Sociedade, ano XX, n. 61.
eqüidade, tempos de vida
São Paulo: Cortez, 1999.
mais humanos e racionais,
redes espontâneas e voluntá- FOLGHERAITER, Fabio. Integra- 

rias de solidariedade, inici- zione di Politiche Sociali e Lavoro Sociale
ativa e responsabilidade de nelle Comunità Locali: la community 1 Neste trabalho o termo assistência
care. In: La Politica Sociale oltre la está sendo utilizado em sentido
cada um, relação entre gera-
Crisi del Welfare State. Milano, Italy: amplo, sem a conotação específica
ções, segurança pessoal e
FrancoAngeli, 1994. da Política de Assistência Social.
ambiente. (BERLINGUER,
1999, p. 5). FRATTURA, Lucilla. Cartografie (E)
Retiche di Salute Mentale. In:
Recebido em 15/05/01. Aceito em Animazione Sociale, ano 27, n. 116. Endereço – Autora
31/08/01. Torino: Gruppo Abele, 1997.
Rua Pireneus, 50/302
GOMES, Ana Lígia. A nova
regulamentação da filantropia e o Córrego Grande
5  marco legal do Terceiro Setor. In: Florianópolis – SC
Serviço Social e Sociedade, ano XX, CEP: 88.037-615
BATISTA, Alfredo. Reforma do n. 61. São Paulo: Cortez, 1999. e-mail: mioto@cse.ufsc.br
Estado: uma prática histórica de MIOTO, Regina Célia Tamaso.
controle social. In: Serviço Social e Cuidados sociais dirigidos à família e
Sociedade, ano XX, n. 61. São Paulo: segmentos sociais vulneráveis. In:
Cortez, 1999. Capacitação em Serviço Social e
BERLINGUER, Giovanni. Sicu- Política Social, mod.04. Brasília:
rezza addio? Una proposta di Q E. UnB, CEAD, 1999.
In: Qualità Equità-la política che _____ Novas propostas e velhos
decide, n.15. Roma: Ed. Liberetà, princípios: subsídios para a discussão
S.r.l., 1999. da assistência às famílias no contexto
BIANCO, Lúcia. Sotto Lo Stesso de programas de orientação e apoio
Tetto. In: Politiche per le Famiglia. sócio-familiar. Florianópolis, 2001.
Torino: Gruppo Abele, 1995. Mimeografado.
BIMBI, Franca. Rappresentazioni e MONTAÑO, Carlos. Das lógicas do
Politiche Familiari in Italia. In: Estado às lógicas da sociedade civil:
Poliche per le Famiglia. Torino: Estado e Terceiro Setor em questão.
Gruppo Abele, 1995. In: Serviço Social e Sociedade, ano
XX, n. 59. São Paulo: Cortez, 1999.
DESMARAIS, Danielle. Prácticas de
red: intercambios. In: Redes. España: PLUYMAEKERS, Jacques. Redes y
Gedisa, 1989. practica de barrio. In: Redes. España:
Gedisa, 1989.
DI NICOLA, Paola. La Raziona-
lizzazione delle Risorse nel Campo dei SARACENO, Chiara. Le compa-
Servizi Sociali: problemi di conteni- tibilità sociali nella riforma del welfare.
mento e di riqualificazione degli In: Animazione Sociale, 6/7, 3-19.
interventi assistenziali. In: La Politica Torino: Gruppo Abele, 1997.
Social Oltre la Crisi del Walfare State. SPECK, Ross V. La intervencion de
Milano, Italy: FrancoAngeli, 1994. red social: las terapias de red, teoria




 



  
!!
" # $% 

&'



Você também pode gostar