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Psicologia na

educação:
saberes
e fazeres
Comissão Organizadora:
Elisângela Mara Zanelatto - Coordenadora do Núcleo de Educação da
Sede (Porto Alegre)
Simone Fragoso Courel - Coordenadora do Núcleo de Educação da
Subsede Serra (Caxias do Sul)
Mateus Pavei Luciano - Integrante do Núcleo de Educação da Sede
(Porto Alegre)

Autoras/es dos textos (integrantes dos Núcleos de


Educação do CRPRS):
Elisângela Mara Zanelatto, Simone Fragoso Courel, Mateus Pavei
Luciano, Monique Cauduro Doormann, Berenice Moura da Roza,
Cristina Mairesse, Alaya Caldas da Silva, Rosana Rossatto, João Luis
Almeida Weber, Rosa Veronese, Sonia Rossetti, Mônica Bergozza,
Daniela Cifali, Rossana Perinazzo, Ana Emília Costa, Klaus Iglesias
Hensel, Mônica Fernanda Neukamp Wille e Helenara Sironi de Moraes.
Psicologia na educação:
saberes e fazeres

Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul


Comissão de Políticas Públicas
Núcleos de Educação

1ª edição
Porto Alegre, agosto de 2019.
Gestão AmpliaPsi
setembro/2016 a setembro/2019
Conselheira Presidente: Silvana de Oliveira
Conselheira Vice-Presidente: Mariane Teixeira Netto Rodrigues
Conselheira Tesoureira: Fernanda Facchin Fioravanzo
Conselheira Secretária: Cristina Maranzana da Silva

Conselheiros efetivos Priscila Pavan Detoni


Angelo Brandelli Costa Silvana de Oliveira
Augusto Luis Fassina Silvio Augusto Lopes Iensen
Cleon dos Santos Cerezer
Cristina Maranzana da Silva Conselheiros suplentes
Fernanda Facchin Fioravanzo Andrielli Flores Fernandes Bastos
Geisa Felippi Bruno Graebin de Farias
Luciara Gervasio Itaqui Cibele Vargas Machado Moro
Maria Josefina Franchini Elisangela Mara Zanelatto
Mariane Teixeira Netto Rodrigues Giovani Cantarelli
Mayte Raya Amazarray Manuele Montanari Araldi
Michele Pens Nauro Mittmann
Patrícia de Moraes Silva

Projeto Gráfico e Diagramação: Engenho de Ideias

Conheça outras publicações do CRPRS acessando


crprs.org.br/publicacoes

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)

C755p Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul.


Psicologia na educação : saberes e fazeres / Comissão de Políticas Públicas, Núcleos
de Educação, Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul. – Porto Alegre:
Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul, 2019.
34 p. : il.

Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-67564-02-9

1. Psicologia. 2. Educação. 3. Patrimônio arquitetônico. I. Conselho Regional de Psicologia


do RS. Comissão de Políticas Públicas. Núcleos de Educação. II. Título.
CDU 159.9:37

Bibliotecária responsável: Bruna Heller (CRB-10/2348)


Índice para catálogo sistemático:
1. Psicologia 159.9
2. Educação 37
Sumário
Parte I
08
Capítulo 1
Psicologia e Educação:
um pouco desta história ...............................................09

Capítulo 2
Saberes e fazeres
da Psicologia Escolar/Educacional ...............................14

Parte II
18
Capítulo 3
Violência e Intimidação Sistemática (Bullying) ............19

Capítulo 4
Saúde do Profissional da Educação ..............................22

Capítulo 5
Sexualidade: o espaço educativo e sua diversidade .....26

Capítulo 6
Inclusão ........................................................................30
Apresentação
A escrita deste material: “Psicologia na educação: saberes e
fazeres” surge como uma proposta de orientação aos profissio-
nais de Psicologia que atuam nesta área. Essa construção tor-
nou-se possível por meio do diálogo e articulação dos Núcleos
de Educação do Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande
do Sul (Sede - Porto Alegre e da Subsede Serra - Caxias do Sul),
durante a Gestão AmpliaPsi (2016-2019). Assim, estimuladas/os
pelas inquietações produzidas pelo fazer cotidiano e pelos desa-
fios enfrentados no campo da Psicologia Escolar e Edu­cacional
na contemporaneidade, surgiu essa publicação para, de alguma
maneira, orientar a categoria.
Espera-se que esse material permita, às/aos colegas da Psi-
cologia que atuam na Educação, a possibilidade de reflexão e
problematização da relevância de ações nessa área, e que possa
embasar as práticas no saber técnico e ético, de acordo com o
Código de Ética Profissional da/do psicóloga/o. A iniciativa mos-
tra-se também uma forma de valorizar esse campo de saber e de
atuação da/do profissional de Psicologia, que pode ser ampliado
e fortalecido ainda mais.

6
Introdução
A Psicologia, ao longo de sua construção como ciência e
profissão, mostra-se relevante em vários campos do saber, tais
como saúde, assistência social, sistema judiciário e educação.
Nesse sentido, é sobre a dimensão da educação que se dedica a
construção desse material.
Ao longo dos textos que compõem essa escrita, busca-se
problematizar e refletir acerca dos saberes e fazeres no campo
da Psicologia Escolar e Educacional. Num primeiro momento,
são retomados os aspectos históricos que permitiram a inserção
da Psicologia na Educação e as principais ações nesse campo de
atuação da/do profissional, contextualizando-o.
Logo após, são apresentados alguns temas (im)pertinentes
que, durante os encontros dos núcleos de Educação, têm
se apresentado com recorrência: Violência e Intimidação
Sistemática (Bullying); Saúde do Trabalhador da Educação;
Gênero e Sexualidade e Inclusão. Espera-se que essa
construção possa auxiliar nas ações cotidianas do trabalho
da/do profissional da Psicologia no campo da Educação. E que
permita fazer a diferença, não produzir diferenças!

7
Parte I
Capítulo 1
Psicologia e
Educação:
um pouco
desta história
Para compreender melhor tratamento” dos alunos e atendeu
onde estamos e conseguir refle- às necessidades de avaliação da
tir sobre para onde pretendemos atenção, maturidade, habilidades
ir no contexto da Psicologia como e competências com a aplicação
ciência e profissão, é fundamental da psicometria(2).
conhecer e analisar os caminhos
Também, a Psicologia passou
percorridos até então. O encontro
a atender as demandas de de-
da Psicologia com o sistema edu-
senvolvimento e aprendizagem
cacional pode ser demarcado em
na primeira metade do século XX,
três momentos estratégicos da
demonstrando a forte influência
história econômica, social e polí-
da Psicologia clínica na institui-
tica do Brasil(1):
ção escolar.
*1906 - 1930 (Primeira Re-
*A partir de 1960: reorientação
pública: período marcado pelo
do Sistema Educacional para suprir
analfabetismo e mão de obra não
as necessidades políticas e sociais
especializada): neste cenário a
da época - maior qualificação da
Psicologia realizou pesquisas de
mão de obra e promoção de ajus-
laboratório nos moldes europeus,
tamento social. A Psicologia passa
junto a instituições e escolas.
a ser praticada nas escolas inten-
*1930 - 1960 (período marcado samente e essa/esse profissional
pelo tecnicismo norte-americano): passou a ser visto como o “solucio-
o processo urbano, o crescimento nador” de problemas de aprendi-
industrial e o período pós-guerra zagem e de comportamento. Com
fizeram aumentar a necessidade a promulgação da Lei de Diretrizes
de mão de obra para o mercado - e Bases 5692-71(3), o Sistema Edu-
seleção de pessoas, aplicação de cacional foi ampliado e a/o profis-
teste e avaliação de habilidades. sional de Psicologia foi chamada/o
A Psicologia se ocupou, então, para compreender as queixas esco-
com a prática de “diagnóstico e lares, principalmente relacionadas

10
ao fracasso escolar, tendo como lamente, se instaurou um proces-
foco o aluno, ainda sem levar em so de discussão sobre o papel e a
conta a relação professor-aluno, a função da Psicologia na Educação
situação familiar, social e econômi- dentro da própria categoria pro-
ca. A Psicologia contribuiu também fissional, gerando movimentos de
com a formação técnica do Ensino mudanças bem como a construção
de Segundo Grau. de novos parâmetros(4).
*1962: neste ano a profissão *Década de 80: marcada pela
de Psicologia é regulamentada no ampliação dos debates e a cons-
Brasil pela Lei n° 4.119. trução da nova identidade da/do
psicóloga/o, assim como suas no-
Com o processo democrático es-
vas práticas.
tabelecido no final da ditadura mi-
litar e com a demanda de projetos *1990: criação do Estatuto
de inclusão social, novos desafios da Criança e do Adolescente por
foram colocados em cena: políticas meio da Lei nº 8.069, de 13 de ju-
públicas, promoção da cidadania e lho de 1990.
respeito às singularidades. Parale-

1906
até 1930 - 1ª República
1960
até 1980
2000
até hoje
Entrada da Psicologia na • Solução de • Desafios de uma
Educação do Brasil com problemas de prática reflexiva
pesquisas experimentais aprendizagem e • Especificidades da
ajustamento Psicologia escolar e da

1930 1980
• Ensino técnico Psicologia Educacional

até 1960 até 2000


• Avaliação de aptidões, • Reflexão crítica e construção
competências de novos paradigmas
e desenvolvimento • Fundação da ABRAPEE-1990
• Diagnóstico e tratamento/ • Criação do ECA-1990
Clínica na educação • Criação do SUS-1990
• Nova LDB-1996

11
*1990: criação do Sistema panha, em 1994, na qual o Brasil
Único de Saúde, Lei nº 8.080, de foi signatário.
20 de setembro de 1990, que
O Sistema Conselhos de Psico-
dispõe sobre as condições para
logia, na Assembleia de Políticas,
a promoção, proteção e recupe-
Administração e Finanças (APAF),
ração da saúde, e impacta signi-
de dezembro de 2007, definiu o
ficativamente as relações entre
tema “Psicologia na construção da
Psicologia, Saúde e Educação.
Educação para Todos”, para deba-
*1990 – 2000: reconstrução(2), te nacional no ano de 2008, tendo
pois foram elaborados os princi- como diretriz os compromissos as-
pais modelos deste fazer, caracte- sumidos pelo Brasil para criar polí-
rizando o avanço na construção de ticas públicas, propiciando inclusão
práticas críticas - criação da ABRA- social e cidadania. Muitos grupos
PEE (Associação Brasileira de Psi- de trabalho participaram do levan-
cologia Escolar e Educacional) em tamento e debate a partir de dados
1990, com publicação de revista da realidade brasileira na área. Em
científica específica e congressos 24 de abril de 2009 foi publicado,
a partir de 1991. pelo Sistema Conselhos de Psi-
cologia, um documento chamado
*1996: nova LDB Lei nº 9.394,
“Carta de Brasília”(6) com os eixos
que dispõe sobre as novas Diretri-
e compromissos assumidos para
zes Básicas da Educação, vigente
uma efetiva inclusão social pela
até os dias atuais.
Psicologia Escolar e Educacional.
*De 2000 em diante seguem
Destaca-se ainda o Projeto de
os desafios do curso destas trans-
Lei nº 3688/2000(7) que trami-
formações(5). Vários eventos le-
ta no legislativo para inserção de
varam à reflexão e construção de
profissionais de Psicologia e Ser-
novas práticas na educação - Con-
viço Social no sistema público de
ferência Mundial de Educação de
educação básica. De acordo com
Jonthien, na Tailândia, em 1990 e
o projeto, esses profissionais são
a Declaração de Salamanca, na Es-

12
previstos para compor equipes Referências
multiprofissionais, com vistas ao
(1)
Patto, M.H.S. (1987). Psicologia e
desenvolvimento de ações que Ideologia: uma introdução crítica à psi-
cologia escolar. São Paulo: T.A.Queiroz.
contribuam para a melhoria dos (2)
Barbosa, D.R. (2011). Estudos para
processos de ensino e aprendiza- uma história da Psicologia Educacional
gem, atuando na mediação das re- Educacional e Escolar no Brasil. Tese
lações sociais e institucionais. - Instituto de Psicologia, Universidade
de São Paulo, São Paulo.
Sabe-se o quanto este fazer está (3)
Brasil. Lei de Diretrizes e bases da
e permanecerá em construção, com educação (1971). Disponível em:
muitos desafios existentes, sus- <http://www2.camara.leg.br/legin/
tentados inclusive pelos dilemas fed/lei/19701979/lei-5692-11-a-
da Educação atual. Assim, e exa- gosto-1971357752-publicacaoorigi-
tamente por isso, reconhece-se a nal-1-pl.html>.
(4)
Delou,C.M.C.(2008). Psicologia e Po-
importância do entendimento da
líticas Públicas Intersetoriais e Educa-
construção histórica das relações da ção Inclusiva. IN: Ano da Psicologia da
Psicologia e da Educação, pois esta Educação. Textos Geradores: CFP, 15-
compreensão ampla propicia uma 26: Brasília.
reflexão crítica e possibilita maior (5)
Dias, E.T.D.M.D; Azevedo, L.P.L.
apropriação dos caminhos da pro- (Orgs.) (2014). Psicologia Escolar e
Educacional: percursos, saberes e in-
fissão.
tervenções. Jundiaí: Paco Editorial.
(6)
Conselho Federal de Psicologia
(2009) Carta de Brasília. Seminário Na-
cional do Ano da Educação do Sistema
Conselhos de Psicologia: Brasília.
(7)
Brasil. Projeto de Lei 3688/2000.
Disponível em: <http://www.camara.
gov.br/proposicoesWeb/fichadetrami-
tacao?idProposicao=20050>.

13
Capítulo 2
Saberes e fazeres
da Psicologia
Escolar/
Educacional
Uma das premissas da Psico- cial da Psicologia na Educação.
logia Educacional é viabilizar um Nas palavras de Antunes (2003),
projeto de trabalho que procure “a historicidade e a sociabilidade
coletivizar práticas de formação são constitutivas do ser humano;
e aprimorar a qualidade dos pro- a educação é, nesse processo,
cessos de ensino e de aprendiza- determinada e determinante”.
gem, buscando a superação dos
Desta forma, cabe à Psicolo-
processos de exclusão e estig-
gia Educacional problematizar,
matização social. Também tem
promover consciência e refle-
o objetivo de promover a cida-
xão, desconstruir preconceitos,
dania, afirmando o compromis­
mediar relações, coletivizar os
so ético e social da Psicologia na
saberes, promover diálogo, auxi-
Educação. É essencial oportuni-
liar na compreensão das singu-
zar uma reflexão articulada acer-
laridades, permitindo visão inte-
ca do projeto ético-técnico da
gral sobre o desenvolvimento do
Psicologia, base sobre a qual são
sujeito, bem como a ampliação
construídas orientações para o
do olhar acerca dos processos
exercício profissional no campo
educativos. Ela também está
da Educação.
vinculada à produção de sabe-
A história da Psicologia na res relacionados aos fenômenos
Educação está repleta de atua- psicológicos presentes no pro-
ções repressivas que recaem cesso educativo(2) – podendo ser
em imperativos sociais de me- exercida em diversos espaços e
dicalização, patologização e nor- contextos em que se identifique
matização do sujeito(1). Ao com- processo de ensino e aprendiza-
preender a Educação como uma gem, tal como em Organizações
prática social humanizadora, fica da Sociedade Civil (ONGs), espa-
evidente a referência a um novo ços de aprendizagem de adultos,
paradigma de compromisso so- dentre outros.

15
Nesse sentido, a produção rais da população no seu fazer,
desses conhecimentos no cam- a/o psicóloga/o acolhe o que
po da Psicologia da Educação, prenuncia o Código de Ética(3),
nos espaços educativos, com “[...] atuará com responsabili-
local mais determinado como as dade social, analisando crítica e
escolas, se torna mais conhecida historicamente a realidade polí-
como Psicologia Escolar. Tanto a tica, econômica, social e cultu-
Psico­logia Escolar como a Psico- ral”.
logia Educacional têm o proces-
Conforme a Resolução do CFP
so de ensino e de aprendizagem
nº 013/07(4), cabe à/ao profis-
como base. Seguem o compro­
sional inserida/o em contextos
misso de promover a reflexão,
educacionais ocupar-se do que
considerando os aspectos his-
diz respeito aos processos de
tóricos, sociais, econômicos e
ensino e aprendizagem, tanto
culturais de cada realidade e in-
em seu contexto formal (escolar,
tervindo junto aos vários atores
instituições de ensino) quanto no
desse processo, com respeito às
informal (organizações não go-
particularidades relativas ao tipo
vernamentais, abrigos, empre-
de instituição onde esse traba-
sas), intervindo em qualquer dos
lho acontece.
vértices desse contexto (educa-
O Conselho Federal de Psico­ dores, aprendentes, equipe dire-
logia (CFP) e os Conselhos Re- tiva e/ou pedagógica, currículo,
gionais apresen­tam reflexões e normas, interface com a rede
diretrizes para a consolidação de atenção e saúde etc), contri-
de práticas profissionais, afir- buindo em equipes multiprofis-
mando o compromisso da Psi- sionais com as especificidades
cologia com o “humano”. Ao de seu campo de conhecimento.
considerar aspectos históricos,
Apesar da atuação da/o pro-
econômicos, políticos e cultu-
fissional de Psicologia e seus

16
encaminhamentos técnicos Referências
constituírem um processo de Bock. M. A. (org) Psicologia e o
(1)

avaliação psicológica em seu Compromisso Social. São Paulo:


amplo sentido, essa avaliação Ed. Cortez, 2009.
não se caracteriza por psi- Antunes, M. A. M. A psicologia
(2)

codiagnóstico, avaliação de no Brasil: leitura histórica de sua


personalidade ou equivalen­ constituição. São Paulo, EDUC e
tes. As avaliações realizadas Ed. Unimarco, 2003.
no ambiente educativo são (3)
Conselho Federal de Psico-
prioritariamente institucio- logia. Código de Ética Profis-
nais, de contexto e de pro- sional. Disponível em: <http://
s i te.c f p.o rg . b r/ w p - co n te n t /
cesso. Avaliações individuais,
uploads/2012/07/codigo_etica.
quando eventualmente forem pdf>.
feitas, só terão como objeti-
(4)
Conselho Federal de Psi-
vo, ajudar no entendimento
cologia. Resolução CFP nº
de processos de aprendiza- 013/2017. Disponível em:
gem ou escolha profissional <http://site.cfp.org.br/wp-con-
para orientar a busca de es- tent/uploads/2008/08/Resolu-
tratégias que possam contri- cao_CFP_nx_013-2007.pdf>.
buir para o melhor desen-
volvimento dos sujeitos, com
expresso consentimento de
todos.

17
Parte II
Acredita-se que a revisão dos principais marcos teóricos e his-
tóricos da construção da Psicologia na Educação realizados até o
momento torna-se relevante para a compreensão do desenvolvi-
mento dessa área.
Do mesmo modo, permite compreender os objetivos da Psico-
logia Escolar e Educacional como importante campo de atuação
da Psicologia. Acrescenta-se ainda a importância de orientação
à categoria no desenvolvimento de práticas que possam buscar
a integração de todos os envolvidos no processo educativo, tais
como estudantes, professores, equipe diretiva, famílias e comu-
nidades.
Como visto, a Psicologia tem muito a contribuir na Educação,
buscando a compreensão integral do sujeito e de todos os aspec-
tos que estão presentes nos processos de ensino e de aprendiza-
gem. Consoante a isso, torna-se importante destacar outra contri-
buição da Psicologia: a criação e ampliação dos espaços de escuta
e debate sobre diversas temáticas.
Assim, serão apresentados alguns temas: Violência e Intimi-
dação Sistemática (Bullyng), Saúde do Profissional da Educação,
Sexualidade e Inclusão, compreendidos como pertinentes ao
trabalho da/do psicóloga/o na perspectiva da Psicologia Escolar
e Educacional. O debate dessas temáticas busca propor a refle-
xão e olhar da Psicologia, bem como, é uma maneira de orien-
tação à categoria e estímulo para possíveis intervenções nesse
campo de atuação.

18
Capítulo 3
Violência e
Intimidação
Sistemática
(Bullying)

19
O conceito de violência se ta atribuída àqueles que se apre-
mostra polissêmico e multiface- sentam diferente do corpo social
tado, ou seja, abrange uma série dominante, sentimento este pro-
de comportamentos sociais cujas duzido e propagado socialmente
explicações repousam em dife- por meio de discursos imagéticos
rentes causas (econômicas, cul- e verbais. Tais aspectos têm suas
turais, psicológicas). Violência é implicações na produção de sub-
“tudo que se encaminhe a conse- jetividades e afetam os processos
guir algo mediante o emprego da educativos e, em especial, a escola
força, geralmente física, que anu- na sociedade contemporânea.
la a vontade do outro”(1).
No contexto educacional, uma
É fundamental que a/o das formas de violência é identifi-
psicóloga/o esteja atenta/o às cada como Intimidação Sistemá-
questões históricas e sociais em tica (Bullying). Esse mostra-se um
torno do fenômeno da violência. fenômeno mundial e social, com-
Para que, assim, possa promover preendendo as variadas formas
ações reflexivas e não coercitivas de atitudes agressivas, intencio-
a fim de que os atores dos pro- nais, repetidas, executadas entre
cessos educativos se percebam iguais. No Brasil a Lei nº 13.185,
capacitados para agir como cida- de novembro de 2015(3), institui o
dãos. Programa de Combate à Intimida-
ção Sistemática (Bullying) em todo
É essencial perceber, nesses
território nacional. A intimidação
contextos, uma dinâmica exclu-
sistemática é classificada, confor­
dente, em que o outro diverso se
me as ações praticadas, como:
apresenta como algo a ser comba-
verbal, moral, sexual, social, psi-
tido, aniquilado(2). Observa-se uma
cológica, física, material e virtual.
proliferação do ódio como forma
Pode abranger manifestações
de proteção em direção àquilo
diretas (apelidos, agressões físi-
que provoca medo, isto é, respos-

20
cas, ameaças, ofensas verbais) e espaços educativos é através da
indiretas (indiferença, isolamento, cooperação e da psicoeducação
difamação). Por se dar em espa- de todos os envolvidos: educa-
ços coletivos, todos os indivíduos dores, funcionários, estudantes,
estão envolvidos de alguma forma. familiares. Cabe à/ao psicóloga/o
contribuir para a compreensão
Quando não há intervenções
e identificação das situações de
efetivas contra a Intimidação Sis-
violência, promovendo reflexões
temática (Bullying), todos os su-
e ações que envolvam toda a co-
jeitos participantes do contexto
munidade educativa, contribuin-
são afetados negativamente, po-
do positivamente para a formação
dendo experimentar sentimentos
de uma cultura de não violência
de ansiedade, medo e baixa au-
na sociedade.
toestima. As consequências des-
se tipo de violência, presente nas
instituições educativas, são indivi-
duais podendo ser extremamente
Referências
graves e interferir no desenvolvi-
mento comportamental e emo- (1)
Galtung, J. Cultural Violence.
cional. Pode também prejudicar Journal of Peace Research. Manoa,
v.27, n3, p.291-305, agosto.1990.
o desenvolvimento psicológico,
social e, consequentemente, a Tiburi, M. (2016, Novembro). O
(2)

aprendizagem, podendo se esten- que foi feito da coragem? Revista


Cult. 19 (2017).
der à vida adulta, influenciando
nas relações profissionais, fami- Brasil. Lei nº 13.185, de 6 de no-
(3)

liares e sociais. vembro de 2015. Institui o Progra-


ma de Combate à Intimidação Sis-
Por seu aspecto social, um dos temática (Bullying). Diário Oficial
meios para intervir e prevenir a In- da União: seção 1, Brasília, DF, ano
timidação Sistemática (Bullying) e CLII 213, p. 1, 9 nov. 2015. Disponí-
vel em: <http://www.planalto.gov.
demais formas de violência nos
br/ccivil_03/_Ato20152018/2015/
Lei/L13185.html>.

21
Capítulo 4
Saúde do
Profissional
da Educação
A/O profissional de Psicolo- tudantes, famílias e sociedade,
gia, ao inserir-se no campo da que se refletem em condutas de
Educação, necessita voltar seu insatisfação, descompromisso,
olhar para os processos de tra- absenteísmo, alto nível de es-
balho e para a organização des- tresse, chegando à síndrome de
ses no ambiente institucional. Burnout(1).
Observa-se elevado nível de Diante de um contexto de
mal-estar entre os profissionais trabalho complexo, como a Psi-
da educação por fatores relacio- cologia pode contribuir? Que
nados às condições e ao volume estratégias podem ser criadas
de trabalho, rotina exaustiva, diante desse cenário? Acredita-
altas demandas emocionais -se que a Psicologia pode con-
presentes no dia a dia, falta de tribuir na criação de espaços
valorização profissional, vio- de reflexão e de cuidado, volta-
lência social, conflitos e outras dos à promoção da saúde, bem
questões implicadas no rela- como na construção de estraté-
cionamento com colegas, es- gias coletivas de enfrentamento

dando
objetos envolve

vários Marilena levar reais


convivem

outros franco dimensão cruciais


alimentação
dificuldades

dúvidas trabalho emocional estruturais


cultural

astúcias

questões

muitos falando

sexualidade
disfarces claro situações períodos
assim humanas Devemos
drogas
falando bastante simbólica
subsídios

saudável positiva
promovendo

desenvolvimento vida
Chauni viver adolescência problemas
corpo
ainda

sexual
jovem

vez

preconceito
adultos
Assim

sobre
ver imaginários orientações formação
angústias

medos curiosidades
forma diminuição
ser

psique informações honesto


individual profunda

outro psiquico
abrangente humana
máscaras conhecimento aspectos personalidade desagradam
preconceitos indivíduo
Hoje
Sexualidade

cada
orientação
relações
televisão educação

compreensão
agradam
esperanças

importância

fisico
social

toda maneira esclarecendo


pensamos
tema compreender
funcionamento
atmosfera

alheio
prazerosa

adulto dispor grande relacionada entendimento


auxiliando

objetivo
reflexão
processo

infância tendo sabemos interações


urgente
trazendo

fase Torna-se qualidade discussões


internet

colaboram diálogo refletir


sonhos

vivência
humano

favorece conflitos
pares

difusa

articula
caráter deixar estar
fases

bem
abrir

23
ao estresse e demais condições vo, assim como pode promover
prejudiciais identificadas nes- a problematização sobre o sen-
tes ambientes. tido desse trabalho para cada
trabalhador. Espaços de escu-
Cuidar da saúde do profissio-
ta sugerem contribuir também
nal de Educação implica favo-
para a saúde emocional dos en-
recer condições essenciais que
volvidos, além de ser uma ma-
estão intimamente relaciona-
neira de fortalecer o grupo.
das com o processo de ensino
e aprendizagem. A criação de É essencial à atuação da/do
espaços de escuta e troca de psicóloga/o Educacional:
experiências pode surgir como
• compreender as condições
alternativa possível para o re-
de trabalho dos profissionais in-
conhecimento das fragilidades
seridos na Educação;
e potencialidades de cada local.
• conhecer e entender os
Acredita-se que a troca e o
fatores envolvidos no proces-
diálogo entre os pares contribui
so educativo: sociais, culturais,
para a qualidade do processo
econômicos;
educativo e para a construção
de parcerias, ou seja, compar- • refletir sobre o papel das
tilhar experiências no intuito de instituições educativas na con-
promover trocas interpessoais, temporaneidade;
sem que cobranças de sucesso • criar estratégias de escuta
estejam presentes. e promoção da saúde integral;
Ao “ter voz”, o educador • promover estratégias cole-
compartilha suas vivências e tivas que permitam o fortaleci-
experiências, o que possibilita mento dos profissionais.
troca entre os colegas e permite
repensar as práticas no coleti-

24
Referências
Silva, L. M. S. et al. Relação entre
(1)

a desvalorização profissional e
o mal-estar docente. RELACult
- Revista Latino-Americana de
Estudos em Cultura e Sociedade,
[S.l.], v. 4, fev. 2018. ISSN 2525-
7870. Disponível em: <http://
periodicos.claec.org/index.php/
relacult/ article/view/752/411>.

25
Capítulo 5
Sexualidade:
o espaço
educativo
e sua
diversidade
Você já parou para pensar para a construção das percep-
no quanto a sexualidade está ções individuais e sociais, de
presente no cotidiano escolar papéis e identidades sexuais
e educacional? e de gênero. Desse modo, res-
salta-se que as percepções
Como espaço social de con-
sobre sexualidade construídas
vivência e também por viven-
na infância serão vivenciadas e
ciar as várias etapas do desen-
ressignificadas na adolescên-
volvimento de cada indivíduo,
cia, bem como os conceitos
os espaços educativos consti-
identificados em cada cultura.
tuem um contexto necessário
e extremamente rico de pos- É preciso estar atento para
sibilidades. Nesse contexto, acompanhar esses movimen-
a sexualidade e suas diversas tos, a fim de proporcionar es-
formas de expressão estarão paços de diálogo e troca de
atuando constantemente. informações que favoreçam
vivências construtivas e pos-
Crianças e adolescentes
sibilitem o desenvolvimento
vivem, naturalmente, suas
saudável do sujeito no que diz
curiosidades e experimenta-
respeito à sua sexualidade.
ções, individual e/ou coleti-
vamente. Tais vivências tam-
bém acontecem no contexto
da sexualidade, em que devem “ De que forma
ser respeitados os estágios do a sexualidade
desenvolvimento de cada in-
divíduo, suas experiências e o está presente
contexto em que está inseri- nos diferentes
do. Experiências vivenciadas
como brincadeiras, leituras,
momentos da vida
conversas, aulas, contribuem do sujeito?

27
• Diz respeito à privacidade
#FICAADICA e ao bem-estar de cada um.
É imprescindível na atuação da
• Não é apenas sinônimo
psicóloga e do psicólogo:
de sexo ou gênero, mas os
• Respeito às individualidades,
contempla.
• Respeito às diversidades,
• Reflexão e desconstrução dos A comunidade educativa
preconceitos. demanda, de diversas formas,
orientação, apoio e acompa-
nhamento no que tange a se-
xualidade. Ações dessa ordem
A sexualidade constitui- apresentam-se de forma am-
se de forma complexa, sendo pla e exigem um conhecimento
compreendida como a expressão abrangente por parte dos pro-
de vida do sujeito como um fissionais que as atendem.
fenômeno social(1). Percebe-se um universo de
• Não é inata, mas sim possibilidades e necessidades
desenvolvida e construída ao na atuação da/do profissional
longo da vida. de Psicologia Escolar e Educa-
cional diante dessa temática
• Apresenta-se multifatorial tão significativa. Auxiliar na
e multifacetada. desmistificação, na discussão
• Possui várias formas de e reflexão crítica, na escuta
vivência e expressão. e diálogo, no desenvolvimen-
to do respeito à diversidade,
• Engloba o erotismo, o
da empatia e da efetiva inclu-
desejo, o afeto e as questões
são social é parte essencial na
relativas à saúde e à
atuação da/do psicóloga/o Es-
reprodução.
colar e Educacional.

28
O Conselho Federal de Psi-
cologia, através da Resolução
CFP nº 001/99(2), estabelece
normas quanto à atuação da/
do psicóloga/o frente às ques-
tões de orientação sexual. Essa
resolução sinaliza que “(...) na
prática profissional, indepen-
dentemente da área em que
esteja atuando, a/o psicóloga/o
é frequentemente interpelado
por questões ligadas à sexua-
lidade”. E, também reconhece
que “(...) a forma como cada um
vive sua sexualidade faz parte
da identidade do sujeito, a qual
deve ser compreendida na sua
totalidade”.

Referências
(1)
Louro, G. L., Weeks, J., Britzman,
D., Hooks, B., Parker, R. & Butler, J.
(2000). O corpo educado: pedagogia
da sexualidade (2a ed.). Brasília:
Autêntica.
(2)
Conselho Federal de Psicologia.
Resolução nº 001/99. Disponível em
< https://site.cfp.org.br/wp-content/
uploads/1999/03/resolucao1999_1.
pdf>.

29
Capítulo 6
Inclusão
Inclusão, inclusão social, in- 1º e 2º apresentam os pilares
clusão escolar, inclusão educa- que sustentam a inclusão, onde
cional, são muitas as nomencla- se enfatiza a não distinção en-
turas utilizadas. Podemos dizer tre as pessoas, universalizando
que inclusão “[...] é uma prática os direitos(2). No Brasil, a Lei nº
social que se aplica no trabalho, 13.146 institui a inclusão da
na arquitetura, no lazer, na edu- pessoa com deficiência em to-
cação, na cultura, mas, principal- dos os contextos, visando inclu-
mente, na atitude e no perceber são social e cidadania. Por es-
das coisas, de si e do outrem”. sas razões, as instituições que
promovem espaços de ensino e
A partir desse aspecto, o que
de aprendizagem precisam aco-
precisa-se compreender é que
lher a todas e todos(3).
inclusão é o ato de incluir, de
acrescentar, de somar. É o ato Conforme Mantoan(4) “há di-
de igualdade entre todos os di- ferenças e há igualdades, e nem
ferentes indivíduos. Em se tra- tudo deve ser igual, nem tudo
tando da questão escolar e edu- deve ser diferente, [...] é preciso
cacional, inclusão é o direito de que tenhamos o direito de ser
acesso ao sistema de ensino. diferente quando a igualdade
nos descaracteriza e o direito
“A inclusão é um para- de ser iguais quando a diferença
digma que se aplica aos nos inferioriza”.
mais variados espaços fí-
sicos e simbólicos”(1). Para a Psicologia este é um
princípio fundamental(5). A pro-
Na Declaração Universal dos
fissão deve assegurar um siste-
Direitos Humanos, os artigos
ma educativo afetivo, incluindo

32
as diferenças, considerando a
importância do humano e sua JÁ PAROU PARA PENSAR:
diversidade. O ambiente educa-
O quanto o espaço físico
tivo é rico em diferenças e diver-
pode ser includente ou
sidade, é nele que a “diferença
excludente?
não é antônimo de igualdade”(6).
Negar e não falar sobre as
A psicóloga e o psicólogo individualidades pode ser
nesse processo precisam: uma forma de manter um
• ser agentes de reflexão. cenário de exclusão?
Quantas vezes são
• promover o diálogo e a
propostas ações e
construção coletiva junto ao
intervenções de inclusão
corpo docente, equipes direti-
sem escutar os sujeitos
vas e de apoio pedagógico, es-
envolvidos na situação?
tudantes, famílias, lares e co-
munidade.
Referências
• estimular ações de respei- (1)
Camargo, E. P. (2017). Inclusão so-
to, apreciação e acolhimento cial, educação inclusiva e educação
das individualidades. especial: enlaces e desenlaces. Re-
vista Ciência & Educação. Vol. 23, nº
• auxiliar no processo de 1, pg. 1. Bauru/SP. Jan./ Mar. 2017.
desconstrução dos discursos e Disponível em: <http://www. scielo.
das práticas excludentes. br/scielo.php?script=sci_arttepid-
=S1516-73132017000100001>.
(2)
Organização das Nações Unidas para
Educação, Ciência e Cultura (UNES-
CO). Declaração dos Direitos Humanos.
Adotada e proclamada pela resolução
217 A (III) da Geral das Nações unidas
em reunião. 10 de dezembro de 1948.
Brasília, 1998. Disponível em: < https://
unesdoc.unesco.org/ark:/48223/
pf0000139423>.

33
(3)
Brasil. Lei nº 13.146, de 6 de julho de
2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão
da Pessoa com Deficiência (Estatuto da
Pessoa com Deficiência). Brasília,15. Dis-
ponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato2015-2018/2015/Lei/
L13146.html>.
(4)
Mantoan, M. T. E. Inclusão escolar: o que
é? Por quê? Como fazer? São Paulo: Mo-
derna, 2003, p. 21 – Coleção Cotidiano Es-
colar .
(5)
Conselho Federal de Psicologia. Código
de Ética Profissional do Psicólogo. Brasília.
2005. Disponível em: https://site.cfp.org.
br/wp-content/uploads/2012/07/codigo-
de-etica-psicologia.pdf.
(6)
Veiga-Neto, A. Quando a inclusão pode
ser uma forma de exclusão. In: Machado, A.
M. et al. Educação inclusiva: Direitos Huma-
nos na escola. São Paulo: Casa do Psicólo-
go, 2005, p. 51-70.

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