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Objectivos de Aprendizagem
Até ao fim da aula os alunos devem ser capazes de:
1. Definir a hemorragia digestiva baixa (HDB), descrevendo as condições etiológicas
habitualmente associadas à mesma: divertículos intestinais, malformações vasculares, carcinoma
colo-rectal, hemorróides, disenteria e infecções (tifoidea).
2. Listar os sintomas e sinais gerais duma HDB.
3. Enumerar os sintomas e sinais acompanhantes que podem ajudar no apuramento da etiologia
da HDB.
4. Classificar a HDB por graus de severidade e prognóstico, mediante os critérios de gravidade do
sangramento (por etiologia, intensidade, persistência, recidiva e condições associadas).
5. Descrever a estratégia de diagnóstico diferencial etiológico da HDB.
6. Definir as “perdas ocultas de sangue pelo tubo digestivo”, descrevendo o seu papel no estudo
geral das anemias.
7. Descrever a estratégia terapêutica geral da HDB, dentro da sua competência.
8. Enumerar as medidas terapêuticas imediatas a tomar perante uma HDB, indicando o impacto
esperável na condição do paciente.
9. Enumerar as indicações de transferência urgente e diferida, para o diagnóstico (endoscopia ou
ecografia) e para tratamento, explicando a conduta terapêutica de manutenção e as medidas
preparatórias para a transferência.
10. Descrever o tratamento específico das condições que não precisam de ser transferidas,
indicando a evolução esperável e o prognóstico das mesmas.
11. Descrever o tratamento, a longo prazo, as medidas higiénico-dietéticas recomendadas e o
prognóstico de cada condição etiológica.
Estrutura da Aula
Bloco Título do Bloco Método de Ensino Duração
1 Introdução à Aula
3 Pontos-chave
1
Equipamentos e meios audiovisuais necessários:
Trabalhos para casa (TPC), exercícios e textos para leitura – incluir data a ser entregue:
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BLOCO 1. INTRODUÇÃO À AULA
1.1. Apresentação do tópico, conteúdos e objectivos de aprendizagem.
1.2. Apresentação da estrutura da aula.
1.3. Apresentação da bibliografia que o aluno deverá manejar para ampliar os conhecimentos.
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Fonte: NIH
http://www.nlm.nih.gov/medlineplus/magazine/issues/winter10/articles/winter10pg20-21.html
Figura 1. Divertículos no intestino.
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2.3. Quadro clínico
As HDBs tipicamente manifestam-se pela presença de sangue vivo nas fezes (hematoquezia).
Felizmente a maior parte dos casos de sangramento estanca espontaneamente. Os sintomas e
sinais acompanhantes, bem como a gravidade, irão depender dos seguintes factores:
Da quantidade de sangue perdido
Da rapidez do sangramento
Da duração do sangramento
Da patologia de base (divertículos ulcerados, hemorróides, cancros anorectais, etc.)
2.3.1. HDB aguda massiva
O paciente apresenta-se com rectorragia profusa e com sinais e sintomas de choque:
Pulso fino
Hipotensão
Extremidades frias e cianóticas (nem sempre)
Tempo de recapilarização (preenchimento capilar)> 2s
Sede
Alteração de consciência
2.3.2. HDB crónica ligeira
Está forma de HDB é comum em todas as idades e está frequentemente associada a
hemorróides e fissuras anais. O sangramento das hemorróides caracteriza-se por ser
vermelho vivo e ocorre durante ou depois da defecação.
A suspeita de fissura anal surge quando há eliminação de sangue fresco pelo recto,
acompanhado de dor intensa durante a defecação.
Não constitui causa de choque, mas causa anemia crónica.
Nalgumas situações, é difícil fazer o diagnóstico da HDB como é o caso da hemorragia
digestiva oculta, em que o paciente apresenta anemia e nunca se encontra a causa de tal
anemia, ou hemorragias de origem obscura, onde o paciente tem uma HDB aguda ou
crónica cuja origem não se consegue identificar.
2.4. Diagnóstico da HDB
A semelhança da HDA, a suspeita clínica, será baseada na forma de sangramento, manifestações
associadas, antecedentes médicos e no exame físico.
2.4.1. Anamnese: Abordagem inicial para o diagnóstico começa com uma boa anamnese, que
orienta acerca dos seguintes aspectos:
Localização do sangramento
Sangue escuro, misturado ou não às fezes, se associa com o cólon direito.
Sangue vermelho cintilante normalmente se associa ao cólon esquerdo, excepção a esta
regra ocorre quando o trânsito do cólon direito está acelerado ou se houver HDA massiva.
Excluir outras causas menos comuns de sangramento.
Verificar se ocorreram mudanças recentes nos hábitos intestinais.
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Investigar a presença de dor associada, por exemplo, sangramento sem dor é comummente
associada a diverticulose, angiodisplasia ou câncer.
Características das fezes são um detalhe importante na história.
Sangue no papel higiénico ou gotejamento no vaso sanitário sugere sangramento
orificial.
Sangue misturado com fezes ou em forma de “raias” pode sugerir neoplasia ou pólipo.
Fezes normais cobertas por sangue sugerem uma lesão no canal anal.
Fezes marrom-avermelhadas geralmente estão associadas a sangramento do intestino
delgado ou do cólon direito.
Evacuações com grande quantidade de sangue vivo, praticamente sem a presença de
fezes, sugerem hemorragia de doença diverticular ou de angiodisplasia.
Relacionar factores de risco e antecedentes familiares
História de sangramento anormal.
Episódios de hemorragia gastrointestinal.
Uso de anticoagulantes.
Colonoscopia recente pode sugerir sangramento por causa de uma biopsia ou
polipectomia (extracção de pólipos).
Historia familiar de síndrome polipóide ou câncer de cólon.
Dieta pobre em fibras.
2.4.2. O exame físico é outra parte chave para o diagnóstico:
Sinais vitais: remete-nos a estimativa da perda volémica.
Maciça Menor que 90 mmHg Cerca de 120 bpm Maior que 2.000 mL
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2.4.3. Meios diagnósticos
Existe uma serie de exames que o doente com HDB deveria fazer em condições óptimas.
Laboratoriais:
Parasitologia
Hemograma
Cultura de fezes (coprocultura)
Imagiologia:
Anoscopia: Avaliação desde o canal anal até os últimos 2 a 3 cm do recto. Não há
necessidade de preparo (clister, jejum). Está indicado para o diagnóstico da causa da
HDB, tratamento e para acompanhamento evolutivo.
Retossigmoidoscopia: Visualização até os 25 a 30 cm distais do intestino grosso
(normalmente 15 a 20 cm). As mesmas indicações que a anoscopia.
Colonoscopia: Avaliação de todo o intestino grosso. Necessita de uma preparação prévia
que consiste em dieta líquida, laxante e limpeza mecânica. Está indicado para o
diagnóstico, para esclarecimento de estenose radiológica, para investigação de doenças
inflamatórias, infecciosas e pólipos, para além da HDB.
Nenhum destes exames são da competência do TMG, portanto, se achar necessário, o
doente precisa ser referido.
2.5. Diagnóstico diferencial da HDB
Para facilitar o diagnóstico diferencial da HDB podemos nos apoiar numa abordagem sintomática,
dividindo as queixas consoante o local.
2.5.1 Patologias anais:
Dificuldade e dor à evacuação
Dificuldade de evacuar com exteriorização de hemorróidas
Sangue vivo fora por cima das fezes
2.5.2 Patologias rectais:
Sensação de plenitude rectal
Sensação de urgência em evacuar, evacuação incompleta e tenesmo
Sangue vermelho vivo ou semi-coagulado
2.5.3 Patologias abdominais:
Sangue vivo, coagulado, semi-coagulado, melena (raramente)
Retenção de gases com meteorismos
Dores abdominais (localizadas ou generalizadas)
Tumor abdominal palpável
2.6. Tratamento da HDB
O tratamento inicial é feito com base no nível de gravidade do paciente.
Nos casos de hemorragia aguda massiva, a abordagem não difere da do doente com HDA aguda.
O grande objectivo é prevenir um choque ou tratá-lo, para depois procurar a origem ou causa do
sangramento.
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Conduta inicial:
Instalar dois acessos venosos de grosso calibre.
Colher sangue para testes laboratoriais de rotina e tipagem sanguínea.
Imediatamente corrigir a hipovolemia com soro fisiológico ou Ringer lactato (se a perda de
sangue for de 1 litro tem que administrar 3 litros de soro fisiológico); depois continuar fluido
terapia com substitutos do plasma (dextrano, gelatinas). Avaliar a necessidade de transfusão
sanguínea.
Algaliar o doente e controlar a diurese horária.
Exames laboratoriais frequentes para avaliar necessidade de hemotransfusões e correcção
de coagulopatias. OBS: manter o hematócrito acima de 28-30% principalmente em pacientes
idosos com doenças cardiovasculares.
Prevenção de coagulopatias: Vitamina k.
As principais causas de HDB são autolimitadas, mas recomenda-se transferência para hospital de
referência para investigação e tratamento cirúrgico definitivo porque a HDB tende a recidivar.
Recomenda-se também uma alimentação rica em fibras, e líquidos.
2.7. Hemorragia digestiva oculta
Quando se fala de hemorragia digestiva oculta (HDO), há uma tendência para se confundir com
HDB crónica, o que não é verdade.
HDO é diagnosticada quando há detenção da perda assintomática de sangue pelo trato GI,
geralmente através do exame de sangue oculto nas fezes.
Está geralmente associada à anemia por deficiência de ferro, e alguns descrevem-na como a
principal causa de anemia ferropriva em homens adultos e mulheres pós-menopausa.
2.8. Hemorragia digestiva de origem obscura
A hemorragia digestiva de origem obscura é um sangramento agudo, crónico ou recorrente sem
local de origem identificado após endoscopia alta e colonoscopia.
A angiodisplasia é a causa mais comum. Deve-se evitar os factores predisponentes ao
sangramento, como AINEs (Anti Inflamatórios Não Esteróides) e Aspirina.
BLOCO 3. PONTOS-CHAVE
3.1. A HDB resulta da perda de sangue pelo ânus proveniente de qualquer ponto do trato digestivo,
abaixo do ligamento de Treitz.
3.2. É importante considerar como uma emergência médica, embora a taxa de mortalidade quando
comparada com a HDA seja bem menor.
3.3. Porque o diagnóstico definitivo e conduta adequada estão condicionados a uma série de exames
(colonoscopia, proctocospia, rectoscopia) indisponíveis na maior parte das unidades sanitárias, o
TMG deve transferir os casos com critérios, assim que estejam estabilizados.
3.4. No paciente com anemia ferropriva, DEVE-SE sempre solicitar um exame de sangue oculto nas
fezes, porque a HDO é a principal causa dessa anemia em adultos.