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Mestrado
São Paulo
2017/1
2
1 2008, p. 47–49.
2 2009, p. 121.
3 2009, p. 121–122.
3
histórico e dialético, Lukács argumenta que esta somente produzirá influência em Marx
após a consolidação em definitivo de sua nova concepção de mundo. Conforme Lukács,
esta consolidação se apresenta em Marx no ano de 1844, quando ele foi apresentado a
economia política por meio da leitura de Esboço de uma crítica da economia política, artigo
de Engels4 publicado naquele mesmo ano nos Deutsch-Französische Jahrbücher considerado
texto fundador da crítica da economia política.5
A concretude das concepções revolucionárias de Marx6 são demonstráveis, assevera
Lukács, no conjunto de estudos conhecidos como Manuscritos econômico-filosóficos. Nesses
manuscritos, observa Lukács,7 Marx aprofunda as teses de Engels no Esboço de uma crítica
da economia política, aplicando “aos problemas da economia as categorias da dialética
[hegeliana], tornada agora dialética materialista”, revelando a partir destas “as leis da
sociedade capitalista e, com isso, o segredo do seu desenvolvimento histórico”.
“Estes manuscritos {escreve Lukács} fornecem as bases para uma grande quantidade de formulações
ulteriores de Marx. E não apenas em questões de detalhe, mas no que diz respeito a toda a
metodologia que se tornará típica de Marx, cuja forma mais madura foi assim indicada por Lenin:
“Embora Marx não nos tenha deixado nenhuma Lógica (com letra maiúscula), deixou-nos a lógica de
O capital. […] Em O capital, foram aplicadas a uma única ciência a lógica, a dialética e a teoria do
conhecimento […] do materialismo, que recolheu de Hegel o que nela havia de preciso e o
desenvolveu ulteriormente”. Tudo isso já está contido, pelo menos embrionariamente, nestes
Manuscritos econômico-filosóficos”.8
A questão que visamos responder se assemelha a questão formulada por Lukács,9
contudo, voltada para Engels: qual o percurso filosófico do jovem Engels, desde o
hegelianismo de juventude até a fundação da crítica da economia política, que o levou a
atingir formulações similares à do jovem Marx na época de seu encontro em Paris, em finais
do mês de agosto do ano de 1844.10
Diferente da produção científica (teses e dissertações) sobre o jovem Marx,
consideravelmente superiores às do jovem Engels tanto em quantidade quanto em
4 1981.
5 Lukács, 2009, p. 123; Secco, 1996.
6 2010b.
7 2009, p. 180.
8 Lukács, 2009, p. 181. Os resultados apresentados por Marx nos Manuscritos econômico-filosóficos não foram
definitivos. Marx prosseguirá com seus estudos da economia política nos anos seguintes, expondo os resultados
obtidos nos livros Contribuição à crítica da Economia Política (1859) e nos três volumes de O capital (respectivamente:
1867, 1885 e 1894). A tese de Lukács (2009) defende que os fundamentos filosóficos do materialismo histórico e
dialético e, consequentemente, da crítica da economia política apresentada em O capital, tem suas raízes nos anos de
1840-1844.
9 2009.
10 Gemkow, 1984; Henderson, 1976); Ilitchev, 1986.
4
qualidade (conforme será exposto mais adiante na seção 1.2 Justificativa teórica e
historiográfica), não possuímos referências sobre seu desenvolvimento filosófico, exceto a
monografia 1838-42: Engels gli anni della formazione, de Prosperi.11
Os demais textos que temos a nossa disposição variam entre biografias, teses e
dissertações e artigos científicos, onde a fase na qual visamos estudar é tratada, quando
muito, de forma incipiente para uma real compreensão das implicações do desenvolvimento
filosófico do jovem Engels entre os anos 1838-1844 na fundação da crítica da economia
política e do materialismo histórico e dialético em parceria com Marx.
Esta carência de conhecimento aprofundado e exaustivo sobre o desenvolvimento
filosófico do jovem Engels enfraquece a capacidade de compreensão e síntese global da
constituição do materialismo histórico e dialético, implicando, consequentemente, no
prejuízo das subsequentes críticas ao pensamento do “velho” Engels.12
Assim, temos diante de nós um campo de estudo e pesquisa ainda não devidamente
explorado pela historiografia especializada no tema em questão: a filosofia alemã da década
de 1840, no geral, e a história do marxismo nos seus anos primeiros anos, no particular.
Entretanto, apesar da insuficiência de pesquisas sobre o tema, temos a partir de
nossa leitura das fontes disponíveis nas coleções das obras de Marx-Engels (tanto a edição
alemã, Marx-Engels-Werke, quanto as edições em inglês, Marx/Engels Collected Works) a
possibilidade de formular hipóteses a respeito dos percursos intelectuais do jovem Engels
entre os anos de 1838-1844.
Compreendemos que o pensamento do jovem Engels organiza-se em três blocos
gerais, similares a estrutura proposta por Lênin em As três fontes e as três partes constitutivas
do marxismo (1913): o filosófico, o político, e a economia política, sendo que cada um
desdes estão inter-relacionados uns aos outros.13
O encontro de Engels com filosofia hegeliana deve-se, por um lado, ao contato com
o movimento intelectual Jovem Alemanha, que recorria as categorias e aos jargões
hegelianos em seus textos de crítica literária, teatral etc. e, por outro lado, o conflito com
sua formação religiosa lhe desperta o interesse pelos debates de teologia que se realizavam na
Alemanha durante as décadas de 1830-1840.14 Engels engaja-se nos debates filosóficos e
teológicos daqueles anos a partir dos seguintes textos: Sermão de F. W. Krummacher sobre
11 2009.
12 Carver, 2003; Colletti, 1992; Heinrich, 2011.
13 LCW 19, p. 23–28.
14 Ilitchev, 1986; Riazanov, 1996.
5
Oswald [pseudônimo de Engels] vestido de sobretudo cinza e calças tom de pimenta;/ Apimentado por dentro,
Oswald, o montanhês;/ radical, firme e inabalável/ Dia sim, dia não, canta sobre a guilhotina/ nada mais além de uma
única melodia, uma ária, a mesma e velha canção diabólica, urrando o refrão:/ Formez vos bataillons! Aux armes,
citoyens!” (MECW 2, p. 335, 492–493; MEW 41, p. 300, tradução nossa).
20 MECW 2; MEW 1; MEW 41.
21 Ilitchev, 1986.
22 Webb, 2012.
23 Henderson, 1976a; Ilitchev, 1986; MECW 02.
24 MECW 02; MEW 01.
25 Henderson, 1976a; Ilitchev, 1986; MECW 02; MEW 01.
26 Nesse ponto divergimos de Henderson (1976a), McLellan (1979), Riazanov (1996) e Wilson (2006) que
reproduziram acriticamente declaração de Moses Hess na qual ele afirma ter convertido Engels para o comunismo
7
Em ensaio de 1954 intitulado O jovem Marx. Sua evolução filosófica de 1840 a 1844,
Lukács28 avalia a importância para a pesquisa científica das publicações dos manuscritos do
jovem Marx iniciadas na década de 1920 pelo Instituto Marx-Engels-Lenin (IMEL), de
Moscou, e chama a atenção para a necessidade de estudos aprofundados sobre os caminhos
e as fases do desenvolvimento filosófico de Marx, “desde seu jovem-hegelianismo até a
fundação do materialismo histórico e dialético”.
Nesse ensaio citado acima, Lukács recupera o caminho de Marx, partindo da
assimilação crítica de G. W. F. Hegel e Ludwig Feuerbach até o desenvolvimento das bases
filosóficas para a formulação do materialismo histórico e dialético, demonstrando, assim, os
elementos de continuidade e ruptura do jovem Marx em relação a filosofia clássica alemã.
Desde então, temos a nossa disposição um acervo considerável de estudos e
pesquisas dedicadas ao esclarecimento do desenvolvimento filosófico do jovem Marx.29
O mesmo não pode ser dito a respeito do desenvolvimento filosófico do jovem
Engels, que conta com um número inferior de estudos e pesquisas30
Em nosso levantamento bibliográfico prévio encontramos textos sobre Engels de
naturezas diversas: biografias, textos de síntese de seu pensamento e produção intelectual,
teses e dissertações e artigos científicos.
Entre as biografias, destacam-se: a biografia russa Friedrich Engels, publicada pela
Edições Progresso de Moscou, rica em detalhes, contudo, considerada um exercício de
hagiografia;31 as biografias inglesas The Life of Friedrich Engels, de Henderson32 e Marx's
general: the revolutionary life of Friedrich Engels, de Hunt,33 voltam-se para a vida pessoal de
após um único encontro. Defendemos a tese de que a adesão de Engels ao comunismo deve-se a sua própria atividade
prática e intelectual, demonstrável ao longo da sua evolução filosófica e política que ele apresenta em suas publicações
de juventude. O conto da conversão, referendado pelos estudiosos citados acima, obscurece e desqualifica os reais
motivos que conduziram Engels a aderir ao movimento operário e ao comunismo consciente.
27 Gemkow, 1984; Henderson, 1976; Ilitchev, 1986.
28 2009, p. 121.
29 Alckmin, 2003; Barros, 2011; Ivan Cotrim, 2008; Frederico, 2009; Gianotti, 2010; Márkus, 1974; McLellan, 1970;
Mészáros, 2006; Oliveira, 2010; Pogrebinschi, 2006; Redyson, 2011; Vaisman, 2006; entre outros.
30 Castelo Branco, 2005; Prosperi, 2009.
31 Ilitchev, 1986; McLellan, 1979, p. 76–77.
32 1976a; 1976b.
33 2010.
8
34 1946.
35 2006.
36 1920.
37 A biografia de Engels escrita por Mayer (1979, p. 76) possui, pelo menos, duas traduções: uma em inglês de 1936
(versão condensada da obra original, que, conforme McLellan “não passa de pálida sombra da esplêndida biografia”) e
outra em espanhol.
38 1984.
39 1979.
40 McLellan, 1990.
41 2003. Além do texto introdutório ao pensamento de Engels citado acima, Carver também publicou sobre esta mesma
temática: Marx and Engels: The Intellectual Relationship (1984); Friedrich Engels: His Life and Thought (1990); The
Engels-Marx question, in Engels After Marx (2004); contudo, estes textos são de difícil acesso no Brasil.
42 Além de Carver, outros críticos de Engels são: Colletti, 1992; Heinrich, 2011. Antagonizando com estes autores
acima mencionados temos: Coggiola, 1995; [S.d.]; Kellog, 1995; Krätke, 2014; Secco, 1996; Tavares, 2014.
43 1995; [S.d.].
44 Conforme reconhecido pelo próprio Marx em carta a Engels (Londres, 4 jul. 1864): “Como você {Engels} sabe, 1) eu
estou sempre atrás em tudo, e 2) eu {Marx} sempre sigo os seus passos” (MECW 41, p. 546; MEW 30, p. 418).
9
45 2006.
46 2009.
47 2013.
48 2015, p. 8.
49 Barsotti, 2012; Carvalho, 2015; Cunha, 2014; Kellogg, 1995; Löwy, 1978; Maciel, 2013; Melo, 2014; Musse, 1997,
1999; Santos, 1998; Sartori, 2014.
50 Castelo Branco, 2005; Roggerone, 2013; Tavares, 2014.
51 Löwy & Sayre, 2013.
52 1973; 1982; 1983.
10
de caráter científico sobre a evolução filosófica do jovem Engels, fazendo com que seja um
campo ainda a ser explorado, possibilitando a obtenção de resultados inéditos para os
estudos historiográficos.
3. METODOLOGIA E FONTES
11
3.1. METODOLOGIA
Escola dos Annales, em meio a debates, disputas e crises, o território do historiador vem se
ampliando, assim como o espectro de suas fontes e metodologias.57
3.2. FONTES
Atividades/Semestres 1º 2º 3º 4º
Levantamento e organização
das fontes documentais
Leitura e análise da
documentação levantada
Leitura da bibliografia de
referência
Produção do relatório de
qualificação
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