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ACANTO EM REVISTA 1

A INFRAESTRUTURA DE TREINAMENTO
A
DAINFRAESTRUTURA
MARINHA AGORADE
AOTREINAMENTO
SEU DISPOR
DA MARINHA AGORA AO SEU DISPOR

A EMGEPRON, Empresa Pública vinculada à Marinha do Brasil, oferece cursos de


qualificação profissional nas áreas de Administração, Finanças e Logística, ministrados
A
no EMGEPRON, Empresae Pública
Centro de Instrução vinculada
Adestramento à Marinha
Almirante do Braga
Newton Brasil, (CIANB),
oferece situado
cursos node
qualificação profissional nas áreas de Administração, Finanças e Logística, ministrados
Rio de Janeiro. O CIANB dispõe de moderna infraestrutura educacional para realização
no Centro de Instrução
de treinamento e Adestramento
para empresas ou órgãosAlmirante
públicos,Newton Braga
contando com(CIANB), situado
salas para no
cursos,
Rio de Janeiro. O CIANB dispõe de moderna infraestrutura educacional para realização
seminários, palestras e formaturas, que podem ser locadas para diversas atividades.
de treinamento para empresas ou órgãos públicos, contando com salas para cursos,
seminários, palestras e formaturas, que podem ser locadas para diversas atividades.

CURSOS INSTALAÇÕES
•CURSOSCATALOGAÇÃO •INSTALAÇÕES
10 SALAS DE AULA
• NEGOCIAÇÃO DE CONTRATOS • AUDITÓRIO
•• CATALOGAÇÃO
GESTÃO DE PROJETOS
•• 10 SALAS DE AULA
ANFITEATRO
•• NEGOCIAÇÃO DE CONTRATOS
GESTÃO DE RISCOS
•• AUDITÓRIO
ESTACIONAMENTO PRÓPRIO
•• GESTÃO DE PROJETOS
GESTÃO DE TEMPO
•• ANFITEATRO
AR-CONDICIONADO CENTRAL
•• GESTÃO DE RISCOS
TÉCNICA DE AUDITORIA
•• ESTACIONAMENTO
SEGURANÇA 24H
PRÓPRIO
•• GESTÃO DE TEMPO
PREGÃO ELETRÔNICO
•• AR-CONDICIONADO CENTRAL
RECURSOS PARA APRESENTAÇÕES
• DENTRE
TÉCNICA DE AUDITORIA
OUTROS...
•• SEGURANÇA 24H
FACILIDADE DE TRANSPORTE PÚBLICO
• PREGÃO ELETRÔNICO • RECURSOS PARA APRESENTAÇÕES
DENTRE OUTROS... • FACILIDADE DE TRANSPORTE PÚBLICO

www.emgepron.com.br

www.emgepron.com.br
A 
“Acanto em Revista” é um periódico anual
destinado à divulgação de artigos de na-

editorial
tureza acadêmica relacionados a temas
do Abastecimento, Administração Pública,
Finanças e Orçamento Público, dentre outros. A seleção
dos trabalhos publicados é realizada considerando a
qualidade científica e relevância dos temas, tanto para
a Marinha do Brasil como para instituições públicas e
privadas, colaborando para a efetiva disseminação do
conhecimento. Além da natural diversidade e abrangên-
cia de temas, característica da Gestão Pública, buscou-
-se, nesta edição, transcender as fronteiras do Centro
Leonardo Dias de
de Instrução e Adestramento Almirante Newton Braga
Assumpção
(CIANB) e da Marinha, recebendo propostas de autores
Capitão de Mar e Guerra oriundos de outras Organizações.
(Intendente da Marinha) - Neste sentido, a proposta desta edição é manter o
Diretor do CIANB espírito das edições anteriores, apresentando aos lei-
tores, além dos trabalhos acadêmicos, uma entrevista
sobre um assunto relevante e atual. A escolha para este
exemplar foi de fomentar a discussão e reflexão sobre
a Gestão do Conhecimento (GC), que, ao longo dos
anos, vem assumindo uma importância maior em de-
corrência da ascensão da denominada sociedade do
conhecimento. Estudos têm sido aprofundados sobre o
tema e a “Acanto em Revista” não poderia se furtar de
participar desse fórum.
O próprio CIANB assumiu no âmbito do Setor
Secretaria-Geral da Marinha, dentre outras tarefas, a de
exercer a centralização da GC nas áreas de abasteci-
mento, administração, orçamento e finanças, conforme o
ciclo ilustrado em nossa capa. O ciclo KDCA, analogia
ao consagrado ciclo administrativo “Plan, Do, Check
and Action”— no qual o planejamento foi substituído
pelo “Knowledge”, compreende: a atividade de obten-
ção do conhecimento por meio de pesquisas, palestras,
seminários, workshop; o conhecimento obtido que deve
ser armazenado — e nada mais clássico do que uma
biblioteca para representar um repositório do conheci-
mento; o oferecimento de cursos para disseminação
do conhecimento obtido e armazenado — que é outra
missão do CIANB; e, finalmente, a aplicação do co-
nhecimento em apoio às atividades previstas na missão
da Marinha. Assim, com o propósito de aprofundar a
abordagem do referido tema, a presente edição contará

ACANTO EM REVISTA 3
com uma entrevista do Doutor Fábio Ferreira Batista, do
Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas.
editorial

Na sequência, a Seção de Artigos Selecionados, em


que trabalhos desenvolvidos por autores da Marinha e de
outras Instituições foram avaliados por banca acadêmica
através do sistema “Double Blind Review”, conta com
sete matérias. Os principais colaboradores para esta
Seção foram os alunos do Curso de Aperfeiçoamento de
Intendência para Oficiais (CAIO), que produziram artigos
com base nas pesquisas desenvolvidas sob a orientação
de docentes do CIANB, da Faculdade Administração e
Ciências Contábeis/UFRJ e das Diretorias Especializadas
do Setor da Secretaria-Geral da Marinha.
Foi inserida também uma nova Seção de Artigos
Convidados, onde os artigos submetidos pelas Diretorias
Especializadas em assuntos de Intendência e por autores
de outros Órgãos e Instituições apresentam temas atuais
e relevantes para o debate profissional e acadêmico
dentro das suas respectivas áreas de atuação. Assim,
nesta edição haverá um artigo de um Oficial do Exército
Brasileiro.
Releva mencionar o empenho e dedicação da tripula-
ção deste Centro de Instrução e Adestramento, juntamen-
te com o apoio do pessoal de inúmeras Organizações
Militares da Marinha e colaboradores externos, que con-
tribuíram direta ou indiretamente para que a publicação
deste periódico pudesse ser concretizada. Em fim, mais
uma edição da “Acanto em Revista” é realizada com a
expectativa de que o propósito deste periódico anual
possa ser atingido, qual seja de provocar reflexões nos
leitores e contribuir para o aperfeiçoamento dos proces-
sos nas áreas de conhecimento do Setor Secretaria-Geral
da Marinha.

4 ACANTO EM REVISTA
E M R E V I S TA

Rio de Janeiro
ACANTO EM REVISTA Ano: I -SUMÁRIO
Nº 01 - 2014
Rio de Janeiro
Ano III - Nº 03 - 2016 Tiragem 00.000

E M R E V I S TA
FUNDADOR
Nelson Márcio Romaneli de Almeida
Capitão de Mar e Guerra (IM) ENTREVISTA
PRESIDENTE DO CONSELHO EDITORIAL
Leonardo Dias de Assumpção
Entrevista
Capitão de Mar e Guerra (IM)
7 Entrevista com o Doutor Fábio Ferreira Batista do
EXPEDIENTE
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA
CONSELHO EDITORIAL
“O Renascimento doEnio CIANB”
Monçôres Entrevista
Carvalhocom o Almirante-de-
Esquadra Airton Teixeira Presidência do Conselho Editorial:
Capitão Pinho
de Mar Filho, Secretário
e Guerra - Geral da Marinha
(RM1-IM) ARTIGOS SELECIONADOS
............................................................................. 05 Nelson Márcio Romaneli de Almeida
Marcos Gomes Corrêa
Capitão de Fragata (IM) Capitão-de-Mar-e-Guerra (IM) Diretor
Brunno Nunes da Costa Menezes ABASTECIMENTO
Artigos Premiados
Capitão de Corveta (IM) Diretor de Redação:
Thiago José Parreira
A catalogação comoCapitão de Corveta
ferramenta de Apoio(IM) Logístico Integrado
12 Análise de itens ideais para a montagem de uma
Marcos
cadeiaGomes
logísticaCorrêa
reversa (CLR) no SABM com ganhos
Patrick...............................................
dos submarinos nucleares Del Bosco de Sales 09 Capitão-de-Fragata
relevantes e pequeno (IM)esforço de implementação
Capitão de Corveta (IM) Capitão-Tenente
Editora: (IM) Eric Alves
Implantação doMichelly
sistemaChristina Campos Manhães
de identificação por rádio frequência

de Abastecimento
Primeiro-Tenente
nos processos de aquisição
da Marinha
COMITÊ
e controle(RM2-T)
de material do Sistema
............................. 22
do BrasilCIENTÍFICO
DE AVALIAÇÃO
29 Michelly
Brasil
Christina
Fornecimento
por intermédio
Primeiro-Tenente (RM2-T)
Campos
de itens
do
Manhãesna
de fardamento
E-Commerce
Ferreira
Marinha do
B2C: análise de
parâmetros – tempo, custo de transporte e desempenho
Marcos André Carvalho Neves - Msc. Colaboradores:
– para a contratação de um operador logístico
Offset: os impactos Hilton
da de
lei Araújo Lopes - Msc. nas importações
nº12.598/2012
de produtos e Luiz Henrique
sistemas Rodrigues
de defesa daMarinha
pela Silva - Msc.
do Brasil..... 33 CMG (RM1-IM) Enio
Capitão-Tenente (IM) Monçôres Carvalho
Diogo Cabral de Almeida
Luiz Cláudio Otranto Alves - Msc.
CFPotencial
(IM) Ricardo Luís Veloso Mendes
rentabilidade de Esdras
Anderson Soares Silva - Msc.
Impactos dasAlexreduções na taxa
Sandro Monteiro
ativosCarlos
de renda
básica- Dsc.
de Moraes
fixa: um
de Santana - Msc.
de juros na
estudo aplicado
46 CCde(IM)
produto
de uso de estruturas de desmembramento
Brunno Nunes
ou de da Costa
logística Menezes
como ferramentas
ao Fundo Naval (2009
Claudia - da
Ferreira 2013)..........................
Cruz - Dsc. 48 integradas ao sistema
CC (IM) Thiago José Parreira de informações gerenciais do
André Luís de Almeida Côrtes - Msc. abastecimento da Marinha do Brasil
Brunno Nunes da Costa Menezes - Msc. 1T (RM2-T) Andrea de Lima Ribeiro Sales
Capitão-Tenente (IM) Tiago Rosa Barreira
Artigos Selecionados
Thiago Silva e Souza - Msc.
José Renato de Paiva Michelotto - Msc.
Revisão:
ADMINISTRAÇÃO
Fábio Francisco dos Santos
EDITORA
A gestão do conhecimento no Corpo
Michelly Christina
do Brasil: o papel doPrimeiro-Tenente
de Intendentes
Campos Manhães da Marinha
CIANB. .........................................
(RM2-T) 61 63 Diagramação:
Offset e inovação: a redução de hiatos tecnológicos
nos países
Augusto em desenvolvimento
Marinho e Winona Evelyn
ARTE DA CAPA Capitão-Tenente (IM) Marcelo da Silva Braz
A busca pela excelência em gestão na Marinha do Brasil: a Produção Gráfica:
institucionalização do Victor de Assis Bezerra
80
Programa Netuno ............................. 69 Offset e Pinho
base industrial de defesa: uma análise do
Segundo-Tenente (IM) Fernando
processo de transferência de tecnologia
Evidenciação de princípios REVISÃO
de governança: uma análise dos Impressão:
relatórios de auditoria
Cláudiaelaborados em Coelho
Santos da Silva 2012 pelo órgão de Capitão-Tenente (IM) Luiz Biondi
controle interno da Marinha ................................. 73
do Brasil (RM2-T)
Primeiro-Tenente
e-Graph - Gráfica e Sinalização
FINANÇAS
Sede:
Incorporando a gestão DIAGRAMAÇÃO
do risco às aplicações financeiras do
Fundo Naval. PassoConceito Comunicação
inicial:
cálculo para o risco de mercado
escolha de Integrada
uma metodologia de
.......................................
IMPRESSÃO
79 96 Avenida
recursos
Brasil,
Os reflexos da10.500
mudança- de
destinados à
Olaria
ação -orçamentária
movimentação
- RJ - CEP: 21012-350 - Localizado dentro do
Rio de Janeiro
de
dos
militares na
Marinha do Brasil
WalprintdeGráfica
Atividades da Diretoria e Editora
Finanças da Marinha: ações Complexo Naval de Abastecimento
Capitão-Tenente (IM) Carlos Alberto da Silva
em andamento, desafios e perspectivas sob a ótica do
_______________________________
Departamento de Contabilidade ...................................... 84
Site: www.mar.mil.br/cianb
Corrêa Júnior
Sede: Avenida Brasil, 10.500 - Olaria e-mail:
O usoacanto@cianb.mar.mil.br
Rio deeJaneiro
A Marinha do Brasil - RJ - CEP:
as Parcerias 21012-350 ............ 89
Público-Privadas
Localizado dentro do 112 de Hedge Cambial: uma ferramenta de
proteção à programação financeira destinada às
Complexo Naval de Abastecimento O obtenções
CIANB agradece especialmente
no exterior da Marinha doa todas
Brasil as
Cluster naval de defesa uma opção para o Brasil? .......... 95
site: –www.cianb.mar.mil.br
e-mail: acanto@cianb.mar.mil.br organizações que(QC-IM)
Capitão-Tenente tornaram possível
Daniel esta
Santos edição:
Moura
A evolução do Plano Diretor da Marinha: desafios no
desenvolvimento Direitos
de eferramentas
permissão de de apoio à gestão
utilização:
ODEBRECHT, BNP, AMAZUL e EMGEPRON
orçamentária .............................................................
os textos publicados na revista são de 100
inteira responsabilidade de seus autores. ARTIGO CONVIDADO
Impactos da utilização dea reprodução
Permite-se sistema de desde
informação
que logístico no
compartilhamento de citada a fonte enao autor.
informações cadeia de suprimento de
sobressalentes da Marinha do Brasil ............................... 106
129Direitos
Pregão Eletrônico
e Permissão
Os julgamento
textos publicados
com o uso do critério de
de Utilização
comnabase
revista
nosão de inteira
maior responsabilidade
desconto ofertado
de seus
sobreautores.
tabela oficial de preços nas aquisições de
Permite-se
gêneros a reprodução
perecíveis desde quede
e peças citada a fonte e o autor.
viatura
Capitão do Serviço de Intendência do Exército
da Academia Militar das Agulhas Negras, Carlos
Guilherme de Farias Martins

4 CIANB - EDUCAR PARA QUALIFICAR


D
conselho editorial

esde sua criação, em 2014, a “Acanto em


Revista” tem buscado divulgar os resultados
das mais relevantes pesquisas realizadas
na Marinha do Brasil, na área de
Administração, com ênfase em Administração Pública,
Logística e Contabilidade, Planejamento Governamental
e Finanças Públicas.
Nas duas primeiras edições, nosso periódico bus-
cou disseminar artigos produzidos pelos alunos do
nosso curso de pós-graduação (CAIO – Cursos de
Aperfeiçoamento de Intendência para Oficiais) e outros
artigos desenvolvidos por pesquisadores das Diretorias
Marcos Gomes Corrêa
Especializadas do setor da Secretaria-Geral da Marinha.
Capitão de Fragata Buscando ampliar o escopo de nossa revista, com
(Intendente da Marinha) o objetivo de consolidá-la como um reconhecido perió-
Vice-Diretor do CIANB dico acadêmico e científico, em 2016, foi possibilita-
e Membro do Conselho da a submissão de artigos produzidos por autores de
Editorial outras Instituições. A “Acanto em Revista”, nessa nova
fase, pretende disseminar os resultados de pesquisas a
toda sociedade, em especial, à comunidade científica.
Seguindo-se este foco, nosso Corpo Editorial Científico
foi cuidadosamente selecionado, para garantir a quali-
dade dos artigos selecionados. Reitera-se a preocupa-
ção com a imparcialidade, ao adotarmos a sistemática
de avaliação Double Blind Review.
Outra característica de nossa revista é a exploração
de um tema por meio de uma entrevista. Nesta edição,
exploramos o tema “Gestão do Conhecimento”, com
a preciosa participação do Sr. Fábio Ferreira Batista,
Técnico em Planejamento e Pesquisa do IPEA (Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada), Pós-Doutor em Gestão
do Conhecimento e Doutor em Ciência da Informação.
Assim, inaugurando essa nova “Acanto em Revista”,
esperamos que nosso público-alvo – acadêmicos e ges-
tores públicos – participem ativamente desse esforço,
como leitores, divulgadores e coautores.
entrevista
“A MARINHA PRECISA DA GC
PARA RESPONDER AOS DESAFIOS
DA ERA DO CONHECIMENTO”
Entrevista com Fábio Ferreira Batista, Técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea

Como o Senhor conceituaria Gestão do responder com eficiência, eficácia e efetivi-


Conhecimento (GC) à luz da missão da dade aos desafios da Era do Conhecimento,
Marinha do Brasil? iniciada em meados dos anos 90 onde o
Para saber o que é, e porque a Marinha do conhecimento passou a ser o principal fator
Brasil precisa da GC, é fundamental entender produtor de riquezas.
o ambiente complexo deste início de século As organizações em geral, e a Marinha do
XXI. Vivemos em um período da história da Brasil, em particular, precisam da GC para
humanidade caracterizado pela incerteza, responder aos desafios do ambiente com-
mudança, conectividade, interdependência, plexo da Era do Conhecimento. Em outras
diversidade, sentimento de risco e velocidade palavras, a Marinha do Brasil deve obter e
das mudanças. integrar, compartilhar, usar e desenvolver o
Para sobreviver (empresas privadas), ou para conhecimento, ou seja, gerenciar o conheci-
cumprir a sua missão com excelência (institui- mento, para cumprir sua missão com excelên-
ções públicas), neste ambiente, as organiza- cia neste ambiente complexo. Por exemplo,
ções devem ter capacidade de percepção, a Marinha do Brasil deverá utilizar sempre
de reflexão e de busca de soluções para o melhor conhecimento disponível para

ACANTO EM REVISTA 7
“As organizações gestão por competências ou gestão estratégi-
ca, por exemplo?
entrevista

devem ter capacidade O que chamamos hoje de Gestão do


Conhecimento é, na verdade, a maneira
de percepção, de mais adequada de se gerenciar as organi-

reflexão e de busca zações na Era do Conhecimento, iniciada


em meados dos anos 90, e que substituiu
de soluções para a Era Industrial. Peter Drucker afirmou que
o grande desafio da Administração no Sec.
responder com XXI é aumentar a efetividade do trabalho do
conhecimento, e do trabalhador do conhe-
eficiência, eficácia cimento. A Gestão do Conhecimento é um
e efetividade aos método que permite fazer isto. Portanto, não
é um modismo, mas um meio para tornar as
desafios da Era do organizações mais eficientes, mais eficazes e
efetivas na Era do Conhecimento.
Conhecimento.” A GC é um método destinado a aumentar a
efetividade das atividades intensivas de co-
gerenciar seus processos de trabalho com nhecimento nas organizações (gerenciamento
eficiência, eficácia e efetividade, observan- de projetos, gestão de processos, planeja-
do os princípios constitucionais da adminis- mento estratégico, atividade de educação,
tração pública (legalidade, impessoalidade, treinamento e desenvolvimento). Portanto,
moralidade, publicidade e eficiência). Para gestão de pessoas por competências é uma
isso, ela precisa da GC. prática de gestão de pessoas e de Gestão do
Conhecimento. A GC pode aumentar a efetivi-
Na sua visão, a Marinha deve tratar a GC dade da gestão estratégica.
de forma unificada que se adapte a todas
as suas Organizações Militares ou de forma Pela sua percepção, quais os empecilhos que
diferenciada, dependendo do grau de maturi- potencialmente existam na Marinha do Brasil
dade de cada uma? para a aplicação deste modelo?
A avaliação do grau de maturidade em GC Para aplicar, com êxito, o Modelo de Gestão
de cada organização militar da Marinha é do Conhecimento para a Administração
fundamental. Após este diagnóstico, será pos- Pública Brasileira, existem alguns pressupos-
sível implementar um Plano de Melhoria do tos e requisitos importantes. Entre eles, pode-
Grau de Maturidade em GC. Paralelamente, mos destacar:
cada organização militar deve implementar 1) As pessoas precisam entender a diferença
planos de GC para eliminar lacunas do entre dado, informação e conhecimento;
conhecimento, como é ensinado no livro de 2) A tecnologia não é o ponto de partida da
minha autoria. GC. É um meio, um suporte, um viabiliza-
dor. O ponto de partida da GC são os
A Gestão do Conhecimento é mais uma nova direcionadores estratégicos (missão, visão,
onda tendente a se dissipar ou é um avan- objetivos estratégicos, estratégias e metas) e
ço em relação aos outros conceitos,como a quem faz a GC acontecer são as pessoas.

8 ACANTO EM REVISTA
“A Marinha do Brasil 10) Os pequenos avanços devem receber
reconhecimento;

entrevista
deve obter e integrar, 11) GC é um método integrado de criar,
compartilhar e aplicar conhecimento para
compartilhar, usar aumentar a eficiência, melhorar a qualida-

e desenvolver o de e a efetividade social; contribuir para a


observância dos princípios constitucionais
conhecimento, ou da administração pública e para alcançar
os objetivos estratégicos da organização;
seja, gerenciar o 12) GC deve ser implementado de maneira
integrada ao gerenciamento de processos,
conhecimento, para projetos, planejamento estratégico e ativi-
cumprir sua missão dades de educação, treinamento e desen-
volvimento; e
com excelência.” 13) GC deve ser implementada por meio
de projetos e equipes interdisciplinares e
intersetoriais.
Implementar GC não é a mesma coisa que
implantar uma ferramenta tecnológica; Existem organizações que se utilizam de
3) A organização precisa de uma estrutura de portais, intranet e redes sociais internas para
governança de GC. Sem isso, os projetos fomentar a troca de conhecimento entre
de GC dificilmente saem do papel de ma- pessoas, áreas e setores, valendo-se da tec-
neira coordenada; nologia para este fim. Ela é uma aliada no
4) Para institucionalizar a GC é fundamental processo de GC?
gerenciar a mudança da cultura organiza- Como afirmei anteriormente, e como procuro
cional (a maneira de pensar e de trabalhar mostrar no meu livro, a tecnologia é um viabi-
das pessoas). Isso demanda tempo; lizador importante da GC. No entanto, o foco
5) Resultados de curto prazo são importantes,
mas a organização deve se preocupar
com a sustentabilidade dos processos de
“O que chamamos
GC no médio e longo prazos; 6) É preciso hoje de Gestão do
ter foco na implementação da GC. O foco
será estratégico ou operacional? GC será Conhecimento é, na
implementada para resolver que problema
ou lacuna do conhecimento?
verdade, a maneira
7) É fundamental identificar o conhecimento mais adequada
crítico da organização. É esse conhecimen-
to que deve ser gerenciado; de se gerenciar
8) É necessário divulgar de maneira eficaz as
ações de GC e os resultados obtidos; as organizações
9) É fundamental o comprometimento da alta na Era do
administração com a GC para que haja
engajamento entre os colaboradores; Conhecimento.”

ACANTO EM REVISTA 9
não pode ser nas práticas (portais, intranets e
“A tecnologia é
redes sociais internas), e sim em resultados (au-
entrevista

mentar a eficiência, a eficácia, a efetividade, um viabilizador


inovar, etc.).
importante da GC.
Quais são os riscos inerentes a uma or-
ganização que não aplica a Gestão do
No entanto, o foco
Conhecimento? não pode ser nas
Como o uso do melhor conhecimento disponí-
vel é fundamental para a eficiência, eficácia práticas (portais,
e efetividade, assim como para alcançar os
objetivos estratégicos, a organização que não
intranets e redes
gerencia o conhecimento não alcançará tais sociais internas), e
resultados que são fundamentais para a sobre-
vivência no mercado (empresas privadas), e sim em resultados
para a excelência na gestão pública (entida-
des do Estado). (aumentar a
A cultura é modificada top-down ou botton-
eficiência, a eficácia,
-up? Será que a estrutura hierarquizada po- a efetividade,
tencializa essa modificação?
A mudança da Cultura Organizacional pode inovar, etc.).”
acontecer por meio de ações top-down (por
exemplo: um sistema de reconhecimento e
recompensa implementado pela alta adminis- produção coletiva do conhecimento). A estru-
tração para promover o compartilhamento de tura hierarquizada pode ser uma barreira ou
conhecimento), e botton-up (comunidades de um facilitador. Depende muito do comprome-
práticas virtuais nas diversas áreas da orga- timento da alta administração e das chefias
nização, para promover a colaboração e a intermediárias. Em muitas organizações civis,
a estrutura hierárquica é uma barreira para a
implementação da GC.
“A engajamento,
Em sua opinião, até que ponto o engajamen-
resultado do to das pessoas é um passo importante para
comprometimento, a formação de uma cultura corporativa ade-
quada na Sociedade do Conhecimento, esse
é fundamental engajamento se sobrepõe à cultura organi-
zacional ou mesmo às tradições herdadas da
para a criação administração burocrática?
A maior parte do conhecimento importante
de uma cultura nas organizações está na cabeça das pes-
organizacional soas (conhecimento tácito). São as pessoas
que captam, produzem, armazenam, com-
colaborativa.” partilham, usam e reutilizam o conhecimento

10 ACANTO EM REVISTA
ou não. Por isso, o engajamento, resultado Uma organização que deseja mapear
do comprometimento, é fundamental para a e gerir seu conhecimento deve começar

entrevista
criação de uma cultura organizacional cola- por onde?
borativa que, como se sabe, torna as orga- Identificar as competências essenciais (conjun-
nizações mais eficientes, mais eficazes, mais to de conhecimentos, habilidades e atitudes)
efetivas e mais inovadoras. Nesse cenário, para cumprir a missão organizacional, deve
o gestor público tem um papel fundamental ser o primeiro passo porque são tais conheci-
no sentido de identificar as competências mentos que devem ser gerenciados.
dos membros da sua equipe, ajuda-los a
desenvolver tais competências e utilizar o co-
nhecimento das pessoas da melhor maneira
UM BREVE HISTÓRICO
possível. O engajamento é uma característica
da cultura organizacional. Quanto às tradi- Fábio Ferreira Batista é Técnico de
ções, há aquela que são positivas para a Planejamento e Pesquisa do Ipea (desde
1987). Concluiu o pós-doutorado em
GC como, por exemplo, a documentação
Gestão do Conhecimento no Programa de
dos procedimentos.
Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do
Conhecimento da Universidade Federal de
A liderança constitui uma das principais Santa Catarina - EGC/UFSC (2012). Doutor
qualidades necessárias ao militar. Qual em Ciência da Informação pela Universidade
é o seu papel no processo de Gestão do de Brasília - UnB (2008). Concluiu também
Conhecimento? cursos de pós-graduação (especialização
A liderança tem um papel fundamental na e mestrado) nas áreas de Administração,
implementação da GC. É ela que prioriza a Relações Internacionais e História. Professor
GC, que aloca recursos, que dá o exemplo. do Mestrado em Gestão do Conhecimento
Além disso, cabe a ela capacitar, motivar as e da Tecnologia da Informação da
pessoas para a criação de um ambiente orga- Universidade Católica de Brasília - MGCTI/
UCB (desde 2012). Atua, no momento,
nizacional colaborativo.
como pesquisador na área de Gestão do
Conhecimento e práticas inovadoras de
gestão na administração pública. Implantou e
“A estrutura coordena o Observatório Ipea de Gestão do
Conhecimento e Inovação na Administração
hierarquizada pode Pública (desde 2014). É autor do livro
publicado pelo Ipea intitulado: Modelo de
ser uma barreira gestão do conhecimento para a administra-

ou um facilitador.
ção publica brasileira (2012). Implementou
o Repositório do Conhecimento do Ipea

Depende muito do - RCIpea (2012), premiado com o 2° lugar


no Knowledge Management and Intellectual

comprometimento da Capital Excellence Awards - 2015, (Udine,


Itália). É autor dos livros “Modelo de Gestão
alta administração do Conhecimento para a Administração
Pública Brasileira” e “Experiências Inter­na­
e das chefias cionais de Implementação da Gestão do
Conhecimento no Setor Público”.
intermediárias.”

ACANTO EM REVISTA 11
E M R E V I S TA
artigo selecionado

Autoria: Capitão-Tenente
(Intendente da Marinha) Eric Alves
Orientador: Capitão de Mar e
Guerra (RM1- Intendente da Marinha)
Marcelo Ghiaroni - CIANB
Coorientador: Capitão-Tenente
(Intendente da Marinha) Marcus
Sperling Torezani - DAbM

ANÁLISE DE ITENS IDEAIS PARA


A MONTAGEM DE UMA CADEIA
LOGÍSTICA REVERSA (CLR) NO
SAbM COM GANHOS RELEVANTES
E PEQUENO ESFORÇO DE
IMPLEMENTAÇÃO
Resumo: Devido à crescente importância ambiental e econômica de as empresas, ao pensarem em estabelecer uma cadeia de suprimentos,
utilizarem-se da Logística Reversa e também à criação de mecanismos legais, como a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que estão forçando
todos os agentes a atuarem nesse sentido; este estudo objetiva investigar, por metodologia própria, utilizando-se da lei de Pareto, dentre os itens
de suprimento fornecidos internamente pelo Sistema de Abastecimento para as unidades da Marinha do Brasil, quais seriam aqueles em que, com
um menor esforço, poderia ser operada uma cadeia logística reversa, obtendo-se ganhos ambientais e econômicos consideráveis.
Palavras-chave: Cadeia Logística Reversa; Sistema de Abastecimento da Marinha; Seleção de itens segundo Pareto; Reciclagem de itens
de consumo.

12 ACANTO EM REVISTA
E M R E V I S TA

artigo selecionado
1 INTRODUÇÃO vezes, em cada instituição. Assim sendo, não
A Logística Reversa, parte da logística existe ainda uma cadeia logística reversa ins-
que estuda o fluxo de suprimentos desde o titucionalizada e normatizada para operacio-
ponto de consumo até o ponto de origem ou nalizar o fluxo reverso de resíduos dentro da
destinação adequada, caminho inverso ao MB. Caberia ao Sistema de Abastecimento
fluxo tradicional, vem ganhando um grande da Marinha (SAbM) ser o centralizador dessa
destaque no mundo dos negócios atuais, atividade, principalmente no que diz respeito
pois, além de possibilitar a preservação a resíduos sólidos produzidos pelo consumo
do meio ambiente com o uso adequado de de itens de fornecimento do próprio sistema.
insumos, principalmente quanto a sua desti- Diversos problemas devem ser transpostos
nação final ou descarte, dentre outros bene- dentro da instituição para se obter uma ca-
fícios; agrega às empresas valor associado deia logística reversa plena, em que estariam
a uma marca sustentável, tornando-se isso, contidos todos os tipos de resíduos oriundos
muitas vezes, um diferencial competitivo pe- de todos os tipos de itens distribuídos pelo
rante o mercado. SAbM, principalmente no tocante ao nível
No Brasil, o tema Logística Reversa (LR) de investimento inicial que essa operação irá
já está sendo estudado por acadêmicos e requerer. Assim, o objetivo desta pesquisa é
implementado por empresas em geral. Muito investigar, dentro dos itens pertencentes à li-
desse progresso pôde ser alcançado devido nha de fornecimento do SAbM, quais seriam
à Política Nacional de Resíduos Sólidos, ini- aqueles que têm um suficiente volume de mo-
ciada em 2010, a partir da qual surgiram vimentações e que, operando-se uma cadeia
diversas leis e mecanismos de incentivos às logística reversa neles, conseguiriam trazer
práticas sustentáveis por parte das empresas. resultados relevantes nos dois aspectos: pre-
Inúmeras empresas surgem advindas de servação do meio ambiente e economia de
cooperativas de catadores, iniciativas de recursos financeiros.
Organizações Não Governamentais e sucur- Para alcançar o resultado desta pesqui-
sais de grandes empresas que, ao iniciarem sa, foram coletados dados físicos e con-
o desenvolvimento de atividades de LR, vis- tábeis de cada um dos principais itens de
lumbraram um mercado em crescimento, am- fornecimento do SAbM e, a partir desses
plo de possibilidades e inclusive com retornos dados, foram aplicadas análises de Pareto
financeiros anteriormente descartados. para identificar os itens que são mais
No setor público, no entanto, o progresso relevantes de acordo com cada um dos
na implementação de práticas da LR ainda aspectos: quantidade de resíduos danosos
está à margem de pequenas iniciativas in- ao meio ambiente; valor econômico de
dividuais que vêm sendo reconhecidas pela alienação desses resíduos no mercado lo-
sociedade. cal. Após essas duas classificações, foram
Nesse contexto, a Marinha do Brasil cruzadas as duas análises para chegar a
(MB), instituição pública do Poder Executivo uma relação de itens com relevância signi-
Federal, busca, em diversas de suas ficativa para que sejam operadas suas res-
Organizações Militares (OM), práticas de pectivas cadeias logísticas reversas (CLR).
coleta seletiva de resíduos, ações de pre- Posteriormente à análise dos dados quanti-
venção à poluição e otimização no uso de tativos, foram ainda levantadas restrições atra-
seus recursos. Porém, tais iniciativas são in- vés de entrevistas realizadas em órgãos de dis-
dividualizadas e diferentes, na maioria das tribuição, em algumas OM consumidoras ou

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artigo selecionado

usuárias e em alguns dos agentes do Sistema Management como “o processo de planeja-


de Abastecimento e Controle do Inventário, mento, implantação e controle do fluxo eficien-
para se extraírem informações qualitativas a te e eficaz de mercadorias, serviços e das in-
respeito da operacionalização do descarte formações relativas desde o ponto de origem
centralizado desses itens em uma cadeia até o ponto de consumo com o propósito de
montada pelo SAbM. Essas informações atender às exigências dos clientes”. Sua ciên-
qualitativas classificaram os itens quanto ao cia vem ganhando cada vez mais espaço e
nível de dificuldade de implementação de maior relevância nas organizações.
sua cadeia reversa e, assim, foram apontados Com a crescente evidência dos temas am-
pela pesquisa os itens cuja aplicabilidade da bientais e os problemas que o planeta como
operação de uma CLR pode ser imediata para um todo sofre pelo uso indevido, descarte
a MB, conseguindo aliar alto grau de preser- inapropriado e pelo esgotamento das reservas
vação ambiental a algum nível de retorno em de muitos recursos naturais, uma nova faculda-
termos de recursos financeiros. de logística surge à tona: a Logística Reversa,
A implementação dessas CLR pelo SAbM, definida, desde 1998, por Rogers e Tibben-
caso ocorra, será um marco importante para a Lembke, como uma inversão da logística.
MB, pois esse tipo de operação logística irá Segundo esses autores:
agregar a ela, considerando seu sistema de “Logística Reversa é o processo, eficiente e
abastecimento, a imagem de uma instituição de baixo custo, de planejamento e implanta-
associada à preservação ambiental e execu- ção do controle dos fluxos de materiais, de
tora do uso consciente de recursos financeiros produtos acabados e de informações rela-
oriundos da sociedade. Obviamente, essa cionadas, do ponto de consumo ao ponto
implementação ainda carecerá de algum de origem, para recuperar o valor ou fazer
investimento inicial e também de mudanças o descarte de forma apropriada (ROGERS,
organizacionais referentes à forma de como 1998 p. 33)”.
serão descartados os resíduos que possibilita-
rão a operação dessa cadeia. Conforme ilustrado na figura 1, uma ca-
deia logística de ciclo fechado existe quando
são coexistentes a cadeia logística conven-
2. REFERENCIAL TEÓRICO
cional e a cadeia logística reversa para um
2.1 Da Logística Convencional à determinado item de suprimento.
Logística Reversa Desde então, o tema vem sendo amplamente
A logística é uma área de conhecimento estudado e revisado por diversos autores como,
desenvolvida desde os tempos mais remotos, Valle e Souza, em 2014, que dizem que:
em que se constituíram as primeiras civiliza- “A logística reversa potencializa todas as solu-
ções, mas suas práticas apenas foram nomea- ções para gerenciamento de resíduos sólidos.
das como uma ciência a partir das grandes Ela acaba com o antiquado conceito de “fim da
guerras mundiais, quando seu estudo e a linha” (end-of-pipe), segundo o qual a vida dos
aplicação do conhecimento se mostraram um produtos tem começo (projeto e produção), meio
grande diferencial para as forças armadas (uso) e fim (lixões e aterros). A linha virou um cír-
em guerra. Após a Segunda Guerra Mundial, culo: hoje em dia, seu fim coincide com o início
a logística deixou de ser uma questão espe- e o retoma. Os materiais dos produtos usados,
cificamente militar e se transformou em uma antes sempre chamados de lixo, são agora tidos
ciência no mundo empresarial em constante como matéria-prima para uma nova geração de
expansão, definida pelo Concil of Logístics produtos (VALLE e SOUZA, 2014 p.57).”

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artigo selecionado
Figura 1: Esquema demonstrativo de uma cadeia logística direta e reversa

Fonte: Elaboração própria com base na compilação de ideias e de figuras de diferentes literaturas.

Diversas são as formas de destinação de sua reintegração ao ciclo produtivo por meio
materiais ao longo de uma cadeia logística de um desses canais reversos.
reversa. Basicamente, segundo LEITE 2003, a Para efeito deste estudo, serão abordadas
LR divide-se em dois grandes grupos de acor- apenas as atividades de LR com IPC devido
do com o tipo de item: Itens pós-venda (IPV) e à grande abrangência que o tema possui e o
Itens pós-consumo (IPC), e para cada grupo a grau de complexidade que é bastante elevado
LR irá atuar de forma diferente. e dependente de inúmeras variáveis e peculia-
IPV – Bens ou itens pós-venda são os que, ridades da instituição. De uma maneira geral,
por pouco uso ou sem uso por diferentes mo- a LR aplicada diretamente aos resíduos de IPC
tivos, retornam aos diferentes elos da cadeia é bastante atraente para a realização de pes-
de distribuição direta. Como exemplo, pode- quisas que venham a fomentar a sua prática
-se citar um produto em garantia ou outro que em uma organização. Segundo Bergamasco
(2003, p10): “Basta um pouco de visão para
foi entregue ao consumidor por um erro de
ver que o lixo guarda um volume impressio-
processamento de pedido.
nante de negócios”.
IPC – Bens ou itens pós-consumo são aque-
les que, após o seu uso, efetivamente são 2.2 Benefícios da Logística Reversa em
descartados pela sociedade em geral e que uma organização
devem retornar ao ciclo de negócios pelos A utilização da LR em uma organização
canais reversos de reúso, reciclagem, rema- permite o alcance de diversos benefícios, a
nufatura (ou reparo), desmanche ou mesmo saber: redução de gastos logísticos em trans-
pela destinação final. Cabe à LR, nesse caso, portes, compras e armazenagem; ganho de
agregar valor a esses produtos e promover a competitividade devido à imagem positiva

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artigo selecionado

associada à marca com responsabilidade resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem


ambiental; fidelização dos clientes; incenti- como para reduzir os impactos causados à
vos fiscais; outros benefícios que tornam as saúde humana e à qualidade ambiental de-
empresas mais eficientes. A seguir, serão correntes do ciclo de vida dos produtos, nos
apontados alguns resultados de pesquisas termos desta Lei” (Lei no 12.305/2010).
anteriores e iniciativas bem-sucedidas já con-
cretizadas nesse sentido. Apesar das obrigações legais já impos-
Demonstrados por Leite, Mei e Christiani, tas aqui no Brasil e dos benefícios que a
em seu artigo publicado em 2011 pelo XXXV LR pode trazer para as empresas, é notório
EnANPAD, os benefícios da operação de uma que suas atividades ainda não estão em fase
CLR do óleo de cozinha pelo distribuidor das de desenvolvimento pleno. Segundo Garcia
redes Mc Donald’s no Brasil, no estado de (2006), os principais obstáculos para que
São Paulo (Martin Brower e SP Bio), propor- sejam vencidas as etapas da fase de cons-
cionaram uma economia de 15% nos custos cientização da importância da LR para sua
de combustível de toda a sua frota de cami- implementação são: os custos de implemen-
nhões. Da mesma forma, Machado e Leonel tação e redesenho de operações; a falta de
demonstraram, em seu artigo, publicado em ferramentas integradas de sistemas de apoio
2014 pela revista Competência, casos bem e de informação; os problemas de colabora-
sucedidos de empresas brasileiras que con- ção entre as partes envolvidas com a opera-
seguiram, por meio da operação de uma ção da CLR.
CLR de tecidos e calçados, em conjunto com Por isso, a proposta deste estudo, em sua
outras empresas e cooperativas, desenvolver fase qualitativa, foi investigar quais seriam
atividades econômicas altamente lucrativas e os itens em que se poderiam utilizar a maior
tornaram-se, por isso, referência no ramo de parte da estrutura de distribuição já existente
LR para o setor têxtil que ainda é deficiente no na própria instituição, combinando com os
nosso país. menores esforços por parte dos usuários (cola-
Além das muitas empresas que se utilizam boradores) em relação a mudanças de hábitos
da LR para o benefício de suas atividades, de descarte de resíduos.
assim como acontece em muitos países mais
desenvolvidos, percebe-se que a sociedade 2.3 Funcionamento do SAbM
brasileira já demonstra um crescente sinal A Cadeia Logística da Marinha do Brasil é
de amadurecimento nesse sentido, sendo o operada, para os itens de consumo comuns e
compartilhamento de responsabilidade com as rotineiros, pelo Sistema de Abastecimento da
causas ambientais e a destinação de resíduos Marinha (SAbM) composto por diversos agen-
um dever de todas as esferas da sociedade, tes e normatizado pela SGM-201.
inclusive do poder público através de seus A MB possui uma cadeia de suprimento bem
órgãos. Tal compartilhamento já está definido estruturada para diversos itens de fornecimento,
no texto de lei por: como tintas, gêneros alimentícios, medicamen-
“conjunto de atribuições individualizadas e tos, fardamentos, munições, combustíveis, e de
encadeadas dos fabricantes, importadores, sobressalentes de equipamentos navais. A figu-
distribuidores e comerciantes, dos consumi- ra 2 ilustra o funcionamento do SAbM para a
dores e dos titulares dos serviços públicos distribuição física de materiais, ordens, pedidos
de limpeza urbana e de manejo dos resí- e informações através da plataforma de TI que
duos sólidos, para minimizar o volume de suporta o sistema, o “SINGRA”.

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artigo selecionado
Figura 2: Esquema ilustrativo do funcionamento do SAbM

Fonte: Elaboração própria.

Basicamente, de acordo com a norma que funcionam como centros de distribuição


supracitada, o SAbM funciona da seguinte entre o país e o exterior.
maneira: a unidade que gerencia os itens a Além disso, o Sistema de Informações
serem mantidos em operação pelo sistema é Gerenciais do Abastecimento (SINGRA) é o
a DAbM, que está em constante contato com sistema de tecnologia da informação que dá
outras diretorias técnicas e órgãos de alto suporte aos usuários e aos operadores do
escalão da administração naval; o CCIM SAbM para as operações do abastecimento.
é o responsável pela determinação das ne- Nota-se claramente que existe na MB uma
cessidades e dos níveis de estoque de cada cadeia Logística convencional muito bem estru-
item, pela análise e liberação de pedidos turada com a possibilidade de, a partir dela,
para os clientes, e pela determinação para aproveitar-se de maior parte das estruturas e
as compras; o COMRJ, a CNBE e a CNBW do desenho de transporte de materiais existen-
são, respectivamente, o órgão de compra tes para a operação de uma CLR.
da MB no país e os órgãos no exterior; os No entanto, algumas dificuldades devem
Depósitos são os responsáveis pelo recebi- ser transpostas pelo SAbM para se fazer a
mento, perícia, armazenagem e distribuição operação dessa CLR. Entre as principais, po-
de materiais para os clientes na sede; o dem-se citar: a complexidade dos problemas
Depósito Naval é o agente de tráfego de a serem enfrentados, devido à grande exten-
carga entre a sede e os depósitos regionais são da sua área de atuação que extrapola

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artigo selecionado

inclusive os limites nacionais; as peculiarida- sistemas de controle da produção a partir da


des de cada tipo e classe de item dos cerca lei de Pareto”, percebe-se que o princípio de
de 510.000 (quinhentos e dez mil) itens da Pareto pode ser aplicado para se delimitar o
cadeia de suprimento da MB; a necessidade número de itens a serem escolhidos dentro de
de alguns investimentos em estruturas físicas uma relação muito extensa, na qual cada um
e equipamentos que possibilitem a operação representa uma ação a implementar, principal-
da CLR, como pontos de acumulação de mente no que diz respeito à gestão do tempo
material pós-consumo e manuseio e padroni- e da mudança na trajetória para a implemen-
zação desses resíduos; a ausência de amparo tação de práticas operacionais inovadoras.
normativo para a execução desse sistema que Por isso, a teoria de Pareto auxiliou esta pes-
irá provocar algumas mudanças na cultura quisa na fase de seleção de itens, conforme
organizacional. será apresentado a seguir; e, através de uma
classificação ABC multicritério seguida de ou-
2.4 A Lei de Pareto para a
tros processos de pesquisa, buscou-se respon-
solução de problemas logísticos der as perguntas acima propostas.
Considerando as dificuldades apresen-
tadas acima, a presente pesquisa visou a 3. METODOLOGIA
responder a pergunta: Para quais itens seria A metodologia utilizada nesta pesquisa,
viável a operação de uma cadeia logística após uma revisão bibliográfica realizada
reversa com o SAbM, a fim de haja uma desti- sobre o tema, foi dividida em três fases, con-
nação correta de itens pós-consumo utilizados forme ilustrado na Figura 3.
pelas diversas OM? Se possível, em quais Fase 1: Nesta primeira fase, foi feita a
itens, dentre os diversos itens de distribuição, coleta de dados sobre os itens mais utiliza-
se conseguiria obter o maior retorno, tanto do dos dentro do SAbM como um todo, através
ponto de vista ambiental quanto financeiro, de entrevistas e das consultas realizadas no
com o menor nível de investimento em estru- SINGRA, conforme mencionado anteriormen-
tura e menores alterações nos procedimentos te. Nessa ocasião, foi utilizado o critério de
cotidianos de descarte de toda organização? seleção de itens por relevância em volume de
A teoria de Pareto foi aplicada neste movimentações, chegando-se a uma relação
estudo pelo método de classificação ABC. com 60 itens que foi nomeada de Lzero. A
Segundo Slack et. al. (1999), esta teoria relação Lzero lista os itens de maiores movi-
nasceu dentro da economia e foi posterior- mentações do sistema, tendo como base o
mente levada para o campo logístico e da consumo desses itens no ano de 2014.
administração. Em sua teoria, Pareto adverte Em paralelo, ainda dentro dessa mesma
que cerca de 80% dos resultados alcançados fase, foi feita uma pesquisa de mercado para
é consequência de apenas 20% dos esforços a obtenção dos preços médios de compra
empregados. Em outras palavras, determina- para cada tipo de material pós-consumo que
das ações estratégicas podem oferecer um pode ser identificado na triagem realizada na
retorno muito maior do que outras, desde que relação dos itens trabalhados.
aplicadas nos itens corretos. Também foi realizada uma pesquisa bi-
Desse modo, utilizando-se da classificação bliográfica a respeito do percentual médio
ABC para tratamento dos itens, de maneira de reaproveitamento para a reciclagem e
análoga ao proposto por Silva, Ganga e do tempo para a degradação de cada um
Junqueira em seu artigo: “Como determinar desses materiais no meio ambiente. Devido

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artigo selecionado
a dificuldades de qualificação de alguns dos L1, constante do ANEXO A, conforme o mo-
itens constantes de Lzero, 12 deles precisa- delo exemplificado pela Tabela 1.
ram ser eliminados, pois teriam dados incom- Fase 2: Durante essa fase, após ter sido
pletos que poderiam dificultar ou, mesmo, elaborada a lista de itens a serem trabalhados
comprometer a pesquisa. com a quantidade necessária de informações
Como conclusão dessa primeira fase da referentes aos listados em L1, foi aplicada a
pesquisa, obteve-se uma tabela nomeada de teoria de Pareto, através de uma classificação

Figura 3: Ilustração esquemática do procedimento de pesquisa

Fonte: Elaboração própria.

Tabela 1: Levantamento de dados dos principais itens de suprimento para a análise posterior
Preço do Tempo de
Percentual de Dano ambiental
ITEM QT. ANO (KG) RESÍDUOS resíduo no decomposição no
aproveitamento estimado
mercado meio (anos)
AÇÚCAR 509.540,00 Plástico 0,10% R$ 0,30 100 50954
AGULHAS DESCARTÁVEIS 3.842,63 Metal 50,00% R$ 5,00 200 384263
ARRUELA 38,5 Metal 50,00% R$ 5,00 200 3850
Fonte: Elaboração própria, com dados obtidos do SINGRA e das fontes citadas no texto.
Observações: Os valores de percentual de aproveitamento foram extraídos da revista Desafios do Desenvolvimento, ano 9, edição 72, p.47, e, posteriormente, serão ratificados pelos questionários
aplicados. Os preços da matéria-prima pós-consumo foram retirados da Secretaria de estado da Fazenda do Rio de Janeiro. O tempo de degradação de cada material no meio ambiente foi retirado do sítio
na internet www.lixo.com.br (acessado em 18 de setembro de 2015), cuja compilação de material é fruto de diversas fontes, como a COMLURB, a UNICEF e outras.

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artigo selecionado

ABC, para apontar, entre os itens de L1, aque- sistema, para verificar a existência de impe-
les que causam um maior impacto ambiental dimentos ou restrições a alguns ou a todos os
ao serem incorretamente descartados. itens constantes da lista. Segundo o método
Para isso, foi utilizado o valor da coluna empregado pelo questionário, ainda se pôde
“Dano Ambiental Estimado”, que é o resultado observar itens que apresentam fácil aderência
da multiplicação da quantidade de maté- e que podem vir a facilitar a operação de
ria-prima descartada em KG pelo tempo em uma eventual CLR.
anos para a sua desintegração pela natureza. Assim, foi elaborado um questionário de
Essa classificação gerou uma nova lista L2 em perguntas voltadas para o consumo e o des-
que se encontrarão relacionados os itens de carte de cada um dos itens constantes da L4
L1 que foram classificados como tipo “A” ou e, por meio desse questionário, foram obtidas
“B”, de acordo com a lei de Pareto, em rela- informações qualitativas, observando-se uma
ção ao potencial de danos ao meio ambiente escala de 1 a 5, conforme o exemplo de per-
causados com o seu descarte de maneira gunta da figura 4.
inadequada. As respostas tiveram suas médias classifi-
Da mesma forma, foi aplicada uma nova cadas em: Q1, restrições impeditivas, quan-
classificação em L1 de acordo com o valor da do a média das respostas for menor que 2;
coluna “Valor Financeiro Descartado”, que é o Q2, Restrições a serem contornadas, quando
resultado da multiplicação do peso da maté- a média das respostas for entre 2 e 4; Q3,
ria-prima descartada pelo seu valor médio de observações positivas, quando a média das
mercado. Essa classificação gerou a lista L3, respostas for maior que 4.
na qual se encontram os itens de L1 classifica- Após a aplicação dos questionários, via
dos como classe “A” e “B”, de acordo com a correio eletrônico para diversos agentes em
lei de Pareto, em relação ao valor financeiro várias OM, e também pessoalmente, foram
de suas matérias-primas pós-consumo. obtidas 123 (cento e vinte e três) respostas.
A intercessão dos itens de melhor classifi- Com relação ao processo de amostragem da
cação nas listas L2 e L3 formou a relação L4, população pretendida, os questionários foram
que lista, em ordem de prioridade, conside- aplicados em um grupo selecionado qualitati-
rando-se apenas as informações quantitativas, vamente pelo autor apenas, ou seja, não terá
quais seriam os itens em que se alcançariam, efeito estatístico de amostragem apesar de o
com a operação da CLR, os maiores retornos número de entrevistados ter sido significativa-
ambientais e financeiros. mente grande e diversificado tanto geografica-
Fase 3: Nessa última fase da pesquisa, mente (diversas OM) quanto no que se refere
após ter conhecimento dos itens constantes a graduações e funções exercidas.
da L4, partiu-se para a fase de questionários Dessa forma, foram eliminados da L4 os
e entrevistas com agentes de ambas as partes itens que obtiveram restrições impeditivas,
do SAbM, ou seja, clientes e operadores do gerando, após estas exclusões, outra lista

Figura 4 – Ilustração do modelo de questionário aplicado.


1) A Sua OM poderia separar e devolver ao fornecedor (SAbM) 50% de todo o Papel tipo “ A4” consumido em um ano?
1( ) Muito Fácil 2( ) Fácil 3( ) Médio 4( ) Difícil 5( ) Muito Difícil 0( ) Não se aplica
Observação:
Fonte: Elaboração própria, após os resultados da FASE 2 e da análise de dados (L4).

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artigo selecionado
chamada de L5 que se responde à pergunta encontraram-se diferenças de composição.
de pesquisa sobre a existência de itens em Por exemplo: o item “Sapato Preto Masculino
que pode se operar uma CLR com alto grau TAM. 37” não tem o mesmo peso do item
de preservação ambiental e algum retorno “Sapato Preto M. TAM. 44”, mas ambos fo-
financeiro oriundo de sua venda. ram agrupados como sendo componentes de
Da lista L5, foram retirados os itens com um único item em que se levou em conside-
restrições do tipo Q2 e mantidos apenas os ração o peso médio de todos os itens com a
itens do tipo Q3, chegando-se, assim, à lis- nomenclatura “Sapato Preto”.
ta L6 que responde a segunda pergunta de Outra dificuldade encontrada foi que
pesquisa, apontando os melhores itens em que alguns itens possuem composição diversifi-
se pode operar uma CLR com os menores im- cada com vários tipos de matérias-primas
pactos de mudança ou custos de investimento. reaproveitáveis, como o item “Elemento Filtro”,
composto por papelão, borracha e, algumas
4. ANÁLISE DE DADOS vezes, por metais. Nesses itens, apenas se
Tendo sido concluída a primeira fase da considerou uma de suas matérias-primas, a
pesquisa que se propôs a listar os principais predominante em todos os grupos, que, nesse
itens em termos de movimentações de cada caso, foi o papelão.
gerência do CCIM com base no movimento Uma série de medições, consultas a ca-
do ano de 2014 apenas, cabe ressaltar que tálogos do banco de dados do SINGRA,
os itens das gerências de Munição e CLG médias, pesagens e arredondamentos foram
(Combustíveis Lubrificantes e Graxas) não pu- feitos para se chegar aos dados da forma que
deram ser trabalhados nesta pesquisa devido ficaram dispostos na tabela L1, constante do
ao grau de sigilo conferido aos seus dados. “ANEXO A”, com um percentual de erros pe-
Algumas dificuldades para se fazer a correta queno que não viessem a comprometer os re-
seleção de itens foram encontradas, pois, mui- sultados apontados pela pesquisa. Para isso,
tos deles, principalmente os de sobressalentes, também foi utilizado, na coluna de percentual
são, apesar de semelhantes, fisicamente muito de aproveitamento do item, sempre um valor
diferentes na prática. Na tarefa de agrupar os não superior a cinquenta por cento, de modo
itens por semelhança de nomenclatura, tama- que não fiquem os usuários do material com
nho, matéria-prima, etc., algumas simplifica- uma taxa de reaproveitamento acima da real
ções precisaram ser feitas para poder realizar a capacidade de realização.
análise. Como exemplo, pode ser citado o item Assim sendo, por exemplo, o item “Papel
“Parafuso” que possui 1.893 P.I. (números de A4”, mesmo sabendo que seria possível reci-
estoque) diferentes com a mesma nomenclatu- clar um valor maior que os 50% fornecidos,
ra, sendo, entre eles, encontrados tipos de ma- não se pretendeu, com esta pesquisa, colocar
téria-prima e dimensões diferenciadas. Assim, um percentual superior a esse, por acreditar
muitos itens, apesar de ter outras nomenclatu- que esse resultado não será facilmente alcan-
ras, porém as mesmas dimensões e a mesma çado em um primeiro momento. Em outros
composição que os “Parafusos”, tiveram que itens, como o “Detergente 500Ml”, verificou-
ser descartados de maneira que fosse possível -se que apenas a sua embalagem poderia ser
agrupar por tipo de item para se mensurarem facilmente reciclada, e, assim, como o peso
seus dados e, posteriormente, classificá-los. da embalagem (16,5 gramas) corresponde
Até mesmo nos grupos em que foi a apenas 3,12% do total do peso do pro-
possível organizar por itens semelhantes, duto, verificado no laboratório, pelo mesmo

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artigo selecionado

princípio do exemplo anterior, dos 50% de pesquisa com a classificação ABC pelo prin-
reaproveitamento, foi considerado apenas cípio da análise de Pareto, de acordo com a
1,5% como taxa de reaproveitamento de tal coluna “Dano Ambiental”.
item. Esse princípio foi aplicado a diversos Essa coluna é representada por um valor
itens da tabela. numérico resultado da multiplicação do peso
Listados, então, todos os 48 (quarenta e total dos itens fornecidos pelo percentual de
oito) itens ou grupos de itens apontados pelas reaproveitamento e também pelo número de
gerências de material do CCIM para serem anos que esse item leva para se decompor no
avaliados, após o levantamento de dados meio ambiente. O valor numérico aqui tratado
mencionado anteriormente para a formação é meramente um valor escalar, não se trata
da listagem L1, iniciou-se a segunda fase da de valores financeiros ou mesmo ambientais.

Tabela 2: Classificação segundo danos ambientais causados pelo descarte - L2


Percentual de Tempo de
Dano ambiental
ITEM QT. ANO (KG) RESÍDUOS aproveita- decomposição Classificação ABC
estimado
mento no meio
ÓLEO DE SOJA 170.424,00 Óleo 50,00% 10000 852.120.000,00 A
LUVAS CIRÚRGICAS 18.404,70 Borracha 50,00% 10000 92.023.500,00 A
SAPATO PRETO 29.367,54 Borracha 30,00% 10000 88.102.620,00 A
COPO PLÁSTICO 200ML 27.544,05 Plástico 50,00% 100 1.377.202,50 A
CANETA ESFEROGRÁFICA 4.326,68 Plástico 40,00% 450 778.802,40 A
LÂMPADA INCANDESCENTE 128,62 Eletrônico 50,00% 10000 643.100,00 A
LÂMPADA FLUORESCENTE 125,15 Eletrônico 50,00% 10000 625.750,00 A
SERINGAS 11.286,59 Plástico 50,00% 100 564.329,50 A
DESINFETANTE LÍQ. 5L 75.173,52 Plástico 1,50% 450 507.421,26 B
AGULHAS DESCARTÁVEIS 3.842,63 Metal 50,00% 200 384.263,00 B
JUNTA 112,62 Borracha 30,00% 10000 337.860,00 B
DETERGENTE LÍQ. 24 UN 500 ML 47.376,00 Plástico 1,50% 450 319.788,00 B
SORO FISIOLÓGICO 150.524,12 Plástico 1,50% 100 225.786,18 B
FIVELA PARA CINTO 988,29 Metal 50,00% 200 98.829,00 B
PAPEL FORMATO A4 353.424,40 Papel 50,00% 0,5 88.356,10 B
COXA DE FRANGO 724.806,71 Plástico 0,10% 100 72.480,67 B
FILÉ DE PEITO DE FRANGO 658.735,87 Plástico 0,10% 100 65.873,59 B
AÇÚCAR 509.540,00 Plástico 0,10% 100 50.954,00 B
FEIJÃO 375.300,00 Plástico 0,10% 100 37.530,00 B
FUSÍVEL 5,51 Eletrônico 50,00% 10000 27.550,00 B
PANO PARA LIMPEZA 53.550,00 Tecido 50,00% 1 26.775,00 B
Fonte: Elaboração própria, com dados obtidos do SINGRA e das fontes citadas no texto.

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artigo selecionado
Tabela 3: Classificação segundo valor de venda de resíduos descartados – L3
Percentual Preço do Valor
ITEM QT. ANO (KG) RESÍDUOS de aprovei- resíduo no financeiro Classificação ABC
tamento mercado descartado
ÓLEO DE SOJA 170.424,00 Óleo 50,00% R$ 0,30 R$ 25.564 A
PAPEL FORMATO A4 353.424,40 Papel 50,00% R$ 0,12 R$ 21.205 A
AGULHAS DESCARTÁVEIS 3.842,63 Metal 50,00% R$ 5,00 R$ 9.607 A
LUVAS CIRÚRGICAS 18.404,70 Borracha 50,00% R$ 0,60 R$ 5.521 A
SAPATO PRETO 29.367,54 Borracha 30,00% R$ 0,60 R$ 5.286 A
COPO PLÁSTICO 200ML 27.544,05 Plástico 50,00% R$ 0,30 R$ 4.132 A
PANO PARA LIMPEZA 53.550,00 Tecido 50,00% R$ 0,15 R$ 4.016 A
CALÇA CAMUFLADA 11.605,15 Sintético 50,00% R$ 0,45 R$ 2.611 B
FIVELA PARA CINTO 988,29 Metal 50,00% R$ 5,00 R$ 2.471 B
TOUCA CIRÚRGICA 29.556,30 Algodão 50,00% R$ 0,15 R$ 2.217 B
COMPRESSA DE GAZE 26.993,50 Algodão 50,00% R$ 0,15 R$ 2.025 B
SERINGAS 11.286,59 Plástico 50,00% R$ 0,30 R$ 1.693 B
CAMISETA BRANCA M/M 12.840,36 Algodão 50,00% R$ 0,15 R$ 963 B
CALÇÃO AZUL GINÁSTICA PR 3.558,05 Sintético 50,00% R$ 0,45 R$ 801 B
DESINFETANTE LÍQ. 5L 75.173,52 Plástico 1,50% R$ 0,70 R$ 789 B
SORO FISIOLÓGICO 150.524,12 Plástico 1,50% R$ 0,30 R$ 677 B
CANETA ESFEROGRÁFICA 4.326,68 Plástico 40,00% R$ 0,35 R$ 606 B
TOALHA DE BANHO 7.278,80 Algodão 50,00% R$ 0,15 R$ 546 B
DETERGENTE LÍQ. 24 UN 500 ML 47.376,00 Plástico 1,50% R$ 0,70 R$ 497 B
MEIA PRETA 1.475,50 Sintético 50,00% R$ 0,45 R$ 332 B
CAMISETA BRANCA GINÁSTICA 4.403,36 Algodão 50,00% R$ 0,15 R$ 330 B
PARAFUSO 103,72 Metal 50,00% R$ 5,00 R$ 259 B
Fonte: Elaboração própria, com dados obtidos do SINGRA e das fontes citadas no texto.

Feita essa classificação, chegou-se à lista L2 da classificação em L3, será levado em con-
na qual são encontrados os itens listados na sideração o valor da coluna “Valor Financeiro
Tabela 2, que são os classificados como de Descartado”, que é o resultado da multiplicação
classe “A” e “B”, de acordo com o método de entre o peso total de itens fornecidos pelo per-
classificação ABC, segundo a coluna “dano centual de aproveitamento e o valor financeiro
ambiental”. do Kg da matéria-prima no mercado de sucatas.
Da mesma forma como se fez a L2 a partir Feita essa classificação, chegou-se à lista
da L1, será feita a L3 a partir da mesma rela- L3 na qual são encontrados os itens classifi-
ção L1. Contudo, agora, para a confecção cados como sendo das classes “A” ou “B”,

ACANTO EM REVISTA 23
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artigo selecionado

segundo o método da classificação ABC. se enquadraram como sendo de execução im-


Na Tabela 3, podem-se observar os itens de peditiva (Q1), gerando-se a nova relação L5
classe “A” e “B” do resultado encontrado em com os itens em que a SAbM poderia operar
L3. Nota-se que em ambas as tabelas existem uma cadeia logística reversa.
itens que compõem apenas uma das duas ta- Dessa forma, os itens “Óleo de SOJA”,
belas, tais itens serão posteriormente retirados “Copo Plástico 200ml”, “Papel tipo A4”, “Soro
para compor a lista L4: Fisiológico” e “Detergente Líquido 500ml” são
Na Tabela 4, encontram-se os itens que os que irão compor a relação L6, como sendo
compõem a L4, como sendo os 15 (quinze) aqueles em que, por terem sido enquadrados
itens que figuraram na interseção entre o pelos respondentes da pesquisa como de fácil
resultado da L2 nas classes A e B com os execução (Q3), seria possível, de imediato, a
itens da L3, da mesma forma, nas suas operacionalização da CLR sem a necessidade
classes A e B. de grandes adaptações ou mudanças de pro-
Com o conhecimento dos itens de L4, cedimentos ou estruturas.
iniciou-se a fase de questionários, cujas res- De modo a facilitar a visualização, a tabela
postas classificaram cada um dos 15 itens 5 mostra de maneira separada os itens agru-
em Q1, Q2 ou Q3. A partir dessa classifi- pados nas listas que irão compor o resultado
cação, foram eliminados de L4 os itens que da metodologia empregada pela pesquisa.

Tabela 4: Compilação da L4 com os resultados dos questionários da fase 3.


Classificação L2 Classificação L3
Restrições após
ITEM QT. ANO (KG) RESÍDUOS (classe e Nº de (classe e Nº de
questionários
ordem) ordem)
ÓLEO DE SOJA 170.424,00 Óleo A A Q3
LUVAS CIRÚRGICAS 18.404,70 Borracha A A Q1
SAPATO PRETO 29.367,54 Borracha A A Q2
COPO PLÁSTICO 200ML 27.544,05 Plástico A A Q3
AGULHAS DESCARTÁVEIS 3.842,63 Metal B A Q1
PAPEL FORMATO A4 353.424,40 Papel B A Q3
SERINGAS 11.286,59 Plástico A B Q1
CANETA ESFEROGRÁFICA 4.326,68 Plástico A B Q2
FIVELA PARA CINTO 988,29 Metal B B Q2
DESINFETANTE LÍQ. 5L 75.173,52 Plástico B B Q2
PANO PARA LIMPEZA 53.550,00 Tecido B B Q2
SORO FISIOLÓGICO 150.524,12 Plástico B B Q3
DETERGENTE LÍQ. 24 UN 500 ML 47.376,00 Plástico B B Q3
CALÇA CAMUFLADA 11.605,15 Sintético B A Q2
COXA DE FRANGO 724.806,71 Plástico B B Q2
Fonte: Elaboração própria, com dados obtidos dos quadros 2 e 3 e dos resultados de questionários aplicados.

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artigo selecionado
Tabela 5 – Itens agrupados pelos grupos de respostas após o questionário aplicado.
L4 – Itens com resultado Q1, restrições L5 – Itens com resultado Q2, com L6 – Itens com resultado Q3, com fácil
impeditivas ou de difícil execução restrições na execução a serem transpostas execução e ideais para implementação
imediata
AGULHAS DESCARTÁVEIS SAPATO PRETO ÓLEO DE SOJA
LUVAS CIRÚRGICAS CANETA ESFEROGRÁFICA COPO PLÁSTICO 200ML
SERINGAS FIVELA PARA CINTO PAPEL FORMATO A4
DESINFETANTE LÍQ. 5L SORO FISIOLÓGICO
PANO PARA LIMPEZA DETERGENTE LÍQ. 24 UN 500 ML
CALÇA CAMUFLADA
COXA DE FRANGO
Fonte: Elaboração própria, após os resultados da Fase 3 (questionários) nos itens de L4.

5 CONCLUSÃO de custo da operação da cadeia reversa de


Após toda a exposição de ideias e da cada item, apesar de se saber que algum
aplicação de uma metodologia própria de investimento inicial deve ser feito para a ope-
ração da CLR de qualquer item na MB.
pesquisa investigativa, pôde-se facilmente ve-
Além das restrições acerca dos dados já
rificar que a LR, tema principal deste estudo,
mencionadas, como os arredondamentos
é uma evolução da logística convencional
e os possíveis erros de medição e outros,
que tende a se mostrar cada vez menos utó-
a pesquisa usou como base para a análise
pica ou idealista e cada vez mais necessária
apenas os dados do consumo no ano de
dentro das instituições no mercado do mundo
2014, podendo ser expandida para uma
onde vivemos.
série temporal maior, a fim de assegurar resul-
Devido à enorme abrangência do tema
tados mais apurados.
LR, alguns recortes ou restrições foram feitos
Tendo em vista a metodologia empregada
e poderão servir como ponto de partida para
para apontar as respostas desta pesquisa,
pesquisas futuras acerca dessa temática. pôde-se concluir que o estudo aponta que, se
Assim, o estudo em questão se restringiu à a MB vier a operar uma CLR para itens de
aplicação de LR nos IPC, deixando em aberto fornecimento do SAbM, os itens com os quais
suas aplicações para os IPV. A área geográfi- essa operação terá resultados mais expressi-
ca levada em consideração foi apenas a área vos, empregando para tal o menor esforço ou
da cidade do Rio de Janeiro e sua região mudança nas estruturas e nos procedimentos
metropolitana, deixando-se de lado outras hoje vigentes, são os itens componente da L6.
áreas de atuação das OM da MB. Não se Dessa forma, esta pesquisa sugere que,
pôde igualmente abordar os aspectos legais se a MB optar por instalar na atual estrutura
a respeito do tema, sobre a alienação de su- do SAbM uma CLR para alguns de seus itens
cata por uma OM da MB ou por outro órgão de fornecimento, os materiais em que essa
público, e suas peculiaridades no campo das operação alcançará, com um menor nível de
licitações públicas e das normas. Também não investimento, resultados ambientais e econômi-
foi possível fazer detalhadamente um estudo cos mais expressivos são: o óleo de cozinha

ACANTO EM REVISTA 25
E M R E V I S TA
artigo selecionado

após seu consumo; as embalagens plásticas fardamento, subsistência, etc.), bem como
de detergentes, soro fisiológico e outros itens uma análise do custo/benefício da operação
que as utilizem; celulose oriunda de papel tipo da CLR para cada item ou classe de itens.
A4 picotado; e o plástico oriundo de copos Dessa forma, longe de um esgotamento do
descartáveis. tema sobre LR na MB, ou mesmo no SAbM,
Além disso, é importante frisar que os nú- este estudo não somente apontou uma relação
meros apresentados representam apenas uma de itens pelos quais se pode iniciar a operação
fração dos reais resultados que podem ser de uma CLR com resultados significativos mas
obtidos com a operação de uma CLR, pois, também indicou outra relação de assuntos para
como outra limitação da pesquisa, a CLR a decisões ou pesquisas futuras acerca do tema de
ser montada para, por exemplo, receber resí- LR. Essas discussões e ideias contribuirão para
duos do item “Papel tipo A4” também poderá o surgimento de mudanças, à luz dos temas de
atender a outros itens que tenham a celulose preservação do meio ambiente e da sustenta-
de papel branco como um de seus resíduos, bilidade, no conceito de eficiência que hoje é
mas que não foram levados em consideração utilizado no cotidiano das nossas atividades.
devido ao volume menor de movimentações
como o item “Papel Ofício”. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Outro caso a ser mencionado no que se ALVAREZ, Albino Rodrigues. O perma-
refere à existência de um volume maior de ou- nente desafio do lixo. Revista Desafios do
tro resíduo produzido por um item em estudo Desenvolvimento, Brasília, IPEA, ano 9, n. 72,
é o do item “Óleo de Soja” que produz, além p.47, 2012.
do óleo, o resíduo plástico oriundo de suas BERGAMASCO, C. A riqueza dos Reciclados.
embalagens, similar ao do item “Detergente Pequenas Empresas Grandes Negócios. São
500Ml”; que não foi considerado para efeito Paulo: Número avulso, Editora Globo, 2003.
desta pesquisa. BRASIL. Lei número 12.305, de 02 de agosto
Os demais itens componentes de L5, mas de 2010. Esta lei instituiu a Política Nacional
não componentes de L6, itens em sua maioria de Resíduos Sólidos. Diário Oficial da
de fardamento e material comum, são aque- República Federativa do Brasil, Brasília, DF,
les que, apesar de possuírem um potencial P.03 de 03 de agosto de 2010.
alto de degradação ambiental e algum valor BRASIL. Marinha do Brasil. Secretaria Geral
econômico no mercado de sucatas, possuem, da Marinha. Normas para o Abastecimento
por motivos que estão além do alcance desta na Marinha SGM-201, 6. rev., Brasília, DF,
pesquisa, alguma restrição para a operação 2009.
da CLR pelo SAbM em um primeiro momento. COUNCIL OF LOGISTICS MANAGEMENT.
Contudo, esses itens, sem dúvidas, podem ser Normas. Disponível em: <www.clml.org>
melhor explorados por futuras pesquisas e tam- Acesso em: 11 set. 2015.
bém poderão ser operacionalizados após al- GARCIA, Manoel Garcia. Logística Reversa:
gumas modificações de procedimentos ou de uma alternativa para reduzir custos e criar va-
estruturas necessárias ao seu funcionamento. lor. UNIP, XIII SIMPEP, São Paulo, 2006.
Para futuras pesquisas sobre o tema, suge- LEITE, Paulo Roberto. Logística Reversa: meio
re-se a réplica da aplicação deste estudo de ambiente e competitividade. São Paulo:
forma mais aprofundada e menos generalista Pertince Hall, 2003.
em, por exemplo, cada classe de item sepa- MACHADO, P. G. S.; LEONEL, J. N.
radamente (sobressalentes, material comum, Práticas de reciclagem de resíduos têxteis:

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artigo selecionado
uma contribuição para a gestão ambiental produção a partir da lei de Pareto. Publicado
no Brasil. Publicado por Competência, Porto no XXIV Encontro Nacional de Engenharia de
Alegre, RS, v.7, n.1, p. 129-145, 2014. Produção, Florianópolis, SC, Brasil, 2004.
ROGERS, D. S.; TIBBEN-LEMBKE, Ronald S. VALLE, Roberto; SOUZA, Ricardo Gabbay de.
Going backwards: reverse logistics practices Logística reversa processo a processo. São
and trends. Reno, Nevada: Reverse Logistics Paulo: Atlas, 2013.
Executive Council, 1998. WCED (World Comission on Environment and
SLACK, N.; et al. Administração da produção. Development). Our Common Future (Re- port).
São Paulo: Atlas, 1999. United Nations, Abril 1987. Disponível em:
SILVA, A. L.; GANGA, G. M. D.; JUNQUEIRA, <www.un-documents.net/our-commun-future.
R. P. Como determinar sistemas de controle da pdf>. Acessado em: 15 out. 2015.

Anexo A: Dados relativos à pesquisa realizada nos principais itens de movimentação do SAbM.
Percentual Preço do Tempo de
Dano ambiental
ITEM QT. ANO (KG) RESÍDUOS de aproveita- resíduo no decomposição
estimado
mento mercado no meio (anos)
AÇÚCAR 509.540,00 Plástico 0,10% R$ 0,30 100 50954
AGULHAS DESCARTÁVEIS 3.842,63 Metal 50,00% R$ 5,00 200 384263
ARRUELA 38,5 Metal 50,00% R$ 5,00 200 3850
BISCOITO CREAM CRACKER 65.422,00 Plástico 0,10% R$ 0,30 100 6542
CALÇA CAMUFLADA 11.605,15 Sintético 50,00% R$ 0,45 3 17408
CALÇAO AZUL GINÁSTICA PR 3.558,05 Sintético 50,00% R$ 0,45 3 5337
CAMISETA BRANCA GINÁSTICA 4.403,36 Algodão 50,00% R$ 0,15 1 2202
CAMISETA BRANCA M/M 12.840,36 Algodão 50,00% R$ 0,15 1 6420
CANETA ESFEROGRÁFICA 4.326,68 Plástico 40,00% R$ 0,35 450 778802
COMPRESSA DE GAZE 26.993,50 Algodão 50,00% R$ 0,15 1 13497
COPO PLÁSTICO 200ML 27.544,05 Plástico 50,00% R$ 0,30 100 1377203
COXA DE FRANGO 724.806,71 Plástico 0,10% R$ 0,30 100 72481
DESINFETANTE LIQ. 5L 75.173,52 Plástico 1,50% R$ 0,70 450 507421
DETERGENTE LÍQ. 24 UN 500 ML 47.376,00 Plástico 1,50% R$ 0,70 450 319788
DICLOFENACO 1.364,07 Papelão 10,00% R$ 0,33 0,5 68
DIPIRONA 5.195,84 Papelão 10,00% R$ 0,33 0,5 260
ELEMENTO FILTRO 360,2 Papelão 30,00% R$ 0,33 0,5 54
EXTRATO DE TOMATE 133.102,80 Plástico 0,10% R$ 0,30 100 13310
FARINHA 104.020,00 Plástico 0,10% R$ 0,30 100 10402
FEIJÃO 375.300,00 Plástico 0,10% R$ 0,30 100 37530
FILÉ DE PEITO DE FRANGO 658.735,87 Plástico 0,10% R$ 0,30 100 65874
CONTINUA >>

ACANTO EM REVISTA 27
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artigo selecionado

Anexo A: Dados relativos à pesquisa realizada nos principais itens de movimentação do SAbM.
FIVELA PARA CINTO 988,29 Metal 50,00% R$ 5,00 200 98829
FUSÍVEL 5,51 Eletrônico 50,00% R$ 1,20 10000 27550
ILHÓS BORRACHA 4,44 Borracha 50,00% R$ 0,60 10000 22200
INSIGNIA BRAÇO AZUL-FERR 145,57 Algodão 50,00% R$ 0,15 1 73
JUNTA 112,62 Borracha 30,00% R$ 0,60 10000 337860
LÂMPADA FLUORESCENTE 124,15 Eletrônico 50,00% R$ 1,20 10000 620750
LÂMPADA INCANDESCENTE 128,62 Eletrônico 50,00% R$ 1,20 10000 643100
LEITE EM PÓ 215.120,00 Plástico 0,10% R$ 0,30 100 21512
LUVAS CIRÚRGICAS 18.404,70 Borracha 50,00% R$ 0,60 10000 92023500
MÁSCARA CIRÚRGICA 2.896,51 Algodão 50,00% R$ 0,15 1 1448
MEIA BRANCA ALGODÃO 2.352,36 Algodão 50,00% R$ 0,15 1 1176
MEIA PRETA 1.475,50 Sintético 50,00% R$ 0,45 3 2213
ÓLEO DE SOJA 170.424,00 Óleo 50,00% R$ 0,30 10000 852120000
OMEPRAZOL 969,89 Papelão 10,00% R$ 0,33 0,5 48
PANO PARA LIMPEZA 53.550,00 Tecido 50,00% R$ 0,15 1 26775
PAPEL FORMATO A4 353.424,40 Papel 50,00% R$ 0,12 0,5 88356
PAPEL HIGIÊNICO 33.460,00 Papelão 0,10% R$ 0,30 0,5 17
PARAFUSO 103,72 Metal 50,00% R$ 5,00 200 10372
PORCA 25,85 Metal 50,00% R$ 5,00 200 2585
REBITE 3,69 Metal 50,00% R$ 5,00 200 369
SACO PARA LIXO DE 30 L 1.657,00 Plástico 0,10% R$ 0,30 100 166
SAL 67.050,00 Plástico 0,10% R$ 0,30 100 6705
SAPATO PRETO 29.367,54 Borracha 30,00% R$ 0,60 10000 88102620
SERINGAS 11.286,59 Plástico 50,00% R$ 0,30 100 564330
SORO FISIOLÓGICO 150.524,12 Plástico 1,50% R$ 0,30 100 225786
TOALHA DE BANHO 7.278,80 Algodão 50,00% R$ 0,15 1 3639
TOUCA CIRÚRGICA 29.556,30 Algodão 50,00% R$ 0,15 1 14778
Fonte: Elaboração própria, com dados obtidos do SINGRA e das fontes citadas no texto.

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artigo selecionado
Autoria: Capitão-Tenente (Intendente
da Marinha) Diogo Cabral de Almeida
Orientador: Capitão de Mar e
Guerra (RM1-Intendente da Marinha)
Jean Marc Costa – CIANB
Coorientador: Capitão-Tenente
(Intendente da Marinha) Thadeu da
Costa Gigante – CCIM

FORNECIMENTO DE ITENS DE
FARDAMENTO NA MARINHA DO
BRASIL POR INTERMÉDIO DO
E-COMMERCE B2C: ANÁLISE DE
PARÂMETROS – TEMPO, CUSTO
DE TRANSPORTE E DESEMPENHO
– PARA A CONTRATAÇÃO DE UM
OPERADOR LOGÍSTICO
Resumo: A Marinha do Brasil tem buscado adaptar-se às práticas inovadoras do mercado empresarial, sendo uma delas o e-commerce. Para isso, é
necessária uma estrutura logística bem elaborada, a fim de que o atendimento ao cliente-militar alcance um bom nível de serviço a ser estabelecido
como ideal pelo Sistema de Abastecimento da Marinha (SAbM). Essa estrutura envolve desde o pedido via intranet até a entrega do material dese-
jado ao consumidor. Dessa forma, este artigo objetiva esclarecer os conceitos envolvidos nesse tipo de comércio, bem como analisar parâmetros que
influenciam diretamente na contratação de um operador logístico com o intuito de realizar o transporte de uniformes adquiridos on-line na MB, a
partir do modelo proposto por Pastore (2010).
Palavras-chave: Fardamento; E-commerce; Marinha do Brasil; Parâmetros; Operador Logístico.

ACANTO EM REVISTA 29
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artigo selecionado

INTRODUÇÃO forma, propôs-se um modelo de e-commerce


A Marinha do Brasil (MB) sempre se mos- baseado nas práticas de mercado adapta-
trou uma Força atualizada em relação ao das à Administração Pública Federal.
cenário logístico nacional e mundial, bus- Além disso, destacou-se que, para a
cando novos conceitos e adaptações dos aplicação dessa prática de venda online,
processos por ela executados ao que existe é necessário adaptar, às práticas de merca-
de mais moderno no campo empresarial. O do, a atual sistemática, que, segundo Brasil
alto nível de serviço e qualidade são premis- (2015), historicamente é alvo de muitas
sas básicas do Sistema de Abastecimento críticas e insatisfação por parte dos clientes
de Marinha (SAbM), aparato logístico que do SabM, e estima-se haver um amplo con-
administra e movimenta todos os materiais senso quanto à pouca eficácia e eficiência
imprescindíveis às rotinas (em paz ou em do modelo, visto que não foi realizada pes-
guerra) de tal Força (meios navais e pes- quisa de opinião ou estudo voltado para a
soal), como: sobressalentes; materiais de medição do nível de satisfação dos clientes.
suprimentos de intendência; saúde; material Destarte, dentro das necessidades de
eletrônico; gêneros e fardamento. adequações da forma com que se opera
Entre esses materiais, destaca-se o farda- hoje a venda tradicional de uniformes na
mento, que possui uma estrutura gerencial MB para uma venda alternativa on-line, des-
bem similar à de um mercado de varejo. taca-se a alusiva ao transporte e entrega do
Os processos de compra, armazenagem e material ao cliente, que para sua realização
distribuição de uniformes aos militares estão necessita da contratação de um prestador
fundamentadas na disponibilização desses de serviço logístico. Logo, o objetivo geral
itens em estabelecimentos próprios (peque- deste trabalho é analisar parâmetros que
nas lojas), chamados Postos de Distribuição fundamentem a contratação de um operador
ou de Encomenda de Uniformes (PDU/PEU), logístico apropriado ao fornecimento de
que os repassam aos seus clientes, mediante itens de fardamento por intermédio do co-
sistemas específicos de compra/venda e em mércio eletrônico.
locais exclusivos. Para tal, foi feita uma análise, objetivan-
Pastore (2010) aponta dois pontos re- do, especificamente, três parâmetros conside-
levantes quanto a este tipo de material: a rados relevantes perante o contexto prático
necessidade de o militar fazer uso de uni- do e-commerce e os conceitos apresentados
formes, seja nas rotinas administrativas, seja nas bibliografias: o tempo, no que se refere
nas operativas; e a disponibilidade dos aos prazos de entrega; o custo de transporte
mesmos para pronta entrega dentro de um quanto ao critério para a seleção das empre-
padrão de qualidade, tendo sido fruto de sas; e a medição do desempenho como con-
processos que agregaram valor aos bens, trole ao longo da avença e como ferramenta
cujo uso é diário. de Acordos de Níveis de Serviço (ANS).
Diante dessas características, constatou-se A seguir, serão demonstrados a metodolo-
a existência de um cenário favorável à ado- gia aplicada no estudo, os conceitos biblio-
ção do e-commerce (comércio eletrônico) na gráficos fundamentais para a compreensão
MB, principalmente ao relacionar os dois da análise dos parâmetros a ser realizada
aspectos acima mencionados com números e, por fim, uma conclusão, ressaltando a
bastante significativos, como seu efetivo: relevância dos mesmos e contendo sugestão
cerca de 70.000 clientes (militares). Dessa para pesquisas futuras.

30 ACANTO EM REVISTA
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artigo selecionado
METODOLOGIA últimas décadas. As pessoas estão inseridas
O presente estudo foi conduzido com base numa comunidade global de fácil e rápido
na metodologia proposta por Vergara (2013), se- acesso às informações.
gundo esta, a pesquisa é classificada quanto aos No mundo dos negócios, a partir de
meios. Ainda de acordo com Lakatos e Marconi 1994, as possibilidades de negócios na
(1991), para a obtenção de dados podem ser Web (teia, em inglês) foram plenamente
utilizados três procedimentos, que foram adotados percebidas pelos agentes econômicos,
nessa pesquisa: pesquisa bibliográfica; documen- iniciando, assim, uma nova fase de cunho
tal; e contatos diretos ou pesquisa de campo. nitidamente comercial.
Dessa forma, a pesquisa foi considerada Entre as literaturas pesquisadas, destaca-
bibliográfica por ter vislumbrado a necessida- -se o conceito citado por Freire (2005 apud
de de realização de uma revisão literária so- Pastore, 2010) que afirma ser o comércio
bre os seguintes temas: Comércio eletrônico; eletrônico um modo de realizar compras e
Prestadores de serviços logísticos; Desafios vendas de produtos e serviços por consumi-
do comércio eletrônico; Tempo do Ciclo do dores ou companhias através de transações
Pedido; Custos de transporte; e Medição de eletrônicas. De forma mais completa, en-
desempenho. Além disso, ela foi considerada globando toda a Cadeia de Suprimentos,
documental pela análise realizada, que con- conceitua-se:
tou com dados coletados a partir de publica-
CE, ou e-commerce, é a realização de
ções normativas da Força e documento como
toda a cadeia de valor dos processos de
ofício, emitido internamente na MB.
negócios em um ambiente eletrônico, por
Por fim, caracterizou-se como uma pesqui-
meio da aplicação intensa de tecnologias
sa de campo por ter sido o estudo baseado
de comunicação e de informação, atenden-
em dados coletados junto à gerência de far-
do os objetivos de negócio. É a compra e
damento do Centro de Controle de Inventário
venda de informações, produtos e serviços
da Marinha (CCIM) e junto ao Depósito
por meio da rede eletrônica (GOMES E
Naval no Rio de Janeiro (DepNavRJ). Além
RIBEIRO, 2004, p. 159).
disso, por ter sido aplicado um questionário
junto aos militares e servidores lotados em
Dentre as principais vantagens deste tipo
algumas Organizações Militares (OM) pos-
de comércio quando comparado com a
suidoras de PDU/ PEU e por ter sido colhidas
forma de transação tradicional, aonde as
informações por meio de acessos realizados
pessoas vão até a loja para realizarem suas
pelo autor a sites de empresas que atuam no
compras, Novaes (2007) ressalta: a inserção
varejo eletrônico, como: Lojas Americanas;
instantânea no mercado, onde os produtos
Submarino; C&A; e Casa Marítima¹, a fim
ou serviços ficam imediatamente expostos;
de conhecer o tempo médio utilizado no
relações mais ágeis, entre consumidores e
mercado para a entrega do tipo de material
vendedores; redução da assimetria infor-
abordado, vide a tabela 4.
macional, pois, permite a análise rápida e
abrangente das ofertas pelos consumidores;
REFERENCIAL TEÓRICO
e a redução da burocracia, onde o uso de
O comércio eletrônico (e-commerce) papéis é reduzido, se ganha tempo, os erros
Com o advento da internet, ocorreram diminuem e custos operacionais e administra-
diversas transformações na sociedade nas tivos são cortados.

ACANTO EM REVISTA 31
No Brasil, esse tipo de comércio vem ganhando força a cada ano, movimentando a
economia e ocupando cada vez mais os espaços das vendas tradicionais, conforme figura 1:

E M R E V I S TA

Figura 1 – Faturamento anual do e-commerce no Brasil


artigo selecionado

Figura 1 – Faturamento anual do e-commerce no Brasil

Fonte: Adaptado de Ebit - (www.e-commerce.org.br).

Fonte: Adaptado de Ebit - (www.e-commerce.org.br).

No Brasil, esse tipo de comércio vem a disponibilidade de sites que oferecem


Ainda de acordo com Novaes
ganhando força a cada ano, movimentando (2007), os dois principais
produtos ou serviços tipos de bastante
varia comérciocom
eletrônico
a economia e ocupando cada vez mais os
observados atualmente na internet são: o B2B, oua business-to-business;
entrada e saída constante de empresas”
e o B2C, ou business-to-
espaços das vendas tradicionais, conforme (NOVAES, 2007). Consequentemente,
consumer.
figura 1. existe uma grande variação na oferta de
Ainda de acordo com Novaes (2007), produtos e serviços que por sua vez devem
os dois principais tipos de comércio eletrôni- ser de qualidade, pois, do contrário, a
O comércio eletrônico
co observados B2C ena
atualmente os internet
desafiossão:
logísticos
posição dessas empresas no mercado fica
o B2B, ou business-to-business; e o B2C, ou comprometida.
business-to-consumer. Destarte, esse tipo de comércio apresenta
O comércio eletrônico B2C que servirá de base para a implantação da venda on-line de
O comércio eletrônico B2C e os grandes desafios para as empresas naquilo
uniformes na MB acontece
desafios logísticos pela interação direta entre
que osevendedor
refere ao eplanejamento
o compradorlogístico.
que, a partir
Isso de um
computador pessoal,
O comércio realiza B2C
eletrônico suasque
buscas ocorre,
e adquire
servirá um entre outrosoumotivos,
produto serviçoempela
virtude do
internet. Esse
de base para a implantação da venda tipo de consumidor que, normalmente, apre-
comércio é caracterizado pela volatilidade. “De senta-se
fato, a mais
disponibilidade de sites que oferecem
crítico e exigente em relação
on-line de uniformes na MB acontece pela
produtos ou serviços
interação variao bastante
direta entre vendedorcom
e o acom-
entrada eaosaída constantetradicional
consumidor de empresas” (NOVAES,
quanto à quali- 2007).
prador que, a partir de um computador pes- dade do serviço que ele recebe, resultante
Consequentemente, existe uma grande variação na oferta de produtos e serviços que por sua vez
soal, realiza suas buscas e adquire um pro- da comparação entre o que se espera e o
duto ou serviço pela internet. Esse comércio desempenho do serviço prestado pelo forne-
é caracterizado pela volatilidade. “De fato, cedor, conforme tabela 1.

32 ACANTO EM REVISTA
E M R E V I S TA

artigo selecionado
Tabela 1 – Tipos de Consumidores
CONSUMIDOR E-COMMERCE CONSUMIDOR TRADICIONAL
ESPERA QUE O CONTATO FÍSICO COM O PRODUTO
NA MAIORIA DOS CASOS, SABE O QUE QUER
OU O SERVIÇO O AJUDE NA DEFINIÇÃO
RARAMENTE ACEITA SUBSTITUIÇÕES DE PRODUTOS MAIS ABERTO A EVENTUAIS SUBSTITUIÇÕES DE PRODUTOS
EXTREMAMENTE OBJETIVO E RACIONAL MENOS OBJETIVO, MUITAS VEZES, EMOTIVO
MUITO BEM INFORMADO ACERCA DO
NECESSITA DE REFORÇO DE INFORMAÇÃO
PRODUTO OU SERVIÇO DESEJADO
TEMPO NÃO É IMPRESCINDÍVEL. ENCARA A COMPRA
TEMPO É UM FATOR FUNDAMENTAL.
COMO LAZER. FILAS PARA ESTACIONAR O CARRO
QUER PRATICIDADE
OU PARA PAGAR A CONTA FAZEM PARTE
POUCO TOLERANTE ÀS FALHAS NOS PRODUTOS OU SERVIÇOS MAIS TOLERANTE

NÃO PECHINCHA, PORQUE JÁ COMPAROU PREÇOS PECHINCHAR FAZ PARTE. ACREDITA QUE O “OLHO NO OLHO” É
POR MEIO DOS MECANISMOS DE INTERNET UMA CONDIÇÃO ESSENCIAL PARA O FECHAMENTO DA VENDA
RELACIONAMENTO É FUNDAMENTAL. QUER SER
EVITA CONTATO FÍSICO E É AVESSO A VENDEDORES
OUVIDO, ÀS VEZES, BUSCA PAPARICAÇÃO
MAIS DISPOSTO A RECLAMAR, CASO NÃO SEJA
MAIS FLEXÍVEL
CUMPRIDO AQUILO QUE FOI PROMETIDO
RECEOSO QUANTO AO USO OU À APLICAÇÃO
ADEPTO ÀS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS
DAS NOVAS TECNOLOGIAS
Fonte: Revista Mundo Logística (2015).

Percebe-se que essa comparação é basea- destacando-se o outsourcing² da distribuição


da em um conjunto de dimensões, a saber: física. Assim, “pensar que o modelo de trans-
disponibilidade do produto; tempo de ciclo do porte utilizado no comércio tradicional pode
pedido e consistência do prazo de entrega; atender ao modelo eletrônico incorrerá num
flexibilidade do sistema de entrega; sistema de grande erro” (NOVAES, 2007).
recuperação de falhas; sistema de informação
O Prestador de Serviço Logístico:
de apoio; apoio na entrega física; e apoio pós-
-entrega (LA LONDE et al.,1988;BOWERSOX
Operador Logístico (OL)
E COOPER, 1992; CHRISTOPHER, 1992 Apesar da prática antiga, a terceirização
apud Uehara, 2001, grifo nosso). de serviços logísticos, na forma conhecida
Portanto, para que essa engrenagem toda como hoje, ganhou força nas últimas déca-
funcione, será necessário que a MB se adé- das, principalmente dentro dos conceitos de
que em sua infraestrutura, ou seja, reconfigure Supply Chain Management (SCM) ou Cadeia
seus sistemas logísticos para atender as novas Logística Integrada.
características da demanda. Para o B2C, es- Segundo Dornieret et al. (2000), a maior
sas características incluem: grande número de complexidade dos sistemas logísticos, denomi-
pequenos pedidos; maior dispersão geográfi- nados sistemas logísticos globais, constitui-se
ca; prazos curtos de entrega, etc. Isso faz com como uma das razões para haver a terceiriza-
que as empresas busquem novas soluções, ção, ou seja, as empresas têm buscado firmas

ACANTO EM REVISTA 33
E M R E V I S TA
artigo selecionado

que prestam serviços especializados para qualquer tipo de serviço logístico para terceiros
acompanhar essa globalização. por mais simples que seja, não refletindo neces-
Mas o aumento da terceirização se deve sariamente os avanços tecnológicos e operacio-
também a outros fatores. De acordo com Sink nais que dão sustentação ao moderno SCM.
& Langley (1996 apud Novaes, 2007), para Para tal, surge a figura do Operador
atingir os novos mercados e oferecer melhor Logístico que, segundo a Associação
nível de serviço aos clientes; as firmas estão Brasileira de Movimentação e Logística (ABNL)
concentrando seus esforços nas atividades apud Trevia e Reis (2001), é definido da se-
centrais, as chamadas “core competence”, guinte forma:
deixando para os Prestadores de Serviços [...] o fornecedor de serviços logísticos,
Logísticos (PSL) as demais funções. especializado em gerenciar todas as ati-
Além disso, Detoni (2001) sugere que a vidades logísticas ou parte delas nas várias
busca pela redução dos custos logísticos é fases da cadeia de abastecimento de seus
uma das razões mais importantes dessa ten- clientes, agregando valor ao produto dos
dência. De acordo com Laarhovenet et al. mesmos, e que tenha competência para, no
(2000apud Novaes, 2007), discutindo uma mínimo, prestar simultaneamente serviço nas
pesquisa realizada com embarcadores em três atividades consideradas básicas: con-
diversos países da Europa, a mais importante trole de estoques, armazenagem e gestão de
razão estratégica para estes últimos estarem transporte (grifo nosso).
interessados em terceirizar suas atividades
logísticas é a necessidade de reduzir custos e Colin e Fabbes-Costes (1995 apud
aportes de capital. Novaes, 2007) classificam as atividades
Sendo assim, “diversas definições de pres- logísticas oferecidas pelos PSL quanto à sua
tadores logísticos são normalmente apresenta- natureza, de acordo com a tabela 2.
das na literatura técnica. Este tipo de operação Ainda segundo os autores, é comum que
é denominado, em inglês, third-partylogistics alguns operadores se especializem em de-
(3PL) ou logisticsproviders (provedores logísti- terminadas atividades que são encontradas
cos)” (NOVAES 2007). em vários pontos da cadeia de suprimentos,
Segundo Figueiredo, Fleury, e Wanke, e isso será de suma importância dentro do
(2006), o termo PSL é comumente utilizado por modelo de implantação do e-commerce a
alguns para descrever a empresa que presta ser analisado.

Tabela 2 – Natureza das atividades logísticas


Transporte Envolvendo diferentes modos e serviços auxiliares
Armazenagem De produtos
Manipulação De produtos, incluindo embalagem, identificação, composição de kits, etc.
Operações industriais Incluem intervenções intrínsecas no produto, como: montagem final, testes de qualidade, etc.
Operações comerciais Recebimento e tratamento de pedidos, de pagamentos, realização de propaganda, etc.
Serviços de cunho informacional Administração de estoques, rastreamento de veículos, etc.
Consultoria Em engenharia e administração logística
Fonte: Colin e Fabbes-Costes (1995 apud Novaes, 2007)

34 ACANTO EM REVISTA
E M R E V I S TA

artigo selecionado
Modelo de implementação do “A implantação desse canal de vendas,
B2C para a venda de uniformes na MB, se aproxima, destarte, às doutrinas
na Marinha do Brasil vinculadas ao modelo vitrine on-line ou loja
Conforme visto anteriormente, a MB apre- virtual” (DEITEL et al., 2004). O militar,
senta uma estrutura bem similar a de um mer- assim, pode consultar um catálogo de pro-
cado de varejo na sua cadeia de suprimentos dutos, efetuar suas compras, acertar o pa-
em se tratando de uniformes. gamento em um ambiente seguro e fornecer
Com isso, foi proposto por Pastore (2010) seus dados para a entrega, tudo por meio
um modelo de comercialização desse tipo de um site da Intranet que funciona no es-
de material e, tendo em vista, o aparato, em quema 24/7.
termos de estrutura logística (física e de pro- De acordo com Pastore (2010), a esse site,
cessos) existente na Marinha, sugeriu-se que a estará integrado o Sistema de Informações
implantação do e-commerce B2C para venda Gerenciais do Abastecimento (SINGRA), no
de uniformes fosse estabelecida como mais um qual estarão sendo desencadeadas todas
canal de negociação. as operações de suporte informacional para
Entre os números do comércio eletrônico a logística de atendimento do pedido. Essa
brasileiro, um dado, em específico, possui plataforma integra não só os diversos setores e
grande relevância e corrobora para o estudo: departamentos como também todos os dados
a categoria Moda e Acessórios lidera as ven- e processos do Sistema de Abastecimento da
das em termos de volume de pedidos, corres- Marinha (SAbM), sob a perspectiva funcional
pondendo a 17% do total, conforme pode ser e sistêmica, além, é claro, de fazer uma inter-
observado na figura 2. face com o SISPAG – Sistema de Pagamento
Logo, nota-se que a venda de itens de da Marinha, que gerencia descontos e pro-
vestuário por meio eletrônico é uma tendência ventos financeiros de cada militar e efetua o
do mercado. pagamento da compra.

Figura 2 – Categorias de materiais mais vendidas no comércio eletrônico


Figura 2 – Categorias de materiais mais vendidas no comércio eletrônico

Fonte:
Fonte: www.e-commerce.org.br
www.e-commerce.org.br

Logo, nota-se que a venda de itens de vestuário por meio eletrônico é uma tendência do
ACANTO EM REVISTA 35
mercado.
E M R E V I S TA
artigo selecionado

Depois de inserido o pedido, conside- PDU/PEU, a encomenda seria encaminhada


rando a existência do material solicitado para estes Postos, a fim de ser retirada.
em estoque e constatada a aprovação de Faz-se mister, pois, chamar a atenção
sua compra, o SAbM, em sua composição para as Organizações que se situam em lo-
logística, fará o processamento do item cais afastados desses tipos de postos. Para
até o momento de sua segregação física e tais casos, considera-se que os aspectos
logística do e-commerce B2C relaciona-se à dispersão geográfica de seus clientes, que servem n
envio para a área de expedição onde será benéficos serão os mesmos, já que as enco-
mais diversasembalado
coletado, OM da Marinha espalhadas
e registrado para em-em todo território
mendas serão nacional.
enviadas diretamente à OM
barque e distribuição. A figura 3 representa
No entanto, tendo em vista que as OMdo militar que realizou a compra. Tratará,
onde os militares servem, possuem relação com
o modelo proposto. dessa forma, da adoção de um modelo
estrutura
Outrode lojas
ponto distribuídas
importante estrategicamente
do modelo proposto nas diversas
pautado regiões, deoupedidos,
na concentração seja, osca-PDU/PEU,
diz respeito à distribuição deste material e à racterística da logística tradicional aplicada
encomenda seria encaminhada para estes Postos, a fim de ser retirada.
efetiva entrega do mesmo. Em primeira análise, hoje na MB, sendo usada em prol do e-com-
um dosFaz-se
fatores mister, pois,a operacionalida-
que dificultam chamar a atençãomerce,para em as que
Organizações
a dispersão que se situam
da demanda é em loca
de logística do e-commerce B2C relaciona-se pertinaz.
afastados desses tipos de postos. Para tais casos, considera-se que os aspectos benéficos serão
à dispersão geográfica de seus clientes, que Por fim, na pesquisa de Pastore (2010),
mesmos, já que
servem nas maisasdiversas
encomendas
OM da serão
Marinhaenviadas
es- diretamente
constou que a àMB OM nãodo
temmilitar que realizou
uma estrutura logís- a compr
palhadas em todo território nacional. tica de transporte necessária ao apoio de um
Tratará, dessa forma, da adoção de um modelo pautado na concentração de pedidos, característi
No entanto, tendo em vista que as OM sistema de entregas vinculado ao e-commerce
da onde
logística tradicional
os militares servem,aplicada
possuemhoje na MB,B2C.
relação sendo usada
A Força nãoem proluma
possui dofrota numerosa em que
e-commerce,
com a estrutura de lojas distribuídas estrate- e com sofisticação (física e gerencial), não
dispersão da demanda é pertinaz.
gicamente nas diversas regiões, ou seja, os sendo capaz de suprir toda demanda vigente,

Figura 33- -Ciclo


Figura Ciclodo do
pedido do e-commerce
pedido B2C para
do e-commerce B2Cuniformes na MB na MB
para uniformes

Fonte: Marques
Fonte: Marques (2014). (2014).

Por EMfim,
36 ACANTO na pesquisa de Pastore (2010), constou que a MB não tem uma estrutura logísti
REVISTA

de transporte necessária ao apoio de um sistema de entregas vinculado ao e-commerce B2C.


E M R E V I S TA

artigo selecionado
dado que já a faz transferir parte dessa ativi- quais se destacam: o tempo de entrega e o custo
dade a terceiros. de transporte quanto ao critério de seleção
Ao adotar o e-commerce B2C, essa neste quesito. Além disso, esse contrato fun-
transferência far-se-á ainda mais presente e cionará com uma ferramenta gerencial com a
necessária, em virtude da maior abrangên- função de fixar exatamente como o processo
cia do serviço e de entregas pulverizadas. será conduzido, logo será extremamente im-
O referido autor conclui que a contratação portante um terceiro parâmetro: o desempenho,
de um PSL para apoio na entrega física que visa medir e controlar o serviço da contrata-
suprirá essa necessidade, além de transferir da e servir de ferramenta para os Acordos de
decisões estratégicas (escolha de modais, Níveis de Serviço.
seleção e negociação com transportadores
O Tempo: Prazo de entrega do material
e política de consolidação de cargas) e
No comércio tradicional, tem sido acei-
operacionais (planejamento de embarques,
tável entregar os produtos ao cliente dentro
programação de veículos, roteirização, au-
de uma janela de tempo mais ampla após a
ditoria de fretes e gerenciamento de avarias)
realização de pedido. “Mas, para a maioria
(FLEURY, 2002 apud ibid.) para o especia-
das empresas ponto-com, como são chama-
lista contratado.
das aquelas que trabalham com e-commerce,
Dessa forma, a gerência da Força se fun-
essa possibilidade referente ao tempo não
damentará na cobrança pelos níveis de servi-
é satisfatória” (CALTAGIRONE, 2000 apud
ço, entre outros parâmetros que o contrato de
NOVAES, 2007, p. 94). Em alguns casos, o
terceirização contemplar, através de sistemas
consumidor não fica satisfeito em saber que
de medidas de desempenho e controle.
seu pedido vai ser entregue no mesmo dia,
sem especificar a hora.
ANÁLISE DE DADOS
Assim, a prévia definição de uma janela
A importância de parâmetros por de tempo para a entrega do pedido é, muitas
ocasião da contratação de um vezes, obrigatória. É claro que esse requisito
Operador Logístico (OL) coloca restrições adicionais no planejamento
Indubitavelmente, não são desprezíveis os das operações logísticas. Deve-se lembrar de
riscos inerentes a um processo de aquisição que o planejamento agora é muito mais dinâ-
de serviços, mas um planejamento adequado mico do que o tradicional, pois os pedidos
do processo pode reduzi-los drasticamente. são frequentemente submetidos on-line. Isso é
Novaes (2007) afirma que o estabeleci- muito diferente das condições que prevaleciam
mento de regras permite eliminar aqueles no comércio tradicional, no qual as operações
que não satisfazem critérios estabelecidos podiam ser planejadas com folga.
a priori. Sendo assim, tendo em vista que a Nesse context, surge o conceito de uma
Marinha é um órgão público e, consequen- importante variável relacionada ao serviço
temente, tem a necessidade de conduzir um on-line, chamada Tempo do Ciclo do Pedido
processo licitatório, com fulcro nas leis de lici- (TCP), que Ballou (2006) define como sendo
tação, para estabelecer a contratação de um o tempo transcorrido entre o momento de
prestador de serviços logísticos; é de extrema pedido do cliente, a ordem de compra ou a
importância definir o objeto do contrato a requisição do serviço, e aquele da entrega
ser elaborado, levando em consideração do produto ou serviço ao cliente, conforme
parâmetros bem definidos e consistentes, dos a tabela 3.

ACANTO EM REVISTA 37
chamada Tempo do Ciclo do Pedido (TCP), que Ballou (2006) define como sendo o tempo
transcorrido entre o momento de pedido do cliente, a ordem de compra ou a requisição do serviço, e
aquele da entrega do produto ou serviço ao cliente, conforme a tabela 3:
E M R E V I S TA
artigo selecionado

Tabela3 – Tempo Total do Ciclo do Pedido


Tabela3 – Tempo Total do Ciclo do Pedido

Fonte: Adaptado de Ballou (2006).


Fonte: Adaptado de Ballou (2006).

Ao se
Ao se analisar oo processo
processo proposto
proposto de deaplicaçãoUeharana venda(2001)de fardamentos,
vai dizer que verificou-se
a inadequa- por
meioaplicação na venda de fardamentos, verifi-
de um estudo realizado por Pastore, Guimarães ção das promessas pode causar frustração
e Diallo (2010) que o tempo de processamento
cou-se por meio de um estudo realizado por nas expectativas dos clientes, o que pode ser
interno, desde
Pastore, a Seção edeDiallo
Guimarães Controle (2010)do que
Departamento
o maisdeprejudicial
Fardamento paradoa CCIM
empresaatévirtual
a Seção
do de
tempo do
Expedição deDepósito
processamento interno,dadesde
de Fardamento Marinha noque RioterdeumJaneiro
tempo(DepFMRJ),
de entrega maisdadaelevado,
a existência
a Seção de Controle do Departamento ou seja, a empresa necessita conhecer seus
do material em estoque, é de aproximadamente 50 processos
de Fardamento do CCIM até a Seção de
minutos. O que implica em dizer que a maior
e ter mensurável o tempo real em
parteExpedição
da composição do TCPde
do Depósito hoje está no efetivo
Fardamento da transporte do material.dando conhecimento ao
cada operação,
Marinha no Rio de Janeiro (DepFMRJ), dada consumidor e evitando possíveis frustrações
Quanto à importância do tempo de ciclo do pedido para a cadeia logística, vale observar
a existência do material em estoque, é de após a compra realizada.
alguns trechos citados por Kobayashi
aproximadamente 50 minutos. O que impli- (2000) em sua obra:
Dessa forma, nota-se a importância do
ca em dizer que a maior parte da composi- fator tempo na cadeia logística de qualquer
Também na oferta
ção do TCP hoje está no efetivo transporte de objetos e materiais, a rapidezAo
organização. é importante
traçar um para obter a satisfação
comparativo entre do
cliente. Os clientes, na realidade, tendem a pedir os produtos no último momento, mas
do material. os tipos de consumidores, a saber: tradicional
desejam o que foi pedido o mais rapidamente possível.
Quanto à importância do time
Se o lead tempo de ociclo
entre e e-commerce,
pedido recebido e a entrega percebemos
é longo, com que oso mesmos
certeza cliente não é
do pedido para a cadeia satisfeito. Frequentemente,
logística, vale ob-se o lead timeeste
tratam é breve, também
fator de formasediferente,
é de qualidade levemente
não sendo
baixa ou de preço
servar alguns trechos citados por Kobayashi elevado, o cliente acaba por escolher o produto que lhe
para o primeiro imprescindível, porém de mui- será entregue
antes. O lead time é verdadeiramente uma arma poderosa em nível de estratégia de venda.
(2000) em sua obra: ta relevância para o segundo.
A tabela 4 permite visualizar além do
Uehara (2001) vai dizer que
Também na oferta de objetos e materiais,
a inadequação das promessas pode causar frustração nas
tempo esperado pelos usuários do sistema no
expectativas
a rapidezdos éclientes,
importante o que
parapodeobterser mais prejudicial
a satis- atendimento paraa asuaempresa
demanda,virtual do que
o tempo médioter um
fação do cliente. Os clientes, na realidade, de entrega que o mercado varejista de ven-
tempo de entrega mais elevado, ou seja, a empresa necessita conhecer seus processos e ter
tendem a pedir os produtos no último mo- das de vestuários tem realizado e o tempo
mensurável
mento,o mastempo real oemquecada
desejam operação,
foi pedido o dando médio conhecimento
efetivo que o ao SAbMconsumidor
tem praticadoe evitando
no
mais
possíveis rapidamente
frustrações possível.
após a compra realizada. atendimento à demanda de uniformes na MB,
Se o lead time entre o pedido recebido e em que o mínimo e o máximo representam os
Dessa forma, nota-se a importância
a entrega é longo, com certeza o cliente
do fator tempo na cadeia logística de qualquer
limites do intervalo, em dias, que as entregas
não é satisfeito. Frequentemente, se o lead serão realizadas ou que o cliente espera para
time é breve, também se é de qualidade receber sua encomenda.
levemente baixa ou de preço elevado, o Ao se comparar de duas a duas as va-
cliente acaba por escolher o produto que riáveis da tabela acima, começando com o
lhe será entregue antes. O lead time é ver- tempo do SAbM e o tempo do mercado como
dadeiramente uma arma poderosa em nível referência em termos de atualização, nota-se
de estratégia de venda. que o primeiro varia em média de 61,2% a

38 ACANTO EM REVISTA
E M R E V I S TA

artigo selecionado
Tabela 4 – Tempo médio de atendimento
LOCALIZAÇÃO TEMPO MÉDIO DE ATENDIMENTO (dias)

PDU/PEU MERCADO SAbM ESPERADO PELO CLIENTE - MILITAR


FORA DE SEDE Mínimo Máximo Média Mínimo Máximo Média Mínimo Máximo Média
ANGRA DOS REIS 07 11 9,0 03 18 10,5 01 05 03
SÃO PEDRO 06 09 7,5 03 19 11 01 05 03
SALVADOR 06 11 8,5 05 20 12,5 05 10 7,5
RECIFE 07 12 9,5 07 21 14 07 10 8,5
NATAL 06 10 8,0 06 21 13,5 10 15 12,5
FORTALEZA 07 10 8,5 07 22 14,5 10 15 12,5
BELÉM 09 12 10,5 09 24 16,5 12 15 13,5
FLORIANÓPOLIS 06 09 7,5 04 19 11,5 05 10 7,5
RIO GRANDE 07 11 9,0 06 21 13,5 10 15 12,5
LADÁRIO 10 15 12,5 06 21 13,5 06 10 08
BRASÍLIA 04 07 5,5 05 20 12,5 03 07 05
MANAUS 08 11 9,5 18 35 26,5 05 10 7,5
Fonte: Autor.

mais do que o tempo realizado no segundo, menores, cerca de 4,39%, o que, possivel-
chegando, em alguns casos, a mais que o mente, representará um processo de decisão,
dobro, como é o caso de Brasília e Manaus, considerando o trade-off, nível de serviço
em que as médias do tempo de entrega no versus custos, bem como a real viabilidade
SAbM (Tb=12, 5 e Tm=26,5) são cerca de da entrega nos prazos desejados, atentando
127% e 178%, respectivamente, a mais que para a estrutura logística no Brasil.
o tempo no mercado. Dessa forma, mostra-se Portanto, tendo em vista a importância
uma divergência às práticas de negócio via desse parâmetro, é permitido afirmar que, ao
e-commerce extra MB. se estabelecer a intenção de uma contratação
Ainda traçando um comparativo do tempo dentro das regras aplicadas à Administração
do SAbM, agora com o tempo esperado pelo Pública, será necessária uma cautelosa para-
cliente-militar, conclui-se que o tempo aplicado metrização dos valores estabelecidos como
na cadeia de suprimentos de fardamentos, metas ou prazos de entrega a serem atendi-
hoje na MB, é insatisfatório, superando em dos pelo Operador Logístico contratado. Isso
aproximadamente 68,29% as expectativas porque, se esses prazos são muito curtos, a
dos clientes. Administração corre o risco de não encontrar
Em contrapartida, ao se analisar a variá- no mercado empresas que atendam às neces-
vel tempo de mercado com a variável tempo sidades elencadas; já, por outro lado, se são
esperado pelo consumidor, conclui-se que longos, poderão exceder as expectativas dos
aquele também supera as expectativas deste consumidores que são de fato aqueles que
último, entretanto, em termos percentuais muito movimentam esse tipo de sistemática.

ACANTO EM REVISTA 39
Essas informações corroboram com o conceito apresentado por Kobayashi (2000) que
afirma que o custo de transporte e entrega compõe o maior percentual na composição dos custos de
distribuição física, podendo, em algumas empresas, alcançar a marca de 60% do total, conforme a E M R E V I S TA
artigo selecionado

figura 4.
Figura 4 –4Percentual
Figura de composição
– Percentual dos dos
de composição custos totais
custos da distribuição
totais físicafísica
da distribuição

Fonte:
Fonte: Adaptado
Adaptado Kobayashi (2000)Kobayashi (2000)
Quase que unanimemente, as literaturas pesquisadas vão afirmar que, dentro do processo de
Custos
decisãode transporte
sobre transporte, as principais ou mais de um operador?
relevantes Neste
que irão caso, o diretamente
influenciar papel da nos
Segundo Ballou (2006), o transporte é uma Administração Naval será determinar que tipo
área fundamental de decisões no mix logístico de critério relativo ao custo de transporte será
e, como atividade logística, absorve a maior levado em consideração para crivar o opera-
percentagem dos custos. dor vencedor da licitação a ser elaborada.
Essas informações corroboram com o con- Portanto, levando em consideração que um
ceito apresentado por Kobayashi (2000) que dos fatores para a terceirização desta etapa
afirma que o custo de transporte e entrega da cadeia de suprimentos de fardamento é
compõe o maior percentual na composição a redução de custos, um critério relevante é
dos custos de distribuição física, podendo, em o maior percentual de descontos a partir de
algumas empresas, alcançar a marca de 60% uma tabela de preços especificada no edital e
do total, conforme a figura 4. avaliada pela Marinha como base de cálculo
Quase que unanimemente, as literaturas pes- para os valores percentuais a serem ofereci-
quisadas vão afirmar que, dentro do processo dos pelas empresas participantes do certame.
de decisão sobre transporte, as principais ou Para embasamento, é fundamental observar
mais relevantes que irão influenciar diretamente o contido no Decreto nº 7.892/2013: “De
nos custos de transporte são aquelas referentes acordo com o edital poderá admitir, como
à seleção do modal a ser utilizado e a rotei- critério de julgamento, o menor preço aferido
rização dos embarques. Entretanto, tendo em pela oferta de desconto sobre a tabela de
vista que a intenção do modelo de venda de preços praticados no mercado, desde que
uniformes on-line abordado neste estudo visa à tecnicamente justificado”.
terceirização do transporte, automaticamente, Além disso, como fonte, entre as possibili-
essas decisões operacionais e estratégicas ca- dades de pesquisa de preços para criação da
berão ao operador logístico contratado. tabela em lide, sugere-se a Empresa Brasileira
Então, como poderá ser o custo de trans- de Correios e Telégrafos, devido ao seu Know-
porte um parâmetro para a contratação how³ e, principalmente, dados os diversos

40 ACANTO EM REVISTA
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artigo selecionado
destinos a serem utilizados pela MB, uma vez Relembra-se que essas medidas de controle e
que tal empresa possui o maior número de desempenho tem por foco a atuação do PSL a
localidades com tarifas já previstas. partir do momento em que o material está dispo-
Por fim, a Administração Naval deve aten- nível na área de expedição para o serviço de
tar constantemente para o princípio da eco- transporte e entrega, conforme a figura 3.
nomicidade que, segundo Bugarim (2004 Para o controle do serviço prestado pelo
apud Caixeta, 2004), é a busca permanente operador, podem-se utilizar alguns indicadores
pelos agentes públicos da melhor alocação de desempenho e medidores de eficiência e
possível dos escassos recursos públicos para eficácia baseados nas atividades, como:
solucionar ou atender os problemas e as ne- • Qualidade do transporte: Se a frota está
cessidades existentes. dentro dos padrões logísticos do merca-
Medida de desempenho do e das regras nacionais de trânsito.
Demonstra capacidade;
A seleção e contratação de um PSL não
• Percentual de avarias por ocasião do trans-
significa uma simples transferência de respon-
porte: Demonstra segurança;
sabilidades a terceiros. Ao contrário, o traba-
• Nível de serviço esperado: Número de
lho em parceria é difícil, e uma intensa troca
atendimentos dentro do prazo de entrega
de informações e contínua adaptação são
(podendo ser trimestral) pela quantidade
pré-requisitos para o sucesso de um processo
de entregas realizadas dentro de um deter-
de outsourcing de serviços.
Bowersox, Closs e Cooper (2006) dizem minado período. Demonstra se a empresa
que, antes, a contratação de serviços de possui confiabilidade;
transporte era uma tarefa relativamente fácil, • Índice ou percentual de falhas de entrega:
porém, agora, contratá-los é uma tarefa com- Número de desvios de entrega (endereça-
plexa e importante que exige constante monito- mento) pela quantidade de entregas realiza-
ramento dos resultados. Assim, à medida que das num determinado período. Isso influen-
o sistema vai sendo executado, reduz-se os ciará diretamente no tempo de atendimento
riscos de falhas, bem como é possível ter uma e, consequentemente, no nível de serviço e
rápida correção das distorções identificadas. na satisfação do cliente, além de demonstrar
O uso dos indicadores, então, na área consistência, quesito da confiabilidade; e
logística vem ganhando importância, na • Verificação dos faturamentos e seus percen-
medida em que se torna necessário medir e tuais de erros: verificar se estão sendo cum-
avaliar o desempenho das atividades tercei- pridos os preços estabelecidos no contrato e
rizadas e, consequentemente, os resultados o percentual de falhas na emissão de notas.
obtidos junto ao consumidor. Outrossim, uma ideia que vem sendo for-
Além de controlar, deve-se ter sempre a talecida no cenário logístico e defendida por
preocupação em manter o contato com o Novaes (2007) é que esses indicadores pos-
cliente, manter a comunicação aberta entre a sam ser utilizados como critérios para a com-
empresa e o OL (a falta de comunicação é posição de um ANS, a ser estabelecido em
uma das principais causas de cancelamento contrato, e seus resultados como parâmetros
do contrato logístico) para que se tenha con- que permitiriam junto ao operador estabelecer
fiança e satisfação por ambas às partes, bem incentivos, em caso de desempenho acima
como incentivar a comunicação interna na do acordado, ou penalidades, em caso de
empresa de modo a permitir o bom fluxo de não atendimento dos objetivos propostos.
informação, primordial ao relacionamento. A vantagem desse tipo de contrato está na

ACANTO EM REVISTA 41
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artigo selecionado

necessidade de realizar um acompanhamento ferramenta informatizada, que possibilite à


e monitoramento permanente. Administração verificar se os resultados con-
Porém, ressalta-se uma questão: como apli- tratados foram realizados nas quantidades
car este tipo de contrato na Administração e qualidades exigidas, e adequar o paga-
Pública? Para se respaldar, basta atentar mento aos resultados efetivamente obtidos
para o contido na Instrução Normativa (BRASIL, 2008, art. 11, § 3º e § 4º).
nº02/2008 do Ministério do Planejamento,
Orçamento e Gestão: Além disso, Brasil (2008, art.17, inciso I)
A contratação de serviços continuados deve- especificará um detalhamento muito relevante:
rá adotar unidade de medida que permita “antes da construção dos indicadores, os ser-
a mensuração dos resultados para o paga- viços e resultados esperados já deverão estar
mento da contratada, e que elimine a possi- claramente definidos e identificados, diferen-
bilidade de remunerar as empresas com base ciando-se as atividades consideradas críticas
na quantidade de horas de serviço ou por das secundárias”.
postos de trabalho (BRASIL, 2008, art. 11). Sendo assim, permitida esse tipo de aplica-
ção e sua peculiaridade, sugere-se a criação
Ainda de acordo com a norma, deverá ser de um módulo dentro do SINGRA que permita
observado: inserir as informações relativas às atividades
Os critérios de aferição de resultados deve- desempenhadas pelo OL e uma metodologia
rão ser preferencialmente dispostos na forma de cálculo e mensuração do desempenho do
de Acordos de Nível de Serviços, conforme mesmo, para que seja realizado o pagamento
dispõe esta Instrução Normativa e que do serviço acrescentado de sua bonificação
deverá ser adaptado às metodologias de ou descontado da indenização, conforme pre-
construção de ANS disponíveis em modelos vistas em contrato.
técnicos especializados de contratação de Além desse, outro processo de duas
serviços, quando houver. etapas pode ser sugerido como acompa-
Para a adoção do Acordo de Nível nhamento do desempenho do operador,
de Serviço é preciso que exista critério sendo esse mais simples e utilizando-se de
objetivo de mensuração de resultados, planilhas informatizadas, conforme a tabe-
preferencialmente pela utilização de la 5. A primeira etapa será determinar a

Tabela 5 – Avaliação de desempenho do Operador Logístico


Fatores de avaliação Importância relativa ou fator de Desempenho do Operador Índice total de
x =
(indicadores estabelecidos) importância (1 a 3) Logístico (1 a 3) desempenho do OL
Qualidade do Transporte 1 x 1 = 1
Avarias 2 x 1 = 2
Nível de serviço 3 x 3 = 9
Falha nas entregas 3 x 1 = 3
Erros no faturamento 1 x 2 = 2
Total do desempenho do operador = 17
Fonte: Adaptado de Bowersox, Closs e Cooper (2006)

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artigo selecionado
importância relativa ou fator de importância custos diretos envolvidos na implementação
referente aos indicadores, baseados nas ati- e no gerenciamento da contratação quanto
vidades críticas e secundárias, em que, por pelos custos de oportunidade, relativos ao
exemplo, um item muito importante pode ser não engajamento noutra possível “relação” de
classificado como “3”, enquanto que o me- sucesso; e, principalmente, os custos imensurá-
nos importante pode ser classificado como veis, relativos ao não atendimento das deman-
“1”. A segunda etapa é avaliar quantitativa das do cliente.
e qualitativamente o desempenho do opera- Cabe salientar que esse estudo não esgota
dor com relação a cada fator de avaliação, as alternativas da Administração Naval em
variando numa escala de “1 a 3”, em que estabelecer outros parâmetros que contribuam
“1” é fraco desempenho e “3” excelente com suas metas de atender todos seus militares
desempenho. Dessa forma, consegue-se ma- espalhados no território nacional ou ainda de
ximizar os fatores mais importantes e mini- realizar uma pesquisa que avalie a possibili-
mizar aqueles menos relevantes comparados dade de estender as ações desse OL, deixan-
um a um. do de realizar apenas o transporte de material
Por conseguinte, realizado o produto entre e podendo, por exemplo, operar internamente
essas duas colunas e somados os resultados, nos processos de armazenagem, em parceria
acha-se o índice total de desempenho do OL com a Força, trazendo, dessa forma, uma ex-
que, comparado aos parâmetros estabelecidos pertise empresarial para a MB.
em contrato ou a uma tabela específica, per- Sendo assim, este trabalho configura-se
meará as ações por ocasião do pagamento. como ponto de partida para que outros estu-
dos sejam realizados futuramente de maneira
CONSIDERAÇÕES FINAIS a ampliarem e aprofundarem o conhecimento
Por fim, tendo em vista o modelo de
nesse “novo” tipo de comércio a ser estabele-
e-commerce proposto para ser implementado
cido na Marinha do Brasil, a fim de que essa
na Marinha do Brasil, juntamente com a ne-
Força alcance, cada vez mais, a excelência
cessidade da contratação de um Operador
logística, aumentando sua credibilidade junto
Logístico especializado no transporte do farda-
ao seu pessoal.
mento, que será comercializado por meio da
intranet e a premissa de manter um alto nível
______________
de serviço aos seus clientes, este trabalho ana-
lisou, com base nos conceitos apresentados, [1] Loja tradicional especializada na venda
três parâmetros considerados fundamentais, de uniformes militares.
a fim de contribuírem com tal contratação: o [2] Expressão em inglês traduzida para o portu-
tempo; o custo de transporte; e a medida de guês como terceirização. No mundo dos negó-
desempenho do contratado. cios, o outsourcing é um processo usado por uma
Além disso, após o objetivo alcançado, foi empresa, no qual outra organização é contratada
possível ratificar a relevância desses parâme- para desenvolver certa área da empresa.
tros e inferir que suas prováveis ausências por [3] Termo em inglês que significa, literalmen-
ocasião da contratação podem acarretar num te, “saber como”. Conjunto de conhecimentos
insucesso da terceirização e ter um impacto práticos (informações, tecnologias, técnicas,
negativo e significativo para a organização, competência, procedimentos, etc.) adquiridos
entre os quais pode-se citar: os custos do in- por uma empresa ou um profissional, que traz
sucesso da parceria, constituídos tanto pelos para si vantagens competitivas.

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artigo selecionado

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DEITEL, H. M.; DEITEL, P. J.; STEINBUHLER,


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artigo selecionado

Autor: Capitão-Tenente (Intendente


da Marinha) Tiago Rosa Barreira
Orientador: Capitão de Mar e
Guerra (RM1-Intendente da Marinha)
Jean Marc Costa – CIANB
Coorientador: Capitão de
Corveta (Intendente da Marinha)
Thiago Fernandes Lima – DAbM

POTENCIAL DE USO
DE ESTRUTURAS DE
DESMEMBRAMENTO DE PRODUTO
OU DE LOGÍSTICA COMO
FERRAMENTAS INTEGRADAS
AO SISTEMA DE INFORMAÇÕES
GERENCIAIS DO ABASTECIMENTO
DA MARINHA DO BRASIL
Resumo: Alguns sistemas complexos requerem grandes esforços logísticos para estarem disponíveis. O Apoio Logístico Integrado busca esse
objetivo aos menores custos possíveis. Este artigo se configura numa pesquisa descritiva que, através de fontes bibliográficas, documentais e de
campo, propõe uma análise qualitativa da potencial integração das estruturas de desmembramento propostas pelo Apoio Logístico Integrado ao
Sistema de Informações Gerenciais do Abastecimento. O resultado apresenta duas possibilidades: a integração da estrutura de produto ao sistema,
ou a manutenção da estrutura própria. Em ambas, porém, sugere-se, indispensavelmente, que a estrutura logística e todo o seu refinamento sejam
absorvidos por algum outro sistema macro.
Palavras-chave: Product Breakdown Structure; Logistic Breakdown Structure; Sistema de Informações Gerenciais do Abastecimento; Apoio
Logístico Integrado; Logística.

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artigo selecionado
1. INTRODUÇÃO poderiam trazer benefícios à MB, se aplica-
A logística é, ao mesmo tempo, uma das ao suporte logístico para os meios dessa
das atividades econômicas mais antigas e organização em substituição à atual lógica de
um dos conceitos gerenciais mais modernos desmembramento utilizada. Também não foi
(BALLOU, 2011). Apesar de paradoxal, é olvidada, a busca pelas eventuais desvanta-
fácil compreender o porquê dessa assertiva. gens derivadas de sua integração.
É muito antiga, pois, desde os primórdios, o Para alcançar o objetivo traçado, foi con-
homem já se preocupava com algumas das duzida uma pesquisa descritiva buscando,
disciplinas básicas da logística como a movi- por meio de levantamentos bibliográficos,
mentação, a conservação e a armazenagem conforme Gil (2012), documentais, de acor-
de materiais. do com o preceituado por Lakatos e Marconi
O restante da afirmativa, ser um dos con- (2010), e pesquisa de campo, segundo
ceitos gerenciais mais modernos, coincide Fonseca (2002), desenvolver uma base de
com a mudança de patamar da logística da conhecimento sobre a PBS, a LBS e a lógica
ótica operacional para a estratégica. A partir própria de desmembramento do SINGRA.
do momento no qual a logística deixou de ser A partir dessa base de conhecimento,
vista como um mero centro de custos, sobre o foram comparados o processo atual com o
qual a única ação seria a busca incessante potencial no que se refere às ferramentas
pela redução dos valores empregados, e integradas ao SINGRA, por meio de um es-
passou a ser vislumbrada como possível ins- tudo de caso, o que permitiu estabelecer as
trumento de vantagem competitiva quando vantagens e desvantagens de cada processo.
associada às modernas ferramentas e tec- Destaca-se que este trabalho reveste-se de
nologias da informação. A logística, então, importância no momento em que se dispõe a
transformou-se em uma arma de negócios estudar um assunto capaz de: proporcionar
estratégica para qualquer empresa. alterações na maneira como os meios da
A Marinha do Brasil (MB) não é uma exce- MB são suportados logisticamente; ocasionar
ção desse processo e, por isso, constantemen- futuras mudanças no SINGRA impactando
te realiza estudos para manter sua estrutura toda a estrutura do Sistema de Abastecimento
logística sempre atualizada. Uma das atuais da Marinha (SAbM); e tornar a gestão da
problemáticas enfrentadas são as diferenças cadeia de suprimentos logísticos da MB mais
entre a Estrutura de Desmembramento de eficiente e eficaz.
Produto (Product Breakdown Structure - PBS)
e a Estrutura de Desmembramento Logística 2. REFERENCIAL TEÓRICO
(Logistic Breakdown Structure - LBS), ambas Com vistas a embasar os pontos que serão
propostas pelas literaturas especializadas abordados no decorrer do artigo, esse referen-
em Apoio Logístico Integrado (ALI), bem cial teórico abarca aspectos relevantes da lo-
como a lógica própria de desmembramento gística moderna. Primeiramente, será aborda-
utilizada pelo sistema de suprimentos da MB, do o tema do ALI; em seguida, as lógicas da
o Sistema de Informações Gerenciais do PBS e da LBS; por último, serão detalhadas
Abastecimento (SINGRA). algumas definições acerca do SINGRA, de
Dentro desse contexto, este artigo buscou tal forma, que seja possível nivelar o conhe-
analisar como a potencial utilização das meto- cimento sobre o assunto, tornando compreen-
dologias de desmembramento do produto e/ sível a análise do estudo, das propostas e da
ou logística, ambas integradas ao SINGRA, conclusão do artigo.

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artigo selecionado

2.1 Apoio Logístico Integrado O fluxograma da figura 1 demonstra como


O Apoio Logístico Integrado é uma ferra- deveria funcionar essa integração:
menta de projeto que, conforme Jones (2006), Os objetivos do ALI na MB são:
[...] planejar e orientar a implementação do
permite a gerência unificada e normatizada das
apoio logístico a um novo meio ou sistema,
disciplinas técnicas logísticas para o planeja-
desde sua concepção e ao longo de sua
mento e desenvolvimento do apoio logístico. De
vida útil, compatibilizando o máximo
uma maneira mais simples, o ALI é responsável
de disponibilidade com o mínimo
por planejar e dirigir as atividades multidiscipli-
de custos de operação e manuten-
nares associadas à identificação e ao desenvol-
ção, mediante a abordagem dos aspectos
vimento dos requisitos de apoio logístico para os
logísticos desde o início do processo de ob-
sistemas/meios, objetivando que esses tenham a
tenção (BRASIL, 2013, p. 10, grifo nosso).
máxima disponibilidade possível ao menor custo
total de seu ciclo de vida.
Cabe destacar que, anteriormente, pen-
A correta utilização dessa ferramenta pos- sava-se prioritariamente em custos atrelados
sibilita a integração entre as atividades típicas somente à aquisição de um sistema ou de um
do desenvolvimento do projeto, as relaciona- meio. Entretanto, uma análise criteriosa do
das com a engenharia dos sistemas, com as custo total ao longo do ciclo de vida do meio,
atividades de desenvolvimento da infraestrutu- geralmente, quando tratamos de sistemas e
ra do apoio logístico, aquelas associadas à meios de defesa, evidencia que os maiores
engenharia logística. custos são incorridos no decorrer da vida
Em sua plenitude, o ALI deveria ser capaz de operativa. Custos como o de operação, trei-
influenciar a concepção do projeto, não só per- namento, pessoal, armazenagem, transporte,
mitindo melhores níveis de apoio logístico como catalogação, suprimentos, manutenção, siste-
também obtendo sistemas completamente supor- mas de informação, equipamentos de apoio,
táveis e com desempenhos técnicos superiores. obsolescência, desativação e descarte são

Figura 1 - Fluxograma de um projeto influenciado pelo ALI.

F Fonte: adaptada de BRASIL, 2013, p. 3-1. onte: Adaptado Kobayashi (2000)

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artigo selecionado
parcelas relevantes que também deverão ser o apoio eficiente, eficaz e econômico de um
consideradas pelo ALI. meio ou sistema durante todo seu ciclo de vida.
Para cumprir os objetivos a que se propõe, A Análise de Apoio Logístico (AAL) é uma
o ALI permeia em seu planejamento, principal- das ferramentas essenciais do ALI, podendo
mente, os elementos relativos a: ser considerada a alma do processo de apoio.
• Planejamento da manutenção, buscando Trata-se de uma metodologia de análise e
identificar seus requisitos e detalhar as gerenciamento de sistemas de aceitação inter-
ações e os respectivos recursos que se fize- nacional para gerenciar sistemas complexos
rem necessários; e custosos. Nos Estados Unidos da América,
• Força de trabalho e pessoal, destacando existe a norma MIL-STD 1388-1A – Logistic
a quantidade de pessoas que deverão ser Support Analysis, de 1983, que define o pro-
envolvidas no processo e as suas qualifica- cesso em etapas e tarefas.
ções técnicas; A AAL tem como objetivo desenvolver os
• Apoio ao abastecimento, definindo as requisitos de apoio logístico do sistema/meio,
necessidades de material na forma de so- possibilitando identificar os problemas de
bressalentes, reparáveis ou não; apoio e os elementos formadores de custo o
• Identificação das necessidades de equipa- mais cedo possível, de modo que seja viável
mentos de apoio e teste; influenciar no projeto ainda durante seu de-
• Apontamento das carências de treinamento senvolvimento, considerando os apontamentos
e equipamentos para treinamento associa- da AAL. Além disso, visa gerar um Banco de
dos aos requisitos do meio ao longo do seu Dados da Análise de Apoio Logístico (BDAAL)
ciclo de vida; ou Registros da Análise de Apoio Logístico
• Elaboração da documentação técnica dos (RAAL), que conterá as informações das várias
sistemas do meio; disciplinas analisadas, sendo uma fonte única
• Definição das demandas atreladas aos das informações, evitando redundâncias, des-
casamento ou descontinuidade delas.
recursos computacionais, não só aos hard-
wares como também aos softwares; 2.2 Product Breakdown Structure
• Planejamento e implementação das neces- As estruturas de desmembramento
sidades de acondicionamento, manuseio, (Breakdown Structure) são diagramas hierarqui-
armazenamento, transporte dos sistemas, camente construídos a partir de um ponto úni-
equipamentos e materiais; co, seja ele associado aos custos, aos riscos,
• Estudo de eventuais faltas de instalações de aos recursos, à produção ou a qualquer outra
apoio para a operação, a manutenção e o parte de um sistema/meio. Basicamente, elas
treinamento requisitados pelo sistema. podem ser construídas para quaisquer elemen-
Dessa forma, o ALI considera não somente tos em que haja uma relação hierárquica ou de
o desempenho esperado do projeto e o seu dependência entre seus componentes. As mais
custo de aquisição mas também outros fatores conhecidas dessas estruturas, possivelmente,
de igual ou maior relevância, como os outros são os Organogramas das instituições e as
custos que se espera incorrer ao longo do Estruturas Analíticas de Projeto (EAP).
seu ciclo de vida e o aumento dos níveis de A EAP é uma decomposição hierárquica do
disponibilidade e suportabilidade. Em suma, escopo total do trabalho a ser executado a fim
traduz-se no estudo conjunto e integrado dos de alcançar os objetivos do projeto e criar as
elementos necessários capazes de influenciar entregas requeridas. Ela organiza e define o
o desenvolvimento do projeto, assegurando escopo total do projeto e representa o trabalho

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artigo selecionado

especificado em componentes menores e mais necessários, conduzindo a um gerenciamento


facilmente gerenciáveis, tendo como principal mais eficiente e eficaz do meio.
benefício a visão estruturada do que deve A figura 2 exemplifica uma PBS simplifi-
ser entregue (PROJECT MANAGEMENT cada de um meio fictício, demonstrando, no
INSTITUTE, 2013). formato de diagrama em árvore hierarquiza-
Analogamente, surge o conceito da PBS, do, os diversos níveis em que as partes do
que é uma descrição hierárquica das fun- meio são subdivididas até o nível de seus
cionalidades e tecnologias do projeto de equipamentos.
um sistema/meio. Segundo Jones (2006), A PBS do meio deve ser definida no início
um navio de guerra seria classificado como do projeto, servindo como base inicial para
“supersistema”, portanto, para ele seria todos os trabalhos de ALI a serem desenvolvi-
plenamente aplicável seu detalhamento na dos. Contudo, cada modificação no projeto
forma da PBS, buscando uma simplificação original, seja ela resultante de modernização
em níveis do conjunto de sistemas complexos ou atualização, deve derivar em alterações
que o compõe. na PBS, para que essa continue retratando
Corroborando com essa posição, Ariyo fielmente o meio e permaneça como referên-
(2008, p. 743, tradução nossa) esclarece cia Mestre do projeto ao longo de todo o
que as estruturas de descrição hierárquicas de ciclo de vida dele.
produtos têm sido apresentadas como técnica
para representar produtos complexos. Dessa 2.3 Logistic Breakdown Structure
maneira, permitem que cada equipe de enge- A Estrutura de Desmembramento Logística
nharia consiga isolar o sistema, o subsistema, é também uma forma de estrutura hierar-
a instalação e/ou o equipamento de seu inte- quizada, porém sob o aspecto funcional e
resse para uma melhor compreensão do pro- tecnológico do meio. Usualmente, ela de-
duto, das suas partes e dos seus sobressalentes riva da PBS do respectivo meio. Conforme

Figura 2 - Exemplo fictício de uma Estrutura de Desmembramento do Meio (PBS).

Fonte: o autor (2015).

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artigo selecionado
Durand (2001) conceituou, a LBS deve ser formas de enxergar o produto. Chalal (2006)
organizada sob a ótica da manutenção do acrescenta que, além inserir os elementos de
meio, tornando-se a coluna vertebral de suporte, bem como os processos associados
todo o banco de dados logísticos, sendo ao produto ao longo do seu ciclo de vida,
a referência para o prestamento do apoio a LBS deve, juntamente com outras estruturas
logístico ao meio. analíticas como as de custo, de projeto e de
A LBS, sendo decorrente da estrutura criada risco, permitir um adequado gerenciamento
para a PBS, detalha outros níveis inferiores, além do conhecimento sobre os meios.
dos equipamentos já representados; focando Uma fase crucial na estruturação da LBS é
nos elementos que necessitarão de quaisquer a identificação dos equipamentos que serão
apoios logísticos ao longo do ciclo de vida do submetidos à AAL e, consequentemente, esta-
meio. Em outras palavras, a LBS detalha mais o rão detalhados na LBS. A priorização desses
meio/sistema, proporcionando uma visão dele equipamentos deve ocorrer considerando,
sob a ótica da logística, visto que os equipa- principalmente, sua relativa importância em
mentos considerados relevantes durante a AAL custos e disponibilidade dentro do meio,
estarão detalhados na LBS tendo um código além de critérios como os possíveis impactos
alfanumérico conhecido como Logistic Support na segurança e indispensabilidade para a
Analysis Control Number (LCN). missão do Meio, nos custos de manutenção
A grande diferença entre a PBS e a LBS é e apoio, e na disponibilidade operacional e
que a primeira somente se preocupa em incluir apoiabilidade.
todos os elementos físicos do meio até seu Os elementos da AAL serão sempre
nível de equipamento, sem que haja qualquer equipamentos, instalações ou unidades que
tipo de julgamento de valor acerca destes; já requisitarão um elemento de apoio, também
a LBS, por sua vez, detalha, a partir dos níveis conhecido como recurso de manutenção (so-
já expressos na PBS, todos os outros elementos bressalentes, ferramental, recursos humanos,
sobre os quais haverá a demanda por algum instalações de apoio, maquinário de apoio,
tipo de esforço logístico ao longo do ciclo de que estarão listados dentro dos RAAL, junta-
vida do meio. mente, com outros documentos como: Planos
A LBS deve ser construída no início do de Manutenção; Listas de Sobressalentes;
processo de AAL dentro do planejamento fei- Listas de Consumíveis; e Listas de Ferramentas.
to para o ALI do projeto, sendo, idealmente, Todos esses documentos terão como chave
finalizada no momento de entrega do meio primária para associação o LCN atribuído ao
à sua operação. Contudo, é prudente que se elemento da AAL.
mantenha o acompanhamento dela ao longo A essencialidade dessa fase está na de-
do ciclo de vida do meio, podendo também, terminação do exato ponto de detalhamento
assim como a PBS, ser atualizada em casos em que a relação entre o custo e o benefício
de modificações ou modernizações dos equi- gerado pela qualidade das informações for
pamentos existentes ou de novas demandas máximo. Quanto mais detalhada for a LBS,
logísticas percebidas posteriormente. maior será o refinamento das informações lo-
Ainda segundo Durand (2001), o objetivo gísticas disponíveis. Contudo, um refinamento
da LBS é de ser uma única e padronizada excessivo poderá se transformar em esforços
estrutura válida para a manutenção do meio, tamanhos de planejamento, gerenciamento e
sendo constante ao longo do tempo e dos pro- controle que não se reverterão em benefícios
jetos, e sendo compatível com as várias outras compensatórios.

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artigo selecionado

2.4 Sistema de Informações Gerenciais as contidas nos subsistemas Gerência de


do Abastecimento Projetos, Catalogação e, em menor grau, no
A logística na MB é normatizada pela pu- subsistema SISBORDO.
blicação EMA-400 – Manual de Logística da O subsistema de Gerência de Projetos
Marinha (2003), que subdivide essa ativida- permite às OM Consumidoras (OMC) geren-
de nas seguintes funções logísticas: suprimen- ciar seus Projetos de Abastecimento, sejam
to; manutenção; salvamento; saúde; recursos eles dos meios previstos para execução do
humanos; transporte; e engenharia. A própria Programa Geral de Manutenção (PROGEM),
regulamentação reconhece que, em face do das suas Dotações Iniciais ou das Iniciativas
vulto e da importância das funções logísticas, de Prioridade Operativa do Abastecimento
é cabível o desdobramento dessas funções em (PROA), principalmente no âmbito dos so-
outros sistemas específicos de apoio, manten- bressalentes necessários; entretanto, não
do-se em mente que, por vezes, tais funções se estão exclusos materiais de outros Símbolos
inter-relacionam ou se complementam. de Jurisdição (SJ). O subsistema SISBORDO é
A função suprimento está intimamente rela- restrito ao gerenciamento das movimentações
cionada ao conceito de Abastecimento, para de materiais no seio da OMC. Por último,
o qual fora criado o SAbM com “o propósito o subsistema Catalogação forma a base de
de prever e prover para as Forças e demais todo o banco de dados dos itens de suprimen-
Organizações Militares (OM) da MB, o ma- to disponíveis no SAbM para aquisição pelas
terial necessário a mantê-las em condições OMC.
de plena eficiência” (BRASIL, 2009, p. 1-1). Os meios são cadastrados no SINGRA
Dessa missão, pode-se depreender a estreita através de códigos numéricos e a eles são as-
relação com a função citada anteriormente, sociados os Equipamentos (EQ) e Equipagens
além de parcela das funções logísticas de (EG) que lhes são aplicáveis, sendo-lhes
transporte e manutenção. atribuídos, respectivamente, os códigos al-
O SINGRA é: fanuméricos dos equipamentos (CODEQ) e
O sistema de informações e de gerência de das equipagens (CODEG). Cada EQ e EG
material que se destina a apoiar as fases bá- poderão ou não ser subdivididos em partes
sicas das funções logísticas Suprimento, que os compõem, chamadas de Itens de
Transporte e Manutenção relacio- Suprimentos, que recebem um código conhe-
nadas ao Abastecimento, prevendo e cido como Número de Estoque (NE), podendo
provendo os recursos de informação (regras, ser o Nato Stock Number (NSN), o Número
informações e tecnologia) necessários ao Brasileiro de Estoque (NBE) ou o Número de
desempenho das atividades técnicas e ge- Estoque Brasileiro (NEB).
renciais de Abastecimento (BRASIL, 2009, Apesar da variada quantidade de códi-
p. 3-1, grifo nosso). gos, a chave primária para a Requisição de
Material para Consumo (RMC) de sobressa-
Assim, o SINGRA é uma plataforma de lentes pelas OMC no SINGRA é o NE. Para
Tecnologia da Informação (TI) disponibiliza- que uma OMC emita uma RMC, é necessário
da para as OM, cujo sistema é subdividido que, além de dispor de limite financeiro, o
em subsistemas menores com objetivos item de suprimento desejado esteja vinculado
específicos, mas que se correlacionam. As a algum EQ/EG aplicado ao meio. Caso
principais transações disponíveis no SINGRA o equipamento ou o item de suprimento não
relacionadas ao assunto deste artigo são apresente a vinculação necessária à OMC ou

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artigo selecionado
ao EQ/EG, respectivamente, a OMC deverá alguma forma, condicionam ou influenciam o
solicitar seu cadastramento junto ao Órgão de processo de apoio logístico da MB.
Execução Técnica do equipamento ou do item. Empregou-se, ainda, a pesquisa de cam-
po, como conceituada por Fonseca (2002),
3. METODOLOGIA DE PESQUISA para, através de entrevistas não estrutura-
De acordo com o conceito de Gil (2012), das a militares envolvidos em atividades
o objetivo deste trabalho é ser uma pesquisa associadas ao SINGRA e a outros sistemas
descritiva, tendo como meta desenvolver uma componentes da logística da MB, confrontar
base de conhecimento sobre a qual serão e complementar as informações já obtidas
detalhados, comparados e relacionados os nas pesquisas anteriores. Foram entrevistados
conhecimentos logísticos pregados pelo ALI por militares no seio da estrutura logística da MB,
meio das ferramentas de desmembramento PBS principalmente da Diretoria de Abastecimento
e LBS, com as características da lógica própria da Marinha (DAbM), da Diretoria Geral de
de desmembramento, utilizada pelo SINGRA; Material da Marinha (DGMM), da Diretoria
buscando, através de uma análise qualitativa de Engenharia Naval (DEN) e de algumas
dos dados obtidos, comprovar se existe com- OM clientes do SAbM.
patibilidade desse sistema com a filosofia de Após levantar a base necessária de dados
estruturação de dados empregada pelo ALI. e informações relevantes ao estudo, este tra-
Inicialmente, por meio do método de balho se propôs a analisar a compatibilidade
pesquisa bibliográfica em livros, publicações da utilização das lógicas de desmembramento
periódicas e artigos acadêmicos, definido por da PBS e LBS com a lógica própria em uso
Lakatos e Marconi (2010), buscaram-se definir no SINGRA. Tal análise não pretende entrar
as características das lógicas de desmembra- nos meandros das complexas dificuldades
mento estudadas neste artigo, apontando suas relacionadas à TI, mas realizar uma análise
principais características, suas necessidades qualitativa do processo atual.
de dados ou informações de entrada (input), De acordo com o trabalho de Pinto Filho
as saídas (output) que oferecem após proces- (2007, p. 13), processo é a “atividade ou o
sada a informação e os recursos necessários conjunto de atividades que recebe uma entra-
ao seu eficiente e eficaz funcionamento. da, adiciona-lhe valor e fornece uma saída
Fez-se o uso da metodologia de pesquisa identificável sob a forma de bens, serviços ou
documental, conceituada por Gil (2012), informações e sempre direcionada a um
ao Manual do SINGRA, averiguando se a cliente interno ou externo” (grifos nossos). A
metodologia utilizada por esse Sistema de ABNT NBR ISO 9001:2008 – Sistemas de
Informações já havia sido detalhada em algum gestão da qualidade, Requisitos (2008, p. 2) –
momento pregresso. Pesquisou-se o Manual complementa essa definição afirmando se tratar
de logística da MB e as regulamentações de “uma atividade ou conjunto de atividades
sobre o ALI dentro da MB, visando clarear o que usa recursos e que é gerenciada de
funcionamento, as autoridades e as responsa- forma a possibilitar a transformação de entra-
bilidades conferidas aos Órgãos integrantes das em saídas” (grifos nossos).
ou participantes situacionais da logística da Partindo dessas premissas, este trabalho
MB. Verificaram-se as normas atinentes ao fun- analisou a lógica atual de desmembramen-
cionamento da função logística de suprimento to como parte integrante de um processo
na MB, para identificar a função normatizada implementado na MB, caracterizando suas
do SINGRA e a outros documentos que, de entradas necessárias, as saídas ofertadas

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artigo selecionado

pela lógica, os recursos demandados para A seguir, propôs-se uma análise conjunta
apresentar um desempenho eficaz e a forma dos dois processos, averiguando a capacida-
como é gerenciada. Do outro lado da análise, de da MB em suportar o potencial processo
foram levantadas as entradas necessárias ao de suprimento logístico com as ferramentas
processo com a potencial utilização da PBS e propostas pelo ALI integradas ao SINGRA.
LBS pela MB, as saídas potenciais que essas Consequentemente, apontou-se os benefícios
ferramentas ofereceriam, os recursos exigidos e as desvantagens derivados da implementa-
e a complexidade de sua gerência. ção dessas ferramentas.
Assim, pôde-se estabelecer um comparativo Por último, após identificar, analisar e
qualitativo numa abordagem processual entre comparar as estruturas de desmembramento
as duas metodologias utilizadas pelo ALI com a envolvidas neste artigo, buscou-se verificar a
do SINGRA, buscando averiguar se a MB tem, potencial integração das ferramentas da PBS
atualmente, a capacidade para alimentar corre- e LBS ao SINGRA, focando no cumprimento
tamente o eventual futuro processo de maneira da missão estabelecida para esse sistema
eficiente, eficaz e efetiva, e também se haveria dentro da logística da MB.
benefícios na implementação da ferramenta em
substituição à atual lógica ou mesmo se a lógi-
4.1. A Lógica de Desmembramento
ca atual do SINGRA é superior e mais benéfica
Utilizada pelo SINGRA
para a logística da MB do que as ferramentas O SINGRA foi implementado na MB em
propostas pelo ALI, alcançando o objetivo ge- 2001. À época, conforme relatado em entre-
ral traçado para este trabalho. vistas a militares da Divisão de Abastecimento
da DAbM, o sistema era muito menos com-
4. ANÁLISE DE DADOS plexo e com menos funcionalidades. Hoje,
A análise dos dados, obtidos através das ele incorporou atividades, como parte do
metodologias descritas no tópico anterior, foi gerenciamento da manutenção dos meios,
sendo construída de forma gradual, de tal for- até então não previstas para esse sistema em
ma que, quando inter-relacionadas, permitam virtude da falta de outros sistemas na MB para
uma conclusão acerca do problema de pes- execução das diversas funções logísticas.
quisa proposto. Assim, subdividiu-se a análise Podem-se citar, por exemplo, alguns dados
em quatro etapas ordenadas. de manutenção dos meios como os pacotes
Primeiramente, analisaram-se os dados que de sobressalentes necessários às manutenções
permitem concluir como se dá a lógica própria programadas de tais meios, conhecidos na
da estrutura de desmembramento utilizada MB como “Conjuntos Passivos”.
pelo SINGRA, detalhando seu processo atual O marco temporal é importante para se
e explicitando os dados necessários de entra- entender um dos motivos da não utilização
da, os recursos necessários ao processamento das metodologias de desmembramento PBS e
dos dados, as saídas oferecidas e os clientes LBS previstas pelo ALI, pois, ainda de acordo
interessados nas saídas ofertadas. com as entrevistas, apesar de somente ter sido
Em segundo, da mesma forma como feito implantado em 2001, o desenvolvimento do
para o SINGRA, delineou-se o processo po- sistema começou nos meados da década 90,
tencial advindo da integração das ferramentas capitaneado pela DAbM, e, nesse momento,
de desmembramento PBS e LBS ao SINGRA, ainda não haviam sido disseminadas na MB
identificando os mesmos pontos citados no as práticas do ALI que vinham sendo estuda-
parágrafo anterior. das pela DGMM.

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artigo selecionado
Por não terem sido desenvolvidos de o nível de instalações em que constaria o
forma integrada ou tampouco em con- equipamento.
junto pelas duas Diretorias, o SINGRA Ainda sobre a lógica do SINGRA, cabe
acabou empregando uma metodologia destacar que, assim como na PBS, ela não
própria de desmembramento dos meios, guarda nenhum outro detalhamento subse-
que, segundo o encarregado da Divisão quente, ou seja, somente se preocupa em
de Apoio Logístico Integrado da DAbM, demonstrar graficamente o produto de uma
derivou de um sistema de suprimento da maneira hierarquizada, não havendo nenhum
empresa Telecomunicações Brasileiras S.A. outro tipo de julgamento de valor sobre ela.
(Telebras), tendo sido adaptado às necessi- A chave primária para busca dentro do
dades da MB. SINGRA é o NE que poderá ser equivalente
Conforme apresentado por esse oficial, ao NSN, ao NBE ou ao NEB, dependendo
a lógica atual desmembra o Meio, também da nacionalidade do item e da sua situação
chamado de Plataforma, em vários Serviços, de catalogação.
que, por sua vez, são subdivididos em A Plataforma ou Meio é inserido no
Equipamentos, que finalmente serão quebra- SINGRA pela DAbM, sendo-lhe atribuído
dos em Itens de Suprimento. A figura 3 exibe, um código numérico de quatro dígitos; já os
em forma de diagrama, como o meio é repre- serviços são cadastrados pelas respectivas
sentado dentro do SINGRA. Diretorias Especializadas (DE) responsáveis
Apesar de não ser exatamente como uma por eles. As DE são também responsáveis por
PBS, a lógica atual se aproxima bastante dela, associar aos serviços os Equipamentos a ele
visto que busca representar todos os elementos aplicáveis. A cada Equipamento é também
do navio até o nível de item de suprimento, atribuído o CODEQ, como já fora explicado
detalhando um nível além do recomendado no referencial teórico deste artigo. Por último,
para a PBS; sem, contudo, considerar, em ní- os Itens de Suprimento catalogados são rela-
veis superiores, a possibilidade de repartição cionados aos Equipamentos e somente após,
dos sistemas em subsistemas menores que cumprida essa condição, poderão ser adquiri-
contribuem para o cumprimento da missão dos pelo Meio.
do sistema maior. Também não há, nessa Conforme constatado ao longo da entre-
metodologia, a discriminação da localização vista ao Encarregado do Apoio Logístico aos
dos equipamentos dentro do navio, “pulando” Meios e também a outros militares que já

Figura 3 - Exemplo de Diagrama de Desmembramento, utilizando a lógica do SINGRA.

Fonte: o autor (2015).

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artigo selecionado

trabalharam com o SINGRA, uma vantagem os serviços existentes no meio e cada equipa-
importante da lógica atual é o fato de estar em mento pertencente a ele. Cada equipamento
uso há mais de uma década, estando consoli- cadastrado deverá ter uma relação de itens
dada no SAbM e na MB como um todo. Pesa de suprimentos associados ao seu CODEQ, o
a favor da metodologia, o fato de ser mais que permitirá ao meio realizar as aquisições
simples que a PBS e a LBS, além de permitir a de seus suprimentos via SINGRA. Destaca-se
descentralização das responsabilidades para a necessidade de catalogação dos Itens de
as DE em cada tipo de sistema. Suprimento pelo seu NE, que é a chave pri-
Por outro lado, essa descentralização de mária para a inserção de RMC pelos meios
responsabilidades também causa alguns con- no sistema.
tratempos. Hoje, por exemplo, existem cerca Nota-se facilmente que todas as entradas
de 3.600 serviços cadastrados nos meios da citadas no parágrafo anterior ajudam a retra-
MB, contudo alguns desses serviços, apesar tar o produto, no caso em questão, o meio
de possuírem códigos numéricos de cinco dí- e os dados necessários, CODEQ e NE, que
gitos diferentes, tratam do mesmo conjunto de proveem do projeto do navio, mais especi-
elementos ou têm a mesma missão. ficamente da sua engenharia de sistemas.
A maior parte dos dados para análise Não há nenhuma informação ou dado que se
do processo de apoio logístico aos meios, correlacione, até este momento, com as neces-
utilizando-se da lógica atual do SINGRA, foi sidades logísticas do navio ao longo do seu
obtida por meio de entrevistas a militares que ciclo de vida.
trabalham nas DE, nos meios navais como A respeito dos recursos necessários à
clientes do sistema e na DAbM, OM responsá- execução do processo, que agregará valor
vel pelo software. Além das entrevistas, outros às entradas por se tratar de um processo in-
dados foram obtidos através da própria expe- formatizado e até certo ponto automatizado,
rimentação do SINGRA. Por exemplo: simulan- somente se verificou a necessidade de alguns
do consultas; fazendo requisições de material; militares ou servidores civis alocados no
criando projetos e outras funcionalidades do Centro de Controle e Inventário da Marinha
sistema; e por meio de pesquisa documental (CCIM), órgão responsável pela gerência dos
ao manual do SINGRA e às normas sobre ALI inventários da MB, e nas DE para manterem
na MB e sobre a função logística suprimento. atualizados os dados cadastrados no SINGRA
Como explicado anteriormente neste artigo, em caso de alterações no projeto original.
os processos são compostos por entradas que Os Colaboradores do CCIM seriam res-
recebem algum tratamento por meio da utiliza- ponsáveis pela análise crítica das RMC inse-
ção de recursos, buscando agregar valor às ridas pelo meio. Eles devem verificar se o ma-
entradas, com vistas a fornecer saídas que sa- terial solicitado tem aplicabilidade ao meio,
tisfaçam as necessidades dos clientes. Com o se existe disponibilidade do item em estoque
SINGRA não é diferente: ele faz parte do pro- ou se será necessário iniciar o processo de
cesso de ALI da MB, possuindo, dessa forma, obtenção para atender ao meio e, por último,
entradas identificáveis e recursos necessários, liberar a RMC para fornecimento.
bem como oferecendo saídas aos seus clientes. Nas DE, o trabalho dependeria do input
Como entradas necessárias ao processo, de algum meio seja pela necessidade de
identificou-se a necessidade de cadastramento algum equipamento ainda não associado ao
da Plataforma/Meio pela DAbM no SINGRA; meio, seja pela incorporação de novos ser-
em seguida, cada DE isoladamente cadastra viços ao navio ou pela identificação de itens

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artigo selecionado
de suprimento que também ainda não estejam Os dois casos mais recentes foram as aquisi-
aplicados a algum equipamento do navio. ções dos três Navios Patrulha Oceânico da
A parte mais relevante da análise se con- classe Amazonas, do estaleiro BAe Systems,
centra nas saídas ofertadas pelo processo. e o contrato de transferência de tecnologia e
Por meio delas, o cliente perceberá suas ne- desenvolvimento dos submarinos convencio-
cessidades atendidas e o meio será suprido. nais da classe Scorpene e do submarino de
Com a lógica de desmembramento atual, o propulsão nuclear a ser desenvolvido no Brasil,
SINGRA oferece uma visão dos meios num ambos junto ao estaleiro francês DCNS.
diagrama de desmembramento hierarquizado, Nas duas aquisições, a MB viveu e vive a
simplificando a complexidade do meio em experiência de trabalhar com projetos desen-
partes menores e gerenciáveis. O foco hoje é volvidos em sua plenitude com a interferência
o produto e como se estabelece a relação de do ALI e das metodologias de desmembramen-
dependência entre as partes dele. to da LBS. Embora a MB ainda não possua
Para os clientes e gerentes dos meios um software capaz de gerenciar plenamente
nas DE, o sistema auxilia atendendo às ne- as informações fornecidas ou que estão em
cessidades de um sistema de suprimento. O transferência, fruto dessas aquisições, um estu-
SINGRA permite ao usuário visualizar os itens do desses casos permitirá analisar o potencial
de suprimento associados aos meios, registrar processo de apoio logístico, utilizando as
a demanda por itens, controlar os estoques metodologias de desmembramento PBS e LBS.
e iniciar os processos de recompletamento Neste artigo, escolheu-se estudar o caso
deles, gerenciar projetos individualizados do submarino por se tratar de um projeto
como as iniciativas PROA, dotações iniciais de aquisição planejada, derivando em um
e PROGEM, bem como acessar um catálogo contrato robusto, inclusive com transferência
dos itens existentes na MB. de tecnologia e de todos os dados de apoio
logístico. Os dados do caso foram obtidos por
4.2. A Lógica de Desmembramento da meio de entrevista realizada com um oficial su-
PBS e da LBS perior que labuta na Coordenadoria-Geral do
Diversas entidades ao redor do mundo Programa de Desenvolvimento de Submarino
que laboram com sistemas complexos como com Propulsão Nuclear (COGESN) e com um
as áreas aeroespacial, ferroviária e naval, já engenheiro da DEN, encarregado da gerên-
adotam a metodologia de desmembramento cia dos submarinos dessa Diretoria.
dos meios da LBS. Especificamente na área De acordo com as entrevistas, para a
marítima, podem ser citadas a Marinha dos construção da PBS e da LBS e, consequente-
Estados Unidos da América, a Marinha Real mente, da possibilidade do ALI de influenciar
Britânica e a Marinha Nacional da França. o projeto de um meio, seriam necessários,
Além dessas marinhas, alguns estaleiros im- como entradas, dados mais complexos e que
portantes como o francês DCNS e o britânico necessitariam de um esforço muito maior da
BAe Systems também já projetam seus navios MB. Demandariam as mesmas entradas do
com o implemento dessa lógica. processo atual, citadas no tópico anterior, bem
A MB, apesar de ter a capacidade de pro- como todas as informações detalhadas no
jetar e desenvolver algumas classes de navios referencial teórico deste artigo como entradas
em território nacional, frequentemente recorre para a AAL, sendo as principais: os dados de
ao mercado internacional para adquirir meios confiabilidade, disponibilidade e “manutebili-
de defesa quando surge alguma oportunidade. dade”; e dados da análise de apoiabilidade

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artigo selecionado

do meio como um todo. Em suma, são re- sobressalentes, os consumíveis, as ferramentas


quisitados todos os dados e informações de comuns e especiais demandadas em cada
projeto e de apoio logístico sobre os sistemas manutenção; a relação de fabricantes por
e equipamentos aplicados ao meio. item de suprimento/equipamento; os dados
Sobre os recursos necessários ao processo de aprovisionamento, relatando qual deve ser
de suprimento de materiais aos meios, utili- a dotação mantida a bordo de cada navio;
zando-se da estrutura LBS, não se precisaria, e a dotação que deverá ser mantida em esto-
após a sua implementação, disponibilizar ques pelo SAbM.
recursos muito maiores para seu gerenciamen-
4.3. Comparativo entre a Estrutura do
to. Possivelmente, de acordo com o oficial
SINGRA e as da PBS e LBS
da COGESN, os mesmos recursos seriam
suficientes. Contudo, ficou claro que, para Algumas diferenças ficam claras, mas outras
a adoção dessa metodologia para todos os somente foram percebidas a partir do estudo
navios já existentes, seria demandado um es- de caso e das entrevistas. Uma das diferenças
forço hercúleo da MB, pois, hoje, não existe relatadas pelo oficial encarregado da Divisão
um banco de dados logísticos com as informa- de Apoio Logístico Integrado da DAbM é que
ções de cada meio. a MB se utiliza dos Símbolos de Jurisdição (SJ)
Assim, caso a estrutura proposta pela LBS para decompor os subsistemas, enquanto a
fosse adotada como padrão para todos os DCNS faz uso em sua estrutura dos Bigramas,
meios, inclusive os mais antigos, já em ativi- uma estrutura composta de duas letras para
dade há algumas décadas, seria premente o representar a “família” dos itens. Apesar de
estudo isolado de cada meio ou pelo menos, parecer uma diferença simples, ela implicaria
inicialmente, de cada classe de meios. O a necessidade de tradução de uma lógica
objetivo desse estudo seria, primeiramente, inteira, o que corresponderia a algo em torno
elaborar a PBS de cada navio, para que em de 800.000 itens de suprimento, para que os
seguida, após a execução da AAL em cada sistemas da MB pudessem gerenciá-la.
navio, pudesse-se construir a LBS deles asso- Outra diferença, e talvez a mais significativa
ciando-a ao Banco de Dados da Análise de delas, é a forma como o meio é abordado pelo
Apoio Logístico cuja chave primária de busca processo, diferindo em amplitude e conteúdo.
seria o LCN. No formato atual, o meio é enxergado como
A respeito das saídas do processo de um produto ou um mero objeto, assim como se-
suprimento, utilizando-se a LBS integrada ao ria pela PBS, fator que aproxima a lógica atual
SINGRA, ele manteria a entrega de todas as da PBS. Já no formato potencial, utilizando-se
atuais saídas que a lógica do SINGRA já con- da lógica da LBS, o meio seria vislumbrado
fere, indo além, principalmente, no que tange pela ótica da logística, detalhando-se todos
ao refinamento logístico das informações for- os equipamentos que necessitariam de algum
necidas, visto que elas derivarão da AAL. apoio logístico ao longo de sua vida útil.
Como exemplo claro, podem-se citar al- Em decorrência da ótica utilizada para se
guns dos documentos entregues pela DCNS, desmembrar o meio, a chave primária para
derivados do software Soutenir, que é utiliza- controle e gerenciamento de suas partes tam-
do pela DCNS para a condução da AAL: a bém é diferente. Nos sistemas atuais, utiliza-se
LBS do meio; as rotinas de manutenção de o NE, enquanto a DCNS, em seu Banco de
cada equipamento; a descrição dos recur- Dados da Análise de Apoio Logístico, usa o
sos humanos necessários à manutenção; os LCN para controle da configuração do meio

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artigo selecionado
e link com as demais informações contidas Inicia-se esse debate a partir da missão
no dicionário da LBS, fazendo uma analogia do SINGRA como “o sistema de informações
ao termo utilizado em gerenciamento de pro- e de gerência de material que se destina a
jetos para o dicionário da EAP, no qual são apoiar as fases básicas das funções logísticas
registradas as informações decorrentes de Suprimento, Transporte e Manutenção rela-
cada pacote de trabalho. cionadas ao Abastecimento...” (BRASIL,
Como consequência, inúmeros dados e 2009, p. 3-1, grifo nosso).
informações logísticas, atualmente, não são A publicação SGM-201, Rev-6, Mod-2
trabalhados e gerenciados pela MB. Ainda – Normas para Execução do Abastecimento
pelas entrevistas, depreenderam-se algumas – (2009) subdivide as atividades de abaste-
informações que estão sendo passadas para cimento em três fases básicas, quais sejam: a
a MB, conforme fora exigido contratualmente, determinação das necessidades; o processo
mas que, por indefinição da forma como serão de obtenção; e a distribuição. Se somadas,
trabalhadas e inseridas nos sistemas logísticos essas três fases representam parcela da mis-
da MB, correm o risco de serem perdidas. são que o ALI se propõe a cumprir, visto que
Hoje, a MB está recebendo os dados do ele tem a pretensão, quando empregado
software Soutenir da França em extrações plenamente, não só de influenciar o projeto
de planilhas do MS Office Excel. Todas as (Design for Support) como também de prestar
informações recebidas conferem um grau de todo o apoio logístico ao meio durante seu
refinamento logístico imprescindível para o ciclo de vida (in Service Support). As ativida-
correto emprego, manutenção e apoio logís- des de abastecimento são praticamente todas
tico ao meio ao longo do seu ciclo de vida. executadas durante o in Service Support.
Porém, a indefinição pela utilização no Hoje, o SINGRA consegue executar essas
formato atual dos sistemas logísticos da MB: três atividades sem maiores percalços. A de-
Sistema de Apoio Logístico Integrado (SisALI), terminação de necessidades é executada pelo
o Sistema Informatizado de SMP (SisSMP) e CCIM, que faz uso de diversos parâmetros,
SINGRA, acarretaria na necessidade de ade- dentre eles o histórico registrado e as deman-
quação da formatação entregue, derivando das atuais das OM de terra e navios. O pro-
em perdas de informações por incapacidade cesso de obtenção é conduzido pelo Centro
e incompatibilidade entre esses sistemas e a de Obtenção da Marinha no Rio de Janeiro
metodologia de desmembramento logística (COMRJ) com informações extraídas do
adotada pela DCNS ou modernização dos SINGRA. Já a distribuição é efetuada pelos
sistemas da MB, adequando-os para uma diversos Órgãos de Distribuição (OD), entre
tendência internacional e capacitando-os para eles os Centros de Intendência e os Depósitos.
receber e gerenciar as informações recebidas Como já explicado, a LBS traz consigo
sem que haja perdas ou atrasos na implemen- uma quantidade enorme de informações
tação plena do ALI aos meios. logísticas. Algumas delas poderiam auxiliar
no aprimoramento dessas três atividades.
4.4. Potencial Integração da PBS e da Por exemplo, os dados sobre embalagem,
LBS ao SINGRA manuseio e transporte dos materiais permiti-
Ultrapassada a discussão sobre a impor- riam aos OD alcançar a excelência da sua
tância dessa capacidade para a MB, ques- missão de distribuir os itens aos meios na
tiona-se a necessidade dessas informações ao quantidade, qualidade e momento corretos;
sistema de suprimentos do SAbM, o SINGRA. já para o COMRJ, essas mesmas informações,

ACANTO EM REVISTA 59
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artigo selecionado

poderiam levar a confecção de um edital de todas as outras necessidades do dado equi-


licitação mais completo, transferindo para os pamento. Esse link seria o suficiente para que
fornecedores algumas responsabilidades. o software pudesse se integrar e estabelecer a
No entanto, pelas entrevistas e pesquisas, comunicação direta com o SINGRA por meio
poucos foram os exemplos nos quais se pôde dos NSN necessários aos clientes em determi-
perceber a real necessidade e mesmo utilida- nados momentos.
de das informações derivadas do BDAAL da
LBS às atividades concernentes ao SINGRA. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dessa forma, seria melhor que o sistema Este artigo, através de vastas pesquisas
pudesse importar alguns desses dados espe- bibliográficas, documentais e de campo,
cíficos, quando fossem necessários, ao invés buscou identificar as principais características
de aumentar a capacidade do software para das lógicas de desmembramento das meto-
manter e gerir todo o BDAAL. dologias praticadas pelo ALI, a PBS e a LBS.
Além disso, como exposto no item 4.1 Destrinchou, também, as particularidades da
deste artigo, por ocasião da implantação do lógica de desmembramento própria adotada
SINGRA, a MB não dispunha de um softwa- pelo SINGRA por meio, principalmente, de
re para gerenciar a manutenção dos meios. entrevistas aos principais players do SAbM.
Assim, coube a ele incorporar parte da função Após a coleta dos dados e das informações,
manutenção, preenchendo esse vácuo. Hoje, estabeleceu uma comparação entre o modelo
com o desenvolvimento do SisALI, que tem atual e o potencial uso da PBS e da LBS. Para
por finalidade ser uma ferramenta de gestão a última, foram utilizadas as informações do
da manutenção na MB, (DGMM, 2013), caso da aquisição planejada e transferência
esse “improviso” não permanece mais latente. de tecnologia do submarino nuclear brasileiro,
Logo, com a implantação plena do SisALI, o identificando-se as vantagens e desvantagens
SINGRA poderia se voltar exclusivamente para da sua possível integração ao SAbM.
a função logística de suprimento de materiais. Assim, analisando todos os argumentos
Ao SINGRA caberia, além de obter os elencados nos tópicos anteriores, torna-se evi-
materiais previstos pelas suas próprias estima- dente e essencial para a MB o desenvolvimen-
tivas de demanda, receber o input desse outro to da capacidade de gerar, obter e gerenciar
software, específico para o gerenciamento as informações logísticas dos meios, principal-
do apoio logístico, no tempo adequado, mente no contexto atual do Brasil que passa
informando dados como o momento, o local por um período economicamente turbulento,
da entrega, a quantidade e a qualidade do tendo o dever de ser um órgão mais eficiente
material. Nota-se que todas essas informações possível em seus gastos, o que justamente é
são associadas ao produto e, em virtude um dos focos do ALI.
disto, não haveria novamente a necessidade Pelas informações apresentadas, pôde-se
do SINGRA trabalhar com todo o refinamento concluir que somente com o refinamento
logístico que a LBS disponibiliza. logístico das informações geradas pelo uso
Atualmente, o SINGRA tem como chave da LBS, da AAL e do consequente BDAAL
primária o NE, enquanto a LBS trabalha com será possível determinar o ponto ideal da
o LCN, que associa um determinado equipa- relação inversamente proporcional entre os
mento a um dicionário em que também esta- custos do meio, ao longo do seu ciclo de
riam especificados os materiais necessários vida, e a maior disponibilidade operacional
por meio dos seus NSN, juntamente com dele. Sem essas informações, torna-se difícil

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E M R E V I S TA

artigo selecionado
estabelecer um ponto com o mínimo grau de forma, seria necessária a implementação da
certeza necessário ao processo de tomada metodologia da LBS em outro sistema. Essa
de decisão. segunda linha de ação também não é con-
Como detalhado, o pleno implemento do clusiva, requerendo maiores estudos, uma vez
ALI, incluindo as estruturas da PBS e da LBS, que, além das questões associadas à idade
aumentaria as chances de influenciar os pro- avançada do SINGRA, considerando-se tratar
jetos de engenharia dos meios no tocante aos de um sistema baseado em TI, há também
aspectos logísticos considerados ao longo de as interferências que essa alteração poderia
todo seu ciclo de vida; permitiria identificar, causar em todo o SAbM, visto que o SINGRA
quantificando e qualificando, os recursos estabelece comunicação com outros siste-
necessários ao apoio logístico; auxiliaria a mas. Possivelmente, também não ocorreriam
estruturação do apoio aos novos meios, as- maiores problemas, pois a chave primária de
segurando que os recursos logísticos deman- busca e link com outros sistemas continuaria
dados estarão disponíveis no início de sua sendo o NSN.
operação; por fim, culminaria na atividade de Em suma, o trabalho concluiu que a MB
monitoramento e controle do desempenho do deve, o quanto antes, se tornar capaz de
sistema de apoio ao longo do seu emprego, obter, gerar, gerir e registrar as informações
em especial dos custos de manutenção.
logísticas advindas da LBS para o fornecimen-
O gerenciamento de todos esses pontos
to do apoio logístico mais eficiente e eficaz.
levaria a um apoio logístico mais eficiente e
Contudo, o SINGRA, pela missão que lhe é
eficaz, resultando na gestão adequada do ci-
atribuída, não tem a necessidade de ser o
clo de vida do meio e, com isso, atingindo os
software a absorver todo esse refinamento
principais objetivos do ALI. Sendo assim, este
logístico, já que ele somente se encarrega de
artigo elencou duas linhas de ação possíveis
algumas funções do ALI.
para o SINGRA e que atenderiam as neces-
Dessa forma, como trabalhos futuros, suge-
sidades logísticas da MB. Cabe ressaltar que
rem-se os seguintes estudos: a possibilidade
estas linhas não são as únicas, não esgotando
de o SisALI absorver a lógica de desmem-
as inúmeras alternativas da MB.
bramento da LBS; como e onde deverá ser o
A primeira delas seria a manutenção da
BDAAL da MB e quais sistemas deverão ser
metodologia atual do SINGRA com o im-
integrados a ele; quais subsistemas ou infor-
plemento da metodologia da LBS em outro
mações o SINGRA necessitaria importar ou
software, possivelmente o SisALI que se co-
municaria com o SINGRA por meio do NSN exportar constantemente do BDAAL.
dos materiais necessários. Essa linha de ação
seria mais econômica, contudo manteria duas REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁGICAS
linguagens diferentes dentro da MB, fato que ARIYO, O.O.; ECKERT, C.M.; CLARKSON,
precisaria ser mais estudado para averiguar P.J. Hierarchical decompositions for complex
se não haveria problemas de integração ou product representations. International Design
compatibilidade. Aparentemente não have- Conference - Design 2008. Dubrovnik,
ria, pois se tratariam de dois sistemas com Croácia, 2008.
banco de dados distintos, mas interligados ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
através do NSN. TÉCNICAS. NBR ISO 9000:2005: Sistema
A segunda delas seria a substituição da de Gestão da Qualidade – Fundamentos e
lógica do SINGRA pela da PBS e, da mesma Vocabulário. Rio de Janeiro, RJ, 2005.

ACANTO EM REVISTA 61
E M R E V I S TA
artigo selecionado

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS www.tlainc.com/articl121.htm>. Acesso em:


TÉCNICAS. NBR ISO 9001:2008: Sistema 06 jun. 2015.
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EMA-420. 2. Rev. Brasília, DF, 2002. real.Dissertação de Mestrado, Universidade
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Maroc, Mekhnès. Disponível em: <http:// Pennsylvania, USA. 2013.

62 ACANTO EM REVISTA
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artigo selecionado
Autoria: Capitão-Tenente (Intendente da
Marinha) Marcelo da Silva Braz
Orientador: Capitão de Mar e Guerra
(RM1- Fuzileiro Naval) Edilson Antunes de
Farias - CIANB
Coorientador: Capitão de Corveta
(Intendente da Marinha) Alex Lôbo Carlos
- CORM

OFFSET E INOVAÇÃO:
A REDUÇÃO DE HIATOS
TECNOLÓGICOS NOS PAÍSES
EM DESENVOLVIMENTO
Resumo: Este artigo objetiva evidenciar a contribuição do offset como ferramenta à inovação nas últimas décadas, reduzindo o hiato tecno-
lógico existente na Base Industrial de Defesa dos países em desenvolvimento. Após uma pesquisa bibliográfica e documental, foram relatados
casos em que acordos de compensação foram utilizados em países emergentes. Da análise qualitativa dos dados apresentados, ficou evidenciado
que é possível utilizar tais acordos como eficiente ferramenta estratégica na busca pela independência tecnológica nos países estudados, sendo
este estudo dirigido aos militares envolvidos em negociações comerciais internacionais, aos agentes públicos atuantes na formulação de políticas
públicas, às empresas privadas e ao meio acadêmico.
Palavras-chave: Offset; Compensação; Defesa; Inovação; Desenvolvimento.

1 INTRODUÇÃO precisariam de avanços significativos em


A Segunda Guerra Mundial foi um termos de armamentos para que pudessem
marco no estreitamento das relações vencer a guerra. Com isso, a Ciência e
entre pesquisas científicas e a indústria Tecnologia tornaram-se fundamentais para
bélica. Nesse período delicado, os as estratégias de defesa (LESKE, 2013).
governos da Inglaterra e dos Estados Entre outras estratégias america-
Unidos da América (EUA) perceberam que nas, a de investimentos em pesquisa e

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artigo selecionado

desenvolvimento (P&D) de defesa, ado- líquido – F.O.B. (Free on Board) – acima


tada desde então, chamou a atenção de de US$ 5.000.000,00 (cinco milhões de
outros países, pois perceberam que foi dólares americanos).
criado um grande hiato tecnológico em Nesse sentido, este trabalho terá como
relação aos EUA, que possuem as maio- objetivo evidenciar a contribuição do offset
res e mais modernas empresas bélicas como ferramenta à inovação nas últimas
do mundo (LONGO, 2007). Esse hiato décadas, reduzindo o hiato tecnológico
tecnológico que nos separa hoje das existente na Base Industrial de Defesa (BID)
nações mais desenvolvidas é inegável dos países em desenvolvimento.
e é um grande desafio a ser enfrentado Em seguida a esta introdução, será
e vencido se quisermos levar nosso país explicitada a metodologia utilizada. Após
ao lugar que ele merece e pode chegar uma revisão sistemática da literatura atra-
no cenário internacional (VANNI FILHO, vés de pesquisas bibliográfica e documen-
2006). tal, criou-se um referencial teórico para
Para Ivo (2004), uma forma de gerar a contextualização do tema, visando a
oportunidades de desenvolvimento tecno- relatar, a partir de tal base, situações em
lógico é mediante a utilização dos offsets que o offset foi utilizado como ferramenta
ou acordos de compensação. No entanto, na produção de novas tecnologias em paí-
tal processo não é automático, pois como ses em desenvolvimento. Longe de esgotar
nos adverte Carlos (2013), até a década os debates sobre o tema em lide, cinco
de 50, os offsets não agregavam nenhum países que utilizaram ferramentas de offset
valor à indústria nacional, pouco desenvol- foram estudados, buscando-se evidências
vida até então, limitando-se à simples tro- quanto à efetividade da contribuição para
ca de mercadorias como forma de manter promover a inovação.
o equilíbrio da balança comercial. Considerando que o presente trabalho
Por meio da utilização do poder de buscou contribuir com o entendimento e a
compra do Estado, os offsets pretendem familiarização da estreita relação guarda-
abreviar o tempo, saltando degraus na da entre os termos offset e inovação (em
escada que leva ao patamar tecnológico um contexto de redução de hiatos tecno-
e de inovação das nações mais desen- lógicos), entende-se que ele poderá ser de
volvidas (CARLOS, 2013), além de ser grande utilidade a militares gestores en-
importante mecanismo para atingir a volvidos em negociações comerciais inter-
independência nacional alcançada pela nacionais, a agentes públicos que atuam
capacitação tecnológica autônoma, pois na formulação de políticas públicas, a
não é independente o país que não tem empresas privadas e ao meio acadêmico,
o domínio das tecnologias sensíveis, tanto visando a atingir objetivos estratégicos
para a defesa como para o desenvolvi- necessários à manutenção da independên-
mento (BRASIL, 2008). De acordo com cia nacional alcançada pela capacitação
o estabelecido na legislação pertinente tecnológica autônoma.
(BRASIL, 2002), é obrigatória a inclusão
de um Acordo de Compensação nas ne- 2 METODOLOGIA
gociações de contratos de importação de Este trabalho teve como objetivo evidenciar
produtos de defesa realizadas por qual- a contribuição do offset como ferramenta à
quer uma das Forças Armadas, com valor inovação nas últimas décadas, reduzindo o

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artigo selecionado
hiato tecnológico existente na BID dos países que conquiste autonomia em tecnologias indis-
em desenvolvimento. pensáveis à defesa, de forma que o país não
Primeiramente, buscou-se empregar, de dependa de tecnologia estrangeira.
acordo com Marconi e Lakatos (2010), O termo indústria nacional de defesa nos
pesquisa bibliográfica em livros, periódicos remete ao conceito de Base Industrial de
e artigos acadêmicos, visando a apontar Defesa (BID), que pode ser entendido como
correntes teóricas que estivessem alinhadas um “conjunto de indústrias e empresas orga-
ou que apresentassem contrapontos aos ob- nizadas em conformidade com a legislação
jetivos deste estudo. Assim, buscou-se alinhar, brasileira, que participam de uma ou mais das
adequadamente, os conceitos de offset e ino- etapas da pesquisa, desenvolvimento, produ-
vação, além de mapear possíveis benefícios ção, distribuição e manutenção de produtos
alcançados, por países em desenvolvimento, de defesa” (BRASIL, 2012, p. 212).
na redução de hiatos tecnológicos ao longo Fernandes (2007, p. 80) acrescenta que
das últimas décadas. A revisão sistemática da a indústria de defesa é uma indústria de alto
literatura foi realizada mediante palavra-cha- valor agregado, com elevados componentes
ve, em bases de dados acessíveis, e não por tecnológicos e de inovação, sendo, por esse
recorte temporal. motivo, um dos vetores que deve ser privile-
Também foi efetuada pesquisa documental, giado como excelente elemento de desenvol-
buscando-se identificar na legislação pertinen- vimento da indústria nacional e, consequen-
te, em normas em vigor nas Forças Armadas e temente, do país. O autor ainda cita que a
em contratos internacionais, situações em que BID deve ser tratada no sentido de uma visão
ocorreu o emprego do offset para a redução estratégica de progresso e de desenvolvimento
do hiato tecnológico em países em desenvol- econômico, devendo-se investir nesta indústria
vimento, bem como um possível avanço do ao nível adequado para se atingir os objetivos
país estudado. Segundo Marconi e Lakatos estratégicos. Nesse sentido, Brasil (2012, p.
(2010), a análise dos dados ocorreu através 212) comenta que “uma indústria de defesa
de uma abordagem qualitativa. competitiva e consolidada gera empregos
Relatou-se, então, através de pesquisa qualificados e incentiva o desenvolvimento tec-
descritiva (GIL, 2002), casos em que o offset nológico com encadeamentos produtivos para
foi utilizado como ferramenta na produção de outros setores da indústria”.
novas tecnologias em países em desenvolvi- Segundo Leske (2013), a relevância da
mento, descrevendo inclusive possíveis conse- P&D no setor de defesa, para a promoção
quências negativas à utilização dos acordos da inovação, tem sido explorada, também,
de compensação, em cada caso. devido às contribuições que transbordam para
outras áreas da economia. Sendo assim, as
3 REFERENCIAL TEÓRICO demandas da área militar podem estimular
Brasil (2008) expõe que é preciso buscar igualmente outros setores a partir do desenvol-
a independência nacional alcançada pela ca- vimento de novas tecnologias, da formação
pacitação tecnológica autônoma, não sendo de capital humano, e da interação com univer-
independente o país que não tem o domínio sidades e centros de pesquisa.
de tecnologias sensíveis, tanto para a defesa Por sua vez, Longo (2007) observa que
como para o desenvolvimento. Nesse escopo, no curso da história é possível citar inúmeras
o Estado seria o responsável por capacitar a contribuições tecnológicas relevantes prove-
indústria nacional de material de defesa para nientes de questões inerentes à segurança

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artigo selecionado

e defesa, sendo seu uso civil bem-sucedido. Para Porter (1990), inovação, em seu sentido
Como exemplos, o autor cita a internet, ori- mais amplo, abrange novas tecnologias e no-
ginalmente desenvolvida pela Advanced vas maneiras de fazer as coisas.
Research Priojects Agency - ARPA (hoje Defense A definição adotada pela Marinha do
Advanced Research Projects Agency - DARPA) Brasil é a mesma preconizada no art. 2º
do Departamento de Defesa dos EUA, com da Lei nº 10.973/2004 (Lei de Inovação
o nome de Arpanet que visava, através de Tecnológica - LIT), no qual se lê inovação como
uma rede de computadores interligados, asse- “introdução de novidade ou aperfeiçoamento
gurar as comunicações em todo território do no ambiente produtivo ou social que resulte
país, bem como o hoje popularizado Global em novos produtos, processos ou serviços”
Positioning System, o GPS. (BRASIL, 2004). Essa definição será a que se
Longo (2007) também comenta que tecnolo- utilizará para os fins deste artigo.
gias de uso civil que são incorporadas ou dão De acordo com o Manual de Oslo
origem a produtos bélicos são denominadas (ORGANIZAÇÃO PARA A COOPERAÇÃO
de dual use technologies pelos norte-america- E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
nos. O autor define tecnologia de uso dual (ou [OCDE], 2005), diferenciam-se quatro ti-
duplo) como aquela tecnologia possível de ser pologias para a classificação de inovação:
utilizada para produzir ou melhorar bens ou ser- (i) inovações de produto; (ii) inovações de
viços de uso civil ou militar, sendo difícil rotular processo; (iii) inovações de marketing; e (iv)
o que é civil e o que é militar na produção de inovações organizacionais, sendo as ino-
conhecimentos científicos ou tecnológicos. vações de produto aplicadas tanto a bens
Corroborando com tais afirmações e a títu- quanto a serviços.
lo de exemplificação, Costa e Santos (2010) No referido Manual, tem-se que inovações
citam a norte-americana Raytheon, que hoje tecnológicas compreendem a implementação
fabrica radares e equipamentos de sistemas de produtos e de processos tecnologicamente
eletrônicos para aeronaves militares a partir novos, bem como a realização de melhora-
de radares civis, utilizando tecnologias duais e mentos tecnológicos significativos em produtos
o know-how concebido em projetos militares; e processos (OCDE, 2015), sendo as demais
bem como a fabricante russa de caças Sukhoi, consideradas não tecnológicas.
que lançou o jato Superjet 100 utilizando Depreende-se então das definições abor-
tecnologia militar, mas adequando os custos, dadas que somente as inovações de produtos
durabilidade e manutenção aos requeridos (bens e serviços) e as inovações de processos
pelo mercado civil. constituem as inovações tecnológicas; e que
Na literatura, é possível verificar inúmeras o componente tecnológico está intimamente
abordagens para o termo inovação. Para Longo conectado ao conceito de inovação adotado
(2007, p. 118), “inovação significa a solução por este artigo. Salienta-se, porém, que a
de um problema, tecnológico, utilizada pela escolha da definição empregada não esgota
primeira vez, compreendendo a introdução as inúmeras possibilidades existentes de se
de um novo produto ou processo no mercado abordar o referido tema.
em escala comercial tendo, em geral, positivas Para a Organização Mundial de Comércio
repercussões socioeconômicas”. Carlos (2013, – OMC (2015a), tecnologia é a chave para
p. 10) considera “a inovação como sendo a im- aumentar a produtividade do trabalho, sendo
plementação de algo novo ou significativamen- o crescimento econômico importante fator de
te melhorado para um determinado mercado”. desenvolvimento para os países. Para Porter

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artigo selecionado
(1990), inovação é importante para a indús- importações de produtos de defesa (BRASIL,
tria, pois através dela é possível atingir vanta- 2002).
gem competitiva, melhorando diretamente sua De acordo com essa Portaria, é obri-
produtividade, além de sua competitividade; e gatória a inclusão de um Acordo de
melhores níveis de crescimento sustentado da Compensação nas negociações de contra-
produtividade gerariam aumento no padrão tos de importação de produtos de defesa
de vida de um país. realizadas por qualquer uma das Forças
A OMC vem estudando, de forma cons- Armadas, com valor líquido – F.O.B. – aci-
tante, possibilidades de aumento do fluxo de ma de US$ 5.000.000,00 (cinco milhões
transferência de tecnologia para países em de dólares americanos). O valor líquido –
desenvolvimento, pois considera que inovar F.O.B. – é um termo amplamente usado no
não é tarefa simples. comércio internacional, em que o exportador
Carlos (2013) demonstra inúmeros fato- é o responsável pela mercadoria somente
res que afetam de maneira negativa a ge- até o seu embarque, ou seja, é aquele que
ração das inovações, comumente chamados detém a responsabilidade sobre o paga-
de barreiras à inovação, sendo que estas mento do transporte e do seguro do produto
barreiras podem dificultar ou até mesmo (WOLFFENBÜTTEL, 2006).
inibir aquilo que seria gerado. Dessa forma, Para Brasil (2002), os acordos de com-
é necessário criar um ambiente favorável ao pensação podem ser classificados quanto ao
desenvolvimento das inovações. tipo como diretos ou indiretos. Compensações
Porter (1990) salienta o importante papel diretas referem-se aos acordos de compensa-
do governo como catalisador e encorajador ção que envolvem bens e serviços diretamente
das empresas, fazendo-as elevar suas aspira- relacionados com o objeto dos contratos de
ções e galgar níveis mais altos de desempe- importação. Já compensações indiretas re-
nho competitivo, principalmente em setores ferem-se aos acordos de compensação que
estratégicos ou prioritários. Para Carlos envolvem bens e serviços não diretamente
(2013), cada uma das modalidades de off- relacionados com o objeto dos contratos de
set, corretamente aplicadas, pode contribuir importação.
para que algumas das barreiras à inovação Esses acordos podem ser realizados segun-
sejam transpostas, tornando-se importantes do as seguintes modalidades de transações
ferramentas nesse processo. de compensação (BRASIL, 2002):
Em 27 de dezembro de 2002, foi a) Produção sob licença: É uma reprodução
assinada a Portaria Normativa nº 764/ de um componente ou produto que tenha
MD, que aprovou a Política e as Diretrizes origem no exterior, baseado em um contra-
de Compensação Comercial, Industrial e to comercial de transferência de informa-
Tecnológica do Ministério da Defesa. Seus ção técnica entre empresas fornecedoras
objetivos, estratégias e diretrizes estabelecem estrangeiras e os fabricantes nacionais;
a sistemática das atividades que envolvem a b) Coprodução: Refere-se à produção realiza-
utilização das ferramentas de compensação da no país, baseada em um acordo entre o
(offset) em benefício do desenvolvimento in- Governo Brasileiro e um ou mais governos
dustrial, tecnológico e de comércio exterior estrangeiros, que permita ao governo ou
da BID brasileira, a partir da utilização do empresa estrangeira fornecer informações
poder de compra do Estado e do poder con- técnicas para a produção de todo ou parte
cedente das Forças Armadas, quando das de um produto originado no exterior;

ACANTO EM REVISTA 67
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artigo selecionado

c) Produção sob subcontrato: Refere-se à (BRASIL, 2008). As motivações de tais parce-


produção de parte de um componente rias serão a busca de uma melhor representa-
originado de um fornecedor estrangeiro. O ção de países emergentes, inclusive o Brasil,
subcontrato não envolve, necessariamente, nas organizações internacionais, bem como a
a licença de informações técnicas e, usual- busca de uma contribuição com o crescimento
mente, é um acordo comercial direto entre econômico socialmente includente em âmbito
o fornecedor estrangeiro e o fabricante nacional (BRASIL, 2008).
nacional; Para concluir o embasamento teórico ne-
d) Investimentos: São investimentos realizados cessário à compreensão deste estudo, faz-se
pelo fornecedor estrangeiro, originado de necessário estabelecer a definição de país
um Acordo de Compensação, na forma de em desenvolvimento, bem como quais são
capital para estabelecer ou expandir uma estes países. Para Sullivan e Sheffrin (2003, p.
empresa nacional por intermédio de uma 471, tradução nossa), um país em desenvolvi-
“joint venture” ou de um investimento direto; mento, também chamado de país emergente,
e) Transferência de tecnologia: Refere-se é “um país com uma base industrial subdesen-
àquela que ocorre como o resultado de um volvida e um baixo Índice de Desenvolvimento
Acordo de Compensação e que pode ser Humano (IDH) em relação a outros países”.
na forma de: (i) pesquisa e desenvolvimen- No que se refere aos países que se encai-
to; (ii) assistência técnica; (iii) treinamento; xam nas categorias de país emergente ou país
e (iv) outras atividades, fruto de acordos desenvolvido, não há consenso na literatura ou
comerciais diretos com os fornecedores em Órgãos Internacionais, conforme se pode
estrangeiros, representando um aumento perceber pelos dados do Banco Mundial
qualitativo do nível tecnológico do País. (2015), Fundo Monetário Internacional (2015)
f) Contrapartida (countertrade): Em adição às ou Organização Mundial do Comércio
modalidades de compensação já citadas, (2015b), por exemplo. Neste artigo, para fins
outros tipos de acordos comerciais podem econômicos de classificação, serão levadas
ser exigidos. Um contrato pode incluir um em consideração as Estatísticas de Comércio
ou mais tipos dos seguintes mecanismos: Internacional da Organização Mundial do
(i) troca (barter): troca simples de produ- Comércio (OMC, 2015b).
tos ou serviços; (ii) contra-compra: o país
comprador se compromete em comprar Argumentos à parte, a OMC veta a exis-
um determinado valor em produtos do país tência de inúmeras cláusulas de compensação
vendedor; e (iii) compensação (buy-back): entre os países em seus acordos internacio-
o país vendedor aceita como pagamento nais, por considerar que constitui uma distor-
total ou parcial produtos derivados do pro- ção do livre comércio internacional; entretan-
duto originalmente importado. to, estabelece exceções para os países em
Tais acordos reforçam as perspectivas esta- desenvolvimento.
belecidas na Estratégia Nacional de Defesa Tal compreensão pode ser verificada em
(END), na qual se coloca que “serão buscadas seu Acordo Revisado sobre Contratação
parcerias com outros países, com o propósito Pública que estabelece, inicialmente, no
de desenvolver a capacitação tecnológica e art. IV que “as entidades contratantes não
a fabricação de produtos de defesa nacio- solicitarão, terão em conta, farão imposição
nais, de modo a eliminar, progressivamente, ou aplicarão qualquer tipo de offset” (OMC,
a compra de serviços e produtos importados” 2012, tradução nossa). Contudo, logo em

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artigo selecionado
seguida, estabelece no art. V que “com base Outros autores possuem pensamento alinhado,
em suas necessidades de desenvolvimento, e como se pode verificar abaixo:
de comum acordo entre as partes, um país
em desenvolvimento pode adotar Os offsets são normalmente solicitados a
ou manter [...] um offset, desde que partir de aquisições no exterior de bens e
qualquer exigência [...] seja previs- serviços nas áreas de defesa (aeronaves,
ta previamente no contrato” (OMC, navios, armamentos etc.) e civis de alta
2012, tradução nossa, grifo nosso), o que tecnologia (aviões comerciais, satélites de
deixa claro que a norma em análise efetiva- telecomunicações etc.) realizados pelo
mente permite a aplicação de offset aos paí- governo, por empresas estatais e empresas
ses em desenvolvimento, visando efetivamente concessionárias do governo. Os bens en-
a atender às suas necessidades. volvidos em uma transação podem variar
de produtos industrializados, a intangíveis,
4 ANÁLISE como transferência de tecnologia, direitos
Seguindo a metodologia proposta para comerciais e serviços (IVO, 2004, p. 64).
este estudo e tendo como base as informações Os acordos offset podem ser um impor-
apresentadas no referencial teórico, será evi- tante instrumento de política, atuando em
denciada agora a contribuição do offset como conjunto com as compras governamentais.
ferramenta à inovação nas últimas décadas, Esses acordos possibilitam que a compra de
reduzindo o hiato tecnológico existente na BID um produto tenha um termo adicional que
dos países em desenvolvimento. possibilite maior transferência de conheci-
Estudos e documentos anteriores sugerem mento e/ou serviço. Assim, o governo pode
importantes contribuições a esta análise. Para adotar algumas medidas de compensação
um contexto histórico, Tavares, Silva e Corrêa tecnológica para tentar reduzir o hiato exis-
(2014) demonstraram que as práticas de off- tente entre as empresas nacionais e estran-
set foram de suma importância para o ressur- geiras (Leske, 2013, p. 151, grifo nosso).
gimento de uma indústria de defesa forte nos
países da Europa no período pós 2ª Guerra Para Taborda (2001), os processos de
Mundial. Isso ocorreu porque, ao priorizarem aquisição envolvendo acordos de compensa-
as compensações com transferência de tecno- ção ocuparam, desde os anos 70, um espa-
logia, alguns países tiveram a possibilidade ço cada vez maior no quadro de comércio
de sair da condição de importadores para a internacional, predominando hoje os acordos
condição de exportadores de produtos e siste- de compensação em que o Estado, enquanto
mas de defesa de alta tecnologia, logo após entidade compradora, exige do fornecedor
duas décadas. mecanismos de compensação capazes de
Ainda para os mesmos autores, sob uma reduzir o esforço financeiro, associados à sua
ótica atual, os contratos de offset alcançaram aquisição e ao benefício da economia local.
importância no cenário político e econômico, Pela abordagem desses autores, é possí-
brasileiro e internacional, sendo percebidos vel perceber a importância justificada dada
como uma forma de promover o desenvolvi- às compensações no cenário internacional.
mento tecnológico, o crescimento da Base Nesse escopo, a aprovação da END é um
Industrial de Defesa, a geração de empregos, dos documentos que apresentam o caminho
o equilíbrio da balança comercial, e outros estratégico adotado pelo Estado Brasileiro.
benefícios diretos e indiretos para os países. Tal Decreto prioriza a tecnologia de uso dual

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artigo selecionado

como uma diretriz, devendo-se desenvolver níveis de projeção externa do País. A pre-
a infraestrutura estratégica do país, incluindo sente Estratégia Nacional de Defesa trata
requisitos necessários à Defesa Nacional. De da reorganização e reorientação das
acordo com o documento, “a infraestrutura Forças Armadas, da organização da Base
estratégica do Brasil deverá contemplar estu- Industrial de Defesa e da política de compo-
dos para emprego dual, ou seja, atender à sição dos efetivos da Marinha, do Exército
sociedade e à economia do País, bem como e da Aeronáutica. Ao propiciar a execução
à Defesa Nacional” (BRASIL, 2008). da Política Nacional de Defesa com uma
De acordo com Bresser-Pereira (2006, orientação sistemática e com medidas de
p. 203), “o desenvolvimento econômico é implementação, a Estratégia Nacional de
um processo histórico de acumulação de Defesa contribuirá para fortalecer o papel
capital e de aumento da produtividade por cada vez mais importante do Brasil no mun-
que passa a economia de um país levando do (BRASIL, 2008, grifo nosso).
ao crescimento sustentado da renda por ha-
bitante e à melhoria dos padrões de vida da De acordo com Dagnino (2008), os meca-
população dos países”. O Estado Brasileiro, nismos de offset colaboram com as políticas
ao determinar que a “Estratégia Nacional de públicas relacionadas ao tema da revitaliza-
Defesa é inseparável de estratégia nacional ção da BID brasileira, principalmente pelo fato
de desenvolvimento” (BRASIL, 2008), enaltece de aumentar a capacidade de formação da
a importância do setor de defesa para o de- opinião pública e de nela influenciar. Torna-se
senvolvimento do país. mais fácil obter o apoio da população para
Do Decreto Nº 6.703/2008, ainda pode- o tema defesa quando a mesma passa a
-se citar: compreender os impactos econômicos e tec-
O crescente desenvolvimento do Brasil deve nológicos consequentes da revitalização da
ser acompanhado pelo aumento do preparo BID. Para tal, o autor salienta como aspectos
de sua defesa contra ameaças e agres- relevantes a conscientização da presença de
sões. A sociedade brasileira vem tomando ameaças externas à soberania nacional e a
consciência da responsabilidade com a grande possibilidade de benefícios econômi-
preservação da independência do País. O cos e tecnológicos ao país. Tais ideias são
planejamento de ações destinadas à Defesa corroboradas, ainda, pelos demais dispositi-
Nacional, a cargo do Estado, tem seu do- vos legais sobre o tema, conforme analisado
cumento condicionante de mais alto nível na por Tavares, Silva e Corrêa (2014, p. 45):
Política Nacional de Defesa, que estabelece Com o alicerce político formado, fo-
os Objetivos Nacionais de Defesa. O pri- ram aprovadas, num período de cinco
meiro deles é a garantia da soberania, do anos, a Estratégia Nacional de Defesa
patrimônio nacional e da integridade territo- (2008), o Decreto nº 7.546/2011, a
rial. Outros objetivos incluem a estruturação Lei nº 12.598/2012 e o Decreto nº
de Forças Armadas com adequadas capa- 7.970/2013. Esses dispositivos legais de-
cidades organizacionais e operacionais e a monstram que o Brasil finalmente compreen-
criação de condições sociais e econômicas deu que os Acordos de Compensação reali-
de apoio à Defesa Nacional no Brasil, zados a partir das importações de produtos
assim como a contribuição para a paz e com alta tecnologia e valor agregado no
a segurança internacionais e a proteção mercado de defesa são oportunidades para
dos interesses brasileiros nos diferentes o país obter alguns benefícios, tais como: (i)

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artigo selecionado
desenvolvimento de uma indústria de defesa inúmeras críticas podem ser encontradas se
forte em níveis tecnológicos e qualitativos; referindo à política indiana de compensação.
(ii) absorção de tecnologias pelas empresas Para o Bussines Standard (2011), as em-
de defesa, permitindo ao país dar saltos presas de defesa indianas não conseguirão
tecnológicos no processo de evolução da absorver os bilhões de dólares em offset que
pesquisa científica, onde, se tivessem que surgirão das aquisições de material de defesa
ser desenvolvidas aqui, demandariam muito durante a próxima década. Segundo esse au-
mais tempo; (iii) aumento da competitividade tor, até hoje, a meta do programa de offsets
das empresas brasileiras no mercado inter- da Índia não está bem definida, não sendo
nacional equilibrando a balança comercial; possível saber se ela existe para aumentar a
(iv) geração de novos empregos nos setores fabricação de material de defesa, para ter
de alto nível tecnológico; e (v) incremento acesso à alta tecnologia sensível ou para ga-
da nacionalização e progressiva indepen- rantir o correto apoio ao ciclo de vida para
dência do mercado externo em relação aos o equipamento comprado. Com isso o país
produtos de defesa. perde inúmeras oportunidades de exercer a
correta aplicação das ferramentas de offset
em benefício real ao desenvolvimento.
Após este introito, buscaram-se evidências
Tal exemplo mostra que não basta usar
de que, nas últimas décadas, a utilização de
indiscriminadamente as ferramentas de offset
ferramentas de offset efetivamente contribuiu
para se atingir os objetivos estabelecidos,
para promover a inovação, reduzindo o hiato
visto que eles precisam estar claros e bem
tecnológico existente na BID de países em de-
elaborados para que sejam efetivos.
senvolvimento. Conforme citado anteriormen-
te, a classificação utilizada para determinar 4.2 Turquia
se o país se trata realmente de um país em Em um dos casos mais emblemáticos
desenvolvimento seguiu o estabelecido pela encontrados na literatura sobre o tema, no
OMC (2015b). tocante à definição de objetivos, a Turquia se
comporta de maneira oposta se comparada
4.1 Índia
à Índia. Para Taborda (2001), o acordo entre
Seguindo o citado por Verma (2009), a Turquia e a General Dynamics, em 1983,
inicialmente, será abordado o país cujo or- para a produção de peças turcas para o caça
çamento de defesa, em 2008, era de 23,42 F-16 é citado como referência em termos das
bilhões de dólares e, em 2009, passou para vantagens econômicas que podem ser gera-
26,4 bilhões, sendo 12 bilhões destinados das com a utilização de acordos de compen-
apenas para as aquisições de capital, estan- sação, além de ter sido o primeiro contrato de
do entre os 10 países que mais gastam com offset bem-sucedido no país.
defesa no mundo: a Índia. Vários autores associam, a este processo
Verma explica ainda que na Índia o offset com os americanos, o início das atividades
se tornou obrigatório em 30% do valor das da indústria aeronáutica turca, relacionando
aquisições de material de defesa, e esse o acordo de compensação com a compra
percentual pode ser ainda maior dependendo de caças sofisticados para o desenvolvimen-
das compras e do nível de importância atri- to da raiz de um conjunto de indústrias que
buída pelo Ministério da Defesa. No entanto, não existiam até então (HAMMOND, 1990;
apesar do alto investimento em material bélico, TABORDA, 2001).

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artigo selecionado

Aproveitando as competências tecno- que, devido aos grandes recursos comprome-


lógicas adquiridas com a experiência na tidos nos contratos, os envolvidos podem ser
utilização de acordos de compensação, a potencialmente capazes de oferecer subornos
Turkish Aerospace Industries (TAI), na situação a funcionários públicos e de se envolverem em
de empresa turca representativa do setor, ex- inúmeras práticas corruptas, o que expõe os
pandiu sua oferta nos últimos anos, visto que contratos principais a vários riscos de suborno
sua competência tecnológica a coloca em (DUTHIE; BARTUSEVICIUS, 2015), demons-
boa posição para concorrer em negócios no trando que cuidados devem ser tomados em
mercado internacional, cumprindo, ao mesmo se tratando de tais contratos.
tempo, sua missão em responder às necessi- Apesar dessas suspeitas, o Bussines
dades internas em termos de manutenção e Standard (2011) apresenta a Turquia como
a modernização do equipamento existente um país capaz de traduzir acordos de com-
(TABORDA, 2001). As competências instala- pensação em vantagem estratégica, além
das a permitiram, hoje, criar parcerias com os do desenvolvimento econômico, o que deve
principais representantes do mercado interna- ser considerado pelo Ministério da Defesa
cional, como Boeing e Airbus (DAILY NEWS, Indiano, que tem muito a aprender com os
1998; TABORDA, 2001). países em desenvolvimento com muito menos
Talvez o mais emblemático caso presente influência do que a Índia
na literatura especializada seja o da Turquia
que utilizou tecnologia obtida por offset
4.3 Arábia Saudita
para desenvolver e produzir componentes A exemplo da Turquia, a Arábia Saudita
para uma das mais modernas aeronaves de tem utilizado grandes acordos de compensa-
ataque do mundo: F-35 Joint Strike Fighter, o ção para o desenvolvimento de sua incipiente
caça supersônico de 5ª geração norte-ameri- base industrial (HAMMOND, 1990).
cano. Neste caso, a Turquia acabou por se Segundo Al-Ghrair e Hooper (1996), o
tornar o único fornecedor desse componente Reino Saudita estabeleceu inúmeros planos
específico, embora, por um momento, os EUA econômicos para transformar a base econômi-
tenham deixado de considerar a importância ca e reduzir a dependência do petróleo desde
daquele país como um fornecedor, acarre- 1970. Para os autores, um fator fundamental
tando num atraso de 17 meses no programa no desenvolvimento da economia do Reino
do F-35, o que causou imenso transtorno aos tem sido a transferência de tecnologia através
americanos (BUSSINES STANDARD, 2011). de uma variedade de acordos institucionais,
Com base nesse exemplo, os turcos demons- principalmente a joint venture, que buscava
traram como offsets podem ser utilizados acelerar a curva de experiência das indústrias
para galgar importantes papéis estratégicos e aumentar a produtividade do Reino.
numa cadeia de suprimentos global. Utilizando-se essencialmente de offsets
Cabe salientar, no entanto, um possível indiretos, a Arábia Saudita procurou acordos
aspecto negativo dos acordos entre a Turquia nas áreas de energia e das empresas de
e o mercado internacional. Embora não haja base tecnológica com necessidade de capital
nada comprovado, existe suspeita de corrup- intensivo. Assim, considerou a transferência
ção e suborno no processo de compra dos de tecnologia não apenas como uma compen-
F-16 (TODAY’S ZAMAN, 2012). Esse relevan- sação, mas sim como uma parte fundamental
te risco é amplamente apontado na literatura na maioria dos acordos estabelecidos (AL-
em relação à prática de offsets, tendo em vista GHRAIR; HOOPER, 1996).

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artigo selecionado
Para Taborda (2001), o importante proces- fabricante americano acordado em adquirir
so referente à instauração da infraestrutura de bens e serviços de origem local nos anos
defesa foi o acordo com a Boeing, em 1984, seguintes (TABORDA, 2001).
para a aquisição de um sistema de defesa ter- Taborda relata ainda que Israel passou a
restre designado de Peace Shield. As compen- produzir componentes para essa aeronave,
sações associadas ao contrato resultaram na que era comercializada no mercado interna-
instauração de infraestruturas que permitiram cional, atuando como alternativa ao próprio
diversificar as atividades econômicas no país, fabricante. Outros acordos de compensação
fornecendo inicialmente tanto a formação se seguiram a este e podem ser considerados
quanto a base tecnológica. representativos na forma como o país aborda
Apesar dos benefícios tecnológicos gera- os processos de offset enquanto instrumento de
dos não terem sido muito expressivos a ponto desenvolvimento econômico, de forma que o
de se destacarem, seus transbordamentos modo como Israel procura retirar benefícios a
econômicos para a população obtiveram partir da utilização desses acordos faz com
resultados satisfatórios, pois, dez anos de- que suas empresas locais atuem no mercado
pois do início do contrato, as quatro joint internacional como fornecedoras de offset
ventures criadas produziram mais de 1.400 (TABORDA, 2001).
postos de trabalho para a população saudita
4.5 Brasil
(TABORDA, 2001).
Há exemplos de sucesso também no âm-
4.4 Israel bito nacional. De acordo com Brasil (2015),
Outro país que procura retirar muitas vanta- exportando no ano passado valores acima
gens dos processos de compensações no âm- de US$ 100.000.000,00 (cem milhões de
bito das aquisições militares, desde a década dólares americanos), a Embraer é a empresa
de 80, a ponto de desenvolver hoje uma brasileira que mais exporta produtos de alto
indústria militar que praticamente não existia valor agregado.
até então, é Israel (REDLICH; MISCAVAGE, Costa e Santos (2010) consideram que
1996). essa empresa se tornou uma das líderes no
Para Redlich e Miscavage (1996), a segmento da aviação comercial e é uma
criatividade marca o modo como o país tem das maiores referências brasileiras entre as
aproveitado esses processos de compensa- empresas de defesa. Já o Departamento da
ção para desenvolver uma indústria de de- Indústria de Defesa da FIESP (COMDEFESA,
fesa, cuja face mais visível é a Israel Aircraft 2012) considera a Embraer como o maior
Industries (IAI). Segundo Taborda (2001, p. personagem do setor de Defesa do País, e
66), “no setor aeroespacial, a IAI é hoje um que ela aprendeu e se beneficiou da absor-
ator importante a nível global, comprovada ção de conhecimento em sua trajetória, fato
pela área ocupada em feiras, semelhante à que a possibilitou atingir o tamanho e o nível
da Boeing e Airbus”. de competitividade mundial que possui hoje,
Desde o princípio, os contratos de offset muito embora não tenha nascido entre as líde-
foram vistos por Israel como formas privi- res do mercado.
legiadas de acelerar a transferência de No final da década de 80 e início da dé-
conhecimento. O processo que iniciou essa cada de 90, essa empresa – então pública –
tendência foi a aquisição de 210 caças F-16 passou por uma grave crise que culminou com
da General Dynamics, em 1980, tendo o sua privatização em 1994 (EMBRAER, 2012).

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artigo selecionado

Após a privatização, o projeto da aeronave tecnologias de materiais compostos, de trata-


ERJ 145 tornou-se a grande promessa da nova mentos térmicos e de usinagens especiais.
fase da empresa. Segundo a Embraer (2012), De acordo com Leske (2013), o caso da
o sucesso da aeronave a transformou em sím- Embraer pode ser utilizado como referência
bolo de uma nova Embraer, colocando-a entre de sucesso na área de defesa, aumentando
as principais indústrias mundiais do setor. seu potencial inovador mediante interações e
Vale, então, elucidar um dos acordos em parcerias existentes com outras empresas, bem
que a empresa se envolveu: o programa do como institutos de pesquisa e com o apoio pú-
caça subsônico AMX, firmado com empresas blico em termos de incentivos e financiamento.
italianas em 78, do qual foi possível absorver Corroborando com tais ideias, Costa e
conhecimento como o de aviônica eletrônica Santos (2010) apontam como fator fundamen-
(conhecimento, este, embarcado no modelo tal ao sucesso da Embraer a inter-relação entre
145), tendo o offset permitido o domínio Escola (Instituto Tecnológico de Aeronáutica –
tecnológico de todos os processos envolvidos ITA), empresa (Embraer) e governo. Referindo-
na produção da aeronave (VILALVA, 2004; se à universidade, o ITA deu uma contribuição
COMDEFESA, 2012). essencial na formação dos engenheiros que se
Apesar de não existir consenso na literatu- constituíram no saber acumulado, permitindo
ra sobre o fato do projeto AMX ter sido ou a mão de obra qualificada e a gestão do co-
não um mecanismo de offset, conforme pode nhecimento, pilares da trajetória da firma. Isso
ser visto em Rzezinski e Serrador (2004) que foi possível, porque contou com a parceria do
consideram a empreitada como uma aproxi- governo, com especial ênfase ao seu início,
mação política e industrial entre o Brasil e a quando os equipamentos fabricados eram fei-
Itália; é ponto pacífico que as iniciativas forne- tos sob encomenda para atender a demanda
ceram base para um processo de aprendiza- do então Ministério da Aeronáutica, o que es-
gem industrial e tecnológico, permitindo ainda timulou o desenvolvimento de novos produtos
que a empresa não ficasse na dependência e tecnologias.
tecnológica durante seu desenvolvimento A ideia de desenvolvimento tecnológico e
(RZEZINSKI; SERRADOR, 2004; VILALVA, inovação envolvendo esses três setores princi-
2004; COMDEFESA, 2012). pais (governo, empresas e universidades) já
Contudo, existem vários outros acordos vêm sendo estudada há algumas décadas,
de compensação importantes na história da principalmente na América Latina. Essa sis-
empresa. Nesse sentido, Leske (2013) aborda temática foi modelada por Sábato e Botana
que a Força Aérea tem mantido o offset como (1968), que a representaram como um triân-
uma das exigências nas suas compras no ex- gulo equilátero, no qual os três setores men-
terior, sempre tentando gerar desdobramentos cionados são colocados nos vértices, sendo
para a Embraer, cujos acordos mais signifi- essa sistemática conhecida como “Triângulo
cativos foram a partir da década de 1970, de Sábato”.
quando, para a aquisição de aeronaves F-5E, Nesse sistema, teórico e balanceado, o
foi solicitada a transferência de tecnologia governo tem a responsabilidade de traçar
para a produção e montagem de estabiliza- estratégias, estabelecer prioridades de desen-
dores verticais e de pilones por essa empresa. volvimento e fornecer o financiamento neces-
A autora também salienta que esse projeto sário. A Academia é a depositária da gestão
gerou desdobramentos para outro, como as conhecimento técnico-científico e possibilita a
formação de pessoal necessário a suprir os

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artigo selecionado
quadros de funcionários governamentais e médias empresas e sobretudo a transferência
privados. O setor empresarial faz a união com de tecnologia capaz de tornar possível, no
a realidade, ficando atento às oportunidades país receptor, o desenvolvimento de novas in-
de negócios, aperfeiçoando as técnicas fa- dústrias de ponta” (VILALVA, 2004, p. 7).
bris e acrescentando conhecimentos técnicos De acordo com o contido no Manual de
(SÁBATO e BOTANA, 1968). Oslo, uma das formas de se obter inovações
Corroborando com o trabalho de Sábato e de produto é a partir da utilização de novos
Botana, Leske (2013) considera que os fatores conhecimentos ou novas tecnologias, ou a
listados correspondem exatamente aos pilares partir de novas maneiras de utilização ou
do sistema de inovação: a importância da combinações para conhecimentos ou tecno-
parceria entre empresa-universidade-governo e logias existentes, ou a partir de inovações
a busca constante por inovações como parte de processos, nas quais estão incluídas
da rotina das empresas. Segundo a autora, foi mudanças significativas em técnicas, equi-
possível verificar a seguinte análise: pamentos e/ou software (OCDE, 2005).
O caso da Embraer mostra que é possível Percebemos, então, que houve efetivamente
ser uma empresa líder em um mercado dis- o surgimento de inovações mediante a utili-
putado por grandes empresas, desde que zação de instrumentos de offset nos casos
mantendo parcerias e inovando, e que defi- estudados.
nitivamente as políticas devam partir de uma Contudo, em concordância com o abor-
visão sistêmica, no caso da defesa, com o dado por Leske (2013), é ainda necessário
governo garantindo também uma demanda delimitar até onde as proposições seriam
inicial mínima (LESKE, 2013, p. 175) viáveis em nossa realidade, pois não se pode
esquecer que tanto o contexto da defesa
No entanto, essa demanda mínima não quanto o econômico dos países abordados
demonstra ser prioridade atualmente, como é bem diferente do brasileiro. Assim sendo,
sugere a diminuição dos investimentos no setor essas especificidades devem ser consideradas
de defesa brasileiro. Segundo dados presen- nas projeções e necessidades elencadas pelo
tes no relatório anual The Military Balance, Brasil em seus acordos de compensação.
divulgado pelo The International Institute for Outro aspecto é o sugerido por Taborda
Strategic Studies (IISS, na sigla em inglês), (2001), ao considerar que os processos de
o Brasil deixou a lista dos 10 maiores orça- offset não devem ser vistos como garantia de
mentos militares do mundo em 2014. Pelo obter esse nivelamento tecnológico desejado,
relatório, o Brasil é agora o 11º colocado, mas como oportunidades para as empresas
uma posição abaixo do relatório anterior, posicionarem suas áreas de intervenção tec-
com orçamento de US$31,9 bilhões contra os nológica e desenvolverem suas competências,
US$34,7 bilhões em 2013. buscando inovar e se destacar no mercado.
Os fatos abordados neste estudo acerca Nesse sentido, Longo (2009) defende que
de compensações comerciais ou os chama- é essencial filtrar e analisar as informações
dos offsets corroboram com o abordado por tecnológicas, assim como ocorre, com re-
Vilalva (2004). O autor cita ser válido salientar lação à economia e à política, no processo
que os principais benefícios para os países de elaboração de estratégias e políticas por
em desenvolvimento são “novos investimentos, empresas e pelo governo. Corroborando
geração de empregos, aumento dos fluxos de com esse posicionamento, Leske (2013, p.
comércio, oportunidades para pequenas e 156) considera que “o país deve ser capaz

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artigo selecionado

de obter informações sobre as tecnologias inovação nas últimas décadas, a fim de reduzir
desenvolvidas em outros países e processá-las o hiato tecnológico existente na BID dos países
de forma a direcionar a estratégia tecnológica em desenvolvimento, sendo que as principais li-
conforme as necessidades de defesa e que mitações ao estudo ocorreram, principalmente,
possa tornar o país independente em termos no tocante ao acesso ao material de pesquisa,
tecnológicos”. uma vez que os artigos disponíveis são, em
No estudo realizado pela OMC (2015a) sua maioria, técnicos – e não acadêmicos. No
foi também salientado que não basta se tocante ao acesso aos dados, como grande
transferir tecnologia, é importante mensurar parte do assunto trata de tecnologias sensíveis
a educação e a disponibilidade da infraes- à Segurança Nacional, o acesso a determina-
trutura presentes nos países receptores, veri- das bases de dados práticos para a análise foi
ficando se elas são adequadas tanto para a muito limitado.
transferência quanto para a assimilação ou De acordo com a definição de inovação
adaptação da tecnologia. adotada neste artigo, sendo a “introdução de
Para Leske (2013), existem grandes difi- novidade ou aperfeiçoamento no ambiente
culdades com relação à utilização dos offsets produtivo ou social que resulte em novos pro-
no Brasil. Quando são celebrados acordos dutos, processos ou serviços” (BRASIL, 2004),
de transferência tecnológica pelas Forças foi possível depreender que o passado recente
Armadas com empresas de outros países, por demonstra inúmeros casos que ilustram al-
exemplo, são enviados apenas engenheiros gumas das vantagens relacionadas à utiliza-
ligados às Forças, mas não engenheiros das ção do offset como ferramenta à inovação.
empresas, de maneira a complementar o es- Conseguimos constatar que é possível utilizá-lo
tudo. Com isso, devido à grande rotatividade como eficiente ferramenta de políticas públicas
nas funções exercidas pela carreira militar, é na busca pelo desenvolvimento tecnológico
comum que o conhecimento adquirido acabe (e consequentemente econômico) dos países
se perdendo, sem haver nenhum transborda- estudados.
mento para a sociedade. Os acordos de compensação contribuíram
Para aquela autora, o envio de engenhei- para a transposição de barreiras à inovação
ros empregados por empresas permite não que sofrem as empresas, principalmente as do
só atender à demanda das Forças oportuna- setor de defesa. Verificou-se que as inovações
mente mas também possibilita a realização de decorrentes da adoção dos offsets permitiram
uma aplicação dual, ampliando os benefícios a redução do hiato tecnológico existente en-
oriundos da tecnologia adquirida. Outro tre os países desenvolvidos e os países em
fator abordado refere-se à interação entre desenvolvimento.
as próprias Forças Armadas, pois apesar de Entretanto, faz-se necessário compreender
reunidas pelo Ministério da Defesa, ela con- que tal processo não é automático, muito
tinuam atuando de forma independente. Com menos simples. Entre outros fatores, o sucesso
essa interação restrita e complicada, torna-se demanda de uma profunda análise da infraes-
dificultosa a realização de ações conjuntas, trutura presente no país receptor, verificando se
fragilizando o sistema. é adequada tanto para transferência quanto
para a assimilação ou adaptação da tecnolo-
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS gia desejada, além da necessária integração
Ao longo deste trabalho, buscou-se eviden- dos três setores principais: governo, empresas
ciar a contribuição do offset como ferramenta à e universidades. Tais ações possibilitam um real

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artigo selecionado
transbordamento para a sociedade, mediante BRASIL. Ministério da Defesa. Portaria
a efetividade dos sistemas de inovação. Normativa nº 764/MD. Aprova a Política
Adicionalmente, podemos inferir que, para e Diretrizes de Compensação Comercial,
ter acesso aos benefícios, é necessário trans- Industrial e Tecnológica do Ministério da
por algumas dificuldades, como uma maior Defesa. Diário Oficial da União, Brasília, DF,
integração não apenas intersetorial mas tam- em 31 dez. 2002, seção 1, p. 19.
bém intrassetorial. Desse modo, é possível ini- BRASIL. Lei nº 10.973, de 2 de dezembro
bir algumas fragilidades presentes no sistema. de 2004. Dispõe sobre incentivos à inova-
Corretas e rígidas práticas de fiscalização e ção e à pesquisa científica e tecnológica no
transparência pública também são necessá- ambiente produtivo e dá outras providências.
rias, visando a coibir, principalmente, os riscos Disponível em: < http://www.planalto.gov.
à corrupção. br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/lei/
Por se tratarem de acordos, offsets envol- l10.973.htm>. Acesso em: 19 set. 2015.
vem uma relação de troca entre o vendedor BRASIL. Ministério da Defesa. Portaria
e o comprador, na qual eles se tornam par- Normativa no 899, de 19 de julho de 2005.
ceiros, sendo necessário buscar ao máximo, Disponível em: <http://www.defesa.gov.
na negociação, uma relação de ganha-ganha br/arquivos/File/legislacao/emcfa/publica-
entre os participantes. coes/pnid_politica_nacional_da_industria_
A inovação permite o aumento da produti- de_defesa.pdf>. Acesso em: 19 set. 2015.
vidade da indústria com uma consequente me- BRASIL. Decreto nº 6.703, de 18 de de-
lhora da economia e melhora da qualidade zembro de 2008. Aprova a Estratégia
de vida da população. No Brasil, a END nos Nacional de Defesa, e dá outras providên-
mostra que estratégia de defesa está interliga- cias. Disponível em: <http://www.planalto.
da a estratégia de desenvolvimento. Dessa gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/
forma, as inovações no setor de defesa pos- Decreto/D6703.htm>. Acesso em: 16 jun.
sibilitam o uso de tecnologias de uso dual, de 2015.
forma a agregar valor aos produtos nacionais BRASIL. Ministério da Defesa. Livro Branco
e melhorar tanto a possibilidade de atender às de Defesa Nacional. 2012. Disponível
demandas internas quanto ao mercado exter- em: <http://www.defesa.gov.br/arqui-
no, fortalecendo a balança comercial. vos/2012/mes07/lbdn.pdf>. Acesso em:
Por fim, como sugestão de pesquisas futu- 06 nov. 2015.
ras, propõe-se uma avaliação mais minuciosa BRASIL. Ministério do Desenvolvimento,
da realidade da BID brasileira no tocante a Indústria e Comércio Exterior. Empresas ex-
sua real capacidade de incorporar, de manei- portadoras: 2001 a 2014. 2015. Disponível
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ACANTO EM REVISTA 79
E M R E V I S TA
artigo selecionado

Autor: Capitão-Tenente (Intendente da


Marinha) Luiz Biondi
Orientador: Capitão de Mar e Guerra
(RM1- Fuzileiro Naval) Edilson Antunes de
Farias - CIANB
Coorientador: Capitão de Corveta
(Intendente da Marinha) Alex Lôbo Carlos
- CORM

OFFSET E BASE INDUSTRIAL


DE DEFESA: UMA ANÁLISE DO
PROCESSO DE TRANSFERÊNCIA
DE TECNOLOGIA
Resumo: Este artigo buscou apontar possíveis benefícios decorrentes da transferência de tecnologia para a Base Industrial de Defesa, além de
identificar aspectos relevantes para que tal processo ocorra em sua plenitude no âmbito dos acordos de compensação comercial (offset). Após uma
pesquisa bibliográfica e documental, foi apresentada a relação entre offset, transferência de tecnologia e Base Industrial de Defesa. Procedeu-se,
então, a uma análise qualitativa dos dados coletados, que evidenciou possíveis benefícios da transferência de tecnologia, aspectos relevantes no
que diz respeito ao alcance do sucesso de tal processo, bem como a necessidade de aprimoramento da atual gestão de contratos dessa natureza.
Palavras-chave: Compensação; Offset; Defesa; Transferência de Tecnologia; Base Industrial de Defesa.

1 INTRODUÇÃO Estratégia Nacional de Defesa (END) que,


Em um cenário cada vez mais globalizado segundo Crepaldi (2011), contém um plano
e competitivo, possuir uma economia forte focado em ações estratégicas de médio e
parece não ser condição suficiente para ga- longo prazo, visando à modernização da
rantir o contínuo crescimento e a soberania estrutura de defesa brasileira que se mostra
de uma nação. Muito se tem discutido quanto delineada em três eixos, quais sejam: reorga-
à importância e ao papel da independência nização das Forças Armadas; reestruturação
tecnológica em tal contexto, principalmente no da indústria brasileira de material de defesa;
que diz respeito ao setor de defesa. e política de composição dos efetivos.
Em alinhamento com o descrito acima, no O eixo a que se refere o presente estudo
ano de 2008, foi aprovada, por meio do é o relativo à reestruturação da indústria bra-
Decreto nº 6.703, de 18 de dezembro, a sileira de material de defesa, que apresenta

80 ACANTO EM REVISTA
E M R E V I S TA

artigo selecionado
como principal objetivo garantir que o atendi- acordos de compensação comercial, industrial
mento das necessidades de equipamento das e tecnológica (offset)?
Forças Armadas seja calcado em tecnologia Nesse sentido, o objetivo dessa pesquisa foi
sob domínio nacional. reconhecer benefícios advindos do uso da ToT
Em um primeiro momento, seria possível para a BID, além de identificar aspectos impor-
imaginar que o Brasil, que segundo o Fundo tantes para o sucesso pleno desse tipo de pro-
Monetário Internacional (FMI) é portador cesso em termos de acordos offset. Considerou-
da nona maior economia do mundo (World se que o conhecimento de tais benefícios e
Economic Outlook, 2015), fosse capaz de, aspectos podem constituir-se como ferramentas
por si próprio, conseguir proporcionar o gerenciais relevantes para os dirigentes das
desenvolvimento e a reestruturação de sua organizações pactuantes de acordos dessa na-
Base Industrial de Defesa (BID). Porém, dados tureza, para os militares das Forças Armadas à
constantes no presente estudo, demonstram frente das negociações de tais contratos, bem
a necessidade de implementação de outras como para os atores da BID.
estratégias para a existência da possibilidade Dessa forma, este artigo proporcionou,
do cumprimento de tal propósito. com base em uma pesquisa descritiva de
Como tentativa de indicar mecanismos que abordagem qualitativa, a criação de um
ajudem no atendimento dos objetivos propos- referencial teórico que visa a contextualizar
tos, além de prover celeridade ao processo de conceitos relacionados aos contratos de offset,
desenvolvimento tecnológico e de capacita- BID e ToT. Em seguida, o estudo contou com
ção de recursos humanos nacionais, a END alguns casos práticos de offset em um contexto
traz como diretriz a busca de parcerias com nacional e internacional, além da análise do
outros países, de modo a eliminar, progres- relatório TC 005.910/2011-0 do Tribunal de
sivamente, a compra de serviços e produtos Contas da União (TCU) referente ao processo
importados. Nesse contexto, tem-se a inserção de ToT associado aos contratos de offset do
da figura dos acordos de compensação co- Programa de Desenvolvimento de Submarinos
mercial, industrial e tecnológica (offset), que se (PROSUB), gerido pela Marinha do Brasil
(MB), e do Projeto H-XBR (Helicópteros), geri-
estabelecem como foco do presente estudo.
do pela Força Aérea Brasileira (FAB).
Ao tomar como base a utilização dos
A análise dos dados anteriormente citados
acordos de offset no setor de defesa brasilei-
buscou evidenciar empiricamente, com o uso
ro, busca-se evidenciar que, por meio de tal
dos casos práticos, benefícios do uso da ToT
ferramenta, especificamente na modalidade
como contrapartida para a BID; enquanto
de Transferência de Tecnologia (Transfer of
a análise do relatório do TCU foi realizada
Technology - ToT), a BID poderá ser capaz de
com o objetivo de ajudar na identificação de
promover significativos avanços tecnológicos,
aspectos necessários ao alcance de todo po-
podendo desenvolver não só a si própria mas
tencial existente em processos dessa natureza.
também a Base Industrial Nacional.
Desse modo, este estudo definiu como
2 REFERENCIAL TEÓRICO
questão básica o seguinte problema de pes-
quisa: Quais os possíveis benefícios decorren- 2.1 Base Industrial de Defesa
tes do processo de ToT para a BID e quais os Segundo a END (2008, p.21), a BID é
aspectos relevantes para a consecução plena o conjunto das empresas estatais e privadas,
de tal processo, considerando-se o âmbito dos bem como de organizações civis e militares

ACANTO EM REVISTA 81
E M R E V I S TA
artigo selecionado

que participam de uma ou mais etapas de Em seguida, uma BID com capacidade para
pesquisa, desenvolvimento, produção, distri- proporcionar os recursos necessários e adequa-
buição e manutenção de produtos estratégi- dos ao tempo desejado, conforme orientação
cos de defesa (bens e serviços). dada pela END e devidamente incentivada por
Carvalho (2013) defende que a BID, embo- todo um arcabouço legal e industrial, a qual
ra seja um ramo da indústria, possui algumas necessita do máximo de independência tecno-
características que a difere das demais. Sua lógica e logística.
importância estratégica para a soberania e a Ainda segundo Carvalho (2013), a base
aplicação do poder nacional lhe dá caráter da pirâmide denota a capacidade industrial
brasileira. A ela caberia o papel de dar
exclusivo e, ao mesmo tempo, muito subjetivo,
suporte tecnológico e financeiro à BID, po-
difícil de ser quantificado.
dendo ainda ser beneficiária das tecnologias
Com o objetivo de facilitar o entendimento
duais e possíveis transbordamentos tecno-
deste ramo da indústria nacional e sua rele-
lógicos, de forma que uma base industrial
vância, será utilizado o conceito da “pirâmi-
nacional forte serviria de respaldo à BID que,
de de defesa”, conforme observado na figura
por conseguinte, poderia desenvolver e/ou
01 a seguir:
absorver tecnologias relevantes para sua
independência e, ao mesmo tempo, passíveis
Figura 1 – Pirâmide de Defesa. de utilização na indústria nacional.
Uma vez estabelecidas tais relações
entre as camadas da pirâmide de defesa,
torna-se possível perceber a existência de
ao menos duas diferentes possibilidades de
desenvolvimento econômico que podem ser
potencializadas por meio da BID.
A primeira é denominada spin-off, ou trans-
bordamento, que, segundo Peron (2011), ca-
racteriza-se pela transferência dos desenvolvi-
Fonte: Adaptado de Base Industrial de Defesa, 2013.
mentos tecnológicos ou inovações verificados
de uma área industrial para outra, podendo
Segundo Carvalho (2013), podem ser
ocorrer da BID para a indústria nacional, após
observadas, no ápice da pirâmide, as aspi-
o desenvolvimento da primeira.
rações da política de defesa, caracterizadas
A segunda possibilidade seria a utilização
pela Política Nacional de Defesa (PND) e
de tecnologias duais que, diferentemente do
END, expressando a necessidade de um po-
transbordamento de tecnologia do efeito
der militar suficiente para garantir os objetivos spin-off, tem relação com a convergência de
políticos nacionais. tecnologias entre os setores militar e civil, ou
No segundo bloco, estão as Forças seja, tecnologias que tenham aplicações tanto
Armadas como garantidoras da política exter- no meio civil quanto no meio militar, podendo
na, tendo em vista que, independentemente igualmente impulsionar a economia e a indús-
do quão qualificado seja o corpo diplomáti- tria nacional como um todo (SILVA, 2009).
co, as negociações devem estar amparadas O entendimento de que a BID pode se
por um adequado aparato militar, sem o qual beneficiar de uma relação harmoniosa com
não há o devido respaldo. a base industrial de defesa é defendida por

82 ACANTO EM REVISTA
E M R E V I S TA

artigo selecionado
Ferreira e Sarti (2011) quando asseveram que severamente atingidas pela crise internacional
a geração de demanda para BID pode favo- do setor.
recer a cadeia produtiva das demais indústrias Desse modo, no que tange ao setor da
brasileiras, não necessariamente relacionadas indústria de defesa, uma nova conjuntura
com essa BID, contribuindo para o aumento mundial foi se formando, fazendo com que
da atividade industrial no Brasil. as nações começassem a adotar diferentes
Cabe ainda destaque para a necessidade posturas: enquanto algumas estimularam suas
da observância de elementos conectores no empresas a encontrarem novos mercados in-
âmbito do conceito da “pirâmide de defesa”. ternacionais para compensarem a insuficiente
De acordo com Carvalho (2013), para que tal demanda interna causada pelos orçamentos
pirâmide se consolide, faz-se necessária a exis- militares reduzidos, outras praticamente não
tência de objetivos alinhados e políticas favo- interferiram nas condições existentes no
ráveis asseguradas pelo Estado, ou seja, uma mercado, deixando que algumas de suas
“força política” suficiente e capaz de garantir empresas entrassem em processo de falência
perpetuidade de investimentos e continuidade (DEGL`IESPOSTI; STRACHMAN, 2006).
de demanda, fazendo com que os riscos de Após o anteriormente elucidado, buscou-
investimentos no âmbito de defesa sejam acei- -se posicionar o Brasil na realidade atual do
tos pelas empresas componentes desse meio e segmento em estudo, na tentativa de expor a
exista espaço para aprimoramento e desenvol- postura governamental e possíveis tendências
vimento da BID. do setor. Para tal, foram observados dados
referentes aos gastos militares internacionais a
2.2 A Indústria Nacional de Defesa e as partir do reportado pelo relatório do Stockholm
Tendências Nacionais International Peace Research Institute (SIPRI),
Ao observar um breve histórico mundial das organização que realiza diversos estudos, em
indústrias bélicas, torna-se evidente o declínio escala global, na área de defesa, incluindo
nos orçamentos militares no pós-guerra fria, dados como os relativos ao mercado interna-
fato que levou a maioria das empresas deste cional de venda de armamentos.
ramo a enfrentar períodos de grande recessão O relatório emitido inclui todos os gastos
advindos do excesso de oferta (produção acu- nas Forças Armadas, inclusive os gastos com
mulada) em face da reduzida demanda, visto pessoal (aposentadorias e pensões), com servi-
que os países não percebiam mais a neces- ços sociais (assistência médica, por exemplo)
sidade de acumular estoques de armamentos e administrativos de 171 países. Segundo o
(DEGL`IESPOSTI; STRACHMAN, 2006). referido relatório, foi possível a confecção de
A BID, seguindo essa realidade, teve seu alguns gráficos elucidativos. Na figura 02, a
ápice observado na década de 80, deven- seguir, pode-se perceber a evolução histórica
do-se em grande parte à guerra Irã-Iraque. dos gastos com defesa do Brasil com relação
Segundo Zaborsky (2003), as exportações à representação percentual do PIB.
de armas brasileiras chegaram a quase Em relação à figura 02, depreende-se
US$ 1 bilhão, na metade da década de 80 que, a despeito do aumento do orçamento
(mesmo valor registrado pela França, quarta e consequentemente dos valores gastos em
colocada neste comércio, em 2003). Porém, defesa, houve uma redução em sua relação
no começo da década de 1990, as três percentual com o Produto Interno Bruto (PIB),
maiores empresas brasileiras do setor indus- que, de acordo com Mankiw (2007), repre-
trial-militar (Embraer, Engesa e Avibrás) foram senta o valor de mercado de todos os bens e

ACANTO EM REVISTA 83
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artigo selecionado

Figura 2 – Gastos em defesa do Brasil, em valores nominais


e em relação ao percentual do PIB, no período de 2001 até 2014.

Fonte: Elaboração do Autor mediante dados do SIPRI.

serviços finais produzidos em um país em um quando comparados com os destinados ao


dado período de tempo. setor de defesa.
Verificando o posicionamento do Brasil No intuito de proporcionar uma visão da
em comparação com as nações que mais postura governamental relativa ao assunto
gastam com defesa e suas respectivas par- e seu possível alinhamento a END, foram
celas correspondentes ao PIB, foi possível obtidos dados junto ao sítio da internet do
elaborar um gráfico comparativo, conforme Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação
demonstrado na figura 03 a seguir. (MCTI), consolidados em 2015, no qual foi
No gráfico em estudo, é possível verificar possível verificar, em termos percentuais, a
que o Brasil encontra-se na 11ª posição mun- divisão dos gastos em P&D do Brasil em com-
dial em termos de gastos militares, porém, paração com outras nações selecionadas por
dentre os quinze maiores gastos, apresenta-se tal Ministério, conforme observado na seguin-
à frente somente do Japão e da Alemanha, te tabela 01.
quando observada a parcela proporcional do Ao observar os dados constantes na tabela
PIB representada por tais gastos. 01, fica evidenciado que o Brasil investe uma
Uma vez verificado o montante disponibi- modesta parcela do total de gastos em P&D
lizado aos gastos do segmento em questão, no âmbito do setor de defesa, o que parece
procedeu-se uma análise para saber como dificultar o pretendido pela END, uma vez que
os recursos disponibilizados pelo Governo essa estabelece prioridade para o desenvol-
Federal são direcionados para Pesquisa vimento nacional de tecnologia nos diversos
e Desenvolvimento (P&D), de forma geral, ramos da indústria de defesa.

84 ACANTO EM REVISTA
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artigo selecionado
Figura
Fonte: Elaboração 3 – Gastos
do Autor com
mediante defesa
dados de países selecionados, em valores nominais
do SIPRI.
em relação ao percentual do PIB, no ano de 2014.
No gráfico em estudo, é possível verificar que o Brasil encontra-se na 11ª posição
mundial em termos de gastos militares, porém, dentre os quinze maiores gastos, apresenta-se
à frente somente do Japão e da Alemanha, quando observada a parcela proporcional do PIB
representada por tais gastos.
Uma vez verificado o montante disponibilizado aos gastos do segmento em questão,
procedeu-se uma análise para saber como os recursos disponibilizados pelo Governo Federal
são direcionados para Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), de forma geral, quando
comparados com os destinados ao setor de defesa.
No intuito de proporcionar uma visão da postura governamental relativa ao assunto e
seu possível alinhamento a END, foram obtidos dados junto ao sítio da internet do Ministério
da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), consolidados em 2015, no qual foi possível
verificar,
Fonte: Elaboração doem termos
Autor mediante dados dopercentuais,
SIPRI. a divisão dos gastos em P&D do Brasil em comparação com
outras nações selecionadas por tal Ministério, conforme observado na seguinte tabela:
Tabela 1 – Gastos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) de países selecionados em termos
percentuais
Tabela 1 – Gastos em Pesquisa relativos ao investimento
e Desenvolvimento total. selecionados em termos
(P&D) de países
percentuais relativos ao investimento total

Fonte: Coordenação-Geral de Indicadores (CGIN) - ASCAV/SEXEC - Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), 2015
7

2.3 Acordos de Compensação Comercial, Nesse sentido, Ivo (2004) defende a ideia
Industrial e Tecnológica (offset) de que acordos comerciais offset podem se
Face ao anteriormente exposto, alternativas configurar como instrumentos dinamizadores
de aprimoramento, expansão da BID e conse- do desenvolvimento industrial e tecnológico,
quente sinergia com a base industrial nacional tornando fundamental o correto entendimento
têm sido alvo de discussões acadêmicas e do conceito de tal mecanismo e seus possíveis
políticas, nas quais o uso de ferramentas as- desdobramentos.
sociadas ao comércio internacional de defesa A prática de offset foi definida por meio
ganha destaque. da Portaria nº 764, de 2002, que aprova

ACANTO EM REVISTA 85
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artigo selecionado

a Política e as Diretrizes de Compensação de cooperação comercial, industrial e tecno-


Comercial, Industrial e Tecnológica do lógica que, conforme mencionado no art. 8°
Ministério da Defesa (MD) como sendo toda e da Portaria em questão, são feitos com base
qualquer prática compensatória que seja “[...] no conceito de FOB (Free on Board), no qual
acordada entre as partes, como condição o vendedor cumpre sua obrigação quando
para a importação de bens, serviços e tecno- entrega a mercadoria desembaraçada e
logia, com a intenção de gerar benefícios de pronta para exportação no modal acordado
natureza industrial, tecnológica e comercial” (METZGER; KISTENMACHER, 2007).
(BRASIL, 2002, p. 7). O mesmo diploma legal A Portaria nº 764/MD, de 2002, divide as
dispõe em seu art. 8 que: compensações em dois tipos: direta e indireta.
As negociações de contratos de impor- A primeira trata dos acordos de compensação
tação de produtos de defesa realizadas que envolvem bens e serviços diretamente re-
por qualquer uma das Forças Armadas, lacionados ao objeto dos contratos de impor-
com valor líquido - F.O.B. acima de US$ tação; já a segunda refere-se aos acordos de
5.000.000,00 (cinco milhões de dólares compensação que envolvem bens e serviços
americanos), ou valor equivalente em não diretamente relacionados ao objeto dos
outra moeda, seja em uma única compra contratos de importação. Esta última pode ser
ou cumulativamente com um mesmo forne- exemplificada pela operação de assistência
cedor, num período de até doze meses, técnica para o Navio-Aeródromo São Paulo
devem incluir, necessariamente, um Acordo como uma das medidas de compensação
de Compensação, desde que amparadas previstas no Acordo de Compensação do
por dispositivos legais vigentes (BRASIL, PROSUB (PESSÔA, 2012 apud TAVARES et
2002, p. 3). al., 2013).
De acordo com o Bureau of Industry and
Apesar de tal prática ter ganhado maior Security (2015), as possíveis modalidades
repercussão na atualidade, não é um as- de compensação, seriam: a coprodução; a
sunto novo. O histórico da política de offset assistência financeira; o investimento direto; a
nacional remonta a década de 30, quando produção sob licença; as compras diretas; a
o Brasil tencionou trocar submarinos com subcontratação; a transferência de tecnologia;
a Itália por café e algodão. Na mesma e o treinamento de pessoal.
época, o Exército Brasileiro (EB) já fazia o Em que pese todas as contrapartidas pos-
mesmo com os alemães, trocando armas por suírem características peculiares, esta pesqui-
algodão (SCHNAIDERMAN, 2004 apud sa manterá foco sob a modalidade de contra-
CARLOS, 2013). partida referente à ToT devido a sua estreita
Nesse sentido, Tavares et al. (2013) relem- ligação com o aprimoramento da BID, com o
bram que o Acordo de Compensação (AC) é alinhamento ao preconizado pela END, com
o instrumento legal utilizado para formalizar o o possível desenvolvimento econômico nacio-
compromisso do fornecedor estrangeiro para nal, bem como com sua relevância para o
compensar a importação de bens e serviços setor de defesa.
pelo país comprador. Tais acordos podem Dessa forma, a ToT pode tomar a forma
ser realizados por meio de uma cláusula de de P&D, assistência técnica, treinamento ou
compensação inserida no contrato de aqui- outras atividades como resultado de contratos
sição sob a forma de um contrato específico de aquisição com as empresas estrangeiras,
correlacionado com a compra ou um acordo que revelem um salto qualitativo do patamar

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artigo selecionado
tecnológico do país. Cabe ressaltar que tal Caso contrário, ainda segundo Longo e
modalidade pode ser considerada adequada Moreira (2012), os contratos poderiam ser vis-
aos fins de desenvolvimento econômico, caso tos como compras de informações técnicas e
respeitados parâmetros de gerenciamento operacionais, ou seja, sem o menor potencial
dos contratos de offset, combinados com ou- de futuro desenvolvimento de tecnologia, invia-
tros aspectos como a adequada capacidade bilizando, por exemplo, um possível spin-off
de absorção da tecnologia em transferência. para a indústria nacional.
Em alinhamento com tal concepção, Carlos Outros pontos fundamentais para o sucesso
(2013) assevera que o MD, por meio das da ToT podem ser encontrados na aborda-
Forças Armadas, priorizou os acordos de com- gem de autores como Carlos (2013) e Longo
pensação offsets com o desígnio de promover e Moreira (2012), bem como nos estudos
a participação da BID no processo de inova- elaborados pela Universidade das Nações
ção, condicionando a compra de produtos de Unidas e Science and Development Network,
defesa no exterior à transferência substancial sendo um entendimento comum a todos a con-
de tecnologia e ao processo de absorção de cepção de que o sucesso da ToT depende da
competências até então inexistentes. capacidade que o país recebedor tem de di-
No Brasil, todas as modalidades são admi- mensionar e absorver a tecnologia que estiver
tidas desde que inseridas em um contexto mais sendo transferida, de definir mecanismos de
amplo que proporcione a transferência de uma supervisão e absorção de tal tecnologia e de
tecnologia ainda não dominada. Essa transferên- mensurar e coordenar a efetiva apropriação e
cia tem sido um requisito decisivo nas aquisições gestão do conhecimento.
brasileiras na área de defesa (MITRA, 2009). Cabe destacar que não existe plena ToT
No âmbito da ToT, faz-se necessário dirimir se não houver uma equipe qualificada para
qualquer antinomia conceitual que porventura absorvê-la. A tecnologia não está nos equi-
possa existir. Não há de se confundir ToT com pamentos ou produtos que estão sendo de-
transferência de técnica. Seguindo este ra- senvolvidos ou importados, mas sim na mente
ciocínio, Longo e Moreira (2012) relembram daqueles que os desenvolvem. Portanto, caso
que os contratos comerciais de ToT podem, ou não existam recursos humanos com compe-
não, propiciar uma verdadeira transferência tência e capacidade suficientes para receber
dos conhecimentos do vendedor para o com- todo o conhecimento, a ToT nunca será plena
prador. No entanto, por vezes, os contratos (LONGO; MOREIRA, 2012).
que são negociados como ToT não passam de
transferência de técnica. 3 METODOLOGIA
Contratos firmados entre empresas nos A metodologia de uma pesquisa é composta
quais existe uma simples venda de instruções, por diversos fatores que, em linhas gerais, é en-
no qual o vendedor não transfere os conheci- tendida como a descrição do tipo de pesquisa,
mentos que geraram tais instruções, podem ser coleta e análise dos dados, além dos materiais
chamados de transferência de técnica e não e instrumentos que levam à obtenção dos resul-
caracterizam vantagens de longo prazo para tados (MOTA-ROTH; HENDGES, 2010).
o país recebedor.
A verdadeira ToT só ocorre quando o re- 3.1 Tipo de Pesquisa
ceptor absorve o conjunto de conhecimentos Este trabalho se propôs a realizar uma pes-
que lhe permite inovar, isto é, criar nova tecno- quisa descritiva com abordagem qualitativa,
logia a partir dos conhecimentos absorvidos. que, como defendido por Strieder (2009),

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artigo selecionado

imprime maior subjetividade por encarar reali- expansão, extinguindo ainda qualquer dúvida
dades múltiplas e por exigir maior compreen- sobre a correta conceituação da ToT.
são sobre o tema. Teve ainda como objetivo Na seção relativa à análise de dados,
proporcionar maior familiaridade com relação buscaram-se explorar os dados obtidos, quais
às práticas de offset, principalmente no tocante sejam: evidências sobre offset com contratos
ao processo de ToT e sua relação com a BID, de ToT dentro e fora do Brasil, coletados em
reconhecendo benefícios decorrentes de tais publicações acadêmicas, visando analisar
práticas e aspectos importantes para o alcance a possível relação entre a ToT e o desen-
do sucesso pleno de tal processo; sem deixar volvimento da BID; a análise do Relatório
de abordar as variáveis que se mostram rele- Operacional TC  005.910/2011-0 do
vantes e que permeiam o assunto. Tribunal de Contas da União (TCU); e os rela-
tórios da United Nations Conference on Trade
Para tal, foi realizada uma pesquisa biblio-
and Development (UNCTAD), entidade que
gráfica elaborada com base em material publi-
busca acelerar o desenvolvimento econômico,
cado como livros, revistas, teses, bem como ma-
coordenando, em nível global, políticas rela-
teriais disponibilizados na internet referentes aos
cionadas com países menos desenvolvidos.
temas offset, BID, spin-off e ToT, denominadas,
Quanto ao relatório do TCU, trata-se, segun-
segundo Gil (2010), como fontes secundárias
do o próprio, de uma análise da modelagem
de pesquisa.
e articulação institucionais e das práticas de
Outro tipo de pesquisa utilizada foi a docu-
gestão e controle adotadas nos processos de
mental, que guarda nas fontes de pesquisa a ToT existentes no PROSUB e no Projeto H-XBR,
principal diferença com relação à modalidade tendo tal relatório sido selecionado mediante
bibliográfica. Dessa forma, foram utilizadas à relevância e aderência ao tema em estudo,
fontes primárias, como: documentos institucio- além do vulto dos contratos envolvidos.
nais; dados atinentes a contratos de offset; e Quanto às demais fontes, ressaltam-se os
relatórios emanados por autoridades competen- dados obtidos junto ao SIPRI, além dos rela-
tes (GIL, 2010). tórios da UNCTAD, que se posicionam como
fornecedores de um panorama dos assuntos
3.2 Coleta e Tratamento dos Dados
relacionados à ToT, compondo um banco de
Inicialmente, buscou-se evidenciar o posicio-
dados relevante nesse campo de estudo.
namento do Brasil no mercado de defesa mun-
Por fim, a última seção do trabalho visa
dial e o consequente potencial existente para apresentar, com base em todo arcabouço teó-
o uso do mecanismo de compensação offset. rico e na análise dos dados apresentados, al-
Para tal, os dados utilizados foram extraídos a gumas considerações atinentes ao assunto, as
partir de trabalhos de pesquisadores no Brasil, limitações e contribuições desse estudo, além
banco de dados do SIPRI, além dos provenien- de algumas sugestões para pesquisas futuras
tes do MCTI. de tema tão relevante e pouco explorado no
Em seguida, foi estabelecida a concei- meio acadêmico.
tuação da BID e demonstrado seu potencial
de desenvolvimento e expansão por meio do 4 ANÁLISE DE DADOS
desenvolvimento e absorção de novas tecnolo- A presente seção se divide em duas par-
gias. Após essa fase, foi evidenciado como o tes. A primeira visa demonstrar, por meio
processo de ToT, no contexto de acordos off- de exemplos concretos de processos de ToT
set, pode colaborar com tal aprimoramento e no âmbito de acordos offset, os benefícios

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artigo selecionado
obtidos pela BID, podendo ratificar as refe- local. Dessa forma, a Embraer assinou um
rências teóricas já apresentadas, demonstrar acordo com a italiana Aermacchi para a pro-
a capacidade do mecanismo em estudo e dução do avião militar Xavante. O desenvol-
possibilitar maior enfoque ao tema. vimento do projeto proporcionou a vinda de
A segunda parte visa identificar aspectos especialistas italianos ao Brasil para ajudar
relevantes e necessários para que um processo a produção local e para a ToT, além do en-
de ToT obtenha sucesso pleno. Tal identifica- vio de mais de 70 engenheiros à Itália para
ção contou com a ajuda da análise estrutural treinamento (CASSIOLATO; BERNARDES;
de acordos de offset vigentes, podendo ainda LASTRES, 2002).
se demonstrar alguns elementos do atual ge- Em que pese contradições teóricas existen-
renciamento de tais acordos. tes, como a dos autores Rzezinski e Serrador
(2004), que não percebem o processo do
4.1 Offset e a Transferência de
Xavante como uma ToT advinda de offset, em
Tecnologia
contrapartida à visão exarada por Cassiolato
Ao abordar o tema ToT e offset, a Embraer et al. (2002); é ponto pacífico de que tal estra-
se coloca como um exemplo de sucesso bra- tégia de treinamento proporcionou um salto de
sileiro, possuindo experiência tanto como be- conhecimento, lançando as bases tecnológicas
neficiária de esquemas de compensação co- para outros projetos mais complexos, como o
mercial, industrial e tecnológica, quanto como da família de aeronaves EMB-145 e o Embraer
exportadora, tendo em vista que governos de 170 (MODESTI; AZEVEDO, 2004).
outros países demandam compensações quan- Enquanto ofertante de offsets, a Embraer
do das negociações para a venda de seus identifica uma forma de posicionar a empresa
produtos (RZEZINSKI; SERRADOR, 2004). como parceira econômica das nações
Nesse contexto, a Embraer foi beneficiada compradoras, além de promover acesso a
com políticas de offset a partir da década clientes e competências tecnológicas em que
de 70, podendo ser citado como exemplo economias de escala local possam também
de ToT o programa de contrapartidas que, contribuir para melhorar a relação qualidade/
em 1975, estabeleceu, como compensação preço das soluções propostas ao mercado
à compra de 49 caças F-5E Tiger junto à (MODESTI; AZEVEDO, 2004).
empresa norte-americana Northrop, a fabrica- Ao se observar as práticas de offset que
ção pela Embraer de vários componentes da envolvem ToT, em termos internacionais, cabe
fuselagem, o que contribuiu para a formação destaque ao Japão, que tem se pautado no
específica de colaboradores de empresa nas princípio de que a ToT, por parte das potências
áreas de engenharia, soldagem de metais, ocidentais, pode contribuir para a promoção
materiais compostos e a operação de equipa- de um significativo salto tecnológico de seu
mento de controle digital (spin-off tecnológico) parque industrial, podendo, na sequência,
(RZEZINSKI; SERRADOR, 2004). desenvolver e ultrapassar as tecnologias
Ainda com relação aos benefícios absor- absorvidas.
vidos por intermédio de políticas de offset, Segundo Mitra (2009), a ToT, através
pode-se citar a decisão do então Ministério da prática do offset, tem sido a principal
da Aeronáutica de equipar a FAB com aviões fonte das entradas de tecnologias no Japão,
EMB-326, no final de 1970. Em vez de com- via MD. Os desenvolvimentos tecnológicos
prar esses aviões no mercado internacional, o advindos de compensações também tiveram
Ministério procurou desenvolver a produção importantes spin-offs na promoção de indústrias

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estratégicas civis no Japão. Pode-se citar como com o estabelecido na END, que determina
um dos exemplos de spin-off a tecnologia que as compras de material bélico devam en-
desenvolvida para os freios de seu famoso volver a absorção de tecnologias que poten-
trem-bala, uma vez que ela foi proveniente cializem o desenvolvimento da indústria local
do conhecimento absorvido a partir da ToT e reduzam a dependência de fornecimento
relativa à produção de aviões militares F-86. estrangeiro.
Outro exemplo de aprimoramento da indústria Com o propósito de avaliar, dentre outras,
de defesa japonesa é o caso da Mitsubishi a modelagem, a articulação institucional, bem
Heavy Industries que produz o FS X Fighters como as práticas de gestão e controle adota-
usando as mesmas instalações, máquinas e das nos processos de ToT inerentes aos projetos
operários qualificados para fazer trabalhos em questão, o TCU realizou uma auditoria ope-
relacionados aos jatos civis da Boeing. racional de extrema profundidade, resultando
Nesse contexto, cabe destaque para o no relatório TC 005.910/2011-0, que serviu
fato de que, com o auxílio da ToT, advinda de base para a presente análise e da qual se
de contratos offset, as indústrias estratégicas destacam os aspectos referentes à ToT, BID e
do Japão especializam-se cada vez mais em
capacidade de absorção, além do gerencia-
tecnologias duais. Essas tecnologias são os
mento e controle dos contratos de offset.
grandes “motores” do crescimento econômico e
Tendo como base a apresentação do
permeiam os setores aeroespaciais, eletrônicos
referido relatório, ratificou-se o já exposto
e de telecomunicações, máquinas-ferramenta, e
anteriormente quanto à importância do offset
indústrias automobilísticas (MITRA, 2009).
no desenvolvimento das relações comerciais
Com relação a certas tecnologias de
atinentes à BID e sua correlação com a base
dupla utilização, como a relacionada a
industrial nacional.
microcircuitos eletrônicos, semicondutores
compostos e robótica, a indústria japonesa 4.2.1 Transferência de Tecnologia, Base
já se posiciona à frente dos EUA, pois as Industrial de Defesa e Capacidade de
indústrias que trabalham com tecnologias de Absorção
dupla utilização permitem spin-offs reversos, Apesar de não se configurar em tarefa
utilizando os avanços que ocorrem na esfera simples, a mensuração da capacidade de
civil para auxiliar novos desenvolvimentos de absorver os conhecimentos negociados deve
artigos e processos militares (MITRA, 2009). estar presente desde a concepção do projeto,
4.2 Gestão de Contratos Offset e a configurando-se como um requisito de grande
Transferência de Tecnologia importância, como já abordado em diversas
Na análise do relatório emanado pelo passagens do presente estudo.
Tribunal de Contas da União (TCU) referente Ao avaliar tal capacidade no projeto
ao PROSUB e ao Projeto H-XBR, verificou-se, H-XBR, o Ministério do Desenvolvimento,
em ambos os contratos, que a transferência de Indústria e Comércio Exterior (MDIC), a quem
tecnologia foi o elemento determinante para a cabia as tarefas de delineamento e mensura-
escolha dos contratados e para a implementa- ção da capacidade de absorção de tecnolo-
ção dos projetos, em termos de contratos offset. gia no projeto, informou que tais atribuições
Segundo essa mesma Corte de Contas, teriam ficado a cargo da contratada, sendo
tal constatação ratifica a nova política para a de responsabilidade da mesma o mapea-
área de defesa, colocando-se em consonância mento e a seleção de universidades, centros

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artigo selecionado
de pesquisa e indústrias que farão parte do militar qualificado dentro das próprias forças
projeto H-XBR. ou perda desses profissionais para outras enti-
Já com relação à avaliação da capacida- dades governamentais ou setor privado.
de de absorção de tecnologias advindas do Face ao exposto, fica claro que condicio-
PROSUB, a MB informou que utiliza pessoal do nantes importantes foram deixados a cargo
Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ), das empresas contratadas, como: mensuração
além de recrutar engenheiros experientes do da capacidade de absorção da tecnologia a
meio civil, todos auxiliados por treinamentos ser transferida; participação da indústria na-
coordenados pela Coordenadoria-Geral do cional nos processos de ToT; estratégias para
Programa de Desenvolvimento de Submarino identificar as necessidades tecnológicas e arti-
com Propulsão Nuclear (COGESN), sem ter culação entre Forças Armadas, universidades
sido possível a identificação de um processo e empresas; e gestão do conhecimento a ser
formal de mensuração de tal capacidade. absorvido, colocando dessa forma os projetos
Cabe destaque para o fato de que, apesar em posição de grande vulnerabilidade, além
de a MB ter estabelecido parcerias estratégi- de aumentar o risco de sucesso na consecu-
cas, no Brasil e no exterior, com universida- ção dos objetivos pretendidos.
des, centros de excelência e empresas, como
4.2.2 Gerenciamento e Controle dos
Universidade de São Paulo (USP), University
Processos de Transferência de Tecnologia
of Massachusetts School of Marine Sciences
(UMass), Universidade Federal Fluminense Em que pese a tecnologia se posicionar
(UFF) e Universidade Federal do Rio de Janeiro como um ativo intangível e de difícil mensu-
(UFRJ), não ocorreu a procura e a seleção dos ração, faz-se necessário existir um processo
potenciais fornecedores brasileiros antes da sistematizado de aferição de desempenho.
formalização do PROSUB. As empresas candi- Baseado na lógica de que “o que não é medi-
datas ainda serão submetidas a um processo do não pode ser controlado”, o TCU analisou
de seleção, a cargo da contratada e sob a os mecanismos de mensuração utilizados nos
supervisão da Marinha, com vistas a verificar processos de ToT em referência.
se possuem capacidade para absorver a tec- Dessa forma, o relatório revelou que, quan-
nologia ofertada (BRASIL, 2011). do analisados os aspectos de gerenciamento
Ainda no tocante à participação da BID e controle, o projeto H-XBR não apresentou
no projeto e na absorção da tecnologia a um processo de medida definido, embora os
ser transferida, a MB declarou ao TCU que projetos já estivessem em andamento. Quanto
primeiro irá absorver a tecnologia de projeto ao PROSUB, apesar da existência de meca-
e construção da DCNS, empresa francesa nismos de mensuração da transferência, ficou
contratada, e que posteriormente envolverá a constatado um flagrante descompasso entre a
indústria nacional. relevância das obrigações de ToT previstas no
Quanto à gestão do conhecimento que, se- contrato e a metodologia utilizada. Constatou-
gundo Wiig (2006), pode ser considerado um se que os referidos mecanismos eram respon-
processo sólido de gerenciamento do capital sáveis por uma aferição preponderantemente
intelectual, sendo possível entendê-lo como um financeira, viabilizando a liquidação das obri-
sistema de gestão integrada do conhecimento gações, porém sem prover informações sobre
organizacional, foi verificada a inexistência, o real cumprimento do objeto.
em ambos os projetos, de medidas formais Ainda no que tange o assunto de geren-
para mitigar o risco de desvio de pessoal ciamento e controle dos processos de ToT,

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artigo selecionado

evidenciou-se que, em meados de 2011, um decorrentes do processo de ToT para a BID


grupo de trabalho foi constituído no âmbito do e quais aspectos relevantes para consecução
PROSUB para estudar a criação de índices de plena de tal processo, considerando-se o âm-
mensuração de transferência de tecnologia, bito dos acordos de compensação comercial,
além de ter sido firmado um termo de coopera- industrial e tecnológica (offset)?
ção entre o MD e o MDIC para implantação de Para tal, foi necessário iniciar o estudo traçan-
procedimentos de acompanhamento e reconhe- do uma breve revisão da literatura, que pudesse,
cimento referentes à ToT do projeto do H-XBR. de maneira sucinta, explicitar as peculiaridades
Com base no presente relatório, parece do tema em questão, formando a base para
evidente que o monitoramento do processo entendimento dos demais aspectos abordados.
de ToT não se mostrou adequadamente es- Devido à amplitude, complexidade e pou-
truturado, pelo menos em sua concepção, o ca abordagem acadêmica da relação entre
que novamente eleva os riscos associados os temas, fez-se fundamental tentar demonstrar
aos projetos em estudo. Processos complexos a importância da BID e a estreita ligação en-
e que envolvam bens intangíveis, como a tec- tre ela e o potencial desenvolvimento industrial
nologia, devem ser devidamente estruturados nacional. Essa demonstração foi feita por meio
e cuidadosamente acompanhados de forma de diversos mecanismos, como: o spin-off tec-
que a utilização de indicadores possa permitir nológico e o uso de tecnologias duais.
a conformidade dos processos contratados, Seguindo a mesma estruturação lógica,
o grau de tecnologia transferida para a BID, ficou evidente o papel de relevância ocupado
além do nível de absorção de conhecimento pelo Estado e como ele se coloca na posição
em questão. de conector e catalisador nos aspectos que
Com base em todo o exposto, foi possível abrangem a “pirâmide de defesa”, minimizan-
identificar algumas deficiências nos contratos do a percepção de risco inerente ao segmento
em questão que puderam constituir uma base de e fomentando o desenvolvimento da BID.
aspectos relevantes a serem observados para o Ainda dentro do escopo da revisão lite-
sucesso pleno de um processo de ToT, como: rária, foi evidenciado o posicionamento do
(i) necessidade de formulação de indicadores Brasil com relação aos players internacionais
capazes de mensurar a evolução dos proces- no que tange aspectos como gastos militares
sos de ToT; (ii) medidas de retenção de recursos relacionados ao PIB e recursos direcionados
humanos capacitados, com vistas a aprimorar ao P&D militar.
a gestão do conhecimento; (iii) identificação e Com base nesses e em outros dados, como
seleção de potenciais fornecedores brasileiros; estudos de outros autores, concluiu-se que não
(iv) adequada mensuração de capacidade de seria plausível afirmar, pelo menos em curto
absorção de conhecimentos; (v) necessidade prazo, que o Brasil seja capaz de, por conta
de integração entre fornecedores de offset, própria, alavancar a BID e proporcionar, dessa
setor industrial, setor de pesquisa, desenvolvi- forma, significativos saltos tecnológicos e possí-
mento e inovação; (vi) correto dimensionamento veis desdobramentos para a economia nacional.
e delineamento da tecnologia desejada. Uma vez apresentadas tais evidências, foi
introduzida como alternativa de aprimoramen-
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS to e expansão da BID, em alinhamento com
Este estudo se propôs a atingir seu objetivo a END e com possíveis incrementos para a
por meio de resposta ao seguinte problema economia nacional, a figura dos acordos
de pesquisa: Quais os possíveis benefícios de compensação offset, dos quais o foco se

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artigo selecionado
colocou sobre a contrapartida associada à foi possível chamar atenção para aspectos
ToT. Após uma breve explanação relativa a tal importantes para o sucesso de um processo
mecanismo, foi possível evidenciar conceitual- de ToT, além de possibilitar a visualização de
mente benefícios dessa ferramenta, além de benefícios ocorridos, convergindo para a rati-
explicitar aspectos merecedores de destaque ficação de aspectos conceituais anteriormente
para seu pleno sucesso. apontados. Assim sendo, sem a pretensão de
Em seguida, sempre mantendo o foco no extrapolar os resultados, pretendeu-se trazer à
objetivo do estudo, foram demonstrados casos tona a necessidade do amadurecimento dos es-
de sucesso que relacionavam os processos tudos de tão interessantes e complexos temas.
de ToT e a Embraer, exemplificando como um Mediante ao exposto, entende-se que este
acordo de offset pode alavancar a BID e ser estudo contribuiu, primeiramente, para a reu-
capaz de produzir o chamado spin-off tecno- nião de literatura relativa ao tema offset, ToT
lógico, bem como a tecnologia de uso dual, e BID, servindo como ponto de partida para
beneficiando toda a economia. futuros estudos, tendo em vista, primordialmen-
Na sequência, foi evidenciado o caso te, a pequena quantidade de material atinente
do Japão, que utilizou a ferramenta de ToT, ao campo de estudo em análise.
mediante acordos de offset, como um dos Em um segundo momento, esse estudo
principais mecanismos de aprimoramento pôde demonstrar como a ferramenta relacio-
tecnológico nacional. O adequado uso de tal nada à ToT pode, no âmbito dos acordos de
ferramenta possibilitou a aquela nação perce- offset, ajudar a alavancar a BID, promovendo
ber importantes spin-offs na promoção de in- spin-offs tecnológicos, desenvolvendo tecno-
dústrias estratégicas civis, além de possibilitar logias de uso dual e possibilitando grandes
o enfoque em tecnologias de uso dual, o que saltos tecnológicos. O estudo foi ainda capaz
veio lhe proporcionar significativo crescimento de chamar atenção para pontos importantes
econômico. relativos à realidade de contratos offset em
Por fim, analisou-se relatório proferido andamento, relembrando a necessidade de
pelo TCU referente ao processo de ToT do constante aprimoramento no tema, na busca
PROSUB e do projeto dos helicópteros pelo alcance da plenitude dos processos de
H-XBR. De tal análise foi possível verificar a ToT e no desenvolvimento da BID.
existência de alguns pontos carentes de apri- Quanto aos fatores limitadores para a
moramento que devem ser estudados, desen- pesquisa em questão, pode-se ressaltar a es-
volvidos, sistematizados e aprimorados com cassez de literatura e trabalhos acadêmicos
vistas a aproveitar o máximo do potencial disponíveis, a inacessibilidade a dados con-
oferecido pelo mecanismo em estudo. Além cretos sobre valores envolvidos nos AC, a fal-
disso, foi constituído um conjunto de aspectos ta de detalhes sobre as cláusulas de offset em
merecedores de destaque na tentativa de vigor nas Forças Armadas, tendo em vista o
garantir o sucesso pleno de tais processos caráter sigiloso de tais informações (TAVARES
quando observada a utilização de contratos et al., 2014); além das dificuldades técnicas
de mesma natureza. de operacionalização dos dados provenien-
Dessa forma, buscou-se evidências concei- tes do relatório do TCU.
tuais, a análise de casos concretos no Brasil e Cabem ainda algumas sugestões para pes-
fora dele, além da atual gestão de dois dos quisas futuras, como: (i) análise das medidas
grandes contratos de offset com processos de adotadas tanto no PROSUB quanto no projeto
ToT nas Forças Armadas brasileiras. Com isso, H-XBR, como resposta aos apontamentos do

ACANTO EM REVISTA 93
E M R E V I S TA
artigo selecionado

relatório TC  005.910/2011-0, verificando < https://www.tcu.gov.br >. Acesso em: 15


como tais medidas podem auxiliar no incre- set. 2015.
mento da mentalidade de offset no âmbito BRUSTOLIN, V. M. Abrindo a caixa-preta: o
da defesa; (ii) realização de um estudo do desafio da transparência dos gastos militares
funcionamento estrutural dos contratos de no Brasil. UFRJ, Dissertação de mestrado, Rio
compensação, evidenciando como um bom de Janeiro/RJ, 2009.
gerenciamento dos mesmos pode ser capaz BUREAU OF INDUSTRY AND SECURITY
de trazer vantagens aos países contratantes; (BIS). U. S. Department of Commerce. Offset
(iii) exploração da relação do Brasil como in Defense Trade: nineteenth Study. Report to
ofertante de offsets e como isso vem impactan- congress. Washington, DC: 2015. Disponível
do as relações comerciais de empresas como em: < http:// www.bis.doc.gov >. Acesso
a Embraer. em: 17 ago. 2015.
Por fim, sem esgotar as inúmeras possi- CARLOS, A. L. Os offsets e a sua contribui-
bilidades de estudo na área, esse trabalho ção para a inovação tecnológica: um estudo
espera contribuir para o aumento do interesse empírico na Base Industrial de Defesa brasi-
relativo ao tema, buscando estimular o debate leira. Dissertação de Mestrado, UM. Minho,
e o estudo do mesmo, além de poder auxiliar Portugal, 2013.
a BID, as Forças Armadas e a gestão pública CARVALHO, R. S. Base Industrial de
nacional como um todo. Defesa: elemento essencial de afirmação do
Poder Nacional. Escola de Guerra Naval.
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E M R E V I S TA

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ACANTO EM REVISTA 95
E M R E V I S TA
artigo selecionado

Autor: Capitão-Tenente (Intendente da Marinha) Carlos Alberto da Silva


Corrêa Júnior
Orientador: Capitão de Mar e Guerra (RM1-Intendente da Marinha)
Ênio Monçores Carvalho - CIANB
Coorientador: Capitão-Tenente (Intendente da Marinha) Jorge
Nascimento de Oliveira Júnior -DGOM

OS REFLEXOS DA MUDANÇA
DE AÇÃO ORÇAMENTÁRIA DOS
RECURSOS DESTINADOS À
MOVIMENTAÇÃO DE MILITARES
NA MARINHA DO BRASIL
Resumo: O objetivo deste trabalho é identificar quais os reflexos para a Marinha do Brasil com a criação de Ação Orçamentária específica para
movimentação de militares. A coleta de dados envolve duas etapas: a primeira descreve os conceitos que são apreendidos com a mudança de classifi-
cação orçamentária do referido recurso; e a etapa seguinte busca sintetizar a percepção de militares pertencentes aos setores estratégicos da Marinha
do Brasil sobre os pontos positivos e negativos da alteração estudada. Como resultado, apresentam-se, principalmente, a necessidade de constante
aprimoramento do planejamento das movimentações, bem como de ações a serem empreendidas nos momentos de contingenciamento de recursos.
Palavras-chave: Orçamento Público; Movimentação de Militares; Ação Orçamentária; Marinha do Brasil.

1 INTRODUÇÃO planejamento de qualquer entidade pública


A gestão dos recursos públicos é um tema ou privada, pois representa o fluxo previsto de
de forte repercussão no contexto brasileiro, entrada e a aplicação de recursos em determi-
tendo na figura do orçamento um instrumento nado período, ou seja, é com base nele que
de planejamento e controle dos programas e os órgãos da Administração Pública deverão
atividades necessárias para atingir as políticas se pautar para executar suas atividades de
públicas estabelecidas pelo Governo Federal. maneira a atingir sua missão.
Na visão de Lima e Castro (2000), o or- Nesse contexto, a Marinha do Brasil utiliza
çamento é uma ferramenta relevante para o o orçamento a ela autorizado para cumprir

96 ACANTO EM REVISTA
E M R E V I S TA

artigo selecionado
sua missão constitucional de defesa da Pátria, Por se tratar de um assunto recente, o pro-
bem como realizar diversas atribuições sub- blema de pesquisa a ser estudado se dará
sidiárias das Forças Armadas. Essas últimas por identificar quais os reflexos que a criação
são definidas em legislação específica como dessa AO específica pode trazer para a
a atuação, por meio de ações preventivas Marinha do Brasil tanto no campo orçamentá-
e repressivas, na faixa de fronteira terrestre, rio quanto na manutenção da sua capacidade
no mar e nas águas interiores, contra delitos operativa para o cumprimento de sua missão
transfronteiriços e ambientais, isoladamente ou constitucional.
em coordenação com outros órgãos do Poder Isto posto, no decorrer do trabalho, pri-
Executivo (BRASIL, 1999). meiramente serão apresentadas as definições
Para que esses objetivos sejam alcança- necessárias para o entendimento do assunto,
dos, faz-se necessária uma presença constante que tem natureza bem específica e de pou-
de pessoal em todo o território nacional. ca abrangência para a sociedade como um
Dessa maneira, as três Forças, ao designarem todo. É de interesse, também, apresentar os
seus militares para servirem em outras sedes, valores autorizados para execução nos orça-
efetuam o pagamento da indenização de mentos de 2011 a 2014, como forma de
transporte, que é um direito pecuniário devi- abranger períodos antes e após a criação da
do ao militar da ativa para custear despesas AO específica, expondo comentários sobre as
nas movimentações por interesse do serviço, implicações percebidas e vislumbradas.
compreendendo bagagem e passagem da Também são objetivos do presente estudo
localidade onde residir para a outra onde identificar, na perspectiva de militares fami-
fixará residência dentro do território nacional. liarizados com o assunto, fatores relevantes
Em complemento a essa indenização, o militar quanto à importância da movimentação para
recebe uma ajuda de custo para custeio das os militares, bem como buscar estabelecer
despesas de locomoção e instalação, exceto aspectos favoráveis e desfavoráveis da alte-
as de transporte (BRASIL, 2001a). ração da classificação das despesas relativas
Adicionalmente a essa indenização, os mi- à movimentação de militares, especialmente
litares fazem jus ao recebimento de ajuda de quanto ao planejamento, execução e controle
custo, conforme o local para o qual seguirão, desses recursos tanto pela Marinha do Brasil
o posto ou graduação e o número de depen- como pelo Governo Federal e sociedade.
dentes. Para fins deste estudo, será abordado Por fim, será realizada uma breve con-
como despesas com movimentação de milita- clusão que buscará apresentar os maiores
res o equivalente ao somatório da indeniza- benefícios e desafios vislumbrados para a
ção de transporte com a ajuda de custo. Marinha do Brasil, bem como algumas suges-
O tema desse estudo, então, visa a abordar tões de pesquisas futuras para enriquecimento
uma alteração estabelecida a partir do exercí- do assunto, buscando aprimorar e refinar os
cio financeiro de 2014 no Orçamento Federal resultados apresentados.
que modifica a classificação orçamentária dos
recursos relativos à movimentação de militares 2 REFERENCIAL TEÓRICO
por meio da criação de Ação Orçamentária Inicialmente, faz-se necessária uma breve
(AO) específica, deixando de estar compreen- contextualização acerca do papel a ser cum-
didas como despesas com pessoal e encargos prido pelas Forças Armadas no tocante à am-
sociais, a fim de atender, assim, ao princípio plitude de atuação dos militares e do sistema
orçamentário da discriminação dos recursos. orçamentário do País.

ACANTO EM REVISTA 97
E M R E V I S TA
artigo selecionado

O arcabouço legal vigente que permeia a Tem-se ainda a figura dos princípios orça-
necessidade de presença das Forças Armadas mentários, que são um conjunto de proposi-
em todo o território nacional tem seu marco ções orientadoras que balizam os processos
inicial na Constituição Federal (CF) ao definir e práticas orçamentárias de forma a conferir
como umas das suas destinações a defesa estabilidade, consistência e, principalmente,
da Pátria (BRASIL, 1988). Corroborando com transparência e controle por parte do Poder
essa ideia, a Lei Complementar nº 97/1999, Legislativo e da sociedade (SANCHES, 2004).
em seu artigo 13, define que: Em resumo, são premissas a serem observadas
Para o cumprimento da destinação cons- na elaboração da proposta orçamentária. Entre
titucional das Forças Armadas, cabe aos esses princípios, dois se destacam pela forte
Comandantes da Marinha, do Exército e da correlação com o assunto deste trabalho: o da
Aeronáutica o preparo de seus órgãos operativos discriminação e o da universalidade.
e de apoio, obedecidas as políticas estabele- Giacomoni (2010) atesta que, de acordo
cidas pelo Ministro da Defesa. com o princípio da discriminação, as recei-
§1° O preparo compreende, entre outras, tas e as despesas devem constar no orça-
as atividades permanentes de planejamen- mento de maneira especificada, de tal forma
to, organização e articulação, instrução e que se possa saber, pormenorizadamente, a
adestramento, desenvolvimento de doutrina origem dos recursos e as finalidades de sua
e pesquisas específicas, inteligência e estru- aplicação.
turação das Forças Armadas, de sua logísti- O Manual Técnico do Orçamento
ca e mobilização. (BRASIL, 1999, art. 13, (MTO), que é elaborado pela Secretaria de
grifo nosso) Orçamento Federal (SOF) e tem o intuito de
aprimorar continuamente o processo orçamen-
Convém destacar, também, o disposto no tário federal, assim versa sobre o princípio da
Decreto nº 5.484/2005, no qual é estabele- universalidade:
cido que o planejamento da defesa nacional Segundo este princípio, a LOA de cada ente
deve incluir todas as regiões, priorizando a federado deverá conter todas as receitas e
Amazônia e o Atlântico Sul (BRASIL, 2005). as despesas de todos os Poderes, órgãos,
Contudo, para que esse importante papel entidades, fundos e fundações instituídas e
seja cumprido e reconhecido pela socieda- mantidas pelo poder público. Este princípio
de, há uma grande necessidade de recursos é mencionado no caput do art. 2° da Lei n°
provenientes do orçamento da União. O 4.320, de 1964, recepcionado e normati-
Orçamento Público é um instrumento de ini- zado pelo § 5° do art. 165 da CF. (BRASIL,
ciativa do Poder Executivo e é aprovado pelo 2015, p. 17)
Poder Legislativo, que estima a receita e fixa
a despesa para o exercício financeiro, sendo, A Carta Magna de 1988, em seu art. 165,
também, um instrumento que permite acompa- na seção denominada “Dos Orçamentos”,
nhar, controlar e avaliar a administração dos estabelece três instrumentos de iniciativa do
recursos públicos (ARAÚJO e ARRUDA, 2004). Poder Executivo, a saber: o Plano Plurianual
No Brasil, o orçamento é materializado por (PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO)
uma lei ordinária, a Lei Orçamentária Anual e a Lei Orçamentária Anual (LOA) (BRASIL,
(LOA), cuja vigência é anual e sua aprovação 1988). Dessa forma, o planejamento e a exe-
é feita pelo Poder Legislativo no exercício ante- cução do orçamento são compreendidos pela
rior ao de sua execução. ligação entre essas leis.

98 ACANTO EM REVISTA
E M R E V I S TA

artigo selecionado
O PPA é um instrumento que apresenta as ação é identificada por intermédio de uma
principais políticas públicas a serem execu- classificação orçamentária”.
tadas por um período de quatro anos e que A Lei n° 12.919/2013, LDO de 2014,
orienta a elaboração dos planos e programas em seu art. 7°, §2°, estabelece que os Grupos
de governo, assim como o próprio orçamento de Natureza de Despesa (GND) constituem
anual. Segundo Albuquerque et al. (2013), o agregação de elementos de despesa de mes-
PPA é um instrumento legal de planejamento mas características quanto ao objeto de gasto,
de maior alcance temporal no estabelecimen- conforme a seguir discriminados, entre outros:
to das prioridades e no direcionamento das I - Pessoal e Encargos Sociais (GND 1); e
ações de governo. II - Outras Despesas Correntes (GND 3).
A LDO antecipa e orienta a direção e o A Portaria Interministerial n° 163/2001,
sentido dos gastos públicos, bem como os com as alterações das Portarias Conjuntas
parâmetros que devem nortear a elaboração STN/SOF n° 2/2009 e n° 1/2010, define
do Projeto de Lei Orçamentária para o exer- assim cada um desses grupos de despesas:
cício subsequente (PALUDO, 2013). Nesse 1 - Pessoal e Encargos Sociais
contexto, o Capítulo II da lei supracitada, que Despesas orçamentárias com pessoal ativo,
discorre sobre a estruturação e organização inativo e pensionistas, relativas a [...] milita-
dos orçamentos, traz conceitos importantes res e de membros de Poder, com quaisquer
para que seja possível a identificação de espécies remuneratórias, tais como venci-
eventuais impactos para a Marinha do Brasil mentos e vantagens, fixas e variáveis, [...]
na alteração de Ação Orçamentária para conforme estabelece o caput do art. 18 da
Movimentação de Pessoal. Lei Complementar 101, de 2000.
Paludo (2013) menciona o conteúdo [...]
previsto no art. 165, §8°, da CF ao ates- 3 - Outras Despesas Correntes
tar que LOA abrange apenas o exercício Despesas orçamentárias com aquisição
financeiro a que se refere e não deve conter de material de consumo, pagamento de
dispositivo estranho à previsão da receita e diárias, contribuições, subvenções, auxílio-
fixação da programação das despesas para -alimentação, auxílio-transporte, além de
o exercício financeiro. outras despesas da categoria econômica
A LOA se estrutura em Ações Orçamentárias “Despesas Correntes” não classificáveis nos
(AO), que são identificadas por um código al- demais grupos de natureza de despesa.
fanumérico que possui a função de determinar (BRASIL, 2001b, anexo II, II - B)
os níveis de agregação das áreas de atuação
governamental às quais se vincula referindo-se O pagamento das indenizações das rubri-
a um único produto (BRASIL, 2013). cas de Ajuda de Custo, Transporte e Bagagem
As despesas orçamentárias podem ser defi- referente aos militares movimentados no País
nidas como aquelas que dependem de autori- era, até o exercício financeiro de 2013,
zação legislativa (KOHAMA, 2003). Portanto, realizado por meio da Ação Orçamentária
essas despesas compõem o orçamento, sendo 2867 – Pagamento de Pessoal Ativo Militar
devidamente fixadas e especificadas na LOA. das Forças Armadas – GND 1, visto que são
Castro (2013, p.49) menciona que, “para despesas enquadradas em uma legislação
possibilitar o conhecimento das realizações que trata da remuneração do pessoal militar, a
governamentais e contribuir para a produção Medida Provisória (MP) 2.215-10/2001. Esta
das informações oficiais e gerenciais, toda MP, em seu Art. 2º, estabelece que os militares

ACANTO EM REVISTA 99
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artigo selecionado

têm, entre outros, os direitos remuneratórios de dotação orçamentária autorizada na LOA, já


transporte e ajuda de custo (BRASIL, 2001a). o LP é a quantia atribuída aos Órgãos para
A LDO para o ano de 2014 trouxe signifi- pagamento das despesas empenhadas no
cativa mudança no enquadramento das des- exercício e dos Restos a Pagar.
pesas de movimentação de pessoal em seu Contudo, apesar da AO criada para
art. 75, §3°: movimentação de militares não ter previsão
Não constituem despesas com pessoal e encar- legal para limitação de empenho, ela é uma
gos sociais as relativas ao pagamento de despesa obrigatória sujeita à programação
assistência pré-escolar de dependentes de financeira, conforme preconizado no anexo VI
servidores civis, militares e empregados do Decreto 8.197/2014.
públicos, saúde suplementar de servidores Outros dois conceitos simples, que não po-
civis, militares, empregados públicos e seus dem ser confundidos, estão ligados à questão
dependentes, diárias, fardamento, auxílios dos recursos orçamentários e financeiros. Os
alimentação ou refeição, moradia, transporte valores atribuídos aos créditos orçamentários
de qualquer natureza e ajuda de custo relativa a e adicionais referem-se às autorizações de
despesas de locomoção e instalação decorrentes de despesas válidas para utilização no período
mudança de sede e de movimentação de pessoal. de vigência da LOA, porém, para que as des-
(BRASIL, 2013, art. 75, §3°, grifo nosso). pesas possam ser efetivamente realizadas, é
necessário que os recursos financeiros estejam
Entretanto, essa mesma Lei estabelece, em disponíveis no momento devido para quitar a
seu anexo III, item 61, que as despesas rela- obrigação (GIACOMONI, 2010).
tivas à movimentação de militares das Forças Em última análise, tem-se que a criação
Armadas não serão objeto de limitação de de uma AO específica, a AO 212O –
empenho, por constituírem obrigações constitu- Movimentação de Militares – traz importantes
cionais ou legais da União, sendo assim uma impactos, visto que a inclusão desse texto
despesa primária obrigatória (BRASIL, 2013). pelo Ministério do Planejamento altera a
Neste viés, deve-se comentar, também, classificação das despesas decorrentes de
sobre a figura do contingenciamento orçamen- movimentação de pessoal de GND 1 para o
tário, que se apresenta como uma das inova- GND 3, grupo passível de contingenciamento
ções introduzidas pela Lei de Responsabilidade orçamentário.
Fiscal (LRF), Lei Complementar n° 101/2000,
que se constitui como um meio de retenção 3 METODOLOGIA
do orçamento e das liberações financeiras, O presente trabalho tem por objetivo ava-
limitando a realização da despesa e visando liar os reflexos para a Marinha do Brasil (MB)
compatibilizar com o fluxo de caixa (PARISI et com a criação de Ação Orçamentária (AO)
al., 2011). específica para a movimentação de militares.
Os Limites para Movimentação e Empenho Para tal, foi realizada uma pesquisa
(LME) e os de Pagamento (LP) são estabeleci- bibliográfica, segundo Gil (2008), acerca
dos no Decreto de Programação Financeira, das definições e classificações das despesas
que estabelece o cronograma mensal de de- orçamentárias nas legislações em vigor so-
sembolso do Poder Executivo para o exercício bre Administração Financeira, no âmbito do
financeiro, conforme previsto pela LRF (BRASIL, Governo Federal.
2000). O LME é o montante disponibiliza- A avaliação dos resultados dessa pesqui-
do aos Órgãos para o empenho dentro da sa utilizou um levantamento documental e

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artigo selecionado
quantitativo, quanto aos meios de investiga- institucional da MB possa ser cumprida dentro
ção, por Vergara (2007), dos montantes gas- do previsto nas legislações em vigor.
tos com movimentação de pessoal de modo
a abranger períodos antes e após a criação 4 ANÁLISE DE RESULTADOS
da AO específica para este fim. Nesse sen- A análise da criação de uma Ação
tido, foram estudados os valores executados Orçamentária específica para a utilização de
entre os anos de 2011 e 2014, sendo este recursos públicos é de suma importância para
último o único exercício financeiro encerrado que estes possam ter uma gestão adequada
em que a nova sistemática foi aplicada, tor- e eficiente. Portanto, é de grande relevância
nando-se, assim, uma restrição para o estudo conhecer possíveis impactos dessa alteração.
pela recente alteração.
Além de ser um fato novo, houve, também,
4.1 A Importância da Movimentação
dificuldades em encontrar outros estudos sobre
para os Militares
o assunto em lide que pudessem contribuir Um dos grandes papéis que a sociedade
para este trabalho, tanto em instituições milita- espera das Forças Armadas é que cumpram
res, quanto civis. sua missão de defesa da Pátria. Para atingir
Em complemento, ressalta-se que a mudan- esse propósito, faz-se necessária uma presen-
ça atingiu apenas aos militares, visto que o ça marcante em todo território nacional.
pagamento da movimentação para os servi- O Brasil, País de grande extensão terrestre,
dores civis continua sendo realizado em ação ainda possui fronteiras com diversos países, uma
orçamentária pertencente ao GND 3. biodiversidade e características geográficas
Em complemento aos procedimentos supra- diversas, que necessitam de conhecimento, iden-
citados, foi feita uma pesquisa de campo, se- tificação e adaptação por parte dos militares.
gundo Vergara (2007), com a realização de De maneira peculiar, a Marinha do Brasil
entrevistas com 8 (oito) militares em funções im- ainda necessita fazer-se presente em todo o
portantes dentro da Diretoria de Coordenação litoral brasileiro e sua área de jurisdição, bem
do Orçamento da Marinha (COrM) e como nas regiões fluviais e lacustres, a fim de
da Diretoria de Gestão Orçamentária da proteger todas as riquezas nelas existentes.
Marinha (DGOM), bem como com militares Para tal, seu efetivo precisa estar organizado
da Pagadoria de Pessoal da Marinha (PAPEM) pelo País de forma a possibilitar o guarne-
responsáveis pela operacionalização da cimento e controle dessas diversas áreas.
execução dos valores relativos à movimen- Portanto, para que a Marinha do Brasil possa
tação de pessoal na Força, a fim de buscar cumprir seu papel da melhor forma, é muito
contribuições sobre os reflexos percebidos e importante que haja forte presença de milita-
vislumbrados com a situação atual da gestão res nas diversas regiões brasileiras.
dos recursos de movimentação de pessoal. Neste viés, é importante ressaltar que,
Com base nas informações colhidas, foram como forma de adestramento e capacitação,
desenvolvidas as argumentações ao longo quanto maior o número de militares hábeis e
deste trabalho. preparados para lidar com as diversidades
De posse de toda essa análise, o estudo existentes no território nacional, mais bem
apresenta alguns reflexos da mudança, dificul- protegidas estarão a sociedade e as rique-
dades, bem como possíveis benefícios que a zas produzidas pelo País e extraídas dele.
criação da AO específica para movimentação Contudo, uma melhor articulação da logís-
de militares pode trazer para que a missão tica e da mobilização das Forças Armadas

ACANTO EM REVISTA 101


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artigo selecionado

acarreta em custos relevantes que são neces- também impactará na execução das tarefas
sários para um adequado posicionamento de operativas que estão ligadas à atividade fim
seu efetivo, sendo essa uma grande atribuição da Força.
a ser cumprida. Outra característica importante com rela-
Ainda no contexto de realocação de ção a uma possível redução na movimentação
pessoal, anualmente, parte do efetivo da MB de militares é o caráter social e cultural que
passa por cursos de especialização, aperfei- ela proporciona, uma vez que essas transfe-
çoamento ou extensão de acordo com cada rências são uma característica marcante da
grau hierárquico. Após o término desses carreira militar. Grande parte do efetivo da
cursos, os militares são designados a servir Marinha do Brasil se concentra no estado do
nas diversas Organizações Militares (OM) Rio de Janeiro, portanto há muitos militares
existentes no país. Dessa forma, eles têm o naturais de outros estados que permanecem
propósito de disseminar os conhecimentos longos períodos apartados de sua terra natal,
adquiridos durante o curso e pôr em prática porém com o desejo de um dia poderem
técnicas e inovações aprendidas, sendo essa retornar. Sendo assim, uma diminuição na
uma forma de atualização profissional dos possibilidade de transferências poderá causar
demais membros da MB. uma desmotivação dos militares, em virtude
Além da importância supracitada da da redução da possibilidade de labutar em
transferência dos militares que realizam outras Organizações Militares e agregar no-
cursos de carreira e que contribuem para vos conhecimentos, estando mais próximos de
uma ampliação do conhecimento tácito e suas famílias.
explícito nas Organizações Militares, faz-se No Brasil, devido a sua extensão territorial,
necessário destacar outros pontos de grande pode-se observar uma razoável variedade
relevância que podem ser afetados com um de condições ambientais, bem como culturas
possível contingenciamento dos recursos de diversificadas. Sobre esse enfoque, é possível
movimentação. citar que uma diminuição das movimentações
A escassez de recursos dificultará bas- de militares possibilitaria o estabelecimento
tante o preenchimento das necessidades de de efetivos bem ambientados em determinada
Unidades localizadas em áreas onde o acesso área geográfica e adaptados à cultura local,
é remoto, em especial nas regiões fronteiriças. porém com pouca experiência na atuação em
Dessa forma, o poder de dissuasão das amea- outros Teatros de Operação. Essa hipótese
ças existentes nesses locais fica enfraquecido, contribui para um fenômeno de regionaliza-
o que traz riscos, principalmente, aos que ção do pessoal das Forças Armadas, o que
vivem nessas regiões. vai de encontro ao caráter nacional dessas.
No que tange à administração de pes- Ao concluir essa parte da análise, pôde-se
soal, anualmente há um grande quantitativo perceber que a oportunidade de transferências
de desligamentos de militares da ativa, seja dentro do território nacional implica em pos-
a pedido, ex-officio ou por transferência sibilitar ao militar o conhecimento geográfico
para a reserva remunerada. Logo, uma redu- que é fundamental na sua capacitação opera-
ção no número de movimentações dificultará cional. A adaptação aos diversos ambientes
um preenchimento de maneira adequada de combate como operações ribeirinhas,
das vagas abertas. A falta de pessoal comu- fluviais e de patrulha naval se apresenta como
mente acarreta em um grande aumento da um quesito estratégico na qualificação dos
carga administrativa das Unidades, o que militares da Marinha do Brasil.

102 ACANTO EM REVISTA


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artigo selecionado
4.2 Aspectos Quantitativos (SIOP) do Ministério do Planejamento,
da Dotação Orçamentária de Orçamento e Gestão.
Movimentação de Militares Com o objetivo de promover uma base
Um ponto de fundamental importância nes- homogênea de comparação entre os recursos
se assunto é a comparação entre os valores despendidos na movimentação de militares
que foram autorizados na LOA para a reali- em decorrência da alteração da classificação
zação das movimentações de militares antes orçamentária promovida na LOA do ano de
e depois da criação de ação orçamentária 2014, que é objetivo desse estudo, foi reali-
específica para este fim. zada uma atualização monetária, baseada no
Conforme a Lei n° 12.778, de 28 de índice IPC-A (Instituto Brasileiro de Geografia
dezembro de 2012, o valor dos soldos dos e Estatística – IBGE), de modo a ter como
militares sofreu um reajuste, em média, de referência valores nominais de 2014, sendo
9,04% em 2013 e 9,15% em 2014. Esses desconsiderado o aumento nos soldos dos mi-
acréscimos influenciaram apenas no cálculo litares nos anos de 2013 e 2014. Essa corre-
da Ajuda de Custo devida aos militares que ção foi feita com o auxílio da Calculadora do
são movimentados. A indenização de trans- cidadão, disponibilizada no sítio da internet
porte é medida com base na multiplicação do Banco Central do Brasil (BCB) e é apresen-
dos parâmetros constantes nos anexos I e II do tada na Tabela 2.
Decreto 4.307, de 18 de julho de 2002. O acerto acerca do reajuste dos soldos
A tabela 1 apresenta os valores totais pa- supracitado se deu apenas sobre os valores
gos entre os anos de 2011 e 2014 referentes referentes ao pagamento da Ajuda de Custo,
às despesas com movimentação de milita- conforme representado na Tabela 1, visto
res, sendo tais valores extraídos do Sistema que esse acréscimo não impactou o montan-
Integrado de Planejamento e Orçamento te pago por indenização de transporte. A

Tabela 1: Gastos com movimentação de militares na MB (em R$)


Ano Valor Pago Total (a) Ajuda de Custo (b) Percentual a Reduzir (c) Valor a Reduzir (d) = (b)x(c) Valor Final a Corrigir (e) = (a)-(d)
2011 256.474.717,67 180.109.463,12 - - 256.474.717,67
2012 281.233.379,12 207.979.088,43 - - 281.233.379,12
2013 261.716.056,04 129.050.927,34 9,04% 11.666.203,83 250.049.852,21
2014 269.661.274,34 149.724.070,31 19,02% 28.477.518,17 241.183.756,17
Fonte: SIOP Sistema Integrado de Planejamento e Orçamento, 2015, e Pagadoria de Pessoal da Marinha, 2015.

Tabela 2: Valores corrigidos e variação anual


Ano Valor Final Corrigido Diferença Anual Variação
2011 R$ 307.445.143,74 - -
2012 R$ 319.445.908,26 R$ 12.000.764,52 3,90%
2013 R$ 268.519.959,58 (R$ 50.925.948,68) -15,94%
2014 R$ 241.183.756,17 (R$ 27.336.203,41) -10,18%
Fonte: Elaborado pelo autor com auxílio da Calculadora do cidadão – BCB, 2015.

ACANTO EM REVISTA 103


E M R E V I S TA
artigo selecionado

Pagadoria de Pessoal da Marinha (PAPEM), É importante ressaltar também que, apesar


órgão que executa os valores orçamentários do soldo dos militares ter sofrido alguns
relacionados à movimentação de militares, pequenos reajustes a partir de 2010, de
contribuiu com a identificação das quantias forma a diminuir as perdas acumuladas de
de ajuda de custo e indenização de transporte 7 anos sem aumento, os parâmetros de re-
que são distinguidas pelo código da rubrica ferência para o cálculo da indenização de
de pagamento utilizada pela MB para cada transporte de bagagem e veículos não foram
uma das duas situações. alterados desde julho/2002, data em que foi
A Figura 1 ilustra o contido na Tabela 2, publicado o Decreto 4.307, que regulamenta
mostrando que o ano de 2013, exercício a MP 2.215-10/2001 – Lei de Remuneração
em que foi aprovada a alteração da classi- dos Militares.
ficação orçamentária dos recursos referentes Tomando por base o período compreen-
à mudança de sede de militares, apresentou dido entre julho/2002 e dezembro/2014
forte queda no montante pago em relação ao e utilizando a Calculadora do cidadão do
ano anterior. Esse cenário foi reforçado no BCB, o índice de inflação acumulada IPC-A,
ano de 2014, já na nova sistemática. Essa calculado pelo IBGE, chega a 117,57%,
diminuição contribui para uma adaptação ou seja, há uma grande defasagem do
da política de alocação de pessoal, pois, valor estabelecido em Decreto, o que gera
para que o quantitativo do efetivo transferido transtornos ao militar por ocasião de sua
Fonte: SIOP Sistema Integrado de Planejamento e Orçamento, 2015, e Pagadoria de Pessoal da Marinha, 2015.
não sofra grande redução, faz-se necessária transferência de sede para servir em outra
uma melhor distribuição Tabela entre as diversas Organização
2: Valores corrigidos Militar. Portanto, os valores
e variação anual
localidades
Ano existentes,
Valor Finalsem que os destinosDiferença
Corrigido hoje autorizados na LOAVariação
Anual deveriam ser razoa-
mais2011
afastados sejam prejudicados, uma vez
R$ 307.445.143,74 -velmente maiores para que os - gastos relativos
que 2012
geram maior R$dispêndio de recursos com
319.445.908,26 à mudança não fossem 3,90%
R$ 12.000.764,52 mais um problema
movimentação.
2013 R$ 268.519.959,58 a ser contornado, além-15,94%
(R$ 50.925.948,68) de todos os outros
2014 R$ 241.183.756,17 (R$ 27.336.203,41) -10,18%
Fonte: Elaborado pelo autor com auxílio da Calculadora do cidadão – BCB, 2015.
Figura 1: Despesas realizadas com movimentação de militares na MB corrigidas
Figura 1: Despesas realizadas com movimentação de militares na MB corrigidas pelo IPCA para
pelo IPCAo ano
paradeo 2014.
ano de 2014.

Movimentação de militares na Marinha do Brasil


Milhões

R$ 340

R$ 320

R$ 300

R$ 280

R$ 260

R$ 240

R$ 220

R$ 200
2011 2012 2013 2014

Fonte:Fonte:
ElaboraçãoElaboração
do autor. do autor.

A Figura 1 ilustra o contido na Tabela 2, mostrando que o ano de 2013, exercício em


104
queACANTO
foi aprovada
EM REVISTA a alteração da classificação orçamentária dos recursos referentes à mudança

de sede de militares, apresentou forte queda no montante pago em relação ao ano anterior.
E M R E V I S TA

artigo selecionado
relacionados à mudança de residência do Em uma situação em que os recursos sub-
militar e seus dependentes. sidiados e aprovados estejam além do que
Uma consequência relevante da altera- for preciso para realizar as movimentações
ção da classificação dos recursos relativos à anuais previstas, a Marinha do Brasil deve-
movimentação de militares é que, apesar da rá ter extrema atenção na utilização desse
indenização com movimentação ser um direi- montante, uma vez que o cancelamento de
to remuneratório previsto legalmente e uma dotação orçamentária por falta da necessi-
despesa obrigatória da União, ela é de ca- dade de aplicação de recursos traduz-se em
ráter eventual, ou seja, deve ser paga apenas uma imagem ruim para a Força e pode de-
quando há a necessidade de transferência de notar um planejamento mal realizado com o
sede do militar. Dessa forma, constarão como decorrer dos anos, havendo a possibilidade
valores executados na GND 1, pertencentes de redução de montantes autorizados nos
à folha de pagamento da Marinha do Brasil, anos posteriores.
apenas pagamentos de natureza contínua, Outra possível consequência de uma even-
isto é, pagos mensalmente nos bilhetes de tual sobrevalorização da dotação de recursos
pagamento dos militares. é o aumento na quantidade de movimentações
Esse isolamento da dotação orçamentá- para um nível superior às reais necessidades
ria para movimentação de militares propor- da MB, o que pode deteriorar a qualidade
cionará à Secretaria do Orçamento Federal dos resultados da realocação de pessoal.
(SOF) um maior conhecimento acerca da Na ocorrência de um cenário de escas-
utilização desses recursos, desde a real ne- sez de recursos orçamentários devido a, por
cessidade de seu montante até os períodos exemplo, subsídios mal elaborados, a MB
de maior uso durante o exercício financeiro. também encontrará sérias dificuldades para
Essas informações são essenciais para que atender sua demanda. Nesse sentido, uma
a SOF amplie sua capacidade de argumen- solicitação de créditos adicionais suplemen-
tação na negociação dos valores para os tares far-se-á necessária para incrementar a
orçamentos posteriores. dotação autorizada. Esse processo causa um
Como fruto dessa nova sequência histórica desgaste para a Força, tendo em vista a ex-
que se dará por ocasião da criação da Ação posição a que ela fica sujeita, demonstrando
Orçamentária 212O, ressalta-se a importân- uma ineficiência de planejamento na solicita-
cia do planejamento, execução e controle ção de recursos e a espera pela aprovação
desses recursos. Um planejamento bem reali- desses créditos, o que impacta na realização
zado possibilitará valores confiáveis a serem das movimentações previstas.
executados durante o exercício financeiro, Tem-se em última análise que a separação
contribuindo, assim, para um controle adequa- dos recursos para a realização de movimen-
do. Há uma certa complexidade em relação tações de militares da folha de pagamento
a esse tipo de despesa devido às inúmeras gera, principalmente, benefícios para os
variáveis envolvidas no seu cômputo, como: órgãos orçamentários do Governo Federal, o
posto ou graduação e número de dependen- que, consequentemente, traz grandes desafios
tes dos militares movimentados, além das para a Marinha do Brasil. Porém, um fator
localidades de destino. Esse fato acarreta em que não deve ser esquecido e precisa entrar
uma deficiente previsão do gasto com movi- na pauta de discussões entre os Ministérios
mentação, que se dá, basicamente, mediante da Defesa e do Planejamento, Orçamento e
série histórica, o que não é salutar. Gestão é a atualização dos parâmetros para

ACANTO EM REVISTA 105


E M R E V I S TA
artigo selecionado

o cálculo da indenização de transporte que A liberação de recursos financeiros se dá


não são reajustados desde sua definição, em de forma parcelada, basicamente, mediante
julho de 2002. a programação de arrecadação de receitas
Esses valores são de extrema importância pela União, como forma de responsabilidade
para que os militares possam realizar, com na gestão fiscal. Em um cenário de recessão
seus dependentes, sua mudança de sede econômica, naturalmente ocorrerá um enfra-
de forma adequada e sem impactar no seu quecimento do mercado, o que contribuirá
orçamento familiar. Podendo, assim, contribuir para um menor recolhimento de tributos
para reduzir os impactos sociais e particulares para o Governo Federal. A diminuição des-
que a movimentação acarreta. ses recursos apresenta reflexos em todos
os setores da Administração Pública, pois
4.3 O Contingenciamento de Recursos e
diminui a disponibilidade de dinheiro para
seus Reflexos
que o Governo quite suas obrigações e faça
A alteração da classificação das despesas investimentos.
de ajuda de custo e indenização de transporte O Limite de Pagamento (LP) é definido
para o GND 3 apresenta novas dificuldades e conforme cronograma de desembolso estabe-
incertezas para o planejamento realizado pela lecido no Decreto de Programação Financeira
Marinha do Brasil no aspecto orçamentário, do Governo e pode ser atualizado bimestral-
tendo em vista as movimentações dos militares. mente no Relatório de Avaliação de Receitas
Um grande desafio a ser enfrentado é a e Despesas Primárias que é produzido pela
possibilidade de contingenciamento dos recur- Secretaria de Orçamento Federal. O limite
sos por parte do Governo Federal, o que pode pertencente ao Ministério da Defesa ainda é
vir a acarretar em um atraso na designação repartido entre as necessidades deste e das
dos militares ou a diminuição das movimenta- três Forças Armadas.
ções, de forma prejudicial ao cumprimento da Com o limite disponível para a Marinha
missão da MB. do Brasil, a Diretoria de Finanças da Marinha
Durante a elaboração da proposta or­ é a responsável por fazer o sub-repasse dos
ça­mentária, a MB subsidia os valores ne- recursos financeiros para as Organizações
cessários referentes às movimentações de Militares quitarem suas variadas obrigações.
militares planejadas para o ano subsequen- Fazem parte dessa gama de despesas des-
te. Essa proposta pode sofrer cortes até o de o pagamento do atendimento hospitalar
momento da aprovação do orçamento pelo para os militares e seus dependentes em
Congresso Nacional. regiões mais afastadas até o pagamento de
Com a LOA sancionada, é possível fornecedores de materiais e serviços comuns,
ter a real dimensão da possibilidade de incluindo nesse escopo as despesas com movi-
execução das movimentações planejadas mentações de militares.
durante o ano. Porém, mesmo com os cré- Assim, ainda que os recursos de movimen-
ditos disponíveis, o recurso financeiro é tação de militares sejam classificados como
liberado de acordo com o estabelecido no despesas orçamentárias obrigatórias e não
Decreto de Programação Financeira para o possuam previsão legal para a limitação de
Poder Executivo, já que este Decreto esta- empenho, concorrem ao mesmo Limite de
belece no seu anexo VI que a AO 212O – Pagamento disponível para a MB. Por esse
Movimentação de Militares – é uma despesa motivo, ao realizar o pagamento das despe-
obrigatória sujeita à programação financeira. sas com movimentação, necessárias ao militar

106 ACANTO EM REVISTA


E M R E V I S TA

artigo selecionado
no momento de sua transferência, outras des- 4.4 Impactos para a Sociedade
pesas poderão ser preteridas para tal, ocasio- A sociedade também poderá perceber os
nando transtornos administrativos para a Força frutos dessa criação de Ação Orçamentária
e para as demais partes interessadas. específica para movimentação de militares. E
Portanto, em um cenário econômico desfa- isso se dá, inicialmente, pela observação de
vorável e de baixa disponibilidade de capital um princípio orçamentário muito importante
nas contas do Governo, a Marinha do Brasil nesse processo: o princípio da especificação
terá que exercer um grande e constante es- ou discriminação.
forço com o intuito de atender as demandas Essa premissa contribui para que as despe-
sociais, econômicas e administrativas, suas sas sejam detalhadas até um nível em que os
e da sociedade, com os poucos recursos componentes da sociedade em geral tenham
disponíveis de maneira a não prejudicar sua a possibilidade de saber e entender de forma
finalidade operacional. clara a origem dos recursos e sua aplicação.
Para que sejam minimizados os efeitos da Com o advento da Lei de Responsabilidade
restrição de recursos tanto orçamentários quan- Fiscal e suas inovações, houve uma grande
to financeiros, a Marinha do Brasil deverá efe- preocupação em impor aos governantes uma
tuar um planejamento de suas ações a serem mentalidade de responsabilização com a
empreendidas nesse cenário. Um dos assuntos execução e controle do orçamento aprovado,
a serem abordados seria a sua política de bem como de incremento da transparência da
realocação dos efetivos. Nesse ínterim, faz-se gestão de recursos públicos, com uma padro-
necessária uma reavaliação das necessidades nização das contas e aumento do acesso por
de movimentação de seu pessoal, por exem- parte da população, principalmente por meio
plo, por ocasião da matrícula e do término eletrônico.
dos cursos de carreira realizados anualmente. Igualmente, percebe-se que há uma cres-
Um planejamento bem executado desses cente preocupação em se estabelecer novas
fluxos mais constantes é fundamental, pois pos- formas de monitorar as ações do agente
sibilitará aos setores orçamentário e financeiro público. Os cidadãos, como grandes respon-
da MB efetuarem suas programações quanto sáveis pelo controle social, exercem um papel
ao uso dos recursos disponibilizados pelo importantíssimo de apoio na fiscalização do
Governo Federal. cumprimento das determinações impostas pe-
Em resumo, apesar de a AO 212O – los instrumentos legais por parte dos represen-
Movimentação de Militares – ser uma despesa tantes escolhidos por eles.
primária obrigatória para a União, o fato de É de amplo consenso que o aperfei­ çoa­
ela concorrer ao mesmo Limite de Pagamento mento das funcionalidades oferecidas pelo
das demais despesas correntes, por ter sido setor público, como o portal da transparência,
classificada como GND 3, afetará o planeja- contribui para um melhor resultado do moni-
mento e a execução desses recursos na MB. toramento e controle da gerência feita pelos
Destarte, faz-se mister uma integração entre os agentes do Governo acerca dos recursos
setores de pessoal e orçamentário de maneira orçamentários. Esse é um dos fatos relevantes
a atualizar a política de movimentações, para que levam as organizações cada vez mais se
que esta se adapte à nova sistemática da aprimorarem na realização de um planeja-
gestão desses recursos de forma a contribuir mento consistente e confiável.
para que a Força Naval cumpra suas missões Essa cultura corrobora com a ideia de que
constitucionais. a Marinha do Brasil, bem como as demais

ACANTO EM REVISTA 107


E M R E V I S TA
artigo selecionado

Forças, tem um grande desafio a ser enfren- fundamental para que os militares ampliem
tado no que tange ao planejamento da reali- sua capacitação relativa ao conhecimento e
zação das transferências de seu efetivo. Esse defesa do território nacional.
destaque causado pela criação de uma AO Outro aspecto que foi analisado passa pe-
específica para as movimentações tende a ser los dados quantitativos acerca das dotações
percebido pelos diversos estratos da socieda- orçamentárias destinadas ao pagamento das
de, tendo, assim, um importante acompanha- movimentações de militares da Marinha do
mento da gestão desses recursos como forma Brasil. Foi possível perceber que os anos de
de controle social. 2013 e 2014 apresentaram considerável
A mudança de classificação orçamentária redução do montante pago desses recursos.
se apresenta como uma oportunidade para Adicionalmente, a criação da AO 212O
que seja aprimorada a qualidade da gestão também trará como consequência um grande
das transferências dos militares. As áreas seto- incremento quanto ao conhecimento das parti-
riais de pessoal necessitarão desenvolver ativi- cularidades do uso desses recursos por parte
dades em conjunto com as áreas de orçamen- da SOF. Sendo assim, esse Órgão terá maio-
to para que todos entendam cada dificuldade res e melhores subsídios na negociação pela
enfrentada e possam traçar um caminho em liberação desses recursos.
busca de um ganho de eficiência nas políticas Ainda nesse viés, a Marinha do Brasil
de movimentação. precisará aprimorar seu planejamento quanto
Assim sendo, os diversos anseios da so- às movimentações de militares, a fim de in-
ciedade, que passam desde a qualidade e crementar a qualidade dos subsídios para a
eficiência no gasto público até o cumprimen- solicitação dos recursos orçamentários. Isso se
to da missão constitucional da Marinha do dá porque a falta ou excesso desses, além de
Brasil, poderão ser alcançados e contribuirão reduzir a qualidade das designações e preju-
para o apoio dos cidadãos em elevar o nome dicar o cumprimento de sua missão, contribui
da Instituição e contribuir para o crescimento para uma imagem ruim quanto à gestão dos
das Forças Armadas e do país como um todo. recursos públicos.
É de grande importância ressaltar que os
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS parâmetros utilizados como base para calcu-
O objetivo principal do presente estudo foi lar o valor da indenização de transporte não
responder o problema de pesquisa proposto sofrem alteração desde a sua definição, em
que era identificar quais os reflexos que a 2002. Portanto, um debate sobre a atua-
criação da AO 212O, específica para mo- lização desses valores se faz necessário,
vimentação de militares, pode trazer para a para que não ocorram maiores prejuízos aos
Marinha do Brasil, tanto no campo orçamentá- militares e seus dependentes por ocasião de
rio quanto na manutenção de sua capacidade sua mudança de sede para contribuir com a
operativa para o cumprimento de sua missão defesa da Pátria.
constitucional. O contingenciamento também foi outra
Primeiramente, foram abordadas as ca- situação abordada no texto, pois a redu-
racterísticas importantes da movimentação ção dos valores previamente autorizados
para os militares, o que demonstra suas con- para realizar a movimentação de militares
tribuições tanto no campo estratégico nacional poderá acarretar em uma perda estratégica
como no âmbito cultural e social. As transfe- grande para o país. Vislumbra-se, também,
rências de sede se configuram como elemento grande dificuldade para a execução dessas

108 ACANTO EM REVISTA


E M R E V I S TA

artigo selecionado
despesas nos momentos de crise econômica, REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
em que a arrecadação federal é menor e, ALBUQUERQUE, Claudiano Manoel de;
consequentemente, diminuirão os recursos MEDEIROS, Márcio Bastos; SILVA, Paulo
financeiros disponíveis. Para combater esse Henrique Feijó da. Gestão de finanças públi-
cenário, a Marinha do Brasil deverá efetuar cas: administração financeira e orçamentária.
um planejamento com ações que visem su- 3 ed. Brasília: Gestão Pública, 2013.
perar o desafio de pagar o máximo de suas ARAUJO, Inaldo; ARRUDA, Daniel.
obrigações com os poucos recursos disponí- Contabilidade pública: da teoria a prática.
veis, buscando atender as suas demandas da São Paulo: Saraiva, 2004.
melhor forma possível. BRASIL. Constituição da República Federativa
A sociedade também teve parte no presen- do Brasil de 1988. Diário Oficial [da]
te trabalho, uma vez que foram levantados República Federativa do Brasil, Poder Exe­cu­
possíveis reflexos da criação da AO 212O tivo, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em:
para a população como um todo. Nesse ín- <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
terim, foi verificada, como maior contribuição, constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>
a possibilidade de um maior controle social Acesso em: 19 out. 2015.
sobre os recursos de movimentação de mili- ______. Decreto n. 4.307, de 18 de julho
tares, o que aumenta a responsabilidade na de 2002. Regulamenta a Medida Provisória
gestão destes recursos por parte da Marinha no 2.215-10, de 31 de agosto de 2001,
do Brasil, demonstrando uma preocupação que dispõe sobre a reestruturação da remu-
da Força Naval com a eficiência do gasto neração dos militares das Forças Armadas,
público, e contribuindo, assim, para o incre- altera as Leis nos 3.765, de 4 de maio
mento do respeito e da boa imagem junto aos de 1960, e 6.880, de 9 de dezembro
cidadãos brasileiros. de 1980, e dá outras providências. Diário
Dessa forma, o presente estudo buscou Oficial [da] República Federativa do Brasil,
contribuir com o entendimento sobre os impac- Poder Executivo, Brasília, DF, 19 jul. 2002.
tos de uma mudança orçamentária pontual de Disponível em: <http://www.planalto.gov.
menor vulto para população como um todo, br/ccivil_03/decreto/2002/d4307.htm>.
porém de grande importância para Órgãos Acesso em: 09 set. 2015.
da Administração Pública do país, como as ______. Decreto n. 5.484, de 30 de junho de
Forças Armadas. 2005. Aprova a Política de Defesa Nacional,
Como sugestões de pesquisas futuras, e dá outras providências. Diário Oficial
recomenda-se um estudo detalhado sobre a [da] República Federativa do Brasil, Poder
necessidade de atualização dos valores de Executivo, Brasília, DF, 1 jul. 2005. Disponível
referência para o cálculo da indenização de em: <http://www.planalto.gov.br/cci-
transporte dos militares. Propõe-se, também, vil_03/_Ato2004-2006/2005/Decreto/
uma avaliação pormenorizada das ferramen- D5484.htm>. Acesso em: 18 out. 2015.
tas a serem utilizadas como forma de apoio ______. Decreto n. 8.197, de 20 de fevereiro
ao planejamento para os momentos de crise de 2014. Dispõe sobre a programação orça-
econômica, principalmente na falta de recur- mentária e financeira, estabelece o cronogra-
sos financeiros para a União. Por fim, é de ma mensal de desembolso do Poder Executivo
bom alvitre um trabalho que aborde possíveis para o exercício de 2014 e dá outras
melhorias para a previsão das despesas da providências. Diário Oficial [da] República
AO 212O dos próximos exercícios. Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília,

ACANTO EM REVISTA 109


E M R E V I S TA
artigo selecionado

DF, 20 fev. 2014. Disponível em: <http:// ______. Lei n. 12.919, de 24 de dezembro
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011- de 2013. Dispõe sobre as diretrizes para a
2014/2014/Decreto/D8197.htm>. Acesso elaboração e execução da Lei Orçamentária
em: 19 out. 2015. de 2014 e dá outras providências. Diário
______. Lei Complementar n. 97, de 9 de ju- Oficial [da] República Federativa do Brasil,
nho de 1999. Dispõe sobre as normas gerais Poder Executivo, Brasília, DF, 26 dez. 2013.
para organização, o preparo e o emprego das Disponível em: <http://www.planalto.gov.
Forças Armadas. Diário Oficial [da] República br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/
Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, L12919.htm>. Acesso em: 8 set. 2015.
DF, 10 jun. 1999. Disponível em: <http:// ______. Medida Provisória n. 2.215-10, de
www.planalto.gov.br/ccivil03/Leis/LCP/ 31 de agosto de 2001. Dispõe sobre a rees-
Lcp97.htm >. Acesso em: 18 out. 2015. truturação da remuneração dos militares das
______. Lei Complementar n. 101, de 4 de Forças Armadas, altera as Leis n. 3.765, de
maio de 2000. Estabelece normas de finan- 4 de maio de 1960, e 6.880, de 9 de de-
ças públicas voltadas para a responsabilidade zembro de 1980, e dá outras providências.
na gestão fiscal e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do
Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 3 set.
Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 5 mai. 2001a. Disponível em: <http://www.pla-
2000, Seção 1, p 1. nalto.gov.br/ccivil_03/mpv/2215-10.htm>.
______. Lei n. 4.320, de 17 de março de Acesso em: 9 set. 2015.
1964. Estatui Normas Gerais de Direito ______. Ministério da Fazenda. Secretaria
Financeiro para elaboração e controle do Tesouro Nacional. Portaria Interministerial
dos orçamentos e balanços da União, dos n. 163, de 4 de maio de 2001b, atualiza-
Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. da em 3 de maio de 2013. Dispõe sobre
Disponível em: <http://www.planalto.gov. normas gerais de consolidação das Contas
br/ccivil_03/Leis/L4320compilado.htm>. Públicas no âmbito da União, Estados, Distrito
Acesso em: 8 set. 2015. Federal e Municípios, e dá outras providên-
______. Lei n. 12.778, de 28 de dezem- cias. Diário Oficial [da] República Federativa
bro de 2012. Dispõe sobre remuneração do Brasil, Brasília, DF, 7 mai. 2001b, Seção
e reajustes em cargos diversos no Poder 1, p. 15-20. Disponível em: <http://www3.
Executivo e dá outras providências. Diário tesouro.gov.br/legislacao/download/
Oficial [da] República Federativa do Brasil, contabilidade/Portaria_Interm_163_2001_
Poder Executivo, Brasília, DF, 31 dez. 2012. Atualizada_2013_3maio2013.pdf>. Acesso
Disponível em: <http://www.planalto.gov. em: 9 set. 2015.
br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/ ______. Ministério do Planejamento, Orça­
L12778.htm>. Acesso em: 8 set. 2015. mento e Gestão. Secretaria de Orçamento

110 ACANTO EM REVISTA


E M R E V I S TA

artigo selecionado
Federal. Manual técnico de orçamento MTO. PALUDO, Augustinho Vicente. Orçamento pú-
Edição 2016. Brasília, 2015. blico e administração financeira e orçamentá-
CASTRO, Domingos Poubel de. Auditoria, ria e LRF. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.
contabilidade e controle interno no setor públi- PARISI, Claudio; et al. Presença Potencial do
co. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2013. Contingenciamento da União nos Artifícios
GIACOMONI, James. Orçamento público. Adotados pelos Gestores das UG’s. Revista
15. ed. rev. aum. São Paulo: Atlas, 2010. Brasileira de Gestão de Negócios. São Paulo,
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos v. 13, n. 41, Outubro-Dezembro, p. 415-
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KOHAMA, Helio. Contabilidade pública: teo- SANCHES, Osvaldo Maldonado. Dicionário
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LIMA, Diana Vaz de; CASTRO, Róbson ed. atual. e ampl. Brasília: OMS, 2004.
Gonçalves. Contabilidade pública: integrando VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e relató-
União, Estados e Municípios (Siafi e Siafem). rios de pesquisa em administração. 9 ed. São
São Paulo: Atlas, 2000. Paulo: Atlas, 2007.

ACANTO EM REVISTA 111


E M R E V I S TA
artigo selecionado

Autor: Capitão-Tenente (Quadro


Complementar-Intendente da Marinha) Daniel
Santos Moura
Orientador: Capitão de Mar e Guerra
(RM1-Intendente da Marinha) Frederico Aldama
Marques de Oliveira
Coorientador: Capitão-Tenente (Intendente
da Marinha) Giorgio Moreira Tavares - DFM

O USO DE HEDGE CAMBIAL:


UMA FERRAMENTA DE
PROTEÇÃO À PROGRAMAÇÃO
FINANCEIRA DESTINADA ÀS
OBTENÇÕES NO EXTERIOR DA
MARINHA DO BRASIL
Resumo: O presente trabalho visa a analisar como a estratégia de hedge cambial, via mercado de derivativos, pode proteger os recursos financei-
ros da Marinha do Brasil (MB) destinados à obtenção no exterior contra a volatilidade do câmbio. Conclui-se que a referida estratégia, utilizando-a
racionalmente e se estimando os riscos inerentes, é de fato um potencial imunizador cambial para as obtenções no exterior da MB. Portanto, ao
proteger parcela significativa de sua Programação Financeira contra oscilações cambiais, tal estratégia de proteção reduz a volatilidade do fluxo
de caixa futuro da MB, bem como aprimora sua capacidade de planejamento financeiro.
Palavras-chave: Hedge Cambial; Mercado de Derivativos; Risco Cambial; Programação Financeira; Marinha do Brasil.

1 INTRODUÇÃO forma recorrente, a ferramenta de hedge


Os cenários de incerteza decorrentes para protegerem seus fluxos de caixa con-
das flutuações de mercado têm levado as tra a volatilidade cambial. As operações
organizações que possuem operações com a termo de moeda na posição comprada
o mercado externo a demandarem, de (proteção contra a alta da moeda) em

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artigo selecionado
2014 apresentaram um aumento de 38% Será analisado o potencial benefício da estra-
em relação a 2013i. tégia imunizadora, no contexto dos principais
Nesse contexto, o presente estudo demonstra- tipos de contratos de derivativos, para o fluxo
-se relevante ao avaliar os potenciais benefícios de caixa futuro da MB, de modo a aprimorar
da utilização da ferramenta de proteção cambial suas obtenções no exterior.
pela Marinha do Brasil (MB), de forma a reduzir Para tanto, primeiramente, a seção 2 abor-
os riscos de alterações do valor esperado da dará os procedimentos metodológicos que
execução de seus contratos em moedas estran- fundamentam a presente pesquisa.
geiras provocadas pela oscilação do câmbio Em seguida, a seção 3 apresentará funda-
no intervalo de tempo entre a elaboração, em mentos teóricos, a fim de demonstrar a que
Reais, de seu orçamento e a realização de suas tipo de risco cambial a MB está exposta, o
atividades de Programação Financeira. conceito de hedge cambial e as principais
A utilização da ferramenta de hedge modalidades de contratos disponíveis no
cambial poderá contribuir para a redução da mercado de derivativos como estratégia de
volatilidade do fluxo de recursos financeiros proteção cambial.
destinados às operações com câmbio realiza- A seção 4 aplicará a operação de hed-
das pela MB, cuja média entre 2008 e 2014 ge via mercado de derivativos ao âmbito da
foi cerca de R$ 1.133,07 milhõesii. Desse
MB, a fim de analisar a viabilidade legal e
modo, a MB poderá ter maior capacidade
operacional de sua implantação nessa insti-
de planejamento financeiro para atender, de
tuição Militar, de demonstrar como parcela
forma mais eficiente, as demandas por tran-
significativa do fluxo financeiro da MB está
sações externas das Organizações Militares
sujeita ao risco cambial, de analisar as ca-
Solicitantes da Marinha e dos projetos de
racterísticas dos contratos do mercado de
grande complexidade como o Programa de
derivativos no contexto da MB e de identificar
Desenvolvimento de Submarinos (PROSUB) e o
quais os impactos positivos e os riscos para a
Programa Nuclear da Marinha (PNM).
Programação Financeira da MB ao se utilizar
De acordo com Alves (2008), cujo tra-
a estratégia de hedge cambial.
balho propõe a utilização de derivativos
Por último, a seção 5 consiste nas conside-
cambiais na Administração Pública, anali-
rações finais atinentes ao conteúdo abordado
sando o caso da MB, o abastecimento das
nas seções anteriores, cujas informações
Organizações Militares no Exterior e os
subsidiam a conclusão referente ao objetivo
pagamentos de gastos com dívida externa,
oriunda de aquisições de equipamentos, principal deste trabalho.
meios flutuantes, aeronavais e de fuzileiros
navais, podem ser prejudicados em decor- 2 METODOLOGIA
rência da volatilidade cambial. O presente trabalho será desenvolvido
Assim sendo, o presente trabalho tem como por meio de uma pesquisa exploratória,
objetivo principal analisar como a utilização analisando a estratégia de hedge cambial
da estratégia de hedge, por meio dos pro- por meio dos contratos derivativos na MB, e
dutos financeiros disponíveis no mercado de identificando suas limitações e características
derivativos, pode contribuir para a proteção da que possibilitem a utilização de tal ferramenta
Programação Financeira da MB destinada aos de proteção, de forma a contribuir para uma
pagamentos de compromissos em moedas es- construção de pensamento sobre o assunto de
trangeiras, face ao risco de variação cambial. maneira aplicada a essa Organização Militar.

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artigo selecionado

Dessa forma, em consonância com Gil apesar de maior autonomia da política mone-
(2000), esta pesquisa visará ao desenvolvi- tária do Banco Central, tal regime apresenta
mento de concepção e a uma familiarização como característica uma maior volatilidade de
com o problema levantado. Para isso, foi sua taxa, podendo desestabilizar as balanças
realizada pesquisa bibliográfica por meio de comerciais, bem como as decisões de inves-
livros e artigos científicos, bem como pesquisa timento, dada a incerteza da oscilação do
documental por meio de relatórios, planilhas câmbio (LOPES e VASCONCELLOS, 2000).
financeiras, portarias, regulamentos e normas. No Brasil, o regime de câmbio flutuante
vem sendo adotado desde 1999, após as
3 REFERENCIAL TEÓRICO políticas de câmbio administrado, predomi-
nantemente, na década de 1990. Segundo
3.1 Risco de Variação Cambial
Merlotto, Pimenta Júnior e Rosifini Júnior
Em decorrência da globalização dos mer- (2008), houve um aumento expressivo da
cados, faz-se necessário possuir um parâmetro volatilidade da taxa cambial desde a flexibili-
que relativiza as transações internacionais en- zação do regime cambial. Cabe ressaltar que
tre as diversas economias. Para tanto, a taxa as crises internacionais do final da década de
de câmbio expressa o preço relativo entre as 90 e início da década de 2000 afetaram as
diversas moedas das respectivas economias contas da economia brasileira, impactando o
que realizam transações comerciais entre si fluxo de capitais financeiros e gerando resulta-
(LOPES e VASCONCELLOS, 2000). Sendo dos adversos para a balança de pagamentos
assim, é possível comparar a evolução de e para a taxa de câmbioiii. Nota-se, com
valorização de uma moeda em relação à ou- isso, que o mercado cambial em um regime
tra, de forma a obter as melhores estratégias flexível tem maior potencial para condicionar
comerciais possíveis até o ponto em que as significativas oscilações da taxa de câmbio
condições cambiais sejam favoráveis, tudo o em distintos períodos de tempo, face aos di-
mais constante. versos cenários econômicos.
O tipo de regime cambial aplicado em uma Conforme Allayannis e Ofek (2001), as
economia é relevante para a determinação do oscilações cambiais afetam os fluxos de cai-
comportamento do câmbio. Em um regime de xa futuro e, portanto, modificam o valor das
câmbio fixo, o Banco Central define a taxa de empresas não só ao modificarem os valores
câmbio e a mantém fixa através de compras e da moeda doméstica relativos às receitas
vendas de divisas. Dessa forma, o comporta- e aos custos externos mas também ao alte-
mento do câmbio está restrito à meta cambial rarem as condições de competição. Dessa
do Banco Central, bem como à sua capacida- forma, é relevante o acompanhamento das
de de transacionar as divisas à taxa estipulada. movimentações da taxa de câmbio por par-
No regime de bandas cambiais, fixa-se te das empresas que realizam contratos em
uma taxa de câmbio central e um intervalo moeda estrangeira, a fim de aperfeiçoarem
com limites de aceitação para baixo e para suas tomadas de decisão quanto aos seus
cima. A autoridade monetária intervém no respectivos negócios. Para esse acompanha-
mercado apenas para manter a taxa de câm- mento, os gestores necessitam entender o ris-
bio dentro do intervalo de tolerância estabe- co cambial a que seu negócio está sujeito.
lecido. Já no regime de câmbio de taxas flu- De acordo com Levi (2005), o risco de
tuantes, a taxa de câmbio se ajusta de forma variação cambial é a sensibilidade de mu-
a equilibrar o mercado de divisas. Com isso, danças no valor em moeda doméstica real de

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ativos ou passivos a alterações nas taxas de em decorrência das oscilações de câmbio, as
câmbio. Assim, quanto maior for a variação receitas, os custos e a rentabilidade da empre-
do valor da moeda doméstica, dada uma sa serão prejudicados, de modo que a firma
variação no valor da taxa cambial, maior é o corre o risco de perder valor de mercado.
risco de variação cambial. Ainda de acordo com Freire Junior (2002),
A forma como o risco de variação cam- o risco cambial contábil ou de conversão apli-
bial afeta os agentes econômicos depende ca-se àquelas firmas que necessitam converter
da posição ou tipo de transação comercial seus demonstrativos financeiros em moeda
que o mesmo realiza. Um importador está estrangeira. Normalmente, tal conversão é
exposto ao risco cambial ao firmar contrato exigida para as empresas filiadas a matrizes
em moeda estrangeira, de modo que a no exterior. O risco se encontra no fato de,
ocorrência de uma desvalorização cambial por ocasião da conversão, haver desvaloriza-
pode elevar seus custos de aquisição. Já um ção cambial, prejudicando os resultados dos
exportador expõe-se ao risco cambial ao fir- demonstrativos financeiros.
mar contratos que gerem receitas em moeda Em suma, as firmas que realizam transa-
estrangeira, de forma que uma valorização ções com moedas estrangeiras necessitam
cambial durante o contrato pode reduzir seus possuir estratégias para mitigar os efeitos
ganhos financeiros com a transação comer- provocados por oscilações cambiais, haja
cial. Portanto, a oscilação cambial pode afe- vista as incertezas sobre a evolução do valor
tar a lucratividade, o fluxo de caixa líquido e da moeda estrangeira no futuro. Assim, tendo
o valor das firmas. Sendo assim, as empresas em conta os riscos que o comportamento futu-
podem estar sujeitas a três tipos básicos de ro da taxa de câmbio pode acarretar para o
risco cambial: risco de transação, risco ope- fluxo de caixa das firmas, faz-se relevante co-
racional e o risco contábil. nhecer os mecanismos de proteção existentes
O risco cambial de transação ocorre para a minimização dos riscos cambiais, de
quando as organizações realizam opera- modo a viabilizar a condução das atividades
ções em que são obrigadas a pagarem ou principais das firmas.
receberem um montante específico de moeda
estrangeira em uma data específica no futuro, 3.2 Conceito de Hedge Cambial
estando sujeitas às incertezas quanto às mo- Com o desenvolvimento dos mercados
vimentações da taxa de câmbio. Tal cenário internacionais, os agentes econômicos que
aplica-se ao caso de um importador se expor realizam transações com moeda estrangeira
a operações cuja liquidação ocorrerá em desenvolveram estratégias de proteção de
moeda estrangeira após uma variação cam- seus ativos contra a alta volatilidade da taxa
bial não prevista no momento da contratação de câmbio. Apesar de as oportunidades de
(FREIRE JUNIOR, 2002). negócios estrangeiros apresentarem-se como
O risco cambial operacional, também caminhos de ampliação da rentabilidade para
conhecido como risco cambial econômico, as firmas, a oscilação cambial representa um
refere-se aos efeitos sobre o valor presente risco ao fluxo de caixa futuro e, consequente-
de uma firma, decorrentes de impactos so- mente, ao valor das empresas.
fridos sobre o fluxo de caixa por oscilações Sendo assim, os gestores devem decidir
cambiais ao longo do tempo (FREIRE JUNIOR, quais estratégias tomarem para que as transa-
2002). Caso as importações de uma firma em ções comerciais das empresas a que estão vin-
dado período de tempo tornem-se mais caras culados tenham seus rendimentos financeiros

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protegidos das oscilações dos valores de seus mercado de derivativos, haja vista que nesse
ativos. Para tanto, como mecanismo de pro- contexto as informações são simétricas, os
teção aos riscos de perdas financeiras asso- preços se autoajustam no longo prazo e os
ciadas às oscilações de preço de um ou mais agentes são eficientes, de modo que não há
ativo, tem-se o conceito de hedge. o desenvolvimento da prática de arbitragemiv
A operação de hedge funciona como um em tal mercado, ou seja, não seria possível a
seguro contra a variação de preço de um obtenção de ganhos.
ativo. De acordo com Barreto (2011), hedge Porém, como os mercados, na realidade,
é um conjunto de estratégias para minimizar são imperfeitos, a formação de preços é afeta-
riscos, podendo assumir diversas formas, da de forma a gerar picos e fundos significati-
seja pela utilização de instrumentos financei- vos nas movimentações dos preços dos ativos,
ros, seja por operações ligadas à atividade a exemplo do valor da taxa de câmbio. Dessa
operacional de uma empresa. No que tange forma, as teorias de otimização de hedge
à possibilidade de uma empresa utilizar sua demonstram que as imperfeições de mercado
própria estrutura operacional como estratégia criam incentivos para as firmas utilizarem ins-
de hedge, o rearranjo logístico de sua produ- trumentos de derivativos (GECZY, MINTON e
ção, para além das fronteiras nacionais, pode SCHRAND, 1997).
minimizar os custos com a variação cambial A decisão quanto ao uso de hedge pelas
em decorrência de uma unidade de produção empresas está ligada ao grau de risco de seus
instalada em um país de mesma origem para negócios. Sendo assim, além da imperfeição
a qual a transação comercial será destinada. dos mercados, o grau de exposição cam-
Referente à utilização de instrumentos bial e os custos de gerenciamento do risco
financeiros, de acordo com Hull (2009), hed- cambial são fatores que incentivam o uso de
ge tem como principal objetivo usar os mer- derivativos cambiais (GECZY, MINTON e
cados futuros para reduzir um risco particular SCHRAND, 1997). Quanto maior for a va-
que se possa enfrentar, estando relacionado riação do fluxo de caixa decorrente de uma
às flutuações no preço do petróleo, taxa de variação cambial, maiores serão os benefícios
câmbio, ou alguma outra variável. potenciais do uso de derivativos cambiais.
Assim, a operação de hedge visa à imu- Por outro lado, caso os custos de gerencia-
nização de riscos para as organizações ao mento do risco cambial sejam muito elevados,
minimizar sua exposição às oscilações dos ati- as firmas não serão incentivadas a usar os de-
vos que fazem parte de seu negócio principal. rivativos cambiais. Portanto, as firmas devem
Para tanto, a estratégia de proteção consiste avaliar o nível de risco que a oscilação de seu
em tomar uma posição contrária à posição à ativo proporciona para a condução de sua ati-
vista do ativo que se queira imunizar de pos- vidade principal, de modo a estabelecer uma
síveis oscilações. Um hedge perfeito é aquele estratégia de proteção eficiente, identificando
que elimina totalmente o risco. Porém, sendo seu nível de exposição cambial e os custos
rara a operação de um hedge perfeito, os associados à implantação e manutenção do
estudos sobre ele, usando contratos derivati- gerenciamento do risco cambial.
vos, são desenvolvidos de forma a obter uma O perfil dos tomadores de decisão e as
operação de proteção de ativo mais perfeita políticas internas das firmas são fatores im-
possível (HULL, 2009). portantes para a determinação do uso de
Em uma economia de mercado perfeito, hedge cambial. De acordo com Bakaert e
não seria racional operar hedge por meio de Hodrick (2012), a incerteza quanto ao fluxo

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de caixa futuro de uma firma é relevante, po- o valor da firma. Ao proteger as receitas
rém não é condição suficiente para o uso da das firmas, a utilização de hedge reduziria
operação de hedge cambial. Caso possua a probabilidade de pagamentos de custos
um perfil de aversão ao risco, a firma terá de falência. Além disso, reduzindo a varia-
uma maior propensão a utilizar a ferramenta bilidade do fluxo de caixa, a ferramenta de
de hedge cambial, pois a perspectiva de re- hedge contribui para diminuir a probabilida-
dução de variação do fluxo de caixa e, por de de não pagamento das obrigações das
conseguinte, da tendência de manutenção firmas, de modo que se reduz o conflito entre
do lucro aumenta a sua utilidade esperada. acionistas e credores, evitando o aumento da
Contudo, para uma firma que tem como taxa de juros de modo a não prejudicar os
objetivo gerencial a maximização do valor investimentos da firma.
aos acionistas, a estratégia de hedge deverá De acordo com Stulz (1996), ao se mini-
aumentar necessariamente o valor patrimonial mizar problemas financeiros relacionados a
da firma para que valha a pena a utilização exposições de oscilações de preços de ati-
de tal ferramenta de proteção. vos, o uso da estratégia de hedge como ge-
As firmas que utilizam a estratégia de hed- renciamento de risco financeiro potencializa
ge cambial buscam evitar maiores preocupa- o aumento da capacidade de endividamento
ções com as movimentações inesperadas da da firma. Assim sendo, ao se tomar a decisão
variável câmbio, cuja oscilação inesperada de realizar a operação de hedge ou não, as
tem potencial para afetar negativamente suas firmas têm de ter a ciência de que o geren-
atividades principais. Porém, geralmente, tais ciamento de risco pode alterar sua estrutura
firmas não possuem expertise de predição de de capital e sua estrutura de propriedade.
tais movimentações. Através da operação de Segundo Eiteman, Stonehill e Moffett
hedge, as firmas, portanto, podem ter maior (2013), um dos argumentos favoráveis para
foco em suas atividades principais. No entan- a utilização de hedge é que, ao se reduzir
to, cada firma deve atentar não só para os os riscos relativos ao fluxo de caixa futuro, au-
potenciais benefícios como também para os menta-se a capacidade de planejamento das
riscos que as operações de hedge podem firmas, pois, com maior precisão na previsão
gerar. Como forma de apoio para tomada de sobre o fluxo de caixa futuro, a firma pode ter
decisão de usar hedge cambial por meio de maior capacidade para empreender investi-
derivativos, é importante observar os prós e os mentos ou atividades específicas que de outra
contras abordados pela literatura. forma não consideraria realizar.
Segundo Nance, Smith Junior e Smithson Bakaert e Hodrick (2012) abordam alguns
(1993), a proteção através da ferramenta argumentos contra a utilização de hedge.
de hedge possui como benefícios a redução Segundo eles, a diferença entre o preço de
de pagamentos de impostos esperados, a mercado a termo e o preço à vista dos ati-
redução dos custos de transação esperados vos, além dos custos com os funcionários que
relativos a custos de falência (financial distress) operam a estratégia de hedge, tendo em vista
e a redução de custos de agência. suas motivações especulativas em prol de seus
Em um sistema de taxação progressiva, ao resultados pessoais, tornam-se custos adicio-
reduzir a volatilidade do fluxo de caixa da nais da operação de hedge, sendo, portanto,
firma, a operação de hedge reduziria seus uma operação custosa. Além disso, o risco
passivos fiscais, de modo a aumentar a re- patrimonial é muito difícil, se não impossível,
ceita após a tributação, aumentando, assim, de ser hedgeado a longo prazo, porque seria

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efetivamente impossível proteger as alterações contratos são liquidados em uma data futura
do patrimônio de uma firma com relação às e cujos valores derivam de valores de ativos
movimentações do câmbio, pois o valor do negociados no mercado à vista. Segundo Hull
patrimônio líquido é o valor presente de uma (2009), um derivativo é um instrumento finan-
série infinita de fluxos de caixa. ceiro cujo valor depende ou deriva de valores
Ainda de acordo com os autores, a estra- de outras variáveis subjacentes.
tégia de hedge pode criar maus incentivos, Dessa forma, os contratos de derivativos
porque as políticas de hedge podem ser podem ser utilizados para a gestão de risco
usadas para beneficiar certos agentes em dos preços de diversos ativos - a exemplo de
detrimento de outros. ações e moedas - e para especulação. Assim
Segundo Hull (2009), a estratégia de sendo, tais instrumentos financeiros possibilitam
hedge possui alguns riscos básicos, como: i) que os agentes financeiros transfiram, para
diferença entre o ativo cujo preço é objeto de outros agentes, os riscos dos quais desejam se
proteção e o ativo negociado nos contratos proteger de suas respectivas exposições.
futuros; ii) divergência entre a data exata de As operações dos derivativos consistem
quando o ativo será comprado ou vendido em negociações quanto ao preço de um
com relação ao fechamento do contrato; e iii) ativo-objeto, a um determinado preço futuro.
prazos dos contratos padronizados nos mer- Tais operações normalmente ocorrem através
cados derivativos divergentes do fechamento de contratos padronizados que atribuem o
do contrato. exercício de direitos e o cumprimento de obri-
Conforme mencionado anteriormente, a gações por parte dos participantes, e são
estratégia de hedge cambial possui pontos negociados em mercado de balcão ou em
positivos para viabilizar as atividades prin- bolsas de mercadoria e futuros.
cipais de uma firma, a exemplo da melhora De acordo com Eiteman, Stonehill e Moffett
de capacidade de planejamento empresarial (2013), ao operarem instrumentos de deriva-
através da redução da volatilidade do fluxo tivos, os gestores financeiros podem tomar
de caixa futuro. Contudo, faz-se necessário posições baseados em expectativa de lucro,
que os gestores das firmas tenham ciência dos especulação ou podem usar esses instrumentos
riscos envolvidos em tal estratégia de prote- para reduzir os riscos associados com o dia
ção, observando as possibilidades de perdas a dia do gerenciamento do fluxo de caixa
significativas quando os preços dos ativos da firma, ou seja, como estratégia de hedge.
imunizados deslocam-se em sentido oposto ao Segundo a Comissão de Valores Mobiliários
esperado (ROCHA, 2007). (2014), o mercado de derivativos é compos-
Dessa forma, importa analisar o perfil e os to por alguns agentes básicos que atuam de
objetivos do negócio desenvolvido pela firma, acordo com seus propósitos específicos: hed-
bem como analisar e conhecer as possibilida- ger; arbitrador; e especulador.
des que os diferentes instrumentos do mercado O objetivo principal do hedger é basica-
de derivativos oferecem como mecanismos de mente proteger-se contra o risco de oscilação
proteção de oscilação de preço de ativo. de preço de seu ativo-objeto. Dessa forma, o
hedger visa à fixação antecipada do preço do
3.3 Mercado de derivativos como ativo financeiro, como do valor de uma moe-
mecanismo de hedge cambial da com qual realiza transações comerciais, a
Derivativos podem ser definidos como um fim de mitigar potenciais prejuízos causados
conjunto de instrumentos financeiros cujos por oscilações adversas de preço no mercado

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à vista em um tempo futuro. Portanto, o con- de valores (SILVA, 2012). Assim sendo, as
trato de derivativo exerce a função de seguro necessidades, de acordo com os propósitos
contra movimentações indesejáveis e inespera- específicos dos agentes envolvidos, podem ser
das dos preços do ativo-objeto, não havendo satisfeitas de forma customizada no que tange
intenção de lucro com a operação. a cláusulas como prazos, volume, garantia e
O arbitrador possui o objetivo de lucrar, data de vencimento.
com riscos mínimos, operando, simultanea- Como desvantagens, os contratos a termo
mente, no mercado futuro e no mercado à vis- possuem o risco do não cumprimento do
ta no momento em que os preços à vista e fu- mesmo pelas partes e possuem a necessidade
turos divergem. Ao se aproveitar da distorção de haver coincidência de objetivos entre as
entre os preços desses mercados, o arbitrador mesmas, dado que tais contratos são elabo-
contribui para o restebalecimento do equilíbrio rados em conformidade com suas respectivas
dos preços relativos de tais mercados. condições desejadas. Normalmente, ele são
O especulador utiliza o mercado de de- negociados em mercado de balcão, embora
rivativos apenas para lucrar através do dife- haja bolsas de valores que administram a liqui-
rencial entre os preços de compra e venda dação e a custódia de tais contratos (FREIRE
de contratos de derivativos, sem possuir inte- JUNIOR, 2002). Tendo em vista as caracterís-
resse em proteger algum ativo-objeto como ticas supracitadas, os contratos a termo pos-
ocorre com o hedger. O especulador exerce suem baixa liquidez.
função importante no mercado de derivati- Os contratos futuros foram desenvolvidos a
vos, pois é o agente que assume os riscos partir das características básicas dos contratos
dos quais o hedger deseja se proteger. A a termo. Apesar de também consistir em fixar
atuação dos especuladores exerce signifi- determinado valor de uma mercadoria ou ativo
cativa influência na formação de preço do financeiro para seu exercício em uma data futu-
mercado de derivativos, haja vista que suas ra, os contratos futuros são provenientes de um
expectativas sobre os preços futuros contri- mercado mais organizado, negociado somente
buem para a transparência da formação de na bolsa de valores. Sendo assim, tais contratos
preços e para a geração de informações no são elaborados de forma padronizada. Embora
mercado (FREIRE JUNIOR, 2002). não haja a mesma flexibilidade das cláusulas
De acordo com Silva (2012), as princi- contratuais de forma customizada como ocorre
pais modalidades de contratos negociados com os contratos a termo, a padronização dos
no mercado de derivativos, que podem ser contratos futuros agiliza o processo de opera-
utilizados como estratégia de hedge cam- ção, pois possibilita um maior enfoque na nego-
bial, são: contratos a termo; contratos futuros; ciação dos valores, sem maiores preocupações
opções; e swaps. com demais cláusulas. Além disso, enquanto
Os contratos a termo consistem em assun- a liquidação dos contratos a termo apenas
ção de compromisso de comprar ou vender ocorre na data de seu vencimento, os contra-
uma mercadoria ou ativo financeiro em uma tos futuros sofrem ajustes financeiros diários de
data futura por determinado preço previamen- acordo com a expectativa do mercado sobre
te fixado. Possuem como vantagem o conjunto os preços futuros do ativo-objeto (COMISSÃO
de especificações que podem ser atribuídas a DE VALORES MOBILIÁRIOS, 2014).
cada novo contrato realizado entre as partes, Os contratos de opções são aqueles em
não se restringindo às padronizações encon- que é negociado o direito de comprar ou ven-
tradas nos contratos negociados nas bolsas der um bem no futuro a um preço previamente

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fixado. O comprador da opção é quem exer- agentes econômicos demandam de acordo


ce o direito, se o quiser, a qualquer momento, com os ativos que interferem em seus negó-
e paga um prêmio para tanto. Já o vendedor cios. Dessa forma, observa-se que a estraté-
da opção, ao receber o prêmio da mesma, gia de hedge é uma ferramenta viável de ser
obriga-se a liquidar o contrato. Portanto, no operacionalizada em todos os instrumentos
mercado de opções, o comprador exerce um de derivativos. Dadas as especificidades
direito conforme a conveniência do ato e o de cada tipo de contrato, o câmbio, como
vendedor cumpre uma obrigação. expressão dos preços relativos de distintas
Dessa forma, a estratégia do comprador moedas, constitui-se valor de ativo-objeto
nos contratos de opções inicia-se pela per- de diversas firmas que necessitam minimizar
cepção da magnitude financeira do prêmio as exposições cambiais de suas transações
a ser pago, bem como pela sua perspectiva externas, visando à saúde financeira via re-
quanto ao desempenho do valor do ativo- dução de volatilidade de fluxo de caixa.
-objeto ao longo do tempo. Já o vendedor Sendo assim, cada agente (instituições fi-
da opção constrói sua estratégia com a nanceiras, empresas, organizações e gestores)
perspectiva de condições desfavoráveis deve definir suas estratégias de hedge de acor-
para o comprador no que tange ao preço do com seus perfis institucionais, observando
do ativo-objeto, visando ao ganho com o aspectos e limitações estruturais, legais e de
prêmio recebido, lucro máximo que o vende- política interna. Destarte, é possível avaliar
dor pode receber com o contrato. quais os tipos de contratos melhor se adequam
A operação de swaps consiste em con- às características que limitam a atuação do
tratos entre agentes que realizam troca de agente econômico no mercado de derivativos
fluxos financeiros com preços e prazos pre- como mecanismo de proteção cambial.
viamente definidos, ou seja, realizam troca
de rentabilidades entre duas mercadorias 4 OPERAÇÃO DE HEDGE CAMBIAL
ou ativos financeiros. Geralmente, as ope- APLICADA À MARINHA DO BRASIL
rações de swaps aplicam-se à troca de taxa As necessidades de aquisição no exterior,
de juros e moedas por empresas, instituições atendidas por intermédio das obtenções rea-
financeiras e bancos. lizadas pelas Comissões Navais no Exterior,
Os contratos de swaps são negociados em são determinantes para a configuração da
mercado de balcão, de modo que suas cláu- demanda por operações cambiais por parte
sulas possuem flexibilidade de acordo com as da Marinha do Brasil.
demandas das partes envolvidas. Por não so- Dado o papel dessa Força Armada no
frem ajustes diários, os swaps, diferentemente âmbito da promoção do poder naval no
dos contratos futuros, podem ser operaciona- país, o desenvolvimento de programas rele-
lizados sem a necessidade de caixa (FREIRE vantes e estratégicos como o Programa de
JUNIOR, 2002). Em uma operação de swap Desenvolvimento de Submarinos (PROSUB) e
cambial, as partes envolvidas trocam os riscos o Programa Nuclear da Marinha (PNM) pas-
de variação das moedas envolvidas, de forma sou a elevar significativamente as transações
a reduzir a exposição cambial das partes. externas dessa instituição militar, e, consequen-
Como visto acima, o mercado de de- temente, as transações cambiais.
rivativos é composto por um conjunto de Dessa forma, quanto maior a necessida-
instrumentos financeiros que são utilizados de de operações com taxas de câmbio para
para determinados propósitos aos quais os suprir a demanda de equipamentos para

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seus meios navais, aeronavais e de fuzileiros e 2010, nota-se que essa participação das
navais, maior a probabilidade de exposi- operações com câmbio manteve a tendência
ção cambial para a instituição militar, haja de 1/3 do total das despesas pagas anuais,
vista um mercado cambial flexível como o demonstrando comportamentos paralelos de
brasileiro. crescimento dessas duas variáveis.
Faz-se necessário, então, analisar o quanto Sendo assim, conclui-se que a adminis-
essas operações representam face ao volume tração da Programação Financeira da MB
financeiro anual executado pela Programação direciona significativo esforço para operar
Financeira da MB, referente ao total de des- com as taxas de câmbio, dada a sua gran-
pesas pagas em determinado exercício finan- deza relativa nos desembolsos dos recursos
ceiro, incluindo os respectivos Restos a Pagar, financeiros para a execução financeira vincu-
de modo a verificar o nível de volatilidade lada à execução orçamentária ao longo de
de seu fluxo de caixa futuro como decorrên- um exercício financeiro. Portanto, os dados
cia do risco de variação cambial. A Tabela da tabela indicam que expressiva parcela da
1 apresenta os dados atinentes à análise da Programação Financeira da MB encontra-se
relação entre o volume anual de operações exposta ao risco cambial de transação, tendo
cambiais e o volume financeiro anual que a em vista o valor relativo do total de fluxo finan-
MB destinou a pagamentos de suas despesas ceiro destinado às operações cambiais.
correntes e de capital, deduzidas as despesas Dessa maneira, é relevante possuir me-
com pessoal e encargos sociais. canismos mitigadores de volatilidade de
A partir da Tabela 1, observa-se que no pe- caixa futuro e da consequente restrição de
ríodo de 2008 para 2014 a participação das pagamento. Nesse contexto, o instrumento
operações cambiais representou, em média, de hedge cambial torna-se uma ferramenta
33% do fluxo financeiro que a MB tem execu- de potencial proteção aos riscos cambiais a
tado para os pagamentos de suas despesas que a Programação Financeira da MB sofre
anuais, excluindo as despesas com pessoal e exposição. Todavia, faz-se necessário avaliar
encargos sociais. Embora o montante do vo- não apenas os benefícios mas também a
lume financeiro utilizado para pagamento de viabilidade e os riscos da aplicação de tal
despesas tenha quase dobrado entre 2009 ferramenta para a instituição militar.

Tabela 1 - Fluxo de Operações Cambiais x Volume Financeiro


Exercício Financeiro Operações com câmbio (milhões de R$) Volume Financeiro (milhões de R$) 1 Câmbio / Vol. Fin.
2014 1.498,40 4.518,05 33%
2013 1.734,53 3.636,31 48%
2012 1.324,30 3.977,10 33%
2011 977,92 3.400,57 29%
2010 1.417,29 3.965,27 36%
2009 687,48 2.088,20 33%
2008 291,55 1.351,08 22%
Fonte: adaptado da Diretoria de Finanças da Marinha (2015) e Siga Brasil (2015).
Nota: 1 Despesas orçamentárias pagas = Despesas Correntes + Despesas de Capital - Despesas de Pessoal e Encargos Sociais.

ACANTO EM REVISTA 121


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artigo selecionado

No que tange ao âmbito legal, a Portaria cambiais, por meio de um mecanismo de pro-
nº 345/1998, do Ministério da Fazenda, teção cambial, é um fator de variação positiva
expressa que os fundos de interesse à defesa na capacidade de planejamento referente
nacional estão autorizados a aplicarem no aos recursos que compõem a Programação
mercado financeiro. Portanto, observa-se a Financeira da MB, face às respectivas possíveis
viabilidade legal da utilização da ferramenta variações negativas provocadas por reduções
de hedge por meio do mercado de derivati- orçamentárias inesperadas.
vos pela MB. Apesar dos importantes potenciais benefí-
Nesse âmbito, o Fundo Naval – recurso cios, a ferramenta de hedge cambial possui,
integrante do Orçamento da MB destinado como risco, a geração de perdas financeiras
principalmente à renovação de material flu- como resultado de divergência entre o valor
tuante –demonstra-se uma possível ferramenta da taxa de câmbio efetiva e a respectiva taxa
de viabilidade operacional para a operação cambial esperada. Portanto, a decisão de
de hedge cambial via mercado de derivativos. utilização de tal ferramenta de proteção deve
Isso porque, de acordo com as Normas sobre estimar racionalmente a significância e a pro-
Administração Financeira e Contabilidade – babilidade da ocorrência do risco financeiro
SGM-301, a conta de aplicação financeira na operação de hedge cambial por meio de
da MB está restrita, em princípio, aos Fundos contratos de derivativos.
(inclusive FN-Exterior), Caixa de Construções Além disso, dada a composição orçamen-
de Caixa para o Pessoal da Marinha e tária de cada exercício financeiro, a MB tem
Empresa Gerencial de Projetos Navais. Dessa como desafio possuir recurso financeiro para as
forma, os créditos orçamentários destinados operações com hedge cambial que antecedem
ao Fundo Naval configuram-se como recursos as operações cambiais nas datas correspon-
possíveis para a contratação de instrumentos dentes às obtenções no exterior às quais se
do mercado de derivativos para a finalidade destinam. Assim, a utilização da ferramenta de
de proteção cambial. hedge cambial necessita de uma formulação
Como benefícios potenciais para a MB, a de política estratégica de proteção, a fim de
estratégia de hedge cambial pode reduzir o antecipar as demandas orçamentárias para a
risco de fluxo de caixa futuro, que se expressa operação de proteção contra o risco cambial
pelo descasamento entre o crédito orçamen- em sucessivos exercícios financeiros.
tário e os recursos financeiros destinados aos Portanto, a tomada de decisão quanto ao
pagamentos das despesas orçamentárias, e, uso da estratégia de hedge cambial deve ser
consequentemente, pode contribuir para me- realizada de acordo com a análise sobre a
lhorar a capacidade de planejamento de tal combinação entre os potenciais benefícios e
instituição militar. os riscos a que a instituição está sujeita. Faz-
Cabe ressaltar que a redução de incerte- se necessário um contínuo desenvolvimento de
zas futuras sobre o comportamento de ativos gerenciamento de risco, a fim de se criar um
relevantes nas realizações de transações de ambiente com políticas cada vez mais conso-
obtenção no exterior em possíveis cenários lidadas quanto à necessidade de proteção
de restrição orçamentária é de fundamental cambial, com vistas a responder ao risco de
importância para os projetos de defesa nacio- volatilidade do fluxo de caixa futuro.
nal, tanto no curto quanto no longo prazo, no Porém, possuir uma política consolidada e
âmbito da MB. Sendo assim, a minimização em contínuo aprimoramento é uma condição
dos efeitos adversos provocados por oscilações necessária, mas não suficiente para obter

122 ACANTO EM REVISTA


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artigo selecionado
resultados positivos com a operação de hed- final do contrato firmado. Apesar do risco de
ge. É relevante conhecer o funcionamento inadimplência de uma das partes, tais contra-
dos instrumentos disponíveis no mercado de tos podem exigir garantias contra o não cum-
derivativos, bem como estudar os fatores que primento de cláusulas contratuais (COMISSÃO
afetam o mercado cambial, de modo a se DE VALORES MOBILIÁRIOS, 2014).
estabelecer os possíveis cenários que venham Sendo assim, na modalidade de contrato a
a ser base de informações para a otimização termo, o risco da MB encontra-se diretamente
da aplicação da estratégia de proteção con- ligado à variação da taxa cambial futura no
tra o risco cambial. final do contrato diante da taxa cambial es-
Conforme visto na seção anterior, cada perada. No que tange aos contratos de swap
modalidade de contrato de derivativos possui cambial, o risco encontra-se na diferença entre
suas peculiaridades quanto aos seus pontos
as variações dos índices dos quais se preten-
positivos e negativos. No que tange à ade-
de realizar a troca de rentabilidades.
quação à realidade da MB, a necessidade
de possuir fluxo de caixa para cobrir os ajus- 4.1 Exemplificação de Operação
tes diários faz com que os contratos futuros de Hedge
sejam uma alternativa com maior risco e maior A fim de identificar os possíveis impactos
esforço, tendo em vista a possibilidade de da utilização de um mecanismo de imuniza-
divergência entre os recursos financeiros e o ção face aos riscos de variação cambial, será
crédito orçamentário do exercício financeiro. simulada abaixo a aquisição de contrato a
Os contratos de opções, embora não termo (Non Deliverable Forward – NDF) por
possuam ajustes diários, exigem o paga- parte da MB, diretamente com um banco
mento de um prêmio, chamado de preço do comercial. O objetivo é proteger os recursos
exercício da opção. Assim, ao adquirir uma
financeiros destinados à obtenção de um
opção de compra, o investidor possui como
equipamento no exterior contra um eventual
risco máximo o valor integral do prêmio da
aumento do dólar americano. Considere os
opção no caso de não exercer a opção de-
seguintes dados arbitrários:
vido à falta de vantagem do preço do ativo.
• Custo de aquisição do equipamento: USD
Portanto, o preço do exercício da opção,
100.000,00;
pago no momento da compra da opção, re-
• Contratos NDF: USD 25.000,00 /
presentaria uma destinação de recurso finan-
contrato;
ceiro com potencialidade de perda em caso
• Dólar de Planejamento da MB: R$ 3,00 /
de cotação na data do exercício da opção
divergente da taxa de câmbio esperada. Em USD;
contrapartida, em um cenário de movimento • Ptax do dólar americano em
significativamente favorável do dólar, a MB 02/02/2015: R$ 2,6888/ USD;
se beneficiaria na proporção da variação da • Cenário de desvalorização – Ptax do
moeda estrangeira ao exercer o direito de dólar americano em 02/04/2015: R$
compra da opção. 3,1486/ USD;
Já os contratos a termo e os contratos de • Cenário de valorização – Ptax do dó-
swap cambial não exigem fluxo de caixa para lar americano em 02/04/2015: R$
cobrir ajustes diários ou algum tipo de prêmio 2,8514/ USD;
para seu exercício, de modo que as movimen- • Data de início do contrato NDF:
tações financeiras, geralmente, ocorrem no 02/02/2015;

ACANTO EM REVISTA 123


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artigo selecionado

• Data de encerramento do contrato NDF: de R$ 300.000,00. Com isso, foi gerado


02/04/2015; e um ganho com a operação no valor de R$
• Gastos com taxas, tarifas e outros custos 14.860,00, de modo a cobrir o valor total de
contratuais e de transação: Nulo. R$ 314.860,00 do equipamento que sofreu
com a desvalorização cambial.
Cabe ressaltar que o Dólar de Plane­ Observa-se que, ao se reduzir a quan-
jamento é uma ferramenta da MB para a tidade de aquisições de contratos NDF, a
previsão de despesas em moeda americana, proteção cambial também é reduzida, dada
sendo estabelecida por meio de metodologia a desvalorização cambial do período. Com
própria e divulgada internamente, através apenas 1 contrato de NDF, ou seja, ¼ do
de circular, no início de cada exercício valor total em dólares do equipamento a ser
financeiro, de modo a subsidiar a previsão adquirido no final do contrato, o gasto final
de créditos orçamentários para atender as aumenta em R$ 11.145,00 em comparação
necessidades com obtenção no exterior no com o resultado da aquisição de 4 contratos
respectivo exercício. Dessa forma, o valor da de NDF. Sendo assim, o gasto final totaliza R$
taxa a termo do contrato NDF acompanhará 311.145,00, gerando um ganho menor de
a estimativa do Dólar de Planejamento para R$ 3.715,00 com a operação.
o presente exemplo em R$ 3,00/USD. Cabe destacar que, apesar dos ganhos
De modo a demonstrar os possíveis impac- obtidos no exemplo, a operação de hedge
tos em um cenário de desvalorização cambial cambial possui como objetivo central a prote-
para o contrato em questão, a Tabela 2 apre- ção contra a variação do ativo a ser imuniza-
senta os resultados dos contratos de acordo do, não possuindo caráter especulativo.
com os níveis de imunização, ou seja, confor- Vale ressaltar ainda que, em um cenário
me a quantidade de contratos firmados. de valorização cambial, conforme demons-
Considerando os dados arbitrários informa- trado na Tabela 3, a operação de hedge
dos, a operação de hedge com imunização do exemplo resultaria em perdas financeiras,
completa do valor em dólares do equipamen- pois a fixação do câmbio estaria acima do
to que se deseja comprar no futuro, ou seja, valor do câmbio à vista da data do final do
4 contratos de NDF, promoveu uma proteção contrato, anulando, assim, o ganho com a
contra a desvalorização cambial para o perío- valorização cambial na aquisição do equipa-
do do contrato, resultando em um gasto final mento sem a operação. Nesse caso, quanto

Tabela 2 - Aquisição de Contratos a Termo em Cenário de Desvalorização Cambial


Câmbio no Contrato com
Qtde Contrato Taxa a termo Resultado com a
NDF de Compra (R$) vencimento o Câmbio no Gasto final1 (R$)
de (USD) (R$/USD) operação (R$)
(c = a x b) (R$/USD) vencimento (R$) (g)
NDF (a) (b) (f = e - c)
(d) (e = a x d)
4 100.000,00 3,00 300.000,00 3,1486 314.860,00 14.860,00 300.000,00
3 75.000,00 3,00 225.000,00 3,1486 236.145,00 11.145,00 303.715,00
2 50.000,00 3,00 150.000,00 3,1486 157.430,00 7.430,00 307.430,00
1 25.000,00 3,00 75.000,00 3,1486 78.715,00 3.715,00 311.145,00
Fonte: elaborado pelo autor
Nota: 1 (g) = [USD 100.000,00 - (a)] x (d) + (c)

124 ACANTO EM REVISTA


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artigo selecionado
Tabela 3 - Aquisição de Contratos a Termo em Cenário de Valorização Cambial
Câmbio no Contrato com
Contrato Taxa a termo NDF de Resultado com a
Qtde de vencimento o Câmbio no Gasto final1 (R$)
(USD) (R$/USD) Compra (R$) operação (R$)
NDF (R$/USD) vencimento (R$) (g)
(a) (b) (c = a x b) (f = e - c)
(d) (e = a x d)
4 100.000,00 3,00 300.000,00 2,8514 285.140,00 -14.860,00 300.000,00
3 75.000,00 3,00 225.000,00 2,8514 213.855,00 -11.145,00 296.285,00
2 50.000,00 3,00 150.000,00 2,8514 142.570,00 -7.430,00 292.570,00
1 25.000,00 3,00 75.000,00 2,8514 71.285,00 -3.715,00 288.855,00
Fonte: elaborado pelo autor
Nota: 1 (g) = [USD 100.000,00 - (a)] x (d) + (c)

maior a operação de imunização, maior a No contexto da MB, a utilização da estra-


variação negativa entre o valor do contrato tégia de hedge deve considerar as diferentes
com o câmbio no vencimento e o valor do possibilidades de níveis de imunização cambial
contrato com o câmbio hedgeado, isto é, em com seus respectivos possíveis resultados e ris-
comparação com o valor total da aquisição cos. Para tanto, a instituição militar deve projetar
do equipamento com o câmbio valorizado as distintas possibilidades de aquisição de con-
(R$ 285.140,00), enquanto a aquisição de tratos derivativos em consonância com sua pro-
1 contrato de NDF eleva o gasto final em R$ pensão ao risco e limitações de fluxo de caixa.
3.715,00, a aquisição de 4 contratos de Portanto, a operação de hedge cambial via
NDF eleva o gasto final em R$ 14.860,00. mercado de derivativos demonstra-se uma ferra-
Sendo assim, a decisão de utilização da ope- menta relevante de proteção contra as perdas
ração de hedge deve considerar a estimativa financeiras no fluxo de caixa futuro provenientes
sobre o risco que se corre com a estratégia de das oscilações cambiais. Assim sendo, a partir
imunização cambial. da análise comparativa dos diferentes cenários,
Ao observar os resultados das Tabelas 2 e a MB poderá elaborar sua estratégia de hedge
3 de acordo com cada nível de imunização, cambial, considerando seu perfil e limitações
ou seja, conforme a quantidade de aquisição como órgão público, bem como levando em
de NDF, nota-se que a propensão ao se sujei- conta seus objetivos no que tange à imuniza-
tar o risco da operação e a disponibilidade ção de seus recursos em moeda estrangeira
de fluxo de caixa interferem na decisão e, por destinados a obtenções no exterior.
conseguinte, na capacidade de imunização.
Isso porque a propensão ao risco interferirá no 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
grau de disposição para utilizar a estratégia Toda organização que realiza transações
de hedge cambial via aquisição de contratos comerciais com divisas estrangeiras está sujeita
a termo, de modo a configurar a quantidade a riscos externos às suas atividades internas. A
de contratos NDF a serem adquiridos. Além volatilidade da taxa de câmbio representa a ne-
disso, o nível de disponibilidade de recursos cessidade de uma gestão de risco racional face
financeiros representa uma restrição financeira ao perfil da organização, de modo que o negó-
para a capacidade de aquisição de contratos cio principal da firma não sofra efeitos adversos
de derivativos e, por conseguinte, para a pos- em decorrência de perdas financeiras com as
sibilidade de operar o hedge cambial. oscilações cambiais. Nesse contexto, ao realizar

ACANTO EM REVISTA 125


E M R E V I S TA
artigo selecionado

obtenções no exterior com moedas estrangeiras, atuais: a adequação e a viabilidade de lança-


através de recursos oriundos do orçamento públi- mentos contábeis no SIAFI (Sistema Integrado
co, a MB não pode se furtar em aprimorar conti- de Administração Financeira do Governo) para
nuamente sua gestão de risco cambial. as movimentações oriundas de contratos do
Dessa forma, o presente trabalho realizou mercado de derivativos; como obter uma es-
um levantamento teórico para demonstrar o tratégia de hedge cambial com a limitação de
conceito de hedge cambial no contexto dos disponibilidade de fluxo de caixa no contexto
principais instrumentos do mercado de deri- do orçamento federal, de modo a se tornarem
vativos, abordando os benefícios e os riscos mais adequados todos os principais instrumentos
do mecanismo de proteção em cada tipo de de derivativos apresentados neste trabalho com
contrato. A partir do embasamento teórico, suas respectivas exigências, por exemplo, cober-
aplicou-se o conceito estudado ao contexto da tura financeira para ajustes diários e pagamento
MB, de modo a evidenciar a importância de de prêmios; e como apropriar o custo de hedge
um mecanismo de proteção cambial tendo em na contabilidade de Administração Pública.
vista a significativa parcela do fluxo financeiro Ao percorrer o objetivo deste trabalho,
sujeita ao risco cambial de transação ao reali- conclui-se que a estratégia de hedge cambial
zar aquisições com moedas estrangeiras. via mercado de derivativos pode ser um ins-
A partir das características de cada tipo trumento efetivo contra as perdas financeiras
de contrato de derivativo citado, foi analisa- decorrentes de oscilações cambiais adversas.
do como o mercado de derivativos pode ser Sendo assim, tal estratégia de proteção, no
apropriado ao contexto da MB, uma institui- contexto dos diferentes contratos de derivati-
ção que compõe a Administração Pública, vos, é, de fato, um potencial imunizador do
cujos recursos financeiros estão vinculados aos risco cambial de transação ao qual a MB está
créditos orçamentários aprovados na Lei de sujeita, de modo a reduzir a volatilidade do
Orçamento Anual, além de possuir restrições fluxo de caixa futuro dessa instituição militar.
quanto ao suporte de riscos financeiros em Tendo em vista a significativa parcela dos
comparação aos agentes privados. recursos financeiros destinados a operações
Além dos benefícios apresentados no que cambiais, torna-se importante possuir meca-
tange à mitigação do risco cambial e da me- nismos de gerenciamento de risco cambial
lhor capacidade de planejamento a favor da como complemento ao planejamento exis-
execução da Programação Financeira da MB, tente na MB para as despesas com moeda
o presente trabalho destaca o risco de perda estrangeira de cada exercício financeiro.
financeira na operação de hedge cambial via Portanto, utilizando racionalmente as opera-
mercado de derivativos, ou seja, a estratégia ções de hedge cambial, a MB poderá possuir
de proteção cambial ora estudada não garan- um instrumento complementar de gerencia-
te ganho ou neutralidade efetiva em todas as mento de risco cambial, realizando, assim,
operações com os contratos derivativos, de- as obtenções no exterior de forma eficiente
vendo-se utilizar os recursos financeiros para ao proteger a fração de sua Programação
tais operações estimando os riscos potenciais. Financeira destinada a transações com divi-
Sendo assim, visando ao desenvolvimento sas externas.
da pesquisa de estratégias de proteção con-
tra risco cambial no contexto da Marinha do ______________
Brasil, sugere-se que sejam realizadas futuras
i Fonte: Central de Custódia e de Liquidação
pesquisas que abordem os seguintes desafios
Financeira de Títulos (Cetip).

126 ACANTO EM REVISTA


E M R E V I S TA

artigo selecionado
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sultando, assim, em um cenário de movimento da Marinha. SGM-301 - Normas sobre ad-
de fuga de capitais da economia brasileira. ministração financeira e contabilidade. 7.ed.
iv Arbitragem consiste na prática de comprar rev. Brasília, 2014, 419 p.
um determinado bem por um preço mais baixo ______, Ministério da Fazenda. Portaria n
em um mercado e vendê-lo por um preço mais 345, de 29 de dezembro de 1998. Diário
alto em outro mercado. Oficial [da] República Federativa do Brasil,
Poder Executivo, Brasília, DF, 30 de dezem-
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128 ACANTO EM REVISTA


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artigo convidado

Autor: Carlos Guilherme de


Farias Martins.

PREGÃO ELETRÔNICO COM O USO


DO CRITÉRIO DE JULGAMENTO
COM BASE NO MAIOR DESCONTO
OFERTADO SOBRE TABELA OFICIAL
DE PREÇOS NAS AQUISIÇÕES
DE GÊNEROS PERECÍVEIS
E PEÇAS DE VIATURA
Resumo: As unidades militares que realizam processos de aquisições têm acompanhado a evolução da legislação relativa às licitações e, sempre
que há uma mudança, surgem dúvidas. Uma delas é o uso do pregão com critério de julgamento com base no maior desconto sobre uma tabela
de preços fixados por órgão oficial. A Lei de Licitações e Contratos não deixa explícita essa forma de selecionar a proposta considerada mais
vantajosa. O objeto deste artigo foi explicar sobre o amparo legal para a utilização deste critério, mostrando as vantagens no seu emprego para
aquisições de gêneros perecíveis e peças de viaturas.
Palavras-chave: Pregão eletrônico. Maior desconto. Gêneros perecíveis. Peças de viatura.

1. Capitão do Serviço de Intendência do Exército, da turma de 2008, da Academia Militar das Agulhas Negras, é graduado em
Ciências Militares pela AMAN (2008), Aluno do MBA em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria, pela Fundação Getúlio.
Realizou curso em Logística e Supply Chain Managemente, curso de Contratos Administrativos e seu Gerenciamento, ambos da FGV-RJ,
no ano 2015. Atualmente é Instrutor do Curso de Intendência da Academia Militar das Agulhas Negras. Tem experiência na área de
Administração Pública, com ênfase em Licitações e Contratos e Orçamentação Financeira.

130 ACANTO EM REVISTA


artigo convidado
1 INTRODUÇÃO 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A atividade da administração pública bra- 2.1 Tipos de licitação e o critério de
sileira deve seguir o princípio da legalidade, julgamento
segundo o qual, à administração, só é lícito
Algo confunde os dois institutos citados no
fazer o que a lei permite. Essa diretriz oferece
subtítulo acima, que são exigidos pela Lei nº
alguns obstáculos no cotidiano do gestor públi-
8666/1993. Segundo Moreira e Guimarães
co, exigindo esforços para se tornar eficiente.
(2012), os tipos licitatórios aparentam crité-
A evolução do ordenamento jurídico nas
rios de julgamento a reger a licitação. Esses
aquisições públicas é um processo dinâmico,
autores afirmam que o critério faz parte do
conforme se observa com: a aprovação da Lei
tipo de licitação.
nº 8.666/1993, que institui normas para lici-
Visando atingir os objetivos deste estudo,
tações e contratos da Administração Pública;
faz-se necessário saber que os tipos de licita-
a criação do portal de Compras do Governo
ção encontram-se na Lei nº 8666/93 em rol
Federal em 1998; o surgimento do Pregão
taxativo. Segundo Justen (2009), cabe ao ges-
como uma nova modalidade de licitação; e
tor público utilizar somente os tipos previstos
a alteração do Decreto nº 7892/2013 pelo
Decreto nº 8250/2014, que regula o Sistema na Lei, que assim dispõe: 
de Registro de Preços. Art. 45. [...]
As unidades militares que realizam o pro- § 1º Para os efeitos deste artigo, constituem
cesso de aquisições têm acompanhado essa tipos de licitação, exceto na modalidade
constante evolução e, sempre que há uma mu- concurso:  (Redação dada pela Lei nº
dança, aparecem novas dúvidas. Uma dessas 8.883, de 1994)
dúvidas é a da licitação que será adjudicada I – a de menor preço - quando o critério de
para o licitante que oferecer o maior descon- seleção da proposta mais vantajosa para a
to. A Lei nº 8.666/93 não deixa explícita a Administração determinar que será vencedor
forma de selecionar a proposta considerada o licitante que apresentar a proposta de
mais vantajosa. acordo com as especificações do edital ou
O presente estudo tem como objetivo di- convite e ofertar o menor preço;
rimir possíveis dúvidas quanto à legalidade II – a de melhor técnica;
em relação ao uso de tal critério de seleção III – a de técnica e preço.
da proposta, com base em maior desconto, IV – a de maior lance ou oferta - nos casos
apontando o amparo na legislação, e quanto de alienação de bens ou concessão de di-
ao uso desse critério de julgamento para evitar reito real de uso (Incluído pela Lei nº 8.883,
problemas no fornecimento de gêneros perecí- de 1994).
veis e peças para viaturas.
No tocante à relevância do presente estu- Quanto ao tipo mais utilizado, tem-se
do, o pregão eletrônico gerou uma economia o de menor preço, quando o critério de
de R$ 48 bilhões nos últimos 5 (cinco) anos seleção da proposta mais vantajosa para a
(Ministério do Planejamento, 2015 <http:// Administração determinar que será vencedor
www2.planalto.gov.br/noticias/2015/05/ o licitante que apresentar a proposta de acor-
governo-federal-economiza-48-bilhoes-com- do com as especificações do edital e ofertar
-pregao-eletronico>), portanto nota-se a im- o menor preço.
portância de se utilizar tal ferramenta em sua Na modalidade pregão, é obrigatório o
totalidade, visando aumentar sua eficiência. uso do tipo menor preço (art. 4º, X, da Lei nº

ACANTO EM REVISTA 131


artigo convidado

10.520/2002). Assim, dá-se pela própria Pode-se dizer que o tipo de licitação é um
natureza da modalidade pregão, necessário indício de como serão definidos os critérios
para a aquisição de bens ou serviços comuns, de julgamento. Por exemplo: Como não se
visto que, se fossem adotados os critérios técni- confundem? Como um tipo de licitação menor
cos no julgamento das propostas, estes seriam preço pode admitir critérios de julgamento di-
incompatíveis com a própria modalidade. ferentes? Observe o exemplo abaixo:
Por mais que os conceitos aparentam serem Em uma licitação de grande porte da
os mesmos, as definições não devem ser vistas administração pode e é recomendável pelos
como iguais. Primeiro porque a própria Lei de órgãos de controle que, em vez de adquirir
Licitações e Contratos os difere (art. 40, caput, tudo de uma só licitante, os produtos sejam
e inciso VII), segundo, os tipos de licitação agrupados em itens ou lotes homogêneos,
podem ter diferentes critérios de julgamento e permitindo maior competitividade por meio da
terceiro porque é possível fazer uma análise participação de licitantes de menor porte. A
mais detalhada dos critérios de julgamento, Súmula nº 247 do TCU dispõe que:
como a aceitabilidade de preço global e uni- A admissão da adjudicação por item e não
tário, o que não deixa de ser um critério para por preço global, nos editais das licitações
a seleção da proposta mais vantajosa. para a contratação de obras, serviços, com-
Além dessas características que distinguem pras e alienações, cujo objeto seja divisível,
os institutos, notadamente o tipo de licitação é desde que não haja prejuízo para o conjun-
instituto mais complexo do que o simples cri- to ou complexo ou perda de economia de
tério de julgamento. Conforme Justen (2009), escala, tendo em vista o objetivo de propi-
a própria escolha do tipo de licitação produz ciar a ampla participação de licitantes que,
reflexos não apenas sobre o julgamento das embora não dispondo de capacidade para
propostas, pois o próprio procedimento licita- a execução, fornecimento ou aquisição da
tório, em toda sua fase externa, variará con- totalidade do objeto, possam fazê-lo com
soante o tipo de licitação. Assim, uma licita- relação a itens ou unidades autônomas.
ção de técnica e preço será diferente de uma
de menor preço já no ato convocatório, pois Nesse exemplo, o tipo de licitação escolhi-
dele deverão constar as exigências técnicas. do pela administração poderá ser o de menor
Ainda segundo o mesmo autor, ao ignorar a preço (art. 5º, §1º, I, Lei nº 8666/93), mas,
necessidade de adequação do procedimento quando for definir o critério de julgamento, a
ao tipo de licitação, a administração provoca- administração deve indicar como funcionará a
rá confusões, disputas e controvérsias, dando avaliação de menor preço (e a adjudicação)
margens para o surgimento do subjetivismo. pelo item, pelo lote, pelo grupo, etc. Logo, o
Ao falar sobre o critério de julgamento, critério de julgamento já será mais específico
conforme exigido no inciso VII, do art. 40, da do que a mera indicação do tipo de licitação,
Lei nº 8666/93, Justen (2009) destaca ser pois não será suficiente dizer que a licitação
imprescindível que o critério seja objetivo, não será do tipo menor preço, sendo imprescindí-
sendo suficiente a mera indicação do critério vel especificar se o menor preço será por item,
como “menor preço” ou, o que é muito pior, lote ou grupo.
“melhor técnica”. Dessa forma, é obrigatório É percebível que os conceitos de critério de
discriminar como serão avaliadas as ofertas julgamento e tipos de licitação são próximos,
e qual a vantagem concreta que norteará a porém não se confundem, estão conecta-
decisão da administração. dos. Ora, se na Lei nº 8666/93 em seu rol

132 ACANTO EM REVISTA


artigo convidado
taxativo, não há o tipo de licitação por maior modalidade não prevista. O que está previsto
desconto, não se pode dizer, então, que se em regramento para os tipos de licitação é
trata de um tipo de licitação, mas sim de ape- semelhante àquele aplicável às modalidades
nas uma forma que será procedida à análise de licitação.
das propostas, um critério de julgamento. Seria lícito, então, utilizar o julgamento com
Assim, se, no ato convocatório, o instituto base em percentual de maior desconto, já que
do maior desconto for considerado um tipo de este não figura como um tipo de licitação?
licitação, haverá sérios questionamentos de Estaria amparada está forma? Pode-se dizer
legalidade, pois não está previsto como “tipo” que sim, pois não se trata de um tipo de lici-
de licitação, podendo sua utilização pela tação, mas sim de um critério de julgamento.
administração ser considerada ilegal. Mas, O que se quer dizer com relação ao julga-
se considerar apenas como um critério de mento com base em maior desconto na verda-
julgamento, a legislação não é tão amarrada de nada mais é que um critério de julgamento
e será considerado dentro da discricionarieda- para uma licitação do tipo menor preço. Tipo
de a estipulação dos critérios de julgamento. esse, previsto na Lei nº 8.666/93. No en-
Acerca desse tema, merecem registro duas tanto, como será apurado esse menor preço?
novidades trazidas pela Lei nº 12.462/2011 O critério de julgamento será com base no
(Lei do Regime Diferenciado de Contratações maior desconto proporcionado. Quando da
Públicas – LRDC): primeiro, ela não utilizou adjudicação do objeto, este será o elemento
o termo “tipo de licitação”, como a Lei nº contratual: o desconto, não necessariamente o
8.666/93 faz no art. 45, §1º, mas define preço. O valor contratado servirá como uma
“critério de julgamento” no art. 18; segundo, estimativa de gastos.
valida como critério de julgamento a utilização É possível perceber que toda licitação do
do “maior desconto”, o que afasta qualquer tipo menor preço acaba sendo um “desconto”
questionamento nos casos em que a utilização com relação ao preço de referência, mas o
do RDC seja possível. que é selecionado e constará no contrato/
Logo, a dúvida sobre a legalidade do jul- empenho é o preço, o valor ofertado, fican-
gamento com base no maior desconto, não do o desconto implícito. Por isso, dizer que o
existe quando se fala do Regime Diferenciado tipo de licitação será de menor preço, mesmo
de Contratações, em que a técnica é ex- sendo usado o critério de maior desconto ofer-
pressamente admitida como critério de julga- tado, está correto, pois de fato será escolhida
mento válido. Resta saber se isso pode ser a proposta que, no fim das contas, obtiver o
utilizado no sistema da Lei nº 8.666/93, que menor preço.
rege a maioria das licitações públicas nas Porém, caso haja interesse em se obter um
Organizações Militares do Exército, e, além maior desconto sobre tabela de preços prati-
disso, qual seria seu amparo legal. cados no mercado, por exemplo, nas licita-
Não há margem para fazer interpretação ções de passagem aérea, gêneros perecíveis,
aditiva à Lei nº 8.666/93 e entender que peças de viatura, etc., deverá licitar com base
ela tenha previsto um tipo de licitação deno- no desconto oferecido sobre essa tabela, não
minado maior desconto. Como foi colocado, podendo o critério ser um desconto linear, ou
os tipos de licitação estão previstos em rol ta- seja, um valor fixo de desconto para todos os
xativo, tal como estão listadas, no mesmo rol, itens tabelados, o correto será o desconto item
as modalidades de licitação, não cabendo a item, promovendo maior competitividade.
ao gestor inovar nessa matéria e realizar uma Dessa forma, o tipo de licitação ainda será o

ACANTO EM REVISTA 133


artigo convidado

de menor preço com critério de maior descon- 13.  Apesar de, no âmbito federal, não
to sobre o(s) valor(es) tabelado(s), garantindo haver previsão legal para tanto, nem na
que a administração estará pagando um pre- Lei de Licitações (Lei nº 8.666/1993) nem
ço abaixo do praticado no mercado. em outro normativo que trate do tema, essa
técnica de licitação tem sido adotada por
2.2 Reconhecimento do maior desconto
alguns estados e municípios, havendo, in-
pelo TCU
clusive, previsão legal em alguns deles (leis
As análises do Tribunal de Contas da União estaduais ou municipais), a exemplo do
têm como amparo o art. 70 da Constituição Estado da Bahia [...].
Federal, no qual fica implícito que a Corte rea- 14.  A despeito da discussão quanto à va-
liza não apenas um exame de legalidade mas lidade ou não desses normativos, uma vez
também de legitimidade e economicidade. que compete privativamente à União legislar
Assim, quando é feito o julgamento de alguma sobre licitações,  algumas vantagens e des-
ação em que se considera uma ou outra téc- vantagens podem ser apontadas.
nica nas licitações, tais ações são avaliadas
sob o aspecto jurídico e com relação aos Do trecho acima, verifica-se que não foi
efeitos do método utilizado em termos de legi- questionada a legalidade ou não da medida,
timidade e economicidade. apenas houve o enfrentamento de aspectos
Ao acompanhar as decisões do Tribunal, práticos e técnicos da licitação com base em
constata-se que são feitas análises da questão maior desconto. O TCU muitas vezes foca
com base no resultado proporcionado pela sua análise mais nos resultados da medida
utilização de certo expediente. Isso pode ser do que propriamente na sua legalidade.
verificado no Acórdão nº 3.337/2012 – Continuando a análise, a área técnica do
Plenário, em que o Tribunal teve a oportunida- TCU passou a revisitar as decisões do Tribunal
de de enfrentar o tema, sendo feita inclusive sobre o tema, deixando consignada que a ju-
uma análise pormenorizada da área técnica risprudência quanto ao tema não se encontra
especializada da Corte. consolidada. Entre as decisões citadas, desta-
Para efeitos de contextualização, o Acórdão ca-se o Acórdão nº 1.927/2006-1ª Câmara,
3.337/2012 tratava de um caso envolvendo que chegou a recomendar estudos com vistas
recursos federais operacionalizados por meio à utilização do critério de seleção com base
de contrato de repasse e utilizados numa obra. em maior desconto para serviços de organi-
Nesse caso, a licitação utilizara critério de zação de eventos. Logo depois, por meio do
julgamento baseado no desconto linear sobre Acórdão nº 1.700/2007 – Plenário, em que
os custos da planilha. Houve questionamento, se haveria consignado que:
por meio de denúncia, acerca dessa forma Não se admite, em processo licitatório, o
de selecionar a proposta mais vantajosa, e o uso de critério de julgamento de propostas
Ministro-Relator José Múcio Monteiro acionou de preços fundado no maior desconto
a área técnica especializada para que ela linear (uniforme)  oferecido  sobre todos os
se manifestasse sobre esse critério. Ainda na itens do orçamento, por chocar-se com
análise técnica, foram constatados interessantes o sistema de mercado infundido na Lei
pontos, observe a seguir: nº  8.666/1993, bem como  por confi-
Primeiro, a área técnica reconheceu não gurar tipo de licitação extralegal, que
existir, em âmbito federal, previsão legal de nem sempre se traduz no menor preço
seleção com base no maior desconto: obtenível.

134 ACANTO EM REVISTA


artigo convidado
Os Acórdãos nº 2.304/2009 – Plenário que preceitua o § 1º do art. 4º do Decreto
e nº 326/2010 – Plenário teriam mantido 5.450/2005,  observando que o sistema
a vedação, sob o argumento de ausência de compras eletrônicas do Governo Federal,
de previsão legal para tanto, alegação em sua forma atual, já permite a utilização
que frequentemente faz com que gestores da  modalidade eletrônica para licitações
abstenham-se de realizar esse expediente do tipo “maior desconto”; b) inclua, em seus
administrativo. contratos administrativos, cláusula com a dis-
A análise estritamente técnica e legal con- criminação dos valores a serem pagos  às
clui que o critério de julgamento com base contratadas, especificando custos estimados
no maior desconto ofertado não teria amparo total e mensal e, ainda, quando for o caso,
na Lei 8.666/93. No caso concreto, delibe- o percentual do desconto ofertado e a qual
rou-se pelo prosseguimento da concorrência, valor esse desconto deverá  ser aplicado,
uma vez que seria comum no Tribunal deci- consoante mandamento do inc. III do art.
sões condenando o método de seleção com 55 da Lei nº 8.666/1993.
base em desconto. Assim, deliberou-se pelo
prosseguimento da licitação pela ausência Em voto no Acórdão nº 3.457/12 –
de maiores prejuízos. Plenário, o Ministro-Relator José Jorge afirma
Em seu voto, o Ministro-Relator não que o critério de julgamento que leva em con-
acrescentou maiores fundamentos àqueles já sideração o maior desconto ofertado incidente
apresentados pela área técnica. Nesse caso, sobre uma base referencial já é amplamente
decidiu-se autorizar a utilização do critério adotado – e legitimado pelo TCU – na con-
apenas porque o objeto a ser contratado tratação de combustíveis, passagens aéreas e
poderia, em tese, utilizar-se do RDC, no qual manutenção de veículos, citando o Acórdão
a legislação específica autoriza de forma ex- nº 818/2008 – 2ª Câmara.
plícita o critério de seleção apreciado. Logo, Portanto, não se pode considerar um crité-
entende-se que o entendimento do TCU, rio válido apenas para um determinado tipo
quanto à estrita legalidade, seria de não de serviço ou aquisição de bem, visto que
autorizar a utilização nos casos de licitação a própria Lei nº 8.666/93 não o fez. No
regida exclusivamente pela Lei nº 8.666/93. tema em apreço, não se pode ter seletividade
Como o tema não está totalmente conso- sobre a legitimidade do julgamento por maior
lidado no âmbito do Tribunal, há decisões desconto, devendo avaliar se ele tem ou não
que, além de autorizarem o uso do critério respaldo legal. Assim, em relação ao voto
de maior desconto, ainda o recomendam, acima citado, depreende-se que o Tribunal
como se pode observar no Acórdão nº admite a legalidade do uso do critério maior
1.634/2010 – 2ª Câmara, que não só desconto ofertado, devendo a administração
avaliza como também recomenda a utiliza- justificar técnica e previamente sua utilização.
ção do critério, mesmo não sendo o caso de De fato, o método do maior desconto en-
RDC. Eis um exemplo: contra-se consagrado para os serviços mencio-
- Assunto: PREGÃO ELETRÔNICO. DOU nados no trecho do voto. Acompanhando as
de 23.04.2010, S. 1, p. 151. Ementa: licitações realizadas, verificam-se as publica-
[...] para que: a) nas licitações para aqui- ções dos diários oficiais, licitações e extratos
sição de bens e serviços comuns,  utilize a de julgamento de certames realizados, com
modalidade pregão, preferencialmente base em julgamento por maior desconto.
na forma eletrônica, em obediência ao Confira exemplos concretos:

ACANTO EM REVISTA 135


artigo convidado

RESULTADO DE JULGAMENTO PREGÃO ITEM, sobre a tabela de preços do siste-


ELETRÔNICO N- 7/2016 ma Audatex, para eventual aquisição de
O Ordenador de Despesas do 59° peças e acessórios genuínos ou originais
Batalhão de Infantaria Motorizado torna de 1ª linha, de qualidade reconhecida no
público o Resultado de Julgamento do mercado de reparação automotiva, para
Pregão Eletrônico n° 07/2016. Objeto: aplicação em veículos fabricados por
Aquisição de peças mecânicas, elétricas diversas empresas nacionais e estrangei-
e acessórios para manutenção preventiva ras pertencentes à frota do 27º Batalhão
e corretiva de veículos leves e pesados Logístico, de Organizações Militares apoia-
pertencentes à frota do 59° B I Mtz, com das de Órgãos Participantes. Total de Itens
maior desconto ofertado sobre a tabela Licitados: 00020. Edital: 17/03/2014
de cada fabricante. Empresas vencedoras: de 08h20 às 11h30 e de 13h às 14h30.
BATALHA AUTO SERVICE PECAS E PNEUS Endereço: Av Pref Erasto Gaertner Nr 1874
LTDA - EPP, CNPJ: 09.239.373/0001- Bacacheri - CURITIBA - PR. Entrega das
94, Itens 1, 2, 3, 5, 6, 7, 8, 9, 10 e 11 Propostas: a partir de 17/03/2014 às
- Total Fornecedor R$ 554.890,00; VELPEX 08h20 no site www.comprasnet.gov.br..
COMERCIO DE AUTOPECAS LTDA - ME, Abertura das Propostas: 31/03/2014 às
CNPJ: 22.798.657/0001-89, Item 4 - 08h00 site www.comprasnet.gov.br.
Total Fornecedor R$ 83.960,00. (DOU 17/03/2014, Seção 3, p. 23)
(DOU 06/04/2016, Seção 3, p. 13)
A própria Administração Pública Federal já
AVISO DE LICITAÇÃO previu explicitamente a utilização do critério
PREGÃO Nº 2/2015 - UASG 160380 com base no maior desconto ofertado para
Nº Processo: 64302.006844/2014 . casos específicos. Citam-se dois: o art. 9º,
Objeto: Pregão Eletrônico - O objeto deste §1º, do Decreto nº 7.892/2013 (Sistema
SRP é o registro de preços para eventual de Registro de Preços – SRP), diz que o edital
aquisição de hortifrutigranjeiros, por poderá admitir, como critério de julgamento,
maior desconto, tendo por base a tabela o menor preço aferido pela oferta de des-
do CEASA/RS. Total de Itens Licitados: conto sobre tabela de preços praticados no
00099. Edital: 09/03/2015 de 08h00 mercado, desde que tecnicamente justificado;
às 12h00 e de 14h às 17h00. Endereço: e a Instrução Normativa nº 07, de 24 de
Av Zeferino Costa, 5000 Pestano - PELOTAS agosto de 2012, da Secretaria de Logística e
- RS. Entrega das Propostas: a partir de Tecnologia da Informação (SLTI), do Ministério
09/03/2015 às 08h00 no site www. do Planejamento, Orçamento e Gestão
comprasnet.gov.br.. Abertura das Propostas: (MPOG), discorre sobre os procedimentos
19/03/2015 às 10h00 site www.com- para contratação de serviços para aquisição
prasnet.gov.br. de passagens aéreas.
(DOU 09/03/2015, Seção 3, p. 16) Esses dispositivos, assim como o que re-
gula o RDC, trazem o instituto como critério
AVISO DE LICITAÇÃO de julgamento e não como tipo de licitação.
PREGÃO N 2/2014 - UASG 160212 Tal fato implica na legalidade do uso desse
N Processo: 64138000416201469 . critério, tendo em vista que os tipos de licita-
Objeto: Pregão Eletrônico - Registro de ção estão em rol taxativo e, como não se trata
Preços tipo MAIOR DESCONTO, por de um tipo de licitação, mas de um critério

136 ACANTO EM REVISTA


artigo convidado
de julgamento, não há o que se falar em encontra trabalhos voltados para evitar
ilegalidade. solução de continuidade nas aquisições em
Deve ser observada a correta redação do estudo.
instrumento convocatório, amparando-se no Quanto aos meios de pesquisa, trata-se de
Decreto nº 7.892/2013, em que se encontra uma pesquisa de campo e ex post facto. A
o tipo de licitação como sendo “menor preço” pesquisa é de campo, porque as ferramentas
a ser aferido com base no maior percentual a serem utilizadas serão entrevista e levan-
ofertado de desconto. tamento, e é ex post facto, pois se pretende
avaliar os resultados de aquisições e contratos
2.3 A utilização do critério de maior já realizados.
desconto
3.1 Análise ex post facto
Como visto no tópico anterior, o critério
Visando à análise pretendida, foram sele-
de maior desconto vem sendo utilizado por
cionadas unidades que já utilizam o recurso
algumas organizações militares, mais especi-
de pregões eletrônicos com base no critério
ficamente, para a aquisição de gêneros pere-
de maior desconto para aquisição de gêneros
cíveis (hortifrutigranjeiros) e para a aquisição
perecíveis e peças de viaturas, a fim de ave-
de peças de viaturas. Com relação a essas riguar os resultados obtidos com o uso dessa
aquisições, este estudo buscará expor as prá- ferramenta.
ticas já utilizadas e os resultados alcançados. Como o uso de tal ferramenta ainda é
baixo, este estudo limitou-se a entrevistar ges-
3 METODOLOGIA tores de 5 (cinco) unidades que já utilizam o
O trabalho se iniciou com a definição da critério de julgamento de maior desconto há
questão central, que foi formulada da seguinte pelo menos 3 (três) anos, além do envio de
maneira: é viável a utilização do critério de um questionário misto com questões fechadas
julgamento de maior desconto para evitar e abertas dirigido a 55 (cinquenta e cinco)
solução de continuidade nas aquisições de gestores que não utilizam a ferramenta para
gêneros perecíveis e de peças de viaturas? levantamento de dados.
Em seguida, foram definidos os seguintes Com relação aos resultados obtidos com
objetivos, necessários para atingir a questão a adoção do julgamento com base no maior
desconto ofertado, chegou-se às vantagens
central estabelecida:
que esta prática traz para a administração.
• a) Verificar a legalidade da utilização des-
se critério de julgamento; 3.2 Levantamento
• b) Destacar as vantagens resultantes do uso Os questionários que foram encaminhados
desse critério nas aquisições de gêneros aos gestores que não adotam a prática em
perecíveis, bem como de peças e serviços estudo seguiram com as devidas orientações
utilizados na manutenção de viaturas. de preenchimento para chefes das seções
de licitações e contratos de 55 (cinquenta e
Visando a classificação das pesquisas, cinco) Organizações Militares do Exército que
qualificou-as com relação a dois aspectos, não utilizam o pregão com julgamento do
como ensina Vergara (2013): quanto aos fins maior desconto. Buscou-se com esse questio-
e quantos aos meios. nário, levantar o grau de conhecimento, por
Com relação aos fins, a pesquisa clas- parte dos gestores, sobre os procedimentos
sifica-se como exploratória, pois não se a serem adotados para a realização de um

ACANTO EM REVISTA 137


artigo convidado

certame licitatório com critério de julgamento não conhecia o critério de julgamento com
com base no maior desconto ofertado, bem base no maior desconto ofertado.
como verificar se havia na unidade problemas A segunda pergunta continha uma explica-
nas aquisições de gêneros perecíveis e de ção sobre como utilizar a ferramenta do crité-
peças de viaturas. rio de maior julgamento e possíveis vantagens
de seu uso e questionava sobre o interesse
3.3 Entrevista
em utilizar a ferramenta. Os resultados são
Tendo em vista conhecer os resultados ob- demonstrados na figura 2.
tidos com a utilização do pregão com critério A terceira e última pergunta tratava dos
de maior desconto ofertado, foram entrevista- problemas com fornecimento de materiais ou
dos gestores que utilizavam esta ferramenta há serviços devido a grandes variações nos pre-
pelo menos 3 (três) anos. ços, podendo escolher mais de um item. Essa
Nas entrevistas, além das respostas obti- pergunta tem seus resultados apresentados
das, foram apresentados dados por parte dos na figura 3, tendo uma resposta em “outros
entrevistados, que serão expostos na seção 4. problemas” relativa à aquisição de material
de informática.
4 RESULTADOS Com relação à entrevista com militares que
Os dados levantados referentes ao grau de já realizavam o pregão com critério de julga-
conhecimento sobre o critério de julgamento mento baseado no maior desconto ofertado,
por parte dos gestores que ainda não utiliza- pôde-se extrair o seguinte:
vam a ferramenta foram compilados e transfor- • A partir da utilização desse método para
mados em gráficos para facilitar a análise. a aquisição de gêneros perecíveis, houve
Como se pode observar na figura 1, uma uma redução de 92%, de acordo com
parcela significativa (59%) dos gestores ainda um entrevistado, no número de sanções

Figura 1 – Por que não utilizam o critério de julgamento com base no maior desconto ofertado?

Fonte: Autor
Fonte: Autor

A segunda pergunta continha uma explicação sobre como utilizar a ferramenta do


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critério de maior
ACANTO julgamento e possíveis vantagens de seu uso e questionava sobre o interesse
EM REVISTA

em utilizar a ferramenta. Os resultados são demonstrados na figura 2.


artigo convidado
Figura 2 – Tem interesse em utilizar a ferramenta apresentada?

Fonte: Autor
Fonte: Autor
A terceira e última pergunta tratava dos problemas com fornecimento de materiais ou
serviços devido a grandes variações nos preços, podendo escolher mais de um item. Essa
Figura
pergunta tem seus 3 – Tem apresentados
resultados ou teve algum na
problema
figuracom
3, relação ao fornecimento
tendo uma resposta em “outros
de itens licitados por variações nos preços?
problemas” relativa à aquisição de material de informática.

Figura 3 – Tem ou teve algum problema com relação ao fornecimento de itens licitados por
variações nos preços?

Fonte: Autor
Fonte: Autor

Com relação à entrevista com militares que já realizavam o pregão com critério de
julgamento baseado no maior desconto ofertado, pôde-se extrair o seguinte:
13
ACANTO EM REVISTA
• A partir da utilização desse método para a aquisição de gêneros perecíveis, houve uma
139
artigo convidado

relativas ao não cumprimento de entrega a peça solicitada, gerando retrabalho e


do material empenhado, pois, segundo desgaste para os gestores da garagem e da
ele, foi adotado o critério de julgamento seção de aquisições.
com base no maior desconto ofertado
sobre a tabela do CEASA/RS, e, com 5 CONCLUSÃO
isso, o número de gêneros não conformes, Não há dúvidas no que se refere à lega-
aqueles que não podem ser recebidos, lidade do uso do critério de maior desconto
reduziu, haja vista que o fornecedor não ofertado visando à obtenção de proposta
necessitava comprar itens muito abaixo do mais vantajosa para a administração.
preço de mercado (que seriam de pior qua- Entende-se que tal prática encontra amparo
lidade) para ter algum lucro devido à alta na Lei de Licitações e Contratos pelos motivos
de preços de produtos fora de época; que seguem.
• Houve ainda a redução das negativas do O critério de julgamento com base em
fornecedor em entregar o gênero adquiri- maior desconto ofertado não é um tipo de
do, alegando que o preço estaria imprati- licitação, visto que os tipos de licitação são
cável; e previstos na Lei 8.666/93 em rol taxativo, ou
• Constatou-se, também, uma economia no seja, só existem, atualmente, aqueles tipos de
valor total licitado, pois o fornecedor não licitação que são: o de menor preço; melhor
precisou majorar o preço, por exemplo, do técnica; de técnica e preço; e a de maior lan-
tomate, visto que a tabela varia de acordo ce ou oferta (para leilões).
com a época de produção e, antes do uso Logo, caso o gestor considere o julgamento
do desconto na tabela do CEASA/RS, os como um tipo de licitação, nesse caso especí-
fornecedores colocavam preços altos para fico, ter-se-ia uma ilegalidade devido ao erro
evitar prejuízos nos períodos de entressa- de classificação da licitação em um tipo não
fras, visto que a ata de registro de preços previsto em Lei. O que se chama de julgamen-
tinha um ano de validade. to com base em maior desconto ofertado é,
Quanto ao uso dessa forma de aquisição na verdade, um critério que pode ser utilizado
para peças de viaturas, as vantagens são em licitações do tipo menor preço.
semelhantes. Houve redução nos proble- Em se tratando de licitações regidas pela
mas de entregas de peças das viaturas por Lei 8.666/93, o que deverá ser feito é a
motivos como a alta do dólar (para peças previsão do tipo de licitação como sendo
importadas, a maioria, no caso das viaturas a de menor preço e o método de aferição
utilizadas) que tornava impraticável o preço será com base no maior desconto ofertado.
licitado, e, com o uso do desconto sobre a O TCU e os regulamentos da Administração
tabela da montadora, que era divulgada diá- Federal (p. ex., art. 9º, §1º, do Decreto
ria e oficialmente pelo sindicato das monta- nº 7.892/2013, e IN/SLTI/MPOG nº
doras, os fornecedores passaram a entregar 07/2012) explicitam e admitem o critério de
o material sempre que solicitado, evitando julgamento, enquadrando corretamente como
desgastes para a administração. Antes, quan- critério de julgamento e não um tipo, como
do um fornecedor não entregava uma peça, demonstrado no presente estudo.
a viatura chegava a ficar parada durante Portanto o uso é legal, mas a administra-
meses, pois somente deveria ser aberto um ção deve justificar a adoção desse critério
novo processo de aquisição após a sanção em prejuízo da forma tradicional de julgar e
aplicada ao fornecedor que não entregou adjudicar o objeto àquele que ofertar o menor

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artigo convidado
valor nominal, o menor preço. Deverá, pois, fornecedores de peças de viaturas no ano de
destacar a importância de apurar e contratar 2015 (RAMOS, 2016).
o desconto, não necessariamente o preço (va- Das análises feitas, chega-se à conclusão
lor nominal cotado). de que a prática de aquisição com critério de
Com relação às vantagens decorrentes julgamento, tendo como base o maior desconto
do uso desse critério, destaca-se a redução ofertado em cima de uma tabela de preços ofi-
dos problemas de fornecimento de gêneros cial, além de estar dentro da legalidade, é uma
perecíveis (hortifrutigranjeiros) de 94,56% possível solução para problemas encontrados
(BARRETTO, 2016), uma vez que, além de nas aquisições de produtos que sofrem grandes
garantir que a administração está adquirindo variações no período da vigência da ata de
um produto abaixo do preço praticado pelo registro de preços (geralmente de 12 meses).
mercado, pois o desconto é sobre a tabela Por exemplo: a aquisição de hortifrutigranjeiros
CEASA/RS que contém os preços praticados ou peças de viaturas, visto que tal prática de
pelo setor, garante também ao fornecedor a aquisição diminui problemas na entrega e suas
segurança de que não terá prejuízo no perío- consequências, evita a abertura de processos
do de entressafras, não precisando, conse- para sancionar fornecedores e reduz também
quentemente, baixar a qualidade do produto os preços médios dos produtos adquiridos.
para conseguir fornecer à administração sem
arcar com prejuízos, o que se refletiu na redu- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ção dos problemas de aceitação dos gêneros BARRETTO, André Luis Muniz. Entrevista con-
entregues (BARRETTO, 2016). cedida a Carlos Guilherme de Farias Martins,
Ainda, de acordo com Barreto, houve Resende, 25 fev. 2016. Entrevista via e-mail.
uma redução dos preços médios praticados, BRASIL. Decreto nº 8.250 de 23 de maio de
gerando economia de 27,52% no ano de 2014. Altera o Decreto 7.892, de 23 de
2015 para a Unidade na qual se empregou janeiro de 2013, que regulamenta o Sistema
esse sistema de aquisição, haja vista que os de Registro de Preços previsto no art. 15 da
fornecedores, ao ofertar o desconto, sabem Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993.
exatamente o percentual de ganhos, o que Diário Oficial da República Federativa do
não ocorria na forma de menor preço, quan- Brasil, Brasília, DF, 26 mai. 2014. Disponível
do os lances ofertados levavam em conta que em: <http://www2.camara.leg.br/legin/
o período de aquisição poderia ser de entres- fed/decret/2014/decreto-8250-23-maio-
safras e, com isso, majoravam os preços para -2014-778791-normaatualizada-pe.html>.
não terem prejuízos em tais períodos. Acesso em: 06 jan. 2016.
Quanto ao uso dessa forma de aquisição ______. Instrução Normativa nº 07 de 24 de
para peças de viaturas, a vantagem foi tam- agosto de 2012. Institui o modelo de contrata-
bém a redução nos problemas de entregas de ção para prestação de serviços de aquisição
peças, de acordo com Ramos (2016). O uso de passagens aéreas nacionais e internacio-
do desconto sobre a tabela da montadora, nais.Diário Oficial da República Federativa do
que era divulgada oficialmente pelo sindica- Brasil, Brasília, DF, 27 ago. 2012. Disponível
to das montadoras todos os dias, fez com em: <www.trtsp.jus.br/geral/tribunal2/
que os fornecedores passassem a entregar o ORGAOS/Min_Div/MPOG_IN_07_12.
material sempre que solicitado, evitando des- html>. Acesso em: 06 jan. 2016.
gastes para a administração, o que reduziu, ______. Lei nº 8.666 de 21 de junho de
a zero, o número de sanções aplicadas a 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da

ACANTO EM REVISTA 141


artigo convidado

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República Federativa do Brasil, Brasília, DF, <https://contas.tcu.gov.br/juris/Web/Juris/
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Plenário. Relator: Ministro José Jorge. Sessão cedida a Carlos Guilherme de Farias Martins,
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tps://contas.tcu.gov.br/juris/Web/Juris/ VERGARA, S. C. Projetos e relatórios de pes-
ConsultarTextual2/Jurisprudencia.faces Acesso quisa em administração. 14. ed. São Paulo:
em: 06 jan. 2016. Atlas, 2013.

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