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A INFRAESTRUTURA DE TREINAMENTO
A
DAINFRAESTRUTURA
MARINHA AGORADE
AOTREINAMENTO
SEU DISPOR
DA MARINHA AGORA AO SEU DISPOR
CURSOS INSTALAÇÕES
•CURSOSCATALOGAÇÃO •INSTALAÇÕES
10 SALAS DE AULA
• NEGOCIAÇÃO DE CONTRATOS • AUDITÓRIO
•• CATALOGAÇÃO
GESTÃO DE PROJETOS
•• 10 SALAS DE AULA
ANFITEATRO
•• NEGOCIAÇÃO DE CONTRATOS
GESTÃO DE RISCOS
•• AUDITÓRIO
ESTACIONAMENTO PRÓPRIO
•• GESTÃO DE PROJETOS
GESTÃO DE TEMPO
•• ANFITEATRO
AR-CONDICIONADO CENTRAL
•• GESTÃO DE RISCOS
TÉCNICA DE AUDITORIA
•• ESTACIONAMENTO
SEGURANÇA 24H
PRÓPRIO
•• GESTÃO DE TEMPO
PREGÃO ELETRÔNICO
•• AR-CONDICIONADO CENTRAL
RECURSOS PARA APRESENTAÇÕES
• DENTRE
TÉCNICA DE AUDITORIA
OUTROS...
•• SEGURANÇA 24H
FACILIDADE DE TRANSPORTE PÚBLICO
• PREGÃO ELETRÔNICO • RECURSOS PARA APRESENTAÇÕES
DENTRE OUTROS... • FACILIDADE DE TRANSPORTE PÚBLICO
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www.emgepron.com.br
A
“Acanto em Revista” é um periódico anual
destinado à divulgação de artigos de na-
editorial
tureza acadêmica relacionados a temas
do Abastecimento, Administração Pública,
Finanças e Orçamento Público, dentre outros. A seleção
dos trabalhos publicados é realizada considerando a
qualidade científica e relevância dos temas, tanto para
a Marinha do Brasil como para instituições públicas e
privadas, colaborando para a efetiva disseminação do
conhecimento. Além da natural diversidade e abrangên-
cia de temas, característica da Gestão Pública, buscou-
-se, nesta edição, transcender as fronteiras do Centro
Leonardo Dias de
de Instrução e Adestramento Almirante Newton Braga
Assumpção
(CIANB) e da Marinha, recebendo propostas de autores
Capitão de Mar e Guerra oriundos de outras Organizações.
(Intendente da Marinha) - Neste sentido, a proposta desta edição é manter o
Diretor do CIANB espírito das edições anteriores, apresentando aos lei-
tores, além dos trabalhos acadêmicos, uma entrevista
sobre um assunto relevante e atual. A escolha para este
exemplar foi de fomentar a discussão e reflexão sobre
a Gestão do Conhecimento (GC), que, ao longo dos
anos, vem assumindo uma importância maior em de-
corrência da ascensão da denominada sociedade do
conhecimento. Estudos têm sido aprofundados sobre o
tema e a “Acanto em Revista” não poderia se furtar de
participar desse fórum.
O próprio CIANB assumiu no âmbito do Setor
Secretaria-Geral da Marinha, dentre outras tarefas, a de
exercer a centralização da GC nas áreas de abasteci-
mento, administração, orçamento e finanças, conforme o
ciclo ilustrado em nossa capa. O ciclo KDCA, analogia
ao consagrado ciclo administrativo “Plan, Do, Check
and Action”— no qual o planejamento foi substituído
pelo “Knowledge”, compreende: a atividade de obten-
ção do conhecimento por meio de pesquisas, palestras,
seminários, workshop; o conhecimento obtido que deve
ser armazenado — e nada mais clássico do que uma
biblioteca para representar um repositório do conheci-
mento; o oferecimento de cursos para disseminação
do conhecimento obtido e armazenado — que é outra
missão do CIANB; e, finalmente, a aplicação do co-
nhecimento em apoio às atividades previstas na missão
da Marinha. Assim, com o propósito de aprofundar a
abordagem do referido tema, a presente edição contará
ACANTO EM REVISTA 3
com uma entrevista do Doutor Fábio Ferreira Batista, do
Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas.
editorial
4 ACANTO EM REVISTA
E M R E V I S TA
Rio de Janeiro
ACANTO EM REVISTA Ano: I -SUMÁRIO
Nº 01 - 2014
Rio de Janeiro
Ano III - Nº 03 - 2016 Tiragem 00.000
E M R E V I S TA
FUNDADOR
Nelson Márcio Romaneli de Almeida
Capitão de Mar e Guerra (IM) ENTREVISTA
PRESIDENTE DO CONSELHO EDITORIAL
Leonardo Dias de Assumpção
Entrevista
Capitão de Mar e Guerra (IM)
7 Entrevista com o Doutor Fábio Ferreira Batista do
EXPEDIENTE
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA
CONSELHO EDITORIAL
“O Renascimento doEnio CIANB”
Monçôres Entrevista
Carvalhocom o Almirante-de-
Esquadra Airton Teixeira Presidência do Conselho Editorial:
Capitão Pinho
de Mar Filho, Secretário
e Guerra - Geral da Marinha
(RM1-IM) ARTIGOS SELECIONADOS
............................................................................. 05 Nelson Márcio Romaneli de Almeida
Marcos Gomes Corrêa
Capitão de Fragata (IM) Capitão-de-Mar-e-Guerra (IM) Diretor
Brunno Nunes da Costa Menezes ABASTECIMENTO
Artigos Premiados
Capitão de Corveta (IM) Diretor de Redação:
Thiago José Parreira
A catalogação comoCapitão de Corveta
ferramenta de Apoio(IM) Logístico Integrado
12 Análise de itens ideais para a montagem de uma
Marcos
cadeiaGomes
logísticaCorrêa
reversa (CLR) no SABM com ganhos
Patrick...............................................
dos submarinos nucleares Del Bosco de Sales 09 Capitão-de-Fragata
relevantes e pequeno (IM)esforço de implementação
Capitão de Corveta (IM) Capitão-Tenente
Editora: (IM) Eric Alves
Implantação doMichelly
sistemaChristina Campos Manhães
de identificação por rádio frequência
de Abastecimento
Primeiro-Tenente
nos processos de aquisição
da Marinha
COMITÊ
e controle(RM2-T)
de material do Sistema
............................. 22
do BrasilCIENTÍFICO
DE AVALIAÇÃO
29 Michelly
Brasil
Christina
Fornecimento
por intermédio
Primeiro-Tenente (RM2-T)
Campos
de itens
do
Manhãesna
de fardamento
E-Commerce
Ferreira
Marinha do
B2C: análise de
parâmetros – tempo, custo de transporte e desempenho
Marcos André Carvalho Neves - Msc. Colaboradores:
– para a contratação de um operador logístico
Offset: os impactos Hilton
da de
lei Araújo Lopes - Msc. nas importações
nº12.598/2012
de produtos e Luiz Henrique
sistemas Rodrigues
de defesa daMarinha
pela Silva - Msc.
do Brasil..... 33 CMG (RM1-IM) Enio
Capitão-Tenente (IM) Monçôres Carvalho
Diogo Cabral de Almeida
Luiz Cláudio Otranto Alves - Msc.
CFPotencial
(IM) Ricardo Luís Veloso Mendes
rentabilidade de Esdras
Anderson Soares Silva - Msc.
Impactos dasAlexreduções na taxa
Sandro Monteiro
ativosCarlos
de renda
básica- Dsc.
de Moraes
fixa: um
de Santana - Msc.
de juros na
estudo aplicado
46 CCde(IM)
produto
de uso de estruturas de desmembramento
Brunno Nunes
ou de da Costa
logística Menezes
como ferramentas
ao Fundo Naval (2009
Claudia - da
Ferreira 2013)..........................
Cruz - Dsc. 48 integradas ao sistema
CC (IM) Thiago José Parreira de informações gerenciais do
André Luís de Almeida Côrtes - Msc. abastecimento da Marinha do Brasil
Brunno Nunes da Costa Menezes - Msc. 1T (RM2-T) Andrea de Lima Ribeiro Sales
Capitão-Tenente (IM) Tiago Rosa Barreira
Artigos Selecionados
Thiago Silva e Souza - Msc.
José Renato de Paiva Michelotto - Msc.
Revisão:
ADMINISTRAÇÃO
Fábio Francisco dos Santos
EDITORA
A gestão do conhecimento no Corpo
Michelly Christina
do Brasil: o papel doPrimeiro-Tenente
de Intendentes
Campos Manhães da Marinha
CIANB. .........................................
(RM2-T) 61 63 Diagramação:
Offset e inovação: a redução de hiatos tecnológicos
nos países
Augusto em desenvolvimento
Marinho e Winona Evelyn
ARTE DA CAPA Capitão-Tenente (IM) Marcelo da Silva Braz
A busca pela excelência em gestão na Marinha do Brasil: a Produção Gráfica:
institucionalização do Victor de Assis Bezerra
80
Programa Netuno ............................. 69 Offset e Pinho
base industrial de defesa: uma análise do
Segundo-Tenente (IM) Fernando
processo de transferência de tecnologia
Evidenciação de princípios REVISÃO
de governança: uma análise dos Impressão:
relatórios de auditoria
Cláudiaelaborados em Coelho
Santos da Silva 2012 pelo órgão de Capitão-Tenente (IM) Luiz Biondi
controle interno da Marinha ................................. 73
do Brasil (RM2-T)
Primeiro-Tenente
e-Graph - Gráfica e Sinalização
FINANÇAS
Sede:
Incorporando a gestão DIAGRAMAÇÃO
do risco às aplicações financeiras do
Fundo Naval. PassoConceito Comunicação
inicial:
cálculo para o risco de mercado
escolha de Integrada
uma metodologia de
.......................................
IMPRESSÃO
79 96 Avenida
recursos
Brasil,
Os reflexos da10.500
mudança- de
destinados à
Olaria
ação -orçamentária
movimentação
- RJ - CEP: 21012-350 - Localizado dentro do
Rio de Janeiro
de
dos
militares na
Marinha do Brasil
WalprintdeGráfica
Atividades da Diretoria e Editora
Finanças da Marinha: ações Complexo Naval de Abastecimento
Capitão-Tenente (IM) Carlos Alberto da Silva
em andamento, desafios e perspectivas sob a ótica do
_______________________________
Departamento de Contabilidade ...................................... 84
Site: www.mar.mil.br/cianb
Corrêa Júnior
Sede: Avenida Brasil, 10.500 - Olaria e-mail:
O usoacanto@cianb.mar.mil.br
Rio deeJaneiro
A Marinha do Brasil - RJ - CEP:
as Parcerias 21012-350 ............ 89
Público-Privadas
Localizado dentro do 112 de Hedge Cambial: uma ferramenta de
proteção à programação financeira destinada às
Complexo Naval de Abastecimento O obtenções
CIANB agradece especialmente
no exterior da Marinha doa todas
Brasil as
Cluster naval de defesa uma opção para o Brasil? .......... 95
site: –www.cianb.mar.mil.br
e-mail: acanto@cianb.mar.mil.br organizações que(QC-IM)
Capitão-Tenente tornaram possível
Daniel esta
Santos edição:
Moura
A evolução do Plano Diretor da Marinha: desafios no
desenvolvimento Direitos
de eferramentas
permissão de de apoio à gestão
utilização:
ODEBRECHT, BNP, AMAZUL e EMGEPRON
orçamentária .............................................................
os textos publicados na revista são de 100
inteira responsabilidade de seus autores. ARTIGO CONVIDADO
Impactos da utilização dea reprodução
Permite-se sistema de desde
informação
que logístico no
compartilhamento de citada a fonte enao autor.
informações cadeia de suprimento de
sobressalentes da Marinha do Brasil ............................... 106
129Direitos
Pregão Eletrônico
e Permissão
Os julgamento
textos publicados
com o uso do critério de
de Utilização
comnabase
revista
nosão de inteira
maior responsabilidade
desconto ofertado
de seus
sobreautores.
tabela oficial de preços nas aquisições de
Permite-se
gêneros a reprodução
perecíveis desde quede
e peças citada a fonte e o autor.
viatura
Capitão do Serviço de Intendência do Exército
da Academia Militar das Agulhas Negras, Carlos
Guilherme de Farias Martins
ACANTO EM REVISTA 7
“As organizações gestão por competências ou gestão estratégi-
ca, por exemplo?
entrevista
8 ACANTO EM REVISTA
“A Marinha do Brasil 10) Os pequenos avanços devem receber
reconhecimento;
entrevista
deve obter e integrar, 11) GC é um método integrado de criar,
compartilhar e aplicar conhecimento para
compartilhar, usar aumentar a eficiência, melhorar a qualida-
ACANTO EM REVISTA 9
não pode ser nas práticas (portais, intranets e
“A tecnologia é
redes sociais internas), e sim em resultados (au-
entrevista
10 ACANTO EM REVISTA
ou não. Por isso, o engajamento, resultado Uma organização que deseja mapear
do comprometimento, é fundamental para a e gerir seu conhecimento deve começar
entrevista
criação de uma cultura organizacional cola- por onde?
borativa que, como se sabe, torna as orga- Identificar as competências essenciais (conjun-
nizações mais eficientes, mais eficazes, mais to de conhecimentos, habilidades e atitudes)
efetivas e mais inovadoras. Nesse cenário, para cumprir a missão organizacional, deve
o gestor público tem um papel fundamental ser o primeiro passo porque são tais conheci-
no sentido de identificar as competências mentos que devem ser gerenciados.
dos membros da sua equipe, ajuda-los a
desenvolver tais competências e utilizar o co-
nhecimento das pessoas da melhor maneira
UM BREVE HISTÓRICO
possível. O engajamento é uma característica
da cultura organizacional. Quanto às tradi- Fábio Ferreira Batista é Técnico de
ções, há aquela que são positivas para a Planejamento e Pesquisa do Ipea (desde
1987). Concluiu o pós-doutorado em
GC como, por exemplo, a documentação
Gestão do Conhecimento no Programa de
dos procedimentos.
Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do
Conhecimento da Universidade Federal de
A liderança constitui uma das principais Santa Catarina - EGC/UFSC (2012). Doutor
qualidades necessárias ao militar. Qual em Ciência da Informação pela Universidade
é o seu papel no processo de Gestão do de Brasília - UnB (2008). Concluiu também
Conhecimento? cursos de pós-graduação (especialização
A liderança tem um papel fundamental na e mestrado) nas áreas de Administração,
implementação da GC. É ela que prioriza a Relações Internacionais e História. Professor
GC, que aloca recursos, que dá o exemplo. do Mestrado em Gestão do Conhecimento
Além disso, cabe a ela capacitar, motivar as e da Tecnologia da Informação da
pessoas para a criação de um ambiente orga- Universidade Católica de Brasília - MGCTI/
UCB (desde 2012). Atua, no momento,
nizacional colaborativo.
como pesquisador na área de Gestão do
Conhecimento e práticas inovadoras de
gestão na administração pública. Implantou e
“A estrutura coordena o Observatório Ipea de Gestão do
Conhecimento e Inovação na Administração
hierarquizada pode Pública (desde 2014). É autor do livro
publicado pelo Ipea intitulado: Modelo de
ser uma barreira gestão do conhecimento para a administra-
ou um facilitador.
ção publica brasileira (2012). Implementou
o Repositório do Conhecimento do Ipea
ACANTO EM REVISTA 11
E M R E V I S TA
artigo selecionado
Autoria: Capitão-Tenente
(Intendente da Marinha) Eric Alves
Orientador: Capitão de Mar e
Guerra (RM1- Intendente da Marinha)
Marcelo Ghiaroni - CIANB
Coorientador: Capitão-Tenente
(Intendente da Marinha) Marcus
Sperling Torezani - DAbM
12 ACANTO EM REVISTA
E M R E V I S TA
artigo selecionado
1 INTRODUÇÃO vezes, em cada instituição. Assim sendo, não
A Logística Reversa, parte da logística existe ainda uma cadeia logística reversa ins-
que estuda o fluxo de suprimentos desde o titucionalizada e normatizada para operacio-
ponto de consumo até o ponto de origem ou nalizar o fluxo reverso de resíduos dentro da
destinação adequada, caminho inverso ao MB. Caberia ao Sistema de Abastecimento
fluxo tradicional, vem ganhando um grande da Marinha (SAbM) ser o centralizador dessa
destaque no mundo dos negócios atuais, atividade, principalmente no que diz respeito
pois, além de possibilitar a preservação a resíduos sólidos produzidos pelo consumo
do meio ambiente com o uso adequado de de itens de fornecimento do próprio sistema.
insumos, principalmente quanto a sua desti- Diversos problemas devem ser transpostos
nação final ou descarte, dentre outros bene- dentro da instituição para se obter uma ca-
fícios; agrega às empresas valor associado deia logística reversa plena, em que estariam
a uma marca sustentável, tornando-se isso, contidos todos os tipos de resíduos oriundos
muitas vezes, um diferencial competitivo pe- de todos os tipos de itens distribuídos pelo
rante o mercado. SAbM, principalmente no tocante ao nível
No Brasil, o tema Logística Reversa (LR) de investimento inicial que essa operação irá
já está sendo estudado por acadêmicos e requerer. Assim, o objetivo desta pesquisa é
implementado por empresas em geral. Muito investigar, dentro dos itens pertencentes à li-
desse progresso pôde ser alcançado devido nha de fornecimento do SAbM, quais seriam
à Política Nacional de Resíduos Sólidos, ini- aqueles que têm um suficiente volume de mo-
ciada em 2010, a partir da qual surgiram vimentações e que, operando-se uma cadeia
diversas leis e mecanismos de incentivos às logística reversa neles, conseguiriam trazer
práticas sustentáveis por parte das empresas. resultados relevantes nos dois aspectos: pre-
Inúmeras empresas surgem advindas de servação do meio ambiente e economia de
cooperativas de catadores, iniciativas de recursos financeiros.
Organizações Não Governamentais e sucur- Para alcançar o resultado desta pesqui-
sais de grandes empresas que, ao iniciarem sa, foram coletados dados físicos e con-
o desenvolvimento de atividades de LR, vis- tábeis de cada um dos principais itens de
lumbraram um mercado em crescimento, am- fornecimento do SAbM e, a partir desses
plo de possibilidades e inclusive com retornos dados, foram aplicadas análises de Pareto
financeiros anteriormente descartados. para identificar os itens que são mais
No setor público, no entanto, o progresso relevantes de acordo com cada um dos
na implementação de práticas da LR ainda aspectos: quantidade de resíduos danosos
está à margem de pequenas iniciativas in- ao meio ambiente; valor econômico de
dividuais que vêm sendo reconhecidas pela alienação desses resíduos no mercado lo-
sociedade. cal. Após essas duas classificações, foram
Nesse contexto, a Marinha do Brasil cruzadas as duas análises para chegar a
(MB), instituição pública do Poder Executivo uma relação de itens com relevância signi-
Federal, busca, em diversas de suas ficativa para que sejam operadas suas res-
Organizações Militares (OM), práticas de pectivas cadeias logísticas reversas (CLR).
coleta seletiva de resíduos, ações de pre- Posteriormente à análise dos dados quanti-
venção à poluição e otimização no uso de tativos, foram ainda levantadas restrições atra-
seus recursos. Porém, tais iniciativas são in- vés de entrevistas realizadas em órgãos de dis-
dividualizadas e diferentes, na maioria das tribuição, em algumas OM consumidoras ou
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E M R E V I S TA
artigo selecionado
14 ACANTO EM REVISTA
E M R E V I S TA
artigo selecionado
Figura 1: Esquema demonstrativo de uma cadeia logística direta e reversa
Fonte: Elaboração própria com base na compilação de ideias e de figuras de diferentes literaturas.
Diversas são as formas de destinação de sua reintegração ao ciclo produtivo por meio
materiais ao longo de uma cadeia logística de um desses canais reversos.
reversa. Basicamente, segundo LEITE 2003, a Para efeito deste estudo, serão abordadas
LR divide-se em dois grandes grupos de acor- apenas as atividades de LR com IPC devido
do com o tipo de item: Itens pós-venda (IPV) e à grande abrangência que o tema possui e o
Itens pós-consumo (IPC), e para cada grupo a grau de complexidade que é bastante elevado
LR irá atuar de forma diferente. e dependente de inúmeras variáveis e peculia-
IPV – Bens ou itens pós-venda são os que, ridades da instituição. De uma maneira geral,
por pouco uso ou sem uso por diferentes mo- a LR aplicada diretamente aos resíduos de IPC
tivos, retornam aos diferentes elos da cadeia é bastante atraente para a realização de pes-
de distribuição direta. Como exemplo, pode- quisas que venham a fomentar a sua prática
-se citar um produto em garantia ou outro que em uma organização. Segundo Bergamasco
(2003, p10): “Basta um pouco de visão para
foi entregue ao consumidor por um erro de
ver que o lixo guarda um volume impressio-
processamento de pedido.
nante de negócios”.
IPC – Bens ou itens pós-consumo são aque-
les que, após o seu uso, efetivamente são 2.2 Benefícios da Logística Reversa em
descartados pela sociedade em geral e que uma organização
devem retornar ao ciclo de negócios pelos A utilização da LR em uma organização
canais reversos de reúso, reciclagem, rema- permite o alcance de diversos benefícios, a
nufatura (ou reparo), desmanche ou mesmo saber: redução de gastos logísticos em trans-
pela destinação final. Cabe à LR, nesse caso, portes, compras e armazenagem; ganho de
agregar valor a esses produtos e promover a competitividade devido à imagem positiva
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artigo selecionado
16 ACANTO EM REVISTA
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artigo selecionado
Figura 2: Esquema ilustrativo do funcionamento do SAbM
ACANTO EM REVISTA 17
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artigo selecionado
18 ACANTO EM REVISTA
E M R E V I S TA
artigo selecionado
a dificuldades de qualificação de alguns dos L1, constante do ANEXO A, conforme o mo-
itens constantes de Lzero, 12 deles precisa- delo exemplificado pela Tabela 1.
ram ser eliminados, pois teriam dados incom- Fase 2: Durante essa fase, após ter sido
pletos que poderiam dificultar ou, mesmo, elaborada a lista de itens a serem trabalhados
comprometer a pesquisa. com a quantidade necessária de informações
Como conclusão dessa primeira fase da referentes aos listados em L1, foi aplicada a
pesquisa, obteve-se uma tabela nomeada de teoria de Pareto, através de uma classificação
Tabela 1: Levantamento de dados dos principais itens de suprimento para a análise posterior
Preço do Tempo de
Percentual de Dano ambiental
ITEM QT. ANO (KG) RESÍDUOS resíduo no decomposição no
aproveitamento estimado
mercado meio (anos)
AÇÚCAR 509.540,00 Plástico 0,10% R$ 0,30 100 50954
AGULHAS DESCARTÁVEIS 3.842,63 Metal 50,00% R$ 5,00 200 384263
ARRUELA 38,5 Metal 50,00% R$ 5,00 200 3850
Fonte: Elaboração própria, com dados obtidos do SINGRA e das fontes citadas no texto.
Observações: Os valores de percentual de aproveitamento foram extraídos da revista Desafios do Desenvolvimento, ano 9, edição 72, p.47, e, posteriormente, serão ratificados pelos questionários
aplicados. Os preços da matéria-prima pós-consumo foram retirados da Secretaria de estado da Fazenda do Rio de Janeiro. O tempo de degradação de cada material no meio ambiente foi retirado do sítio
na internet www.lixo.com.br (acessado em 18 de setembro de 2015), cuja compilação de material é fruto de diversas fontes, como a COMLURB, a UNICEF e outras.
ACANTO EM REVISTA 19
E M R E V I S TA
artigo selecionado
ABC, para apontar, entre os itens de L1, aque- sistema, para verificar a existência de impe-
les que causam um maior impacto ambiental dimentos ou restrições a alguns ou a todos os
ao serem incorretamente descartados. itens constantes da lista. Segundo o método
Para isso, foi utilizado o valor da coluna empregado pelo questionário, ainda se pôde
“Dano Ambiental Estimado”, que é o resultado observar itens que apresentam fácil aderência
da multiplicação da quantidade de maté- e que podem vir a facilitar a operação de
ria-prima descartada em KG pelo tempo em uma eventual CLR.
anos para a sua desintegração pela natureza. Assim, foi elaborado um questionário de
Essa classificação gerou uma nova lista L2 em perguntas voltadas para o consumo e o des-
que se encontrarão relacionados os itens de carte de cada um dos itens constantes da L4
L1 que foram classificados como tipo “A” ou e, por meio desse questionário, foram obtidas
“B”, de acordo com a lei de Pareto, em rela- informações qualitativas, observando-se uma
ção ao potencial de danos ao meio ambiente escala de 1 a 5, conforme o exemplo de per-
causados com o seu descarte de maneira gunta da figura 4.
inadequada. As respostas tiveram suas médias classifi-
Da mesma forma, foi aplicada uma nova cadas em: Q1, restrições impeditivas, quan-
classificação em L1 de acordo com o valor da do a média das respostas for menor que 2;
coluna “Valor Financeiro Descartado”, que é o Q2, Restrições a serem contornadas, quando
resultado da multiplicação do peso da maté- a média das respostas for entre 2 e 4; Q3,
ria-prima descartada pelo seu valor médio de observações positivas, quando a média das
mercado. Essa classificação gerou a lista L3, respostas for maior que 4.
na qual se encontram os itens de L1 classifica- Após a aplicação dos questionários, via
dos como classe “A” e “B”, de acordo com a correio eletrônico para diversos agentes em
lei de Pareto, em relação ao valor financeiro várias OM, e também pessoalmente, foram
de suas matérias-primas pós-consumo. obtidas 123 (cento e vinte e três) respostas.
A intercessão dos itens de melhor classifi- Com relação ao processo de amostragem da
cação nas listas L2 e L3 formou a relação L4, população pretendida, os questionários foram
que lista, em ordem de prioridade, conside- aplicados em um grupo selecionado qualitati-
rando-se apenas as informações quantitativas, vamente pelo autor apenas, ou seja, não terá
quais seriam os itens em que se alcançariam, efeito estatístico de amostragem apesar de o
com a operação da CLR, os maiores retornos número de entrevistados ter sido significativa-
ambientais e financeiros. mente grande e diversificado tanto geografica-
Fase 3: Nessa última fase da pesquisa, mente (diversas OM) quanto no que se refere
após ter conhecimento dos itens constantes a graduações e funções exercidas.
da L4, partiu-se para a fase de questionários Dessa forma, foram eliminados da L4 os
e entrevistas com agentes de ambas as partes itens que obtiveram restrições impeditivas,
do SAbM, ou seja, clientes e operadores do gerando, após estas exclusões, outra lista
20 ACANTO EM REVISTA
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artigo selecionado
chamada de L5 que se responde à pergunta encontraram-se diferenças de composição.
de pesquisa sobre a existência de itens em Por exemplo: o item “Sapato Preto Masculino
que pode se operar uma CLR com alto grau TAM. 37” não tem o mesmo peso do item
de preservação ambiental e algum retorno “Sapato Preto M. TAM. 44”, mas ambos fo-
financeiro oriundo de sua venda. ram agrupados como sendo componentes de
Da lista L5, foram retirados os itens com um único item em que se levou em conside-
restrições do tipo Q2 e mantidos apenas os ração o peso médio de todos os itens com a
itens do tipo Q3, chegando-se, assim, à lis- nomenclatura “Sapato Preto”.
ta L6 que responde a segunda pergunta de Outra dificuldade encontrada foi que
pesquisa, apontando os melhores itens em que alguns itens possuem composição diversifi-
se pode operar uma CLR com os menores im- cada com vários tipos de matérias-primas
pactos de mudança ou custos de investimento. reaproveitáveis, como o item “Elemento Filtro”,
composto por papelão, borracha e, algumas
4. ANÁLISE DE DADOS vezes, por metais. Nesses itens, apenas se
Tendo sido concluída a primeira fase da considerou uma de suas matérias-primas, a
pesquisa que se propôs a listar os principais predominante em todos os grupos, que, nesse
itens em termos de movimentações de cada caso, foi o papelão.
gerência do CCIM com base no movimento Uma série de medições, consultas a ca-
do ano de 2014 apenas, cabe ressaltar que tálogos do banco de dados do SINGRA,
os itens das gerências de Munição e CLG médias, pesagens e arredondamentos foram
(Combustíveis Lubrificantes e Graxas) não pu- feitos para se chegar aos dados da forma que
deram ser trabalhados nesta pesquisa devido ficaram dispostos na tabela L1, constante do
ao grau de sigilo conferido aos seus dados. “ANEXO A”, com um percentual de erros pe-
Algumas dificuldades para se fazer a correta queno que não viessem a comprometer os re-
seleção de itens foram encontradas, pois, mui- sultados apontados pela pesquisa. Para isso,
tos deles, principalmente os de sobressalentes, também foi utilizado, na coluna de percentual
são, apesar de semelhantes, fisicamente muito de aproveitamento do item, sempre um valor
diferentes na prática. Na tarefa de agrupar os não superior a cinquenta por cento, de modo
itens por semelhança de nomenclatura, tama- que não fiquem os usuários do material com
nho, matéria-prima, etc., algumas simplifica- uma taxa de reaproveitamento acima da real
ções precisaram ser feitas para poder realizar a capacidade de realização.
análise. Como exemplo, pode ser citado o item Assim sendo, por exemplo, o item “Papel
“Parafuso” que possui 1.893 P.I. (números de A4”, mesmo sabendo que seria possível reci-
estoque) diferentes com a mesma nomenclatu- clar um valor maior que os 50% fornecidos,
ra, sendo, entre eles, encontrados tipos de ma- não se pretendeu, com esta pesquisa, colocar
téria-prima e dimensões diferenciadas. Assim, um percentual superior a esse, por acreditar
muitos itens, apesar de ter outras nomenclatu- que esse resultado não será facilmente alcan-
ras, porém as mesmas dimensões e a mesma çado em um primeiro momento. Em outros
composição que os “Parafusos”, tiveram que itens, como o “Detergente 500Ml”, verificou-
ser descartados de maneira que fosse possível -se que apenas a sua embalagem poderia ser
agrupar por tipo de item para se mensurarem facilmente reciclada, e, assim, como o peso
seus dados e, posteriormente, classificá-los. da embalagem (16,5 gramas) corresponde
Até mesmo nos grupos em que foi a apenas 3,12% do total do peso do pro-
possível organizar por itens semelhantes, duto, verificado no laboratório, pelo mesmo
ACANTO EM REVISTA 21
E M R E V I S TA
artigo selecionado
princípio do exemplo anterior, dos 50% de pesquisa com a classificação ABC pelo prin-
reaproveitamento, foi considerado apenas cípio da análise de Pareto, de acordo com a
1,5% como taxa de reaproveitamento de tal coluna “Dano Ambiental”.
item. Esse princípio foi aplicado a diversos Essa coluna é representada por um valor
itens da tabela. numérico resultado da multiplicação do peso
Listados, então, todos os 48 (quarenta e total dos itens fornecidos pelo percentual de
oito) itens ou grupos de itens apontados pelas reaproveitamento e também pelo número de
gerências de material do CCIM para serem anos que esse item leva para se decompor no
avaliados, após o levantamento de dados meio ambiente. O valor numérico aqui tratado
mencionado anteriormente para a formação é meramente um valor escalar, não se trata
da listagem L1, iniciou-se a segunda fase da de valores financeiros ou mesmo ambientais.
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artigo selecionado
Tabela 3: Classificação segundo valor de venda de resíduos descartados – L3
Percentual Preço do Valor
ITEM QT. ANO (KG) RESÍDUOS de aprovei- resíduo no financeiro Classificação ABC
tamento mercado descartado
ÓLEO DE SOJA 170.424,00 Óleo 50,00% R$ 0,30 R$ 25.564 A
PAPEL FORMATO A4 353.424,40 Papel 50,00% R$ 0,12 R$ 21.205 A
AGULHAS DESCARTÁVEIS 3.842,63 Metal 50,00% R$ 5,00 R$ 9.607 A
LUVAS CIRÚRGICAS 18.404,70 Borracha 50,00% R$ 0,60 R$ 5.521 A
SAPATO PRETO 29.367,54 Borracha 30,00% R$ 0,60 R$ 5.286 A
COPO PLÁSTICO 200ML 27.544,05 Plástico 50,00% R$ 0,30 R$ 4.132 A
PANO PARA LIMPEZA 53.550,00 Tecido 50,00% R$ 0,15 R$ 4.016 A
CALÇA CAMUFLADA 11.605,15 Sintético 50,00% R$ 0,45 R$ 2.611 B
FIVELA PARA CINTO 988,29 Metal 50,00% R$ 5,00 R$ 2.471 B
TOUCA CIRÚRGICA 29.556,30 Algodão 50,00% R$ 0,15 R$ 2.217 B
COMPRESSA DE GAZE 26.993,50 Algodão 50,00% R$ 0,15 R$ 2.025 B
SERINGAS 11.286,59 Plástico 50,00% R$ 0,30 R$ 1.693 B
CAMISETA BRANCA M/M 12.840,36 Algodão 50,00% R$ 0,15 R$ 963 B
CALÇÃO AZUL GINÁSTICA PR 3.558,05 Sintético 50,00% R$ 0,45 R$ 801 B
DESINFETANTE LÍQ. 5L 75.173,52 Plástico 1,50% R$ 0,70 R$ 789 B
SORO FISIOLÓGICO 150.524,12 Plástico 1,50% R$ 0,30 R$ 677 B
CANETA ESFEROGRÁFICA 4.326,68 Plástico 40,00% R$ 0,35 R$ 606 B
TOALHA DE BANHO 7.278,80 Algodão 50,00% R$ 0,15 R$ 546 B
DETERGENTE LÍQ. 24 UN 500 ML 47.376,00 Plástico 1,50% R$ 0,70 R$ 497 B
MEIA PRETA 1.475,50 Sintético 50,00% R$ 0,45 R$ 332 B
CAMISETA BRANCA GINÁSTICA 4.403,36 Algodão 50,00% R$ 0,15 R$ 330 B
PARAFUSO 103,72 Metal 50,00% R$ 5,00 R$ 259 B
Fonte: Elaboração própria, com dados obtidos do SINGRA e das fontes citadas no texto.
Feita essa classificação, chegou-se à lista L2 da classificação em L3, será levado em con-
na qual são encontrados os itens listados na sideração o valor da coluna “Valor Financeiro
Tabela 2, que são os classificados como de Descartado”, que é o resultado da multiplicação
classe “A” e “B”, de acordo com o método de entre o peso total de itens fornecidos pelo per-
classificação ABC, segundo a coluna “dano centual de aproveitamento e o valor financeiro
ambiental”. do Kg da matéria-prima no mercado de sucatas.
Da mesma forma como se fez a L2 a partir Feita essa classificação, chegou-se à lista
da L1, será feita a L3 a partir da mesma rela- L3 na qual são encontrados os itens classifi-
ção L1. Contudo, agora, para a confecção cados como sendo das classes “A” ou “B”,
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artigo selecionado
24 ACANTO EM REVISTA
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artigo selecionado
Tabela 5 – Itens agrupados pelos grupos de respostas após o questionário aplicado.
L4 – Itens com resultado Q1, restrições L5 – Itens com resultado Q2, com L6 – Itens com resultado Q3, com fácil
impeditivas ou de difícil execução restrições na execução a serem transpostas execução e ideais para implementação
imediata
AGULHAS DESCARTÁVEIS SAPATO PRETO ÓLEO DE SOJA
LUVAS CIRÚRGICAS CANETA ESFEROGRÁFICA COPO PLÁSTICO 200ML
SERINGAS FIVELA PARA CINTO PAPEL FORMATO A4
DESINFETANTE LÍQ. 5L SORO FISIOLÓGICO
PANO PARA LIMPEZA DETERGENTE LÍQ. 24 UN 500 ML
CALÇA CAMUFLADA
COXA DE FRANGO
Fonte: Elaboração própria, após os resultados da Fase 3 (questionários) nos itens de L4.
ACANTO EM REVISTA 25
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artigo selecionado
após seu consumo; as embalagens plásticas fardamento, subsistência, etc.), bem como
de detergentes, soro fisiológico e outros itens uma análise do custo/benefício da operação
que as utilizem; celulose oriunda de papel tipo da CLR para cada item ou classe de itens.
A4 picotado; e o plástico oriundo de copos Dessa forma, longe de um esgotamento do
descartáveis. tema sobre LR na MB, ou mesmo no SAbM,
Além disso, é importante frisar que os nú- este estudo não somente apontou uma relação
meros apresentados representam apenas uma de itens pelos quais se pode iniciar a operação
fração dos reais resultados que podem ser de uma CLR com resultados significativos mas
obtidos com a operação de uma CLR, pois, também indicou outra relação de assuntos para
como outra limitação da pesquisa, a CLR a decisões ou pesquisas futuras acerca do tema de
ser montada para, por exemplo, receber resí- LR. Essas discussões e ideias contribuirão para
duos do item “Papel tipo A4” também poderá o surgimento de mudanças, à luz dos temas de
atender a outros itens que tenham a celulose preservação do meio ambiente e da sustenta-
de papel branco como um de seus resíduos, bilidade, no conceito de eficiência que hoje é
mas que não foram levados em consideração utilizado no cotidiano das nossas atividades.
devido ao volume menor de movimentações
como o item “Papel Ofício”. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Outro caso a ser mencionado no que se ALVAREZ, Albino Rodrigues. O perma-
refere à existência de um volume maior de ou- nente desafio do lixo. Revista Desafios do
tro resíduo produzido por um item em estudo Desenvolvimento, Brasília, IPEA, ano 9, n. 72,
é o do item “Óleo de Soja” que produz, além p.47, 2012.
do óleo, o resíduo plástico oriundo de suas BERGAMASCO, C. A riqueza dos Reciclados.
embalagens, similar ao do item “Detergente Pequenas Empresas Grandes Negócios. São
500Ml”; que não foi considerado para efeito Paulo: Número avulso, Editora Globo, 2003.
desta pesquisa. BRASIL. Lei número 12.305, de 02 de agosto
Os demais itens componentes de L5, mas de 2010. Esta lei instituiu a Política Nacional
não componentes de L6, itens em sua maioria de Resíduos Sólidos. Diário Oficial da
de fardamento e material comum, são aque- República Federativa do Brasil, Brasília, DF,
les que, apesar de possuírem um potencial P.03 de 03 de agosto de 2010.
alto de degradação ambiental e algum valor BRASIL. Marinha do Brasil. Secretaria Geral
econômico no mercado de sucatas, possuem, da Marinha. Normas para o Abastecimento
por motivos que estão além do alcance desta na Marinha SGM-201, 6. rev., Brasília, DF,
pesquisa, alguma restrição para a operação 2009.
da CLR pelo SAbM em um primeiro momento. COUNCIL OF LOGISTICS MANAGEMENT.
Contudo, esses itens, sem dúvidas, podem ser Normas. Disponível em: <www.clml.org>
melhor explorados por futuras pesquisas e tam- Acesso em: 11 set. 2015.
bém poderão ser operacionalizados após al- GARCIA, Manoel Garcia. Logística Reversa:
gumas modificações de procedimentos ou de uma alternativa para reduzir custos e criar va-
estruturas necessárias ao seu funcionamento. lor. UNIP, XIII SIMPEP, São Paulo, 2006.
Para futuras pesquisas sobre o tema, suge- LEITE, Paulo Roberto. Logística Reversa: meio
re-se a réplica da aplicação deste estudo de ambiente e competitividade. São Paulo:
forma mais aprofundada e menos generalista Pertince Hall, 2003.
em, por exemplo, cada classe de item sepa- MACHADO, P. G. S.; LEONEL, J. N.
radamente (sobressalentes, material comum, Práticas de reciclagem de resíduos têxteis:
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artigo selecionado
uma contribuição para a gestão ambiental produção a partir da lei de Pareto. Publicado
no Brasil. Publicado por Competência, Porto no XXIV Encontro Nacional de Engenharia de
Alegre, RS, v.7, n.1, p. 129-145, 2014. Produção, Florianópolis, SC, Brasil, 2004.
ROGERS, D. S.; TIBBEN-LEMBKE, Ronald S. VALLE, Roberto; SOUZA, Ricardo Gabbay de.
Going backwards: reverse logistics practices Logística reversa processo a processo. São
and trends. Reno, Nevada: Reverse Logistics Paulo: Atlas, 2013.
Executive Council, 1998. WCED (World Comission on Environment and
SLACK, N.; et al. Administração da produção. Development). Our Common Future (Re- port).
São Paulo: Atlas, 1999. United Nations, Abril 1987. Disponível em:
SILVA, A. L.; GANGA, G. M. D.; JUNQUEIRA, <www.un-documents.net/our-commun-future.
R. P. Como determinar sistemas de controle da pdf>. Acessado em: 15 out. 2015.
Anexo A: Dados relativos à pesquisa realizada nos principais itens de movimentação do SAbM.
Percentual Preço do Tempo de
Dano ambiental
ITEM QT. ANO (KG) RESÍDUOS de aproveita- resíduo no decomposição
estimado
mento mercado no meio (anos)
AÇÚCAR 509.540,00 Plástico 0,10% R$ 0,30 100 50954
AGULHAS DESCARTÁVEIS 3.842,63 Metal 50,00% R$ 5,00 200 384263
ARRUELA 38,5 Metal 50,00% R$ 5,00 200 3850
BISCOITO CREAM CRACKER 65.422,00 Plástico 0,10% R$ 0,30 100 6542
CALÇA CAMUFLADA 11.605,15 Sintético 50,00% R$ 0,45 3 17408
CALÇAO AZUL GINÁSTICA PR 3.558,05 Sintético 50,00% R$ 0,45 3 5337
CAMISETA BRANCA GINÁSTICA 4.403,36 Algodão 50,00% R$ 0,15 1 2202
CAMISETA BRANCA M/M 12.840,36 Algodão 50,00% R$ 0,15 1 6420
CANETA ESFEROGRÁFICA 4.326,68 Plástico 40,00% R$ 0,35 450 778802
COMPRESSA DE GAZE 26.993,50 Algodão 50,00% R$ 0,15 1 13497
COPO PLÁSTICO 200ML 27.544,05 Plástico 50,00% R$ 0,30 100 1377203
COXA DE FRANGO 724.806,71 Plástico 0,10% R$ 0,30 100 72481
DESINFETANTE LIQ. 5L 75.173,52 Plástico 1,50% R$ 0,70 450 507421
DETERGENTE LÍQ. 24 UN 500 ML 47.376,00 Plástico 1,50% R$ 0,70 450 319788
DICLOFENACO 1.364,07 Papelão 10,00% R$ 0,33 0,5 68
DIPIRONA 5.195,84 Papelão 10,00% R$ 0,33 0,5 260
ELEMENTO FILTRO 360,2 Papelão 30,00% R$ 0,33 0,5 54
EXTRATO DE TOMATE 133.102,80 Plástico 0,10% R$ 0,30 100 13310
FARINHA 104.020,00 Plástico 0,10% R$ 0,30 100 10402
FEIJÃO 375.300,00 Plástico 0,10% R$ 0,30 100 37530
FILÉ DE PEITO DE FRANGO 658.735,87 Plástico 0,10% R$ 0,30 100 65874
CONTINUA >>
ACANTO EM REVISTA 27
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artigo selecionado
Anexo A: Dados relativos à pesquisa realizada nos principais itens de movimentação do SAbM.
FIVELA PARA CINTO 988,29 Metal 50,00% R$ 5,00 200 98829
FUSÍVEL 5,51 Eletrônico 50,00% R$ 1,20 10000 27550
ILHÓS BORRACHA 4,44 Borracha 50,00% R$ 0,60 10000 22200
INSIGNIA BRAÇO AZUL-FERR 145,57 Algodão 50,00% R$ 0,15 1 73
JUNTA 112,62 Borracha 30,00% R$ 0,60 10000 337860
LÂMPADA FLUORESCENTE 124,15 Eletrônico 50,00% R$ 1,20 10000 620750
LÂMPADA INCANDESCENTE 128,62 Eletrônico 50,00% R$ 1,20 10000 643100
LEITE EM PÓ 215.120,00 Plástico 0,10% R$ 0,30 100 21512
LUVAS CIRÚRGICAS 18.404,70 Borracha 50,00% R$ 0,60 10000 92023500
MÁSCARA CIRÚRGICA 2.896,51 Algodão 50,00% R$ 0,15 1 1448
MEIA BRANCA ALGODÃO 2.352,36 Algodão 50,00% R$ 0,15 1 1176
MEIA PRETA 1.475,50 Sintético 50,00% R$ 0,45 3 2213
ÓLEO DE SOJA 170.424,00 Óleo 50,00% R$ 0,30 10000 852120000
OMEPRAZOL 969,89 Papelão 10,00% R$ 0,33 0,5 48
PANO PARA LIMPEZA 53.550,00 Tecido 50,00% R$ 0,15 1 26775
PAPEL FORMATO A4 353.424,40 Papel 50,00% R$ 0,12 0,5 88356
PAPEL HIGIÊNICO 33.460,00 Papelão 0,10% R$ 0,30 0,5 17
PARAFUSO 103,72 Metal 50,00% R$ 5,00 200 10372
PORCA 25,85 Metal 50,00% R$ 5,00 200 2585
REBITE 3,69 Metal 50,00% R$ 5,00 200 369
SACO PARA LIXO DE 30 L 1.657,00 Plástico 0,10% R$ 0,30 100 166
SAL 67.050,00 Plástico 0,10% R$ 0,30 100 6705
SAPATO PRETO 29.367,54 Borracha 30,00% R$ 0,60 10000 88102620
SERINGAS 11.286,59 Plástico 50,00% R$ 0,30 100 564330
SORO FISIOLÓGICO 150.524,12 Plástico 1,50% R$ 0,30 100 225786
TOALHA DE BANHO 7.278,80 Algodão 50,00% R$ 0,15 1 3639
TOUCA CIRÚRGICA 29.556,30 Algodão 50,00% R$ 0,15 1 14778
Fonte: Elaboração própria, com dados obtidos do SINGRA e das fontes citadas no texto.
28 ACANTO EM REVISTA
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artigo selecionado
Autoria: Capitão-Tenente (Intendente
da Marinha) Diogo Cabral de Almeida
Orientador: Capitão de Mar e
Guerra (RM1-Intendente da Marinha)
Jean Marc Costa – CIANB
Coorientador: Capitão-Tenente
(Intendente da Marinha) Thadeu da
Costa Gigante – CCIM
FORNECIMENTO DE ITENS DE
FARDAMENTO NA MARINHA DO
BRASIL POR INTERMÉDIO DO
E-COMMERCE B2C: ANÁLISE DE
PARÂMETROS – TEMPO, CUSTO
DE TRANSPORTE E DESEMPENHO
– PARA A CONTRATAÇÃO DE UM
OPERADOR LOGÍSTICO
Resumo: A Marinha do Brasil tem buscado adaptar-se às práticas inovadoras do mercado empresarial, sendo uma delas o e-commerce. Para isso, é
necessária uma estrutura logística bem elaborada, a fim de que o atendimento ao cliente-militar alcance um bom nível de serviço a ser estabelecido
como ideal pelo Sistema de Abastecimento da Marinha (SAbM). Essa estrutura envolve desde o pedido via intranet até a entrega do material dese-
jado ao consumidor. Dessa forma, este artigo objetiva esclarecer os conceitos envolvidos nesse tipo de comércio, bem como analisar parâmetros que
influenciam diretamente na contratação de um operador logístico com o intuito de realizar o transporte de uniformes adquiridos on-line na MB, a
partir do modelo proposto por Pastore (2010).
Palavras-chave: Fardamento; E-commerce; Marinha do Brasil; Parâmetros; Operador Logístico.
ACANTO EM REVISTA 29
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artigo selecionado
30 ACANTO EM REVISTA
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artigo selecionado
METODOLOGIA últimas décadas. As pessoas estão inseridas
O presente estudo foi conduzido com base numa comunidade global de fácil e rápido
na metodologia proposta por Vergara (2013), se- acesso às informações.
gundo esta, a pesquisa é classificada quanto aos No mundo dos negócios, a partir de
meios. Ainda de acordo com Lakatos e Marconi 1994, as possibilidades de negócios na
(1991), para a obtenção de dados podem ser Web (teia, em inglês) foram plenamente
utilizados três procedimentos, que foram adotados percebidas pelos agentes econômicos,
nessa pesquisa: pesquisa bibliográfica; documen- iniciando, assim, uma nova fase de cunho
tal; e contatos diretos ou pesquisa de campo. nitidamente comercial.
Dessa forma, a pesquisa foi considerada Entre as literaturas pesquisadas, destaca-
bibliográfica por ter vislumbrado a necessida- -se o conceito citado por Freire (2005 apud
de de realização de uma revisão literária so- Pastore, 2010) que afirma ser o comércio
bre os seguintes temas: Comércio eletrônico; eletrônico um modo de realizar compras e
Prestadores de serviços logísticos; Desafios vendas de produtos e serviços por consumi-
do comércio eletrônico; Tempo do Ciclo do dores ou companhias através de transações
Pedido; Custos de transporte; e Medição de eletrônicas. De forma mais completa, en-
desempenho. Além disso, ela foi considerada globando toda a Cadeia de Suprimentos,
documental pela análise realizada, que con- conceitua-se:
tou com dados coletados a partir de publica-
CE, ou e-commerce, é a realização de
ções normativas da Força e documento como
toda a cadeia de valor dos processos de
ofício, emitido internamente na MB.
negócios em um ambiente eletrônico, por
Por fim, caracterizou-se como uma pesqui-
meio da aplicação intensa de tecnologias
sa de campo por ter sido o estudo baseado
de comunicação e de informação, atenden-
em dados coletados junto à gerência de far-
do os objetivos de negócio. É a compra e
damento do Centro de Controle de Inventário
venda de informações, produtos e serviços
da Marinha (CCIM) e junto ao Depósito
por meio da rede eletrônica (GOMES E
Naval no Rio de Janeiro (DepNavRJ). Além
RIBEIRO, 2004, p. 159).
disso, por ter sido aplicado um questionário
junto aos militares e servidores lotados em
Dentre as principais vantagens deste tipo
algumas Organizações Militares (OM) pos-
de comércio quando comparado com a
suidoras de PDU/ PEU e por ter sido colhidas
forma de transação tradicional, aonde as
informações por meio de acessos realizados
pessoas vão até a loja para realizarem suas
pelo autor a sites de empresas que atuam no
compras, Novaes (2007) ressalta: a inserção
varejo eletrônico, como: Lojas Americanas;
instantânea no mercado, onde os produtos
Submarino; C&A; e Casa Marítima¹, a fim
ou serviços ficam imediatamente expostos;
de conhecer o tempo médio utilizado no
relações mais ágeis, entre consumidores e
mercado para a entrega do tipo de material
vendedores; redução da assimetria infor-
abordado, vide a tabela 4.
macional, pois, permite a análise rápida e
abrangente das ofertas pelos consumidores;
REFERENCIAL TEÓRICO
e a redução da burocracia, onde o uso de
O comércio eletrônico (e-commerce) papéis é reduzido, se ganha tempo, os erros
Com o advento da internet, ocorreram diminuem e custos operacionais e administra-
diversas transformações na sociedade nas tivos são cortados.
ACANTO EM REVISTA 31
No Brasil, esse tipo de comércio vem ganhando força a cada ano, movimentando a
economia e ocupando cada vez mais os espaços das vendas tradicionais, conforme figura 1:
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artigo selecionado
Tabela 1 – Tipos de Consumidores
CONSUMIDOR E-COMMERCE CONSUMIDOR TRADICIONAL
ESPERA QUE O CONTATO FÍSICO COM O PRODUTO
NA MAIORIA DOS CASOS, SABE O QUE QUER
OU O SERVIÇO O AJUDE NA DEFINIÇÃO
RARAMENTE ACEITA SUBSTITUIÇÕES DE PRODUTOS MAIS ABERTO A EVENTUAIS SUBSTITUIÇÕES DE PRODUTOS
EXTREMAMENTE OBJETIVO E RACIONAL MENOS OBJETIVO, MUITAS VEZES, EMOTIVO
MUITO BEM INFORMADO ACERCA DO
NECESSITA DE REFORÇO DE INFORMAÇÃO
PRODUTO OU SERVIÇO DESEJADO
TEMPO NÃO É IMPRESCINDÍVEL. ENCARA A COMPRA
TEMPO É UM FATOR FUNDAMENTAL.
COMO LAZER. FILAS PARA ESTACIONAR O CARRO
QUER PRATICIDADE
OU PARA PAGAR A CONTA FAZEM PARTE
POUCO TOLERANTE ÀS FALHAS NOS PRODUTOS OU SERVIÇOS MAIS TOLERANTE
NÃO PECHINCHA, PORQUE JÁ COMPAROU PREÇOS PECHINCHAR FAZ PARTE. ACREDITA QUE O “OLHO NO OLHO” É
POR MEIO DOS MECANISMOS DE INTERNET UMA CONDIÇÃO ESSENCIAL PARA O FECHAMENTO DA VENDA
RELACIONAMENTO É FUNDAMENTAL. QUER SER
EVITA CONTATO FÍSICO E É AVESSO A VENDEDORES
OUVIDO, ÀS VEZES, BUSCA PAPARICAÇÃO
MAIS DISPOSTO A RECLAMAR, CASO NÃO SEJA
MAIS FLEXÍVEL
CUMPRIDO AQUILO QUE FOI PROMETIDO
RECEOSO QUANTO AO USO OU À APLICAÇÃO
ADEPTO ÀS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS
DAS NOVAS TECNOLOGIAS
Fonte: Revista Mundo Logística (2015).
ACANTO EM REVISTA 33
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artigo selecionado
que prestam serviços especializados para qualquer tipo de serviço logístico para terceiros
acompanhar essa globalização. por mais simples que seja, não refletindo neces-
Mas o aumento da terceirização se deve sariamente os avanços tecnológicos e operacio-
também a outros fatores. De acordo com Sink nais que dão sustentação ao moderno SCM.
& Langley (1996 apud Novaes, 2007), para Para tal, surge a figura do Operador
atingir os novos mercados e oferecer melhor Logístico que, segundo a Associação
nível de serviço aos clientes; as firmas estão Brasileira de Movimentação e Logística (ABNL)
concentrando seus esforços nas atividades apud Trevia e Reis (2001), é definido da se-
centrais, as chamadas “core competence”, guinte forma:
deixando para os Prestadores de Serviços [...] o fornecedor de serviços logísticos,
Logísticos (PSL) as demais funções. especializado em gerenciar todas as ati-
Além disso, Detoni (2001) sugere que a vidades logísticas ou parte delas nas várias
busca pela redução dos custos logísticos é fases da cadeia de abastecimento de seus
uma das razões mais importantes dessa ten- clientes, agregando valor ao produto dos
dência. De acordo com Laarhovenet et al. mesmos, e que tenha competência para, no
(2000apud Novaes, 2007), discutindo uma mínimo, prestar simultaneamente serviço nas
pesquisa realizada com embarcadores em três atividades consideradas básicas: con-
diversos países da Europa, a mais importante trole de estoques, armazenagem e gestão de
razão estratégica para estes últimos estarem transporte (grifo nosso).
interessados em terceirizar suas atividades
logísticas é a necessidade de reduzir custos e Colin e Fabbes-Costes (1995 apud
aportes de capital. Novaes, 2007) classificam as atividades
Sendo assim, “diversas definições de pres- logísticas oferecidas pelos PSL quanto à sua
tadores logísticos são normalmente apresenta- natureza, de acordo com a tabela 2.
das na literatura técnica. Este tipo de operação Ainda segundo os autores, é comum que
é denominado, em inglês, third-partylogistics alguns operadores se especializem em de-
(3PL) ou logisticsproviders (provedores logísti- terminadas atividades que são encontradas
cos)” (NOVAES 2007). em vários pontos da cadeia de suprimentos,
Segundo Figueiredo, Fleury, e Wanke, e isso será de suma importância dentro do
(2006), o termo PSL é comumente utilizado por modelo de implantação do e-commerce a
alguns para descrever a empresa que presta ser analisado.
34 ACANTO EM REVISTA
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artigo selecionado
Modelo de implementação do “A implantação desse canal de vendas,
B2C para a venda de uniformes na MB, se aproxima, destarte, às doutrinas
na Marinha do Brasil vinculadas ao modelo vitrine on-line ou loja
Conforme visto anteriormente, a MB apre- virtual” (DEITEL et al., 2004). O militar,
senta uma estrutura bem similar a de um mer- assim, pode consultar um catálogo de pro-
cado de varejo na sua cadeia de suprimentos dutos, efetuar suas compras, acertar o pa-
em se tratando de uniformes. gamento em um ambiente seguro e fornecer
Com isso, foi proposto por Pastore (2010) seus dados para a entrega, tudo por meio
um modelo de comercialização desse tipo de um site da Intranet que funciona no es-
de material e, tendo em vista, o aparato, em quema 24/7.
termos de estrutura logística (física e de pro- De acordo com Pastore (2010), a esse site,
cessos) existente na Marinha, sugeriu-se que a estará integrado o Sistema de Informações
implantação do e-commerce B2C para venda Gerenciais do Abastecimento (SINGRA), no
de uniformes fosse estabelecida como mais um qual estarão sendo desencadeadas todas
canal de negociação. as operações de suporte informacional para
Entre os números do comércio eletrônico a logística de atendimento do pedido. Essa
brasileiro, um dado, em específico, possui plataforma integra não só os diversos setores e
grande relevância e corrobora para o estudo: departamentos como também todos os dados
a categoria Moda e Acessórios lidera as ven- e processos do Sistema de Abastecimento da
das em termos de volume de pedidos, corres- Marinha (SAbM), sob a perspectiva funcional
pondendo a 17% do total, conforme pode ser e sistêmica, além, é claro, de fazer uma inter-
observado na figura 2. face com o SISPAG – Sistema de Pagamento
Logo, nota-se que a venda de itens de da Marinha, que gerencia descontos e pro-
vestuário por meio eletrônico é uma tendência ventos financeiros de cada militar e efetua o
do mercado. pagamento da compra.
Fonte:
Fonte: www.e-commerce.org.br
www.e-commerce.org.br
Logo, nota-se que a venda de itens de vestuário por meio eletrônico é uma tendência do
ACANTO EM REVISTA 35
mercado.
E M R E V I S TA
artigo selecionado
Fonte: Marques
Fonte: Marques (2014). (2014).
Por EMfim,
36 ACANTO na pesquisa de Pastore (2010), constou que a MB não tem uma estrutura logísti
REVISTA
artigo selecionado
dado que já a faz transferir parte dessa ativi- quais se destacam: o tempo de entrega e o custo
dade a terceiros. de transporte quanto ao critério de seleção
Ao adotar o e-commerce B2C, essa neste quesito. Além disso, esse contrato fun-
transferência far-se-á ainda mais presente e cionará com uma ferramenta gerencial com a
necessária, em virtude da maior abrangên- função de fixar exatamente como o processo
cia do serviço e de entregas pulverizadas. será conduzido, logo será extremamente im-
O referido autor conclui que a contratação portante um terceiro parâmetro: o desempenho,
de um PSL para apoio na entrega física que visa medir e controlar o serviço da contrata-
suprirá essa necessidade, além de transferir da e servir de ferramenta para os Acordos de
decisões estratégicas (escolha de modais, Níveis de Serviço.
seleção e negociação com transportadores
O Tempo: Prazo de entrega do material
e política de consolidação de cargas) e
No comércio tradicional, tem sido acei-
operacionais (planejamento de embarques,
tável entregar os produtos ao cliente dentro
programação de veículos, roteirização, au-
de uma janela de tempo mais ampla após a
ditoria de fretes e gerenciamento de avarias)
realização de pedido. “Mas, para a maioria
(FLEURY, 2002 apud ibid.) para o especia-
das empresas ponto-com, como são chama-
lista contratado.
das aquelas que trabalham com e-commerce,
Dessa forma, a gerência da Força se fun-
essa possibilidade referente ao tempo não
damentará na cobrança pelos níveis de servi-
é satisfatória” (CALTAGIRONE, 2000 apud
ço, entre outros parâmetros que o contrato de
NOVAES, 2007, p. 94). Em alguns casos, o
terceirização contemplar, através de sistemas
consumidor não fica satisfeito em saber que
de medidas de desempenho e controle.
seu pedido vai ser entregue no mesmo dia,
sem especificar a hora.
ANÁLISE DE DADOS
Assim, a prévia definição de uma janela
A importância de parâmetros por de tempo para a entrega do pedido é, muitas
ocasião da contratação de um vezes, obrigatória. É claro que esse requisito
Operador Logístico (OL) coloca restrições adicionais no planejamento
Indubitavelmente, não são desprezíveis os das operações logísticas. Deve-se lembrar de
riscos inerentes a um processo de aquisição que o planejamento agora é muito mais dinâ-
de serviços, mas um planejamento adequado mico do que o tradicional, pois os pedidos
do processo pode reduzi-los drasticamente. são frequentemente submetidos on-line. Isso é
Novaes (2007) afirma que o estabeleci- muito diferente das condições que prevaleciam
mento de regras permite eliminar aqueles no comércio tradicional, no qual as operações
que não satisfazem critérios estabelecidos podiam ser planejadas com folga.
a priori. Sendo assim, tendo em vista que a Nesse context, surge o conceito de uma
Marinha é um órgão público e, consequen- importante variável relacionada ao serviço
temente, tem a necessidade de conduzir um on-line, chamada Tempo do Ciclo do Pedido
processo licitatório, com fulcro nas leis de lici- (TCP), que Ballou (2006) define como sendo
tação, para estabelecer a contratação de um o tempo transcorrido entre o momento de
prestador de serviços logísticos; é de extrema pedido do cliente, a ordem de compra ou a
importância definir o objeto do contrato a requisição do serviço, e aquele da entrega
ser elaborado, levando em consideração do produto ou serviço ao cliente, conforme
parâmetros bem definidos e consistentes, dos a tabela 3.
ACANTO EM REVISTA 37
chamada Tempo do Ciclo do Pedido (TCP), que Ballou (2006) define como sendo o tempo
transcorrido entre o momento de pedido do cliente, a ordem de compra ou a requisição do serviço, e
aquele da entrega do produto ou serviço ao cliente, conforme a tabela 3:
E M R E V I S TA
artigo selecionado
Ao se
Ao se analisar oo processo
processo proposto
proposto de deaplicaçãoUeharana venda(2001)de fardamentos,
vai dizer que verificou-se
a inadequa- por
meioaplicação na venda de fardamentos, verifi-
de um estudo realizado por Pastore, Guimarães ção das promessas pode causar frustração
e Diallo (2010) que o tempo de processamento
cou-se por meio de um estudo realizado por nas expectativas dos clientes, o que pode ser
interno, desde
Pastore, a Seção edeDiallo
Guimarães Controle (2010)do que
Departamento
o maisdeprejudicial
Fardamento paradoa CCIM
empresaatévirtual
a Seção
do de
tempo do
Expedição deDepósito
processamento interno,dadesde
de Fardamento Marinha noque RioterdeumJaneiro
tempo(DepFMRJ),
de entrega maisdadaelevado,
a existência
a Seção de Controle do Departamento ou seja, a empresa necessita conhecer seus
do material em estoque, é de aproximadamente 50 processos
de Fardamento do CCIM até a Seção de
minutos. O que implica em dizer que a maior
e ter mensurável o tempo real em
parteExpedição
da composição do TCPde
do Depósito hoje está no efetivo
Fardamento da transporte do material.dando conhecimento ao
cada operação,
Marinha no Rio de Janeiro (DepFMRJ), dada consumidor e evitando possíveis frustrações
Quanto à importância do tempo de ciclo do pedido para a cadeia logística, vale observar
a existência do material em estoque, é de após a compra realizada.
alguns trechos citados por Kobayashi
aproximadamente 50 minutos. O que impli- (2000) em sua obra:
Dessa forma, nota-se a importância do
ca em dizer que a maior parte da composi- fator tempo na cadeia logística de qualquer
Também na oferta
ção do TCP hoje está no efetivo transporte de objetos e materiais, a rapidezAo
organização. é importante
traçar um para obter a satisfação
comparativo entre do
cliente. Os clientes, na realidade, tendem a pedir os produtos no último momento, mas
do material. os tipos de consumidores, a saber: tradicional
desejam o que foi pedido o mais rapidamente possível.
Quanto à importância do time
Se o lead tempo de ociclo
entre e e-commerce,
pedido recebido e a entrega percebemos
é longo, com que oso mesmos
certeza cliente não é
do pedido para a cadeia satisfeito. Frequentemente,
logística, vale ob-se o lead timeeste
tratam é breve, também
fator de formasediferente,
é de qualidade levemente
não sendo
baixa ou de preço
servar alguns trechos citados por Kobayashi elevado, o cliente acaba por escolher o produto que lhe
para o primeiro imprescindível, porém de mui- será entregue
antes. O lead time é verdadeiramente uma arma poderosa em nível de estratégia de venda.
(2000) em sua obra: ta relevância para o segundo.
A tabela 4 permite visualizar além do
Uehara (2001) vai dizer que
Também na oferta de objetos e materiais,
a inadequação das promessas pode causar frustração nas
tempo esperado pelos usuários do sistema no
expectativas
a rapidezdos éclientes,
importante o que
parapodeobterser mais prejudicial
a satis- atendimento paraa asuaempresa
demanda,virtual do que
o tempo médioter um
fação do cliente. Os clientes, na realidade, de entrega que o mercado varejista de ven-
tempo de entrega mais elevado, ou seja, a empresa necessita conhecer seus processos e ter
tendem a pedir os produtos no último mo- das de vestuários tem realizado e o tempo
mensurável
mento,o mastempo real oemquecada
desejam operação,
foi pedido o dando médio conhecimento
efetivo que o ao SAbMconsumidor
tem praticadoe evitando
no
mais
possíveis rapidamente
frustrações possível.
após a compra realizada. atendimento à demanda de uniformes na MB,
Se o lead time entre o pedido recebido e em que o mínimo e o máximo representam os
Dessa forma, nota-se a importância
a entrega é longo, com certeza o cliente
do fator tempo na cadeia logística de qualquer
limites do intervalo, em dias, que as entregas
não é satisfeito. Frequentemente, se o lead serão realizadas ou que o cliente espera para
time é breve, também se é de qualidade receber sua encomenda.
levemente baixa ou de preço elevado, o Ao se comparar de duas a duas as va-
cliente acaba por escolher o produto que riáveis da tabela acima, começando com o
lhe será entregue antes. O lead time é ver- tempo do SAbM e o tempo do mercado como
dadeiramente uma arma poderosa em nível referência em termos de atualização, nota-se
de estratégia de venda. que o primeiro varia em média de 61,2% a
38 ACANTO EM REVISTA
E M R E V I S TA
artigo selecionado
Tabela 4 – Tempo médio de atendimento
LOCALIZAÇÃO TEMPO MÉDIO DE ATENDIMENTO (dias)
mais do que o tempo realizado no segundo, menores, cerca de 4,39%, o que, possivel-
chegando, em alguns casos, a mais que o mente, representará um processo de decisão,
dobro, como é o caso de Brasília e Manaus, considerando o trade-off, nível de serviço
em que as médias do tempo de entrega no versus custos, bem como a real viabilidade
SAbM (Tb=12, 5 e Tm=26,5) são cerca de da entrega nos prazos desejados, atentando
127% e 178%, respectivamente, a mais que para a estrutura logística no Brasil.
o tempo no mercado. Dessa forma, mostra-se Portanto, tendo em vista a importância
uma divergência às práticas de negócio via desse parâmetro, é permitido afirmar que, ao
e-commerce extra MB. se estabelecer a intenção de uma contratação
Ainda traçando um comparativo do tempo dentro das regras aplicadas à Administração
do SAbM, agora com o tempo esperado pelo Pública, será necessária uma cautelosa para-
cliente-militar, conclui-se que o tempo aplicado metrização dos valores estabelecidos como
na cadeia de suprimentos de fardamentos, metas ou prazos de entrega a serem atendi-
hoje na MB, é insatisfatório, superando em dos pelo Operador Logístico contratado. Isso
aproximadamente 68,29% as expectativas porque, se esses prazos são muito curtos, a
dos clientes. Administração corre o risco de não encontrar
Em contrapartida, ao se analisar a variá- no mercado empresas que atendam às neces-
vel tempo de mercado com a variável tempo sidades elencadas; já, por outro lado, se são
esperado pelo consumidor, conclui-se que longos, poderão exceder as expectativas dos
aquele também supera as expectativas deste consumidores que são de fato aqueles que
último, entretanto, em termos percentuais muito movimentam esse tipo de sistemática.
ACANTO EM REVISTA 39
Essas informações corroboram com o conceito apresentado por Kobayashi (2000) que
afirma que o custo de transporte e entrega compõe o maior percentual na composição dos custos de
distribuição física, podendo, em algumas empresas, alcançar a marca de 60% do total, conforme a E M R E V I S TA
artigo selecionado
figura 4.
Figura 4 –4Percentual
Figura de composição
– Percentual dos dos
de composição custos totais
custos da distribuição
totais físicafísica
da distribuição
Fonte:
Fonte: Adaptado
Adaptado Kobayashi (2000)Kobayashi (2000)
Quase que unanimemente, as literaturas pesquisadas vão afirmar que, dentro do processo de
Custos
decisãode transporte
sobre transporte, as principais ou mais de um operador?
relevantes Neste
que irão caso, o diretamente
influenciar papel da nos
Segundo Ballou (2006), o transporte é uma Administração Naval será determinar que tipo
área fundamental de decisões no mix logístico de critério relativo ao custo de transporte será
e, como atividade logística, absorve a maior levado em consideração para crivar o opera-
percentagem dos custos. dor vencedor da licitação a ser elaborada.
Essas informações corroboram com o con- Portanto, levando em consideração que um
ceito apresentado por Kobayashi (2000) que dos fatores para a terceirização desta etapa
afirma que o custo de transporte e entrega da cadeia de suprimentos de fardamento é
compõe o maior percentual na composição a redução de custos, um critério relevante é
dos custos de distribuição física, podendo, em o maior percentual de descontos a partir de
algumas empresas, alcançar a marca de 60% uma tabela de preços especificada no edital e
do total, conforme a figura 4. avaliada pela Marinha como base de cálculo
Quase que unanimemente, as literaturas pes- para os valores percentuais a serem ofereci-
quisadas vão afirmar que, dentro do processo dos pelas empresas participantes do certame.
de decisão sobre transporte, as principais ou Para embasamento, é fundamental observar
mais relevantes que irão influenciar diretamente o contido no Decreto nº 7.892/2013: “De
nos custos de transporte são aquelas referentes acordo com o edital poderá admitir, como
à seleção do modal a ser utilizado e a rotei- critério de julgamento, o menor preço aferido
rização dos embarques. Entretanto, tendo em pela oferta de desconto sobre a tabela de
vista que a intenção do modelo de venda de preços praticados no mercado, desde que
uniformes on-line abordado neste estudo visa à tecnicamente justificado”.
terceirização do transporte, automaticamente, Além disso, como fonte, entre as possibili-
essas decisões operacionais e estratégicas ca- dades de pesquisa de preços para criação da
berão ao operador logístico contratado. tabela em lide, sugere-se a Empresa Brasileira
Então, como poderá ser o custo de trans- de Correios e Telégrafos, devido ao seu Know-
porte um parâmetro para a contratação how³ e, principalmente, dados os diversos
40 ACANTO EM REVISTA
E M R E V I S TA
artigo selecionado
destinos a serem utilizados pela MB, uma vez Relembra-se que essas medidas de controle e
que tal empresa possui o maior número de desempenho tem por foco a atuação do PSL a
localidades com tarifas já previstas. partir do momento em que o material está dispo-
Por fim, a Administração Naval deve aten- nível na área de expedição para o serviço de
tar constantemente para o princípio da eco- transporte e entrega, conforme a figura 3.
nomicidade que, segundo Bugarim (2004 Para o controle do serviço prestado pelo
apud Caixeta, 2004), é a busca permanente operador, podem-se utilizar alguns indicadores
pelos agentes públicos da melhor alocação de desempenho e medidores de eficiência e
possível dos escassos recursos públicos para eficácia baseados nas atividades, como:
solucionar ou atender os problemas e as ne- • Qualidade do transporte: Se a frota está
cessidades existentes. dentro dos padrões logísticos do merca-
Medida de desempenho do e das regras nacionais de trânsito.
Demonstra capacidade;
A seleção e contratação de um PSL não
• Percentual de avarias por ocasião do trans-
significa uma simples transferência de respon-
porte: Demonstra segurança;
sabilidades a terceiros. Ao contrário, o traba-
• Nível de serviço esperado: Número de
lho em parceria é difícil, e uma intensa troca
atendimentos dentro do prazo de entrega
de informações e contínua adaptação são
(podendo ser trimestral) pela quantidade
pré-requisitos para o sucesso de um processo
de entregas realizadas dentro de um deter-
de outsourcing de serviços.
Bowersox, Closs e Cooper (2006) dizem minado período. Demonstra se a empresa
que, antes, a contratação de serviços de possui confiabilidade;
transporte era uma tarefa relativamente fácil, • Índice ou percentual de falhas de entrega:
porém, agora, contratá-los é uma tarefa com- Número de desvios de entrega (endereça-
plexa e importante que exige constante monito- mento) pela quantidade de entregas realiza-
ramento dos resultados. Assim, à medida que das num determinado período. Isso influen-
o sistema vai sendo executado, reduz-se os ciará diretamente no tempo de atendimento
riscos de falhas, bem como é possível ter uma e, consequentemente, no nível de serviço e
rápida correção das distorções identificadas. na satisfação do cliente, além de demonstrar
O uso dos indicadores, então, na área consistência, quesito da confiabilidade; e
logística vem ganhando importância, na • Verificação dos faturamentos e seus percen-
medida em que se torna necessário medir e tuais de erros: verificar se estão sendo cum-
avaliar o desempenho das atividades tercei- pridos os preços estabelecidos no contrato e
rizadas e, consequentemente, os resultados o percentual de falhas na emissão de notas.
obtidos junto ao consumidor. Outrossim, uma ideia que vem sendo for-
Além de controlar, deve-se ter sempre a talecida no cenário logístico e defendida por
preocupação em manter o contato com o Novaes (2007) é que esses indicadores pos-
cliente, manter a comunicação aberta entre a sam ser utilizados como critérios para a com-
empresa e o OL (a falta de comunicação é posição de um ANS, a ser estabelecido em
uma das principais causas de cancelamento contrato, e seus resultados como parâmetros
do contrato logístico) para que se tenha con- que permitiriam junto ao operador estabelecer
fiança e satisfação por ambas às partes, bem incentivos, em caso de desempenho acima
como incentivar a comunicação interna na do acordado, ou penalidades, em caso de
empresa de modo a permitir o bom fluxo de não atendimento dos objetivos propostos.
informação, primordial ao relacionamento. A vantagem desse tipo de contrato está na
ACANTO EM REVISTA 41
E M R E V I S TA
artigo selecionado
42 ACANTO EM REVISTA
E M R E V I S TA
artigo selecionado
importância relativa ou fator de importância custos diretos envolvidos na implementação
referente aos indicadores, baseados nas ati- e no gerenciamento da contratação quanto
vidades críticas e secundárias, em que, por pelos custos de oportunidade, relativos ao
exemplo, um item muito importante pode ser não engajamento noutra possível “relação” de
classificado como “3”, enquanto que o me- sucesso; e, principalmente, os custos imensurá-
nos importante pode ser classificado como veis, relativos ao não atendimento das deman-
“1”. A segunda etapa é avaliar quantitativa das do cliente.
e qualitativamente o desempenho do opera- Cabe salientar que esse estudo não esgota
dor com relação a cada fator de avaliação, as alternativas da Administração Naval em
variando numa escala de “1 a 3”, em que estabelecer outros parâmetros que contribuam
“1” é fraco desempenho e “3” excelente com suas metas de atender todos seus militares
desempenho. Dessa forma, consegue-se ma- espalhados no território nacional ou ainda de
ximizar os fatores mais importantes e mini- realizar uma pesquisa que avalie a possibili-
mizar aqueles menos relevantes comparados dade de estender as ações desse OL, deixan-
um a um. do de realizar apenas o transporte de material
Por conseguinte, realizado o produto entre e podendo, por exemplo, operar internamente
essas duas colunas e somados os resultados, nos processos de armazenagem, em parceria
acha-se o índice total de desempenho do OL com a Força, trazendo, dessa forma, uma ex-
que, comparado aos parâmetros estabelecidos pertise empresarial para a MB.
em contrato ou a uma tabela específica, per- Sendo assim, este trabalho configura-se
meará as ações por ocasião do pagamento. como ponto de partida para que outros estu-
dos sejam realizados futuramente de maneira
CONSIDERAÇÕES FINAIS a ampliarem e aprofundarem o conhecimento
Por fim, tendo em vista o modelo de
nesse “novo” tipo de comércio a ser estabele-
e-commerce proposto para ser implementado
cido na Marinha do Brasil, a fim de que essa
na Marinha do Brasil, juntamente com a ne-
Força alcance, cada vez mais, a excelência
cessidade da contratação de um Operador
logística, aumentando sua credibilidade junto
Logístico especializado no transporte do farda-
ao seu pessoal.
mento, que será comercializado por meio da
intranet e a premissa de manter um alto nível
______________
de serviço aos seus clientes, este trabalho ana-
lisou, com base nos conceitos apresentados, [1] Loja tradicional especializada na venda
três parâmetros considerados fundamentais, de uniformes militares.
a fim de contribuírem com tal contratação: o [2] Expressão em inglês traduzida para o portu-
tempo; o custo de transporte; e a medida de guês como terceirização. No mundo dos negó-
desempenho do contratado. cios, o outsourcing é um processo usado por uma
Além disso, após o objetivo alcançado, foi empresa, no qual outra organização é contratada
possível ratificar a relevância desses parâme- para desenvolver certa área da empresa.
tros e inferir que suas prováveis ausências por [3] Termo em inglês que significa, literalmen-
ocasião da contratação podem acarretar num te, “saber como”. Conjunto de conhecimentos
insucesso da terceirização e ter um impacto práticos (informações, tecnologias, técnicas,
negativo e significativo para a organização, competência, procedimentos, etc.) adquiridos
entre os quais pode-se citar: os custos do in- por uma empresa ou um profissional, que traz
sucesso da parceria, constituídos tanto pelos para si vantagens competitivas.
ACANTO EM REVISTA 43
E M R E V I S TA
artigo selecionado
44 ACANTO EM REVISTA
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artigo selecionado
cadeia de distribuição. 3 ed. Rio de Janeiro: Produção. São Paulo, 2010.
Campus, 2007. TREVIA, C. F.; REIS, S. D. Estratégia de con-
PASTORE, P. Os aspectos e desafios logísticos tratação de operadores logísticos. In: Revista
para a implementação do e-commerce B2C Mundo Logística, Curitiba: MAG, 2007.
para a venda uniformes na Marinha do Brasil. Bimestral. ISSN 1982-1832, 2001.
Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica UEHARA, L. Evolução do desempenho lo-
do Rio de Janeiro, 2010. 127 p. Dissertação gístico no varejo virtual do Brasil. Artigo
(Mestrado em Engenharia Industrial). publicado em: ENCONTRO NACIONAL DE
PASTORE, P.; GUIMARÃES, A. M. C.; ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 21. Bahia:
DIALLO, M. Simulação computacional apli- Salvador, 2001.
cada à logística de distribuição de uniformes VERGARA, S.C. Métodos de Pesquisa em
da Marinha do Brasil. Artigo publicado no Administração. 5. ed. São Paulo: Atlas,
XXX Encontro Nacional de Engenharia de 2012.
ACANTO EM REVISTA 45
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artigo selecionado
POTENCIAL DE USO
DE ESTRUTURAS DE
DESMEMBRAMENTO DE PRODUTO
OU DE LOGÍSTICA COMO
FERRAMENTAS INTEGRADAS
AO SISTEMA DE INFORMAÇÕES
GERENCIAIS DO ABASTECIMENTO
DA MARINHA DO BRASIL
Resumo: Alguns sistemas complexos requerem grandes esforços logísticos para estarem disponíveis. O Apoio Logístico Integrado busca esse
objetivo aos menores custos possíveis. Este artigo se configura numa pesquisa descritiva que, através de fontes bibliográficas, documentais e de
campo, propõe uma análise qualitativa da potencial integração das estruturas de desmembramento propostas pelo Apoio Logístico Integrado ao
Sistema de Informações Gerenciais do Abastecimento. O resultado apresenta duas possibilidades: a integração da estrutura de produto ao sistema,
ou a manutenção da estrutura própria. Em ambas, porém, sugere-se, indispensavelmente, que a estrutura logística e todo o seu refinamento sejam
absorvidos por algum outro sistema macro.
Palavras-chave: Product Breakdown Structure; Logistic Breakdown Structure; Sistema de Informações Gerenciais do Abastecimento; Apoio
Logístico Integrado; Logística.
46 ACANTO EM REVISTA
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artigo selecionado
1. INTRODUÇÃO poderiam trazer benefícios à MB, se aplica-
A logística é, ao mesmo tempo, uma das ao suporte logístico para os meios dessa
das atividades econômicas mais antigas e organização em substituição à atual lógica de
um dos conceitos gerenciais mais modernos desmembramento utilizada. Também não foi
(BALLOU, 2011). Apesar de paradoxal, é olvidada, a busca pelas eventuais desvanta-
fácil compreender o porquê dessa assertiva. gens derivadas de sua integração.
É muito antiga, pois, desde os primórdios, o Para alcançar o objetivo traçado, foi con-
homem já se preocupava com algumas das duzida uma pesquisa descritiva buscando,
disciplinas básicas da logística como a movi- por meio de levantamentos bibliográficos,
mentação, a conservação e a armazenagem conforme Gil (2012), documentais, de acor-
de materiais. do com o preceituado por Lakatos e Marconi
O restante da afirmativa, ser um dos con- (2010), e pesquisa de campo, segundo
ceitos gerenciais mais modernos, coincide Fonseca (2002), desenvolver uma base de
com a mudança de patamar da logística da conhecimento sobre a PBS, a LBS e a lógica
ótica operacional para a estratégica. A partir própria de desmembramento do SINGRA.
do momento no qual a logística deixou de ser A partir dessa base de conhecimento,
vista como um mero centro de custos, sobre o foram comparados o processo atual com o
qual a única ação seria a busca incessante potencial no que se refere às ferramentas
pela redução dos valores empregados, e integradas ao SINGRA, por meio de um es-
passou a ser vislumbrada como possível ins- tudo de caso, o que permitiu estabelecer as
trumento de vantagem competitiva quando vantagens e desvantagens de cada processo.
associada às modernas ferramentas e tec- Destaca-se que este trabalho reveste-se de
nologias da informação. A logística, então, importância no momento em que se dispõe a
transformou-se em uma arma de negócios estudar um assunto capaz de: proporcionar
estratégica para qualquer empresa. alterações na maneira como os meios da
A Marinha do Brasil (MB) não é uma exce- MB são suportados logisticamente; ocasionar
ção desse processo e, por isso, constantemen- futuras mudanças no SINGRA impactando
te realiza estudos para manter sua estrutura toda a estrutura do Sistema de Abastecimento
logística sempre atualizada. Uma das atuais da Marinha (SAbM); e tornar a gestão da
problemáticas enfrentadas são as diferenças cadeia de suprimentos logísticos da MB mais
entre a Estrutura de Desmembramento de eficiente e eficaz.
Produto (Product Breakdown Structure - PBS)
e a Estrutura de Desmembramento Logística 2. REFERENCIAL TEÓRICO
(Logistic Breakdown Structure - LBS), ambas Com vistas a embasar os pontos que serão
propostas pelas literaturas especializadas abordados no decorrer do artigo, esse referen-
em Apoio Logístico Integrado (ALI), bem cial teórico abarca aspectos relevantes da lo-
como a lógica própria de desmembramento gística moderna. Primeiramente, será aborda-
utilizada pelo sistema de suprimentos da MB, do o tema do ALI; em seguida, as lógicas da
o Sistema de Informações Gerenciais do PBS e da LBS; por último, serão detalhadas
Abastecimento (SINGRA). algumas definições acerca do SINGRA, de
Dentro desse contexto, este artigo buscou tal forma, que seja possível nivelar o conhe-
analisar como a potencial utilização das meto- cimento sobre o assunto, tornando compreen-
dologias de desmembramento do produto e/ sível a análise do estudo, das propostas e da
ou logística, ambas integradas ao SINGRA, conclusão do artigo.
ACANTO EM REVISTA 47
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artigo selecionado
48 ACANTO EM REVISTA
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artigo selecionado
parcelas relevantes que também deverão ser o apoio eficiente, eficaz e econômico de um
consideradas pelo ALI. meio ou sistema durante todo seu ciclo de vida.
Para cumprir os objetivos a que se propõe, A Análise de Apoio Logístico (AAL) é uma
o ALI permeia em seu planejamento, principal- das ferramentas essenciais do ALI, podendo
mente, os elementos relativos a: ser considerada a alma do processo de apoio.
• Planejamento da manutenção, buscando Trata-se de uma metodologia de análise e
identificar seus requisitos e detalhar as gerenciamento de sistemas de aceitação inter-
ações e os respectivos recursos que se fize- nacional para gerenciar sistemas complexos
rem necessários; e custosos. Nos Estados Unidos da América,
• Força de trabalho e pessoal, destacando existe a norma MIL-STD 1388-1A – Logistic
a quantidade de pessoas que deverão ser Support Analysis, de 1983, que define o pro-
envolvidas no processo e as suas qualifica- cesso em etapas e tarefas.
ções técnicas; A AAL tem como objetivo desenvolver os
• Apoio ao abastecimento, definindo as requisitos de apoio logístico do sistema/meio,
necessidades de material na forma de so- possibilitando identificar os problemas de
bressalentes, reparáveis ou não; apoio e os elementos formadores de custo o
• Identificação das necessidades de equipa- mais cedo possível, de modo que seja viável
mentos de apoio e teste; influenciar no projeto ainda durante seu de-
• Apontamento das carências de treinamento senvolvimento, considerando os apontamentos
e equipamentos para treinamento associa- da AAL. Além disso, visa gerar um Banco de
dos aos requisitos do meio ao longo do seu Dados da Análise de Apoio Logístico (BDAAL)
ciclo de vida; ou Registros da Análise de Apoio Logístico
• Elaboração da documentação técnica dos (RAAL), que conterá as informações das várias
sistemas do meio; disciplinas analisadas, sendo uma fonte única
• Definição das demandas atreladas aos das informações, evitando redundâncias, des-
casamento ou descontinuidade delas.
recursos computacionais, não só aos hard-
wares como também aos softwares; 2.2 Product Breakdown Structure
• Planejamento e implementação das neces- As estruturas de desmembramento
sidades de acondicionamento, manuseio, (Breakdown Structure) são diagramas hierarqui-
armazenamento, transporte dos sistemas, camente construídos a partir de um ponto úni-
equipamentos e materiais; co, seja ele associado aos custos, aos riscos,
• Estudo de eventuais faltas de instalações de aos recursos, à produção ou a qualquer outra
apoio para a operação, a manutenção e o parte de um sistema/meio. Basicamente, elas
treinamento requisitados pelo sistema. podem ser construídas para quaisquer elemen-
Dessa forma, o ALI considera não somente tos em que haja uma relação hierárquica ou de
o desempenho esperado do projeto e o seu dependência entre seus componentes. As mais
custo de aquisição mas também outros fatores conhecidas dessas estruturas, possivelmente,
de igual ou maior relevância, como os outros são os Organogramas das instituições e as
custos que se espera incorrer ao longo do Estruturas Analíticas de Projeto (EAP).
seu ciclo de vida e o aumento dos níveis de A EAP é uma decomposição hierárquica do
disponibilidade e suportabilidade. Em suma, escopo total do trabalho a ser executado a fim
traduz-se no estudo conjunto e integrado dos de alcançar os objetivos do projeto e criar as
elementos necessários capazes de influenciar entregas requeridas. Ela organiza e define o
o desenvolvimento do projeto, assegurando escopo total do projeto e representa o trabalho
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artigo selecionado
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artigo selecionado
Durand (2001) conceituou, a LBS deve ser formas de enxergar o produto. Chalal (2006)
organizada sob a ótica da manutenção do acrescenta que, além inserir os elementos de
meio, tornando-se a coluna vertebral de suporte, bem como os processos associados
todo o banco de dados logísticos, sendo ao produto ao longo do seu ciclo de vida,
a referência para o prestamento do apoio a LBS deve, juntamente com outras estruturas
logístico ao meio. analíticas como as de custo, de projeto e de
A LBS, sendo decorrente da estrutura criada risco, permitir um adequado gerenciamento
para a PBS, detalha outros níveis inferiores, além do conhecimento sobre os meios.
dos equipamentos já representados; focando Uma fase crucial na estruturação da LBS é
nos elementos que necessitarão de quaisquer a identificação dos equipamentos que serão
apoios logísticos ao longo do ciclo de vida do submetidos à AAL e, consequentemente, esta-
meio. Em outras palavras, a LBS detalha mais o rão detalhados na LBS. A priorização desses
meio/sistema, proporcionando uma visão dele equipamentos deve ocorrer considerando,
sob a ótica da logística, visto que os equipa- principalmente, sua relativa importância em
mentos considerados relevantes durante a AAL custos e disponibilidade dentro do meio,
estarão detalhados na LBS tendo um código além de critérios como os possíveis impactos
alfanumérico conhecido como Logistic Support na segurança e indispensabilidade para a
Analysis Control Number (LCN). missão do Meio, nos custos de manutenção
A grande diferença entre a PBS e a LBS é e apoio, e na disponibilidade operacional e
que a primeira somente se preocupa em incluir apoiabilidade.
todos os elementos físicos do meio até seu Os elementos da AAL serão sempre
nível de equipamento, sem que haja qualquer equipamentos, instalações ou unidades que
tipo de julgamento de valor acerca destes; já requisitarão um elemento de apoio, também
a LBS, por sua vez, detalha, a partir dos níveis conhecido como recurso de manutenção (so-
já expressos na PBS, todos os outros elementos bressalentes, ferramental, recursos humanos,
sobre os quais haverá a demanda por algum instalações de apoio, maquinário de apoio,
tipo de esforço logístico ao longo do ciclo de que estarão listados dentro dos RAAL, junta-
vida do meio. mente, com outros documentos como: Planos
A LBS deve ser construída no início do de Manutenção; Listas de Sobressalentes;
processo de AAL dentro do planejamento fei- Listas de Consumíveis; e Listas de Ferramentas.
to para o ALI do projeto, sendo, idealmente, Todos esses documentos terão como chave
finalizada no momento de entrega do meio primária para associação o LCN atribuído ao
à sua operação. Contudo, é prudente que se elemento da AAL.
mantenha o acompanhamento dela ao longo A essencialidade dessa fase está na de-
do ciclo de vida do meio, podendo também, terminação do exato ponto de detalhamento
assim como a PBS, ser atualizada em casos em que a relação entre o custo e o benefício
de modificações ou modernizações dos equi- gerado pela qualidade das informações for
pamentos existentes ou de novas demandas máximo. Quanto mais detalhada for a LBS,
logísticas percebidas posteriormente. maior será o refinamento das informações lo-
Ainda segundo Durand (2001), o objetivo gísticas disponíveis. Contudo, um refinamento
da LBS é de ser uma única e padronizada excessivo poderá se transformar em esforços
estrutura válida para a manutenção do meio, tamanhos de planejamento, gerenciamento e
sendo constante ao longo do tempo e dos pro- controle que não se reverterão em benefícios
jetos, e sendo compatível com as várias outras compensatórios.
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artigo selecionado
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artigo selecionado
ao EQ/EG, respectivamente, a OMC deverá alguma forma, condicionam ou influenciam o
solicitar seu cadastramento junto ao Órgão de processo de apoio logístico da MB.
Execução Técnica do equipamento ou do item. Empregou-se, ainda, a pesquisa de cam-
po, como conceituada por Fonseca (2002),
3. METODOLOGIA DE PESQUISA para, através de entrevistas não estrutura-
De acordo com o conceito de Gil (2012), das a militares envolvidos em atividades
o objetivo deste trabalho é ser uma pesquisa associadas ao SINGRA e a outros sistemas
descritiva, tendo como meta desenvolver uma componentes da logística da MB, confrontar
base de conhecimento sobre a qual serão e complementar as informações já obtidas
detalhados, comparados e relacionados os nas pesquisas anteriores. Foram entrevistados
conhecimentos logísticos pregados pelo ALI por militares no seio da estrutura logística da MB,
meio das ferramentas de desmembramento PBS principalmente da Diretoria de Abastecimento
e LBS, com as características da lógica própria da Marinha (DAbM), da Diretoria Geral de
de desmembramento, utilizada pelo SINGRA; Material da Marinha (DGMM), da Diretoria
buscando, através de uma análise qualitativa de Engenharia Naval (DEN) e de algumas
dos dados obtidos, comprovar se existe com- OM clientes do SAbM.
patibilidade desse sistema com a filosofia de Após levantar a base necessária de dados
estruturação de dados empregada pelo ALI. e informações relevantes ao estudo, este tra-
Inicialmente, por meio do método de balho se propôs a analisar a compatibilidade
pesquisa bibliográfica em livros, publicações da utilização das lógicas de desmembramento
periódicas e artigos acadêmicos, definido por da PBS e LBS com a lógica própria em uso
Lakatos e Marconi (2010), buscaram-se definir no SINGRA. Tal análise não pretende entrar
as características das lógicas de desmembra- nos meandros das complexas dificuldades
mento estudadas neste artigo, apontando suas relacionadas à TI, mas realizar uma análise
principais características, suas necessidades qualitativa do processo atual.
de dados ou informações de entrada (input), De acordo com o trabalho de Pinto Filho
as saídas (output) que oferecem após proces- (2007, p. 13), processo é a “atividade ou o
sada a informação e os recursos necessários conjunto de atividades que recebe uma entra-
ao seu eficiente e eficaz funcionamento. da, adiciona-lhe valor e fornece uma saída
Fez-se o uso da metodologia de pesquisa identificável sob a forma de bens, serviços ou
documental, conceituada por Gil (2012), informações e sempre direcionada a um
ao Manual do SINGRA, averiguando se a cliente interno ou externo” (grifos nossos). A
metodologia utilizada por esse Sistema de ABNT NBR ISO 9001:2008 – Sistemas de
Informações já havia sido detalhada em algum gestão da qualidade, Requisitos (2008, p. 2) –
momento pregresso. Pesquisou-se o Manual complementa essa definição afirmando se tratar
de logística da MB e as regulamentações de “uma atividade ou conjunto de atividades
sobre o ALI dentro da MB, visando clarear o que usa recursos e que é gerenciada de
funcionamento, as autoridades e as responsa- forma a possibilitar a transformação de entra-
bilidades conferidas aos Órgãos integrantes das em saídas” (grifos nossos).
ou participantes situacionais da logística da Partindo dessas premissas, este trabalho
MB. Verificaram-se as normas atinentes ao fun- analisou a lógica atual de desmembramen-
cionamento da função logística de suprimento to como parte integrante de um processo
na MB, para identificar a função normatizada implementado na MB, caracterizando suas
do SINGRA e a outros documentos que, de entradas necessárias, as saídas ofertadas
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artigo selecionado
pela lógica, os recursos demandados para A seguir, propôs-se uma análise conjunta
apresentar um desempenho eficaz e a forma dos dois processos, averiguando a capacida-
como é gerenciada. Do outro lado da análise, de da MB em suportar o potencial processo
foram levantadas as entradas necessárias ao de suprimento logístico com as ferramentas
processo com a potencial utilização da PBS e propostas pelo ALI integradas ao SINGRA.
LBS pela MB, as saídas potenciais que essas Consequentemente, apontou-se os benefícios
ferramentas ofereceriam, os recursos exigidos e as desvantagens derivados da implementa-
e a complexidade de sua gerência. ção dessas ferramentas.
Assim, pôde-se estabelecer um comparativo Por último, após identificar, analisar e
qualitativo numa abordagem processual entre comparar as estruturas de desmembramento
as duas metodologias utilizadas pelo ALI com a envolvidas neste artigo, buscou-se verificar a
do SINGRA, buscando averiguar se a MB tem, potencial integração das ferramentas da PBS
atualmente, a capacidade para alimentar corre- e LBS ao SINGRA, focando no cumprimento
tamente o eventual futuro processo de maneira da missão estabelecida para esse sistema
eficiente, eficaz e efetiva, e também se haveria dentro da logística da MB.
benefícios na implementação da ferramenta em
substituição à atual lógica ou mesmo se a lógi-
4.1. A Lógica de Desmembramento
ca atual do SINGRA é superior e mais benéfica
Utilizada pelo SINGRA
para a logística da MB do que as ferramentas O SINGRA foi implementado na MB em
propostas pelo ALI, alcançando o objetivo ge- 2001. À época, conforme relatado em entre-
ral traçado para este trabalho. vistas a militares da Divisão de Abastecimento
da DAbM, o sistema era muito menos com-
4. ANÁLISE DE DADOS plexo e com menos funcionalidades. Hoje,
A análise dos dados, obtidos através das ele incorporou atividades, como parte do
metodologias descritas no tópico anterior, foi gerenciamento da manutenção dos meios,
sendo construída de forma gradual, de tal for- até então não previstas para esse sistema em
ma que, quando inter-relacionadas, permitam virtude da falta de outros sistemas na MB para
uma conclusão acerca do problema de pes- execução das diversas funções logísticas.
quisa proposto. Assim, subdividiu-se a análise Podem-se citar, por exemplo, alguns dados
em quatro etapas ordenadas. de manutenção dos meios como os pacotes
Primeiramente, analisaram-se os dados que de sobressalentes necessários às manutenções
permitem concluir como se dá a lógica própria programadas de tais meios, conhecidos na
da estrutura de desmembramento utilizada MB como “Conjuntos Passivos”.
pelo SINGRA, detalhando seu processo atual O marco temporal é importante para se
e explicitando os dados necessários de entra- entender um dos motivos da não utilização
da, os recursos necessários ao processamento das metodologias de desmembramento PBS e
dos dados, as saídas oferecidas e os clientes LBS previstas pelo ALI, pois, ainda de acordo
interessados nas saídas ofertadas. com as entrevistas, apesar de somente ter sido
Em segundo, da mesma forma como feito implantado em 2001, o desenvolvimento do
para o SINGRA, delineou-se o processo po- sistema começou nos meados da década 90,
tencial advindo da integração das ferramentas capitaneado pela DAbM, e, nesse momento,
de desmembramento PBS e LBS ao SINGRA, ainda não haviam sido disseminadas na MB
identificando os mesmos pontos citados no as práticas do ALI que vinham sendo estuda-
parágrafo anterior. das pela DGMM.
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artigo selecionado
Por não terem sido desenvolvidos de o nível de instalações em que constaria o
forma integrada ou tampouco em con- equipamento.
junto pelas duas Diretorias, o SINGRA Ainda sobre a lógica do SINGRA, cabe
acabou empregando uma metodologia destacar que, assim como na PBS, ela não
própria de desmembramento dos meios, guarda nenhum outro detalhamento subse-
que, segundo o encarregado da Divisão quente, ou seja, somente se preocupa em
de Apoio Logístico Integrado da DAbM, demonstrar graficamente o produto de uma
derivou de um sistema de suprimento da maneira hierarquizada, não havendo nenhum
empresa Telecomunicações Brasileiras S.A. outro tipo de julgamento de valor sobre ela.
(Telebras), tendo sido adaptado às necessi- A chave primária para busca dentro do
dades da MB. SINGRA é o NE que poderá ser equivalente
Conforme apresentado por esse oficial, ao NSN, ao NBE ou ao NEB, dependendo
a lógica atual desmembra o Meio, também da nacionalidade do item e da sua situação
chamado de Plataforma, em vários Serviços, de catalogação.
que, por sua vez, são subdivididos em A Plataforma ou Meio é inserido no
Equipamentos, que finalmente serão quebra- SINGRA pela DAbM, sendo-lhe atribuído
dos em Itens de Suprimento. A figura 3 exibe, um código numérico de quatro dígitos; já os
em forma de diagrama, como o meio é repre- serviços são cadastrados pelas respectivas
sentado dentro do SINGRA. Diretorias Especializadas (DE) responsáveis
Apesar de não ser exatamente como uma por eles. As DE são também responsáveis por
PBS, a lógica atual se aproxima bastante dela, associar aos serviços os Equipamentos a ele
visto que busca representar todos os elementos aplicáveis. A cada Equipamento é também
do navio até o nível de item de suprimento, atribuído o CODEQ, como já fora explicado
detalhando um nível além do recomendado no referencial teórico deste artigo. Por último,
para a PBS; sem, contudo, considerar, em ní- os Itens de Suprimento catalogados são rela-
veis superiores, a possibilidade de repartição cionados aos Equipamentos e somente após,
dos sistemas em subsistemas menores que cumprida essa condição, poderão ser adquiri-
contribuem para o cumprimento da missão dos pelo Meio.
do sistema maior. Também não há, nessa Conforme constatado ao longo da entre-
metodologia, a discriminação da localização vista ao Encarregado do Apoio Logístico aos
dos equipamentos dentro do navio, “pulando” Meios e também a outros militares que já
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artigo selecionado
trabalharam com o SINGRA, uma vantagem os serviços existentes no meio e cada equipa-
importante da lógica atual é o fato de estar em mento pertencente a ele. Cada equipamento
uso há mais de uma década, estando consoli- cadastrado deverá ter uma relação de itens
dada no SAbM e na MB como um todo. Pesa de suprimentos associados ao seu CODEQ, o
a favor da metodologia, o fato de ser mais que permitirá ao meio realizar as aquisições
simples que a PBS e a LBS, além de permitir a de seus suprimentos via SINGRA. Destaca-se
descentralização das responsabilidades para a necessidade de catalogação dos Itens de
as DE em cada tipo de sistema. Suprimento pelo seu NE, que é a chave pri-
Por outro lado, essa descentralização de mária para a inserção de RMC pelos meios
responsabilidades também causa alguns con- no sistema.
tratempos. Hoje, por exemplo, existem cerca Nota-se facilmente que todas as entradas
de 3.600 serviços cadastrados nos meios da citadas no parágrafo anterior ajudam a retra-
MB, contudo alguns desses serviços, apesar tar o produto, no caso em questão, o meio
de possuírem códigos numéricos de cinco dí- e os dados necessários, CODEQ e NE, que
gitos diferentes, tratam do mesmo conjunto de proveem do projeto do navio, mais especi-
elementos ou têm a mesma missão. ficamente da sua engenharia de sistemas.
A maior parte dos dados para análise Não há nenhuma informação ou dado que se
do processo de apoio logístico aos meios, correlacione, até este momento, com as neces-
utilizando-se da lógica atual do SINGRA, foi sidades logísticas do navio ao longo do seu
obtida por meio de entrevistas a militares que ciclo de vida.
trabalham nas DE, nos meios navais como A respeito dos recursos necessários à
clientes do sistema e na DAbM, OM responsá- execução do processo, que agregará valor
vel pelo software. Além das entrevistas, outros às entradas por se tratar de um processo in-
dados foram obtidos através da própria expe- formatizado e até certo ponto automatizado,
rimentação do SINGRA. Por exemplo: simulan- somente se verificou a necessidade de alguns
do consultas; fazendo requisições de material; militares ou servidores civis alocados no
criando projetos e outras funcionalidades do Centro de Controle e Inventário da Marinha
sistema; e por meio de pesquisa documental (CCIM), órgão responsável pela gerência dos
ao manual do SINGRA e às normas sobre ALI inventários da MB, e nas DE para manterem
na MB e sobre a função logística suprimento. atualizados os dados cadastrados no SINGRA
Como explicado anteriormente neste artigo, em caso de alterações no projeto original.
os processos são compostos por entradas que Os Colaboradores do CCIM seriam res-
recebem algum tratamento por meio da utiliza- ponsáveis pela análise crítica das RMC inse-
ção de recursos, buscando agregar valor às ridas pelo meio. Eles devem verificar se o ma-
entradas, com vistas a fornecer saídas que sa- terial solicitado tem aplicabilidade ao meio,
tisfaçam as necessidades dos clientes. Com o se existe disponibilidade do item em estoque
SINGRA não é diferente: ele faz parte do pro- ou se será necessário iniciar o processo de
cesso de ALI da MB, possuindo, dessa forma, obtenção para atender ao meio e, por último,
entradas identificáveis e recursos necessários, liberar a RMC para fornecimento.
bem como oferecendo saídas aos seus clientes. Nas DE, o trabalho dependeria do input
Como entradas necessárias ao processo, de algum meio seja pela necessidade de
identificou-se a necessidade de cadastramento algum equipamento ainda não associado ao
da Plataforma/Meio pela DAbM no SINGRA; meio, seja pela incorporação de novos ser-
em seguida, cada DE isoladamente cadastra viços ao navio ou pela identificação de itens
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artigo selecionado
de suprimento que também ainda não estejam Os dois casos mais recentes foram as aquisi-
aplicados a algum equipamento do navio. ções dos três Navios Patrulha Oceânico da
A parte mais relevante da análise se con- classe Amazonas, do estaleiro BAe Systems,
centra nas saídas ofertadas pelo processo. e o contrato de transferência de tecnologia e
Por meio delas, o cliente perceberá suas ne- desenvolvimento dos submarinos convencio-
cessidades atendidas e o meio será suprido. nais da classe Scorpene e do submarino de
Com a lógica de desmembramento atual, o propulsão nuclear a ser desenvolvido no Brasil,
SINGRA oferece uma visão dos meios num ambos junto ao estaleiro francês DCNS.
diagrama de desmembramento hierarquizado, Nas duas aquisições, a MB viveu e vive a
simplificando a complexidade do meio em experiência de trabalhar com projetos desen-
partes menores e gerenciáveis. O foco hoje é volvidos em sua plenitude com a interferência
o produto e como se estabelece a relação de do ALI e das metodologias de desmembramen-
dependência entre as partes dele. to da LBS. Embora a MB ainda não possua
Para os clientes e gerentes dos meios um software capaz de gerenciar plenamente
nas DE, o sistema auxilia atendendo às ne- as informações fornecidas ou que estão em
cessidades de um sistema de suprimento. O transferência, fruto dessas aquisições, um estu-
SINGRA permite ao usuário visualizar os itens do desses casos permitirá analisar o potencial
de suprimento associados aos meios, registrar processo de apoio logístico, utilizando as
a demanda por itens, controlar os estoques metodologias de desmembramento PBS e LBS.
e iniciar os processos de recompletamento Neste artigo, escolheu-se estudar o caso
deles, gerenciar projetos individualizados do submarino por se tratar de um projeto
como as iniciativas PROA, dotações iniciais de aquisição planejada, derivando em um
e PROGEM, bem como acessar um catálogo contrato robusto, inclusive com transferência
dos itens existentes na MB. de tecnologia e de todos os dados de apoio
logístico. Os dados do caso foram obtidos por
4.2. A Lógica de Desmembramento da meio de entrevista realizada com um oficial su-
PBS e da LBS perior que labuta na Coordenadoria-Geral do
Diversas entidades ao redor do mundo Programa de Desenvolvimento de Submarino
que laboram com sistemas complexos como com Propulsão Nuclear (COGESN) e com um
as áreas aeroespacial, ferroviária e naval, já engenheiro da DEN, encarregado da gerên-
adotam a metodologia de desmembramento cia dos submarinos dessa Diretoria.
dos meios da LBS. Especificamente na área De acordo com as entrevistas, para a
marítima, podem ser citadas a Marinha dos construção da PBS e da LBS e, consequente-
Estados Unidos da América, a Marinha Real mente, da possibilidade do ALI de influenciar
Britânica e a Marinha Nacional da França. o projeto de um meio, seriam necessários,
Além dessas marinhas, alguns estaleiros im- como entradas, dados mais complexos e que
portantes como o francês DCNS e o britânico necessitariam de um esforço muito maior da
BAe Systems também já projetam seus navios MB. Demandariam as mesmas entradas do
com o implemento dessa lógica. processo atual, citadas no tópico anterior, bem
A MB, apesar de ter a capacidade de pro- como todas as informações detalhadas no
jetar e desenvolver algumas classes de navios referencial teórico deste artigo como entradas
em território nacional, frequentemente recorre para a AAL, sendo as principais: os dados de
ao mercado internacional para adquirir meios confiabilidade, disponibilidade e “manutebili-
de defesa quando surge alguma oportunidade. dade”; e dados da análise de apoiabilidade
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artigo selecionado
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e link com as demais informações contidas Inicia-se esse debate a partir da missão
no dicionário da LBS, fazendo uma analogia do SINGRA como “o sistema de informações
ao termo utilizado em gerenciamento de pro- e de gerência de material que se destina a
jetos para o dicionário da EAP, no qual são apoiar as fases básicas das funções logísticas
registradas as informações decorrentes de Suprimento, Transporte e Manutenção rela-
cada pacote de trabalho. cionadas ao Abastecimento...” (BRASIL,
Como consequência, inúmeros dados e 2009, p. 3-1, grifo nosso).
informações logísticas, atualmente, não são A publicação SGM-201, Rev-6, Mod-2
trabalhados e gerenciados pela MB. Ainda – Normas para Execução do Abastecimento
pelas entrevistas, depreenderam-se algumas – (2009) subdivide as atividades de abaste-
informações que estão sendo passadas para cimento em três fases básicas, quais sejam: a
a MB, conforme fora exigido contratualmente, determinação das necessidades; o processo
mas que, por indefinição da forma como serão de obtenção; e a distribuição. Se somadas,
trabalhadas e inseridas nos sistemas logísticos essas três fases representam parcela da mis-
da MB, correm o risco de serem perdidas. são que o ALI se propõe a cumprir, visto que
Hoje, a MB está recebendo os dados do ele tem a pretensão, quando empregado
software Soutenir da França em extrações plenamente, não só de influenciar o projeto
de planilhas do MS Office Excel. Todas as (Design for Support) como também de prestar
informações recebidas conferem um grau de todo o apoio logístico ao meio durante seu
refinamento logístico imprescindível para o ciclo de vida (in Service Support). As ativida-
correto emprego, manutenção e apoio logís- des de abastecimento são praticamente todas
tico ao meio ao longo do seu ciclo de vida. executadas durante o in Service Support.
Porém, a indefinição pela utilização no Hoje, o SINGRA consegue executar essas
formato atual dos sistemas logísticos da MB: três atividades sem maiores percalços. A de-
Sistema de Apoio Logístico Integrado (SisALI), terminação de necessidades é executada pelo
o Sistema Informatizado de SMP (SisSMP) e CCIM, que faz uso de diversos parâmetros,
SINGRA, acarretaria na necessidade de ade- dentre eles o histórico registrado e as deman-
quação da formatação entregue, derivando das atuais das OM de terra e navios. O pro-
em perdas de informações por incapacidade cesso de obtenção é conduzido pelo Centro
e incompatibilidade entre esses sistemas e a de Obtenção da Marinha no Rio de Janeiro
metodologia de desmembramento logística (COMRJ) com informações extraídas do
adotada pela DCNS ou modernização dos SINGRA. Já a distribuição é efetuada pelos
sistemas da MB, adequando-os para uma diversos Órgãos de Distribuição (OD), entre
tendência internacional e capacitando-os para eles os Centros de Intendência e os Depósitos.
receber e gerenciar as informações recebidas Como já explicado, a LBS traz consigo
sem que haja perdas ou atrasos na implemen- uma quantidade enorme de informações
tação plena do ALI aos meios. logísticas. Algumas delas poderiam auxiliar
no aprimoramento dessas três atividades.
4.4. Potencial Integração da PBS e da Por exemplo, os dados sobre embalagem,
LBS ao SINGRA manuseio e transporte dos materiais permiti-
Ultrapassada a discussão sobre a impor- riam aos OD alcançar a excelência da sua
tância dessa capacidade para a MB, ques- missão de distribuir os itens aos meios na
tiona-se a necessidade dessas informações ao quantidade, qualidade e momento corretos;
sistema de suprimentos do SAbM, o SINGRA. já para o COMRJ, essas mesmas informações,
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estabelecer um ponto com o mínimo grau de forma, seria necessária a implementação da
certeza necessário ao processo de tomada metodologia da LBS em outro sistema. Essa
de decisão. segunda linha de ação também não é con-
Como detalhado, o pleno implemento do clusiva, requerendo maiores estudos, uma vez
ALI, incluindo as estruturas da PBS e da LBS, que, além das questões associadas à idade
aumentaria as chances de influenciar os pro- avançada do SINGRA, considerando-se tratar
jetos de engenharia dos meios no tocante aos de um sistema baseado em TI, há também
aspectos logísticos considerados ao longo de as interferências que essa alteração poderia
todo seu ciclo de vida; permitiria identificar, causar em todo o SAbM, visto que o SINGRA
quantificando e qualificando, os recursos estabelece comunicação com outros siste-
necessários ao apoio logístico; auxiliaria a mas. Possivelmente, também não ocorreriam
estruturação do apoio aos novos meios, as- maiores problemas, pois a chave primária de
segurando que os recursos logísticos deman- busca e link com outros sistemas continuaria
dados estarão disponíveis no início de sua sendo o NSN.
operação; por fim, culminaria na atividade de Em suma, o trabalho concluiu que a MB
monitoramento e controle do desempenho do deve, o quanto antes, se tornar capaz de
sistema de apoio ao longo do seu emprego, obter, gerar, gerir e registrar as informações
em especial dos custos de manutenção.
logísticas advindas da LBS para o fornecimen-
O gerenciamento de todos esses pontos
to do apoio logístico mais eficiente e eficaz.
levaria a um apoio logístico mais eficiente e
Contudo, o SINGRA, pela missão que lhe é
eficaz, resultando na gestão adequada do ci-
atribuída, não tem a necessidade de ser o
clo de vida do meio e, com isso, atingindo os
software a absorver todo esse refinamento
principais objetivos do ALI. Sendo assim, este
logístico, já que ele somente se encarrega de
artigo elencou duas linhas de ação possíveis
algumas funções do ALI.
para o SINGRA e que atenderiam as neces-
Dessa forma, como trabalhos futuros, suge-
sidades logísticas da MB. Cabe ressaltar que
rem-se os seguintes estudos: a possibilidade
estas linhas não são as únicas, não esgotando
de o SisALI absorver a lógica de desmem-
as inúmeras alternativas da MB.
bramento da LBS; como e onde deverá ser o
A primeira delas seria a manutenção da
BDAAL da MB e quais sistemas deverão ser
metodologia atual do SINGRA com o im-
integrados a ele; quais subsistemas ou infor-
plemento da metodologia da LBS em outro
mações o SINGRA necessitaria importar ou
software, possivelmente o SisALI que se co-
municaria com o SINGRA por meio do NSN exportar constantemente do BDAAL.
dos materiais necessários. Essa linha de ação
seria mais econômica, contudo manteria duas REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁGICAS
linguagens diferentes dentro da MB, fato que ARIYO, O.O.; ECKERT, C.M.; CLARKSON,
precisaria ser mais estudado para averiguar P.J. Hierarchical decompositions for complex
se não haveria problemas de integração ou product representations. International Design
compatibilidade. Aparentemente não have- Conference - Design 2008. Dubrovnik,
ria, pois se tratariam de dois sistemas com Croácia, 2008.
banco de dados distintos, mas interligados ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
através do NSN. TÉCNICAS. NBR ISO 9000:2005: Sistema
A segunda delas seria a substituição da de Gestão da Qualidade – Fundamentos e
lógica do SINGRA pela da PBS e, da mesma Vocabulário. Rio de Janeiro, RJ, 2005.
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Autoria: Capitão-Tenente (Intendente da
Marinha) Marcelo da Silva Braz
Orientador: Capitão de Mar e Guerra
(RM1- Fuzileiro Naval) Edilson Antunes de
Farias - CIANB
Coorientador: Capitão de Corveta
(Intendente da Marinha) Alex Lôbo Carlos
- CORM
OFFSET E INOVAÇÃO:
A REDUÇÃO DE HIATOS
TECNOLÓGICOS NOS PAÍSES
EM DESENVOLVIMENTO
Resumo: Este artigo objetiva evidenciar a contribuição do offset como ferramenta à inovação nas últimas décadas, reduzindo o hiato tecno-
lógico existente na Base Industrial de Defesa dos países em desenvolvimento. Após uma pesquisa bibliográfica e documental, foram relatados
casos em que acordos de compensação foram utilizados em países emergentes. Da análise qualitativa dos dados apresentados, ficou evidenciado
que é possível utilizar tais acordos como eficiente ferramenta estratégica na busca pela independência tecnológica nos países estudados, sendo
este estudo dirigido aos militares envolvidos em negociações comerciais internacionais, aos agentes públicos atuantes na formulação de políticas
públicas, às empresas privadas e ao meio acadêmico.
Palavras-chave: Offset; Compensação; Defesa; Inovação; Desenvolvimento.
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hiato tecnológico existente na BID dos países que conquiste autonomia em tecnologias indis-
em desenvolvimento. pensáveis à defesa, de forma que o país não
Primeiramente, buscou-se empregar, de dependa de tecnologia estrangeira.
acordo com Marconi e Lakatos (2010), O termo indústria nacional de defesa nos
pesquisa bibliográfica em livros, periódicos remete ao conceito de Base Industrial de
e artigos acadêmicos, visando a apontar Defesa (BID), que pode ser entendido como
correntes teóricas que estivessem alinhadas um “conjunto de indústrias e empresas orga-
ou que apresentassem contrapontos aos ob- nizadas em conformidade com a legislação
jetivos deste estudo. Assim, buscou-se alinhar, brasileira, que participam de uma ou mais das
adequadamente, os conceitos de offset e ino- etapas da pesquisa, desenvolvimento, produ-
vação, além de mapear possíveis benefícios ção, distribuição e manutenção de produtos
alcançados, por países em desenvolvimento, de defesa” (BRASIL, 2012, p. 212).
na redução de hiatos tecnológicos ao longo Fernandes (2007, p. 80) acrescenta que
das últimas décadas. A revisão sistemática da a indústria de defesa é uma indústria de alto
literatura foi realizada mediante palavra-cha- valor agregado, com elevados componentes
ve, em bases de dados acessíveis, e não por tecnológicos e de inovação, sendo, por esse
recorte temporal. motivo, um dos vetores que deve ser privile-
Também foi efetuada pesquisa documental, giado como excelente elemento de desenvol-
buscando-se identificar na legislação pertinen- vimento da indústria nacional e, consequen-
te, em normas em vigor nas Forças Armadas e temente, do país. O autor ainda cita que a
em contratos internacionais, situações em que BID deve ser tratada no sentido de uma visão
ocorreu o emprego do offset para a redução estratégica de progresso e de desenvolvimento
do hiato tecnológico em países em desenvol- econômico, devendo-se investir nesta indústria
vimento, bem como um possível avanço do ao nível adequado para se atingir os objetivos
país estudado. Segundo Marconi e Lakatos estratégicos. Nesse sentido, Brasil (2012, p.
(2010), a análise dos dados ocorreu através 212) comenta que “uma indústria de defesa
de uma abordagem qualitativa. competitiva e consolidada gera empregos
Relatou-se, então, através de pesquisa qualificados e incentiva o desenvolvimento tec-
descritiva (GIL, 2002), casos em que o offset nológico com encadeamentos produtivos para
foi utilizado como ferramenta na produção de outros setores da indústria”.
novas tecnologias em países em desenvolvi- Segundo Leske (2013), a relevância da
mento, descrevendo inclusive possíveis conse- P&D no setor de defesa, para a promoção
quências negativas à utilização dos acordos da inovação, tem sido explorada, também,
de compensação, em cada caso. devido às contribuições que transbordam para
outras áreas da economia. Sendo assim, as
3 REFERENCIAL TEÓRICO demandas da área militar podem estimular
Brasil (2008) expõe que é preciso buscar igualmente outros setores a partir do desenvol-
a independência nacional alcançada pela ca- vimento de novas tecnologias, da formação
pacitação tecnológica autônoma, não sendo de capital humano, e da interação com univer-
independente o país que não tem o domínio sidades e centros de pesquisa.
de tecnologias sensíveis, tanto para a defesa Por sua vez, Longo (2007) observa que
como para o desenvolvimento. Nesse escopo, no curso da história é possível citar inúmeras
o Estado seria o responsável por capacitar a contribuições tecnológicas relevantes prove-
indústria nacional de material de defesa para nientes de questões inerentes à segurança
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artigo selecionado
e defesa, sendo seu uso civil bem-sucedido. Para Porter (1990), inovação, em seu sentido
Como exemplos, o autor cita a internet, ori- mais amplo, abrange novas tecnologias e no-
ginalmente desenvolvida pela Advanced vas maneiras de fazer as coisas.
Research Priojects Agency - ARPA (hoje Defense A definição adotada pela Marinha do
Advanced Research Projects Agency - DARPA) Brasil é a mesma preconizada no art. 2º
do Departamento de Defesa dos EUA, com da Lei nº 10.973/2004 (Lei de Inovação
o nome de Arpanet que visava, através de Tecnológica - LIT), no qual se lê inovação como
uma rede de computadores interligados, asse- “introdução de novidade ou aperfeiçoamento
gurar as comunicações em todo território do no ambiente produtivo ou social que resulte
país, bem como o hoje popularizado Global em novos produtos, processos ou serviços”
Positioning System, o GPS. (BRASIL, 2004). Essa definição será a que se
Longo (2007) também comenta que tecnolo- utilizará para os fins deste artigo.
gias de uso civil que são incorporadas ou dão De acordo com o Manual de Oslo
origem a produtos bélicos são denominadas (ORGANIZAÇÃO PARA A COOPERAÇÃO
de dual use technologies pelos norte-america- E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
nos. O autor define tecnologia de uso dual (ou [OCDE], 2005), diferenciam-se quatro ti-
duplo) como aquela tecnologia possível de ser pologias para a classificação de inovação:
utilizada para produzir ou melhorar bens ou ser- (i) inovações de produto; (ii) inovações de
viços de uso civil ou militar, sendo difícil rotular processo; (iii) inovações de marketing; e (iv)
o que é civil e o que é militar na produção de inovações organizacionais, sendo as ino-
conhecimentos científicos ou tecnológicos. vações de produto aplicadas tanto a bens
Corroborando com tais afirmações e a títu- quanto a serviços.
lo de exemplificação, Costa e Santos (2010) No referido Manual, tem-se que inovações
citam a norte-americana Raytheon, que hoje tecnológicas compreendem a implementação
fabrica radares e equipamentos de sistemas de produtos e de processos tecnologicamente
eletrônicos para aeronaves militares a partir novos, bem como a realização de melhora-
de radares civis, utilizando tecnologias duais e mentos tecnológicos significativos em produtos
o know-how concebido em projetos militares; e processos (OCDE, 2015), sendo as demais
bem como a fabricante russa de caças Sukhoi, consideradas não tecnológicas.
que lançou o jato Superjet 100 utilizando Depreende-se então das definições abor-
tecnologia militar, mas adequando os custos, dadas que somente as inovações de produtos
durabilidade e manutenção aos requeridos (bens e serviços) e as inovações de processos
pelo mercado civil. constituem as inovações tecnológicas; e que
Na literatura, é possível verificar inúmeras o componente tecnológico está intimamente
abordagens para o termo inovação. Para Longo conectado ao conceito de inovação adotado
(2007, p. 118), “inovação significa a solução por este artigo. Salienta-se, porém, que a
de um problema, tecnológico, utilizada pela escolha da definição empregada não esgota
primeira vez, compreendendo a introdução as inúmeras possibilidades existentes de se
de um novo produto ou processo no mercado abordar o referido tema.
em escala comercial tendo, em geral, positivas Para a Organização Mundial de Comércio
repercussões socioeconômicas”. Carlos (2013, – OMC (2015a), tecnologia é a chave para
p. 10) considera “a inovação como sendo a im- aumentar a produtividade do trabalho, sendo
plementação de algo novo ou significativamen- o crescimento econômico importante fator de
te melhorado para um determinado mercado”. desenvolvimento para os países. Para Porter
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artigo selecionado
(1990), inovação é importante para a indús- importações de produtos de defesa (BRASIL,
tria, pois através dela é possível atingir vanta- 2002).
gem competitiva, melhorando diretamente sua De acordo com essa Portaria, é obri-
produtividade, além de sua competitividade; e gatória a inclusão de um Acordo de
melhores níveis de crescimento sustentado da Compensação nas negociações de contra-
produtividade gerariam aumento no padrão tos de importação de produtos de defesa
de vida de um país. realizadas por qualquer uma das Forças
A OMC vem estudando, de forma cons- Armadas, com valor líquido – F.O.B. – aci-
tante, possibilidades de aumento do fluxo de ma de US$ 5.000.000,00 (cinco milhões
transferência de tecnologia para países em de dólares americanos). O valor líquido –
desenvolvimento, pois considera que inovar F.O.B. – é um termo amplamente usado no
não é tarefa simples. comércio internacional, em que o exportador
Carlos (2013) demonstra inúmeros fato- é o responsável pela mercadoria somente
res que afetam de maneira negativa a ge- até o seu embarque, ou seja, é aquele que
ração das inovações, comumente chamados detém a responsabilidade sobre o paga-
de barreiras à inovação, sendo que estas mento do transporte e do seguro do produto
barreiras podem dificultar ou até mesmo (WOLFFENBÜTTEL, 2006).
inibir aquilo que seria gerado. Dessa forma, Para Brasil (2002), os acordos de com-
é necessário criar um ambiente favorável ao pensação podem ser classificados quanto ao
desenvolvimento das inovações. tipo como diretos ou indiretos. Compensações
Porter (1990) salienta o importante papel diretas referem-se aos acordos de compensa-
do governo como catalisador e encorajador ção que envolvem bens e serviços diretamente
das empresas, fazendo-as elevar suas aspira- relacionados com o objeto dos contratos de
ções e galgar níveis mais altos de desempe- importação. Já compensações indiretas re-
nho competitivo, principalmente em setores ferem-se aos acordos de compensação que
estratégicos ou prioritários. Para Carlos envolvem bens e serviços não diretamente
(2013), cada uma das modalidades de off- relacionados com o objeto dos contratos de
set, corretamente aplicadas, pode contribuir importação.
para que algumas das barreiras à inovação Esses acordos podem ser realizados segun-
sejam transpostas, tornando-se importantes do as seguintes modalidades de transações
ferramentas nesse processo. de compensação (BRASIL, 2002):
Em 27 de dezembro de 2002, foi a) Produção sob licença: É uma reprodução
assinada a Portaria Normativa nº 764/ de um componente ou produto que tenha
MD, que aprovou a Política e as Diretrizes origem no exterior, baseado em um contra-
de Compensação Comercial, Industrial e to comercial de transferência de informa-
Tecnológica do Ministério da Defesa. Seus ção técnica entre empresas fornecedoras
objetivos, estratégias e diretrizes estabelecem estrangeiras e os fabricantes nacionais;
a sistemática das atividades que envolvem a b) Coprodução: Refere-se à produção realiza-
utilização das ferramentas de compensação da no país, baseada em um acordo entre o
(offset) em benefício do desenvolvimento in- Governo Brasileiro e um ou mais governos
dustrial, tecnológico e de comércio exterior estrangeiros, que permita ao governo ou
da BID brasileira, a partir da utilização do empresa estrangeira fornecer informações
poder de compra do Estado e do poder con- técnicas para a produção de todo ou parte
cedente das Forças Armadas, quando das de um produto originado no exterior;
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artigo selecionado
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artigo selecionado
seguida, estabelece no art. V que “com base Outros autores possuem pensamento alinhado,
em suas necessidades de desenvolvimento, e como se pode verificar abaixo:
de comum acordo entre as partes, um país
em desenvolvimento pode adotar Os offsets são normalmente solicitados a
ou manter [...] um offset, desde que partir de aquisições no exterior de bens e
qualquer exigência [...] seja previs- serviços nas áreas de defesa (aeronaves,
ta previamente no contrato” (OMC, navios, armamentos etc.) e civis de alta
2012, tradução nossa, grifo nosso), o que tecnologia (aviões comerciais, satélites de
deixa claro que a norma em análise efetiva- telecomunicações etc.) realizados pelo
mente permite a aplicação de offset aos paí- governo, por empresas estatais e empresas
ses em desenvolvimento, visando efetivamente concessionárias do governo. Os bens en-
a atender às suas necessidades. volvidos em uma transação podem variar
de produtos industrializados, a intangíveis,
4 ANÁLISE como transferência de tecnologia, direitos
Seguindo a metodologia proposta para comerciais e serviços (IVO, 2004, p. 64).
este estudo e tendo como base as informações Os acordos offset podem ser um impor-
apresentadas no referencial teórico, será evi- tante instrumento de política, atuando em
denciada agora a contribuição do offset como conjunto com as compras governamentais.
ferramenta à inovação nas últimas décadas, Esses acordos possibilitam que a compra de
reduzindo o hiato tecnológico existente na BID um produto tenha um termo adicional que
dos países em desenvolvimento. possibilite maior transferência de conheci-
Estudos e documentos anteriores sugerem mento e/ou serviço. Assim, o governo pode
importantes contribuições a esta análise. Para adotar algumas medidas de compensação
um contexto histórico, Tavares, Silva e Corrêa tecnológica para tentar reduzir o hiato exis-
(2014) demonstraram que as práticas de off- tente entre as empresas nacionais e estran-
set foram de suma importância para o ressur- geiras (Leske, 2013, p. 151, grifo nosso).
gimento de uma indústria de defesa forte nos
países da Europa no período pós 2ª Guerra Para Taborda (2001), os processos de
Mundial. Isso ocorreu porque, ao priorizarem aquisição envolvendo acordos de compensa-
as compensações com transferência de tecno- ção ocuparam, desde os anos 70, um espa-
logia, alguns países tiveram a possibilidade ço cada vez maior no quadro de comércio
de sair da condição de importadores para a internacional, predominando hoje os acordos
condição de exportadores de produtos e siste- de compensação em que o Estado, enquanto
mas de defesa de alta tecnologia, logo após entidade compradora, exige do fornecedor
duas décadas. mecanismos de compensação capazes de
Ainda para os mesmos autores, sob uma reduzir o esforço financeiro, associados à sua
ótica atual, os contratos de offset alcançaram aquisição e ao benefício da economia local.
importância no cenário político e econômico, Pela abordagem desses autores, é possí-
brasileiro e internacional, sendo percebidos vel perceber a importância justificada dada
como uma forma de promover o desenvolvi- às compensações no cenário internacional.
mento tecnológico, o crescimento da Base Nesse escopo, a aprovação da END é um
Industrial de Defesa, a geração de empregos, dos documentos que apresentam o caminho
o equilíbrio da balança comercial, e outros estratégico adotado pelo Estado Brasileiro.
benefícios diretos e indiretos para os países. Tal Decreto prioriza a tecnologia de uso dual
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artigo selecionado
como uma diretriz, devendo-se desenvolver níveis de projeção externa do País. A pre-
a infraestrutura estratégica do país, incluindo sente Estratégia Nacional de Defesa trata
requisitos necessários à Defesa Nacional. De da reorganização e reorientação das
acordo com o documento, “a infraestrutura Forças Armadas, da organização da Base
estratégica do Brasil deverá contemplar estu- Industrial de Defesa e da política de compo-
dos para emprego dual, ou seja, atender à sição dos efetivos da Marinha, do Exército
sociedade e à economia do País, bem como e da Aeronáutica. Ao propiciar a execução
à Defesa Nacional” (BRASIL, 2008). da Política Nacional de Defesa com uma
De acordo com Bresser-Pereira (2006, orientação sistemática e com medidas de
p. 203), “o desenvolvimento econômico é implementação, a Estratégia Nacional de
um processo histórico de acumulação de Defesa contribuirá para fortalecer o papel
capital e de aumento da produtividade por cada vez mais importante do Brasil no mun-
que passa a economia de um país levando do (BRASIL, 2008, grifo nosso).
ao crescimento sustentado da renda por ha-
bitante e à melhoria dos padrões de vida da De acordo com Dagnino (2008), os meca-
população dos países”. O Estado Brasileiro, nismos de offset colaboram com as políticas
ao determinar que a “Estratégia Nacional de públicas relacionadas ao tema da revitaliza-
Defesa é inseparável de estratégia nacional ção da BID brasileira, principalmente pelo fato
de desenvolvimento” (BRASIL, 2008), enaltece de aumentar a capacidade de formação da
a importância do setor de defesa para o de- opinião pública e de nela influenciar. Torna-se
senvolvimento do país. mais fácil obter o apoio da população para
Do Decreto Nº 6.703/2008, ainda pode- o tema defesa quando a mesma passa a
-se citar: compreender os impactos econômicos e tec-
O crescente desenvolvimento do Brasil deve nológicos consequentes da revitalização da
ser acompanhado pelo aumento do preparo BID. Para tal, o autor salienta como aspectos
de sua defesa contra ameaças e agres- relevantes a conscientização da presença de
sões. A sociedade brasileira vem tomando ameaças externas à soberania nacional e a
consciência da responsabilidade com a grande possibilidade de benefícios econômi-
preservação da independência do País. O cos e tecnológicos ao país. Tais ideias são
planejamento de ações destinadas à Defesa corroboradas, ainda, pelos demais dispositi-
Nacional, a cargo do Estado, tem seu do- vos legais sobre o tema, conforme analisado
cumento condicionante de mais alto nível na por Tavares, Silva e Corrêa (2014, p. 45):
Política Nacional de Defesa, que estabelece Com o alicerce político formado, fo-
os Objetivos Nacionais de Defesa. O pri- ram aprovadas, num período de cinco
meiro deles é a garantia da soberania, do anos, a Estratégia Nacional de Defesa
patrimônio nacional e da integridade territo- (2008), o Decreto nº 7.546/2011, a
rial. Outros objetivos incluem a estruturação Lei nº 12.598/2012 e o Decreto nº
de Forças Armadas com adequadas capa- 7.970/2013. Esses dispositivos legais de-
cidades organizacionais e operacionais e a monstram que o Brasil finalmente compreen-
criação de condições sociais e econômicas deu que os Acordos de Compensação reali-
de apoio à Defesa Nacional no Brasil, zados a partir das importações de produtos
assim como a contribuição para a paz e com alta tecnologia e valor agregado no
a segurança internacionais e a proteção mercado de defesa são oportunidades para
dos interesses brasileiros nos diferentes o país obter alguns benefícios, tais como: (i)
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artigo selecionado
desenvolvimento de uma indústria de defesa inúmeras críticas podem ser encontradas se
forte em níveis tecnológicos e qualitativos; referindo à política indiana de compensação.
(ii) absorção de tecnologias pelas empresas Para o Bussines Standard (2011), as em-
de defesa, permitindo ao país dar saltos presas de defesa indianas não conseguirão
tecnológicos no processo de evolução da absorver os bilhões de dólares em offset que
pesquisa científica, onde, se tivessem que surgirão das aquisições de material de defesa
ser desenvolvidas aqui, demandariam muito durante a próxima década. Segundo esse au-
mais tempo; (iii) aumento da competitividade tor, até hoje, a meta do programa de offsets
das empresas brasileiras no mercado inter- da Índia não está bem definida, não sendo
nacional equilibrando a balança comercial; possível saber se ela existe para aumentar a
(iv) geração de novos empregos nos setores fabricação de material de defesa, para ter
de alto nível tecnológico; e (v) incremento acesso à alta tecnologia sensível ou para ga-
da nacionalização e progressiva indepen- rantir o correto apoio ao ciclo de vida para
dência do mercado externo em relação aos o equipamento comprado. Com isso o país
produtos de defesa. perde inúmeras oportunidades de exercer a
correta aplicação das ferramentas de offset
em benefício real ao desenvolvimento.
Após este introito, buscaram-se evidências
Tal exemplo mostra que não basta usar
de que, nas últimas décadas, a utilização de
indiscriminadamente as ferramentas de offset
ferramentas de offset efetivamente contribuiu
para se atingir os objetivos estabelecidos,
para promover a inovação, reduzindo o hiato
visto que eles precisam estar claros e bem
tecnológico existente na BID de países em de-
elaborados para que sejam efetivos.
senvolvimento. Conforme citado anteriormen-
te, a classificação utilizada para determinar 4.2 Turquia
se o país se trata realmente de um país em Em um dos casos mais emblemáticos
desenvolvimento seguiu o estabelecido pela encontrados na literatura sobre o tema, no
OMC (2015b). tocante à definição de objetivos, a Turquia se
comporta de maneira oposta se comparada
4.1 Índia
à Índia. Para Taborda (2001), o acordo entre
Seguindo o citado por Verma (2009), a Turquia e a General Dynamics, em 1983,
inicialmente, será abordado o país cujo or- para a produção de peças turcas para o caça
çamento de defesa, em 2008, era de 23,42 F-16 é citado como referência em termos das
bilhões de dólares e, em 2009, passou para vantagens econômicas que podem ser gera-
26,4 bilhões, sendo 12 bilhões destinados das com a utilização de acordos de compen-
apenas para as aquisições de capital, estan- sação, além de ter sido o primeiro contrato de
do entre os 10 países que mais gastam com offset bem-sucedido no país.
defesa no mundo: a Índia. Vários autores associam, a este processo
Verma explica ainda que na Índia o offset com os americanos, o início das atividades
se tornou obrigatório em 30% do valor das da indústria aeronáutica turca, relacionando
aquisições de material de defesa, e esse o acordo de compensação com a compra
percentual pode ser ainda maior dependendo de caças sofisticados para o desenvolvimen-
das compras e do nível de importância atri- to da raiz de um conjunto de indústrias que
buída pelo Ministério da Defesa. No entanto, não existiam até então (HAMMOND, 1990;
apesar do alto investimento em material bélico, TABORDA, 2001).
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artigo selecionado
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Para Taborda (2001), o importante proces- fabricante americano acordado em adquirir
so referente à instauração da infraestrutura de bens e serviços de origem local nos anos
defesa foi o acordo com a Boeing, em 1984, seguintes (TABORDA, 2001).
para a aquisição de um sistema de defesa ter- Taborda relata ainda que Israel passou a
restre designado de Peace Shield. As compen- produzir componentes para essa aeronave,
sações associadas ao contrato resultaram na que era comercializada no mercado interna-
instauração de infraestruturas que permitiram cional, atuando como alternativa ao próprio
diversificar as atividades econômicas no país, fabricante. Outros acordos de compensação
fornecendo inicialmente tanto a formação se seguiram a este e podem ser considerados
quanto a base tecnológica. representativos na forma como o país aborda
Apesar dos benefícios tecnológicos gera- os processos de offset enquanto instrumento de
dos não terem sido muito expressivos a ponto desenvolvimento econômico, de forma que o
de se destacarem, seus transbordamentos modo como Israel procura retirar benefícios a
econômicos para a população obtiveram partir da utilização desses acordos faz com
resultados satisfatórios, pois, dez anos de- que suas empresas locais atuem no mercado
pois do início do contrato, as quatro joint internacional como fornecedoras de offset
ventures criadas produziram mais de 1.400 (TABORDA, 2001).
postos de trabalho para a população saudita
4.5 Brasil
(TABORDA, 2001).
Há exemplos de sucesso também no âm-
4.4 Israel bito nacional. De acordo com Brasil (2015),
Outro país que procura retirar muitas vanta- exportando no ano passado valores acima
gens dos processos de compensações no âm- de US$ 100.000.000,00 (cem milhões de
bito das aquisições militares, desde a década dólares americanos), a Embraer é a empresa
de 80, a ponto de desenvolver hoje uma brasileira que mais exporta produtos de alto
indústria militar que praticamente não existia valor agregado.
até então, é Israel (REDLICH; MISCAVAGE, Costa e Santos (2010) consideram que
1996). essa empresa se tornou uma das líderes no
Para Redlich e Miscavage (1996), a segmento da aviação comercial e é uma
criatividade marca o modo como o país tem das maiores referências brasileiras entre as
aproveitado esses processos de compensa- empresas de defesa. Já o Departamento da
ção para desenvolver uma indústria de de- Indústria de Defesa da FIESP (COMDEFESA,
fesa, cuja face mais visível é a Israel Aircraft 2012) considera a Embraer como o maior
Industries (IAI). Segundo Taborda (2001, p. personagem do setor de Defesa do País, e
66), “no setor aeroespacial, a IAI é hoje um que ela aprendeu e se beneficiou da absor-
ator importante a nível global, comprovada ção de conhecimento em sua trajetória, fato
pela área ocupada em feiras, semelhante à que a possibilitou atingir o tamanho e o nível
da Boeing e Airbus”. de competitividade mundial que possui hoje,
Desde o princípio, os contratos de offset muito embora não tenha nascido entre as líde-
foram vistos por Israel como formas privi- res do mercado.
legiadas de acelerar a transferência de No final da década de 80 e início da dé-
conhecimento. O processo que iniciou essa cada de 90, essa empresa – então pública –
tendência foi a aquisição de 210 caças F-16 passou por uma grave crise que culminou com
da General Dynamics, em 1980, tendo o sua privatização em 1994 (EMBRAER, 2012).
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quadros de funcionários governamentais e médias empresas e sobretudo a transferência
privados. O setor empresarial faz a união com de tecnologia capaz de tornar possível, no
a realidade, ficando atento às oportunidades país receptor, o desenvolvimento de novas in-
de negócios, aperfeiçoando as técnicas fa- dústrias de ponta” (VILALVA, 2004, p. 7).
bris e acrescentando conhecimentos técnicos De acordo com o contido no Manual de
(SÁBATO e BOTANA, 1968). Oslo, uma das formas de se obter inovações
Corroborando com o trabalho de Sábato e de produto é a partir da utilização de novos
Botana, Leske (2013) considera que os fatores conhecimentos ou novas tecnologias, ou a
listados correspondem exatamente aos pilares partir de novas maneiras de utilização ou
do sistema de inovação: a importância da combinações para conhecimentos ou tecno-
parceria entre empresa-universidade-governo e logias existentes, ou a partir de inovações
a busca constante por inovações como parte de processos, nas quais estão incluídas
da rotina das empresas. Segundo a autora, foi mudanças significativas em técnicas, equi-
possível verificar a seguinte análise: pamentos e/ou software (OCDE, 2005).
O caso da Embraer mostra que é possível Percebemos, então, que houve efetivamente
ser uma empresa líder em um mercado dis- o surgimento de inovações mediante a utili-
putado por grandes empresas, desde que zação de instrumentos de offset nos casos
mantendo parcerias e inovando, e que defi- estudados.
nitivamente as políticas devam partir de uma Contudo, em concordância com o abor-
visão sistêmica, no caso da defesa, com o dado por Leske (2013), é ainda necessário
governo garantindo também uma demanda delimitar até onde as proposições seriam
inicial mínima (LESKE, 2013, p. 175) viáveis em nossa realidade, pois não se pode
esquecer que tanto o contexto da defesa
No entanto, essa demanda mínima não quanto o econômico dos países abordados
demonstra ser prioridade atualmente, como é bem diferente do brasileiro. Assim sendo,
sugere a diminuição dos investimentos no setor essas especificidades devem ser consideradas
de defesa brasileiro. Segundo dados presen- nas projeções e necessidades elencadas pelo
tes no relatório anual The Military Balance, Brasil em seus acordos de compensação.
divulgado pelo The International Institute for Outro aspecto é o sugerido por Taborda
Strategic Studies (IISS, na sigla em inglês), (2001), ao considerar que os processos de
o Brasil deixou a lista dos 10 maiores orça- offset não devem ser vistos como garantia de
mentos militares do mundo em 2014. Pelo obter esse nivelamento tecnológico desejado,
relatório, o Brasil é agora o 11º colocado, mas como oportunidades para as empresas
uma posição abaixo do relatório anterior, posicionarem suas áreas de intervenção tec-
com orçamento de US$31,9 bilhões contra os nológica e desenvolverem suas competências,
US$34,7 bilhões em 2013. buscando inovar e se destacar no mercado.
Os fatos abordados neste estudo acerca Nesse sentido, Longo (2009) defende que
de compensações comerciais ou os chama- é essencial filtrar e analisar as informações
dos offsets corroboram com o abordado por tecnológicas, assim como ocorre, com re-
Vilalva (2004). O autor cita ser válido salientar lação à economia e à política, no processo
que os principais benefícios para os países de elaboração de estratégias e políticas por
em desenvolvimento são “novos investimentos, empresas e pelo governo. Corroborando
geração de empregos, aumento dos fluxos de com esse posicionamento, Leske (2013, p.
comércio, oportunidades para pequenas e 156) considera que “o país deve ser capaz
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de obter informações sobre as tecnologias inovação nas últimas décadas, a fim de reduzir
desenvolvidas em outros países e processá-las o hiato tecnológico existente na BID dos países
de forma a direcionar a estratégia tecnológica em desenvolvimento, sendo que as principais li-
conforme as necessidades de defesa e que mitações ao estudo ocorreram, principalmente,
possa tornar o país independente em termos no tocante ao acesso ao material de pesquisa,
tecnológicos”. uma vez que os artigos disponíveis são, em
No estudo realizado pela OMC (2015a) sua maioria, técnicos – e não acadêmicos. No
foi também salientado que não basta se tocante ao acesso aos dados, como grande
transferir tecnologia, é importante mensurar parte do assunto trata de tecnologias sensíveis
a educação e a disponibilidade da infraes- à Segurança Nacional, o acesso a determina-
trutura presentes nos países receptores, veri- das bases de dados práticos para a análise foi
ficando se elas são adequadas tanto para a muito limitado.
transferência quanto para a assimilação ou De acordo com a definição de inovação
adaptação da tecnologia. adotada neste artigo, sendo a “introdução de
Para Leske (2013), existem grandes difi- novidade ou aperfeiçoamento no ambiente
culdades com relação à utilização dos offsets produtivo ou social que resulte em novos pro-
no Brasil. Quando são celebrados acordos dutos, processos ou serviços” (BRASIL, 2004),
de transferência tecnológica pelas Forças foi possível depreender que o passado recente
Armadas com empresas de outros países, por demonstra inúmeros casos que ilustram al-
exemplo, são enviados apenas engenheiros gumas das vantagens relacionadas à utiliza-
ligados às Forças, mas não engenheiros das ção do offset como ferramenta à inovação.
empresas, de maneira a complementar o es- Conseguimos constatar que é possível utilizá-lo
tudo. Com isso, devido à grande rotatividade como eficiente ferramenta de políticas públicas
nas funções exercidas pela carreira militar, é na busca pelo desenvolvimento tecnológico
comum que o conhecimento adquirido acabe (e consequentemente econômico) dos países
se perdendo, sem haver nenhum transborda- estudados.
mento para a sociedade. Os acordos de compensação contribuíram
Para aquela autora, o envio de engenhei- para a transposição de barreiras à inovação
ros empregados por empresas permite não que sofrem as empresas, principalmente as do
só atender à demanda das Forças oportuna- setor de defesa. Verificou-se que as inovações
mente mas também possibilita a realização de decorrentes da adoção dos offsets permitiram
uma aplicação dual, ampliando os benefícios a redução do hiato tecnológico existente en-
oriundos da tecnologia adquirida. Outro tre os países desenvolvidos e os países em
fator abordado refere-se à interação entre desenvolvimento.
as próprias Forças Armadas, pois apesar de Entretanto, faz-se necessário compreender
reunidas pelo Ministério da Defesa, ela con- que tal processo não é automático, muito
tinuam atuando de forma independente. Com menos simples. Entre outros fatores, o sucesso
essa interação restrita e complicada, torna-se demanda de uma profunda análise da infraes-
dificultosa a realização de ações conjuntas, trutura presente no país receptor, verificando se
fragilizando o sistema. é adequada tanto para transferência quanto
para a assimilação ou adaptação da tecnolo-
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS gia desejada, além da necessária integração
Ao longo deste trabalho, buscou-se eviden- dos três setores principais: governo, empresas
ciar a contribuição do offset como ferramenta à e universidades. Tais ações possibilitam um real
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transbordamento para a sociedade, mediante BRASIL. Ministério da Defesa. Portaria
a efetividade dos sistemas de inovação. Normativa nº 764/MD. Aprova a Política
Adicionalmente, podemos inferir que, para e Diretrizes de Compensação Comercial,
ter acesso aos benefícios, é necessário trans- Industrial e Tecnológica do Ministério da
por algumas dificuldades, como uma maior Defesa. Diário Oficial da União, Brasília, DF,
integração não apenas intersetorial mas tam- em 31 dez. 2002, seção 1, p. 19.
bém intrassetorial. Desse modo, é possível ini- BRASIL. Lei nº 10.973, de 2 de dezembro
bir algumas fragilidades presentes no sistema. de 2004. Dispõe sobre incentivos à inova-
Corretas e rígidas práticas de fiscalização e ção e à pesquisa científica e tecnológica no
transparência pública também são necessá- ambiente produtivo e dá outras providências.
rias, visando a coibir, principalmente, os riscos Disponível em: < http://www.planalto.gov.
à corrupção. br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/lei/
Por se tratarem de acordos, offsets envol- l10.973.htm>. Acesso em: 19 set. 2015.
vem uma relação de troca entre o vendedor BRASIL. Ministério da Defesa. Portaria
e o comprador, na qual eles se tornam par- Normativa no 899, de 19 de julho de 2005.
ceiros, sendo necessário buscar ao máximo, Disponível em: <http://www.defesa.gov.
na negociação, uma relação de ganha-ganha br/arquivos/File/legislacao/emcfa/publica-
entre os participantes. coes/pnid_politica_nacional_da_industria_
A inovação permite o aumento da produti- de_defesa.pdf>. Acesso em: 19 set. 2015.
vidade da indústria com uma consequente me- BRASIL. Decreto nº 6.703, de 18 de de-
lhora da economia e melhora da qualidade zembro de 2008. Aprova a Estratégia
de vida da população. No Brasil, a END nos Nacional de Defesa, e dá outras providên-
mostra que estratégia de defesa está interliga- cias. Disponível em: <http://www.planalto.
da a estratégia de desenvolvimento. Dessa gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/
forma, as inovações no setor de defesa pos- Decreto/D6703.htm>. Acesso em: 16 jun.
sibilitam o uso de tecnologias de uso dual, de 2015.
forma a agregar valor aos produtos nacionais BRASIL. Ministério da Defesa. Livro Branco
e melhorar tanto a possibilidade de atender às de Defesa Nacional. 2012. Disponível
demandas internas quanto ao mercado exter- em: <http://www.defesa.gov.br/arqui-
no, fortalecendo a balança comercial. vos/2012/mes07/lbdn.pdf>. Acesso em:
Por fim, como sugestão de pesquisas futu- 06 nov. 2015.
ras, propõe-se uma avaliação mais minuciosa BRASIL. Ministério do Desenvolvimento,
da realidade da BID brasileira no tocante a Indústria e Comércio Exterior. Empresas ex-
sua real capacidade de incorporar, de manei- portadoras: 2001 a 2014. 2015. Disponível
ra efetiva, tecnologias desejadas na compen- em: <http://www.desenvolvimento.gov.
sação, visando a atingir melhores níveis de br/sitio/interna/interna.php?area=5&-
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ACANTO EM REVISTA 79
E M R E V I S TA
artigo selecionado
80 ACANTO EM REVISTA
E M R E V I S TA
artigo selecionado
como principal objetivo garantir que o atendi- acordos de compensação comercial, industrial
mento das necessidades de equipamento das e tecnológica (offset)?
Forças Armadas seja calcado em tecnologia Nesse sentido, o objetivo dessa pesquisa foi
sob domínio nacional. reconhecer benefícios advindos do uso da ToT
Em um primeiro momento, seria possível para a BID, além de identificar aspectos impor-
imaginar que o Brasil, que segundo o Fundo tantes para o sucesso pleno desse tipo de pro-
Monetário Internacional (FMI) é portador cesso em termos de acordos offset. Considerou-
da nona maior economia do mundo (World se que o conhecimento de tais benefícios e
Economic Outlook, 2015), fosse capaz de, aspectos podem constituir-se como ferramentas
por si próprio, conseguir proporcionar o gerenciais relevantes para os dirigentes das
desenvolvimento e a reestruturação de sua organizações pactuantes de acordos dessa na-
Base Industrial de Defesa (BID). Porém, dados tureza, para os militares das Forças Armadas à
constantes no presente estudo, demonstram frente das negociações de tais contratos, bem
a necessidade de implementação de outras como para os atores da BID.
estratégias para a existência da possibilidade Dessa forma, este artigo proporcionou,
do cumprimento de tal propósito. com base em uma pesquisa descritiva de
Como tentativa de indicar mecanismos que abordagem qualitativa, a criação de um
ajudem no atendimento dos objetivos propos- referencial teórico que visa a contextualizar
tos, além de prover celeridade ao processo de conceitos relacionados aos contratos de offset,
desenvolvimento tecnológico e de capacita- BID e ToT. Em seguida, o estudo contou com
ção de recursos humanos nacionais, a END alguns casos práticos de offset em um contexto
traz como diretriz a busca de parcerias com nacional e internacional, além da análise do
outros países, de modo a eliminar, progres- relatório TC 005.910/2011-0 do Tribunal de
sivamente, a compra de serviços e produtos Contas da União (TCU) referente ao processo
importados. Nesse contexto, tem-se a inserção de ToT associado aos contratos de offset do
da figura dos acordos de compensação co- Programa de Desenvolvimento de Submarinos
mercial, industrial e tecnológica (offset), que se (PROSUB), gerido pela Marinha do Brasil
(MB), e do Projeto H-XBR (Helicópteros), geri-
estabelecem como foco do presente estudo.
do pela Força Aérea Brasileira (FAB).
Ao tomar como base a utilização dos
A análise dos dados anteriormente citados
acordos de offset no setor de defesa brasilei-
buscou evidenciar empiricamente, com o uso
ro, busca-se evidenciar que, por meio de tal
dos casos práticos, benefícios do uso da ToT
ferramenta, especificamente na modalidade
como contrapartida para a BID; enquanto
de Transferência de Tecnologia (Transfer of
a análise do relatório do TCU foi realizada
Technology - ToT), a BID poderá ser capaz de
com o objetivo de ajudar na identificação de
promover significativos avanços tecnológicos,
aspectos necessários ao alcance de todo po-
podendo desenvolver não só a si própria mas
tencial existente em processos dessa natureza.
também a Base Industrial Nacional.
Desse modo, este estudo definiu como
2 REFERENCIAL TEÓRICO
questão básica o seguinte problema de pes-
quisa: Quais os possíveis benefícios decorren- 2.1 Base Industrial de Defesa
tes do processo de ToT para a BID e quais os Segundo a END (2008, p.21), a BID é
aspectos relevantes para a consecução plena o conjunto das empresas estatais e privadas,
de tal processo, considerando-se o âmbito dos bem como de organizações civis e militares
ACANTO EM REVISTA 81
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artigo selecionado
que participam de uma ou mais etapas de Em seguida, uma BID com capacidade para
pesquisa, desenvolvimento, produção, distri- proporcionar os recursos necessários e adequa-
buição e manutenção de produtos estratégi- dos ao tempo desejado, conforme orientação
cos de defesa (bens e serviços). dada pela END e devidamente incentivada por
Carvalho (2013) defende que a BID, embo- todo um arcabouço legal e industrial, a qual
ra seja um ramo da indústria, possui algumas necessita do máximo de independência tecno-
características que a difere das demais. Sua lógica e logística.
importância estratégica para a soberania e a Ainda segundo Carvalho (2013), a base
aplicação do poder nacional lhe dá caráter da pirâmide denota a capacidade industrial
brasileira. A ela caberia o papel de dar
exclusivo e, ao mesmo tempo, muito subjetivo,
suporte tecnológico e financeiro à BID, po-
difícil de ser quantificado.
dendo ainda ser beneficiária das tecnologias
Com o objetivo de facilitar o entendimento
duais e possíveis transbordamentos tecno-
deste ramo da indústria nacional e sua rele-
lógicos, de forma que uma base industrial
vância, será utilizado o conceito da “pirâmi-
nacional forte serviria de respaldo à BID que,
de de defesa”, conforme observado na figura
por conseguinte, poderia desenvolver e/ou
01 a seguir:
absorver tecnologias relevantes para sua
independência e, ao mesmo tempo, passíveis
Figura 1 – Pirâmide de Defesa. de utilização na indústria nacional.
Uma vez estabelecidas tais relações
entre as camadas da pirâmide de defesa,
torna-se possível perceber a existência de
ao menos duas diferentes possibilidades de
desenvolvimento econômico que podem ser
potencializadas por meio da BID.
A primeira é denominada spin-off, ou trans-
bordamento, que, segundo Peron (2011), ca-
racteriza-se pela transferência dos desenvolvi-
Fonte: Adaptado de Base Industrial de Defesa, 2013.
mentos tecnológicos ou inovações verificados
de uma área industrial para outra, podendo
Segundo Carvalho (2013), podem ser
ocorrer da BID para a indústria nacional, após
observadas, no ápice da pirâmide, as aspi-
o desenvolvimento da primeira.
rações da política de defesa, caracterizadas
A segunda possibilidade seria a utilização
pela Política Nacional de Defesa (PND) e
de tecnologias duais que, diferentemente do
END, expressando a necessidade de um po-
transbordamento de tecnologia do efeito
der militar suficiente para garantir os objetivos spin-off, tem relação com a convergência de
políticos nacionais. tecnologias entre os setores militar e civil, ou
No segundo bloco, estão as Forças seja, tecnologias que tenham aplicações tanto
Armadas como garantidoras da política exter- no meio civil quanto no meio militar, podendo
na, tendo em vista que, independentemente igualmente impulsionar a economia e a indús-
do quão qualificado seja o corpo diplomáti- tria nacional como um todo (SILVA, 2009).
co, as negociações devem estar amparadas O entendimento de que a BID pode se
por um adequado aparato militar, sem o qual beneficiar de uma relação harmoniosa com
não há o devido respaldo. a base industrial de defesa é defendida por
82 ACANTO EM REVISTA
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artigo selecionado
Ferreira e Sarti (2011) quando asseveram que severamente atingidas pela crise internacional
a geração de demanda para BID pode favo- do setor.
recer a cadeia produtiva das demais indústrias Desse modo, no que tange ao setor da
brasileiras, não necessariamente relacionadas indústria de defesa, uma nova conjuntura
com essa BID, contribuindo para o aumento mundial foi se formando, fazendo com que
da atividade industrial no Brasil. as nações começassem a adotar diferentes
Cabe ainda destaque para a necessidade posturas: enquanto algumas estimularam suas
da observância de elementos conectores no empresas a encontrarem novos mercados in-
âmbito do conceito da “pirâmide de defesa”. ternacionais para compensarem a insuficiente
De acordo com Carvalho (2013), para que tal demanda interna causada pelos orçamentos
pirâmide se consolide, faz-se necessária a exis- militares reduzidos, outras praticamente não
tência de objetivos alinhados e políticas favo- interferiram nas condições existentes no
ráveis asseguradas pelo Estado, ou seja, uma mercado, deixando que algumas de suas
“força política” suficiente e capaz de garantir empresas entrassem em processo de falência
perpetuidade de investimentos e continuidade (DEGL`IESPOSTI; STRACHMAN, 2006).
de demanda, fazendo com que os riscos de Após o anteriormente elucidado, buscou-
investimentos no âmbito de defesa sejam acei- -se posicionar o Brasil na realidade atual do
tos pelas empresas componentes desse meio e segmento em estudo, na tentativa de expor a
exista espaço para aprimoramento e desenvol- postura governamental e possíveis tendências
vimento da BID. do setor. Para tal, foram observados dados
referentes aos gastos militares internacionais a
2.2 A Indústria Nacional de Defesa e as partir do reportado pelo relatório do Stockholm
Tendências Nacionais International Peace Research Institute (SIPRI),
Ao observar um breve histórico mundial das organização que realiza diversos estudos, em
indústrias bélicas, torna-se evidente o declínio escala global, na área de defesa, incluindo
nos orçamentos militares no pós-guerra fria, dados como os relativos ao mercado interna-
fato que levou a maioria das empresas deste cional de venda de armamentos.
ramo a enfrentar períodos de grande recessão O relatório emitido inclui todos os gastos
advindos do excesso de oferta (produção acu- nas Forças Armadas, inclusive os gastos com
mulada) em face da reduzida demanda, visto pessoal (aposentadorias e pensões), com servi-
que os países não percebiam mais a neces- ços sociais (assistência médica, por exemplo)
sidade de acumular estoques de armamentos e administrativos de 171 países. Segundo o
(DEGL`IESPOSTI; STRACHMAN, 2006). referido relatório, foi possível a confecção de
A BID, seguindo essa realidade, teve seu alguns gráficos elucidativos. Na figura 02, a
ápice observado na década de 80, deven- seguir, pode-se perceber a evolução histórica
do-se em grande parte à guerra Irã-Iraque. dos gastos com defesa do Brasil com relação
Segundo Zaborsky (2003), as exportações à representação percentual do PIB.
de armas brasileiras chegaram a quase Em relação à figura 02, depreende-se
US$ 1 bilhão, na metade da década de 80 que, a despeito do aumento do orçamento
(mesmo valor registrado pela França, quarta e consequentemente dos valores gastos em
colocada neste comércio, em 2003). Porém, defesa, houve uma redução em sua relação
no começo da década de 1990, as três percentual com o Produto Interno Bruto (PIB),
maiores empresas brasileiras do setor indus- que, de acordo com Mankiw (2007), repre-
trial-militar (Embraer, Engesa e Avibrás) foram senta o valor de mercado de todos os bens e
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artigo selecionado
84 ACANTO EM REVISTA
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artigo selecionado
Figura
Fonte: Elaboração 3 – Gastos
do Autor com
mediante defesa
dados de países selecionados, em valores nominais
do SIPRI.
em relação ao percentual do PIB, no ano de 2014.
No gráfico em estudo, é possível verificar que o Brasil encontra-se na 11ª posição
mundial em termos de gastos militares, porém, dentre os quinze maiores gastos, apresenta-se
à frente somente do Japão e da Alemanha, quando observada a parcela proporcional do PIB
representada por tais gastos.
Uma vez verificado o montante disponibilizado aos gastos do segmento em questão,
procedeu-se uma análise para saber como os recursos disponibilizados pelo Governo Federal
são direcionados para Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), de forma geral, quando
comparados com os destinados ao setor de defesa.
No intuito de proporcionar uma visão da postura governamental relativa ao assunto e
seu possível alinhamento a END, foram obtidos dados junto ao sítio da internet do Ministério
da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), consolidados em 2015, no qual foi possível
verificar,
Fonte: Elaboração doem termos
Autor mediante dados dopercentuais,
SIPRI. a divisão dos gastos em P&D do Brasil em comparação com
outras nações selecionadas por tal Ministério, conforme observado na seguinte tabela:
Tabela 1 – Gastos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) de países selecionados em termos
percentuais
Tabela 1 – Gastos em Pesquisa relativos ao investimento
e Desenvolvimento total. selecionados em termos
(P&D) de países
percentuais relativos ao investimento total
Fonte: Coordenação-Geral de Indicadores (CGIN) - ASCAV/SEXEC - Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), 2015
7
2.3 Acordos de Compensação Comercial, Nesse sentido, Ivo (2004) defende a ideia
Industrial e Tecnológica (offset) de que acordos comerciais offset podem se
Face ao anteriormente exposto, alternativas configurar como instrumentos dinamizadores
de aprimoramento, expansão da BID e conse- do desenvolvimento industrial e tecnológico,
quente sinergia com a base industrial nacional tornando fundamental o correto entendimento
têm sido alvo de discussões acadêmicas e do conceito de tal mecanismo e seus possíveis
políticas, nas quais o uso de ferramentas as- desdobramentos.
sociadas ao comércio internacional de defesa A prática de offset foi definida por meio
ganha destaque. da Portaria nº 764, de 2002, que aprova
ACANTO EM REVISTA 85
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artigo selecionado
86 ACANTO EM REVISTA
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artigo selecionado
tecnológico do país. Cabe ressaltar que tal Caso contrário, ainda segundo Longo e
modalidade pode ser considerada adequada Moreira (2012), os contratos poderiam ser vis-
aos fins de desenvolvimento econômico, caso tos como compras de informações técnicas e
respeitados parâmetros de gerenciamento operacionais, ou seja, sem o menor potencial
dos contratos de offset, combinados com ou- de futuro desenvolvimento de tecnologia, invia-
tros aspectos como a adequada capacidade bilizando, por exemplo, um possível spin-off
de absorção da tecnologia em transferência. para a indústria nacional.
Em alinhamento com tal concepção, Carlos Outros pontos fundamentais para o sucesso
(2013) assevera que o MD, por meio das da ToT podem ser encontrados na aborda-
Forças Armadas, priorizou os acordos de com- gem de autores como Carlos (2013) e Longo
pensação offsets com o desígnio de promover e Moreira (2012), bem como nos estudos
a participação da BID no processo de inova- elaborados pela Universidade das Nações
ção, condicionando a compra de produtos de Unidas e Science and Development Network,
defesa no exterior à transferência substancial sendo um entendimento comum a todos a con-
de tecnologia e ao processo de absorção de cepção de que o sucesso da ToT depende da
competências até então inexistentes. capacidade que o país recebedor tem de di-
No Brasil, todas as modalidades são admi- mensionar e absorver a tecnologia que estiver
tidas desde que inseridas em um contexto mais sendo transferida, de definir mecanismos de
amplo que proporcione a transferência de uma supervisão e absorção de tal tecnologia e de
tecnologia ainda não dominada. Essa transferên- mensurar e coordenar a efetiva apropriação e
cia tem sido um requisito decisivo nas aquisições gestão do conhecimento.
brasileiras na área de defesa (MITRA, 2009). Cabe destacar que não existe plena ToT
No âmbito da ToT, faz-se necessário dirimir se não houver uma equipe qualificada para
qualquer antinomia conceitual que porventura absorvê-la. A tecnologia não está nos equi-
possa existir. Não há de se confundir ToT com pamentos ou produtos que estão sendo de-
transferência de técnica. Seguindo este ra- senvolvidos ou importados, mas sim na mente
ciocínio, Longo e Moreira (2012) relembram daqueles que os desenvolvem. Portanto, caso
que os contratos comerciais de ToT podem, ou não existam recursos humanos com compe-
não, propiciar uma verdadeira transferência tência e capacidade suficientes para receber
dos conhecimentos do vendedor para o com- todo o conhecimento, a ToT nunca será plena
prador. No entanto, por vezes, os contratos (LONGO; MOREIRA, 2012).
que são negociados como ToT não passam de
transferência de técnica. 3 METODOLOGIA
Contratos firmados entre empresas nos A metodologia de uma pesquisa é composta
quais existe uma simples venda de instruções, por diversos fatores que, em linhas gerais, é en-
no qual o vendedor não transfere os conheci- tendida como a descrição do tipo de pesquisa,
mentos que geraram tais instruções, podem ser coleta e análise dos dados, além dos materiais
chamados de transferência de técnica e não e instrumentos que levam à obtenção dos resul-
caracterizam vantagens de longo prazo para tados (MOTA-ROTH; HENDGES, 2010).
o país recebedor.
A verdadeira ToT só ocorre quando o re- 3.1 Tipo de Pesquisa
ceptor absorve o conjunto de conhecimentos Este trabalho se propôs a realizar uma pes-
que lhe permite inovar, isto é, criar nova tecno- quisa descritiva com abordagem qualitativa,
logia a partir dos conhecimentos absorvidos. que, como defendido por Strieder (2009),
ACANTO EM REVISTA 87
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artigo selecionado
imprime maior subjetividade por encarar reali- expansão, extinguindo ainda qualquer dúvida
dades múltiplas e por exigir maior compreen- sobre a correta conceituação da ToT.
são sobre o tema. Teve ainda como objetivo Na seção relativa à análise de dados,
proporcionar maior familiaridade com relação buscaram-se explorar os dados obtidos, quais
às práticas de offset, principalmente no tocante sejam: evidências sobre offset com contratos
ao processo de ToT e sua relação com a BID, de ToT dentro e fora do Brasil, coletados em
reconhecendo benefícios decorrentes de tais publicações acadêmicas, visando analisar
práticas e aspectos importantes para o alcance a possível relação entre a ToT e o desen-
do sucesso pleno de tal processo; sem deixar volvimento da BID; a análise do Relatório
de abordar as variáveis que se mostram rele- Operacional TC 005.910/2011-0 do
vantes e que permeiam o assunto. Tribunal de Contas da União (TCU); e os rela-
tórios da United Nations Conference on Trade
Para tal, foi realizada uma pesquisa biblio-
and Development (UNCTAD), entidade que
gráfica elaborada com base em material publi-
busca acelerar o desenvolvimento econômico,
cado como livros, revistas, teses, bem como ma-
coordenando, em nível global, políticas rela-
teriais disponibilizados na internet referentes aos
cionadas com países menos desenvolvidos.
temas offset, BID, spin-off e ToT, denominadas,
Quanto ao relatório do TCU, trata-se, segun-
segundo Gil (2010), como fontes secundárias
do o próprio, de uma análise da modelagem
de pesquisa.
e articulação institucionais e das práticas de
Outro tipo de pesquisa utilizada foi a docu-
gestão e controle adotadas nos processos de
mental, que guarda nas fontes de pesquisa a ToT existentes no PROSUB e no Projeto H-XBR,
principal diferença com relação à modalidade tendo tal relatório sido selecionado mediante
bibliográfica. Dessa forma, foram utilizadas à relevância e aderência ao tema em estudo,
fontes primárias, como: documentos institucio- além do vulto dos contratos envolvidos.
nais; dados atinentes a contratos de offset; e Quanto às demais fontes, ressaltam-se os
relatórios emanados por autoridades competen- dados obtidos junto ao SIPRI, além dos rela-
tes (GIL, 2010). tórios da UNCTAD, que se posicionam como
fornecedores de um panorama dos assuntos
3.2 Coleta e Tratamento dos Dados
relacionados à ToT, compondo um banco de
Inicialmente, buscou-se evidenciar o posicio-
dados relevante nesse campo de estudo.
namento do Brasil no mercado de defesa mun-
Por fim, a última seção do trabalho visa
dial e o consequente potencial existente para apresentar, com base em todo arcabouço teó-
o uso do mecanismo de compensação offset. rico e na análise dos dados apresentados, al-
Para tal, os dados utilizados foram extraídos a gumas considerações atinentes ao assunto, as
partir de trabalhos de pesquisadores no Brasil, limitações e contribuições desse estudo, além
banco de dados do SIPRI, além dos provenien- de algumas sugestões para pesquisas futuras
tes do MCTI. de tema tão relevante e pouco explorado no
Em seguida, foi estabelecida a concei- meio acadêmico.
tuação da BID e demonstrado seu potencial
de desenvolvimento e expansão por meio do 4 ANÁLISE DE DADOS
desenvolvimento e absorção de novas tecnolo- A presente seção se divide em duas par-
gias. Após essa fase, foi evidenciado como o tes. A primeira visa demonstrar, por meio
processo de ToT, no contexto de acordos off- de exemplos concretos de processos de ToT
set, pode colaborar com tal aprimoramento e no âmbito de acordos offset, os benefícios
88 ACANTO EM REVISTA
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artigo selecionado
obtidos pela BID, podendo ratificar as refe- local. Dessa forma, a Embraer assinou um
rências teóricas já apresentadas, demonstrar acordo com a italiana Aermacchi para a pro-
a capacidade do mecanismo em estudo e dução do avião militar Xavante. O desenvol-
possibilitar maior enfoque ao tema. vimento do projeto proporcionou a vinda de
A segunda parte visa identificar aspectos especialistas italianos ao Brasil para ajudar
relevantes e necessários para que um processo a produção local e para a ToT, além do en-
de ToT obtenha sucesso pleno. Tal identifica- vio de mais de 70 engenheiros à Itália para
ção contou com a ajuda da análise estrutural treinamento (CASSIOLATO; BERNARDES;
de acordos de offset vigentes, podendo ainda LASTRES, 2002).
se demonstrar alguns elementos do atual ge- Em que pese contradições teóricas existen-
renciamento de tais acordos. tes, como a dos autores Rzezinski e Serrador
(2004), que não percebem o processo do
4.1 Offset e a Transferência de
Xavante como uma ToT advinda de offset, em
Tecnologia
contrapartida à visão exarada por Cassiolato
Ao abordar o tema ToT e offset, a Embraer et al. (2002); é ponto pacífico de que tal estra-
se coloca como um exemplo de sucesso bra- tégia de treinamento proporcionou um salto de
sileiro, possuindo experiência tanto como be- conhecimento, lançando as bases tecnológicas
neficiária de esquemas de compensação co- para outros projetos mais complexos, como o
mercial, industrial e tecnológica, quanto como da família de aeronaves EMB-145 e o Embraer
exportadora, tendo em vista que governos de 170 (MODESTI; AZEVEDO, 2004).
outros países demandam compensações quan- Enquanto ofertante de offsets, a Embraer
do das negociações para a venda de seus identifica uma forma de posicionar a empresa
produtos (RZEZINSKI; SERRADOR, 2004). como parceira econômica das nações
Nesse contexto, a Embraer foi beneficiada compradoras, além de promover acesso a
com políticas de offset a partir da década clientes e competências tecnológicas em que
de 70, podendo ser citado como exemplo economias de escala local possam também
de ToT o programa de contrapartidas que, contribuir para melhorar a relação qualidade/
em 1975, estabeleceu, como compensação preço das soluções propostas ao mercado
à compra de 49 caças F-5E Tiger junto à (MODESTI; AZEVEDO, 2004).
empresa norte-americana Northrop, a fabrica- Ao se observar as práticas de offset que
ção pela Embraer de vários componentes da envolvem ToT, em termos internacionais, cabe
fuselagem, o que contribuiu para a formação destaque ao Japão, que tem se pautado no
específica de colaboradores de empresa nas princípio de que a ToT, por parte das potências
áreas de engenharia, soldagem de metais, ocidentais, pode contribuir para a promoção
materiais compostos e a operação de equipa- de um significativo salto tecnológico de seu
mento de controle digital (spin-off tecnológico) parque industrial, podendo, na sequência,
(RZEZINSKI; SERRADOR, 2004). desenvolver e ultrapassar as tecnologias
Ainda com relação aos benefícios absor- absorvidas.
vidos por intermédio de políticas de offset, Segundo Mitra (2009), a ToT, através
pode-se citar a decisão do então Ministério da prática do offset, tem sido a principal
da Aeronáutica de equipar a FAB com aviões fonte das entradas de tecnologias no Japão,
EMB-326, no final de 1970. Em vez de com- via MD. Os desenvolvimentos tecnológicos
prar esses aviões no mercado internacional, o advindos de compensações também tiveram
Ministério procurou desenvolver a produção importantes spin-offs na promoção de indústrias
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artigo selecionado
estratégicas civis no Japão. Pode-se citar como com o estabelecido na END, que determina
um dos exemplos de spin-off a tecnologia que as compras de material bélico devam en-
desenvolvida para os freios de seu famoso volver a absorção de tecnologias que poten-
trem-bala, uma vez que ela foi proveniente cializem o desenvolvimento da indústria local
do conhecimento absorvido a partir da ToT e reduzam a dependência de fornecimento
relativa à produção de aviões militares F-86. estrangeiro.
Outro exemplo de aprimoramento da indústria Com o propósito de avaliar, dentre outras,
de defesa japonesa é o caso da Mitsubishi a modelagem, a articulação institucional, bem
Heavy Industries que produz o FS X Fighters como as práticas de gestão e controle adota-
usando as mesmas instalações, máquinas e das nos processos de ToT inerentes aos projetos
operários qualificados para fazer trabalhos em questão, o TCU realizou uma auditoria ope-
relacionados aos jatos civis da Boeing. racional de extrema profundidade, resultando
Nesse contexto, cabe destaque para o no relatório TC 005.910/2011-0, que serviu
fato de que, com o auxílio da ToT, advinda de base para a presente análise e da qual se
de contratos offset, as indústrias estratégicas destacam os aspectos referentes à ToT, BID e
do Japão especializam-se cada vez mais em
capacidade de absorção, além do gerencia-
tecnologias duais. Essas tecnologias são os
mento e controle dos contratos de offset.
grandes “motores” do crescimento econômico e
Tendo como base a apresentação do
permeiam os setores aeroespaciais, eletrônicos
referido relatório, ratificou-se o já exposto
e de telecomunicações, máquinas-ferramenta, e
anteriormente quanto à importância do offset
indústrias automobilísticas (MITRA, 2009).
no desenvolvimento das relações comerciais
Com relação a certas tecnologias de
atinentes à BID e sua correlação com a base
dupla utilização, como a relacionada a
industrial nacional.
microcircuitos eletrônicos, semicondutores
compostos e robótica, a indústria japonesa 4.2.1 Transferência de Tecnologia, Base
já se posiciona à frente dos EUA, pois as Industrial de Defesa e Capacidade de
indústrias que trabalham com tecnologias de Absorção
dupla utilização permitem spin-offs reversos, Apesar de não se configurar em tarefa
utilizando os avanços que ocorrem na esfera simples, a mensuração da capacidade de
civil para auxiliar novos desenvolvimentos de absorver os conhecimentos negociados deve
artigos e processos militares (MITRA, 2009). estar presente desde a concepção do projeto,
4.2 Gestão de Contratos Offset e a configurando-se como um requisito de grande
Transferência de Tecnologia importância, como já abordado em diversas
Na análise do relatório emanado pelo passagens do presente estudo.
Tribunal de Contas da União (TCU) referente Ao avaliar tal capacidade no projeto
ao PROSUB e ao Projeto H-XBR, verificou-se, H-XBR, o Ministério do Desenvolvimento,
em ambos os contratos, que a transferência de Indústria e Comércio Exterior (MDIC), a quem
tecnologia foi o elemento determinante para a cabia as tarefas de delineamento e mensura-
escolha dos contratados e para a implementa- ção da capacidade de absorção de tecnolo-
ção dos projetos, em termos de contratos offset. gia no projeto, informou que tais atribuições
Segundo essa mesma Corte de Contas, teriam ficado a cargo da contratada, sendo
tal constatação ratifica a nova política para a de responsabilidade da mesma o mapea-
área de defesa, colocando-se em consonância mento e a seleção de universidades, centros
90 ACANTO EM REVISTA
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artigo selecionado
de pesquisa e indústrias que farão parte do militar qualificado dentro das próprias forças
projeto H-XBR. ou perda desses profissionais para outras enti-
Já com relação à avaliação da capacida- dades governamentais ou setor privado.
de de absorção de tecnologias advindas do Face ao exposto, fica claro que condicio-
PROSUB, a MB informou que utiliza pessoal do nantes importantes foram deixados a cargo
Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ), das empresas contratadas, como: mensuração
além de recrutar engenheiros experientes do da capacidade de absorção da tecnologia a
meio civil, todos auxiliados por treinamentos ser transferida; participação da indústria na-
coordenados pela Coordenadoria-Geral do cional nos processos de ToT; estratégias para
Programa de Desenvolvimento de Submarino identificar as necessidades tecnológicas e arti-
com Propulsão Nuclear (COGESN), sem ter culação entre Forças Armadas, universidades
sido possível a identificação de um processo e empresas; e gestão do conhecimento a ser
formal de mensuração de tal capacidade. absorvido, colocando dessa forma os projetos
Cabe destaque para o fato de que, apesar em posição de grande vulnerabilidade, além
de a MB ter estabelecido parcerias estratégi- de aumentar o risco de sucesso na consecu-
cas, no Brasil e no exterior, com universida- ção dos objetivos pretendidos.
des, centros de excelência e empresas, como
4.2.2 Gerenciamento e Controle dos
Universidade de São Paulo (USP), University
Processos de Transferência de Tecnologia
of Massachusetts School of Marine Sciences
(UMass), Universidade Federal Fluminense Em que pese a tecnologia se posicionar
(UFF) e Universidade Federal do Rio de Janeiro como um ativo intangível e de difícil mensu-
(UFRJ), não ocorreu a procura e a seleção dos ração, faz-se necessário existir um processo
potenciais fornecedores brasileiros antes da sistematizado de aferição de desempenho.
formalização do PROSUB. As empresas candi- Baseado na lógica de que “o que não é medi-
datas ainda serão submetidas a um processo do não pode ser controlado”, o TCU analisou
de seleção, a cargo da contratada e sob a os mecanismos de mensuração utilizados nos
supervisão da Marinha, com vistas a verificar processos de ToT em referência.
se possuem capacidade para absorver a tec- Dessa forma, o relatório revelou que, quan-
nologia ofertada (BRASIL, 2011). do analisados os aspectos de gerenciamento
Ainda no tocante à participação da BID e controle, o projeto H-XBR não apresentou
no projeto e na absorção da tecnologia a um processo de medida definido, embora os
ser transferida, a MB declarou ao TCU que projetos já estivessem em andamento. Quanto
primeiro irá absorver a tecnologia de projeto ao PROSUB, apesar da existência de meca-
e construção da DCNS, empresa francesa nismos de mensuração da transferência, ficou
contratada, e que posteriormente envolverá a constatado um flagrante descompasso entre a
indústria nacional. relevância das obrigações de ToT previstas no
Quanto à gestão do conhecimento que, se- contrato e a metodologia utilizada. Constatou-
gundo Wiig (2006), pode ser considerado um se que os referidos mecanismos eram respon-
processo sólido de gerenciamento do capital sáveis por uma aferição preponderantemente
intelectual, sendo possível entendê-lo como um financeira, viabilizando a liquidação das obri-
sistema de gestão integrada do conhecimento gações, porém sem prover informações sobre
organizacional, foi verificada a inexistência, o real cumprimento do objeto.
em ambos os projetos, de medidas formais Ainda no que tange o assunto de geren-
para mitigar o risco de desvio de pessoal ciamento e controle dos processos de ToT,
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artigo selecionado
92 ACANTO EM REVISTA
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artigo selecionado
colocou sobre a contrapartida associada à foi possível chamar atenção para aspectos
ToT. Após uma breve explanação relativa a tal importantes para o sucesso de um processo
mecanismo, foi possível evidenciar conceitual- de ToT, além de possibilitar a visualização de
mente benefícios dessa ferramenta, além de benefícios ocorridos, convergindo para a rati-
explicitar aspectos merecedores de destaque ficação de aspectos conceituais anteriormente
para seu pleno sucesso. apontados. Assim sendo, sem a pretensão de
Em seguida, sempre mantendo o foco no extrapolar os resultados, pretendeu-se trazer à
objetivo do estudo, foram demonstrados casos tona a necessidade do amadurecimento dos es-
de sucesso que relacionavam os processos tudos de tão interessantes e complexos temas.
de ToT e a Embraer, exemplificando como um Mediante ao exposto, entende-se que este
acordo de offset pode alavancar a BID e ser estudo contribuiu, primeiramente, para a reu-
capaz de produzir o chamado spin-off tecno- nião de literatura relativa ao tema offset, ToT
lógico, bem como a tecnologia de uso dual, e BID, servindo como ponto de partida para
beneficiando toda a economia. futuros estudos, tendo em vista, primordialmen-
Na sequência, foi evidenciado o caso te, a pequena quantidade de material atinente
do Japão, que utilizou a ferramenta de ToT, ao campo de estudo em análise.
mediante acordos de offset, como um dos Em um segundo momento, esse estudo
principais mecanismos de aprimoramento pôde demonstrar como a ferramenta relacio-
tecnológico nacional. O adequado uso de tal nada à ToT pode, no âmbito dos acordos de
ferramenta possibilitou a aquela nação perce- offset, ajudar a alavancar a BID, promovendo
ber importantes spin-offs na promoção de in- spin-offs tecnológicos, desenvolvendo tecno-
dústrias estratégicas civis, além de possibilitar logias de uso dual e possibilitando grandes
o enfoque em tecnologias de uso dual, o que saltos tecnológicos. O estudo foi ainda capaz
veio lhe proporcionar significativo crescimento de chamar atenção para pontos importantes
econômico. relativos à realidade de contratos offset em
Por fim, analisou-se relatório proferido andamento, relembrando a necessidade de
pelo TCU referente ao processo de ToT do constante aprimoramento no tema, na busca
PROSUB e do projeto dos helicópteros pelo alcance da plenitude dos processos de
H-XBR. De tal análise foi possível verificar a ToT e no desenvolvimento da BID.
existência de alguns pontos carentes de apri- Quanto aos fatores limitadores para a
moramento que devem ser estudados, desen- pesquisa em questão, pode-se ressaltar a es-
volvidos, sistematizados e aprimorados com cassez de literatura e trabalhos acadêmicos
vistas a aproveitar o máximo do potencial disponíveis, a inacessibilidade a dados con-
oferecido pelo mecanismo em estudo. Além cretos sobre valores envolvidos nos AC, a fal-
disso, foi constituído um conjunto de aspectos ta de detalhes sobre as cláusulas de offset em
merecedores de destaque na tentativa de vigor nas Forças Armadas, tendo em vista o
garantir o sucesso pleno de tais processos caráter sigiloso de tais informações (TAVARES
quando observada a utilização de contratos et al., 2014); além das dificuldades técnicas
de mesma natureza. de operacionalização dos dados provenien-
Dessa forma, buscou-se evidências concei- tes do relatório do TCU.
tuais, a análise de casos concretos no Brasil e Cabem ainda algumas sugestões para pes-
fora dele, além da atual gestão de dois dos quisas futuras, como: (i) análise das medidas
grandes contratos de offset com processos de adotadas tanto no PROSUB quanto no projeto
ToT nas Forças Armadas brasileiras. Com isso, H-XBR, como resposta aos apontamentos do
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artigo selecionado
94 ACANTO EM REVISTA
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artigo selecionado
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ACANTO EM REVISTA 95
E M R E V I S TA
artigo selecionado
OS REFLEXOS DA MUDANÇA
DE AÇÃO ORÇAMENTÁRIA DOS
RECURSOS DESTINADOS À
MOVIMENTAÇÃO DE MILITARES
NA MARINHA DO BRASIL
Resumo: O objetivo deste trabalho é identificar quais os reflexos para a Marinha do Brasil com a criação de Ação Orçamentária específica para
movimentação de militares. A coleta de dados envolve duas etapas: a primeira descreve os conceitos que são apreendidos com a mudança de classifi-
cação orçamentária do referido recurso; e a etapa seguinte busca sintetizar a percepção de militares pertencentes aos setores estratégicos da Marinha
do Brasil sobre os pontos positivos e negativos da alteração estudada. Como resultado, apresentam-se, principalmente, a necessidade de constante
aprimoramento do planejamento das movimentações, bem como de ações a serem empreendidas nos momentos de contingenciamento de recursos.
Palavras-chave: Orçamento Público; Movimentação de Militares; Ação Orçamentária; Marinha do Brasil.
96 ACANTO EM REVISTA
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artigo selecionado
sua missão constitucional de defesa da Pátria, Por se tratar de um assunto recente, o pro-
bem como realizar diversas atribuições sub- blema de pesquisa a ser estudado se dará
sidiárias das Forças Armadas. Essas últimas por identificar quais os reflexos que a criação
são definidas em legislação específica como dessa AO específica pode trazer para a
a atuação, por meio de ações preventivas Marinha do Brasil tanto no campo orçamentá-
e repressivas, na faixa de fronteira terrestre, rio quanto na manutenção da sua capacidade
no mar e nas águas interiores, contra delitos operativa para o cumprimento de sua missão
transfronteiriços e ambientais, isoladamente ou constitucional.
em coordenação com outros órgãos do Poder Isto posto, no decorrer do trabalho, pri-
Executivo (BRASIL, 1999). meiramente serão apresentadas as definições
Para que esses objetivos sejam alcança- necessárias para o entendimento do assunto,
dos, faz-se necessária uma presença constante que tem natureza bem específica e de pou-
de pessoal em todo o território nacional. ca abrangência para a sociedade como um
Dessa maneira, as três Forças, ao designarem todo. É de interesse, também, apresentar os
seus militares para servirem em outras sedes, valores autorizados para execução nos orça-
efetuam o pagamento da indenização de mentos de 2011 a 2014, como forma de
transporte, que é um direito pecuniário devi- abranger períodos antes e após a criação da
do ao militar da ativa para custear despesas AO específica, expondo comentários sobre as
nas movimentações por interesse do serviço, implicações percebidas e vislumbradas.
compreendendo bagagem e passagem da Também são objetivos do presente estudo
localidade onde residir para a outra onde identificar, na perspectiva de militares fami-
fixará residência dentro do território nacional. liarizados com o assunto, fatores relevantes
Em complemento a essa indenização, o militar quanto à importância da movimentação para
recebe uma ajuda de custo para custeio das os militares, bem como buscar estabelecer
despesas de locomoção e instalação, exceto aspectos favoráveis e desfavoráveis da alte-
as de transporte (BRASIL, 2001a). ração da classificação das despesas relativas
Adicionalmente a essa indenização, os mi- à movimentação de militares, especialmente
litares fazem jus ao recebimento de ajuda de quanto ao planejamento, execução e controle
custo, conforme o local para o qual seguirão, desses recursos tanto pela Marinha do Brasil
o posto ou graduação e o número de depen- como pelo Governo Federal e sociedade.
dentes. Para fins deste estudo, será abordado Por fim, será realizada uma breve con-
como despesas com movimentação de milita- clusão que buscará apresentar os maiores
res o equivalente ao somatório da indeniza- benefícios e desafios vislumbrados para a
ção de transporte com a ajuda de custo. Marinha do Brasil, bem como algumas suges-
O tema desse estudo, então, visa a abordar tões de pesquisas futuras para enriquecimento
uma alteração estabelecida a partir do exercí- do assunto, buscando aprimorar e refinar os
cio financeiro de 2014 no Orçamento Federal resultados apresentados.
que modifica a classificação orçamentária dos
recursos relativos à movimentação de militares 2 REFERENCIAL TEÓRICO
por meio da criação de Ação Orçamentária Inicialmente, faz-se necessária uma breve
(AO) específica, deixando de estar compreen- contextualização acerca do papel a ser cum-
didas como despesas com pessoal e encargos prido pelas Forças Armadas no tocante à am-
sociais, a fim de atender, assim, ao princípio plitude de atuação dos militares e do sistema
orçamentário da discriminação dos recursos. orçamentário do País.
ACANTO EM REVISTA 97
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artigo selecionado
O arcabouço legal vigente que permeia a Tem-se ainda a figura dos princípios orça-
necessidade de presença das Forças Armadas mentários, que são um conjunto de proposi-
em todo o território nacional tem seu marco ções orientadoras que balizam os processos
inicial na Constituição Federal (CF) ao definir e práticas orçamentárias de forma a conferir
como umas das suas destinações a defesa estabilidade, consistência e, principalmente,
da Pátria (BRASIL, 1988). Corroborando com transparência e controle por parte do Poder
essa ideia, a Lei Complementar nº 97/1999, Legislativo e da sociedade (SANCHES, 2004).
em seu artigo 13, define que: Em resumo, são premissas a serem observadas
Para o cumprimento da destinação cons- na elaboração da proposta orçamentária. Entre
titucional das Forças Armadas, cabe aos esses princípios, dois se destacam pela forte
Comandantes da Marinha, do Exército e da correlação com o assunto deste trabalho: o da
Aeronáutica o preparo de seus órgãos operativos discriminação e o da universalidade.
e de apoio, obedecidas as políticas estabele- Giacomoni (2010) atesta que, de acordo
cidas pelo Ministro da Defesa. com o princípio da discriminação, as recei-
§1° O preparo compreende, entre outras, tas e as despesas devem constar no orça-
as atividades permanentes de planejamen- mento de maneira especificada, de tal forma
to, organização e articulação, instrução e que se possa saber, pormenorizadamente, a
adestramento, desenvolvimento de doutrina origem dos recursos e as finalidades de sua
e pesquisas específicas, inteligência e estru- aplicação.
turação das Forças Armadas, de sua logísti- O Manual Técnico do Orçamento
ca e mobilização. (BRASIL, 1999, art. 13, (MTO), que é elaborado pela Secretaria de
grifo nosso) Orçamento Federal (SOF) e tem o intuito de
aprimorar continuamente o processo orçamen-
Convém destacar, também, o disposto no tário federal, assim versa sobre o princípio da
Decreto nº 5.484/2005, no qual é estabele- universalidade:
cido que o planejamento da defesa nacional Segundo este princípio, a LOA de cada ente
deve incluir todas as regiões, priorizando a federado deverá conter todas as receitas e
Amazônia e o Atlântico Sul (BRASIL, 2005). as despesas de todos os Poderes, órgãos,
Contudo, para que esse importante papel entidades, fundos e fundações instituídas e
seja cumprido e reconhecido pela socieda- mantidas pelo poder público. Este princípio
de, há uma grande necessidade de recursos é mencionado no caput do art. 2° da Lei n°
provenientes do orçamento da União. O 4.320, de 1964, recepcionado e normati-
Orçamento Público é um instrumento de ini- zado pelo § 5° do art. 165 da CF. (BRASIL,
ciativa do Poder Executivo e é aprovado pelo 2015, p. 17)
Poder Legislativo, que estima a receita e fixa
a despesa para o exercício financeiro, sendo, A Carta Magna de 1988, em seu art. 165,
também, um instrumento que permite acompa- na seção denominada “Dos Orçamentos”,
nhar, controlar e avaliar a administração dos estabelece três instrumentos de iniciativa do
recursos públicos (ARAÚJO e ARRUDA, 2004). Poder Executivo, a saber: o Plano Plurianual
No Brasil, o orçamento é materializado por (PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO)
uma lei ordinária, a Lei Orçamentária Anual e a Lei Orçamentária Anual (LOA) (BRASIL,
(LOA), cuja vigência é anual e sua aprovação 1988). Dessa forma, o planejamento e a exe-
é feita pelo Poder Legislativo no exercício ante- cução do orçamento são compreendidos pela
rior ao de sua execução. ligação entre essas leis.
98 ACANTO EM REVISTA
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artigo selecionado
O PPA é um instrumento que apresenta as ação é identificada por intermédio de uma
principais políticas públicas a serem execu- classificação orçamentária”.
tadas por um período de quatro anos e que A Lei n° 12.919/2013, LDO de 2014,
orienta a elaboração dos planos e programas em seu art. 7°, §2°, estabelece que os Grupos
de governo, assim como o próprio orçamento de Natureza de Despesa (GND) constituem
anual. Segundo Albuquerque et al. (2013), o agregação de elementos de despesa de mes-
PPA é um instrumento legal de planejamento mas características quanto ao objeto de gasto,
de maior alcance temporal no estabelecimen- conforme a seguir discriminados, entre outros:
to das prioridades e no direcionamento das I - Pessoal e Encargos Sociais (GND 1); e
ações de governo. II - Outras Despesas Correntes (GND 3).
A LDO antecipa e orienta a direção e o A Portaria Interministerial n° 163/2001,
sentido dos gastos públicos, bem como os com as alterações das Portarias Conjuntas
parâmetros que devem nortear a elaboração STN/SOF n° 2/2009 e n° 1/2010, define
do Projeto de Lei Orçamentária para o exer- assim cada um desses grupos de despesas:
cício subsequente (PALUDO, 2013). Nesse 1 - Pessoal e Encargos Sociais
contexto, o Capítulo II da lei supracitada, que Despesas orçamentárias com pessoal ativo,
discorre sobre a estruturação e organização inativo e pensionistas, relativas a [...] milita-
dos orçamentos, traz conceitos importantes res e de membros de Poder, com quaisquer
para que seja possível a identificação de espécies remuneratórias, tais como venci-
eventuais impactos para a Marinha do Brasil mentos e vantagens, fixas e variáveis, [...]
na alteração de Ação Orçamentária para conforme estabelece o caput do art. 18 da
Movimentação de Pessoal. Lei Complementar 101, de 2000.
Paludo (2013) menciona o conteúdo [...]
previsto no art. 165, §8°, da CF ao ates- 3 - Outras Despesas Correntes
tar que LOA abrange apenas o exercício Despesas orçamentárias com aquisição
financeiro a que se refere e não deve conter de material de consumo, pagamento de
dispositivo estranho à previsão da receita e diárias, contribuições, subvenções, auxílio-
fixação da programação das despesas para -alimentação, auxílio-transporte, além de
o exercício financeiro. outras despesas da categoria econômica
A LOA se estrutura em Ações Orçamentárias “Despesas Correntes” não classificáveis nos
(AO), que são identificadas por um código al- demais grupos de natureza de despesa.
fanumérico que possui a função de determinar (BRASIL, 2001b, anexo II, II - B)
os níveis de agregação das áreas de atuação
governamental às quais se vincula referindo-se O pagamento das indenizações das rubri-
a um único produto (BRASIL, 2013). cas de Ajuda de Custo, Transporte e Bagagem
As despesas orçamentárias podem ser defi- referente aos militares movimentados no País
nidas como aquelas que dependem de autori- era, até o exercício financeiro de 2013,
zação legislativa (KOHAMA, 2003). Portanto, realizado por meio da Ação Orçamentária
essas despesas compõem o orçamento, sendo 2867 – Pagamento de Pessoal Ativo Militar
devidamente fixadas e especificadas na LOA. das Forças Armadas – GND 1, visto que são
Castro (2013, p.49) menciona que, “para despesas enquadradas em uma legislação
possibilitar o conhecimento das realizações que trata da remuneração do pessoal militar, a
governamentais e contribuir para a produção Medida Provisória (MP) 2.215-10/2001. Esta
das informações oficiais e gerenciais, toda MP, em seu Art. 2º, estabelece que os militares
ACANTO EM REVISTA 99
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artigo selecionado
artigo selecionado
quantitativo, quanto aos meios de investiga- institucional da MB possa ser cumprida dentro
ção, por Vergara (2007), dos montantes gas- do previsto nas legislações em vigor.
tos com movimentação de pessoal de modo
a abranger períodos antes e após a criação 4 ANÁLISE DE RESULTADOS
da AO específica para este fim. Nesse sen- A análise da criação de uma Ação
tido, foram estudados os valores executados Orçamentária específica para a utilização de
entre os anos de 2011 e 2014, sendo este recursos públicos é de suma importância para
último o único exercício financeiro encerrado que estes possam ter uma gestão adequada
em que a nova sistemática foi aplicada, tor- e eficiente. Portanto, é de grande relevância
nando-se, assim, uma restrição para o estudo conhecer possíveis impactos dessa alteração.
pela recente alteração.
Além de ser um fato novo, houve, também,
4.1 A Importância da Movimentação
dificuldades em encontrar outros estudos sobre
para os Militares
o assunto em lide que pudessem contribuir Um dos grandes papéis que a sociedade
para este trabalho, tanto em instituições milita- espera das Forças Armadas é que cumpram
res, quanto civis. sua missão de defesa da Pátria. Para atingir
Em complemento, ressalta-se que a mudan- esse propósito, faz-se necessária uma presen-
ça atingiu apenas aos militares, visto que o ça marcante em todo território nacional.
pagamento da movimentação para os servi- O Brasil, País de grande extensão terrestre,
dores civis continua sendo realizado em ação ainda possui fronteiras com diversos países, uma
orçamentária pertencente ao GND 3. biodiversidade e características geográficas
Em complemento aos procedimentos supra- diversas, que necessitam de conhecimento, iden-
citados, foi feita uma pesquisa de campo, se- tificação e adaptação por parte dos militares.
gundo Vergara (2007), com a realização de De maneira peculiar, a Marinha do Brasil
entrevistas com 8 (oito) militares em funções im- ainda necessita fazer-se presente em todo o
portantes dentro da Diretoria de Coordenação litoral brasileiro e sua área de jurisdição, bem
do Orçamento da Marinha (COrM) e como nas regiões fluviais e lacustres, a fim de
da Diretoria de Gestão Orçamentária da proteger todas as riquezas nelas existentes.
Marinha (DGOM), bem como com militares Para tal, seu efetivo precisa estar organizado
da Pagadoria de Pessoal da Marinha (PAPEM) pelo País de forma a possibilitar o guarne-
responsáveis pela operacionalização da cimento e controle dessas diversas áreas.
execução dos valores relativos à movimen- Portanto, para que a Marinha do Brasil possa
tação de pessoal na Força, a fim de buscar cumprir seu papel da melhor forma, é muito
contribuições sobre os reflexos percebidos e importante que haja forte presença de milita-
vislumbrados com a situação atual da gestão res nas diversas regiões brasileiras.
dos recursos de movimentação de pessoal. Neste viés, é importante ressaltar que,
Com base nas informações colhidas, foram como forma de adestramento e capacitação,
desenvolvidas as argumentações ao longo quanto maior o número de militares hábeis e
deste trabalho. preparados para lidar com as diversidades
De posse de toda essa análise, o estudo existentes no território nacional, mais bem
apresenta alguns reflexos da mudança, dificul- protegidas estarão a sociedade e as rique-
dades, bem como possíveis benefícios que a zas produzidas pelo País e extraídas dele.
criação da AO específica para movimentação Contudo, uma melhor articulação da logís-
de militares pode trazer para que a missão tica e da mobilização das Forças Armadas
acarreta em custos relevantes que são neces- também impactará na execução das tarefas
sários para um adequado posicionamento de operativas que estão ligadas à atividade fim
seu efetivo, sendo essa uma grande atribuição da Força.
a ser cumprida. Outra característica importante com rela-
Ainda no contexto de realocação de ção a uma possível redução na movimentação
pessoal, anualmente, parte do efetivo da MB de militares é o caráter social e cultural que
passa por cursos de especialização, aperfei- ela proporciona, uma vez que essas transfe-
çoamento ou extensão de acordo com cada rências são uma característica marcante da
grau hierárquico. Após o término desses carreira militar. Grande parte do efetivo da
cursos, os militares são designados a servir Marinha do Brasil se concentra no estado do
nas diversas Organizações Militares (OM) Rio de Janeiro, portanto há muitos militares
existentes no país. Dessa forma, eles têm o naturais de outros estados que permanecem
propósito de disseminar os conhecimentos longos períodos apartados de sua terra natal,
adquiridos durante o curso e pôr em prática porém com o desejo de um dia poderem
técnicas e inovações aprendidas, sendo essa retornar. Sendo assim, uma diminuição na
uma forma de atualização profissional dos possibilidade de transferências poderá causar
demais membros da MB. uma desmotivação dos militares, em virtude
Além da importância supracitada da da redução da possibilidade de labutar em
transferência dos militares que realizam outras Organizações Militares e agregar no-
cursos de carreira e que contribuem para vos conhecimentos, estando mais próximos de
uma ampliação do conhecimento tácito e suas famílias.
explícito nas Organizações Militares, faz-se No Brasil, devido a sua extensão territorial,
necessário destacar outros pontos de grande pode-se observar uma razoável variedade
relevância que podem ser afetados com um de condições ambientais, bem como culturas
possível contingenciamento dos recursos de diversificadas. Sobre esse enfoque, é possível
movimentação. citar que uma diminuição das movimentações
A escassez de recursos dificultará bas- de militares possibilitaria o estabelecimento
tante o preenchimento das necessidades de de efetivos bem ambientados em determinada
Unidades localizadas em áreas onde o acesso área geográfica e adaptados à cultura local,
é remoto, em especial nas regiões fronteiriças. porém com pouca experiência na atuação em
Dessa forma, o poder de dissuasão das amea- outros Teatros de Operação. Essa hipótese
ças existentes nesses locais fica enfraquecido, contribui para um fenômeno de regionaliza-
o que traz riscos, principalmente, aos que ção do pessoal das Forças Armadas, o que
vivem nessas regiões. vai de encontro ao caráter nacional dessas.
No que tange à administração de pes- Ao concluir essa parte da análise, pôde-se
soal, anualmente há um grande quantitativo perceber que a oportunidade de transferências
de desligamentos de militares da ativa, seja dentro do território nacional implica em pos-
a pedido, ex-officio ou por transferência sibilitar ao militar o conhecimento geográfico
para a reserva remunerada. Logo, uma redu- que é fundamental na sua capacitação opera-
ção no número de movimentações dificultará cional. A adaptação aos diversos ambientes
um preenchimento de maneira adequada de combate como operações ribeirinhas,
das vagas abertas. A falta de pessoal comu- fluviais e de patrulha naval se apresenta como
mente acarreta em um grande aumento da um quesito estratégico na qualificação dos
carga administrativa das Unidades, o que militares da Marinha do Brasil.
artigo selecionado
4.2 Aspectos Quantitativos (SIOP) do Ministério do Planejamento,
da Dotação Orçamentária de Orçamento e Gestão.
Movimentação de Militares Com o objetivo de promover uma base
Um ponto de fundamental importância nes- homogênea de comparação entre os recursos
se assunto é a comparação entre os valores despendidos na movimentação de militares
que foram autorizados na LOA para a reali- em decorrência da alteração da classificação
zação das movimentações de militares antes orçamentária promovida na LOA do ano de
e depois da criação de ação orçamentária 2014, que é objetivo desse estudo, foi reali-
específica para este fim. zada uma atualização monetária, baseada no
Conforme a Lei n° 12.778, de 28 de índice IPC-A (Instituto Brasileiro de Geografia
dezembro de 2012, o valor dos soldos dos e Estatística – IBGE), de modo a ter como
militares sofreu um reajuste, em média, de referência valores nominais de 2014, sendo
9,04% em 2013 e 9,15% em 2014. Esses desconsiderado o aumento nos soldos dos mi-
acréscimos influenciaram apenas no cálculo litares nos anos de 2013 e 2014. Essa corre-
da Ajuda de Custo devida aos militares que ção foi feita com o auxílio da Calculadora do
são movimentados. A indenização de trans- cidadão, disponibilizada no sítio da internet
porte é medida com base na multiplicação do Banco Central do Brasil (BCB) e é apresen-
dos parâmetros constantes nos anexos I e II do tada na Tabela 2.
Decreto 4.307, de 18 de julho de 2002. O acerto acerca do reajuste dos soldos
A tabela 1 apresenta os valores totais pa- supracitado se deu apenas sobre os valores
gos entre os anos de 2011 e 2014 referentes referentes ao pagamento da Ajuda de Custo,
às despesas com movimentação de milita- conforme representado na Tabela 1, visto
res, sendo tais valores extraídos do Sistema que esse acréscimo não impactou o montan-
Integrado de Planejamento e Orçamento te pago por indenização de transporte. A
R$ 340
R$ 320
R$ 300
R$ 280
R$ 260
R$ 240
R$ 220
R$ 200
2011 2012 2013 2014
Fonte:Fonte:
ElaboraçãoElaboração
do autor. do autor.
de sede de militares, apresentou forte queda no montante pago em relação ao ano anterior.
E M R E V I S TA
artigo selecionado
relacionados à mudança de residência do Em uma situação em que os recursos sub-
militar e seus dependentes. sidiados e aprovados estejam além do que
Uma consequência relevante da altera- for preciso para realizar as movimentações
ção da classificação dos recursos relativos à anuais previstas, a Marinha do Brasil deve-
movimentação de militares é que, apesar da rá ter extrema atenção na utilização desse
indenização com movimentação ser um direi- montante, uma vez que o cancelamento de
to remuneratório previsto legalmente e uma dotação orçamentária por falta da necessi-
despesa obrigatória da União, ela é de ca- dade de aplicação de recursos traduz-se em
ráter eventual, ou seja, deve ser paga apenas uma imagem ruim para a Força e pode de-
quando há a necessidade de transferência de notar um planejamento mal realizado com o
sede do militar. Dessa forma, constarão como decorrer dos anos, havendo a possibilidade
valores executados na GND 1, pertencentes de redução de montantes autorizados nos
à folha de pagamento da Marinha do Brasil, anos posteriores.
apenas pagamentos de natureza contínua, Outra possível consequência de uma even-
isto é, pagos mensalmente nos bilhetes de tual sobrevalorização da dotação de recursos
pagamento dos militares. é o aumento na quantidade de movimentações
Esse isolamento da dotação orçamentá- para um nível superior às reais necessidades
ria para movimentação de militares propor- da MB, o que pode deteriorar a qualidade
cionará à Secretaria do Orçamento Federal dos resultados da realocação de pessoal.
(SOF) um maior conhecimento acerca da Na ocorrência de um cenário de escas-
utilização desses recursos, desde a real ne- sez de recursos orçamentários devido a, por
cessidade de seu montante até os períodos exemplo, subsídios mal elaborados, a MB
de maior uso durante o exercício financeiro. também encontrará sérias dificuldades para
Essas informações são essenciais para que atender sua demanda. Nesse sentido, uma
a SOF amplie sua capacidade de argumen- solicitação de créditos adicionais suplemen-
tação na negociação dos valores para os tares far-se-á necessária para incrementar a
orçamentos posteriores. dotação autorizada. Esse processo causa um
Como fruto dessa nova sequência histórica desgaste para a Força, tendo em vista a ex-
que se dará por ocasião da criação da Ação posição a que ela fica sujeita, demonstrando
Orçamentária 212O, ressalta-se a importân- uma ineficiência de planejamento na solicita-
cia do planejamento, execução e controle ção de recursos e a espera pela aprovação
desses recursos. Um planejamento bem reali- desses créditos, o que impacta na realização
zado possibilitará valores confiáveis a serem das movimentações previstas.
executados durante o exercício financeiro, Tem-se em última análise que a separação
contribuindo, assim, para um controle adequa- dos recursos para a realização de movimen-
do. Há uma certa complexidade em relação tações de militares da folha de pagamento
a esse tipo de despesa devido às inúmeras gera, principalmente, benefícios para os
variáveis envolvidas no seu cômputo, como: órgãos orçamentários do Governo Federal, o
posto ou graduação e número de dependen- que, consequentemente, traz grandes desafios
tes dos militares movimentados, além das para a Marinha do Brasil. Porém, um fator
localidades de destino. Esse fato acarreta em que não deve ser esquecido e precisa entrar
uma deficiente previsão do gasto com movi- na pauta de discussões entre os Ministérios
mentação, que se dá, basicamente, mediante da Defesa e do Planejamento, Orçamento e
série histórica, o que não é salutar. Gestão é a atualização dos parâmetros para
artigo selecionado
no momento de sua transferência, outras des- 4.4 Impactos para a Sociedade
pesas poderão ser preteridas para tal, ocasio- A sociedade também poderá perceber os
nando transtornos administrativos para a Força frutos dessa criação de Ação Orçamentária
e para as demais partes interessadas. específica para movimentação de militares. E
Portanto, em um cenário econômico desfa- isso se dá, inicialmente, pela observação de
vorável e de baixa disponibilidade de capital um princípio orçamentário muito importante
nas contas do Governo, a Marinha do Brasil nesse processo: o princípio da especificação
terá que exercer um grande e constante es- ou discriminação.
forço com o intuito de atender as demandas Essa premissa contribui para que as despe-
sociais, econômicas e administrativas, suas sas sejam detalhadas até um nível em que os
e da sociedade, com os poucos recursos componentes da sociedade em geral tenham
disponíveis de maneira a não prejudicar sua a possibilidade de saber e entender de forma
finalidade operacional. clara a origem dos recursos e sua aplicação.
Para que sejam minimizados os efeitos da Com o advento da Lei de Responsabilidade
restrição de recursos tanto orçamentários quan- Fiscal e suas inovações, houve uma grande
to financeiros, a Marinha do Brasil deverá efe- preocupação em impor aos governantes uma
tuar um planejamento de suas ações a serem mentalidade de responsabilização com a
empreendidas nesse cenário. Um dos assuntos execução e controle do orçamento aprovado,
a serem abordados seria a sua política de bem como de incremento da transparência da
realocação dos efetivos. Nesse ínterim, faz-se gestão de recursos públicos, com uma padro-
necessária uma reavaliação das necessidades nização das contas e aumento do acesso por
de movimentação de seu pessoal, por exem- parte da população, principalmente por meio
plo, por ocasião da matrícula e do término eletrônico.
dos cursos de carreira realizados anualmente. Igualmente, percebe-se que há uma cres-
Um planejamento bem executado desses cente preocupação em se estabelecer novas
fluxos mais constantes é fundamental, pois pos- formas de monitorar as ações do agente
sibilitará aos setores orçamentário e financeiro público. Os cidadãos, como grandes respon-
da MB efetuarem suas programações quanto sáveis pelo controle social, exercem um papel
ao uso dos recursos disponibilizados pelo importantíssimo de apoio na fiscalização do
Governo Federal. cumprimento das determinações impostas pe-
Em resumo, apesar de a AO 212O – los instrumentos legais por parte dos represen-
Movimentação de Militares – ser uma despesa tantes escolhidos por eles.
primária obrigatória para a União, o fato de É de amplo consenso que o aperfei çoa
ela concorrer ao mesmo Limite de Pagamento mento das funcionalidades oferecidas pelo
das demais despesas correntes, por ter sido setor público, como o portal da transparência,
classificada como GND 3, afetará o planeja- contribui para um melhor resultado do moni-
mento e a execução desses recursos na MB. toramento e controle da gerência feita pelos
Destarte, faz-se mister uma integração entre os agentes do Governo acerca dos recursos
setores de pessoal e orçamentário de maneira orçamentários. Esse é um dos fatos relevantes
a atualizar a política de movimentações, para que levam as organizações cada vez mais se
que esta se adapte à nova sistemática da aprimorarem na realização de um planeja-
gestão desses recursos de forma a contribuir mento consistente e confiável.
para que a Força Naval cumpra suas missões Essa cultura corrobora com a ideia de que
constitucionais. a Marinha do Brasil, bem como as demais
Forças, tem um grande desafio a ser enfren- fundamental para que os militares ampliem
tado no que tange ao planejamento da reali- sua capacitação relativa ao conhecimento e
zação das transferências de seu efetivo. Esse defesa do território nacional.
destaque causado pela criação de uma AO Outro aspecto que foi analisado passa pe-
específica para as movimentações tende a ser los dados quantitativos acerca das dotações
percebido pelos diversos estratos da socieda- orçamentárias destinadas ao pagamento das
de, tendo, assim, um importante acompanha- movimentações de militares da Marinha do
mento da gestão desses recursos como forma Brasil. Foi possível perceber que os anos de
de controle social. 2013 e 2014 apresentaram considerável
A mudança de classificação orçamentária redução do montante pago desses recursos.
se apresenta como uma oportunidade para Adicionalmente, a criação da AO 212O
que seja aprimorada a qualidade da gestão também trará como consequência um grande
das transferências dos militares. As áreas seto- incremento quanto ao conhecimento das parti-
riais de pessoal necessitarão desenvolver ativi- cularidades do uso desses recursos por parte
dades em conjunto com as áreas de orçamen- da SOF. Sendo assim, esse Órgão terá maio-
to para que todos entendam cada dificuldade res e melhores subsídios na negociação pela
enfrentada e possam traçar um caminho em liberação desses recursos.
busca de um ganho de eficiência nas políticas Ainda nesse viés, a Marinha do Brasil
de movimentação. precisará aprimorar seu planejamento quanto
Assim sendo, os diversos anseios da so- às movimentações de militares, a fim de in-
ciedade, que passam desde a qualidade e crementar a qualidade dos subsídios para a
eficiência no gasto público até o cumprimen- solicitação dos recursos orçamentários. Isso se
to da missão constitucional da Marinha do dá porque a falta ou excesso desses, além de
Brasil, poderão ser alcançados e contribuirão reduzir a qualidade das designações e preju-
para o apoio dos cidadãos em elevar o nome dicar o cumprimento de sua missão, contribui
da Instituição e contribuir para o crescimento para uma imagem ruim quanto à gestão dos
das Forças Armadas e do país como um todo. recursos públicos.
É de grande importância ressaltar que os
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS parâmetros utilizados como base para calcu-
O objetivo principal do presente estudo foi lar o valor da indenização de transporte não
responder o problema de pesquisa proposto sofrem alteração desde a sua definição, em
que era identificar quais os reflexos que a 2002. Portanto, um debate sobre a atua-
criação da AO 212O, específica para mo- lização desses valores se faz necessário,
vimentação de militares, pode trazer para a para que não ocorram maiores prejuízos aos
Marinha do Brasil, tanto no campo orçamentá- militares e seus dependentes por ocasião de
rio quanto na manutenção de sua capacidade sua mudança de sede para contribuir com a
operativa para o cumprimento de sua missão defesa da Pátria.
constitucional. O contingenciamento também foi outra
Primeiramente, foram abordadas as ca- situação abordada no texto, pois a redu-
racterísticas importantes da movimentação ção dos valores previamente autorizados
para os militares, o que demonstra suas con- para realizar a movimentação de militares
tribuições tanto no campo estratégico nacional poderá acarretar em uma perda estratégica
como no âmbito cultural e social. As transfe- grande para o país. Vislumbra-se, também,
rências de sede se configuram como elemento grande dificuldade para a execução dessas
artigo selecionado
despesas nos momentos de crise econômica, REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
em que a arrecadação federal é menor e, ALBUQUERQUE, Claudiano Manoel de;
consequentemente, diminuirão os recursos MEDEIROS, Márcio Bastos; SILVA, Paulo
financeiros disponíveis. Para combater esse Henrique Feijó da. Gestão de finanças públi-
cenário, a Marinha do Brasil deverá efetuar cas: administração financeira e orçamentária.
um planejamento com ações que visem su- 3 ed. Brasília: Gestão Pública, 2013.
perar o desafio de pagar o máximo de suas ARAUJO, Inaldo; ARRUDA, Daniel.
obrigações com os poucos recursos disponí- Contabilidade pública: da teoria a prática.
veis, buscando atender as suas demandas da São Paulo: Saraiva, 2004.
melhor forma possível. BRASIL. Constituição da República Federativa
A sociedade também teve parte no presen- do Brasil de 1988. Diário Oficial [da]
te trabalho, uma vez que foram levantados República Federativa do Brasil, Poder Execu
possíveis reflexos da criação da AO 212O tivo, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em:
para a população como um todo. Nesse ín- <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
terim, foi verificada, como maior contribuição, constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>
a possibilidade de um maior controle social Acesso em: 19 out. 2015.
sobre os recursos de movimentação de mili- ______. Decreto n. 4.307, de 18 de julho
tares, o que aumenta a responsabilidade na de 2002. Regulamenta a Medida Provisória
gestão destes recursos por parte da Marinha no 2.215-10, de 31 de agosto de 2001,
do Brasil, demonstrando uma preocupação que dispõe sobre a reestruturação da remu-
da Força Naval com a eficiência do gasto neração dos militares das Forças Armadas,
público, e contribuindo, assim, para o incre- altera as Leis nos 3.765, de 4 de maio
mento do respeito e da boa imagem junto aos de 1960, e 6.880, de 9 de dezembro
cidadãos brasileiros. de 1980, e dá outras providências. Diário
Dessa forma, o presente estudo buscou Oficial [da] República Federativa do Brasil,
contribuir com o entendimento sobre os impac- Poder Executivo, Brasília, DF, 19 jul. 2002.
tos de uma mudança orçamentária pontual de Disponível em: <http://www.planalto.gov.
menor vulto para população como um todo, br/ccivil_03/decreto/2002/d4307.htm>.
porém de grande importância para Órgãos Acesso em: 09 set. 2015.
da Administração Pública do país, como as ______. Decreto n. 5.484, de 30 de junho de
Forças Armadas. 2005. Aprova a Política de Defesa Nacional,
Como sugestões de pesquisas futuras, e dá outras providências. Diário Oficial
recomenda-se um estudo detalhado sobre a [da] República Federativa do Brasil, Poder
necessidade de atualização dos valores de Executivo, Brasília, DF, 1 jul. 2005. Disponível
referência para o cálculo da indenização de em: <http://www.planalto.gov.br/cci-
transporte dos militares. Propõe-se, também, vil_03/_Ato2004-2006/2005/Decreto/
uma avaliação pormenorizada das ferramen- D5484.htm>. Acesso em: 18 out. 2015.
tas a serem utilizadas como forma de apoio ______. Decreto n. 8.197, de 20 de fevereiro
ao planejamento para os momentos de crise de 2014. Dispõe sobre a programação orça-
econômica, principalmente na falta de recur- mentária e financeira, estabelece o cronogra-
sos financeiros para a União. Por fim, é de ma mensal de desembolso do Poder Executivo
bom alvitre um trabalho que aborde possíveis para o exercício de 2014 e dá outras
melhorias para a previsão das despesas da providências. Diário Oficial [da] República
AO 212O dos próximos exercícios. Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília,
DF, 20 fev. 2014. Disponível em: <http:// ______. Lei n. 12.919, de 24 de dezembro
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011- de 2013. Dispõe sobre as diretrizes para a
2014/2014/Decreto/D8197.htm>. Acesso elaboração e execução da Lei Orçamentária
em: 19 out. 2015. de 2014 e dá outras providências. Diário
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artigo selecionado
2014 apresentaram um aumento de 38% Será analisado o potencial benefício da estra-
em relação a 2013i. tégia imunizadora, no contexto dos principais
Nesse contexto, o presente estudo demonstra- tipos de contratos de derivativos, para o fluxo
-se relevante ao avaliar os potenciais benefícios de caixa futuro da MB, de modo a aprimorar
da utilização da ferramenta de proteção cambial suas obtenções no exterior.
pela Marinha do Brasil (MB), de forma a reduzir Para tanto, primeiramente, a seção 2 abor-
os riscos de alterações do valor esperado da dará os procedimentos metodológicos que
execução de seus contratos em moedas estran- fundamentam a presente pesquisa.
geiras provocadas pela oscilação do câmbio Em seguida, a seção 3 apresentará funda-
no intervalo de tempo entre a elaboração, em mentos teóricos, a fim de demonstrar a que
Reais, de seu orçamento e a realização de suas tipo de risco cambial a MB está exposta, o
atividades de Programação Financeira. conceito de hedge cambial e as principais
A utilização da ferramenta de hedge modalidades de contratos disponíveis no
cambial poderá contribuir para a redução da mercado de derivativos como estratégia de
volatilidade do fluxo de recursos financeiros proteção cambial.
destinados às operações com câmbio realiza- A seção 4 aplicará a operação de hed-
das pela MB, cuja média entre 2008 e 2014 ge via mercado de derivativos ao âmbito da
foi cerca de R$ 1.133,07 milhõesii. Desse
MB, a fim de analisar a viabilidade legal e
modo, a MB poderá ter maior capacidade
operacional de sua implantação nessa insti-
de planejamento financeiro para atender, de
tuição Militar, de demonstrar como parcela
forma mais eficiente, as demandas por tran-
significativa do fluxo financeiro da MB está
sações externas das Organizações Militares
sujeita ao risco cambial, de analisar as ca-
Solicitantes da Marinha e dos projetos de
racterísticas dos contratos do mercado de
grande complexidade como o Programa de
derivativos no contexto da MB e de identificar
Desenvolvimento de Submarinos (PROSUB) e o
quais os impactos positivos e os riscos para a
Programa Nuclear da Marinha (PNM).
Programação Financeira da MB ao se utilizar
De acordo com Alves (2008), cujo tra-
a estratégia de hedge cambial.
balho propõe a utilização de derivativos
Por último, a seção 5 consiste nas conside-
cambiais na Administração Pública, anali-
rações finais atinentes ao conteúdo abordado
sando o caso da MB, o abastecimento das
nas seções anteriores, cujas informações
Organizações Militares no Exterior e os
subsidiam a conclusão referente ao objetivo
pagamentos de gastos com dívida externa,
oriunda de aquisições de equipamentos, principal deste trabalho.
meios flutuantes, aeronavais e de fuzileiros
navais, podem ser prejudicados em decor- 2 METODOLOGIA
rência da volatilidade cambial. O presente trabalho será desenvolvido
Assim sendo, o presente trabalho tem como por meio de uma pesquisa exploratória,
objetivo principal analisar como a utilização analisando a estratégia de hedge cambial
da estratégia de hedge, por meio dos pro- por meio dos contratos derivativos na MB, e
dutos financeiros disponíveis no mercado de identificando suas limitações e características
derivativos, pode contribuir para a proteção da que possibilitem a utilização de tal ferramenta
Programação Financeira da MB destinada aos de proteção, de forma a contribuir para uma
pagamentos de compromissos em moedas es- construção de pensamento sobre o assunto de
trangeiras, face ao risco de variação cambial. maneira aplicada a essa Organização Militar.
Dessa forma, em consonância com Gil apesar de maior autonomia da política mone-
(2000), esta pesquisa visará ao desenvolvi- tária do Banco Central, tal regime apresenta
mento de concepção e a uma familiarização como característica uma maior volatilidade de
com o problema levantado. Para isso, foi sua taxa, podendo desestabilizar as balanças
realizada pesquisa bibliográfica por meio de comerciais, bem como as decisões de inves-
livros e artigos científicos, bem como pesquisa timento, dada a incerteza da oscilação do
documental por meio de relatórios, planilhas câmbio (LOPES e VASCONCELLOS, 2000).
financeiras, portarias, regulamentos e normas. No Brasil, o regime de câmbio flutuante
vem sendo adotado desde 1999, após as
3 REFERENCIAL TEÓRICO políticas de câmbio administrado, predomi-
nantemente, na década de 1990. Segundo
3.1 Risco de Variação Cambial
Merlotto, Pimenta Júnior e Rosifini Júnior
Em decorrência da globalização dos mer- (2008), houve um aumento expressivo da
cados, faz-se necessário possuir um parâmetro volatilidade da taxa cambial desde a flexibili-
que relativiza as transações internacionais en- zação do regime cambial. Cabe ressaltar que
tre as diversas economias. Para tanto, a taxa as crises internacionais do final da década de
de câmbio expressa o preço relativo entre as 90 e início da década de 2000 afetaram as
diversas moedas das respectivas economias contas da economia brasileira, impactando o
que realizam transações comerciais entre si fluxo de capitais financeiros e gerando resulta-
(LOPES e VASCONCELLOS, 2000). Sendo dos adversos para a balança de pagamentos
assim, é possível comparar a evolução de e para a taxa de câmbioiii. Nota-se, com
valorização de uma moeda em relação à ou- isso, que o mercado cambial em um regime
tra, de forma a obter as melhores estratégias flexível tem maior potencial para condicionar
comerciais possíveis até o ponto em que as significativas oscilações da taxa de câmbio
condições cambiais sejam favoráveis, tudo o em distintos períodos de tempo, face aos di-
mais constante. versos cenários econômicos.
O tipo de regime cambial aplicado em uma Conforme Allayannis e Ofek (2001), as
economia é relevante para a determinação do oscilações cambiais afetam os fluxos de cai-
comportamento do câmbio. Em um regime de xa futuro e, portanto, modificam o valor das
câmbio fixo, o Banco Central define a taxa de empresas não só ao modificarem os valores
câmbio e a mantém fixa através de compras e da moeda doméstica relativos às receitas
vendas de divisas. Dessa forma, o comporta- e aos custos externos mas também ao alte-
mento do câmbio está restrito à meta cambial rarem as condições de competição. Dessa
do Banco Central, bem como à sua capacida- forma, é relevante o acompanhamento das
de de transacionar as divisas à taxa estipulada. movimentações da taxa de câmbio por par-
No regime de bandas cambiais, fixa-se te das empresas que realizam contratos em
uma taxa de câmbio central e um intervalo moeda estrangeira, a fim de aperfeiçoarem
com limites de aceitação para baixo e para suas tomadas de decisão quanto aos seus
cima. A autoridade monetária intervém no respectivos negócios. Para esse acompanha-
mercado apenas para manter a taxa de câm- mento, os gestores necessitam entender o ris-
bio dentro do intervalo de tolerância estabe- co cambial a que seu negócio está sujeito.
lecido. Já no regime de câmbio de taxas flu- De acordo com Levi (2005), o risco de
tuantes, a taxa de câmbio se ajusta de forma variação cambial é a sensibilidade de mu-
a equilibrar o mercado de divisas. Com isso, danças no valor em moeda doméstica real de
artigo selecionado
ativos ou passivos a alterações nas taxas de em decorrência das oscilações de câmbio, as
câmbio. Assim, quanto maior for a variação receitas, os custos e a rentabilidade da empre-
do valor da moeda doméstica, dada uma sa serão prejudicados, de modo que a firma
variação no valor da taxa cambial, maior é o corre o risco de perder valor de mercado.
risco de variação cambial. Ainda de acordo com Freire Junior (2002),
A forma como o risco de variação cam- o risco cambial contábil ou de conversão apli-
bial afeta os agentes econômicos depende ca-se àquelas firmas que necessitam converter
da posição ou tipo de transação comercial seus demonstrativos financeiros em moeda
que o mesmo realiza. Um importador está estrangeira. Normalmente, tal conversão é
exposto ao risco cambial ao firmar contrato exigida para as empresas filiadas a matrizes
em moeda estrangeira, de modo que a no exterior. O risco se encontra no fato de,
ocorrência de uma desvalorização cambial por ocasião da conversão, haver desvaloriza-
pode elevar seus custos de aquisição. Já um ção cambial, prejudicando os resultados dos
exportador expõe-se ao risco cambial ao fir- demonstrativos financeiros.
mar contratos que gerem receitas em moeda Em suma, as firmas que realizam transa-
estrangeira, de forma que uma valorização ções com moedas estrangeiras necessitam
cambial durante o contrato pode reduzir seus possuir estratégias para mitigar os efeitos
ganhos financeiros com a transação comer- provocados por oscilações cambiais, haja
cial. Portanto, a oscilação cambial pode afe- vista as incertezas sobre a evolução do valor
tar a lucratividade, o fluxo de caixa líquido e da moeda estrangeira no futuro. Assim, tendo
o valor das firmas. Sendo assim, as empresas em conta os riscos que o comportamento futu-
podem estar sujeitas a três tipos básicos de ro da taxa de câmbio pode acarretar para o
risco cambial: risco de transação, risco ope- fluxo de caixa das firmas, faz-se relevante co-
racional e o risco contábil. nhecer os mecanismos de proteção existentes
O risco cambial de transação ocorre para a minimização dos riscos cambiais, de
quando as organizações realizam opera- modo a viabilizar a condução das atividades
ções em que são obrigadas a pagarem ou principais das firmas.
receberem um montante específico de moeda
estrangeira em uma data específica no futuro, 3.2 Conceito de Hedge Cambial
estando sujeitas às incertezas quanto às mo- Com o desenvolvimento dos mercados
vimentações da taxa de câmbio. Tal cenário internacionais, os agentes econômicos que
aplica-se ao caso de um importador se expor realizam transações com moeda estrangeira
a operações cuja liquidação ocorrerá em desenvolveram estratégias de proteção de
moeda estrangeira após uma variação cam- seus ativos contra a alta volatilidade da taxa
bial não prevista no momento da contratação de câmbio. Apesar de as oportunidades de
(FREIRE JUNIOR, 2002). negócios estrangeiros apresentarem-se como
O risco cambial operacional, também caminhos de ampliação da rentabilidade para
conhecido como risco cambial econômico, as firmas, a oscilação cambial representa um
refere-se aos efeitos sobre o valor presente risco ao fluxo de caixa futuro e, consequente-
de uma firma, decorrentes de impactos so- mente, ao valor das empresas.
fridos sobre o fluxo de caixa por oscilações Sendo assim, os gestores devem decidir
cambiais ao longo do tempo (FREIRE JUNIOR, quais estratégias tomarem para que as transa-
2002). Caso as importações de uma firma em ções comerciais das empresas a que estão vin-
dado período de tempo tornem-se mais caras culados tenham seus rendimentos financeiros
protegidos das oscilações dos valores de seus mercado de derivativos, haja vista que nesse
ativos. Para tanto, como mecanismo de pro- contexto as informações são simétricas, os
teção aos riscos de perdas financeiras asso- preços se autoajustam no longo prazo e os
ciadas às oscilações de preço de um ou mais agentes são eficientes, de modo que não há
ativo, tem-se o conceito de hedge. o desenvolvimento da prática de arbitragemiv
A operação de hedge funciona como um em tal mercado, ou seja, não seria possível a
seguro contra a variação de preço de um obtenção de ganhos.
ativo. De acordo com Barreto (2011), hedge Porém, como os mercados, na realidade,
é um conjunto de estratégias para minimizar são imperfeitos, a formação de preços é afeta-
riscos, podendo assumir diversas formas, da de forma a gerar picos e fundos significati-
seja pela utilização de instrumentos financei- vos nas movimentações dos preços dos ativos,
ros, seja por operações ligadas à atividade a exemplo do valor da taxa de câmbio. Dessa
operacional de uma empresa. No que tange forma, as teorias de otimização de hedge
à possibilidade de uma empresa utilizar sua demonstram que as imperfeições de mercado
própria estrutura operacional como estratégia criam incentivos para as firmas utilizarem ins-
de hedge, o rearranjo logístico de sua produ- trumentos de derivativos (GECZY, MINTON e
ção, para além das fronteiras nacionais, pode SCHRAND, 1997).
minimizar os custos com a variação cambial A decisão quanto ao uso de hedge pelas
em decorrência de uma unidade de produção empresas está ligada ao grau de risco de seus
instalada em um país de mesma origem para negócios. Sendo assim, além da imperfeição
a qual a transação comercial será destinada. dos mercados, o grau de exposição cam-
Referente à utilização de instrumentos bial e os custos de gerenciamento do risco
financeiros, de acordo com Hull (2009), hed- cambial são fatores que incentivam o uso de
ge tem como principal objetivo usar os mer- derivativos cambiais (GECZY, MINTON e
cados futuros para reduzir um risco particular SCHRAND, 1997). Quanto maior for a va-
que se possa enfrentar, estando relacionado riação do fluxo de caixa decorrente de uma
às flutuações no preço do petróleo, taxa de variação cambial, maiores serão os benefícios
câmbio, ou alguma outra variável. potenciais do uso de derivativos cambiais.
Assim, a operação de hedge visa à imu- Por outro lado, caso os custos de gerencia-
nização de riscos para as organizações ao mento do risco cambial sejam muito elevados,
minimizar sua exposição às oscilações dos ati- as firmas não serão incentivadas a usar os de-
vos que fazem parte de seu negócio principal. rivativos cambiais. Portanto, as firmas devem
Para tanto, a estratégia de proteção consiste avaliar o nível de risco que a oscilação de seu
em tomar uma posição contrária à posição à ativo proporciona para a condução de sua ati-
vista do ativo que se queira imunizar de pos- vidade principal, de modo a estabelecer uma
síveis oscilações. Um hedge perfeito é aquele estratégia de proteção eficiente, identificando
que elimina totalmente o risco. Porém, sendo seu nível de exposição cambial e os custos
rara a operação de um hedge perfeito, os associados à implantação e manutenção do
estudos sobre ele, usando contratos derivati- gerenciamento do risco cambial.
vos, são desenvolvidos de forma a obter uma O perfil dos tomadores de decisão e as
operação de proteção de ativo mais perfeita políticas internas das firmas são fatores im-
possível (HULL, 2009). portantes para a determinação do uso de
Em uma economia de mercado perfeito, hedge cambial. De acordo com Bakaert e
não seria racional operar hedge por meio de Hodrick (2012), a incerteza quanto ao fluxo
artigo selecionado
de caixa futuro de uma firma é relevante, po- o valor da firma. Ao proteger as receitas
rém não é condição suficiente para o uso da das firmas, a utilização de hedge reduziria
operação de hedge cambial. Caso possua a probabilidade de pagamentos de custos
um perfil de aversão ao risco, a firma terá de falência. Além disso, reduzindo a varia-
uma maior propensão a utilizar a ferramenta bilidade do fluxo de caixa, a ferramenta de
de hedge cambial, pois a perspectiva de re- hedge contribui para diminuir a probabilida-
dução de variação do fluxo de caixa e, por de de não pagamento das obrigações das
conseguinte, da tendência de manutenção firmas, de modo que se reduz o conflito entre
do lucro aumenta a sua utilidade esperada. acionistas e credores, evitando o aumento da
Contudo, para uma firma que tem como taxa de juros de modo a não prejudicar os
objetivo gerencial a maximização do valor investimentos da firma.
aos acionistas, a estratégia de hedge deverá De acordo com Stulz (1996), ao se mini-
aumentar necessariamente o valor patrimonial mizar problemas financeiros relacionados a
da firma para que valha a pena a utilização exposições de oscilações de preços de ati-
de tal ferramenta de proteção. vos, o uso da estratégia de hedge como ge-
As firmas que utilizam a estratégia de hed- renciamento de risco financeiro potencializa
ge cambial buscam evitar maiores preocupa- o aumento da capacidade de endividamento
ções com as movimentações inesperadas da da firma. Assim sendo, ao se tomar a decisão
variável câmbio, cuja oscilação inesperada de realizar a operação de hedge ou não, as
tem potencial para afetar negativamente suas firmas têm de ter a ciência de que o geren-
atividades principais. Porém, geralmente, tais ciamento de risco pode alterar sua estrutura
firmas não possuem expertise de predição de de capital e sua estrutura de propriedade.
tais movimentações. Através da operação de Segundo Eiteman, Stonehill e Moffett
hedge, as firmas, portanto, podem ter maior (2013), um dos argumentos favoráveis para
foco em suas atividades principais. No entan- a utilização de hedge é que, ao se reduzir
to, cada firma deve atentar não só para os os riscos relativos ao fluxo de caixa futuro, au-
potenciais benefícios como também para os menta-se a capacidade de planejamento das
riscos que as operações de hedge podem firmas, pois, com maior precisão na previsão
gerar. Como forma de apoio para tomada de sobre o fluxo de caixa futuro, a firma pode ter
decisão de usar hedge cambial por meio de maior capacidade para empreender investi-
derivativos, é importante observar os prós e os mentos ou atividades específicas que de outra
contras abordados pela literatura. forma não consideraria realizar.
Segundo Nance, Smith Junior e Smithson Bakaert e Hodrick (2012) abordam alguns
(1993), a proteção através da ferramenta argumentos contra a utilização de hedge.
de hedge possui como benefícios a redução Segundo eles, a diferença entre o preço de
de pagamentos de impostos esperados, a mercado a termo e o preço à vista dos ati-
redução dos custos de transação esperados vos, além dos custos com os funcionários que
relativos a custos de falência (financial distress) operam a estratégia de hedge, tendo em vista
e a redução de custos de agência. suas motivações especulativas em prol de seus
Em um sistema de taxação progressiva, ao resultados pessoais, tornam-se custos adicio-
reduzir a volatilidade do fluxo de caixa da nais da operação de hedge, sendo, portanto,
firma, a operação de hedge reduziria seus uma operação custosa. Além disso, o risco
passivos fiscais, de modo a aumentar a re- patrimonial é muito difícil, se não impossível,
ceita após a tributação, aumentando, assim, de ser hedgeado a longo prazo, porque seria
efetivamente impossível proteger as alterações contratos são liquidados em uma data futura
do patrimônio de uma firma com relação às e cujos valores derivam de valores de ativos
movimentações do câmbio, pois o valor do negociados no mercado à vista. Segundo Hull
patrimônio líquido é o valor presente de uma (2009), um derivativo é um instrumento finan-
série infinita de fluxos de caixa. ceiro cujo valor depende ou deriva de valores
Ainda de acordo com os autores, a estra- de outras variáveis subjacentes.
tégia de hedge pode criar maus incentivos, Dessa forma, os contratos de derivativos
porque as políticas de hedge podem ser podem ser utilizados para a gestão de risco
usadas para beneficiar certos agentes em dos preços de diversos ativos - a exemplo de
detrimento de outros. ações e moedas - e para especulação. Assim
Segundo Hull (2009), a estratégia de sendo, tais instrumentos financeiros possibilitam
hedge possui alguns riscos básicos, como: i) que os agentes financeiros transfiram, para
diferença entre o ativo cujo preço é objeto de outros agentes, os riscos dos quais desejam se
proteção e o ativo negociado nos contratos proteger de suas respectivas exposições.
futuros; ii) divergência entre a data exata de As operações dos derivativos consistem
quando o ativo será comprado ou vendido em negociações quanto ao preço de um
com relação ao fechamento do contrato; e iii) ativo-objeto, a um determinado preço futuro.
prazos dos contratos padronizados nos mer- Tais operações normalmente ocorrem através
cados derivativos divergentes do fechamento de contratos padronizados que atribuem o
do contrato. exercício de direitos e o cumprimento de obri-
Conforme mencionado anteriormente, a gações por parte dos participantes, e são
estratégia de hedge cambial possui pontos negociados em mercado de balcão ou em
positivos para viabilizar as atividades prin- bolsas de mercadoria e futuros.
cipais de uma firma, a exemplo da melhora De acordo com Eiteman, Stonehill e Moffett
de capacidade de planejamento empresarial (2013), ao operarem instrumentos de deriva-
através da redução da volatilidade do fluxo tivos, os gestores financeiros podem tomar
de caixa futuro. Contudo, faz-se necessário posições baseados em expectativa de lucro,
que os gestores das firmas tenham ciência dos especulação ou podem usar esses instrumentos
riscos envolvidos em tal estratégia de prote- para reduzir os riscos associados com o dia
ção, observando as possibilidades de perdas a dia do gerenciamento do fluxo de caixa
significativas quando os preços dos ativos da firma, ou seja, como estratégia de hedge.
imunizados deslocam-se em sentido oposto ao Segundo a Comissão de Valores Mobiliários
esperado (ROCHA, 2007). (2014), o mercado de derivativos é compos-
Dessa forma, importa analisar o perfil e os to por alguns agentes básicos que atuam de
objetivos do negócio desenvolvido pela firma, acordo com seus propósitos específicos: hed-
bem como analisar e conhecer as possibilida- ger; arbitrador; e especulador.
des que os diferentes instrumentos do mercado O objetivo principal do hedger é basica-
de derivativos oferecem como mecanismos de mente proteger-se contra o risco de oscilação
proteção de oscilação de preço de ativo. de preço de seu ativo-objeto. Dessa forma, o
hedger visa à fixação antecipada do preço do
3.3 Mercado de derivativos como ativo financeiro, como do valor de uma moe-
mecanismo de hedge cambial da com qual realiza transações comerciais, a
Derivativos podem ser definidos como um fim de mitigar potenciais prejuízos causados
conjunto de instrumentos financeiros cujos por oscilações adversas de preço no mercado
artigo selecionado
à vista em um tempo futuro. Portanto, o con- de valores (SILVA, 2012). Assim sendo, as
trato de derivativo exerce a função de seguro necessidades, de acordo com os propósitos
contra movimentações indesejáveis e inespera- específicos dos agentes envolvidos, podem ser
das dos preços do ativo-objeto, não havendo satisfeitas de forma customizada no que tange
intenção de lucro com a operação. a cláusulas como prazos, volume, garantia e
O arbitrador possui o objetivo de lucrar, data de vencimento.
com riscos mínimos, operando, simultanea- Como desvantagens, os contratos a termo
mente, no mercado futuro e no mercado à vis- possuem o risco do não cumprimento do
ta no momento em que os preços à vista e fu- mesmo pelas partes e possuem a necessidade
turos divergem. Ao se aproveitar da distorção de haver coincidência de objetivos entre as
entre os preços desses mercados, o arbitrador mesmas, dado que tais contratos são elabo-
contribui para o restebalecimento do equilíbrio rados em conformidade com suas respectivas
dos preços relativos de tais mercados. condições desejadas. Normalmente, ele são
O especulador utiliza o mercado de de- negociados em mercado de balcão, embora
rivativos apenas para lucrar através do dife- haja bolsas de valores que administram a liqui-
rencial entre os preços de compra e venda dação e a custódia de tais contratos (FREIRE
de contratos de derivativos, sem possuir inte- JUNIOR, 2002). Tendo em vista as caracterís-
resse em proteger algum ativo-objeto como ticas supracitadas, os contratos a termo pos-
ocorre com o hedger. O especulador exerce suem baixa liquidez.
função importante no mercado de derivati- Os contratos futuros foram desenvolvidos a
vos, pois é o agente que assume os riscos partir das características básicas dos contratos
dos quais o hedger deseja se proteger. A a termo. Apesar de também consistir em fixar
atuação dos especuladores exerce signifi- determinado valor de uma mercadoria ou ativo
cativa influência na formação de preço do financeiro para seu exercício em uma data futu-
mercado de derivativos, haja vista que suas ra, os contratos futuros são provenientes de um
expectativas sobre os preços futuros contri- mercado mais organizado, negociado somente
buem para a transparência da formação de na bolsa de valores. Sendo assim, tais contratos
preços e para a geração de informações no são elaborados de forma padronizada. Embora
mercado (FREIRE JUNIOR, 2002). não haja a mesma flexibilidade das cláusulas
De acordo com Silva (2012), as princi- contratuais de forma customizada como ocorre
pais modalidades de contratos negociados com os contratos a termo, a padronização dos
no mercado de derivativos, que podem ser contratos futuros agiliza o processo de opera-
utilizados como estratégia de hedge cam- ção, pois possibilita um maior enfoque na nego-
bial, são: contratos a termo; contratos futuros; ciação dos valores, sem maiores preocupações
opções; e swaps. com demais cláusulas. Além disso, enquanto
Os contratos a termo consistem em assun- a liquidação dos contratos a termo apenas
ção de compromisso de comprar ou vender ocorre na data de seu vencimento, os contra-
uma mercadoria ou ativo financeiro em uma tos futuros sofrem ajustes financeiros diários de
data futura por determinado preço previamen- acordo com a expectativa do mercado sobre
te fixado. Possuem como vantagem o conjunto os preços futuros do ativo-objeto (COMISSÃO
de especificações que podem ser atribuídas a DE VALORES MOBILIÁRIOS, 2014).
cada novo contrato realizado entre as partes, Os contratos de opções são aqueles em
não se restringindo às padronizações encon- que é negociado o direito de comprar ou ven-
tradas nos contratos negociados nas bolsas der um bem no futuro a um preço previamente
artigo selecionado
seus meios navais, aeronavais e de fuzileiros e 2010, nota-se que essa participação das
navais, maior a probabilidade de exposi- operações com câmbio manteve a tendência
ção cambial para a instituição militar, haja de 1/3 do total das despesas pagas anuais,
vista um mercado cambial flexível como o demonstrando comportamentos paralelos de
brasileiro. crescimento dessas duas variáveis.
Faz-se necessário, então, analisar o quanto Sendo assim, conclui-se que a adminis-
essas operações representam face ao volume tração da Programação Financeira da MB
financeiro anual executado pela Programação direciona significativo esforço para operar
Financeira da MB, referente ao total de des- com as taxas de câmbio, dada a sua gran-
pesas pagas em determinado exercício finan- deza relativa nos desembolsos dos recursos
ceiro, incluindo os respectivos Restos a Pagar, financeiros para a execução financeira vincu-
de modo a verificar o nível de volatilidade lada à execução orçamentária ao longo de
de seu fluxo de caixa futuro como decorrên- um exercício financeiro. Portanto, os dados
cia do risco de variação cambial. A Tabela da tabela indicam que expressiva parcela da
1 apresenta os dados atinentes à análise da Programação Financeira da MB encontra-se
relação entre o volume anual de operações exposta ao risco cambial de transação, tendo
cambiais e o volume financeiro anual que a em vista o valor relativo do total de fluxo finan-
MB destinou a pagamentos de suas despesas ceiro destinado às operações cambiais.
correntes e de capital, deduzidas as despesas Dessa maneira, é relevante possuir me-
com pessoal e encargos sociais. canismos mitigadores de volatilidade de
A partir da Tabela 1, observa-se que no pe- caixa futuro e da consequente restrição de
ríodo de 2008 para 2014 a participação das pagamento. Nesse contexto, o instrumento
operações cambiais representou, em média, de hedge cambial torna-se uma ferramenta
33% do fluxo financeiro que a MB tem execu- de potencial proteção aos riscos cambiais a
tado para os pagamentos de suas despesas que a Programação Financeira da MB sofre
anuais, excluindo as despesas com pessoal e exposição. Todavia, faz-se necessário avaliar
encargos sociais. Embora o montante do vo- não apenas os benefícios mas também a
lume financeiro utilizado para pagamento de viabilidade e os riscos da aplicação de tal
despesas tenha quase dobrado entre 2009 ferramenta para a instituição militar.
No que tange ao âmbito legal, a Portaria cambiais, por meio de um mecanismo de pro-
nº 345/1998, do Ministério da Fazenda, teção cambial, é um fator de variação positiva
expressa que os fundos de interesse à defesa na capacidade de planejamento referente
nacional estão autorizados a aplicarem no aos recursos que compõem a Programação
mercado financeiro. Portanto, observa-se a Financeira da MB, face às respectivas possíveis
viabilidade legal da utilização da ferramenta variações negativas provocadas por reduções
de hedge por meio do mercado de derivati- orçamentárias inesperadas.
vos pela MB. Apesar dos importantes potenciais benefí-
Nesse âmbito, o Fundo Naval – recurso cios, a ferramenta de hedge cambial possui,
integrante do Orçamento da MB destinado como risco, a geração de perdas financeiras
principalmente à renovação de material flu- como resultado de divergência entre o valor
tuante –demonstra-se uma possível ferramenta da taxa de câmbio efetiva e a respectiva taxa
de viabilidade operacional para a operação cambial esperada. Portanto, a decisão de
de hedge cambial via mercado de derivativos. utilização de tal ferramenta de proteção deve
Isso porque, de acordo com as Normas sobre estimar racionalmente a significância e a pro-
Administração Financeira e Contabilidade – babilidade da ocorrência do risco financeiro
SGM-301, a conta de aplicação financeira na operação de hedge cambial por meio de
da MB está restrita, em princípio, aos Fundos contratos de derivativos.
(inclusive FN-Exterior), Caixa de Construções Além disso, dada a composição orçamen-
de Caixa para o Pessoal da Marinha e tária de cada exercício financeiro, a MB tem
Empresa Gerencial de Projetos Navais. Dessa como desafio possuir recurso financeiro para as
forma, os créditos orçamentários destinados operações com hedge cambial que antecedem
ao Fundo Naval configuram-se como recursos as operações cambiais nas datas correspon-
possíveis para a contratação de instrumentos dentes às obtenções no exterior às quais se
do mercado de derivativos para a finalidade destinam. Assim, a utilização da ferramenta de
de proteção cambial. hedge cambial necessita de uma formulação
Como benefícios potenciais para a MB, a de política estratégica de proteção, a fim de
estratégia de hedge cambial pode reduzir o antecipar as demandas orçamentárias para a
risco de fluxo de caixa futuro, que se expressa operação de proteção contra o risco cambial
pelo descasamento entre o crédito orçamen- em sucessivos exercícios financeiros.
tário e os recursos financeiros destinados aos Portanto, a tomada de decisão quanto ao
pagamentos das despesas orçamentárias, e, uso da estratégia de hedge cambial deve ser
consequentemente, pode contribuir para me- realizada de acordo com a análise sobre a
lhorar a capacidade de planejamento de tal combinação entre os potenciais benefícios e
instituição militar. os riscos a que a instituição está sujeita. Faz-
Cabe ressaltar que a redução de incerte- se necessário um contínuo desenvolvimento de
zas futuras sobre o comportamento de ativos gerenciamento de risco, a fim de se criar um
relevantes nas realizações de transações de ambiente com políticas cada vez mais conso-
obtenção no exterior em possíveis cenários lidadas quanto à necessidade de proteção
de restrição orçamentária é de fundamental cambial, com vistas a responder ao risco de
importância para os projetos de defesa nacio- volatilidade do fluxo de caixa futuro.
nal, tanto no curto quanto no longo prazo, no Porém, possuir uma política consolidada e
âmbito da MB. Sendo assim, a minimização em contínuo aprimoramento é uma condição
dos efeitos adversos provocados por oscilações necessária, mas não suficiente para obter
artigo selecionado
resultados positivos com a operação de hed- final do contrato firmado. Apesar do risco de
ge. É relevante conhecer o funcionamento inadimplência de uma das partes, tais contra-
dos instrumentos disponíveis no mercado de tos podem exigir garantias contra o não cum-
derivativos, bem como estudar os fatores que primento de cláusulas contratuais (COMISSÃO
afetam o mercado cambial, de modo a se DE VALORES MOBILIÁRIOS, 2014).
estabelecer os possíveis cenários que venham Sendo assim, na modalidade de contrato a
a ser base de informações para a otimização termo, o risco da MB encontra-se diretamente
da aplicação da estratégia de proteção con- ligado à variação da taxa cambial futura no
tra o risco cambial. final do contrato diante da taxa cambial es-
Conforme visto na seção anterior, cada perada. No que tange aos contratos de swap
modalidade de contrato de derivativos possui cambial, o risco encontra-se na diferença entre
suas peculiaridades quanto aos seus pontos
as variações dos índices dos quais se preten-
positivos e negativos. No que tange à ade-
de realizar a troca de rentabilidades.
quação à realidade da MB, a necessidade
de possuir fluxo de caixa para cobrir os ajus- 4.1 Exemplificação de Operação
tes diários faz com que os contratos futuros de Hedge
sejam uma alternativa com maior risco e maior A fim de identificar os possíveis impactos
esforço, tendo em vista a possibilidade de da utilização de um mecanismo de imuniza-
divergência entre os recursos financeiros e o ção face aos riscos de variação cambial, será
crédito orçamentário do exercício financeiro. simulada abaixo a aquisição de contrato a
Os contratos de opções, embora não termo (Non Deliverable Forward – NDF) por
possuam ajustes diários, exigem o paga- parte da MB, diretamente com um banco
mento de um prêmio, chamado de preço do comercial. O objetivo é proteger os recursos
exercício da opção. Assim, ao adquirir uma
financeiros destinados à obtenção de um
opção de compra, o investidor possui como
equipamento no exterior contra um eventual
risco máximo o valor integral do prêmio da
aumento do dólar americano. Considere os
opção no caso de não exercer a opção de-
seguintes dados arbitrários:
vido à falta de vantagem do preço do ativo.
• Custo de aquisição do equipamento: USD
Portanto, o preço do exercício da opção,
100.000,00;
pago no momento da compra da opção, re-
• Contratos NDF: USD 25.000,00 /
presentaria uma destinação de recurso finan-
contrato;
ceiro com potencialidade de perda em caso
• Dólar de Planejamento da MB: R$ 3,00 /
de cotação na data do exercício da opção
divergente da taxa de câmbio esperada. Em USD;
contrapartida, em um cenário de movimento • Ptax do dólar americano em
significativamente favorável do dólar, a MB 02/02/2015: R$ 2,6888/ USD;
se beneficiaria na proporção da variação da • Cenário de desvalorização – Ptax do
moeda estrangeira ao exercer o direito de dólar americano em 02/04/2015: R$
compra da opção. 3,1486/ USD;
Já os contratos a termo e os contratos de • Cenário de valorização – Ptax do dó-
swap cambial não exigem fluxo de caixa para lar americano em 02/04/2015: R$
cobrir ajustes diários ou algum tipo de prêmio 2,8514/ USD;
para seu exercício, de modo que as movimen- • Data de início do contrato NDF:
tações financeiras, geralmente, ocorrem no 02/02/2015;
artigo selecionado
Tabela 3 - Aquisição de Contratos a Termo em Cenário de Valorização Cambial
Câmbio no Contrato com
Contrato Taxa a termo NDF de Resultado com a
Qtde de vencimento o Câmbio no Gasto final1 (R$)
(USD) (R$/USD) Compra (R$) operação (R$)
NDF (R$/USD) vencimento (R$) (g)
(a) (b) (c = a x b) (f = e - c)
(d) (e = a x d)
4 100.000,00 3,00 300.000,00 2,8514 285.140,00 -14.860,00 300.000,00
3 75.000,00 3,00 225.000,00 2,8514 213.855,00 -11.145,00 296.285,00
2 50.000,00 3,00 150.000,00 2,8514 142.570,00 -7.430,00 292.570,00
1 25.000,00 3,00 75.000,00 2,8514 71.285,00 -3.715,00 288.855,00
Fonte: elaborado pelo autor
Nota: 1 (g) = [USD 100.000,00 - (a)] x (d) + (c)
artigo selecionado
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1. Capitão do Serviço de Intendência do Exército, da turma de 2008, da Academia Militar das Agulhas Negras, é graduado em
Ciências Militares pela AMAN (2008), Aluno do MBA em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria, pela Fundação Getúlio.
Realizou curso em Logística e Supply Chain Managemente, curso de Contratos Administrativos e seu Gerenciamento, ambos da FGV-RJ,
no ano 2015. Atualmente é Instrutor do Curso de Intendência da Academia Militar das Agulhas Negras. Tem experiência na área de
Administração Pública, com ênfase em Licitações e Contratos e Orçamentação Financeira.
10.520/2002). Assim, dá-se pela própria Pode-se dizer que o tipo de licitação é um
natureza da modalidade pregão, necessário indício de como serão definidos os critérios
para a aquisição de bens ou serviços comuns, de julgamento. Por exemplo: Como não se
visto que, se fossem adotados os critérios técni- confundem? Como um tipo de licitação menor
cos no julgamento das propostas, estes seriam preço pode admitir critérios de julgamento di-
incompatíveis com a própria modalidade. ferentes? Observe o exemplo abaixo:
Por mais que os conceitos aparentam serem Em uma licitação de grande porte da
os mesmos, as definições não devem ser vistas administração pode e é recomendável pelos
como iguais. Primeiro porque a própria Lei de órgãos de controle que, em vez de adquirir
Licitações e Contratos os difere (art. 40, caput, tudo de uma só licitante, os produtos sejam
e inciso VII), segundo, os tipos de licitação agrupados em itens ou lotes homogêneos,
podem ter diferentes critérios de julgamento e permitindo maior competitividade por meio da
terceiro porque é possível fazer uma análise participação de licitantes de menor porte. A
mais detalhada dos critérios de julgamento, Súmula nº 247 do TCU dispõe que:
como a aceitabilidade de preço global e uni- A admissão da adjudicação por item e não
tário, o que não deixa de ser um critério para por preço global, nos editais das licitações
a seleção da proposta mais vantajosa. para a contratação de obras, serviços, com-
Além dessas características que distinguem pras e alienações, cujo objeto seja divisível,
os institutos, notadamente o tipo de licitação é desde que não haja prejuízo para o conjun-
instituto mais complexo do que o simples cri- to ou complexo ou perda de economia de
tério de julgamento. Conforme Justen (2009), escala, tendo em vista o objetivo de propi-
a própria escolha do tipo de licitação produz ciar a ampla participação de licitantes que,
reflexos não apenas sobre o julgamento das embora não dispondo de capacidade para
propostas, pois o próprio procedimento licita- a execução, fornecimento ou aquisição da
tório, em toda sua fase externa, variará con- totalidade do objeto, possam fazê-lo com
soante o tipo de licitação. Assim, uma licita- relação a itens ou unidades autônomas.
ção de técnica e preço será diferente de uma
de menor preço já no ato convocatório, pois Nesse exemplo, o tipo de licitação escolhi-
dele deverão constar as exigências técnicas. do pela administração poderá ser o de menor
Ainda segundo o mesmo autor, ao ignorar a preço (art. 5º, §1º, I, Lei nº 8666/93), mas,
necessidade de adequação do procedimento quando for definir o critério de julgamento, a
ao tipo de licitação, a administração provoca- administração deve indicar como funcionará a
rá confusões, disputas e controvérsias, dando avaliação de menor preço (e a adjudicação)
margens para o surgimento do subjetivismo. pelo item, pelo lote, pelo grupo, etc. Logo, o
Ao falar sobre o critério de julgamento, critério de julgamento já será mais específico
conforme exigido no inciso VII, do art. 40, da do que a mera indicação do tipo de licitação,
Lei nº 8666/93, Justen (2009) destaca ser pois não será suficiente dizer que a licitação
imprescindível que o critério seja objetivo, não será do tipo menor preço, sendo imprescindí-
sendo suficiente a mera indicação do critério vel especificar se o menor preço será por item,
como “menor preço” ou, o que é muito pior, lote ou grupo.
“melhor técnica”. Dessa forma, é obrigatório É percebível que os conceitos de critério de
discriminar como serão avaliadas as ofertas julgamento e tipos de licitação são próximos,
e qual a vantagem concreta que norteará a porém não se confundem, estão conecta-
decisão da administração. dos. Ora, se na Lei nº 8666/93 em seu rol
de menor preço com critério de maior descon- 13. Apesar de, no âmbito federal, não
to sobre o(s) valor(es) tabelado(s), garantindo haver previsão legal para tanto, nem na
que a administração estará pagando um pre- Lei de Licitações (Lei nº 8.666/1993) nem
ço abaixo do praticado no mercado. em outro normativo que trate do tema, essa
técnica de licitação tem sido adotada por
2.2 Reconhecimento do maior desconto
alguns estados e municípios, havendo, in-
pelo TCU
clusive, previsão legal em alguns deles (leis
As análises do Tribunal de Contas da União estaduais ou municipais), a exemplo do
têm como amparo o art. 70 da Constituição Estado da Bahia [...].
Federal, no qual fica implícito que a Corte rea- 14. A despeito da discussão quanto à va-
liza não apenas um exame de legalidade mas lidade ou não desses normativos, uma vez
também de legitimidade e economicidade. que compete privativamente à União legislar
Assim, quando é feito o julgamento de alguma sobre licitações, algumas vantagens e des-
ação em que se considera uma ou outra téc- vantagens podem ser apontadas.
nica nas licitações, tais ações são avaliadas
sob o aspecto jurídico e com relação aos Do trecho acima, verifica-se que não foi
efeitos do método utilizado em termos de legi- questionada a legalidade ou não da medida,
timidade e economicidade. apenas houve o enfrentamento de aspectos
Ao acompanhar as decisões do Tribunal, práticos e técnicos da licitação com base em
constata-se que são feitas análises da questão maior desconto. O TCU muitas vezes foca
com base no resultado proporcionado pela sua análise mais nos resultados da medida
utilização de certo expediente. Isso pode ser do que propriamente na sua legalidade.
verificado no Acórdão nº 3.337/2012 – Continuando a análise, a área técnica do
Plenário, em que o Tribunal teve a oportunida- TCU passou a revisitar as decisões do Tribunal
de de enfrentar o tema, sendo feita inclusive sobre o tema, deixando consignada que a ju-
uma análise pormenorizada da área técnica risprudência quanto ao tema não se encontra
especializada da Corte. consolidada. Entre as decisões citadas, desta-
Para efeitos de contextualização, o Acórdão ca-se o Acórdão nº 1.927/2006-1ª Câmara,
3.337/2012 tratava de um caso envolvendo que chegou a recomendar estudos com vistas
recursos federais operacionalizados por meio à utilização do critério de seleção com base
de contrato de repasse e utilizados numa obra. em maior desconto para serviços de organi-
Nesse caso, a licitação utilizara critério de zação de eventos. Logo depois, por meio do
julgamento baseado no desconto linear sobre Acórdão nº 1.700/2007 – Plenário, em que
os custos da planilha. Houve questionamento, se haveria consignado que:
por meio de denúncia, acerca dessa forma Não se admite, em processo licitatório, o
de selecionar a proposta mais vantajosa, e o uso de critério de julgamento de propostas
Ministro-Relator José Múcio Monteiro acionou de preços fundado no maior desconto
a área técnica especializada para que ela linear (uniforme) oferecido sobre todos os
se manifestasse sobre esse critério. Ainda na itens do orçamento, por chocar-se com
análise técnica, foram constatados interessantes o sistema de mercado infundido na Lei
pontos, observe a seguir: nº 8.666/1993, bem como por confi-
Primeiro, a área técnica reconheceu não gurar tipo de licitação extralegal, que
existir, em âmbito federal, previsão legal de nem sempre se traduz no menor preço
seleção com base no maior desconto: obtenível.
certame licitatório com critério de julgamento não conhecia o critério de julgamento com
com base no maior desconto ofertado, bem base no maior desconto ofertado.
como verificar se havia na unidade problemas A segunda pergunta continha uma explica-
nas aquisições de gêneros perecíveis e de ção sobre como utilizar a ferramenta do crité-
peças de viaturas. rio de maior julgamento e possíveis vantagens
de seu uso e questionava sobre o interesse
3.3 Entrevista
em utilizar a ferramenta. Os resultados são
Tendo em vista conhecer os resultados ob- demonstrados na figura 2.
tidos com a utilização do pregão com critério A terceira e última pergunta tratava dos
de maior desconto ofertado, foram entrevista- problemas com fornecimento de materiais ou
dos gestores que utilizavam esta ferramenta há serviços devido a grandes variações nos pre-
pelo menos 3 (três) anos. ços, podendo escolher mais de um item. Essa
Nas entrevistas, além das respostas obti- pergunta tem seus resultados apresentados
das, foram apresentados dados por parte dos na figura 3, tendo uma resposta em “outros
entrevistados, que serão expostos na seção 4. problemas” relativa à aquisição de material
de informática.
4 RESULTADOS Com relação à entrevista com militares que
Os dados levantados referentes ao grau de já realizavam o pregão com critério de julga-
conhecimento sobre o critério de julgamento mento baseado no maior desconto ofertado,
por parte dos gestores que ainda não utiliza- pôde-se extrair o seguinte:
vam a ferramenta foram compilados e transfor- • A partir da utilização desse método para
mados em gráficos para facilitar a análise. a aquisição de gêneros perecíveis, houve
Como se pode observar na figura 1, uma uma redução de 92%, de acordo com
parcela significativa (59%) dos gestores ainda um entrevistado, no número de sanções
Figura 1 – Por que não utilizam o critério de julgamento com base no maior desconto ofertado?
Fonte: Autor
Fonte: Autor
Fonte: Autor
Fonte: Autor
A terceira e última pergunta tratava dos problemas com fornecimento de materiais ou
serviços devido a grandes variações nos preços, podendo escolher mais de um item. Essa
Figura
pergunta tem seus 3 – Tem apresentados
resultados ou teve algum na
problema
figuracom
3, relação ao fornecimento
tendo uma resposta em “outros
de itens licitados por variações nos preços?
problemas” relativa à aquisição de material de informática.
Figura 3 – Tem ou teve algum problema com relação ao fornecimento de itens licitados por
variações nos preços?
Fonte: Autor
Fonte: Autor
Com relação à entrevista com militares que já realizavam o pregão com critério de
julgamento baseado no maior desconto ofertado, pôde-se extrair o seguinte:
13
ACANTO EM REVISTA
• A partir da utilização desse método para a aquisição de gêneros perecíveis, houve uma
139
artigo convidado
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EDUCAR PARA QUALIFICAR