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Departamento de Engenharia de Produção, Universidade Federal de São Carlos, Rua Brasilina Alves Ferreira,
111, apto. 21, Ribeirão Preto, SP, CEP 14092-550, Telefone 0xx16-6183963, E-mail: Zjsouza@aol.com.
Tabela 1. Oferta interna de energia, por tipos principais de oferta energética brasileira, ocupando, porém, a
combustível, 1980-2000 (em %)
terceira posição em importância. Os produtos
Ano Hidráulica Petróleo/ Lenha Produtos derivados da cana-de-açúcar – álcoois anidro,
GN Cana hidratado e etílico – tenderiam a ocupar esta
1980 26,8 39,8 22,0 6,5 posição, caso houvesse continuidade do Proálcool,
1985 31,6 30,9 19,6 10,5 pois, no auge do Programa, os produtos da cana
1990 36,1 32,5 15,0 9,9 representaram mais de 10% de nossa matriz de
1995 38,3 33,9 10,5 10,1 oferta energética. A Tabela 2 mostra que, caso
1996 38,0 35,5 9,4 10,1 houvesse um crescimento contínuo na produção de
1997 38,1 35,9 8,8 10,2 álcool hidratado, a representatividade do setor
sucroalcooleiro na matriz de oferta de energia
1998 38,4 36,5 8,4 9,9
facilmente ocuparia a terceira posição em
1999 38,1 36,8 8,4 9,7 importância relativa.
2000 39,3 37,3 8,3 7,6 Mesmo assim, os produtos derivados da
Fonte: Ministério de Minas e Energia – MME cana-de-açúcar poderão ocupar a terceira posição
(2001). da matriz de oferta energética devido à escassez
relativa da lenha e à co-geração de energia
elétrica por meio do bagaço da cana. Este último
Note que a lenha combustível de uma fator, sua evolução e situação atual, será o objeto
representatividade de mais de 80% em 1940, de estudo deste artigo.
atualmente representa apenas 8,3% da matriz de
Tabela 2. Representatividade dos produtos derivados da cana (em %) e taxa de crescimento dos produtos derivados da cana (em %), 1985,
1990 e 1995-2000
1985 1990 1995 1996 1997 1998 1999 2000
% na Matriz Energética
Produtos Cana 10,5 9,9 10,1 10,1 10,2 9,9 9,7 7,6
Taxa de Crescimento %
Álcool Anidro 46,8 -43,2 7,3 47,6 27,9 0,2 8,6 -9,0
Álcool Hidratado 19,3 3,4 0,3 -0,4 1,3 -14,1 -19,3 -26,1
Álcool Etílico 25,7 -2,5 1,9 10,9 9,6 -8,9 -8,1 -17,9
Bagaço 9,1 -1,0 -1,0 5,4 11,4 0,2 0,2 -18,5
Fonte: Ministério de Minas e Energia (2002).
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i. As fontes eólica, pequenas centrais cana poderia representar entre 850 e 950 MW dos
hidrelétricas e biomassa deverão atender a 10% do 1.100 MW reservados à biomassa (Valor
consumo anual de energia elétrica do país. Esse Econômico, 23/05/2002).
objetivo deverá ser atingido em até 20 anos, Ademais, o início da segunda fase do
contando o prazo e os resultados da primeira etapa; programa poderá ocorrer somente em 2006, quando
ii. A Eletrobrás S/A será responsável pela a meta inicial de 3.300 MW for atingida. Outra
compra da energia elétrica, instituindo contratos de observação é que o programa não apresenta uma
compra por 15 anos e com preço equivalente ao visão sistêmica do processo, não aludindo, por
custo médio ponderado de geração de novos exemplo, a questão do custo das linhas de
aproveitamentos hidráulicos com potência superior financiamento oficiais e a diferenciação
a 30 MW e centrais termelétricas a gás natural; tecnológica.
iii. A aquisição se fará de forma que as referidas Todavia, considerando a tarifa média de
fontes atendam o mínimo de 15% do incremento fornecimento ao consumidor final em R$
anual da energia elétrica a ser fornecida ao mercado 122/MWh, o preço a ser recebido pelo setor
consumidor nacional, compensando-se os desvios sucroalcooleiro seria R$ 97,60 (80% da tarifa
verificados entre o previsto e realizado de cada média de fornecimento). Este valor representará um
exercício, no subseqüente exercício; acréscimo de cerca de 46% ao valor médio
iv. Se o preço pago ao produtor, calculado recebido atualmente pelo setor sucroalcooleiro, da
conforme o item acima, for inferior a 80% da tarifa ordem de R$ 67/MWh. A Tabela 13 apresenta uma
média nacional de fornecimento ao consumidor análise de investimento para geração de 1 MW,
final ou ao valor econômico correspondente à considerando o cenário proposto no PROINFA e as
tecnologia específica de cada fonte, o produtor terá condições técnicas e de financiamento atualmente
direito a um crédito complementar a ser pago disponíveis para o setor sucroalcooleiro. 8
mensalmente com recursos da Conta de
Desenvolvimento Energético – CDE. Os recursos
da CDE serão provenientes dos pagamentos anuais Tabela 13. Análise de investimento para a co-geração de
eletricidade no setor sucroalcooleiro
realizados a título de uso de bem público, das
multas aplicadas pela ANEEL a concessionários, DADOS PARA ANÁLISE
permissionários e autorizados e, a partir do ano de MW disponibilizados 1,00
2003, das quotas anuais pagas por todos os agentes Quantidade de meses 7
que comercializem energia com o consumidor final; disponibilizados/ano
e, Fator de carga 0,90
v. Também deverá ser realizada Chamada
Pública para identificação dos interessados, dando- Horas disponibilizadas no ano
se preferências às unidades que já apresentarem a 5.040
Licença Ambiental de Instalação – LI e, MWh disponibilizados no ano
posteriormente, as que tiverem apenas a Licença 4.536
Prévia Ambiental – LP. Todavia, entre a assinatura Preço de venda do MWh (em R$) 97,60
do contrato e o início de funcionamento das INVESTIMENTO R$
instalações deverá transcorrer um prazo mínimo de Custo MW instalado
24 meses. 1.000.000
INVESTIMENTO TOTAL
7.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE O 1.000.000
PROINFA ASPECTOS PRODUTIVOS
Apesar de representar um considerável Quantidade de tonelada de bagaço 0,250
avanço a inclusão da biomassa em um programa produzida por tonelada de cana
específico, 7 a implementação de apenas 1.100 MW Quantidade de MWh produzida 0,100
está distante do potencial total do setor por tonelada de cana
sucroalcooleiro, isto sem incluir os demais tipos de Quantidade de MWh produzida 0,400
biomassa. Qual seria a parte cabível a fontes por tonelada de bagaço
energéticas como casca de arroz e resíduos de Quantidade de tonelada de bagaço 2,5
madeira? Nos cálculos da União da Agroindústria necessária para geração de 1 MWh
Canavieira de São Paulo (UNICA), o bagaço de CUSTOS DE PRODUÇÃO R$
Custo da tonelada de bagaço 15,00
7
Anteriormente, apenas as unidades produtoras
com base em fonte eólica e pequenas centrais
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hidrelétricas obtiveram programas de incentivo Para simplificação, supô-se a possibilidade de
específicos, Pró-Eólica e PCH-Com, financiamento de 100% do valor total de
respectivamente. financiamento.
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Custo do combustível por MWh 37,50 VPL (vida útil 10 anos) (R$408.831)
Custo de O&M por MWh 5,00 VPL (vida útil 30 anos) (R$195.234)
MWh disponibilizados no ano 4.536 VPL - Operação Indireta com Agente
Custo anual do combustível 170.100 Financeiro
Custo anual de O&M VPL (vida útil 5 anos) (R$663.957)
22.680 VPL (vida útil 10 anos) (R$526.060)
CUSTO TOTAL ANUAL 192.780 VPL (vida útil 30 anos) (R$432.814)
RECEITA TOTAL ANUAL 442.714 TIR (lucro cte., vida útil de 5 anos) -16,86%
LUCRO TOTAL ANUAL 249.934 TIR (lucro cte., vida útil de 10 anos) 1,97%
FLUXO DE CAIXA TIR (lucro cte., vida útil de 30 anos) 10,57%
INVESTIMENTO (R$) L1 até L30
(1.000.000) 249.934
ANÁLISE DO A concretização desse programa, se
INVESTIMENTO ocorrer, deverá representar apenas um esboço para
o delineamento estratégico da atividade de geração
PAY BACK (em anos) 4,00
de energia elétrica pelo setor sucroalcooleiro. Para
Programa Apoio à Co-geração - Encargos a maioria das usinas do setor sucroalcooleiro, o
BNDES - financiamento 100% custo da energia a partir do bagaço gira em torno de
TJLP 10,00% US$ 40 o MWh, muito superior aos US$ 20 para
Spread Básico - BNDES 1,00% MWh gerado, em média, pelas usinas hidrelétricas.
Operação Direta - Spread Risco - 2,50% Desta forma, sem políticas públicas direcionadas, o
BNDES aproveitamento do potencial de geração de
Total - Opção BNDES 13,50% eletricidade pelo setor sucroalcooleiro fica
Operação Indireta - Spread Risco - 6,00% comprometido.
Agente Financeiro No entanto, ainda é premente a
Total - Opção Agente 19,50% necessidade de políticas focadas para o setor
Financeiro sucroalcooleiro. Nos exemplos anteriores um dos
VIABILIDADE ECONÔMICO- pressupostos foi admitir que o custo de
FINANCEIRA DO PROJETO oportunidade do bagaço era de R$ 15,00 por
VPL - Operação Direta com tonelada. Considerando que na safra passada , este
BNDES preço alcançou valores superiores a R$ 30 no
Estado de São Paulo, o PROINFA seria
VPL (vida útil 5 anos) (R$131.545)
comprometido caso fosse considerado R$ 30 a
VPL (vida útil 10 anos) R$329.526 tonelada de bagaço, conforme pode ser observado
VPL (vida útil 30 anos) R$809.901 por meio da Tabela a seguir.
VPL - Operação Indireta com
Agente Financeiro
VPL (vida útil 5 anos) (R$244.247) Tabela 15. Análise de investimento para a co-geração de
eletricidade no setor sucroalcooleiro
VPL (vida útil 10 anos) R$65.881
CUSTOS DE PRODUÇÃO R$
VPL (vida útil 30 anos) R$275.591
Custo da tonelada de bagaço 30,00
TIR (lucro cte., vida útil 5 anos) 7,92%
Custo do combustível por MWh 75,00
TIR (lucro cte., vida útil 10 anos) 21,40%
Custo de O&M por MWh 5,00
TIR (lucro cte., vida útil 30 anos) 24,96%
MWh disponibilizados no ano 4.536
Observe a viabilidade do investimento Custo anual do combustível 340.200
com o preço proposto no PROINFA e compare Custo anual de O&M 22.680
caso o preço de venda do MWh fosse de R$ 67,00, CUSTO TOTAL ANUAL 362.880
mantido constantes todos os demais fatores,
RECEITA TOTAL ANUAL 442.714
conforme mostrado na Tabela 14.
LUCRO TOTAL ANUAL 79.834
L1 Até L30
Tabela 14. Análise de investimento para a co-geração de FLUXO DE CAIXA 79.834
eletricidade no setor sucroalcooleiro
INVESTIMENTO (R$) (1.000.000)
VIABILIDADE ECONÔMICO-
FINANCEIRA DO PROJETO ANÁLISE DO INVESTIMENTO
VPL - Operação Direta com BNDES PAY BACK (em anos) 12,53
VPL (vida útil 5 anos) (R$613.845) Programa Apoio à Co-geração - Encargos
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ordem de 12,7 milhões de toneladas de carbono Desenvolvimento Energético (CDE), dispõe sobre a
nas emissões equivalentes de CO2. 11 universalização do serviço público de energia
De acordo com Coelho (1999), políticas elétrica.
de incentivo para a co-geração na Europa e EUA, [3]BRASIL ENERGIA. Autoprodução. Rio de
têm sido resumidas a uma legislação que prevê: (i) Janeiro, n.253, Dez. 2001.
a compra dos excedentes de eletricidade por [4]CENBIO. Medidas mitigadoras para a
autoprodutores, (ii) a obrigatoriedade de compra redução de emissões de gases de efeito estufa
de energia gerada por fontes renováveis, atingindo na geração termelétrica. Brasília: Aneel, 2001.
uma fração determinada no portfolio de compra [5]COELHO, S.T. Mecanismo para
da distribuidora; (iii) mecanismos fiscais de implementação da co-geração de eletricidade a
compensação que viabilizem um preço de compra partir de biomassa: um modelo para o Estado de
maior para as energias renováveis, taxando as São Paulo. São Paulo, 1999. Tese (Doutorado) –
fontes fósseis em benefício das renováveis (o Programa Interunidades de Pós-Graduação em
inverso ao ocorrido com o Valor Normativo Energia, Universidade de São Paulo.
atualmente). Pode-se considerar, no mínimo mais [6]CORRÊA NETO, V. Análise de viabilidade
dois itens: incentivos fiscais na aquisição de da co-geração de energia elétrica em ciclo
equipamentos que objetivam a eficiência combinado com gaseificação de biomassa de
energética na geração de energia por fontes cana-de-açúcar e gás natural. Rio de Janeiro,
renováveis e linhas de financiamento menos 2001. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-
onerosas. Graduação em Planejamento Energético,
A adoção dessas políticas pode Universidade Federal do Rio de Janeiro.
transparecer puramente a concessão de subsídios. [7]ELETROBRÁS. Plano decenal de expansão
Todavia, fontes de geração como a eólica e a não- 1999-2008. Brasília: Eletrobrás/GCPS.
renovável gás natural têm obtido, na prática, (http://www.eletrobras.gov.br, 15 de Julho de
políticas de incentivo semelhantes às citadas 2001).
acima. Assim, a articulação da sociedade e do [8]ELETROBRÁS. Boletim Semestral SIESE -
setor sucroalcooleiro objetivando a aplicação de 2000. Brasília: Eletrobrás.
medidas semelhantes é plenamente factível, sendo (http://www.eletrobras.gov.br/mercado/siese/defaul
que essas políticas públicas devem compor uma t.asp, 15 de Fevereiro de 2002).
Política Global para a Energia Co-gerada pelo [9]ELETROBRÁS/UFRJ. Séries Semanais. Rio de
Setor Sucroalcooleiro. Mesmo que concretizada Janeiro. (http://www.nuca.ie.ufrj.br, 15 de
a 1a fase do Programa de Incentivo às Fontes Fevereiro de 2002).
Alternativas de Energia Elétrica (PROINFA), [10]FIESP/CIESP. Ampliação da oferta de
ainda restará um considerável potencial de energia através da biomassa. São Paulo:
geração no setor sucroalcooleiro, ratificando a FIESP/CIESP, 2001.
necessidade de programas específicos para essa [11]LEMOS, A.A.S. Energia elétrica no Brasil e a
questão. Nesse intento, espera-se que este trabalho co-geração como fonte energética alternativa.
possa contribuir para a constatação da Ribeirão Preto, 1996. Monografia (Graduação) –
necessidade de políticas públicas e privadas Faculdade de Ciências Econômicas, Instituição
focadas na geração de eletricidade pelo setor Moura Lacerda.
sucroalcooleiro, objetivando a consecução do [12]MACEDO,V. Créditos de carbono:
aproveitamento efetivo do potencial desse setor. ecológicos e economicamente sustentáveis.
(http://www.socioambiental.org/website/noticias/g
REFERÊNCIAS eral/20000901.html, 01 de agosto de 2001).
[1]BANCO NACIONAL DE [13]MME. Balanço Energético Nacional 2000.
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E Brasília: Eletrobrás/MME, 2001.
SOCIAL – BNDES. Programas de (http://www.mme.gov.br, 30 de janeiro de 2002).
financiamento. Rio de Janeiro. [14]SÃO PAULO (Estado). Secretaria do Estado
(http://www.bndes.gov.br, 15 de Outubro de 2001). de Energia. O desenvolvimento e as perspectivas
[2]BRASIL. Projeto-Medida Provisória no 14 de da co-geração no setor sucroalcooleiro do
21 de dezembro de 2001. Dispõe sobre a expansão Estado de São Paulo. São Paulo, 1997.
da oferta de energia elétrica emergencial, [15]SÃO PAULO (Estado). CSPE. Usinas
recomposição tarifária extraordinária, cria o termelétricas de pequeno porte no Estado de
Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de São Paulo. São Paulo: Páginas & Letras, 2001.
Energia Elétrica (PROINFA), a Conta de [16]SOUZA, Z.J.; BURNQUIST, H.L. A
comercialização da energia elétrica co-gerada
11 pelo setor sucroalcooleiro. 1. ed., São Paulo:
Segundo Macedo (2000), em 2000, o preço da
Plêiade, 2000.
tonelada de carbono evitada seria de US$ 5,40,
havendo perspectivas de multiplicação desse valor.
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