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Unidade III

Unidade III
7 CONTROLE TÉRMICO DURANTE O EXERCÍCIO

Agora vamos tratar dos processos relacionados ao controle da temperatura corporal. Anteriormente,
estudamos que essa é uma função desempenhada pelo nosso sistema autônomo, dentre tantas outras
que lhe cabem. Mas aqui compreenderemos as particularidades do controle térmico nas situações
específicas de um exercício.

Embora nosso organismo consiga controlar com bastante eficiência as variações na temperatura
corporal em situações normais, os mecanismos de termorregulação encontram dificuldades em situações
de esforços realizados em condições extremas de calor ou frio.

Desse modo, analisaremos porque isso acontece, quais os riscos para nosso organismo ao não
conseguir controlar as variações na temperatura e o que podemos fazer para evitá‑los.

Primeiramente, precisamos entender como nosso corpo mantém a temperatura dentro dos limites
ideias para seu funcionamento em condições normais.

Observação

Termorregulação é a capacidade de manutenção da temperatura


corporal dentro de certos limites, mesmo quando a temperatura do
ambiente é diferente.

7.1 Mecanismos de regulação da temperatura

Você já sabe que o controle da temperatura corporal é uma função do sistema nervoso autônomo.
Para sermos mais precisos, o hipotálamo é a estrutura neural responsável por essa tarefa. Cabe a ele
manter nossa temperatura interna em torno de 36,1 ºC a 37,8 ºC. Para desempenhar essa função, o
hipotálamo põe em funcionamento mecanismos de perda e de ganho de calor que se contrabalanceiam
a fim de manter as variações de temperatura dentro de limites bem estreitos.

Nosso organismo adquire calor por fontes internas e externas. As externas são a exposição
direta ao sol, a radiação indireta dos raios solares e a temperatura do ambiente. As internas são
o metabolismo celular e a atividade muscular. Dentre as fontes de calor, embora as condições do
ambiente possam afetar nossa temperatura corporal, é o metabolismo celular o principal produtor
de calor em nosso corpo.

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FISIOLOGIA APLICADA À ATIVIDADE MOTORA

Por outro lado, perdemos calor por intermédio de quatro mecanismos: a radiação, a condução, a
convecção e a evaporação. A eficiência desses mecanismos em controlar a elevação da nossa temperatura
corporal difere em repouso e durante o esforço, como veremos mais adiante.

Antes de continuarmos, note que iremos apresentar esses mecanismos separadamente, no entanto,
esteja ciente que eles atuam em conjunto na manutenção da nossa temperatura.

Perda de calor Equilíbrio Ganho de calor

37 38
36
Temperatura

Temperatura
35

39
33 34

40
41
Variação normal
Temperatura (ºC)
Radiação
Condução Calor do ambiente
Convecção (radiação, condução)
Evaporação Produção corporal

Figura 34 – Mecanismos para controle da temperatura corporal

7.1.1 Radiação

É um mecanismo em que a transferência de calor acontece através da emissão de raios infravermelhos.


Essa forma de transferência não exige contato entre os corpos que trocam calor. Um exemplo desse
mecanismo ocorre quando entramos na cozinha e, ao passar perto do fogão, percebemos que o forno
está ligado, sem precisar encostar nele.

Nosso organismo usa esse mecanismo para transferir calor para o ambiente. Para isso, o calor que
é produzido no interior dos tecidos precisa se aproximar da superfície corporal, o que pode acontecer
de duas maneiras: se propagando pelos tecidos adjacentes ou através do sangue. A transferência por
radiação é responsável por cerca de 60% da perda de calor de nosso organismo quando não estamos
nos exercitando.

7.1.2 Condução

Esse mecanismo exige que haja contato entre os corpos para que a transferência de calor aconteça.
Por exemplo, quando encostamos em um objeto quente, o calor dele é transferido para região do corpo
em contato com ele. Essa transferência de calor pode ser muito rápida e de grande magnitude, o que
provocaria uma queimadura na região de contato, se o objeto estiver com uma temperatura muito alta
em relação à do corpo. No entanto, em situações mais comuns, há ocorrência de transferência de calor
por condução sem que isso seja danoso para o organismo. O que pode ser observado quando o corpo
transfere calor para a roupa que vestimos, pois está em contato com nossa pele. Da mesma maneira, o
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calor dos tecidos corporais se propaga entre tecidos adjacentes. Como a temperatura interna é maior
que a temperatura na superfície da pele, a direção da transferência do calor se dá no sentido dos tecidos
mais profundos para os mais superficiais.

7.1.3 Convecção

No mecanismo de convecção a transferência de calor se dá por intermédio do movimento de


um fluido, normalmente água ou ar, de forma que o calor de um corpo/objeto é transferido para as
moléculas de ar ou de água (fluido). A taxa de transferência de calor (o quanto de calor é transferido
num determinado tempo) por esse mecanismo depende da velocidade de movimentação do fluido e da
sua temperatura. Ou seja, quanto mais frio estiver o ar ou a água, e quanto maior sua velocidade quando
passam pelo corpo/objeto, maior será a transferência de calor, ou seja, maior será o resfriamento que o
objeto vai sofrer.

É por esse mecanismo que resfriamos nosso corpo quando tomamos banho ou nadamos. Também é
por intermédio dele que nos resfriamos quando ligamos um ventilador num dia quente de verão.

7.1.4 Evaporação

O mecanismo de evaporação é responsável por cerca de 20% a 25% do calor dissipado pelo nosso
organismo quando estamos em repouso. No entanto, passa a ser a principal maneira pela qual nosso
corpo perde calor durante o exercício, chegando a ser responsável por cerca de 80% do calor produzido
nessa situação.

1 Produção de energia
800

700
2 Produção de calor
600

500 3 Perda total de calor


kcal . hr1

400
4
300 Perda de calor por evaporação

200
5 Perda de calor por convecção e
100 radiação
6 Perda de calor por evaporação
pelos pulmões
0 30 60 90 120 150 180 210 240
Taxa de trabalho do exercício

Figura 35 – Contribuição dos diferentes mecanismos de controle térmico durante o exercício

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Em nosso organismo, a evaporação ocorre em duas situações distintas. A primeira delas, sem que
tenhamos consciência. Esse evento é chamado de perda hídrica insensível, que se dá quando um
líquido corporal entra em contato com o ambiente externo, como nos pulmões, na mucosa (revestimento
da boca) e na pele. A perda hídrica insensível é um mecanismo de perda de calor constante, por isso
quando o corpo precisa aumentar a perda de calor ele não é útil (vide figura anterior, linha 6). Nessa
circunstância, a segunda forma de evaporação é mais eficiente, pois ela ocorre por meio do suor presente
na superfície da pele, que tem suas moléculas de água transferidas para o ar.

É interessante observar que o mecanismo de evaporação se mostra eficiente para controlar a elevação
da temperatura corporal quando somos expostos a exercícios intensos – taxa de trabalho (vide figura
anterior, linha 4).

Também cabe salientar que a taxa de transpiração é igualmente elevada conforme aumenta a
intensidade do esforço. Isso nos sugere que o volume de suor transpirado é muito relevante para o
funcionamento do mecanismo de evaporação. Contudo, é importante destacar que suar não é suficiente
para resfriar o corpo, é necessário que o suor na superfície da pele evapore para que a perda de calor seja
significativa. Ou seja, se nosso organismo aumentar a taxa de transpiração, mas o suor não evaporar, o
corpo não será suficientemente resfriado.

Vamos a um exemplo de quando isso pode acontecer.

Você deve conhecer ou ter visto alguém que se exercita usando um saco plástico sob a camisa
alegando que faz isso com o intuito de “suar para emagrecer”. Caso sim, deve ter reparado que a pessoa
que comete esse “desatino” transpira muito, chegando a ficar encharcada. No final do exercício, ela fica
contente, porque está mais leve do que quando começou. Mas isso é puro engano! Primeiro, porque o
fato dela estar mais leve não quer dizer que tenha emagrecido, mas sim que perdeu muito líquido pela
transpiração! Para piorar o quadro, durante o exercício a temperatura corporal dela se elevou, mas o
organismo não conseguiu baixá‑la, porque o plástico impedia a evaporação do suor. Por essa razão, o
organismo continuava a aumentar a taxa de transpiração, o que explica a pessoa sair encharcada após
essa situação. Ou seja, o que o indivíduo conseguiu – na melhor das hipóteses – foi se desidratar durante
o exercício, isto é, nem emagreceu nem controlou a elevação da temperatura corporal, o que pode ser
muito perigoso para o organismo.

Mais adiante vamos tratar sobre outra situação que pode dificultar o resfriamento do corpo durante
um exercício a partir do mecanismo de evaporação. Antes de prosseguirmos, gostaria de chamar a atenção
para o fato de que estudamos os mecanismos de radiação, condução e convecção como mecanismos
que nosso organismo utiliza para diminuir a temperatura corporal. No entanto, eles também podem ser
responsáveis pelo aumento de calor em nosso corpo. Por exemplo, a exposição direta ou indireta ao sol
eleva nossa temperatura por meio da radiação solar. O uso de um cobertor térmico a eleva devido ao
mecanismo de condução, enquanto um banho quente ou o contato com o ar quente do ambiente num
dia de calor podem contribuir para aumentá‑la pelo mecanismo de convecção.

Se ficou um pouco confuso, poderá ser esclarecedor se pensarmos na radiação, convecção e condução
como mecanismos de transferência de calor. Também é preciso relembrar que o calor é transferido entre
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dois corpos/objetos ou entre um corpo/objeto e o ambiente, no sentido do corpo/objeto que tem maior
quantidade de calor para aquele que tem menor quantidade.

Nesse sentido, se encostamos em alguém, quem irá aquecer quem? Como observado, isso dependerá
de qual organismo (corpo) está mais aquecido. Então, ao se tomar um banho, se a água estiver mais
quente que o corpo, essa ação elevará a temperatura do corpo, que é o que fazemos no frio, por
exemplo. Porém, se desejamos o efeito contrário, tomamos um banho com água em temperatura baixa
e assim resfriamos o corpo em um dia de calor.

Outro detalhe oportuno de se destacar antes de concluirmos esse tópico é que a transferência de
calor entre os corpos é mais eficiente quanto maior for a diferença de temperatura existente entre eles.
Isso afeta de maneira particular a perda de calor por condução e convecção. Dito de maneira mais clara,
quanto mais próximas as temperaturas do nosso corpo e do ambiente, menores serão as perdas de
temperatura por condução e convecção.

Dito isso, já conhecemos um pouco a respeito dos mecanismos usados pelo nosso organismo para
controlar a temperatura corporal, no próximo tópico iremos analisar como eles são ativados.

7.2 Hipotálamo: nosso termostato corporal

O controle da temperatura corporal tem como área central o hipotálamo. Para tornar mais fácil
a compreensão sobre como essa parte do cérebro atua no controle térmico, podemos dizer que ela
funciona de maneira semelhante ao termostato de um aparelho de ar condicionado doméstico, que
ativa o aparelho para produzir calor ou frio, com base na comparação entre a temperatura programada
pelo dono do aparelho e aquela que o aparelho transfere ao ambiente.

No caso do nosso organismo, a temperatura de referência usada pelo hipotálamo gira em torno de
37 ºC (podendo variar, como já dissemos, entre 36 ºC e 37,8 ºC, entre indivíduos). Nosso “termostato
corporal” – o hipotálamo – é muito sensível a alterações na temperatura e é capaz de perceber variações
de apenas 0,01 ºC. Mesmo frente a desvios tão pequenos quanto este em relação à temperatura ideal,
o hipotálamo aciona os mecanismos para produção de calor ou resfriamento do corpo, os quais
acabamos de conhecer na seção anterior. Os ajustes promovidos pelo hipotálamo usam como base as
informações que chegam a ele aferidas por termorreceptores periféricos (instalados na pele, nas vísceras
e na medula espinhal) e centrais (localizados no próprio hipotálamo). Essas informações são enviadas
simultaneamente ao córtex cerebral e ao centro de controle da temperatura no hipotálamo.

Conforme o destino dessa informação, o controle da temperatura será efetuado de diferentes


maneiras. A informação que chega ao córtex nos possibilita ter consciência da diferença entre nossa
temperatura atual e a programada no hipotálamo. É graças a essa comparação que deciframos a
sensação de calor ou de frio. E é com base nessa informação que podemos, de maneira voluntária
e consciente, tomar atitudes para amenizar essas sensações como, por exemplo, colocar uma blusa
e fechar a janela, quando sentimos frio, ou ligar o ventilador e tomar um banho gelado, quando
sentimos calor.

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FISIOLOGIA APLICADA À ATIVIDADE MOTORA

Por outro lado, a informação enviada pelos termorreceptores periféricos e centrais ao hipotálamo
é integrada e utilizada por ele para ativar os mecanismos reflexos que regulam o aquecimento ou o
resfriamento do nosso corpo, concretizando assim o controle involuntário da temperatura.

Esses ajustes na temperatura, efetuados pelo hipotálamo, acontecem pela ação de quatro efetores: as
glândulas sudoríparas, a musculatura lisa que envolve as arteríolas, os músculos esqueléticos e as glândulas
endócrinas. Vamos tratar de cada um desses agentes de maneira separada, mas é importante destacar que
eles atuam de maneira conjunta para produzir aumentos ou diminuições na temperatura corporal.

7.2.1 Glândulas sudoríparas

As glândulas sudoríparas são ativadas pelo hipotálamo quando há a necessidade de resfriar o corpo.
Quanto maior a temperatura corporal, maior a taxa de produção de suor. O calor dos tecidos envolvendo
as glândulas sudoríparas é transferido para o suor que está em seu interior. Quando o suor se movimenta
pelo ducto da glândula sudorípara para atingir a superfície da pele, o calor é transferido por condução.
Em seguida, o suor é evaporado da superfície corporal e o corpo é resfriado.

7.2.2 Musculatura lisa das arteríolas

Quando nossa temperatura corporal se eleva, o hipotálamo promove o relaxamento da musculatura


lisa que envolve as arteríolas que ficam na proximidade da pele. Como consequência, ocorre a
vasodilatação que possibilita maior fluxo de sangue através desses vasos. Como eles estão próximos
à pele, esse fluxo aumentado facilita a transferência do calor do sangue para a superfície da pele. Em
seguida, o calor na pele é dissipado para o ambiente por radiação.

Inversamente, quando nossa temperatura corporal está abaixo do normal, o hipotálamo promove
o aumento do tônus da musculatura lisa das arteríolas, o que induz a vasoconstrição periférica. Esse
efeito reduz o fluxo sanguíneo para a superfície corporal e assim há uma contenção da perda de calor
para o ambiente.

7.2.3 Músculo esquelético

O músculo esquelético é ativado quando precisamos produzir calor. Isso pode ser feito de maneira
voluntária (intencional) ou involuntária (reflexa). Por exemplo, em um dia frio, muitas vezes procuramos
realizar um exercício para elevar a temperatura corporal e aumentar nosso conforto térmico. No entanto,
talvez seja mais comum nos darmos conta dos tremores quando sentimos frio. Eles são ciclos breves
de contrações e relaxamento dos músculos, induzidos pelo hipotálamo com o intuito de produzir calor.

Quando um músculo se contrai, parte da energia liberada na degradação da ATP é utilizada


para satisfazer a exigência do mecanismo da contração muscular, mas outra parte (cerca de 30%)
é dissipada na forma de energia térmica. É esse calor dissipado que eleva nossa temperatura
corporal. Como você se lembra de ter estudado anteriormente, quanto maior a intensidade do
esforço realizado em um exercício, maior a quantidade de energia necessária e, portanto, maior
será a quantidade de ATP degradada para satisfazer essa demanda. Consequentemente, quando
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Unidade III

mais intenso for um exercício, maior será a produção de calor, logo, mais se exigirá dos mecanismos
de controle da temperatura.

A figura seguinte ilustra com exatidão o processo que acabamos de mencionar. Repare que,
independentemente de o exercício ser realizado com os braços ou as pernas, quanto maior o grau de
esforço, maior é a elevação da temperatura interna. Um detalhe implícito nesse gráfico é que se atinge
maiores elevações na temperatura corporal quando o exercício é realizado com as pernas. A razão disso
é que nos membros inferiores se concentra mais massa muscular, então o grau de esforço máximo
produzido por exercícios envolvendo as pernas será superior.

Braços
39.0
Pernas

38.5
Temperatura retal (ºC)

38.0

37.5

37.0

0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 4.0


VO2 (litros/min)

Figura 36 – Efeito da intensidade do esforço e do volume da massa muscular na produção de calor

7.2.4 Glândulas endócrinas

Nosso organismo exige um gasto energético mínimo para manter o funcionamento adequado das
funções orgânicas. Esse gasto é chamado de metabolismo basal.

Nele estão incluídas reações complexas de catabolismo e de anabolismo de proteínas. O catabolismo


produz calor pela quebra das ligações peptídicas entre os aminoácidos e o anabolismo também o
produz pela sua necessidade de produção de ATP para realizar a ligação peptídica. Nosso organismo
não consegue converter toda a energia de uma molécula para outra, de forma que parte da energia
liberada nesses processos é convertida em energia térmica. Ou seja, o metabolismo basal inclui reações
complexas que produzem calor, portanto, quando o metabolismo basal é aumentado, também é elevada
a produção de calor.

A tiroxina (T4), produzida pela glândula tireoide, assim como as catecolaminas (adrenalina e
noradrenalina), produzidas pela glândula suprarrenal, são hormônios que atuam aumentando o
metabolismo celular. No caso da tiroxina, o aumento da atividade das células pode ser de 100%.
As catecolaminas, por sua vez, mimetizam a atividade do sistema nervoso simpático e, desse modo,
podem afetar a taxa metabólica em praticamente todas as células do organismo.

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FISIOLOGIA APLICADA À ATIVIDADE MOTORA

A figura a seguir sintetiza como o hipotálamo integra as informações provenientes dos


termorreceptores espalhados pelo nosso corpo e as utiliza para induzir a produção de calor ou o
resfriamento corporal, respectivamente.
Hipotálamo
Centro
regulador de
temperatura

Córtex
Termorreceptores
Viscerais centrais Percepção
(profundos) térmica

Termorreceptores

Pele Efetores

Efeitos do calor
Vasos - Vasodilatação
Glândulas sudoríparas - Transpiração
Comportamento - Despir-se

Efeitos do frio
Vasos - Vasoconstrição
Músculos - Calafrios
Tireoide - Metabolismo
Adrenais - Metabolismo
Comportamento - Agasalhar-se

Figura 37 – Componentes do sistema de termorregulação

Lembrete

O hipotálamo é a estrutura neural responsável pela homeostase da


temperatura corporal.

8 EXERCÍCIOS SOB ALTAS TEMPERATURAS E DISTÚRBIOS INDUZIDOS PELO CALOR

Enquanto em condições normais de repouso ou de atividade leve, o controle da temperatura corporal


é mantido com bastante eficiência pelo hipotálamo, durante a prática de exercício há um aumento da
exigência sobre os mecanismos de termorregulação. Essa exigência pode representar um desafio muito
grande se o exercício for realizado em ambiente quente, dado que ao calor metabólico, produzido
pelas contrações musculares e pelo fígado, somam‑se as fontes de calor externo que têm como origem
primária o sol.

A figura a seguir ilustra um exemplo dessa situação. Note que além da produção de calor pelos
músculos, o corpo ainda recebe uma carga extra de calor proveniente da temperatura do ar, da
radiação térmica do solo e da radiação solar direta e indireta (refletida no solo). Obviamente que,

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sob essas condições desfavoráveis de estresse térmico, o desempenho é negativamente afetado,


mesmo em um sujeito bem treinado, visto que ocorre uma sobrecarga dos mecanismos de controle
da temperatura corporal.

Os efeitos negativos no desempenho observados nessas condições podem ser atribuídos ao aumento
do uso do carboidrato como fonte de energia e a consequente instalação precoce de fadiga, bem como
a perda elevada de líquido corporal pela transpiração, o que compromete a contratilidade muscular e
leva à sobrecarga cardiovascular.

Sol Temperatura
central

Radiação
Condução
• Centro para o sangue
• Sangue para a pele
Radiação
Convecção Movimento do ar
Evaporação (ondas de convecção)
Temperatura ∆T
Convecção
Transpiração ∆Pv
do ar Umidade relativa do ar
Temperatura
cultânea

Radiação

Solo

Figura 38 – Cargas de calor durante exercício em ambiente quente

8.1 Riscos à saúde durante exercício realizado no calor

O calor ambiental produz uma diminuição do gradiente térmico entre o ambiente e a superfície do
corpo, bem como entre este e os tecidos corporais mais profundos. Dessa forma, há uma diminuição na
eficiência da perda de calor pelos mecanismos de condução, convecção e radiação, e a transferência de
calor pela evaporação, que já é o mecanismo mais importante durante o exercício e passa a ser ainda
mais exigido.

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600
1 Produção de energia
500
Perda de calor por evaporação
400 3
2 Produção de calor
300
kcal . hr1

200

100

0
Perda de calor por convecção e
radiação
-100 4
0 5 10 15 20 25 30 35 40
Temperatura ambiente ºC

Figura 39 – Efeito da temperatura ambiente na eficiência dos mecanismos de controle térmico

Quando o exercício é realizado em temperaturas superiores a 30 ºC, a radiação, a convecção e a


condução deixam de ser mecanismos de perda de calor e passam a adicionar calor ao organismo, além
daquele produzido pelo exercício. Obviamente, exercitar‑se em ambientes ainda mais quentes será
mais crítico. No entanto, isso não quer dizer que apenas a temperatura do ambiente seja um fator
complicador do controle térmico. Por exemplo, se nos exercitamos em um dia cuja temperatura é
de 24 ºC, mas sem vento, o estresse térmico produzido é maior do que se praticamos na mesma
temperatura, mas com brisa.

O que pode ser bastante preocupante é a combinação de condições ambientais e a prática de


exercícios num ambiente quente com umidade do ar elevada. Nessas condições, a temperatura corporal
se eleva em decorrência do exercício e da temperatura ambiente. Porém, o mecanismo de evaporação não
funciona adequadamente, porque o suor não evapora, já que o ar é muito úmido. Nessa circunstância,
o organismo apresenta uma elevada taxa de sudorese, mas o resfriamento corporal não acontece. Se o
exercício for prolongado, essa situação pode colocar em risco não apenas o desempenho do atleta, mas
também sua saúde e até sua vida!

Saiba mais

Para mais informações sobre saúde e desempenho durante a prática de


exercícios, leia:

PLOWMAN, S. A.; SMITH, D. L. Fisiologia do exercício para saúde, aptidão


e desempenho. Traduzido por Giuseppe Taranto. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2009.

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Unidade III

8.2 Distúrbios relacionados ao calor

A prática de exercício em um ambiente quente pode afetar o desempenho como acabamos de


observar. No entanto, esse é um dos menores problemas que a prática de exercícios nessa condição pode
causar. Dependendo da interação entre exercício, temperatura ambiente, umidade e velocidade do ar e
quantidade de radiação térmica, o indivíduo pode se colocar em uma situação de risco.

A exposição ao ambiente quente combinada com a incapacidade de dissipar o calor metabólico


produzido pelo exercício pode levar a três distúrbios relacionados ao calor: cãibras; exaustão; e intermação.

8.2.1 Cãibras

As cãibras induzidas pelo calor são os distúrbios menos graves entre os três. Elas acometem os
músculos mais solicitados durante o exercício. Sua causa exata ainda não é totalmente conhecida, mas
está provavelmente relacionada com as elevadas perdas de minerais e com a desidratação, as quais
acompanham a alta taxa de transpiração observada no exercício realizado no ambiente quente e úmido.

8.2.2 Exaustão

A exaustão pelo calor acomete em maior medida as pessoas mal condicionadas e que não estão bem
adaptadas às condições de temperatura e clima.

A exaustão induzida pelo calor é tipicamente acompanhada por sintomas como a fadiga intensa,
dificuldade respiratória, tontura, vômitos, desmaios, pele fria e úmida, ou quente e seca, hipotensão, pulso
rápido e fraco. Ela é provocada pela incapacidade do sistema cardiovascular de suprir adequadamente
as necessidades do organismo. Durante o exercício no calor, os músculos e a pele “competem” por uma
parte do volume sanguíneo total. A exaustão pelo calor ocorre quando essas demandas simultâneas
não são satisfeitas. Ela tem como causa a diminuição do volume sanguíneo que, por sua vez, decorre da
perda excessiva de líquidos e de minerais pelo suor.

Na exaustão induzida pelo calor os mecanismos de controle térmico estão funcionando, mas eles
não conseguem dissipar o calor suficientemente rápido, pois não há um volume sanguíneo considerável
que permita sua distribuição adequada para a pele.

É comum que pessoas que desmaiam pelo estresse em virtude do calor apresentem sinais de exaustão,
no entanto apresentam temperatura interna inferior a 39 ºC. O tratamento dessas vítimas envolve
colocá‑las num ambiente mais frio, com os pés elevados para facilitar o retorno venoso. Caso a
pessoa esteja acordada e consciente, deve‑se oferecê‑la água com sal, enquanto se providencia
encaminhamento médico.

A pessoa na condição de exaustão induzida pelo calor que não é socorrida pode ter sua condição
agravada, evoluindo a uma intermação.

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FISIOLOGIA APLICADA À ATIVIDADE MOTORA

8.2.3 Intermação

A intermação é o mais grave dos distúrbios induzidos pelo calor, podendo chegar a ser fatal. Portanto,
ao sinal de evolução para essa condição, é fundamental que se procure cuidado médico imediatamente.

Os sinais observados numa pessoa em intermação são os seguintes:

• aumento da temperatura corporal interna acima de 40 ºC;

• interrupção da transpiração;

• pele quente e seca;

• pulso e respiração acelerados;

• pressão arterial elevada;

• vômitos;

• diarreia;

• confusão mental;

• convulsão;

• inconsciência; e

• coma.

Se a intermação não for tratada rapidamente, a pessoa pode entrar em coma e vir a morrer em pouco
tempo. Diante dos sinais de intermação, deve‑se providenciar socorro médico imediato. No entanto, é
fundamental não deixar a pessoa desacompanhada!

Deve‑se priorizar o socorro à pessoa, tomando medidas para baixar o mais rápido possível sua temperatura.
Para isso, pode‑se submetê‑la a um banho bem frio ou até imergi‑la numa banheira com gelo. Se isso não for
possível, será útil envolvê‑la num lençol úmido e apontar um ventilador na direção dela.

A intermação pode acontecer mesmo que o exercício não seja realizado num ambiente de condições
extremas. Por exemplo, elevações da temperatura interna (retal) acima de 40,5 ºC já foram observadas
em maratonistas que competiam em ambiente de 21,1 ºCe umidade relativa de 30% (baixa).

Da mesma forma, em eventos esportivos mais curtos, de apenas 15 minutos, como uma corrida
de 5 km, já foram registrados casos de elevação da temperatura corporal acima de 41 ºC. O risco de
desenvolver a intermação é elevado quando o indivíduo se exercita num ambiente quente e úmido
por tempo prolongado, como é possível observar na figura seguinte. Esse risco aumentado está
relacionado com a incapacidade de o organismo resfriar o corpo através da evaporação do suor, já
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Unidade III

que no ambiente úmido o suor não evapora. Adicionalmente, no ambiente quente a carga de calor
sobre o corpo se intensifica.

Observação

Febre, insolação e intermação são eventos em que a temperatura


corporal é elevada acima dos níveis normais. Muitos dos sintomas desses
eventos são semelhantes, contudo suas causas são distintas.
15
Taxa de sudorese (ml . min-1)

10

Ambiente quente/úmido
Ambiente frio
39
Temperatura central (ºC)

38

37

15 30 45
Repouso
Tempo de exercício (min)

Figura 40 – Efeito da temperatura ambiente e da umidade do ar na taxa de transpiração


e na temperatura corporal durante o exercício prolongado

8.3 Prevenção dos distúrbios térmicos

A ocorrência dos distúrbios relacionados ao calor pode ser evitada com medidas muito simples como
o cuidado com a hidratação, a escolha de vestimenta adequada e a aclimatação.

8.3.1 Hidratação

A preocupação com a hidratação é uma das medidas que podemos tomar para atenuar os riscos
dos males produzidos pelo calor, a qual é bastante eficiente. No entanto, não basta que ofereçamos
água para o indivíduo apenas quando ele reclamar de sede ou quando sentir vontade. Primeiro, porque
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FISIOLOGIA APLICADA À ATIVIDADE MOTORA

quando sentimos sede podemos já estar desidratados e, segundo, porque quando se deixa por conta do
indivíduo o cuidado com a hidratação, há uma tendência que este ingira menos água do que quando
lhe é oferecido.

As estratégias de hidratação não devem se restringir à ingestão de água durante a prática do exercício
ou competição, mas devem começar antes, permanecer ao longo e após a prática.

Dessa forma, a atenção com a hidratação e com a alimentação balanceada deve ser iniciada já nas
24 horas precedentes à prova ou ao treino. Duas horas antes do exercício, o sujeito deve consumir cerca
de 500 ml de água.

O consumo de líquido durante a prova também deve ser programado. É importante que a
ingestão não seja em grande volume para evitar o desconforto gástrico. É mais adequado que a
cada 15 a 20 minutos sejam consumidos em torno de 100 a 200 ml de água, com concentração de
carboidratos de, no máximo, 6%. Preferivelmente, o líquido dever ser oferecido em temperatura
em torno de 15 ºC, para acelerar sua absorção.

Ao término da prova ou treino, aconselha‑se realizar a reposição hídrica. Para isso, é apropriado o
consumo de água em quantidade equivalente a 1,5 vezes o peso corporal perdido durante o exercício,
em dose fracionada. De preferência, a solução consumida deverá ter uma composição de sódio de
aproximadamente 0,5 a 0,7 g/L.

8.3.2 Vestimenta

Em um primeiro momento, a escolha de vestimenta adequada talvez pareça – entre as três


estratégias – a de menor importância à prevenção dos distúrbios de calor causados pelo
exercício. Isso porque o mercado de materiais esportivos evoluiu muito nas últimas décadas
e atualmente oferece muitas opções de roupas apropriadas para a prática de esportes em
diferentes condições climáticas.

Para nos exercitarmos em ambientes quentes, devemos usar roupas leves, que cubram pequenas
extensões da nossa superfície corporal e que ao mesmo tempo não impeçam a dissipação do calor,
facilitando a evaporação do suor.

Apesar de isso ser amplamente conhecido nos dias atuais, mesmo por indivíduos leigos, ainda
acontece de algumas vezes nos depararmos com algum desavisado que continua acreditando que suar
é importante para emagrecer, e para isso se exercitam de agasalho mesmo em um dia quente de verão.

Se você está entre as pessoas que pensam assim, ou se tem algum amigo que faz isso, explique a
ele que isso não funciona para esses propósitos. Na verdade, isso pode atrapalhar seu emagrecimento,
porque se uma pessoa se desidrata, o tempo e a intensidade que ela conseguirá manter ao longo do
exercício serão menores, o que diminuirá o gasto energético e comprometerá seu emagrecimento.
Se isso não for suficiente para convencer o praticante, explique sobre os distúrbios que esse costume
pode causar ao organismo e o risco a que ele está se expondo.
107
Unidade III

8.3.3 Aclimatação

A aclimatação é uma estratégia relativamente simples, que pode ser muito útil para prevenir ou
atenuar os distúrbios induzidos pelo calor.

O termo aclimatação se refere a uma série de ajustes fisiológicos que acontecem para que organismo
suporte melhor determinadas condições de temperatura e clima.

Esses ajustes envolvem modificações na secreção de hormônios ligados ao controle do


metabolismo, aumento no volume sanguíneo e na eficiência dos mecanismos de controle da
temperatura. Tais alterações podem acontecer num prazo aproximado de dez dias, bastando
para isso que o sujeito seja exposto às condições de temperatura e clima progressivamente
mais estressantes.

Um modo de promover a aclimatação ao calor é programando os treinos para horários mais quentes
ao longo do dia. Inicialmente, esses treinos não precisam ser prolongados, já que os ajustes fisiológicos
favoráveis à aclimatação começam a ser manifestados com exposições breves de apenas 10 a 15
minutos diários. Também deve‑se tomar cuidado para que essa exposição, a um ambiente termicamente
mais estressante, seja feita de forma gradativa. Por exemplo, se o sujeito costuma treinar em horários
cuja temperatura é mais amena, como pela manhã, progressivamente deve‑se programar a prática
de exercícios mais tarde, em horários próximos ao meio‑dia. Se habitualmente o atleta treina no final
da tarde, deve‑se seguir o procedimento contrário, realizando as sessões mais cedo, aproximando‑as
gradativamente a horários antes das 12 horas.

Os efeitos benéficos da aclimatação são principalmente evidenciados numa menor sobrecarga


cardiovascular e tem maior impacto no desempenho quanto mais prolongado for o esforço. Note na
figura seguinte que indivíduos aclimatados sofrem menor elevação da temperatura corporal para
a mesma intensidade relativa de esforço e que isso implica em menor sobrecarga cardiovascular.
Portanto, indivíduos aclimatados têm menor risco de desenvolver os males induzidos pelo calor,
bem como melhor desempenho que praticantes igualmente treinados, porém não aclimatados.

Lembrete

A prática de exercícios físicos em ambiente quente e úmido representa


um grande desafio para os mecanismos de controle térmico do organismo.

108
FISIOLOGIA APLICADA À ATIVIDADE MOTORA

Não aclimatado
Aclimatado ao calor

40 180

170

Frequência cardiaca (bpm)


Temperatura retal (ºC)

39 160

150

38 140

130

37 120

0 110
30 60 90 0 30 60 90
Tempo de exercício (min) Tempo de exercício (min)

Figura 41 – Efeito da aclimatação na elevação da temperatura corporal e na sobrecarga cardiovascular

Saiba mais

A exposição crônica ao frio também pode causar aclimatação em curto


prazo. Leia mais sobre isso em:

PITHON‑CURI, T. C. Fisiologia do exercício. Rio de Janeiro: Guanabara


Koogan, 2013, p. 214.

Resumo

O controle da nossa temperatura corporal é uma atribuição do sistema


nervoso autônomo. O hipotálamo é uma espécie de termostato em nosso
organismo, que tem como função manter nossa temperatura interna em
torno de 36,1 ºC a 37,8 ºC.

Esse controle é feito pelo hipotálamo através de um balanço entre


mecanismos de ganho e de perda de calor.

Nosso corpo adquire calor por meio do metabolismo celular e da


exposição direta e indireta ao sol. Por outro lado, para perdermos calor,
usamos quatro mecanismos: radiação, condução, convecção e evaporação.
Em repouso, o principal mecanismo de perda de calor é a radiação; em
exercício, a evaporação.

109
Unidade III

A quantidade de calor que perdemos numa determinada unidade


de tempo depende do gradiente térmico, que é a diferença entre nossa
temperatura e o ambiente. Quanto maior essa diferença, maior a taxa de
transferência de calor corporal para o meio externo.

No mecanismo de radiação a perda de calor se dá pela emissão de


raios infravermelhos. Na condução, a mesma transferência depende
do contato entre os corpos. Na convecção, o calor é transferido pelo
contato com o ar ou com a água. Por fim, na evaporação, esse processo
se dá pela evaporação do suor.

Quando nossa temperatura abaixa além dos limites ideais, o


hipotálamo promove o ganho de calor por meio de tremores involuntários,
aumentando o metabolismo celular através dos hormônios tiroxina
e das catecolaminas, e a diminuição da perda de calor através da
vasoconstrição periférica. Por outro lado, quando a temperatura se eleva
acima do ideal, o hipotálamo promove a perda de calor aumentando a
sudorese e produzindo vasodilatação periférica.

Todo controle realizado pelo hipotálamo depende do constante fluxo


de informação enviada a ele pelos termorreceptores instalados na pele,
na medula espinhal e no próprio hipotálamo. Essa informação é integrada
para que sejam colocados em funcionamento mecanismos de ganho ou de
perda de calor.

O exercício físico é uma importante fonte de calor, já que a necessidade


de aumento na produção de energia metabólica é acompanhada da
elevação da energia térmica. Quanto maior a quantidade de energia
exigida numa atividade, maior a quantidade de energia térmica produzida.
Assim, quanto mais intenso o exercício, mais difícil é a manutenção da
temperatura corporal.

Uma vez que o mecanismo de evaporação é responsável por cerca de


80% da perda de calor durante o exercício, conforme nos exercitamos em
intensidades progressivamente maiores, maior é a taxa de transpiração.
O resfriamento efetivo do corpo, no entanto, acontece apenas quando o
suor é evaporado. Assim, se algo atrapalhar essa dinâmica, o sujeito terá
uma dificuldade muito grande em resfriar seu corpo.

A prática de exercícios em ambiente quente e úmido pode representar


um problema sério para o organismo, já que nessas condições dois
fatores contribuem para uma acentuada elevação da temperatura
corporal. A primeira é o exercício, quanto mais intenso, maior a ganho
de calor. A segunda é o ambiente que, sendo quente, representa uma
110
FISIOLOGIA APLICADA À ATIVIDADE MOTORA

fonte adicional de calor. E por ser úmido, dificulta a evaporação do suor, o


que compromete a perda de calor.

Por essa razão, a prática de exercícios físicos em ambiente com essas


características exige muita atenção, pois pode induzir os chamados
distúrbios induzidos pelo calor, como as câimbras, a exaustão e a intermação.

Esses distúrbios estão associados e têm diferentes níveis de gravidade.


Eles se manifestam sequencialmente. Por isso, para evitarmos a intermação,
que é o mais grave deles, devemos ficar atentos ao surgimento de cãibras
e da exaustão.

A intermação é caracterizada por uma elevação abrupta na temperatura


corporal acima dos 40 ºC, que é acompanhada de uma série de sinais como
interrupção da transpiração, pulso acelerado, vômitos, inconsciência e
coma. Se não tratado rapidamente, esse distúrbio pode levar o indivíduo
a óbito. Diante de um quadro de intermação o ideal é tentar resfriar a pessoa
o mais rápido possível, usando compressas de gelo, banhos gelados etc. Ao
mesmo tempo, é necessário providenciar atendimento médico imediato.

Essa condição pode ser evitada. Para isso é necessário que o sujeito se
hidrate adequadamente antes, durante e depois da prova. Também pode
amenizar a elevação da temperatura corporal, usando roupa adequada
para a prática de exercício. Além disso, o sujeito pode ser aclimatado.

A hidratação antes da atividade deve incluir a ingesta de 500 ml de


líquido duas horas antes da prova/treino. Durante o esforço, o sujeito deve
beber em torno de 100 ml de água a cada 15‑20 minutos. Após o término,
deve beber o volume equivalente a 1,5 vezes o peso corporal perdido
durante a prova. Este ainda deve se exercitar usando roupas leves, que
cubram pequena área corporal, facilitando a evaporação do suor.

Aclimatação é um termo que se refere aos ajustes fisiológicos produzidos


pelo organismo para que haja maior tolerância à exposição ao calor e
eficiência no controle da temperatura corporal.

A aclimatação ao calor acontece muito rapidamente, bastando para isso que


o sujeito se exponha progressivamente às condições climáticas as quais pretende
que o organismo se adeque. Para isso, é necessário que o praticante se exercite
em um ambiente quente no período de aproximadamente dez dias prévios à
competição. Essa exposição deve ser gradativa, para dar tempo de as alterações
fisiológicas acontecerem. Com o tempo, o sujeito sentirá menos desconforto
térmico ao se exercitar em horários mais quentes do dia, amenizando o impacto
sobre seu desempenho e diminuindo os riscos à sua saúde.
111
Unidade III

Exercícios

Questão 1. (PUC–Rio 2008) A água, por ter um alto calor específico, é um elemento importante para
a regulação da temperatura corporal em todos os chamados animais de sangue quente. A quantidade
de água necessária para a manutenção da estabilidade da temperatura corporal varia, basicamente, em
função de dois processos: a sudorese e a produção de urina. Assinale a opção que aponta corretamente
como funciona esse controle:

A) Quando há aumento da temperatura ambiente, o indivíduo produz menor quantidade de suor e


menor quantidade de urina.

B) Quando há aumento da temperatura ambiente, o indivíduo produz maior quantidade de suor e


maior quantidade de urina.

C) Quando há diminuição da temperatura ambiente, o indivíduo produz menor quantidade de suor


e maior quantidade de urina.

D) Quando há diminuição da temperatura ambiente, o indivíduo produz maior quantidade de suor


e menor quantidade de urina.

E) Quando há diminuição da temperatura ambiente, o indivíduo produz maior quantidade de suor e


maior quantidade de urina.

Resposta correta: alternativa C.

Análise das alternativas

A) Alternativa incorreta.

Justificativa: quando há aumento da temperatura ambiente o indivíduo irá produzir maior quantidade
de suor, para equilibrar sua temperatura corporal (no sentido de resfriar o corpo) e, com isso irá produzir
menor quantidade de urina.

B) Alternativa incorreta.

Justificativa: irá produzir maior quantidade de suor e menor quantidade de urina.

C) Alternativa correta.

Justificativa: com a queda da temperatura ambiente, o corpo precisará se aquecer, suando menos e
aumentando a quantidade de urina.

112
FISIOLOGIA APLICADA À ATIVIDADE MOTORA

D) Alternativa incorreta.

Justificativa: quando há diminuição da temperatura ambiente, o indivíduo produz menor quantidade


de suor e maior quantidade de urina.

E) Alternativa incorreta.

Justificativa: quando há diminuição da temperatura ambiente, o indivíduo produz menor quantidade


de suor e maior quantidade de urina.

Questão 2. (Enem 2009) Para que todos os órgãos do corpo humano funcionem em boas condições,
é necessário que a temperatura do corpo fique sempre entre 36 ºC e 37 ºC. Para manter‑se dentro
dessa faixa, em dias de muito calor ou durante intensos exercícios físicos, uma série de mecanismos
fisiológicos é acionada.

Pode‑se citar como o principal responsável pela manutenção da temperatura corporal humana
o sistema:

A) Digestório, pois produz enzimas que atuam na quebra de alimentos calóricos.

B) Imunológico, pois suas células agem no sangue, diminuindo a condução do calor.

C) Nervoso, pois promove a sudorese, que permite perda de calor por meio da evaporação da água.

D) Reprodutor, pois secreta hormônios que alteram a temperatura, principalmente durante a menopausa.

E) Endócrino, pois fabrica anticorpos que, por sua vez, atuam na variação do diâmetro dos
vasos periféricos.

Resolução desta questão na plataforma.

113
FIGURAS E ILUSTRAÇÕES

Figura 8

KANDEL, E. R.; SCHWARTZ, J. H.; JESSEL, T. M. Fundamentos da neurociência e do comportamento. Rio


de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000, p. 9.

Figura 10

KANDEL, E. R.; SCHWARTZ, J. H.; JESSEL, T. M. Fundamentos da neurociência e do comportamento. Rio


de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000, p. 67.

Figura 11

CURI, R.; ARAÚJO FILHO, J. P. Fisiologia básica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011, p. 172.

Figura 12

WILMORE, J. H.; COSTILL, D. L. Fisiologia do esporte e do exercício. 2. ed. São Paulo: Manole, 2001, p. 65.

Figura 13

WILMORE, J. H.; COSTILL, D. L. Fisiologia do esporte e do exercício. 2. ed. São Paulo: Manole, 2001, p. 64.

Figura 14

KANDEL, E. R.; SCHWARTZ, J. H.; JESSEL, T. M. Fundamentos da neurociência e do comportamento. Rio


de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000, p. 23.

Figura 15

CURI, R.; ARAÚJO FILHO, J. P. de. Fisiologia básica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.

Figura 17

Grupo UNIP‑Objetivo.

Figura 22

KANDEL, E. R.; SCHWARTZ, J. H.; JESSEL, T. M. Fundamentos da neurociência e do comportamento. Rio


de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000, p. 26.

114
Figura 24

Grupo UNIP‑Objetivo.

Figura 25

WILMORE, J. H.; COSTILL, D. L. Fisiologia do esporte e do exercício. 2. ed. São Paulo: Manole, 2001, p. 60.

Figura 26

KANDEL, E. R.; SCHWARTZ, J. H.; JESSEL, T. M. Fundamentos da neurociência e do comportamento. Rio


de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000, p. 183.

Figura 27

KANDEL, E. R.; SCHWARTZ, J. H.; JESSEL, T. M. Fundamentos da neurociência e do comportamento. Rio


de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000, p. 162.

Figura 28

PLOWMAN, S. A.; SMITH, D. L. Fisiologia do exercício para saúde, aptidão e desempenho. Traduzido por
Giuseppe Taranto. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009, p. 538.

Figura 29

KANDEL, E. R.; SCHWARTZ, J. H.; JESSEL, T. M. Fundamentos da neurociência e do comportamento. Rio


de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000, p. 408.

Figura 30

Grupo UNIP‑Objetivo.

Figura 31

Grupo UNIP‑Objetivo.

Figura 32

KANDEL, E. R.; SCHWARTZ, J. H.; JESSEL, T. M. Fundamentos da neurociência e do comportamento. Rio


de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000, p. 418.

Figura 33

LINHARES, S.; GEWANDSZNAJDER, F. Biologia hoje. São Paulo: Ática, 2003. v. 1. Adaptado.
115
Figura 34

PITHON‑CURI, T. C. Fisiologia do exercício. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013, p. 250.

Figura 35

POWERS, S. K.; HOWLEY, E. T. Fisiologia do exercício: teoria e aplicação ao condicionamento e ao


desempenho. 8.ed. São Paulo: Manole, 2014, p. 269.

Figura 36

POWERS, S. K.; HOWLEY, E. T. Fisiologia do exercício: teoria e aplicação ao condicionamento e ao


desempenho. 8.ed. São Paulo: Manole, 2014, p. 268.

Figura 37

PITHON‑CURI, T. C. Fisiologia do exercício. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013, p. 253.

Figura 38

PITHON‑CURI, T. C. Fisiologia do exercício. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013, p. 250.

Figura 39

POWERS, S. K.; HOWLEY, E. T. Fisiologia do exercício: teoria e aplicação ao condicionamento e ao


desempenho. 8.ed. São Paulo: Manole, 2014, p. 269.

Figura 40

POWERS, S. K.; HOWLEY, E. T. Fisiologia do exercício: teoria e aplicação ao condicionamento e ao


desempenho. 6.ed. São Paulo: Manole, 2009, p. 267.

Figura 41

WILMORE, J. H.; COSTILL, D. L. Fisiologia do esporte e do exercício. 2. ed. São Paulo: Manole, 2001, p. 330.

REFERÊNCIAS

Textuais

CURI, R.; ARAÚJO FILHO, J. P. Fisiologia básica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.

FOSS, M. L.; KETEYIAN, S. J. Bases fisiológicas do exercício e do esporte. 6. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2000.
116
JUZWIAK, C. R.; PASCHOAL, V. C. P.; LOPEZ, F. A. Nutrição e atividade física. Jornal de Pediatria, v.
76, supl. 3, 2000. Disponível em: <http://www.medicina.ufba.br/educacao_medica/graduacao/dep_
pediatria/disc_pediatria/disc_prev_social/roteiros/adolescencia/nutri%C3%A7%C3%A3o.pdf>. Acesso
em: 12 jun. 2017.

KANDEL, E. R.; SCHWARTZ, J. H.; JESSEL, T. M. Fundamentos da neurociência e do comportamento. Rio


de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.

MARANGON, A. F. C; WELKER, A. F. Otimizando a perda de gordura corporal durante os exercícios.


Universitas Ciências da Saúde, Brasília, v. 1, n. 2, p. 363‑376, 2008. Disponível em: <https://www.
publicacoesacademicas.uniceub.br/cienciasaude/article/viewFile/518/339>. Acesso em: 12 jun. 2017.

PITHON‑CURI, T. C. Fisiologia do exercício. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013.

PLOWMAN, S. A.; SMITH, D. L. Fisiologia do exercício para saúde, aptidão e desempenho. Traduzido por
Giuseppe Taranto. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009.

POWERS, S. K.; HOWLEY, E. T. Fisiologia do exercício: teoria e aplicação ao condicionamento e ao


desempenho. 6.ed. São Paulo: Manole, 2009.

___. Fisiologia do exercício: teoria e aplicação ao condicionamento e ao desempenho. 8. ed. São Paulo:
Manole, 2014.

WILMORE, J. H.; COSTILL, D. L. Fisiologia do esporte e do exercício. 2. ed. São Paulo: Manole, 2001.

Exercícios

Unidade I – Questão 1: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA (UEL) 2003. Processo Seletivo


Vestibular 2003. Prova de Biologia e Física. Questão 17. Disponível em: <http://www.cops.uel.br/
vestibular/2003/provas/uelbfil.pdf>. Acesso em: 29 maio 2017.

Unidade I – Questão 2: FACULDADE DE TECNOLOGIA (FATEC). Processo Seletivo Vestibular 1º


semestre/2007. Questão 40. Disponível em: <http://www.vestibularfatec.com.br/download/prova_
ant/27.pdf>. Acesso em: 29 maio 2017.

Unidade II – Questão 1: INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO


TEIXEIRA (INEP). Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE) 2010: Educação Física.
Questão 16. Disponível em: <http://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/provas/2010/
educacao_fisica_2010.pdf>. Acesso em: 5 jun. 2017.

Unidade II – Questão 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA (UFU). Vestibular 2006: 1ª


fase – tipo 2. Questão 2. Disponível em: <https://nacionalonline.nacionalnet.com.br/servicos/
coberturas/?cod_system=1&cod_funcao=1&param1=843>. Acesso em: 5 jun. 2017.

117
Unidade III – Questão 1: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA – RIO DE JANEIRO (PUC–RIO). Vestibular
2008: Biologia. Questão 1. Disponível em: <http://www.puc‑rio.br/vestibular/repositorio/provas/2008/
download/provas/VEST2008PUCRio_GRUPO2_28102007.pdf>. Acesso em: 5 jun. 2017.

Unidade III – Questão 2: INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO


TEIXEIRA (INEP). Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) 2008: 1º dia. Questão 11. Disponível em:
<http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/downloads/2009/dia1_caderno1.pdf>. Acesso
em: 5 jun. 2017.

118
119
120
Informações:
www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000

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