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“Guardai-vos dos falsos profetas, que vêm a vós em vestes de ovelhas, mas
por dentro são lobos ferozes. Pelos seus frutos os conhecereis” (Mt 7, 15-16).
Introdução
O Apóstolo atesta que há dois elementos contraditórios nas seguintes pala-
vras: “O espírito — diz ele — deseja 3 contra a carne e a carne contra o espí-
rito” (Gl 5, 7). E, contudo, pode haver pecado tanto a partir de um quanto de
outro: por vezes pela fraqueza da carne e por vezes pela ignorância do espíri-
to. Daí dizer o Apóstolo aos Coríntios (II Cor 7, 1): “Purifiquemo-nos de toda
mancha da carne e do espírito”. Da mesma forma, o pecado da carne provém
da fraqueza da carne, conforme diz Mateus (26, 41): “O espírito está certa-
mente pronto, mas a carne está fraca”. Assim, o pecado do espírito provém
da ignorância do espírito, ou seja, quando o espírito é enganado. E, portan-
to, neste domingo estejamos munidos contra ambos os pecados. Estejamos
munidos contra o pecado da fraqueza da carne, conforme o que diz o Após-
tolo na Epístola (Rm 8, 12): “Somos devedores à carne, não para vivermos
segundo a carne”. Contra o pecado de enganação do espírito estejamos muni-
dos pelo Evangelho que diz: “Guardai-vos dos falsos profetas” (Mt 7, 15), etc.
Roguemos ao Salvador que quis estejamos atentos contra ambos os peca-
dos. Que Ele me conceda algo para dizer que seja destinado ao seu louvor, etc.
Sermão
4) Cf. S. Th., II-II, q. 173, a. 2, co.; In Epist. I ad Cor., 14, 1; In Epist. ad Hebr., 1, 1.
5) Cf. De ver., q. 12, a. 7, co.; a. 10, ad 14; S. Th., II-II, q. 173, a. 2, co.; In Epist. I ad Cor., 14, 1.
6) Cf. De ver., q. 12, a. 3, co.; a. 10, arg. 14; In Epist. ad Hebr., 1, 1
7) Cf. S. Th., II-II, q. 171, a. 1, co.
8) Cf. S. Th., II-II, q. 171, a. 1, co.
seu: “Envia-o a mim para que saiba que há um profeta em Israel” (IV [II] Rs,
5, 8).
13, 21) se diz que certos ladrões, terrificados, atiraram certo corpo, morto por
eles, na tumba de Eliseu e ele tornou a viver. E da mesma forma diziam os
judeus quando Cristo fazia os milagres, como narra o Evangelho: “Um gran-
de profeta surgiu entre nós” (Lc 7, 16).
Por esta razão se diz: “Guardai-vos”, etc. Mas em que acepção de profeta
se toma aqui? Crisóstomo 12 diz que os profetas se referem aqui não aos que
profetizam sobre Cristo, mas àqueles que interpretam a profecia sobre Cris-
to, porque ninguém pode interpretar os significados proféticos a não ser pelo
Espírito Santo.
12) Pseudo-Crisóstomo. Opus imperf. in Matth., 19 (PG 56, 738). Cf. etiam: Cat. in Matth., 7, 15.
Os que afirmam que o bem é mal e que o mal é bem são falsos profetas
(cf. Is 5, 20). Diz Jeremias: “Viam falsas afirmações e desprezos” (Lm 2, 14).
Aquilo que é afirmado é elevado e o que é desprezado é condenado. Portanto,
quando as coisas que devem ser elevadas são rebaixadas e as que devem ser
rebaixadas são elevadas, vês então que há falsas afirmações.
Fica claro pela doutrina do Senhor o que deve ser elevado e o que deve
ser rebaixado. O comportamento secular e a vida mundana devem ser rebai-
xados. Quem disser que é melhor jejuar sem voto do que com voto, e impe-
de outros de entrar na vida religiosa onde se jejua com voto, e os persuade de
jejuar no século sem voto, tem uma falsa doutrina. Diz o profeta: “Fazei votos
e cumpri-os” (Sl 75, 12). 13 Ele diz a razão pela qual é melhor jejuar com voto
do que sem voto; caso contrário teria apenas dito: “Fazei”.
Anselmo propõe um exemplo no livro De similitudinibus dizendo que
quem dá uma árvore com frutos dá mais do que aquele que dá somente o fru-
to. 14 Assim quem faz um voto e o cumpre vale mais do que aquele que, sem
voto, faz o bem. Contudo, “mais vale não fazer votos, do que prometê-los e
não cumpri-los” (Ecl 5, 4). 15
13) Cf. S. Th., II-II, q. 88, a. 2, arg. 1; a. 4, s.c.; a. 6, s.c.; q. 189, a. 2, s.c.; a. 3, s.c.; De perfectionis spiri-
tualis vitae, c. 13; Contra retrahentes, c. 12.
14) Cf. Liber Anselmi de similitudinibus, c. 84. Cf. etiam: S. Th., II-II, q. 88, a. 6, co.
15) Cf. SCG, III, c. 138; S. Th., II-II, q. 88, a. 3, s.c.; a. 6, co.; De perfectionis spiritualis vitae, c. 13; Con-
tra retrahentes, c. 11-13.
16) Cf. S. Th., II-II, q. 172, a. 1, s.c.
a) A inspiração do diabo
Digo em primeiro lugar que alguém pode ser falsamente inspirado pelo
diabo, conforme Jeremias (cf. Jr 2, 8): “Os seus profetas profetizavam em
Baal”. “Em Baal”, ou seja, profetizar no diabo, ao dizer coisas ocultas. Os
necromantes que procuram a verdade sobre um furto 17 pela inspiração do
diabo profetizam em Baal. 18 Este é o mais grave de todos os pecados, além
de ser uma espécie de idolatria. 19 Disso não devem ter escusas quando dizem
que as realizam [necromancias] para trazer o bem, 20 conforme diz o Apósto-
lo: “Não haveríamos nós de fazer o mal para que venha o bem? Desses tais a
condenação é justa” (Rm 3, 8).
cisterna, toca a quem abriu a cisterna restituir àquele. Quem provoca a dúvi-
da abre uma cisterna nas coisas relativas à fé; não cobre a cisterna quem não
resolve a dúvida, mesmo que este tenha o intelecto sano e límpido e não este-
ja enganado. Por outro lado, outra pessoa que não tem o intelecto tão límpido
pode bem se enganar. Então quem provocou a dúvida tem obrigação de resti-
tuição, pois por causa deste aquele caiu na fossa. 25
Vede caríssimos: houve muitos filósofos que também falaram sobre muitas
coisas atinentes à fé, mas mal conseguis encontrar dois que concordem numa
mesma opinião. Além disso, quando um deles diz algo de verdade, não a diz
sem mistura de falsidade. 26 Uma velhinha de hoje sabe mais sobre as coisas
que dizem respeito à fé do que todos os filósofos de outrora. Lê-se que Pitá-
goras fora antes pugilista. Ele ouviu um mestre disputando acerca da imorta-
lidade da alma e defendendo que a alma fosse imortal. Ora, ele ficou tão atra-
ído por isso que abandonou tudo para se dedicar ao estudo da filosofia. Hoje,
no entanto, qual é a velhinha que não saiba que a alma é imortal? 27 A fé pode
muito mais do que a filosofia e, portanto, se a filosofia é contrária à fé, não
deve ser aceita, conforme diz o Apóstolo aos Colossenses (2, 8): “Tomai cui-
dado para que ninguém vos engane pela falsa filosofia ou pela vanglória que
deseja vos seduzir, que anda pelas coisas que não vê, é em vão que se enche
do espírito de sua carne, sem estar ligado à cabeça”, isto é, a Cristo.
25) Cf. Glosa in Exod. 21, 33 ex Gregório Magno. Moralia in Iob, XVII, c. 26, n. 38 (CCL 143A, 872:
55-68; PL 76, 28BC). Cf. etiam: Bernardo de Claraval. Epist. 331 ad episcopum Praenestinum (ed.
Cist., t. VIII, p. 269:12-13; PL 182, 536D); Tomás de Aquino. Super Boetium De Trinitate, q. 2, a. 4,
resp.
26) Cf. SCG, I, c. 4; S. Th., I, q. 1, a. 1, co.
27) Cf. Coll. in Credo, I; Sermo Beatus vir, v. 129-131. Cf. etiam: Agostinho. Epist. 137 ad Volusianum,
III, 12 (CSEL 44, 113:11-114:3; PL 33, 521); De civ. Dei, X, 11 (CCL 47, 284:35-285:38; CSEL 40/1,
465:12-15; PL 41, 289); Boaventura. Coll. in Hexaëmeron, XVIII, 26.
28) Cf. In Epist. I ad Cor., 14, 3
pela sua doutrina, busca outra coisa que o benefício do povo, este é um fal-
so profeta.
Quem é bispo recebeu o ofício de governo e de pregação, e deve buscar o
benefício do povo. Se, porém, busca outra coisa, como a vantagem tempo-
ral ou a vanglória, é um falso profeta, porque não serve por reta intenção. Daí
que o Crisóstomo diz que muitos sacerdotes não se preocupam como o povo
vive, mas sim como eles fazem as oferendas. 29 Donde o Senhor se lamentar
em Ezequiel (13, 19): “Eles me profanam perante o meu povo por um punhado
[de cevada], por alguns pedaços de pão”. Contra estes fala o Apóstolo: “Não
somos como aqueles muitos que adulteram a palavra de Deus” (II Cor 2, 17).
E diz Gregório que “é réu de um pensamento adúltero quem busca agradar os
olhos da esposa, pelos quais o marido transmite dons à esposa”. 30 O adúltero
não busca na mulher o gerar a prole, mas busca apenas o prazer temporal. De
modo semelhante, adultera a palavra de Deus aquele que não busca gerar pro-
le espiritual, mas somente busca vantagem temporal ou a vanglória.
Collatio
Guardai-vos dos falsos profetas, etc.
Foi falado hoje sobre os inimigos do povo cristão, ou seja, acerca dos falsos
profetas. Cumpre ver agora como eles nos preparam insídias.
29) Cf. Pseudo-Crisóstomo. Opus imperf. in Matth., 40 (PG 56, 855). Cf. etiam: Cat. in Matth., 21, 38.
30) Cf. Gregório Magno. Regula pastoralis, II, 8 (SC 381, 232:10-12; PL 77, 42C). Cf. etiam: Contra
impugnantes, c. 17, § 1, 4; In Ioh., 3, 29.
Ademais, vale notar que há quatro elementos nas vestes das ovelhas de
Cristo, a saber: [2.2.1.] a adoração, [2.2.2.] a justiça, [2.2.3.] a penitência e
[2.2.4.] a inocência.
33) Cf. Pseudo-Crisóstomo. Opus imperf. in Matth., 13 (PG 56, 709). Cf. etiam: Cat. in Matth., 6, 5.
34) Cf. ibid. Cf. etiam: S. Th., II-II, q. 187, a. 6, ad 3.
me aos outros e não deve buscar maneiras singulares como os hipócritas que
rezam em público por vanglória. 35
38) Agostinho. De sermone Domini in monte, II, 12, 41 (CCL 35, 131:896-899; PL 34, 1287). Cf. etiam:
Cat. in Matth., 6, 16; S. Th., II-II, q. 169, a. 1, co.; q. 187, a. 6, arg. 3; III, q. 41, a. 4, ad 2.
39) Cf. Aristóteles. Eth. Nic., IV, 1127b27-28. Cf. etiam: Tomás de Aquino. Sent. Eth., IV, c. 15; S. Th.,
II-II, q. 113, a. 2, ad 2.
40) Cf. Possídio. Vita S. Augustini, c. 22 (PL 32, 51).
41) Pseudo-Crisóstomo. Opus imperf. in Matth., 45 (PG 56, 885). Cf. etiam: Cat. in Matth., 23, 28.
42) Agostinho. Sermo CXXXVII, 5 (PL 38, 756-757). Cf. etiam: idem. In Ioh., tract. 45-46 (CCL 36, 388-
403; PL 35, 1719-1732).
43) Agostinho. Sermo CXXXVII, 5 (PL 38, 757). Cf. etiam: Cat. in Ioh., 10, 13; In Matth., 7, 15; In Epist.
II ad Cor., 4, 2.
ovelhas e as dispersa”. Diz o Senhor: “Quem não está comigo, está contra
mim”; portanto, “e quem não ajunta comigo, dispersa” (Mt 12, 30). Mas o que
significa “dispersar”? Nesse sentido, certamente é disperso quem é desviado
daquilo que a Igreja ensina.
44) Agostinho. De sermone Domini in monte, II, 24, 80 (CCL 35, 179:1843-1846; 180:1859-1862; PL
34, 1306). Cf. etiam: Cat. in Matth., 7, 15.
45) Gregório Magno. Moralia in Iob, X, c. 21, n. 39 (CCL 143, 565:27-28; PL 75, 943A).
46) Agostinho. De sermone Domini in monte, II, 12, 41 (CCL 35, 132:903-907; PL 34, 1287). Cf. etiam:
Cat. in Matth., 6, 16; S. Th., II-II, q. 187, a. 6, ad 3.
47) Cf. João Crisóstomo. Hom. in Matth., 23 [24] (PG 57, 316). Cf. etiam: Cat. in Matth., 7, 16.
48) Gregório Magno. Moralia in Iob, XXXI, c. 14, n. 26 (CCL 143B, 1569:11-14; PL 76, 587D-588A).
Cf. etiam: Cat. in Matth., 7, 16
49) Agostinho. De sermone Domini in monte, II, 12, 41 (CCL 35, 132:909-913; PL 34, 1287). Cf. etiam:
Cat. in Matth., 7, 16.