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Dezembro 2016
AGRADECIMENTOS Agradeço em especial à Sama-
ra, à Isabella, à Silvia e à Rejane.
Agradeço esse trabalho a toda
a minha família e em especial aos Por fim, agradeço a todos os
meus pais, que sempre depositaram professores que passaram pela minha
sua confiança em mim. vida acadêmica e que depositaram em
mim um pouco de seus ideais.
Agradeço a todos os meus
amigos da FAU, que sempre estiveram Agradeço em especial à ori-
presentes ao meu lado e que con- entadora desse meu Trabalho Final
tribuíram imensamente para que eu de Graduação, a professora Maria de
me motivasse quando necessário e Lourdes Zuquim, que me guiou com
me alegrasse nos demais momentos grande sabedoria e com a paciência
do percurso desse TFG. daquele que é mestre e que ensina a
seu aprendiz.
Um especial agradecimento
vai à Tiê, à Liene e à Danielle.
ÍNDICE
INTRODUÇÃO AO TFG..................................................................................................................................1
A FAVELA TAL COMO A VEMOS...................................................................................................................5
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................................................145
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................................................................155
INTRODUÇÃO
AO TFG
2
O tema “favela”, se é indiferen- Assim, este Trabalho Final de
te ou distante para alguns, para outros Graduação é uma tentativa de se esta-
é importante e instiga à vontade de se belecer um olhar e um entendimento
debruçar sobre ele e de se entendê-lo. sobre a favela, aqui entendida como
Embora nunca tenha sido algo que me uma forma de habitação e de cida-
causava indiferença, a favela era para de. Seguindo essa premissa, esse TFG
mim algo distante e cuja realidade eu conduz um estudo sobre a Favela do
em grande medida não conhecia e Sapé, cujo pano de fundo é a Cidade
não compreendia. de São Paulo. Tal estudo termina com
uma proposta de desenho para uma
Mas, após ingressar no curso gleba desse assentamento.
de Arquitetura e Urbanismo da FAU-
-USP e iniciar meu período de estágio O olhar estabelecido ao lon-
na Secretaria Municipal de Habitação go dos cinco capítulos desse tra-
de São Paulo, passei a me aproximar balho não tem como objetivo ali-
muito mais da favela. De tema distante mentar um estigma ou estereótipo
e majoritariamente desconhecido, ela negativo sobre as favelas brasilei-
passou a ser uma realidade de traba- ras. Tampouco pretende criar uma
lho e de estudo e, acima disso, passou imagem fictícia e maravilhosa so-
a ser para mim uma demonstração da bre esse modo de habitar a cidade.
realidade da vida de muita gente.
Por mais que seja irreal afir-
A vontade de estudar o te- mar que esse TFG vá imprimir uma
ma-favela, ou melhor, a realidade-fa- visão totalmente neutra sobre esse
vela, veio justamente da constatação tema, é importante explicitar que o
de que a favela está presente na vida objetivo desse trabalho é fazer uma
de muitos paulistanos e de brasileiros análise crítica sobre várias ques-
em geral. Além disso, dada sua gran- tões. Desse modo, serão apontados
de presença e complexidade, não se avanços e problemas relacionados
pode deixá-la de lado quando surgem às favelas. Haverá momentos em
oportunidades de se entendê-la me- que se confrontarão visões distin-
lhor. tas; em outros, dados serão analisa-
dos e um olhar próprio será definido.
3
Os dados e as informações O Capítulo 2 descreve a fave-
aqui utilizados são primários – mate- la brasileira sob três perspectivas: a
rial produzido a partir de conversas populacional – com base em dados
informais com moradores do Sapé e do IBGE e de outras pesquisas –, a
profissionais envolvidos na sua urba- urbanística – com dados coletados a
nização – e secundários – relatórios e partir de minhas observações e cons-
fotos cedidos pela Secretaria Munici- tatações e também dos trabalhos de
pal de Habitação de São Paulo e pelo estudiosos desse campo – e social –
Escritório de Arquitetura e Urbanis- em que se pretende descrever as di-
mo Base Urbana, dentre a principal bi- nâmicas culturais e sociais nas favelas
bliografia da área de estudo. De posse paulistanas a partir da abordagem et-
desses dados, foi possível realizar uma nográfica.
pesquisa de cunho histórico, bem
como análises etnográficas e projetu- O terceiro capítulo afunila o
ais. escopo desse TFG, uma vez que in-
troduz o estudo de caso abordado:
A pesquisa histórica se inicia a Favela do Sapé. Dados físicos e so-
no primeiro capítulo, no qual é feito ciais sobre o pré-urbanização – dados
um estudo sobre o surgimento e a esses essencialmente baseados em
consolidação das favelas no Brasil, em informações coletadas pela SEHAB –
especial na capital paulista. O texto se são apresentados a fim de se esboçar
inicia relatando o surgimento daquela um panorama desse assentamento.
que se acredita ser a primeira favela Também se apresenta nesse capítulo
do Brasil – estabelecida no Morro da o projeto de urbanização do Sapé. Por
Providência, no Rio de Janeiro. Em se- fim, é descrito o processo de execu-
guida, o foco se volta para São Paulo, ção das obras referentes a esse pro-
que vive um contexto próprio de pe- cesso. Tanto na descrição do projeto
riferização, rodoviarismo e autocons- quanto no relato de sua execução fí-
trução. Por fim, o capítulo se encerra sica são utilizadas informações oriun-
com um apanhado do processo histó- das das conversas com profissionais
rico de urbanização de favelas na ci- envolvidos na urbanização do Sapé
dade. e com moradores do assentamento.
Problemas são levantados e questões
4
são postas. jetual deste Trabalho Final de Gradua-
ção complementam-se e são meios de
No Capítulo 4, faz-se um apa- se chegar a um entendimento satisfa-
nhado de tudo o que se observou ao tório da questão das favelas tanto
longo do TFG a fim de se estabelece-
rem diretrizes para uma proposta de Assim, esse TFG delineia-se
desenho urbano e arquitetônico para como um olhar crítico para a questão
o Sapé. Nesse capítulo, aborda-se a da favela, assim como se transforma
questão da precariedade nas favelas, em uma proposta de desenho urbano
trata-se do papel do arquiteto e urba- e arquitetônico com a crítica adquiri-
nista no enfrentamento dessa preca- da ao longo do trabalho.
riedade e fala-se do conselho gestor
enquanto instrumento de participa-
ção popular.
Por fim, no Capítulo 5, apre-
senta-se o desenho de provisão habi-
tacional, de lazer e de equipamentos
para uma gleba do Sapé. Vale dizer
que esse desenho não é uma nova
proposta de urbanização para a fa-
vela; é, na realidade, uma leitura para
uma as áreas remanescentes da favela
urbanizada.
público no que se refere à questão ha- guaré. Essa sub-bacia, para fins de in-
bitacional. Seja porque há nelas corti- tervenção, foi subdividida em cinco
ços – típicos de regiões mais centrais Perímetros de Ação Inte-grada (PAI):
– ou porque nelas existem favelas. Ribeirão Jaguaré 1, Ribeirão Jaguaré
2, Ribeirão Jaguaré 3, Ribeirão Jagua-
A título de exemplificação, a ré 4 e Ribeirão Jaguaré 5. Cada PAI
Favela do Sapé – que será fruto de tem uma prioridade de intervenção.
uma abordagem mais profunda a par- O Sapé está no PAI Ribeirão Jaguaré 3
tir do Capítulo 3 – está ao longo do (ver Figura 6).
Córrego do Sapé, que, por sua vez,
pertence à sub-bacia do Ribeirão Ja- Vale dizer que em 2016, a ges-
26
tão Fernando Haddad (2013-2017) ela-
borou um texto de discussão para um
novo Plano Municipal de Habitação
(2016-2032). Neste novo plano, que
ainda está em discussão e, portanto,
ainda não foi aprovado, a divisão das
áreas de intervenção em Perímetros
de Ação Integrada pode ser revista.
No entanto, a Secretaria Municipal de
Habitação (SEHAB) ainda adota os pe-
rímetros presentes no PMH antigo e
assim será pelo menos até a aprovação
do novo PMH. O projeto e as obras de
urbanização da Favela do Sapé foram
conduzidos de acordo com as dire-
trizes desse plano e, por conta disso,
esse Trabalho Final de Graduação con-
sidera importante explicar a metodo-
logia antiga.
portante comércio de bairro. Um dos Demográfico do IBGE de 2000 (in: PASTERNAK TASCHNER,
principais equipamentos públicos nas 2006, p. 192), 20,52% da população do Rio Pequeno habitava
cercanias é o CEU Butantã. domicílios em favelas, inclusive a do Sapé.
53
Figura 9. Localização da Subprefeitura Butantã e do Distrito Rio Pequeno no Município de São Paulo.. Elaboração: o autor.
Figura 11. Figura 12. Divisão do Sapé em Sapé 1, 2, 3 e 4. Fonte: SÃO PAULO, 2011.
Figura 12. Localização da Favela do Sapé no Distrito Rio Pequeno. Elaboração: o autor.
56
3.2 DIAGNÓSTICO FÍSICO morei 26 anos. Eu levei enchente, eu levei en-
chente que o meu fogão, a água passava em
cima do meu fogão. Eu cheguei a levar en-
chente que eu perdia tudo, tudo, tudo, tudo,
“
Quando eu cheguei aqui, não tinha
barraco na frente do rio. Tinha barraco, mas
era pouco. Aí, foi passando os anos e foi cres-
tudo, tudo....água subia, destruía tudo, acaba-
va com tudo. E barraco também.... Na época
que eu vim morar aqui, não tinha os barracos
cendo, crescendo, crescendo. A beira do rio em cima do rio. Era só.... A favela era só do
”
foi aumentando. A beira do rio foi aumentan- rio pra lá.
do e chegou um ponto em que não tinha mais
aonde construir mais nada.
” Falas de moradores da Favela do Sapé em conversas infor-
mais com o autor.
“
Do ponto de vista de quando eu vim
morar aqui, era tudo mal-acabado, era esgoto
a céu aberto.... Esse rio.... Não tinha rio, era
totalmente assoreado. Qualquer chuvinha, a “
A questão do esgotamento ali, de ter
tirado, de ter limpado o córrego, canalizado....
Eu acho que dá uma melhora na condição de
água subia, destruía tudo, acabava com tudo.
E barraco também.... Na época que eu vim saúde das famílias de no mínimo uns 70%. Era
morar aqui, não tinha os barracos em cima do
rio. Era só.... A favela era só do rio pra lá. Do
lado de cá, na rua própria, na Waldemar [Ro-
muito ruim.
”
Fala de uma assistente social envolvida na urbanização da
berto], não tinha barraco ainda. Na época em Favela do Sapé em conversa informal com o autor.
que eu vim morar aqui. Depois, é que foi se
construindo. Acho que, pelo déficit habitacio-
nal. Aí, o pessoal foi fazendo os barracos do Uma das grandes questões da
lado de cá. Aí, depois, se proliferou e fechou Favela do Sapé era a construção das
casas em área muito próxima ao Cór-
”
até a via.
rego do Sapé ou mesmo acima dele,
de modo que o risco de enchente em
“
áreas residenciais era iminente. De-
A minha casa era na beira do rio. Eu
vido a esse risco, a Subprefeitura do
57
Butantã realizou 3 grandes remoções
nos anos de 2008, 2009 e 2010 nas
áreas mais vulneráveis sob esse ponto
de vista.
Gráfico 1. Materiais constituintes dos domicílios da Favela do Sapé em 2011. Fonte: SÃO PAULO, 2011.
Gráfico 2. Tipos de ligação de energia elétrica nos domicílios da Favela do Sapé em 2011. Fonte: SÃO PAULO, 2011.
Gráfico 3. Tipos de ligação de água nas casas da Favela do Sapé em 2011. Fonte: SÃO PAULO, 2011.
Gráfico 4. Tipos de drenagem sanitária na Favela do Sapé em 2011. Fonte: SÃO PAULO, 2011.
Gráfico 5. Destinação do lixo na Favela do Sapé em 2011. Fonte: SÃO PAULO, 2011.
“
Figura 13. Sapé antes das obras
A gente fez lá o levantamento da pes-
de urbanização. Fonte: SÃO
PAULO, 2011.. quisa e, com os dados da pesquisa cadastral –
que foi censitária e entrevistou todo mundo
–, a gente levantou que era uma área extre-
mamente vulnerável. Pela condição de renda,
de trabalho, de escolaridade, pelo número de
crianças.... Era uma população extremamente
vulnerável.
”
“
No Sapé, (...) a maioria das famílias
não estava inserida em programas, que tinha
64
muita dificuldade, muita criança fora de cre- Mínima e 0,3% receberam o Bolsa Fa-
che, muita criança com problema de escola, mília em conjunto com o Renda Cida-
muito jovem adolescente ocioso....
” dã (ver gráfico 6).
conjunto ao Bolsa Família e ao Renda mentos percebidos por todos os membros da família.
65
Gráfico 6. Famílias conforme tipo de programa governamental na Favela do Sapé em 2011. Fonte: SÃO PAULO, 2011.
22,1% das famílias ganham entre 2 e 3 níveis mais altos, pertencem 8,9% das
salários-mínimos e 12% recebem de 3 famílias, sendo que 4,9% delas ga-
a 4 salários-mínimos, o que configura nham entre 4 e 5 salários-mínimos e
os estratos médios de renda. Aos dois 4% recebem mais de 5 salários-míni-
66
Gráfico 7. Distribuição das familias segundo classes de renda familiar em salários-mínimos na Favela do Sapé em 2011. Fonte: SÃO
PAULO, 2011.
famílias no Sapé equiparam-se aos de 126 famílias declararem não ter renda
outras favelas da cidade de São Paulo. alguma.
Em geral, uma expressiva das famílias
moradoras de favelas paulistanas re- Quando se consideram os ní-
cebe no máximo até 3 salários míni- veis de instrução dos chefes de família
mos segundo o relatório, que ressalta da Favela do Sapé, constata-se que a
também o fato de aproximadamente maioria deles possui baixos níveis de
68
instrução. 54,3% deles contam com população da favela que estava em
até o Ensino Fundamental Incompleto, situação de risco (deslizamento ou
18,6% cursaram o Fundamental Com- enchente) e que foi removida para
pleto ou até Ensino Médio Incomple- o início das obras de urbanização. A
to, 14,9% completaram o Nível Médio segunda coluna se refere aos demais
e apenas 1,7% chegaram ao Ensino Su- moradores do Sapé, que permanece-
perior Completo e Incompleto. 10,5% ram em suas casas enquanto as obras
do total nunca estudaram (ver gráfico se iniciavam.
8).
Segundo o relatório, quando
Nota-se que em todos os ní- da pesquisa, o Sapé possuía 7.598 re-
veis de rendimento os graus de ins- sidentes, o que “resulta uma média
trução são em geral baixos. Dos que de 3,3 pessoas por domicílio, índice
ganhavam até 0,5 salário mínimo, 57% inferior ao identificado na pesquisa
possuíam grau fundamental incom- realizada pela Fundação Seade para
pleto. Olhando-se um nível maior de a Secretaria Municipal de Habitação
instrução, nota-se que a remuneração (2008) numa amostra de favelas, nú-
continua baixa. Segundo dados do re- cleos urbanizados e loteamentos irre-
latório de SEHAB, dentre os que ga- gulares, que registrou uma média de
nhavam mais de 3 salários mínimos, 3,8 pessoas por família”. (SÃO PAULO,
72,7% não terminaram o ensino fun- 2011).
damental.
Ainda segundo informações
Outro indicador analisado fo- do relatório, no Sapé “os menores de
ram as classes de idade dos morado- 20 anos representam 45% da popula-
res da Favela do Sapé antes do início ção mostrando um perfil mais jovem
das obras de urbanização (ver tabela que o detectado na pesquisa da Seade
1). (2008) em assentamentos precários
(38%)”. (Ibid.) Além disso, “chama
A tabela constante no relató- também a atenção à baixa propor-
rio de SEHAB mostra duas colunas ção de pessoas com 60 anos ou mais,
principais: a de 04/04/2011 e a de 3,6%, enquanto na referida pesquisa é
15/12/2010. A primeira é referente à de 6,8%”.
69
Figura 14. Sapé ao longo do córrego homônimo. Observar as transposições propostas sobre esse córrego (em ama-relo e laranja). Fonte: Base Urbana.
73
curso d’água.
“
A gente foi pensando uma série de
programas associados a moradia que podiam
acontecer nos espaços livres. Então, des-
de programas mais formais e institucionais,
como biblioteca, centro de difusão de com-
74
Figura 16. Perfil de canalização proposto para o Córrego do Sapé. Fonte: Base Urbana.
Figura 17. Perfil transversal da Favela do Sapé considerando-se as remoções de casas lindeiras ao córrego, a canalização do curso d’água,
a implantação de vegetação e da provisão habitacional. Fonte: Base Urbana.
75
putadores e, enfim, telecentros, associação de
bairro, até micro programas, como um pátio
onde as famílias pudessem compartilhar um
varal de roupa ou um espaço como um po-
mar ou uma horta ou um minhocário. Enfim,
a gente foi fazendo várias listas de programas
e de atividades comunitárias que pudessem
ser associadas a moradia. Como uma rotina
de conexão social, que a gente via que ali era
muito problemática.
”
Marina Grinover, em conversa com o autor.
“
Ah, eu acho que tem várias questões
que eu identifico no processo e que deman-
dam modificações. (...) Houveram algumas
hipóteses com relação à propriedade no co-
meço e que depois não se efetivaram. Então,
lotes que eram de domínio público ou priva- Os equipamentos esportivos, como as quadras, foram, no
19
Limitações Financeiras
“
Acho que, talvez a maior de todas,
por falta de uma política pública de habita-
ção estruturada. Que eu acho que até hoje a
gente não tem na cidade. Eu acho que a gente
Além das questões postas aci- tem um Plano de Habitação, que é uma re-
ma, Marina Grinover menciona outro lação entre demanda e oferta. Mais do que
fator que comprometeu enormemen- um desenho, mais do que um projeto de sis-
te a implantação de todos os elemen- temas construtivos, mais do que um projeto
tos do projeto de urbanização do que relacione comunidades com aquele lugar.
Sapé: o financeiro. E eu acho que isso são problemas da gestão
pública fracionada. A cada quatro anos a pró-
“
Depois, tiveram interferências finan- pria gestão muda o encaminhamento e o di-
ceiras. O Sapé contava com uma verba fede- recionamento do secretário. E eu acho que o
ral de um tamanho e depois não contou mais. Sapé sofreu um impacto de tudo isso. Apesar
Depois contou com uma área de provisão, de a gente ter tido como superintendente a
que é uma área fora da favela para abrigar as mesma pessoa, os secretários mudaram e as
famílias e, depois, não contou mais. Então, é demandas e as interferências frente a essas
um projeto que teve muitas diretrizes trans- comunidades foram também se transforman-
formadas.
20
Parágrafo escrito a partir da fala de Marina Grinover em
As diferentes demandas de projeto aula dada na FAU-USP em abril de 2016.
79
do Meio Ambiente (SVMA) pede que Sapé. Isso é um outro raciocínio que eu acho
seja aberta uma área livre ( non aedi- que sempre foi importante para nós. Quer
ficandi ) nas imediações de ambas as dizer, aquilo lá tem que gerar um bem para
margens dos córregos presentes nos a cidade. Independentemente da favela. Por-
assentamentos a serem urbanizados. que, senão, a gente está privatizando o em-
A abertura dessas áreas muitas ve- penho do dinheiro público. Quer dizer, aquilo
zes implica um número de remoções tem que gerar um ganho para quem mora do
maior do que o previsto inicialmente. outro lado da rua, que não é favela. E eu acho
Assim, exigências da SVMA vão de en-
contro às diretrizes da Secretaria Mu-
nicipal de Habitação (SEHAB) e dos
que gerou.
”
Marina Grinover, em conversa com o autor.
moradores desses assentamentos, que
demandam o menor número possí-
vel de remoções. E o projetista – que
também tem suas próprias diretrizes 3.5 A EXECUÇÃO DAS OBRAS
de projeto – figura justamente entre
essas exigências por vezes díspares. A Favela do Sapé está atual-
mente em obras na sua porção a mon-
Ao falar sobre o saldo final que tante do córrego homônimo (Sapé B).
via no Sapé após grande parte das Ainda não há, no entanto, previsão
obras já terem ocorrido, Marina Gri- para a conclusão de todo o projeto,
nover destaca o ganho que o projeto sendo que há necessidade de revisões,
proporcionou não apenas aos mora- adequações e novas licitações para o
dores da Favela do Sapé, mas aos cida- término efetivo das obras. Ao longo
dãos paulistanos como um todo: desse item, serão descritos fatos re-
lativos ao que já foi executado ou ao
que está em execução.
“
Eu acho que, no final das contas, teve
um ganho urbano, teve um ganho para aquele
lugar, para além da favela, que eu acho que é O comprometimento do atendi-
um dever do dinheiro público. Tudo aquilo é mento habitacional
dinheiro público. Então, não é possível tudo
aquilo ser revertido só para quem mora no
“
O Sapé começou de uma forma er-
80
rada. (...) O primeiro erro foi a licitação ter por conta dessa falta de recursos. O
sido feita em cima de um projeto e ter sido condomínio D já foi licitado para me-
executado um outro projeto. Bem ou mal, tade das unidades habitacionais ini-
isso acarretou muitos problemas. Que acar- cialmente previstas. O condomínio H
retaram outros problemas. Então, você tem, não foi nem licitado nem executado,
por exemplo, dois condomínios no Sapé A mas não por questões diretamente re-
que não foram construídos [Condomínios D lacionadas à falta de recursos; ocorre
e E]. Você pode falar: “Mas tudo bem, os ou- que se descobriu que a área em que
tros foram”. Mas, quando você não constrói essa provisão seria implantada estava
dois condomínios, você tem mais demanda em área particular – e não pública,
no [auxílio] aluguel, você tem uma área vazia como se pensava antes – o que impli-
que pode ser reocupada, você tem famílias caria a validade de normas ambientais
que ficam insatisfeitas porque estão há sei lá mais restritivas à construção de edi-
quanto tempo no aluguel.... Então, isso vai ge- ficações – que, por fim, tornaram-se
rando vários problemas.
” inviáveis.
Figura 20. Identificação e contabilização das remoções no Sapé para obras de urbanização. Fonte: Base Urbana.
23
Fonte: <http://infraestruturaurbana.pini.com.br/solucoes-
Os domicílios de madeira -tecnicas/30/artigo294289-4.aspx>. Acesso em: 22/10/16.
Figura 21. Favela do Sapé e localização dos condomínios projetados. Elaboração: o autor.
te – ou, no jargão mais utilizado, vul- em que as casas não estão em condições le-
nerável – do Sapé. gais.... Então, você está fazendo um projeto
de urbanização e você deixa as famílias nessas
condições? A urbanização não centraliza só
“
A questão do projeto em si é exce-
lente. Só que, dentro da área, ainda permane-
cem domicílios de madeira. Uma coisa que a
na unidade.
”
Fala de uma arquiteta envolvida na urbanização da Favela do
gente sabe.... Se a gente está fazendo um pro- Sapé (coletado pelo autor).
jeto de urbanização, a gente teria que, primei-
ramente, remover todos esses domicílios de
madeira. Como é que você vai justificar isso? Antes das remoções com vistas às
Ficaram muitas casas insalubres, tem setores obras de urbanização, 9% das casas
84
Figura 22. Terreno situado à Rua Domenico Martinelli e destinado a parte da provisão externa do Sapé. Fonte: o autor.
“
Aí nasceu uma hipótese no meio do
caminho que era: então, vamos reformar es-
sas casas. Só que, aí, a reforma de um barraco
nheiro para reformar.... Nada disso deu certo.
E, até onde eu sei, até hoje não foi possível
realizar essas reformas. Eles estão assistidos
minha casa, para eu melhorar minha casa? ”
Infelizmente, a gente não tem isso. Não tem
essa parceria para ajudar essas famílias. Por-
não cabia dentro da legislação. O governo não pela equipe de Habi Sul e tal, mas não tem que eles não se sentem pertencentes ao pro-
pode destinar uma verba para uma moradia. dinheiro para reformar. Porque não tem.... Na jeto. Por mais que tenha sido feita a canaliza-
Só pode destinar para um conjunto de mo- lista de itens da Prefeitura não tem o item ção, a questão de água, eles falam: “Olha, vou
radores. Isso tinha um outro impacto, porque “reforma de barraco”. Alguns barracos foram pagar água, vou pagar luz, mas minha casa ain-
o Sapé tem quatro lotes. E no lote maior, que reformados porque tiveram obrigatoriamente da permanece da mesma forma. Diferente das
é o Sapé 1 e que é toda a parte que a gente uma influência da obra. Então, quando você famílias que vão para a unidade, né? ” Ela fala
mais urbanizou, estava formalizado num pro- tem uma influência direta da obra, esse custo assim: “Eu estou indo para um apartamento
cesso de propriedade de fração ideal. Então, é de reforma do barraco aparece. Mas alguns novo, tudo novo”, então ela se sente perten-
assim: levanta a área, levanta quantas famílias barracos não têm influência direta da obra. cente. E quem sofre mais com toda a urbani-
tem. E diz: “Você é dono de um milionésimo E, aí, não tinha dinheiro para reformar esses zação é a área remanescente. Porque tem pó,
dessa área”. O poder público não tem um me-
canismo administrativo para destinar verba
de reforma para uma pessoa daquele milioné-
barracos.
” é onde passa a obra, então está sempre ali. As
famílias que estão no aluguel saem da área.
Então elas vão para um lugar onde não tem
Marina Grinover, em conversa com o autor.
simo. Ele só pode fazer destinação de verba pó. Elas estão vendo a obra acontecer e de-
para espaço público. E espaço em que ele vai pois elas voltam para a unidade. E as famílias
conseguir rever o custo. Que é o que ele faz que estão aqui falam: “Ah, mas e com a gente?
com a COHAB. O governo municipal investe
na construção e depois a COHAB entra com
uma parte do dinheiro e depois a COHAB fica
A melhoria das casas remanescen-
tes
Não acontece nada? ”
”
Fala de uma arquiteta envolvida na urbanização da Favela do
proprietária e vende uma parte para os mu- Surge nesse ponto outra ques- Sapé em conversa informal com o autor.
tuários a fundo perdido, por vinte anos, etc., tão que não foi bem resolvida duran-
etc. Então, não existe um mecanismo... Apesar te a urbanização da Favela do Sapé.
de a ideia ser muito boa e eu acho que ela era A melhoria das casas remanescentes Nota-se que a melhoria dos
fundamental, a gente não consegue associar não foi incentivada pelo poder púbico domicílios remanescentes lidaria com
essa ideia a um mecanismo jurídico e admi- e, uma vez a cargo dos próprios mora- um problema que vai além do trata-
nistrativo para destinação de verba. A gente dores, ocorreu em raras vezes. mento estético das fachadas das casas
tentou várias coisas. A gente tentou apoio de ou mesmo além da melhoria das con-
instituições de fora, a gente tentou apoio de
escolas outras, a gente tentou apoio de outras
ONGs, que pudessem fazer um aporte de di-
“
Toda semana, alguns moradores per-
guntam: “Ah, mas não tem como fazer um
convênio com a Prefeitura para eu reformar
dições de conforto e habitabilidade
do interior das residências. Cabe dizer
que tanto o tratamento das fachadas
87
quanto a melhoria do interior das ca- tem-se menos favorecidos ou até
sas por si só já são de extrema impor- mesmo injustiçados. Neles, predo-
tância. No entanto, melhorar as casas mina a impressão de que morar nos
remanescentes é essencial por tam- novos condomínios lhes daria maior
bém implicar uma não distinção entre sensação de pertencimento à cidade
os moradores de um mesmo assenta- e, em última análise, maior status de
mento. cidadão.
Afinal, como explicitado no Este trabalho entende que
depoimento acima, existem dois gru- deveria haver algum tipo de progra-
pos de moradores em uma favela re- ma da Prefeitura ou alguma parceria
cém-urbanizada: aquele que passa a entre o poder público e instituições
morar em uma unidade habitacional como ONGs a fim de promover me-
nova e aquele que continua moran- lhorias físicas nos domicílios remanes-
do na residência antiga, por vezes centes do Sapé e de outras favelas. Tal
precária em ao menos algum aspecto assunto será retomado no Capítulo 4.
construtivo e de habitabilidade. Ini-
cialmente, os dois grupos partem do Os espaços residuais
mesmo patamar: áreas carentes de
melhorias urbanísticas e arquitetôni- Outra grande questão identi-
cas no pré-urbanização. O projeto a ficada durante a execução das obras
as obras acabam por criar essa dife- de urbanização da Favela do Sapé foi
renciação, que muitas vezes faz com o surgimento de espaços residuais nas
que os representantes do grupo que áreas remanescentes.
permanece nas áreas remanescentes
sintam-se numa posição inferior ao Como o tecido das favelas é
outro grupo, mesmo em se conside- bastante irregular, quando se remo-
rando as melhorias urbanísticas e de vem domicílios nesses assentamentos
infraestrutura que são realizadas nas seguindo-se um alinhamento – como
áreas que são mantidas. o de um córrego – o resultado é in-
variavelmente uma sobra de espaços
O que ocorre é que os mora- vazios para dentro da linha de desa-
dores das áreas remanescentes sen- propriações. Muitas casas removidas
88
são cortadas pela metade por essas li- Figura 23. Implantação de uma
nhas; daí vem que sua remoção gera das unidades mistas propostas,
com destaque ao pavimento
espaços ociosos para fora – a serem comercial (térreo). Fonte: Base
neutralizados quando forem poste- Urbana.
riormente absorvidos pela rua que
passará – e para dentro.
“
Se a secretaria e a gerenciadora sa-
írem amanhã, no outro dia o Sapé está todo
invadido. Porque automaticamente as famílias
já vão demarcando o lote e falam assim: “Na
hora em que precisar para a obra, pode ficar
Como a implantação dessas tranquilo, que a gente vai sair e não vai ter
unidades não se concretizou, a ques- problema nenhum. ” Mas eles já vão demar-
tão dos espaços residuais permane- cando lote a lote. Você pode andar todo o
ceu não solucionada. Assim, técnicos Sapé. Você vai ver que já tem uma demarca-
da Secretaria Municipal de Habitação ção. Tipo, que esse aqui já é o meu espaço.
de São Paulo (SEHAB) propuseram (...) Então, é muito importante que o projeto
preencher esses espaços com play- termine não só com a entrega das unidades.
grounds , equipamentos de ginástica Mas, com a questão da infra, com a questão
e casas sobrepostas umas às outras. das casas sobrepostas. De que forma a gen-
Outra saída encontrada pelos técni- te vai resolver essa questão dos lotes vazios.
90
Figura 25. Corte da área lindeira ao Córrego com uma das unidades mistas implantadas. Fonte: Base Urbana.
Então, a gente tem que estar se preocupando ras. Dois contratos. Talvez, se fosse uma cons-
muito com isso. Mas, se a secretaria.... Vai ter trutora só, as coisas tivessem fluído de uma
novas invasões, sim.
” melhor maneira, sabe? Talvez não tivessem
tantos problemas. Mas eu não sei. Isso é uma
hipótese. Eu acho que, talvez, com uma cons-
Fala de uma arquiteta envolvida na urbanização da Favela do trutora fazendo a obra inteira.... Uma constru-
Sapé em conversa informal com o autor.
tora maior ou um consórcio grande.... Talvez
a obra tivesse fluído de uma maneira melhor.
Outras Questões
”
Fala de uma arquiteta envolvida na urbanização da Favela do
“
Uma outra questão, que eu não sei Sapé em conversa informal com o autor.
se é boa ou ruim, é que o Sapé, por ser um
pouco maior, foi licitado em duas construto-
“
Eu acho que os trabalhos precisam
91
ser pensados de forma mais integrada. Por- B – a montante. A primeira área ficou
que a gente cuida da habitação. Então, você a cargo do Consórcio Engelux-Galvão
não pode interferir na questão da saúde da e a segunda área foi de responsabili-
família. Mas isso – a questão da saúde, enfim, dade do Consórcio ETEMP 25 .
a questão socioeconômica e tal – afeta dire-
tamente como ela vai viver num condomínio. Na prática, a atuação de dois
Mas a [Secretaria de] Habitação não conse- consórcios diferentes, sendo cada qual
gue cuidar dessa área. Então você precisa ter em sua área, implicou a existência de
a [Secretaria de] Saúde perto. Você pre-cisa duas obras diferentes. Segundo rela-
ter a [Secretaria de] Educação perto. Você tos de uma arquiteta envolvida com a
precisa ter outras secretarias trabalhando em urbanização do Sapé, cada consórcio
conjunto para que realmente aquele trabalho tocou a obra no seu próprio ritmo –
seja efetivo..
” apesar de ambos terem iniciado seus
trabalhos na mesma data.
”
pública.
“
em aproveitar ao máximo os recursos Como arquiteta, como pessoa que
públicos para um assentamento a fim desenha, eu acho que é um esforço muito
de melhorar não apenas este assenta- grande de simplificar, de conseguir fazer a
mento, mas todo o seu entorno e, por síntese, porque você sofre muito mais cortes
fim, considerar o dinheiro empregado e desestruturas do que aprovações e estrutu-
e o espaço em si como bens de todos. rações. (...) O outro é que eu aprendi a ouvir e,
Essas diretrizes levadas a sério na ur- ao mesmo tempo, me desapegar daquilo que
banização do Sapé confirmam justa-
mente o cumprimento do dever do
arquiteto e urbanista. Um dever que
não é possível ser feito.
”
Marina Grinover, em conversa com o autor
transcende o campo meramente pro-
fissional e se torna também um dever
social.
”
Fala de um morador da Favela do Sapé em conversa com
o autor.
5
PROJETO
PARA O SAPÉ
103
5.1 A ÁREA DA DIVISA gião por onde passa essa linha divisó-
ria, as 3 áreas configuram o que esse
Há, no centro geográfico da Trabalho Final de Graduação conven-
Favela do Sapé, 3 grandes áreas cen- cionou chamar de Área da Divisa.
trais atualmente livres ou com uso
provisório. A Área da Divisa não cofigu-
ra apenas um ponto geográfico im-
Entre essas 3 áreas, passa a li- portante. É também um cruzamento
nha divisória entre o Sapé A e o Sapé de dois grandes fluxos de circulação:
B. O Sapé A abarca a metade da favela norte-sul e leste-oeste.
que fica à jusante do córrego (ou ao
norte do assentamento), enquanto o A Área da Divisa é atualmente
Sapé B compreende a metade que fica subaproveitada em termos de uso ou
a montante do curso d’água (ao sul da possui usos provisórios. Devido ao seu
favela). potencial geográfico e de circulação,
esta área poderia ser melhor desen-
Por estarem justamente na re- volvida, considerando-se inclusive os
ÁREA 1 ÁREA 2
ÁREA 3 ÁREA 4
N
0 25 50 75m
108
veis ao longo das ruas Ger- Área 2: Atualmente sem
trudes Cunha e Waldemar uso e futuro condomínio D;
Roberto;
Área 3: Atualmente sem
eixo leste-oeste (trans- uso e futura área de lazer e
versal): automóveis e pe- institucional (segundo pro-
drestes ao longo das ruas jeto do Escritório Base 3);
Mário Belmonte, Rua Proje-
tada (Rua da Divisa) e Ge-
neral Syzeno Sarmento; Figuras 28 e 29. Área 2, vista da
rua General Syzeno Sarmento
- Há, dentro dessa área, três ou Fonte: Arquivo SEHAB.
áreas menores sem uso ou com uso
provisório:
Removidos: 1.496
Conclusão: Em se conside-
rando que a população do Sapé e do
seu entorno imediato não sofra mais
flutuações, entre o início das obras
em 2011 e a entrega de todas as pro-
visões (interna e externa) atualmente
asseguradas, a população da Favela
do Sapé e do seu entorno perderá
1.595 habitantes.
- 2 CEIs;
- 1 EMEI; 31
O CEU Butantã por si só contém uma outra série de equi-
pamentos. São eles: 1 CEI, 1 EMEI, 1 EMEF, 1 ETEC, 1 POLO
- 1 CEU 31 ; UAB (Universidade Aberta do Brasil), 1 Teatro com 450 lu-
gares, 1 Biblioteca, 1 Telecentro, 3 Piscinas, 1 quadra coberta
- 1 UBS; (ginásio), 4 quadras descobertas, 1 pista de skate, 1 campo de
areia, 1 sala de ginástica, 1 sala de dança, 1 sala multiuso, 1 es-
túdio de música, 1 ateliê de arte, 1 ateliê de costura, 1 sala do
- 1 hospital municipal; clube de xadrez, 1 parque externo, 1 padaria escola. Disponível
em: <http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Main/Noticia/
- 6 quadras poliesportivas e Visualizar/PortalSMESP/CEU-Butanta--Informacoes-Gerais
inúmeras praças; >. Acesso em: 02 nov. 2016.)
113
- 1 centralidade comercial em desenvolvimento potencial
(Avenida Rio Pequeno). mais aprazível e, consequentemente,
atrair mais frequentadores;
Como fruto da diminuição fu-
tura da população do Sapé e de seu - área que, por estar em um
entorno imediato, conclui-se que: fundo do de vale, é amplamente visí-
vel dos arredores mais altos vigi-
- não há necessidade de se im- lância natural da vizinhança;
plantarem novos equipamentos como
UBS, CEI, EMEI, CEU e hospital; - área localizada em uma bai-
xada relativamente aberta ampla
- não há necessidade de novas visão para a Favela do Sapé;
linhas de ônibus.
- centro geográfico do Sapé
área mais ou menos equidistante
5.3 POTENCIALIDADES DA ÁREA das duas pontas da favela e, portanto,
DA DIVISA com igualdacondições acessibilidade;
Residencial 2 1
Residen
cial4
Rua Ge 3
rtrudes C
unha
Rua Ge
rtrudes C
unha
ÁREAS PÚBLICAS E PRIVADAS
escala 1:750
LEGENDA
É importante observar que as cruzamento dos dois maiores fluxos Espaço Privado
áreas públicas estruturam-se ao lon- do Sapé. Não é à toa que nessa área
go de caminhos. Um deles inicia-se na estão os equipamentos e o comércio Espaço Público
Rua Gertrudes Cunha e corta a Área propostos.
1 até cruzar a ciclovia e o córrego. A
transposição sobre o curso d’água se Nas áreas privadas, propõe-se
dá sobre uma uma ponte proposta a implantação de áreas verdes e de
pelo escritório Base Urbana. lazer, tais como playgrounds e locais
com equipamentos de ginástica para
A outra área pública se es- idosos.
trutura exatamente na divisa entre o
Sapé A e o Sapé B. Centro geográfico 5.7 PROPOSTA DE PROVISÃO
da favela, essa área também está no HABITACIONAL
CORTE GERAL AA
escala 1:500
CORTE GERAL BB
escala 1:500
125
Para a provisão habitacional, de duas áreas de ventilação contí-
PERSPECTIVA DO SAPÉ COM DESTAQUE são propostas duas tipologias de apar- guas à fachada dos apartamentos de
AO PROJETO IMPLANTADO NA ÁREA 1 tamentos: 2 e 3 dormitórios. dois dormitórios. Tais áreas também
(À DIREITA) conferem à sala desses apartamentos
Desenho: Autor Houve uma preocupação com maior privacidade.
a necessidade de se harmonizar os
edifícios propostos (de maior gabari- Por fim, cabe observar a exis-
to) com aqueles já construídos. Dessa tência de apenas uma parede hidráu-
forma, desenhou-se uma fachada que lica entre os apartamentos de dois e
buscasse dialogar com as fachadas três dormitórios.
desses edifícios já implantados.
C C
PLANTA PAVIMENTO-TIPO
escala 1:200
D
CORTE CC
escala 1:200
CORTE DD 127
escala 1:200
tros equipamentos do gênero em São
Paulo, tais como o restaurante-esco-
la existente na Câmara Municipal da
cidade. Segue abaixo a descrição do
público-alvo a ser beneficiado no es-
tabelecimento, bem como das ativida-
des que essas pessoas realizam:
PROJEÇÃO SHED
E E
F F
G
CORTE EE
escala 1:100
CORTE FF
escala 1:100
ELEVAÇÃO LATERAL 1
escala 1:100
CORTE GG
escala 1:100
ELEVAÇÃO PRINCIPAL ELEVAÇÃO POSTERIOR
escala 1:100 escala 1:100
ELEVAÇÃO LATERAL 2
escala 1:100
136
vendas de alimentos e outros produ- esses gestores partem de determina-
tos básicos a sedes de serviços como das características que rendem aos
cabeleireiros e manicures. candidatos pontos. A quem obtiver
mais pontos é dada a concessão da
A gestão dos boxes comerciais unidade comercial.
pode seguir padrões como aqueles já
recomendados pela CONAM (Confe- Dentre as características que
deração Nacional das Associações de rendem pontos aos possíveis gesto-
Moradores) e já postos em prática em res, estão o número de dependentes,
conjuntos residenciais como o Con- idosos e deficientes na composição
domínio Coração de Maria, em Salva- familiar, experiência anterior no ramo
dor. a ser operado, o fato de a pessoa ser
mulher chefe de família e de ter parti-
Lá, os recém-inaugurados bo- cipado de associações e de trabalhos
xes comerciais visam à capacitação e à voluntários.
formação de seus gestores, bem como
ao consumo consciente e ao comércio No Sapé, tais critérios pode-
justo na comunidade. riam ser adotados acrescentando-se o
fato de o candidato a gestor ter tido
Isso significa que aqueles que seu comércio removido para as obras
gerirem as unidades comerciais têm de urbanização da favela.
deveres como contatar fornecedores
que pratiquem a chamada economia
solidária, realizar cursos e operar suas
unidades em horários que sirvam aos
moradores do conjunto.
J
J
PLANTA ASSOCIAÇÃO DE
MORADORES E BOXES COMERCIAIS
escala 1:100 N I
H
CORTE II
escala 1:100
ELEVAÇÃO PRINCIPAL
escala 1:100
CORTE HH
escala 1:100
ELEVAÇÃO POSTERIOR
escala 1:100
ELEVAÇÃO LATERAL 1
escala 1:100
ELEVAÇÃO LATERAL 2
escala 1:100
CORTE JJ
escala 1:100
CROQUI DE UM BOX COMERCIAL
TRANSFORMADO EM VENDA
Desenho: Autor
CROQUI DE UM BOX COMERCIAL
TRANSFORMADO EM SALÃO DE CABELEIREIRO
Desenho: Autor
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
146
“
Se eu for olhar pro entorno, no co-
mum, pro morador, melhorou 100%. 100%.
Porque não tem mais aquele lamaçal. Não tem
Para verificar essa afirmação,
voltemo-nos à Favela do Sapé. Seus
moradores em geral já têm acesso a
mais esgotos a céu aberto. E o pessoal pode uma parte importante da infraestru-
até fazer uma reforma na sua casa. Porque, tura e de serviços urbanos, como co-
antes, ninguém podia, né. Não tinha nem es- letas de esgoto e de lixo. Outros servi-
paço de você entrar pra mexer numa parede. ços, antes acessíveis principalmente de
Agora não. É diferente. Luz também. Em ma- modo informal – como fornecimento
téria de luz elétrica, melhorou, porque agora de energia elétrica e abastecimento
tá tudo legalizado. Nós temos um endereço, de água – agora são regularizados.
porque, antes, a gente não tinha. Você pre-
cisava de um comprovante de residência pra A condições de habitabilidade
abrir uma conta num banco, ou num posto de de muitos moradores também melho-
saúde e você não tinha um endereço. Hoje, rou. Muitas famílias hoje estão em no-
você tem. Nisso aí eu não posso.... 100% me- vas unidades habitacionais entregues
lhorou..
”
Fala de um morador da Favela do Sapé em conversa com
na própria área em que moravam.
Agora há mais espaço para os mora-
dores e para a mobília e há também
o autor.
melhores condições de ventilação e
iluminação naturais. Além disso, algo
bastante simbólico ocorreu: muitos
A fala desse morador do Sapé moradores do Sapé ganharam um en-
resume em poucas linhas aquilo que dereço formal.
esse Trabalho Final de Graduação se
esforçou em mostrar. A macro e a microacessibilida-
de do assentamento também melho-
Primeiramente, a urbanização rou: há escadarias em vielas íngremes
de favelas nos moldes daquela que e novas ruas foram abertas.
está sendo realizada no Sapé é um
grande passo para a redução de várias O cumprimento de exigências
precariedades presentes nesse tipo de ambientais também está mais a con-
assentamento, em especial a física. tento. Com a implantação de um cole-
tor-tronco e de suas ligações na favela,
147
bem como com a liberação das várze-
as do Córrego do Sapé para a implan-
tação de um parque linear, a comuni-
dade conseguiu reduzir a poluição das
águas do córrego. Em fases iniciais das
obras de urbanização da favela, a qua-
lidade dessas águas era ruim. Em 2015,
passou a ser regular e, em março de
2016, melhorou ainda mais de forma
que ficou um ponto atrás da marca-
ção considerada boa 32 .
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