Avaliação Diagnóstica do
Conhecimento Lógico
Matemático sob a
Perspectiva
Psicopedagógica
Circulação Interna
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Sumário
Introdução.................................................................................................................... 2
Capítulo 1
Histórico e objetivos da educação matemática............................................................. 3
Capítulo 2
O conhecimento lógico matemático............................................................................. 11
Capítulo 3
O conhecimento lógico matemático e a Psicopedagogia.............................................. 30
Capítulo 4
Dificuldade de aprendizagem da Matemática: Discalculia.......................................... 44
Capítulo 5
Matemática: O Processo Ensino-Aprendizagem.......................................................... 64
Referências................................................................................................................... 83
Atividades Avaliativas.................................................................................................. 86
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Introdução
Caros alunos,
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Capítulo 1
Histórico e objetivos da
educação matemática
Dessa forma, o trabalho na pré-escola era centrado nos aspectos lógicos do número.
Equivocadamente, essa ideia foi baseada na teoria piagetiana, pois não se tratava de uma
transposição didática da psicogenética para as salas de aula. A teoria piagetiana elucidou e
contribuiu para o entendimento de como a criança pensa e aprende.
Nas décadas de 1940 e 1950, a concepção de aprendizagem que permeava o ensino previa
a memorização, os exercícios e a repetição. Os conteúdos eram estruturados linearmente, sendo
compostos de verdades inquestionáveis pelos alunos. O surgimento de uma didática da
Matemática se deu pela aproximação e o desenvolvimento da psicologia cognitiva, que tinha
como grande estudioso o suíço Jean Piaget.
Nas décadas de 1960 e 1970, surgiu a matemática moderna, que tinha como eixo a teoria
dos conjuntos. Entretanto, embora já não se baseasse apenas na repetição e na memorização, essa
concepção de aprendizagem deixou de considerar o processo individual de construção da
inteligência proposto por Piaget.
Na prática escolar, a teoria dos conjuntos era encaminhada por professores sem o
aprofundamento necessário para considerá-la uma teoria abstrata e complexa. Dessa forma, o
ensino da Matemática apresenta, tanto na matemática tradicional como na matemática moderna,
um caráter estruturalista e de linearidade.
Ao longo dos anos de 1970, era prática comum retardar o acesso à escrita na educação
escolar para que a criança antes amadurecesse. Introduzia-se os elementos notacionais de um
modo imposto e artificial. Hoje temos claro aquelas ideias obscurecidas do passado. A escrita
não surge para representar aquilo que a criança não conseguia mais transmitir por meio do
desenho. A criança pode fazer notações e representações. Entretanto, com relação a qualquer
registro gráfico, que é geralmente muito valorizado, é preciso que se verifique a sua real
necessidade e o interesse da criança em fazê-lo.
Com o avanço dos estudos sobre a relação entre professor e aluno e sobre o objeto do
conhecimento, assim como o avanço das teorias histórico-sociais desenvolvidas por Vygotsky e
colaboradores, a educação passou a contar com um novo conceito para explicar a aprendizagem:
a zona de desenvolvimento proximal, “que é a distância entre o nível de desenvolvimento real,
que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de
desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um
adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes”(VYGOTSKY, 1991, p. 94-95).
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Para que tais objetivos se cumpram, o professor pode promover brincadeiras que
envolvam situações matemáticas como, por exemplo, simular compras no mercado, promover
uma feira, organizar um salão de beleza para bonecas, montar um estacionamento e um lava-car
de carrinhos, uma lanchonete, confecção de roupas e diversas outras representações simbólicas
da vida real. Nesse tipo de exploração as crianças aplicam os conhecimentos matemáticos que
vão adquirindo.
A linguagem da matemática
Ensino da Matemática
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mesmo a linguagem não profissional pode admitir termos e registros complexos, dependendo da
competência dos seus usuários. Por vezes, a linguagem matemática já foi comparada ao estudo
de línguas estrangeiras, pois não é uma linguagem praticada nas ruas, mas no meio acadêmico e
escolar. Segundo Eleonora Brum e Adair Nacarato,
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faculdades superiores, assim como de seus valores e de sua ética. Tais temporalidades variam de
acordo com cada povo e cultura. Em um ambiente rural, por exemplo, provavelmente a infância
será mais curta, na medida em que as condições sociais e culturais determinam a duração da
infância. Determinam a duração, as maneiras de viver esses tempos e o imaginário que se tem
sobre eles.
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Desse modo, o conhecimento matemático não pode ser tratado de forma desvinculada da
realidade. Os projetos de trabalho, com áreas do saber integradas, constituem-se em um meio
eficiente para a abordagem do conhecimento matemático com crianças em idade pré-escolar.
Segundo Jodete Bayer Gomes Fullgraf (2006, p. 27), o conceito de currículo não
corresponde a uma condição universal, natural, como algo sempre igual, homogêneo e de
significado óbvio: ele é social e historicamente construído, tendo sido crivado por diferentes
concepções teóricas ao longo da história. A realidade educacional apresenta diversos modelos de
enquadramento curricular, de modo que as expressões propostas pedagógicas, currículos, Projeto
Político Pedagógico, regimento escolar e diretrizes pedagógicas, ora aparecem com o mesmo
significado, ora se diferenciam. Kramer (2001) destaca que “currículo é palavra polissêmica,
carregada de sentidos construídos em tempos e espaços distintos. Sua evolução não obedece a
uma ordem cronológica, mas se deve às contradições de um momento histórico, assumindo,
portanto, vários significados ao mesmo tempo”.
Muitos estudos que discutem propostas pedagógicas e currículo desvelaram uma
realidade infinita e ímpar, na qual o processo educativo só pode ser observado de uma forma
multifacetada. Segundo Gimeno Sacristán (1998), a realidade do currículo não se mostra em suas
modelagens documentais, ou seja, nos projetos pedagógicos, mas na interação de todos os
contextos educativos que compõem as práticas. Essa polissemia permite inferir a necessidade de
um modelo pedagógico alicerçado em práticas cotidianas que respeitem as necessidades de
desenvolvimento da criança.
Texto complementar
A Matemática na Educação Infantil: trajetória e perspectivas
(LIMA, 2006)
Os estudos atuais sobre o ensino da Matemática na Educação Infantil levam em consideração tanto as
especificidades dos conteúdos a ensinar quanto a maneira pela qual os alunos aprendem e atribuem sentido aos
conhecimentos matemáticos veiculados socialmente.
O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (Recnei) e as publicações de pesquisadores como
Guy Brousseau, Gérard Vergnaud, Anne Sinclair, Patrícia Sadovsky, Ana Cristina Rangel, entre outros, propõem
que para as crianças construírem conhecimento é preciso que vivenciem múltiplas situações significativas em
contextos adequados e tenham oportunidade para fazer reflexões sobre suas produções, interagindo com
outros, crianças e/ou adultos, tanto para explicitar sua forma de pensar como para confrontar formas de
resolução.
Nessa perspectiva, desde a Educação Infantil, a criança aprende matemática a partir das ações que produz
para a resolução de uma situação, ou seja, quando compara, discute, pergunta, cria, amplia ideias e percebe que
o erro faz parte do seu processo de construção do conhecimento. Essas ações investigativas geram na criança
o desejo de responder a uma pergunta interessante, ajustar-se às regras de um jogo, seguir as estratégias
socializadas por um colega, entre outros procedimentos.
[...] Nas décadas de 1940 e 1950, a concepção de aprendizagem que permeava o ensino era fundamentada na
psicologia empirista. Nessa perspectiva, a aprendizagem reduzia-se à memorização, à exercitação e à
repetição. Os conteúdos seguiam uma sequência linear, eram estruturados a partir de uma lista de temas e
verbalizados pelo professor como um conjunto de verdades imutáveis.
Mediante avanços dos estudos da psicologia cognitiva, inspirados, especialmente, na psicologia genética,
difundida por Jean Piaget, a ênfase anterior dada à linguagem desloca-se para a ação. [...]
A associação da teoria piagetiana com a ação pedagógica gerou dificuldades de interpretação pelos
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professores, pois não ficava claro para esses profissionais que o processo de desenvolvimento cognitivo exige
ações mentais que demandam tempo para possibilitar a efetiva construção do conhecimento pela criança.
Nas décadas de 1960 e 1970, surge a matemática moderna com o grupo Bourbaki, tendo como eixo a teoria dos
conjuntos. A concepção de aprendizagem, segundo esse grupo, não acontece mais pela repetição e pela
manutenção de verdades. Entretanto, as tentativas de mudança no ensino-aprendizagem, com a difusão da
matemática moderna, não levaram em conta as considerações sobre o processo de construção da inteligência
propostas pela teoria construtivista de Piaget.
Os professores, por não terem aprofundado, nos processos de formação, o estudo sobre a teoria dos
conjuntos, não a concebiam como uma teoria abstrata, que necessitava para sua compreensão do uso de noções
lógicas complexas. Diante disso, tratavam a teoria dos conjuntos com características muito concretas, e
acabavam ensinando os conteúdos de forma linear, semelhante à concepção tradicional, seguindo uma sequência
rígida.
Em face do exposto, o ensino tanto na matemática tradicional como na matemática moderna apresenta um
caráter estruturalista. No entanto, os novos rumos para o ensino dessa área apontam para uma atenção
especial a estudos sobre os processos de desenvolvimento do indivíduo, bem como sobre a relação professor-
aluno-objeto de conhecimento.
Com os estudos de Vygotsky e seus colaboradores, que se centraram nas leis do desenvolvimento e do processo
de ensino-aprendizagem, a partir da teoria sócio-histórico-cultural, é lançado um conceito básico para a
educação: a zona de desenvolvimento proximal (ZDP) que “é a distância entre o nível de desenvolvimento real,
que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento
potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com
companheiros mais capazes”.
Assim, na organização de sua prática, o professor deve considerar a ZDP das crianças para mediar o processo
de ensino-aprendizagem a partir das necessidades do grupo, e, dessa forma, estruturar seu trabalho prevendo
níveis de ajuda que possibilitem os avanços de todas as crianças. Em consonância com esse conceito básico de
Vygotsky sobre a ZDP e os novos estudos sobre ensino-aprendizagem da matemática, realizados por
pesquisadores da didática e divulgados pela publicação dos Referenciais Curriculares Nacionais, faz-se
necessário repensar o papel do professor e, mais especificamente, da inter-relação professor-aluno-saber no
âmbito escolar.
A partir dos estudos de Brousseau, pertencente à corrente da didática matemática francesa, é lançada a ideia
de ser implementado no processo de ensino-aprendizagem um contrato didático que funcionará como um
regulador dos intercâmbios entre o professor e o aluno, delimitando deveres e direitos em um espaço de
referência compartilhado: a sala de aula.
Nesse contrato, as relações que as crianças e os professores mantêm com o saber estariam delineadas
previamente. Logo, todas as situações propostas em classe teriam um papel desafiador, por possibilitarem
confrontações de pontos de vista e evidenciarem seu efeito no trabalho coletivo do grupo sobre suas ideias
iniciais e o desenvolvimento dos saberes individuais de cada criança.
Retomando o enfoque sócio-histórico-cultural difundido por Vygotsky e seus seguidores, “a educação é uma
fonte que promove o desenvolvimento, precisa então ser coerente, organizada e oportuna”. Daí o compromisso
do professor em promover um processo de ensino-aprendizagem, concebendo o aluno como um ser singular,
buscando conhecer as necessidades e potencialidades de cada criança e organizando sua prática educativa a
partir da resolução de problemas.
Como aponta Vergnaud, pesquisador da didática francesa, as concepções dos alunos são moldadas por situações
que se encontram em contextos significativos.
Daí a relevância de o tratamento de todos os conteúdos matemáticos – sistema de numeração, grandezas e
medidas, e espaço e forma – acontecer simultaneamente e estar conectado com sua função social.
Vale ressaltar que o professor deve saber que objetivos os alunos devem atingir e que atividade deve propor
em função das metas traçadas para a Educação Infantil no que se refere a cada conteúdo, a fim de que possa
possibilitar conexões entre eles.
No tocante ao sistema de numeração, as crianças precisam conhecer a sucessão oral dos números; estabelecer
relações entre eles: estar entre, um mais que, um menos que; reconhecer a sucessão escrita; iniciar a
comparação de escritas numéricas e reconhecer as funções do número.
Segundo Sinclair, é preciso considerar que os números são usados no cotidiano com diferentes funções
comunicativas: os números de telefones, documentos, cartões bancários têm a função de codificar; nas
receitas, balança, fita métrica, a função é de medir; já no elevador aparece para ordenar, e, nas embalagens,
quando expressam o número de objetos que contêm, apresentam a função de quantificar.
Ao identificar essas quatro funções do número, é possível perceber uma inter-relação entre estas e os
diferentes conteúdos. Logo, ao trabalhar as grandezas e as medidas, as ações devem visar à relação do número
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com a função de medir, com o uso pelas crianças de diferentes estratégias para comparar grandezas,
efetivando as primeiras aproximações com medidas de comprimento, peso, volume e tempo, por meio de
unidades convencionais e não convencionais.
Diante disso, o professor pode organizar boas situações de aprendizagem na Educação Infantil a partir de
oficinas matemáticas: simulação de salão de beleza, sapataria, lanchonete, consultório médico e ateliê de
costura. No entanto, para possibilitar aprendizagens significativas, é necessário que seja construído um
ambiente favorável com materiais que são utilizados no contexto real desses diferentes estabelecimentos
comerciais.
Além das oficinas, os conhecimentos matemáticos podem ser acionados pelo trabalho com jogos: baralho, pega-
varetas, dominós, do resgate de músicas infantis (Mariana conta um; Um, dois, três indiozinhos) e de
brincadeiras como esconde-esconde, coelhinho sai da toca, bem como a marcação do tempo por meio de
calendários e experiências com dinheiro.
Quanto ao processo de construção relacionado ao espaço e às formas, as situações devem visar ao
estabelecimento de relações espaciais nos deslocamentos, que podem ser organizadas por meio da comunicação
oral e da reprodução de trajetos considerando elementos do entorno como pontos de referência.
Além disso, devem ser estabelecidas relações espaciais também entre objetos e em objetos. As relações
espaciais entre objetos podem ocorrer com a descrição e a interpretação da posição de objetos e pessoas em
determinados espaços. No caso do estabelecimento de relações espaciais em objetos, é de fundamental
importância que o professor organize situações para que as crianças iniciem os desenhos de construção,
antecipem a própria ação para a conquista dos resultados esperados, modifiquem o produzido em função da
ação do outro ou de resistências do objeto. No trabalho com as figuras geométricas, devem ser oportunizadas
atividades em que as crianças descrevam as figuras a partir das formas que estão ao seu redor no cotidiano.
Por conseguinte, é necessário, desde a Educação Infantil, abandonar a perspectiva linear na organização
curricular para o ensino da matemática, do simples para o complexo, pois o processo de construção do
conhecimento das crianças acontece a partir da sua interação com diferentes situações investigativas, como
foram apresentadas neste artigo. Dessa forma, é a partir das comparações, das discussões, dos
questionamentos, das criações, das socializações de ideias que as crianças põem em jogo o que aprenderam e
têm oportunidade de refletir sobre essas aprendizagens.
Atividade de reflexão
Vimos neste capítulo que a Matemática para crianças em idade pré-escolar tinha como ideia
central o ensino de atividades pré-numéricas, com exercícios voltados para a lógica. Procure se
lembrar de como foi sua aprendizagem matemática, era voltada para a lógica? Como eram seus
professores? Como eram as aulas? Você tinha algum tipo de dificuldade?
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Capítulo 2
O conhecimento lógico
matemático
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A Pirâmide da Inteligência
Esquemas reflexos
Tronco cerebral Automatismos inatos ou adquiridos,
Comanda ações que são a base da organização
reflexas e controla
1.° mês
corporal e da consciência.
funções
respiratórias e
circulatórias
Esquema sensório-motor
Córtex primário Aprendizado prático, decorrente
6.° mês
Ligado à percepção, transmite dos sentidos e das ações motoras.
impulsos sensoriais e motores
para os mecanismos
neuromusculares.
Estágio pré-operatório
Córtex associativo Sofisticação da função simbólica e
aquisição da linguagem.
2 anos
Processa informações (discrimina
estímulos recebidos e os compara aos
preexistentes).
Estágio operatório concreto
Córtex associativo heteromodal Aparecimento do raciocínio lógico,
ainda sem capacidade de abstração.
7 anos
Integra estímulos sensoriais, compara informações
e as envia ao sistema límbico (associado às
emoções).
Pensamento formal
Capacidade de abstrair fatos por
Córtex associativo heteromodal
11 anos
(A mente do bebê. Aquisição da linguagem, raciocínio e conhecimento. 2. ed. n. 3. São Paulo: Duetto Editorial,
2008, p. 21)
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Estágio 2 (1 a 4 meses) O bebê começa a definir os limites de seu próprio corpo por
meio de descobertas acidentais que se mostram interessantes.
Até os dois anos, o aprendizado é feito pelos sentidos e pela área motora. O pensador
suíço Jean Piaget (1896-1980), um dos mais renomados teóricos do desenvolvimento cognitivo,
investigou a lógica formal que rege a criança na resolução dos diferentes obstáculos com os
quais ela se defronta ao longo da infância. Constatou que para cada idade há uma lógica de
exploração e solução dos problemas. São padrões organizados de comportamentos característicos
de cada faixa etária que se modificam segundo a relação que a criança mantém com o ambiente.
Piaget nomeou quatro modos de ação da criança no mundo: sensório-motor (do nascimento a 2
anos de idade), pré-operatório (de 2 a 6 anos), operatório concreto (de 6 a 12 anos) e operatório
formal (a partir dos 12 anos). O esquema sensório-motor caracteriza-se pelo aprendizado
resultante dos sentidos e da atividade motora. Esse primeiro estágio divide-se em seis
subestágios, descritos a seguir.
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Piaget diferenciava três tipos de conhecimento de acordo com suas fontes e modos finais
de estruturação: conhecimento físico, conhecimento social ou convencional, e conhecimento
lógico-matemático.
O conhecimento lógico-matemático consiste de relações mentais, e a fonte final dessas
relações está em cada indivíduo. Por exemplo, quando nos apresentam uma ficha vermelha e
uma azul, podemos pensar nelas como sendo diferentes ou semelhantes. É igualmente verdadeiro
dizer que as fichas são diferentes (porque uma é vermelha e uma é azul) quanto dizer que elas
são semelhantes (porque ambas são redondas e feitas de plástico). “A semelhança e a diferença
não existem nem na ficha vermelha, nem na ficha azul, e se uma pessoa não colocasse os objetos
em uma relação, estas relações não existiriam para ela” (KAMII, 1986, p. 17).
Da mesma forma, a quantidade de fichas ou quaisquer outros objetos também está
relacionada ao conhecimento lógico-matemático, pois as fichas são observáveis, perceptíveis,
mas a dualidade ou a ideia de quantidade não.
As crianças constroem o conhecimento lógico-matemático estabelecendo relações entre
igual e diferente, entre o mesmo e o diferente. As relações se estabelecem entre objetos, fatos do
mundo físico e social e entre quantidades. Assim, as crianças se tornam capazes de deduzir que
há mais flores do que rosas no mundo, ou mais animais do que gatos, ou que 2 + 2 + 2 +2 = 8,
que é o mesmo que 4 x 2 = 8 e assim por diante. Portanto, a fonte de conhecimento físico e social
é parcialmente externa para a criança e a fonte de conhecimento lógico-matemático é interna.
A experiência é um dos fatores ao qual Piaget recorre para explicar o desenvolvimento
cognitivo. A partir da experiência física ou empírica que realiza – por exemplo – ao brincar, a
criança constrói o conhecimento físico que se refere à exploração dos objetos para apreender
suas propriedades e características básicas.
Isso é chamado de abstração simples, expressão utilizada por Piaget para designar a
abstração das propriedades a partir de objetos. Para a abstração do número, Piaget utiliza a
expressão abstração reflexiva.
Na abstração empírica, tudo o que a criança faz é focalizar uma certa propriedade do
objeto e ignorar outras.
Já na abstração reflexiva, há a construção de relações entre os objetos: essas relações não
existem na realidade externa e sim no pensamento daqueles que a criaram. Constance Kamii
(1986) afirma que a expressão abstração construtiva poderia ser mais fácil de entender do que
abstração reflexiva, indicando que essa abstração é uma construção feita pela mente em vez de
representar apenas o enfoque sobre algo já existente nos objetos. Um tipo de abstração depende
do outro: se a criança não observasse propriedades diferentes entre os objetos não poderia
construir o conceito diferente.
E a criança também não poderia construir o conhecimento físico sem um sistema de
referência lógico-matemático, de modo a poder relacionar novas observações a um
conhecimento já existente. Por exemplo, para perceber a cor verde de um sapo é necessário um
esquema classificatório que diferencie a cor verde das demais cores, além de distinguir o animal
sapo de todos os outros que já conhece.
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[...] o material com o qual se pede que seja feita a seriação, e em particular a
importância perceptiva da diferença entre dois elementos consecutivos na
seriação, influi de maneira notável na média de idade das crianças que obtêm
sucesso: é isto que explica, no caso, a seriação de comprimentos, que a partir
dos quatro anos de idade as crianças reconstituam a seriação das barras de
Montessori (dez barras de 10cm, 20cm, 30cm,...até 1m de comprimento),
enquanto que no caso das barras variando de 1 em 1cm até 10cm não se obtenha
resultado até um ano mais tarde; e que no caso dos bastonetes de Piaget a
diferença entre dois elementos consecutivos seja de 0,8cm na primeira parte do
teste e de 0,4 na segunda parte: neste caso, a criança somente tem sucesso ao
redor de 7-8 anos. (p. 64)
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Dessa forma, o professor precisa estar atento ao que cada aluno consegue realizar em
termos de seriação de elementos. As atividades podem ser encaminhadas com materiais de
encaixe, como panelinhas, potes, caixas, tampas, pratos de papelão, o que puder ser colocado um
dentro do outro, oferecendo pelo menos 5 ou 6 unidades de tamanhos diferentes. Problematizar a
situação, pedindo, por exemplo, que guardem os blocos naquelas caixas, preparando previamente
para que as crianças não encontrem uma situação ideal, mas uma situação que as faça pensar
sobre o problema a ser resolvido.
Classificar é uma operação lógica muito importante na vida de qualquer pessoa, pois
ajuda a organizar a realidade. A classificação trabalha com as relações de pertinência e de
inclusão de classe. Sem se dar conta, as pessoas fazem classificações o tempo todo, diariamente,
fazendo compras, organizando seus pertences e também seus pensamentos. Entretanto, a noção
matemática de conjunto é complexa e diferente da noção intuitiva que possamos ter da ideia de
classificação ou de coleção. Há coleções de objetos que não podem ser definidas por critérios
matemáticos. Por exemplo, pessoas com cabelos castanhos ou louros, coleções de objetos
definidos por nenhum outro critério senão os absolutamente particulares da pessoa que os reuniu.
Por essas e outras características bem mais complexas da teoria de conjuntos é que operações
entre conjuntos não são mais encontrados nos currículos do Ensino Fundamental.
Na Educação Infantil, todas as atividades que o professor puder realizar com seus alunos
relacionadas à comparação e formação de pares, triagem e classificação, seriações e
organizações, além de gráficos e também quadros de dupla entrada, ajudarão no
desenvolvimento do raciocínio lógico, especialmente se vinculados às sensações.
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Por volta de 1 ano e 6 meses, os bebês aprendem por meio dos sentidos e dos movimentos. Na
segunda metade do 2.º ano é que avançam para o pensamento conceitual. Questiona-se a
pesquisa piagetiana de permanência do objeto em bebês pequenos pelo fato de não serem ainda
capazes de realizar uma sequência de duas ações como, por exemplo, mover uma almofada ou
levantar a tampa de uma caixa para pegar o objeto. Outros pesquisadores propõem um método de
pesquisa mais apropriado à faixa de idade do bebê. O objeto é escondido apenas por escuridão e
assim pode ser encontrado com 1 movimento. Os bebês no 3.º subestágio (4 a 8 meses)
conseguem realizar essa tarefa com êxito. Em outro estudo sobre permanência do objeto, bebês
de seis meses e meio viam uma bola sair de uma calha e cair em um de dois pontos, cada uma
identificável por um som característico quando a luz era apagada e o procedimento repetido.
Os pesquisadores eliminaram a necessidade da atividade motora e utilizaram recursos que
permitiam focar os resultados no que os bebês observavam e durante quanto tempo.
Dessa forma sugere-se que os bebês, desde muito cedo, podem formar representações
mentais, isto é, imagens ou lembranças de objetos fisicamente ausentes.
Essa capacidade, Piaget atribuía aos bebês após os 18 meses. Entretanto, Piaget não
negou que o desenvolvimento poderia ser acelerado ou retardado. Pôs sim, em dúvida, a
necessidade de fazê-lo. O que ele sustentava como importante no desenvolvimento era a
sequência na qual ocorria o progresso e não as idades. De qualquer forma, as pesquisas
encaminham a investigação da capacidade de bebês e crianças pequenas de lembrar e imitar o
que veem.
Bebês de apenas seis semanas imitariam os movimentos faciais de um adulto após 24
horas, na presença do mesmo adulto, que dessa vez mostrava-se sem expressão. A esse tipo de
imitação, de um ato que se vê algum tempo antes, denominada imitação diferida, Piaget não
atribuía a crianças menores de 18 meses.
Em uma experiência na Nova Zelândia, bebês de diversas idades, após terem visto um
pesquisador tirar a luva de um fantoche, soar um sino dentro da luva três vezes e depois
recolocar a luva no fantoche, imitaram a mesma ação, desde que estivessem no mesmo lugar
com as mesmas pessoas. A experiência foi feita com bebês de até seis meses. Bebês maiores
imitavam com mais precisão (BARR; DOWDEN; HAYNE,1996). Com dois anos, os bebês
demonstram imitação diferida após 24 horas somente quando a cor e a forma do fantoche são
praticamente idênticas às originais. Em outra pesquisa, bebês de 14 a 18 meses observaram
outras crianças brincarem com objetos e repetiram o comportamento em casa, após dois dias,
com os mesmos objetos (HANNA; MELTZOFF, 1993).
De modo geral, os bebês e as crianças pequenas parecem ser mais competentes do que
pressupunha Piaget, entretanto, as pesquisas abrem novos caminhos para novas práticas aos
poucos, pois as crianças não veem ao mundo com suas mentes plenamente formadas.
Em suas pesquisas, Piaget perguntava a crianças de 6 a 14 se era pior dizer uma mentira a
um adulto ou a uma criança. As crianças pequenas respondiam que era pior dizer mentira a um
adulto e, ao explicarem o porquê, diziam que os adultos podem saber quando uma afirmação não
é verdadeira. Por sua vez, as crianças maiores respondiam que se sentiam forçadas a mentir para
adultos, mas que era maldade mentir para outras crianças. Esse exemplo de autonomia moral
demonstra que, para pessoas autônomas, as mentiras são ruins em qualquer caso, em qualquer
situação.
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Entre pais e filhos, alunos e professores, deve haver uma relação mútua de respeito e
afeto. Com relação à autonomia intelectual, Kamii nos oferece um exemplo extremo.
Copérnico desenvolveu a teoria heliocêntrica quando todos os demais acreditavam que o
Sol girava ao redor da Terra. Foi ridicularizado e afastado do meio acadêmico porque manteve
sua posição. Ele agiu com bastante autonomia para continuar a afirmar seu ponto de vista, não se
deixando governar por outros.
Outro exemplo que se pode usar para explicar a autonomia intelectual é o de uma criança
que, por exemplo acredita em Papai Noel. A criança surpreende a mãe perguntando como é que
Papai Noel usava os mesmos presentes que os que eram comprados pela família. A mãe
responde com alguma explicação que não é suficiente e a criança volta a questionar:
Ocorre que, quando colocou Papai Noel em relação a tudo que conhecia, a criança
começou a perceber que havia outras evidências que confirmavam sua suspeita. Ora, essa criança
pensava por conta própria e não se deixava governar por outros ou aceitar o que era dito a ela.
De acordo com Piaget, a criança adquire o conhecimento ao construí-lo a partir de seu
interior – em vez de internalizá-lo diretamente de seu meio. As crianças podem internalizar o
conhecimento transmitido por um momento, mas elas não são como recipientes que meramente
retêm o que é ensinado: elas constroem o conhecimento, criando e coordenando ações.
Ao desejarem respostas certas de seus alunos, os professores acabam, até mesmo sem
perceber, utilizando sanções que desencorajam o questionamento e o pensamento autônomo. Por
exemplo, se uma criança escrever 4 + 2 = 5 e receber a correção do professor sem a devida
explicação ou o encaminhamento da atividade, ela pode passar a pensar que a verdade advém
somente da cabeça do professor. Há crianças que chegam a duvidar de seu próprio pensamento,
apagando seus resultados quando o professor se aproxima.
No exemplo da operação 4 + 2 = 5, sugere-se perguntar à criança:
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Ao tentar explicar à outra pessoa o seu modo de raciocínio, a criança acaba, ela mesma,
por corrigir o resultado autonomamente: ao tentar coordenar seu ponto de vista com o do outro, a
criança se dá conta do próprio erro. Segundo a teoria de Piaget, a coordenação de pontos de vista
entre colegas é mais eficaz do que a correção feita pelo professor.
Autonomia na escola
A autonomia intelectual está relacionada à capacidade de reflexão que o aluno pode vir a
ter sobre seus atos.
Nos primeiros dias de aula, é comum professores e alunos estabelecerem acordos que
revelam as regras da escola e também a postura do professor, pois na maioria das vezes esses
acordos são produzidos antes do início da convivência.
Para o desenvolvimento da autonomia, seria melhor deixar os problemas surgirem. Por
exemplo, a professora pode dizer aos alunos que se incomoda quando há alguém falando quando
ela fala ao grupo e perguntar se mais alguém se incomoda em não poder ouvir o que ela tenta
explicar, e então perguntar às crianças o que pode ser feito para resolver esse problema. As
crianças provavelmente irão pensar e sugerir uma variedade de soluções como mandar os que
incomodam para a sala do diretor. A professora pode então dizer, como membro da comunidade,
igual a todos os outros membros, que ela não votaria em mandar a pessoa para o diretor porque o
diretor não tem nada a ver com o problema em discussão.
As reuniões para a discussão de problemas são muito melhores do que a imposição de
regras prontas: nas reuniões, as crianças têm a chance de pensar sobre cada problema. Se a
professora não sugere uma solução, a responsabilidade para resolver o problema recai sobre as
crianças. Uma regra sugerida por elas, e aceita pelo voto da maioria, tem muito mais
probabilidade de ser respeitada pelo grupo do que a mesma regra imposta pela professora. E,
continuando o exemplo, as crianças também têm que pensar nas condições sob as quais se pode
ou não conversar.
Esse julgamento pode ser feito relacionando as perspectivas de todas as partes envolvidas
e, assim, as crianças aprendem a descentrar seu ponto de vista, coordenando-o com as
perspectivas dos outros. Hoje há enormes problemas sociais, largamente causados pela
incapacidade das pessoas para levar em consideração fatores relevantes na tomada de decisão.
Por exemplo, quando uma pessoa fuma, ela decidiu fazer isso. Pessoas que conseguem levar em
consideração fatores relevantes ao tomarem decisões, provavelmente tomarão decisões mais
sensatas do que aquelas que são cegas a fatores relevantes.
A educação moral acontece a cada minuto do dia escolar, as pessoas estando conscientes
desse fato ou não. Quando uma criança é ameaçada com punição, reforça-se sua heteronomia.
Quando há chantagem ou manipulação, reforça-se a heteronomia.
O princípio mais importante de uma educação voltada para a autonomia é pedir às
crianças que tomem decisões por si mesmas, levando em consideração fatos relevantes.
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Deixamos passar despercebido o processo do aprender das crianças, sem dar conta dos
problemas por elas enfrentados, decorrentes de qual natureza ou fator. É muito comum
encontrarmos escritos, que interagem a aprendizagem e a afetividade como sucesso do bom
desenvolvimento cognitivo.
Para haver bom desempenho cognitivo é preciso que haja interação de afetividade
positiva, confiança, autoestima e entusiasmo com o processo de ensino-aprendizagem.
Havendo lacunas nesta interação, incertezas, baixa autoestima, é quase certo que haverá
problemas de aprendizagem como deficiência na leitura e na escrita, falta de habilidade de
pensamento lógico, imaturidade intelectual e social, dificuldades em compreender conceitos de
tempo e referência de espaço.
Estudos mostram que sintomas deste tipo, muitas vezes são provocados por ambientes
com regras rígidas e inflexíveis, desvalorização do ser, falta de limites, descontrole emocional do
contexto familiar, instruções insuficientes ou mesmo por conviver em um meio desfavorável ao
desenvolvimento da aprendizagem.
A aprendizagem é um processo contínuo, gradual em que cada indivíduo tem seu ritmo,
seja ele mais lento ou mais rápido, desde o seu nascimento até o último dia de sua vida, e este
desenvolvimento depende da herança genética de cada indivíduo, de sua maturação do sistema
nervoso e de seu esforço, interesse e envolvimento. À medida que vamos aos desenvolvendo
estamos construindo e reconstruindo nossa aprendizagem diante das experiências vividas,
organizando novos esquemas ou ainda reorganizando conhecimentos já existentes, num processo
de estruturação cumulativa, isto é, vamos construindo conhecimentos a partir dos já existentes
acrescentando ou subtraindo informações a esta aprendizagem, criando novas estruturas de
pensamento ou esquemas.
De acordo com Wadsworth (2003), “os esquemas mudam continuamente, estes são nada
menos que estruturas mentais cognitivas pelas quais os indivíduos intelectualmente se adaptam e
organizam o meio”. Ao nascermos, os esquemas são de natureza reflexa, na medida em que nos
desenvolvemos, os esquemas tornam-se mais sensórios, mais numerosos tornando-se mais
complexos estando em constante processo de construção e reconstrução. Este processo chama-se
assimilação e acomodação. Tais esquemas refletem o nível de compreensão e conhecimento de
mundo.
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Fonte: http://www.profala.com/arteducesp95.htm
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Texto complementar
A experiência da autonomia
(MONTANDON, 2005)
[...] O segundo estudo enfocou a experiência que as crianças têm da autonomia. Inspirou-se no primeiro, o qual
mostrou que, embora as crianças esperassem afeto e apoio por parte de seus pais, elas costumavam lutar para
escapar de seu controle, e no fato de que a autonomia das crianças está no cerne dos debates sobre a crise
associada à sua educação. Haveria crise, segundo alguns, porque se concedeu autonomia demais às crianças.
Quem quer já tenha brigado pelos direitos da criança conhece esse debate. A indagação era a seguinte: numa
cidade moderna como Genebra, será que o discurso pedagógico, herdeiro de Rousseau e Piaget, que apregoa o
desenvolvimento da autonomia e condena o autoritarismo, é aplicado mesmo? E se for, quais seus efeitos?
Deletérios, como afirma quem reclama mais autoridade?
Vimos anteriormente que a maioria dos pais é favorável à aquisição da autonomia de seus filhos e que os pais
estritamente autoritários constituem uma pequena minoria. Mas qual a experiência das crianças?
Pareceu-nos interessante buscar um melhor conhecimento da experiência diferencial que estas têm da
autonomia assim como das condições sociais a ela subjacentes, em particular, da maneira como as pessoas que
cuidam de crianças se situam com relação a essa autonomia.
Como é possível, por exemplo, que em instituições como as escolas modernas, que afirmam levá-los à autonomia,
os alunos estejam incessantemente expostos a decisões ou veredictos que não passam de juízos negativos
contra sua capacidade de serem autônomos? Mais precisamente, essa pesquisa tinha dois objetivos principais:
examinar a experiência da autonomia que as crianças têm no âmbito de sua família e no da escola, ao
repertoriar as diferentes formas de que se reveste assim como as situações em que se concretiza. Apreender
o que a autonomia significa para elas e analisar seu modo de tratar as exigências de autonomia de que são
objeto. Analisar as diferentes experiências de autonomia das crianças segundo os contextos e segundo suas
características sociais e culturais.
Estudar as representações da autonomia que pais e docentes têm e analisar as atitudes e exigências que
manifestam para com as crianças a respeito da autonomia. Os dados foram colhidos com crianças de 11 a 12
anos por meio de questionários completados por entrevistas aprofundadas com 40 deles e por entrevistas de
grupo. Seus pais e os docentes de suas escolas também participaram, mas, aqui, abordaremos principalmente
alguns resultados relativos à experiência das crianças na sua família (MONTANDON; LONGCHAMP, 2003).
As crianças do estudo dizem que as regras existem, claro, mas que podem ser discutidas para certos aspectos
da vida cotidiana. Os pais, portanto, não exigem sua submissão incondicional como costumava ser o caso no
passado, o que corrobora as respostas dos pais, que mostram não abandonarem a autoridade, mesmo se esta é
redefinida. A autonomia subjetiva e factual das crianças apresenta algumas variações segundo o sexo, a
composição da família ou o pertencimento social de seus pais. Assim, por exemplo, os filhos de pais operários
têm uma representação subjetiva da autonomia menos forte que a dos filhos de pais de classe média ou
executivos superiores e patrões.
Em termos de ação, mais particularmente das atividades que implicam uma autonomia concreta (ir sozinho à
cidade, cuidar de uma criança pequena, fazer suas lições sem pressão dos pais, trabalhar por dinheiro, dormir
na casa de colegas), as diferenças segundo o meio ou o sexo variam em função das atividades e do tipo de
responsabilidades implicadas.
Por exemplo, cuidar de crianças menores é uma tarefa mais frequente entre crianças cujos pais são operários
ou têm uma formação pouco elevada, ao passo que ir dormir na casa de um(a) colega é uma atividade mais
frequente entre as crianças de classe média. Segundo as crianças, os pais têm um papel crucial a desempenhar
a respeito de sua autonomia. Vejamos o que respondem quando perguntadas sobre o que mais as ajuda a se
tornarem autônomas. Os pais vêm em primeiro lugar, mencionados por uma forte maioria. Eles “dão
responsabilidades; dão explicações para o futuro; encorajam a se virar; mostram e depois deixam fazer; dão
confiança e ajudam a se organizar; dão bons conselhos; ensinam coisas que ajudam; deixam as crianças se
virarem, dão o exemplo”. A escola, por sua vez, é mencionada por uma minoria, quatro crianças em dez. Ela
“ensina a se organizar; dá tarefas nas quais é preciso se virar; dá responsabilidades; traz os conhecimentos
que permitem ser ou se tornar mais autônomo”. Quase tanto quanto a escola, as dificuldades da vida são
evocadas por um pouco menos de quatro crianças em dez. Segundo elas, “enfrentar as dificuldades leva à
autonomia; as dificuldades obrigam a tomar decisões; sem dificuldades, a gente deixa rolar; os erros
cometidos permitem aprender para a próxima vez; sem dificuldades, não precisa ser independente”.
Os irmãos e as irmãs são mencionados por duas crianças em dez; trata-se dos maiores, que são um pouco como
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pais. Os colegas também ajudam a se tornar autônomo nas mesmas proporções; conversa-se com eles e, às
vezes, servem de exemplo. Em seguida algumas crianças falam das leituras, que permitem aprender coisas, dos
esportes que levam a ultrapassar a si mesmo, do dinheiro que permite ser independente e, de maneira isolada,
evocam o tempo que faz crescer, o contato com pessoas que sabem ser autônomas, o fato de se apaixonar ou
de ganhar confiança em si e, finalmente, a televisão.
Parece, portanto, que os pais desempenham um papel muito importante na autonomia tal como concebida pelas
crianças, ao criarem condições e ao deixarem a criança ter suas experiências. O papel da escola é bem menor
aos seus olhos, o que confirma um outro resultado da pesquisa: quando a autonomia ocupa um lugar central no
projeto de uma escola, seus alunos não parecem aproveitar-se disso muito mais que os das escolas mais
tradicionais.
Os pais também desempenham um papel importante na organização do tempo de seus filhos. Nosso estudo
mostrou que, numa cidade como Genebra, onde o nível de vida é em média bastante elevado, boa parte do
tempo livre das crianças é dedicada a cursos e esportes, à televisão, ao consumo em companhia de amigos. O
fato de terem tantas oportunidades apresenta suas vantagens e seus inconvenientes. Vantagens, pois estas
enriquecem sua bagagem, abrem portas para a autonomia tal como a entendem. Inconvenientes, pois são mais
solicitadas do que antes por escolhas num contexto de vida mais diversificado.
Portanto, esses estilos de vida, as visões do mundo, essa diversidade cultural enriquecem mas desnorteiam ao
mesmo tempo, e tudo isso ocorre num contexto social muito competitivo. As crianças mostram-se muito
“filósofas”: costumam pensar que, dada a sua situação de dependência no plano concreto, é melhor tentar fazer
o que se espera delas e, embora tenham estratégias para ganhar independência na vida cotidiana, geralmente
se conformam às exigências dos pais. Por sinal, e nisso se assemelham a estes, elas têm uma visão pragmática
da autonomia; para a maioria entre elas, trata-se de adquirir independência no plano concreto, pois poucas a
situam no plano da mente. Em contrapartida, elas não se enganam quanto às contradições e aos numerosos
hiatos entre os discursos e as intenções dos adultos, mais particularmente a respeito das questões de
autonomia. Elas veem claramente os ardis autoritários da pedagogia antiautoritária. Elas desejam mais
autonomia, mas têm sentimentos ambivalentes; elas são sensíveis ao que as espera em sua vida de adulto e
várias têm medo de crescer. De saída, sua experiência está imersa na ambivalência que caracteriza os
indivíduos contemporâneos, ambivalência decorrente de uma busca paradoxal de autonomia e apoio, ao mesmo
tempo, que marca sensivelmente sua própria atitude com relação à autonomia.
À guisa de conclusão
Os argumentos apresentados neste texto podem se resumir em alguns pontos:
As práticas educativas dos pais são muito diferentes e não existe um modelo único: os pais sempre fazem
prova de autoridade (salvo algumas exceções – tutela, casos dramáticos etc.). Obviamente, os que empregam
uma autoridade de tipo tradicional, estatutária, são hoje em dia relativamente pouco numerosos e, mais
frequentemente, trata-se de uma autoridade de orientação, ou de uma autoridade que se negocia.
Contudo, mesmo nestes dois últimos casos, algumas coisas são autoritariamente proibidas às crianças. Essas
práticas dependem de muitos fatores, o quadro é complexo, e é preciso levar em conta o conjunto dessas
variáveis e de suas interações caso se queira compreender sua evolução. Essa complexidade é hoje em dia
amplamente reconhecida (BRIL, 1999; SABATIER, 1999).
Os efeitos das práticas educativas dos pais sobre as crianças não são evidentes e não se pode dizer de
maneira absoluta que tal ou tal estilo educativo é melhor ou produz bons resultados. Tudo depende dos
contextos e das situações. Ainda estamos longe de saber quais práticas são efetivas, para que crianças e em
que contextos.
O ponto de vista das crianças traz elementos indispensáveis à compreensão de sua experiência e é importante
levá-lo em consideração.
Sabe-se ainda muito pouca coisa, mas novos trabalhos nessa perspectiva poderão sem dúvida trazer, no futuro,
um suplemento de sentido às pesquisas sobre a educação familiar. Além disso, também se deve considerar a
experiência das crianças sob uma perspectiva geracional da infância. De fato, cada geração de crianças vive
uma experiência coletiva particular. As da grande depressão dos anos de 1930 conheceram uma experiência
diferente daquelas das grandes guerras, daquelas dos anos de 1950 etc. A experiência coletiva das crianças
contemporâneas também tem sua especificidade: uma forte ambivalência. Além do mais, as crianças de hoje
vivem em sociedades as quais permitem, mais que antes, que se discuta livremente, e que derrubaram a
autocracia.
Se elas parecem menos submetidas e mais críticas é porque estão sintonizadas com a evolução de sua
sociedade. Entretanto, ao mesmo tempo, fazem parte do grupo das crianças: vivem, portanto, a relação de
poder assimétrica consubstancial à infância – são mais fracas perante os adultos, sem esquecer que, do ponto
de vista econômico, são as primeiras a serem afetadas.
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Apreender o ponto de vista das crianças levanta questões metodológicas. Durante muito tempo, os sociólogos
“desconfiaram” das crianças e as ciências sociais não têm uma longa tradição nesse campo. Assim, apesar de
todas as precauções metodológicas e apesar do fato de os dados recolhidos com crianças não serem menos
autênticos que os recolhidos com adultos, o investigador deve se perguntar se os aborda corretamente, e se os
compreende e interpreta bem. Os psicólogos, que têm mais experiência com crianças, poderiam sem dúvida
constituir interlocutores interessantes.
Finalmente, num plano político, essas observações levam a pensar que aqueles que sustentam um discurso a
respeito de uma crise da educação, devida à demissão dos pais ou à adoção de práticas educativas permissivas,
representam um perigo muito maior do que o que denunciam. As pesquisas continuam mostrando que a educação
autoritária não é a mais positiva – pelo menos, hoje em dia, quando a sociedade exige flexibilidade e espírito
crítico de seus membros. Como ensinar os valores cidadãos de nossa época às crianças, se as criarmos numa
família ou numa escola que ensinam a desigualdade e a submissão?
Nas sociedades antigas ensinava-se obediência às crianças, na família e na escola, para que também estivessem
prontas a obedecer no meio do trabalho e perante as autoridades. Se quisermos indivíduos adaptados à
sociedade contemporânea que se tornou mais democrática, não seria lógico mudar também os modos de
educação? Não seria lógico que as mudanças sociais representassem um certo custo e até certos sofrimentos
particulares, que pedem tratamentos particulares? Sem dúvida ainda falta muito para responder a estas
diferentes indagações que abordamos rapidamente aqui.
[...]
(MONTANDON, Cléopâtre. As Práticas Educativas Parentais e a Experiência das Crianças. Disponível em:
<www.scielo.br/pdf/es/v26n91/a10v2691.pdf>. Acesso em: dez. 2008.)
Dicas de estudo
- BRINGUIER, Jean Claude. Conversando com Piaget. Lisboa: Difusão
Editorial.
Trata-se de duas entrevistas com Piaget, realizadas pelo jornalista Jean
Claude.
Você se sente conversando com Piaget e, ao ver em que contexto se dá a entrevista, entende
melhor as colocações dele. O livro traz imagens de Piaget com os filhos e a esposa, andando de
bicicleta com mochila nas costas, do escritório em que trabalhava. É uma leitura bem agradável.
- O filme O Clube do Imperador, direção de Michael Hoffman, distribuição Universal Pictures,
fala sobre a história de um professor que recebe alunos da alta sociedade americana. O professor é
altamente autônomo, moral e intelectualmente, e o filme acaba se tornando uma lição de vida e de
moral, fazendo refletir sobre ética e caráter.
- Os materiais e métodos utilizados por Maria Montessori, disponível em:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A9todo_montessori>. Este site contém a obra completa do
sistema, metodologia e materiais utilizados na pedagogia montessoriana, entre eles o material
dourado criado por ela, estimulando o desenvolvimento da criança, sem desrespeitar suas fases.
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Atividade de síntese
Faça um pequeno texto explicando o que significa autonomia na perspectiva de Piaget e o que
pais e educadores e psicopedagogos devem ou não fazer para ajudar a desenvolvê-la nas
crianças.
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Capítulo 3
O conhecimento lógico
matemático e a Psicopedagogia
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outros, que de forma interdisciplinar também tratam dessa problemática. Para isso, é
imprescindível que o psicopedagogo conheça o funcionamento do corpo e do cérebro e fazer a
relação desses conhecimentos com o histórico de desenvolvimento da criança e seu contexto de
vida, para saber qual profissional indicar e, até mesmo, qual seria o propósito da intervenção
numa situação desse gênero.
É sabido que todo distúrbio gera as dificuldades de aprendizagem, porém nem toda
dificuldade de aprendizagem provém do distúrbio. Ou seja, nem todos que têm dificuldades de
aprendizagem são portadores de distúrbio e/ou transtorno. A dificuldade de aprendizagem é um
problema externo, enquanto os distúrbios e transtornos são de origem fisiológica, entretanto
internos, trata-se de dificuldades significativas no desenvolvimento das habilidades da criança a
nível biológico. Dentre os transtornos de aprendizagem, temos a discalculia. A criança com esse
transtorno tem várias habilidades prejudicadas, como habilidades linguísticas, perceptivas, de
atenção e a própria habilidade matemática. Suas causas podem ser neurológicas, emocionais e
cognitivas. A criança com discalculia é incapaz de visualizar conjuntos de objetos dentro de um
conjunto, conservar quantidade, sequência de números, estabelecer correspondências uma a uma,
dificuldade em lidar com conceito de tempo, identificar lateralidade, incapacidade de fazer o
manuseamento de número e quantidade e, ainda é incapaz de apreender e racionar conceitos,
regras, fórmulas e sequências matemáticas.
Portanto, a criança que é portadora da discalculia, o conhecimento lógico-matemático
apresenta uma desordem na sua aquisição e/ ou na coordenação das relações lógico-matemática,
podendo ter dificuldades significativas no desenvolvimento das habilidades relacionadas com a
própria matemática causando alteração ou deteriorações dos rendimentos escolares e no convívio
social. Vale lembrar que essa condição da criança é ocasionada por uma disfunção biológica que
ocorre durante processo de desenvolvimento dela, como as alterações no desenvolvimento
cerebral, complicações neurológicas, lesão cerebral, desequilíbrio químico e anomalias congênita
de aspectos psíquicos que muitas vezes são responsáveis pelas dificuldades de aprendizagem e
do baixo desempenho escolar. Entretanto, toda criança tem suas potencialidades e habilidades
que a torna capaz de aprender e transformar aquilo que aprende. Porém, quando esse processo
não ocorre, a criança pode ser portadora de uma ou mais dificuldades significativas de
aprendizagem ou um transtorno especifico, mas que não justifica a sua exclusão e rótulo de
“criança problema”. É neste contexto que surge a importância da intervenção psicopedagógica
para amenizar e/ou solucionar as dificuldades de aprendizagem que, frequentemente, aparecem
no ambiente escolar causando na criança problemas emocionais que agravam mais ainda a sua
condição de “não aprender”. Portanto, é neste sentido que atuação do psicopedagogo deve se
proceder à frente as dificuldades de aprendizagem da criança, ou seja, tal atuação exige uma
análise contextualizada dos fatores que envolvem o sujeito no processo de ensino-aprendizagem
e a relação destes conhecimentos cientificamente comprovados.
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Estes são instrumentos específicos para o psicopedagogo usar, não são muitos mas são
importantes que o psicopedagogo conheça profundamente estes instrumentos. Recebo muitas
perguntas sobre estes instrumentos, de forma que mostram que os psicopedagogos estão saindo
de sua formação sem o conhecimento necessário para a avaliação psicopedagógica e acabam
recorrendo a compra de muitos testes caros e sem cursos que ensine sua utilização, tornando
ineficazes seus uso.
Desta forma acredito que o uso de testes extras só devem ser usado após o uso dos
instrumentos acima citados.
Simaia Sampaio
Fernández (1990) afirma que o diagnóstico, para o terapeuta, deve ter a mesma função
que a rede para um equilibrista. É ele, portanto, a base que dará suporte ao psicopedagogo para
que este faça o encaminhamento necessário.
É um processo que permite ao profissional investigar, levantar hipóteses provisórias que
serão ou não confirmadas ao longo do processo recorrendo, para isso, a conhecimentos práticos e
teóricos. Esta investigação permanece durante todo o trabalho diagnóstico através de
intervenções e da “...escuta psicopedagógica...”, para que “...se possa decifrar os processos que
dão sentido ao observado e norteiam a intervenção”. (BOSSA, 2000, p. 24).
Na Epistemologia Convergente todo o processo diagnóstico é estruturado para que se
possa observar a dinâmica de interação entre o cognitivo e o afetivo de onde resulta o
funcionamento do sujeito (BOSSE, 1995, p. 80)
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Conforme Weiss,
O diagnóstico possui uma grande relevância tanto quanto o tratamento. Ele mexe de tal
forma com o paciente e sua família que, por muitas vezes, chegam a acreditar que o sujeito teve
uma melhora ou tornou-se agressivo e agitado no decorrer do trabalho diagnóstico. Por isso
devemos fazer o diagnóstico com muito cuidado observando o comportamento e mudanças que
isto pode acarretar no sujeito.
Para ilustrar como o diagnóstico interfere na vida do sujeito e sua família, citaremos um
exemplo de Weiss: uma paciente, uma adolescente de 18 anos cursando a 7ª série de escola
especial, queixou-se à mãe que ela (Weiss) estava forçando-a a crescer. Ela conseguiu fazer a
elaboração deste pensamento porque tinha medo de perder o papel na família da doente que
necessitava de atenção exclusiva para ela. A família percebeu que isto realmente poderia
acontecer e era isto também que sustentava seu casamento “já acabado”. Concordou com a
terapeuta em interromper o diagnóstico (2003, p. 33 ).
Bossa nos lembra que a forma de se operar na clínica para se fazer um diagnóstico varia
entre os profissionais dependendo da postura teórica adotada. (p. 96, 2000).
Na linha da Epistemologia Convergente, Visca nos informa que o diagnóstico começa
com a consulta inicial (dos pais ou do próprio paciente) e encerra com a devolução (1987, p. 69).
Antes de se iniciar as sessões com o sujeito faz-se uma entrevista contratual com a mãe
e/ou o pai e/ou responsável, objetivando colher informações como:
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Observamos, no quadro acima, que ele propõe iniciar o diagnóstico com a EOCA e não
com a anamnese argumentando que “... os pais, invariavelmente ainda que com intensidades
diferentes, durante a anamnese tentam impor sua opinião, sua ótica, consciente ou
inconscientemente. Isto impede que o agente corretor se aproxime ‘ingenuamente’ do paciente
para vê-lo tal como ele é, para descobri-lo. (Id. Ibid., 1987, p. 70).
Os profissionais que optam pela linha da Epistemologia Convergente realizam a
anamnese após as provas para que não haja “contaminação” pelo bombardeio de informações
trazidas pela família, o que acabaria distorcendo o olhar sobre aquela criança e influenciando no
resultado do diagnóstico.
Porém, alguns profissionais iniciam o diagnóstico com a anamnese. É o caso de Weiss.
Compare abaixo o quadro da sequência diagnóstica proposta por ela:
Esta diferença não altera o resultado do diagnóstico, porém é preciso que o profissional
acredite na linha em que escolheu para seu trabalho psicopedagógico.
Como o presente trabalho está baseado na Epistemologia Convergente abordaremos a
anamnese ao final e iniciaremos falando sobre a EOCA.
A realização da EOCA tem a intenção de investigar o modelo de aprendizagem do sujeito
sendo sua prática baseada na psicologia social de Pichón Rivière, nos postulados da psicanálise e
método clínico da Escola de Genebra (BOSSA, 2000, p. 44).
Para Visca, a EOCA deverá ser um instrumento simples, porém rico em seus resultados.
Consiste em solicitar ao sujeito que mostre ao entrevistador o que ele sabe fazer, o que lhe
ensinaram a fazer e o que aprendeu a fazer, utilizando-se de materiais dispostos sobre a mesa,
após a seguinte observação do entrevistador: “este material é para que você o use se precisar para
mostrar-me o que te falei que queria saber de você” (VISCA, 1987, p. 72).
O entrevistador poderá apresentar vários materiais tais como: folhas de ofício tamanho
A4, borracha, caneta, tesoura, régua, livros ou revistas, barbantes, cola, lápis, massa de modelar,
lápis de cor, lápis de cera, quebra-cabeça ou ainda outros materiais que julgar necessários.
O entrevistado tende a comportar-se de diferentes maneiras após ouvir a consigna.
Alguns imediatamente, pegam o material e começam a desenhar ou escrever etc. Outros
começam a falar, outros pedem que lhe digam o que fazer, e outros simplesmente ficam
paralisados. Neste último caso, Visca nos propõe empregar o que ele chamou de modelo de
alternativa múltipla (1987, p. 73), cuja intenção é desencadear respostas por parte do sujeito.
Visca nos dá um exemplo de como devemos conduzir esta situação: “você pode desenhar,
escrever, fazer alguma coisa de matemática ou qualquer coisa que lhe venha à cabeça...” (1987,
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p. 73).
Vejamos o que Sara Paín nos fala sobre esta falta de ação na atividade “A hora do jogo”
(atividade trabalhada por alguns psicólogos ou Psicopedagogos que não se aplica à
Epistemologia Convergente, porém é interessante citar para percebermos a relação do sujeito
com o objeto):
No outro extremo encontramos a criança que não toma qualquer contato com os
objetos. Às vezes se trata de uma evitação fóbica que pode ceder ao estímulo.
Outras vezes se trata de um desligamento da realidade, uma indiferença sem
ansiedade, na qual o sujeito se dobra às vezes sobre seu próprio corpo e outras
vezes permanece numa atividade quase catatônica. (1992, p. 53).
De acordo com Visca, o que nos interessa observar na EOCA são “...seus conhecimentos,
atitudes, destrezas, mecanismos de defesa, ansiedades, áreas de expressão da conduta, níveis de
operatividade, mobilidade horizontal e vertical etc (1987, p. 73).
É importante também observar três aspectos que fornecerão um sistema de hipóteses a
serem verificados em outros momentos do diagnóstico:
A temática – é tudo aquilo que o sujeito diz, tendo sempre um aspecto manifesto e
outro latente;
A dinâmica – é tudo aquilo que o sujeito faz, ou seja, gestos, tons de voz, postura
corporal, etc). A forma de pegar os materiais, de sentar-se são tão ou mais
reveladores do que os comentários e o produto.
O produto – é tudo aquilo que o sujeito deixa no papel. (Id. Ibid., 1987, p. 74)
Visca (1987) observa que o que obtemos nesta primeira entrevista é um conjunto de
observações que deverão ser submetidas a uma verificação mais rigorosa, constituindo o
próximo passo para o processo diagnóstico.
É da EOCA que o psicopedagogo extrairá o 1º Sistema de hipóteses e definirá sua linha
de pesquisa. Logo após são selecionadas as provas piagetianas para o diagnóstico operatório, as
provas projetivas psicopedagógicas e outros instrumentos de pesquisa complementares.
Visca reuniu em seu livro: El diagnostico operatório em la practica psicopedagogica, as
provas operatórias aplicadas no método clínico da Escola de Genebra por Piaget, no qual expõe
sucintamente os passos em que usou com grupos de estudo e cursos para o ensino do diagnóstico
psicopedagógico, comentando o porque de cada passo.
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O autor nos alerta que as provas “...no siempre han sido adecuadamente entendidas y
utilizadas de acuerdo com todas las posibilidades que las mismas poseen” (1995, p. 11). Isto se
deve, talvez, a uma certa dificuldade de sua correta aplicação, evolução e extração das
conclusões úteis para entender a aprendizagem.
Segundo Weiss:
Ela ainda nos alerta que não se deve aplicar várias provas de conservação em uma mesma
sessão, para se evitar a contaminação da forma de resposta. Observa que o psicopedagogo deverá
fazer registros detalhados dos procedimentos da criança, observando e anotando suas falas,
atitude, soluções que dá às questões, seus argumentos e juízos, como arruma o material. Isto será
fundamental para a interpretação das condutas.
Para a avaliação as respostas são divididas em três níveis:
Muito interessante o que Weiss nos diz sobre as diferentes condutas em provas distintas:
...pode ocorrer que o paciente não obtenha êxito em apenas uma prova, quando
todo o conjunto sugere a sua possibilidade de êxito. Pode-se ver se há um
significado particular para a ação dessa prova que sofra uma interferência
emocional: encontramos várias vezes crianças, filhos de pais separados e com
novos casamentos dos pais, que só não obtinham êxito na prova de intersecção
de classes. Podemos ainda citar crianças muito dependentes dos adultos que
ficam intimidadas com a contra-argumentação do terapeuta, e passam a
concordar com o que ele fala, deixando de lado a operação que já são capazes
de fazer (2003, p. 111).
Em relação a crianças com alguma deficiência mental ela nos diz que:
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estabelecer em três grandes domínios: o escolar, o familiar e consigo mesmo, através dos quais é
possível reconhecer três níveis em relação ao grau de consciência dos distintos aspectos que
constituem o vínculo de aprendizagem.
Sobre as provas projetivas Weiss observa que:
Para Sara Paín, o que podemos avaliar através do desenho ou relato é a capacidade do
pensamento para construir uma organização coerente e harmoniosa e elaborar a emoção.
Também permitirá avaliar a deteriorização que se produz no próprio pensamento. Esta autora
ainda nos diz que o pensamento fala através do desenho onde se diz mal ou não se diz nada, o
que oferece a oportunidade de saber como o sujeito ignora (1992, p. 61).
De acordo com a Epistemologia Convergente, após a aplicação das provas operatórias e
das técnicas projetivas o psicopedagogo levantará o 2º Sistema de hipóteses e organizará sua
linha de pesquisa para a anamnese que, como já vimos, terá lugar no final do processo
diagnóstico, de modo a não contaminar previamente a percepção do avaliador.
Weiss nos diz que:
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45).
A mesma autora aconselha insistirmos “... nas modalidades para a educação do controle
dos esfíncteres quando apareçam perturbações na acomodação... ” (1992, p. 42).
Weiss nos orienta também saber sobre a história clínica, quais doenças, como foram
tratadas, suas consequências, diferentes laudos, sequelas.
A história escolar é muito importante, quando começou a frequentar a escola, sua
adaptação, primeiro dia de aula, possíveis rejeições, entusiasmo, porque escolheram aquela
escola, trocas de escola, enfim, os aspectos positivos e negativos e as consequências na
aprendizagem.
Todas estas as informações essenciais da anamnese devem ser registradas para que se
possa fazer um bom diagnóstico.
Encerrada a anamnese, o psicopedagogo levantará o 3º sistema de hipóteses. A anamnese
deverá ser confrontada com todo o trabalho do diagnóstico para se fazer a devolução e o
encaminhamento.
Devolução no dicionário é o ato de devolver, de dar de volta (ROCHA, 1996, p. 208). No
sentido da clínica psicopedagógica a devolução é uma comunicação verbal, feita aos pais e ao
paciente, dos resultados obtidos através de uma investigação que se utilizou do diagnóstico para
obter resultados.
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Posterior a esta conduta deverá ser mencionada as recomendações como troca de escola
ou de turma, amenizar a superproteção dos pais, estimular a leitura em casa etc, e as indicações
que são os atendimentos que se julgue necessário como psicopedagogo, fonoaudiólogo,
psicólogo, neurologista etc.
Dados pessoais;
Motivo da avaliação – encaminhamento;
Período da avaliação e número de sessões;
Instrumentos usados;
Análise dos resultados nas diferentes áreas: pedagógica, cognitiva, afetivo-
social, corporal.
Síntese dos resultados – hipótese diagnóstica;
Prognóstico;
Recomendações e indicações;
Observações: acréscimo de dados conforme casos específicos.
Fonte: Texto disponível em: http://www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=489
Veja os quadros a seguir que mostra o esforço de síntese das ideias de Piaget e Inhelder
1941, adaptado de Semrud-Clikman e Hynd 1922:104:
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Dicas de estudo
GARCIA. J. N. Manual de dificuldades de aprendizagem: linguagem, leitura,
escrita e matemática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
Atividade de síntese
1- Faça uma pesquisa na internet ou converse com algum psicopedagogo de sua cidade acerca
dos principais instrumentos de diagnóstico psicopedagógico utilizados atualmente. Anote abaixo
os principais resultados de sua pesquisa.
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2- Qual o objetivo básico do diagnóstico psicopedagógico?
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3- O que é a anamnese?
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Capítulo 4
Dificuldade de aprendizagem da
Matemática: Discalculia
Todo ser humano apresenta algum tipo de limitação em sua vida e possui habilidades
diferentes que são aperfeiçoadas de acordo com desenvolvimento e a prática da mesma. Porém,
algumas pessoas não conseguem desenvolver algumas habilidades cognitivas, apresentando
dificuldades de aprendizagem.
As dificuldades de aprendizagem são uma preocupação constante para professores,
equipe gestora e toda a comunidade escolar. Muitos questionamentos são elencados sobre como
lidar com cada dificuldade apresentada pelos alunos em sala de aula.
Observa-se que uma das grandes dificuldades de aprendizagem dos alunos apresenta-se
na disciplina da matemática. Essa área de aprendizagem para muitos é considerada como um
tormento e pode contribuir para o fracasso escolar.
Dentre as dificuldades de matemática existentes, destaca-se a discalculia, uma
dificuldade que impede a criança de compreender as relações de quantidade, de ordem, de
tamanho, de distância, de espaço e a criança não consegue compreender as quatro operações. As
crianças que apresentam essa dificuldade acabam repudiando o trabalho com os números, muitas
vezes são “rotuladas” pelos colegas de sala, às vezes até pelo professor e pais e acabam sofrendo
muito, fazendo com que a sua autoestima fique muito baixa. O que interfere também a
aprendizagem das demais disciplinas.
A discalculia tem motivado muitos estudiosos e educadores a procurar alguma forma de
fazer alguma intervenção junto a criança discalcúlica. Se não for trabalhado de forma mediadora
e de intervenção em sala de aula e também na família, acarretará em um adulto frustrado no
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futuro.
De acordo com o contexto, toda a reflexão proposta neste estudo e pesquisa tem como
objetivo fazer levantamento das concepções, fatores, teorias que detectam e demonstram o
surgimento da discalculia para uma melhor compreensão desse tema tão abordado e que aflige
tanto a vida escolar das crianças e causa tanta preocupação a toda a comunidade escolar. A
pesquisa também tem como objetivo elencar algumas formas de intervenções junto a crianças
dicalcúlicas através de jogos, uso das tecnologias e acompanhamento dos familiares no
desenvolvimento da aprendizagem de seu filho.
A pesquisa realizada neste estudo foi bibliográfica, na qual iniciou-se com a importância
da disciplina de matemática para a vida de todos os seres humanos, dando sequência com uma
contextualização da dificuldade de aprendizagem no geral e de forma específica na matemática,
a discalculia e formas de intervenções. Esses estudos foram organizados em 3 capítulos, na qual
o 1º capítulo se constitui na contextualização da matemática, a aprendizagem da matemática e o
pensamento matemático, o 2º capítulo refere-se às dificuldades de aprendizagem (DAs) e suas
concepções, distúrbio de aprendizagem, variáveis quanto à dificuldade de aprendizagem e
dificuldade de aprendizagem da matemática (DAM), breve reflexão, e para finalizar o 3º capítulo
refere-se à discalculia e suas concepções, intervenções para o auxílio das crianças que possuem
discalculia, sugestões de jogos para realizar a intervenção junto à criança discalcúlica e o recurso
das tecnologias como forma de intervenções.
Vale ressaltar, que todo o levantamento da pesquisa bibliográfica e os estudos foram
realizados para buscar conhecimento sobre a dificuldade de aprendizagem da matemática, a
discalculia, com o intuito de um melhor entendimento sobre o assunto e possíveis intervenções
que ajudará o professor a lidar com esses problemas em sala de aula.
a criatividade;
interpretação;
senso crítico;
Capacidade de fazer uma análise;
produção de estratégias;
resolução de problemas;
Raciocínio rápido.
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O trabalho com a disciplina de matemática nas escolas deverá sempre ser realizado de
formas dinâmicas e passivas.
O pensamento matemático
(...) A maturação, assim entendida, é uma condição dinâmica que depende das
características neurológicas, neuropsicológicas e psicológicas da pessoa e, em
menor medida, mas de forma importante, também depende do ambiente
(familiar, escolar) em que ocorre o desenvolvimento. Em relação à escola, o
conceito de maturação/disposição costuma ser entendido como o momento em
que tanto o aluno como a própria escola estão em condições de realizar o
processo de ensino e aprendizagem com facilidade, eficácia e sem tensões
emocionais. Isso significa, por um lado, que o aluno alcançou certo nível de
desenvolvimento e que dispõe do cabedal de conhecimentos, habilidades e
interesses que, em conjunto, propiciam a aprendizagem; e por outro, que a
escola dispõe dos recursos humano, materiais, metodológicos, etc. para realizar
o ensino.
Neste contexto, percebe-se que cada aluno tem o seu tempo de aprender e que depende
muito de sua convivência, tanto familiar como escolar, pois o pensamento matemático acontece
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por meio de uma evolução lógica, que se associa ao desenvolvimento mental. Com esse intuito,
segundo a teoria cognitiva de Piaget (1896 – 1980) de acordo com TAILLE; OLIVEIRA e
DANTAS (1992), há evolutivos estágios que se trata do pensamento matemático e que se
associam ao desenvolvimento mental, são eles: sensório-motor, pré-operatório, operatório
concreto e operatório formal.
No primeiro estágio, sensório-motor, a partir dos dois anos de idade, descobrem-se os
símbolos. É a fase que chamamos de egocentrismo, na qual a criança ainda não tem experiências
o suficiente para saber dividir.
No segundo estágio, pré-operatório, a criança passa a ter pensamentos lógicos mais
elaborados.
No terceiro estágio, operações concretas, a criança desenvolve processo de pensamento
lógico, na qual podem aplicar-se na sua realidade com possibilidades de problemas reais,
concretos.
No quarto e último estágio, operatório formal, que se inicia na adolescência, a pessoa é
capaz realizar as suas experiências concretas e construir hipóteses.
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(...) as DAs podem ser qualificadas como generalizadas, por afetar quase todas
as aprendizagens, (escolares e não escolares), e como graves, por serem
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Nesse intuito, o professor precisa estar sempre atento às atitudes que os alunos
apresentam em sala para fazer uma possível análise de qual é o grau de dificuldade apresentado.
As identificações das Dificuldades de Aprendizagens devem ser feitas o mais rápido possível,
com observações cuidadosas da criança e seus comportamentos. Para ajudar a fazer essas
observações, os educadores sempre tem que estar atentos aos sinais contínuos que as crianças
apresentam em sala. No quadro a seguir apresenta-se um quadro de indicadores para as DAs.
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Distúrbio de aprendizagem
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É comum dos seres humanos, segundo BIBLIOTECA (2013), apresentarem algum tipo
de limitação, se um desempenha o canto maravilhosamente o outro já tem certa dificuldade em
desenvolver a mesma atividade, porém sabe dançar melhor que o primeiro. Isso são habilidades
que cada pessoa apresenta e conseguem aperfeiçoar de acordo com desenvolvimento e a prática
da mesma. Ninguém é dono da verdade absoluta e sempre estão propícios a errar, porém essas
inabilidades apresentada são consideradas “comuns”. Em contrapartida, existem pessoas muito
talentosas, mas não consegue desenvolver o cálculo, o raciocínio lógico, a fala, a escrita, a leitura
e infelizmente são rotuladas de “anormais”.
Nesse contexto, é sabido que crianças que não consegue desenvolver inúmeras atividades
escolares, das quais foram citadas acima, são crianças que apresentam algum tipo de dificuldade
de aprendizagem, porém é necessário saber como lidar com a dificuldade de aprendizagem para
não rotular quem a possuem.
Por isso, é fundamental que as crianças com dificuldades de aprendizagem não sejam
vistas como culpadas, e que a escola não sacralize como único valor o rendimento escolar, de
modo que aqueles que tenham dificuldades de aprendizagem sejam bem-aceitos na escola, na
família e na sociedade, circunscrevendo o problema à própria dificuldade de aprendizagem.
(COLL; MARCHESI e PALACIOS, 2004, p.119).
No que se refere ainda, quanto ao rótulo apresentado a quem possuem algum tipo de
dificuldade de aprendizagem, BARBOSA (2008, p. 57), ressalta que:
Mais de 40% dos alunos que cursam as séries iniciais do Ensino Fundamental,
com até 7 anos de idade, apresentam dificuldades em acompanhar o que lhes é
ensinado. Deste, 10% têm algum distúrbio psíquico que compromete o
aprendizado, o equivalente a meio milhão de nossos alunos no Brasil.
Sabe-se que as maiorias dessas crianças não recebem tratamento médico indicado o que
lhe resultará em um adulto que sempre terá algum tipo de dificuldade.
Sabe-se que muitas das dificuldades de aprendizagem apresentadas são decorrentes do
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ambiente no qual o aluno está inserido, em sua cultura familiar. Nesse contexto, entende-se que
muitas crianças que possuem impaciência, inquietude, ou desatenção/distração, entre outras não
apresenta uma dificuldade digamos clínica (distúrbio psíquico), porém precisa de uma
intervenção pedagógica constantemente, pois de acordo com a afirmação de BARBOSA (2008,
p. 17) “mediar à ação de aprender no âmbito escolar é grande tarefa do professor” e realizando
essa mediação ajudará a criança a desenvolver sua maturidade. Quanto à maturidade
WAJNSZTEJN e WAJNSZTEJN (2009, p.27) afirmam que:
Nessa perspectiva, vale ressaltar, que cada aluno tem o seu tempo e a sua técnica de
aprender. Alguns aprendem em um espaço de tempo muito rápido, já outros demoram mais, pois
a técnica de aprendizagem que ele possui é mais demorada. Também, para que a maturação da
criança aconteça é necessário que família e escola tenham uma parceria e caminham sempre
juntas, falando a mesma língua.
Dessa forma, verifica-se, que as disciplinas estão interligadas umas às outras, e para que o
aluno consiga superar a dificuldade da disciplina de matemática é necessário saber interpretar o
que o texto matemático está pedindo.
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Quando o aluno fala, lê, escreve ou desenha, ele não só mostra quais
habilidades e atitudes estão sendo desenvolvidas no processo de ensino, como
também indica os conceitos que domina e as dificuldades que apresenta. Com
isso, é possível verificar mais um aspecto importante na utilização de recursos
de comunicação para interferir nas dificuldades e provocar cada vez mais o
avanço dos alunos. (NACARATO; MENGALI e PASSOS, 2009, p. 45)
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Nesse contexto, como é sabido, boa parte das crianças que apresentam a discalculia é
descoberto na escola. Na escola, esse transtorno pode ser encontrado em seis subtipos listados
abaixo:
Nesta perspectiva, os subtipos ajudam a compreender melhor como o aluno que apresenta
a discalculia age em sala de aula ao aprendizado de matemática. Vale ressaltar que a discalculia é
uma dificuldade que às vezes encontra-se junto com outros tipos de dificuldade como a
Disgrafia, Dislexia e Transtorno de Déficit de Hiperatividade e Atenção (TDAH). “Essa
dificuldade específica na matemática pode ocorrer concomitantemente a outros transtornos de
aprendizagem como: TDAH, Dislexia, atraso de linguagem”. (WAJNSZTEJN e WAJNSZTEJN,
2009, p.187)
É importante salientar que a discalculia não é causada por deficiência mental, por déficit
auditivo ou visual e muito menos por má escolarização. As crianças que sofrem dessa
dificuldade não conseguem entender o que se é expresso na sala de aula, questões que achamos
simples como relação de quantidade, ordem, espaço, distância e tamanho elas não conseguem ter
uma compreensão clara. Também apresentam dificuldades em somar, diminuir, dividir e
multiplicar. Os sinais mais concretos da discalculia são percebidos na faixa etária dos 7 aos 8
anos de idade, quando as crianças começam a estudar o inícios da quatro operações. De acordo
com WAJNSZTEJN e WAJNSZTEJN (2009, p.188-189), alguns sinais de crianças que
apresentam a discalculia podem ser notados frequentemente pelo professor como:
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Desta forma, vale ressaltar, que as crianças que sofrem desse tipo de dificuldade não
sentem preguiça ao realizar as atividades propostas em sala de aula como muitos pais e
professores pensam. Na verdade ela não consegue compreender realmente o que é para fazer.
Neste caso, será necessário encaminhar a criança a profissionais especializados e em sala de aula
o professor também poderá auxiliar na parte pedagógica com intervenções necessárias. É
necessário também, motivar a criança quanto a sua autoestima, para que a mesma não sofra e
encara esse desafio de forma natural do seu aprendizado.
Quando se trata de analisar o domínio dos afetos, nada parece haver de muito
misterioso: A afetividade é comumente interpretada como uma “energia”,
portanto como algo que impulsiona as ações. Vale dizer que existe algum
interesse, algum móvel que motiva a ação. O desenvolvimento da inteligência
permite, sem dúvida, que a motivação possa ser despertada por um número cada
vez maior de objetivo ou situações. Todavia, ao longo desse desenvolvimento, o
princípio básico permanece o mesmo: a afetividade é a mola propulsora das
ações, e a Razão está a seu serviço. (TAILLE; OLIVEIRA e DANTAS, 1992, p.
65).
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de entrar na escola já apresenta alguns traços da dificuldade com a matemática, porém como já
foi dito anteriormente, apenas na escola que acaba tendo certeza, esse problema se não for bem
trabalhado, pode criar um tipo de resistência ou bloqueio emocional, na qual irá interferir em
todo o processo de aprendizagem e acabar se estendendo também na vida adulta.
Outro aspecto importante, é que nem todas as dificuldades encontradas por alguns alunos
no processo de aprendizagem da matemática podem ser detectadas como discalculia. Muitas
vezes o que está acontecendo é apenas uma falta de sintonia entre a relação do aluno com o
professor na forma do fazer ensino/ aprendizagem. O professor consciente chegará a uma
conclusão de que o aluno não sofre desse transtorno da discalculia e irá procurar uma nova
metodologia de ensino junto com o aluno que apresenta a dificuldade. Isso significa que é
preciso ter atenção redobrada e muito cuidado com as escolhas da metodologia aplicada, na qual
a mesma é de fundamental importância para o ensino aprendizagem, para não haver a confusão
de discalculia com dificuldade metodológica que pode ser superada em sala de aula. “O papel do
professor e da professora no processo de ensinar/aprender, portanto, é o de provocar situações
nas quais aprender passe a ser interessante e consequentemente prazeroso.” (BARBOSA, 2008,
p. 25).
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autoestima, pois com esse trabalho constante a criança sentirá encorajada viabilizando assim o
sucesso em suas tarefas que antes pareciam impossível realizá-las.
Outra intervenção necessária para auxiliar as crianças que apresentam a discalculia é o
lúdico, na qual envolvem todo o processo cognitivo, motor e social. O lúdico é um promotor de
aprendizagem que ajuda a criança a vivenciar várias situações e resolver os problemas
encontrados.
Todo o jogo por natureza desafia, encanta, traz movimento, barulho e uma certa
alegria para o espaço no qual normalmente entram apenas o livro, o caderno e o
lápis. Essa dimensão não pode ser perdida apenas porque os jogos envolvem
conceitos de matemática. Ao contrário, ela é determinante para que os alunos
sintam-se chamados a participar das atividades com interesse.
[...]
Por sua dimensão lúdica, o jogar pode ser visto como uma das bases sobre a
qual se desenvolve o espírito construtivo, a imaginação, a capacidade de
sistematizar e abstrair e a capacidade de interagir socialmente. Entendemos que
a dimensão lúdica envolve desafio, surpresa, possibilidade de fazer de novo, de
querer superar os obstáculos iniciais e o incômodo por não controlar todos os
resultados. Esse aspecto lúdico faz do jogo um contexto natural para o
surgimento de situações-problema cuja superação exige do jogador alguma
aprendizagem e um certo esforço na busca por sua solução.. (SMOLE; DINIZ e
CÂNDIDO, 2007, p. 12).
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Assim podemos afirmar, que o jogo é uma intervenção precisa para as crianças
discacúlicas, na qual ajudará as mesmas a sanar algumas de suas dificuldades.
Nesse contexto, seguirá algumas sugestões de jogos que poderá ser aplica as crianças que
apresentam dificuldade de aprendizagem ou discalculia, na qual poderá ajudar a despertar o
raciocínio lógico-matemático, a criatividade, a atenção, concentração, esforço, socialização,
quantidade, ordenação, habilidades motoras, ritmo, entre outras.
Vale ressaltar que os jogos descritos abaixo foram retirados das obras de LOPES (2005) e
GOMES E FERLIN (2009).
1. LISTA DE COMPRAS
Objetivo: Trabalhar raciocínio matemático e estratégias de leitura.
Material: Papel pardo, caneta hidrocolor, sulfite, fita adesiva, lápis de cor ou giz de cera.
Desenvolvimento:
• O educador irá elaborar, junto com a criança, um quadro de coisas que se compra no supermercado que
serão registrados em fichas.
• Em seguida, as crianças em grupo irão fazer os desenhos em outras fichas que serão anexadas no quadro
grande.
• O desafio será o grupo encaixar as fichas escritas no desenho correspondente.
• O grupo que conseguir o maior número de acertos ganhará um prêmio.
Outras possibilidades:
• Classificar: salgado, doce, frutas, etc.
• Os próprios alunos poderão trazer vazias para montarem um supermercado.
• Trabalhar o raciocínio matemático simulando situações de compra e venda. (FERLIN E GOMES, 2009.
p. 128)
2. SEMPRE 9
Objetivos: Facilitar a integração. Estimular o raciocínio lógico-matemático, atenção, concentração, esforço,
perspicácia e interesse pelo conhecimento.
Material: Peças de dominó.
Desenvolvimento:
• Grupo de 3.
• O aluno apresentará uma peça do dominó. De um lado da peça dois elementos e, do outro 4 elementos.
O outro participante deverá completar até dar o número 9 e assim sucessivamente.
Outras possibilidades:
• Ter mais de um jogo e trabalhar o grupo com todo, obedecendo a uma sequência.
• Não dando mais para agrupar o número 9, deverão somar quantos pontos sobraram. (FERLIN E
GOMES, 2009. p. 134).
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• Solicitar que pulem e saltem ao redor dos cartões seguindo o ritmo de uma música qualquer.
• Quando o educador der o sinal e indicar um determinado número, todos deverão parar no respectivo
número.
Outras possibilidades:
4. NÚMEROS EM GRUPOS
Objetivos: Desenvolver o raciocínio lógico-matemático, quantidade, grupo e ordenação. Trabalhar as habilidades
motoras, ritmo, atenção.
Material: Cartazes com números de 1 a 9.
Desenvolvimento:
• O educador conduz as crianças a uma área livre, orientando-as a caminharem desordenadamente em
várias direções batendo palma. Num dado momento, dá um sinal para prepararem apresentando um cartaz
com um dos números pedindo que se organizem em subgrupos, de acordo com o número solicitado.
• Colocar a mão sobre os ombros, uns dos outros, formando colunas.
• O educador dará as seguintes ordens para as colunas: “Andar para frente, andar para trás, andar de lado,
andar apoiados nos calcanhares, andar a passos largos, depressa, pisando forte, lentamente, pontas dos pés,
etc.
Atenção: Caso algum aluno não consiga entrar em formação de acordo com o número indicado por falta de
elementos, solicitar que procurem entre os cartazes o números correspondente à sua formação.
Outras possibilidades:
• Na formação de colunas, sugerir ordem crescente e decrescente.
• Sugerir que intercalem crianças altas e baixas.
• Na formação de grupos diferentes, indagar: Quantos números faltam para chegar ao número solicitado?
Quantos sobraram? Se eles se juntarem a um outro grupo, quantos ficarão?
• Números pares e ímpares (agrupamento).
• Formar figura geométrica de acordo com a ordem do locutor.
• Jogo de bingo com numerais e com a soma deles.
• Dominó de adição/subtração. (FERLIN E GOMES, 2009. p. 138-139).
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• Usar fichas com os numerais escritos (para leitura), ao jogar o dado a crianças lê a sua cartela.
• Dividir a turma em dois grupos. Ao jogar o dado, imediatamente as crianças deverão agrupar-se de
acordo com o número correspondente e o mediador poderá solicitar algumas propostas como: digam três
palavras que vocês acreditam serem importantes para um bom relacionamento na turma. Escolham dois
elementos do grupo para cantar/representar, etc.
• Usar material de sucata. Jogar o dado em duplas e pedir que montem aquele número com o material
disponível, desenvolvendo também a criatividade.
• Trabalhar antecessor e sucessor.
• Ordem crescente e decrescente.
• Observar as características da figura espacial (sólido-geométrica).
• Em grupos, elaborar situações-problemas contextualizadas (jogar os dados alternamente, identificar os
números), utilizando as quatro operações.
• Sugerir que montem com o próprio corpo o número referente ao dado. (FERLIN E GOMES, 2009. p.
140-141).
6. SETE-E-MEIO
Objetivos: Desenvolver e exercitar a habilidade do caçulo mental, desenvolver o raciocínio lógico-matemático e
trabalhar antecipação e estratégia.
Material: Papel-cartão, tesoura, cola, lápis preto e canetas hidrográficas.
Estratégia: O papel-cartão é medido e calculado para ser dividido pelo número de cartas necessárias ao jogo. Para a
realização deste jogo serão necessárias 40 cartas, que segue abaixo a descrição de como se dividirá:
A confecção do baralho poderá ser feita em grupo, sendo as tarefas bem distribuídas para uma completa integração
de trabalho cooperativo.
Como jogar: Escolhe-se uma banca, que deverá distribuir as cartas. Cada jogador recebe 2 cartas, olha-as e faz uma
aposta com fichas. O objetivo é conseguir com a soma das cartas o número 7,5 onde cada figura vale 0,5. Também,
pode-se ganhar o jogo com uma soma menor que 7,5, desde que seja a maior soma entre os participantes. Em caso
de empate com a banca, é ela que fica com as fichas. Cada vez que o jogador faz a maior soma, leva todas as fichas
da mesa. (LOPES, 2005, p. 115-116).
7. POUPANÇA
Objetivo: Desenvolver o raciocínio lógico-matemático, desenvolver o caçulo mental, introduzir conceitos
matemáticos, trabalhar a soma, trabalhar a coordenação motora, desenvolver a socialização, reconhecimento e
habilidades com moeda, desenvolver o espírito cooperativo.
Material: Cartolina de cor clara, tesoura, moldes circulares, lápis e canetas hidrográficas.
Estratégia: O jogo pode ser confeccionado por toda a classe, num trabalho cooperativo. Em classes numerosas é
melhor confeccionar dois jogos.
Para cada jogo, divide-se a cartolina em trinta cartas iguais, nas quais serão desenhadas as figuras de moedas; para
isso são utilizados os moldes circulares e escritos os numerais da seguinte forma:
• Sete cartas um centavo.
• Seis cartas de cinco centavos.
• Seis cartas de dez centavos.
• Sete cartas de cinquenta centavos.
• Quatro cartas de um real.
Como jogar: Todas as cartas são distribuídas pelos participantes. Cada jogador põe suas cartas numa pilha à sua
frente, voltadas para baixo. Quando chega a sua vez, retira uma carta: se for um real, coloca-a na poupança, caso
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contrário, deixa-a virada para cima sobre a mesa. O próximo jogador faz o mesmo, caso não tire um real, soma a
carta da mesa com a sua. E se o resultado der um real, coloque as cartas na poupança, caso contrário, deixa também
a sua carta sobe a mesa, e assim sucessivamente, até que todos terminem suas cartas. Vence quem tiver mais
dinheiro na poupança. (LOPES, 2005, p. 123-124,125)
Nesta perspectiva, vale ressaltar, que cada jogo destes acima descritos, pode ser adaptado
de acordo com a série/idade de cada criança.
A tecnologia está presente em nosso meio e acaba por acompanhar a vida das crianças de
uma forma ou de outra. Em boa parte das escolas já estão disponíveis laboratório de informática
para ser usado como ferramenta no ensino-aprendizagem.
Neste contexto, um recurso importante e que merece destaque, para fazer a intervenção
junto com as crianças que apresentam dificuldade de aprendizagem e discalculia, é o uso das
tecnologias. Com toda essa modernidade acontecendo, que tanto atrai as crianças, cabe ao
professor explorar essas novas ferramentas e usá-las da melhor forma possível. “As técnicas, em
suas diferentes formas e usos, constituem um dos principais agente de transformação da
sociedade, pelas implicações que exercem no cotidiano das pessoas.” (BRASIL, 2001, p. 46).
A calculadora é uma ótima ferramenta que pode ajudar a criança na sua aprendizagem
matemática. Segundo (BRASIL, 2001, p. 46), afirma que:
O computador, por exemplo, que as crianças gostam muito de usar e que para muitos já
faz parte de seu cotidiano, é uma ótima ferramenta para auxiliar as crianças, quanto a sua
habilidade, erros e acertos, interação, entre outros. “O computador é muito atraente para as
crianças, pois possibilita a ela a realização de atividades virtuais muito além das suas
possibilidades reais.” (LOPES, 2005, p. 132). Pode-se trabalhar com as crianças diversos jogos
no computador, individualmente ou em duplas, procurando sempre ter como objetivo principal
do jogo o raciocínio lógico-matemático, criatividade, atenção, interação, noção tamanho,
espaçamento, conhecimento dos números, sinais das quatro operações (+, -, x e:), concentração,
regras e limites, etc.
O computador pode ser usado como elemento de apoio para o ensino (banco de dados,
elementos visuais), mas também como fonte de aprendizagem e como ferramenta para o
desenvolvimento de habilidades. O trabalho com o computador pode ensinar o aluno a aprender
com seus erros e aprender junto com seus colegas, trocando suas produções e comparando-as.
(BRASIL, 2001, p. 48)
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Considerações finais
Vá há alguma escola de sua região e veja se há algum caso de crianças discalcúlicas, converse
com a professora e com a equipe responsável pelo atendimento dessa criança. Verifique quais
foram os sinais apresentados para o diagnóstico, qual o encaminhamento adequado e se esta
criança está sendo atendida por um psicopedagogo. Anote suas principais conclusões.
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Capítulo 5
Matemática: O Processo De
Ensino-Aprendizagem
Clarice Lúcia Schneider
Introdução
Ao iniciar sua vida escolar, a criança inicia o processo de alfabetização, não só em sua
língua materna como também na linguagem Matemática, construindo o seu conhecimento
segundo as diferentes etapas de desenvolvimento cognitivo; um bom ensino nesse nível é
fundamental.
[...] o aprendizado das crianças começa muito antes delas frequentarem a escola.
Qualquer situação de aprendizado com a qual a criança se defronta na escola
tem sempre uma história prévia. Por exemplo, as crianças começam a estudar
aritmética na escola, mas muito antes elas tiveram alguma experiência com
quantidades – elas tiveram que lidar com operações de divisão, adição,
subtração e determinação de tamanho. Consequentemente, as crianças têm a sua
própria aritmética pré-escolar, que somente psicólogos míopes podem ignorar
(VYGOTSKY, 1989, p. 94-95).
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social das crianças, ao desenvolvimento do seu potencial, de sua expressão e interação com o
meio.
A utilização de técnicas lúdicas: jogos, brinquedos e brincadeiras direcionadas
pedagogicamente em sala de aula podem estimular os alunos a construção do pensamento lógico-
matemático de forma significativa e a convivência social, pois o aluno, ao atuar em equipe,
supera, pelo menos em parte, seu egocentrismo natural. Os jogos pedagógicos, por exemplo,
podem ser utilizados como estratégia didática antes da apresentação de um novo conteúdo
matemático, com a finalidade de despertar o interesse da criança, ou no final, para reforçar a
aprendizagem.
Um cuidado metodológico muito importante que o professor precisa ter, antes de
trabalhar com jogos em sala de aula, é de testá-los, analisando suas próprias jogadas e refletindo
sobre os possíveis erros; assim, terá condições de entender as eventuais dificuldades que os
alunos poderão enfrentar. Contudo, devemos ter um cuidado especial na hora de escolher jogos,
que devem ser interessantes e desafiadores. O conteúdo deve estar de acordo com o grau de
desenvolvimento e ao mesmo tempo, de resolução possível, portanto, o jogo não deve ser fácil
demais e nem tão difícil, para que os alunos não se desestimulem (BORIN, 1995).
Conforme afirmam FIORENTINI e MIORIM (1996),
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nesses materiais e estratégias didáticas a solução, a fórmula mágica para os problemas que veem
enfrentando no cotidiano escolar.
O material didático da área de Matemática utilizado no curso de Pedagogia para
Formação de Professores das Séries Iniciais do Ensino Fundamental: Contactos Matemáticos do
Primeiro Grau nos ajudaram a construir novos conceitos e ideias sobre a Matemática e,
principalmente, nos ajudaram a escolher a maneira correta de facilitar o processo de ensino-
aprendizagem dos alunos.
Nossas reflexões foram fundamentadas nos 9 (nove) fascículos Contactos Matemáticos
do Primeiro Grau de Reginaldo Nunes de Souza Lima e Maria do Carmo Vila. Os conteúdos
matemáticos abordados neste material didático estão relacionados com o currículo dos anos
iniciais do Ensino Fundamental. Para sugerir como ensinar esses conteúdos de modo que eles
não sejam traumáticos para os alunos.
Nesse contexto, nosso trabalho se divide em momentos. No primeiro, abordaremos os
assuntos: Inteligências Múltiplas e Raciocínio Lógico-Matemático; no segundo, discutiremos
como se dá o inicio do processo de contagem na criança e o ensino de Geometria; no terceiro,
trataremos sobre a importância da iniciação da Estatística nas séries iniciais do Ensino
Fundamental.
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fim na organização da tarefa, ou seja, já vem realizada por outro, não pelo aprendiz. A
Matemática vem sendo usada nos dias atuais, como disciplina que se esgota em ensinar os
conceitos dos números, das formas, das relações, das medidas e das interferências, sendo que
suas características exigem rigor e exatidão. Por ela ser totalmente interdependente, não se
esgota em ensinar um currículo matemático obsoleto, que não interessa ao aluno e está bem
longe de nossa realidade sócio-cultural.
As críticas a cerca dos resultados quanto ao ensino da Matemática, buscam atividades que
não só eduquem, mas que trabalhem na formação social do individuo. Isso apenas é possível
quando o aprendizado está voltado à realidade vivenciada pelo aluno, e este seja percebido nas
aulas pelo professor de matemática. O ambiente só influencia em seu aprendizado, ou seja, o
professor deve aceitar essas influências, mudando seu posicionamento em relação ao aluno.
Tem que haver uma compreensão maior por parte da escola e dos professores de como
apresentar os conteúdos matemáticos, para que os alunos aprendam e gostem da Matemática. O
professor deve usar formas que consistam em: abstrair, entender, compreender sem modelo de
conhecimento, um dado de informação, transformando-o de modo próprio e pessoal para
incorporá-lo e assimilá-lo sinteticamente: aprender, apreender, entender, compreender para
apossar-se, transformar e incorporar.
Para o professor deflagrar ideais na cabeça do aluno, ele precisa apresentar situações–
problemas instigantes, levantar questionamentos que induzam o aluno a pensar. Nunca dando a
resposta, sempre dialogando até que ele mesmo consiga estabelecer relação (pingue-pongue),
sempre ouvindo o que o aluno tem a acrescentar sobre o assunto, sem criticá-lo ou ridicularizá-
lo.
No fascículo 1, capítulo 6, foi possível observar diferentes sugestões segundo a proposta
AME. Através dessas propostas de um caminho arquimediano é possível vencermos todas as
dificuldades que o ensino de Matemática apresenta. Uma das soluções é trabalhar com
simuladores da Matemática em vários níveis, pois quando há interação, as estruturas cognitivas
da criança se ativam e, então, vislumbram e geram estruturas de maior valia.
Os simuladores podem ter várias funções como: facilitar as atividades corporais, obter
informações a partir de manipulações, fazer registros a partir de manipulações e permitir a
ampliação do conhecimento. É muito importante observar que, com esse tipo de trabalho, o
conhecimento não é dado pelo professor para o aluno, mas é sim, puxado de dentro do aluno.
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A avaliação da aprendizagem
A avaliação escrita não deve ser o único instrumento para decidir sobre aprovação ou
reprovação do aluno. O seu uso deve ser somente o de verificar a progressão cognitiva do aluno.
A avaliação escolar também é contraindicada para fazer um diagnóstico sobre a personalidade do
aluno, pois sua abrangência limita-se aos objetivos do ensino do programa escolar e para fazer
prognóstico de sucesso na vida. Contudo, o seu mau emprego pode expulsar o aluno da Escola,
causar danos em seu autoconceito, impedir que ele tenha acesso a um conhecimento
sistematizado e, portanto, restringir a partir daí suas oportunidades de participação social.
Assim, podemos perceber a profundidade com que deveria ser tratada a questão da
avaliação pelas escolas e pelos mestres e mais até, pelas famílias, pilares que são do contexto
social e modelo de organização da nação. Não é exagerado dizer que a boa formação cultural,
bem como a melhoria não só nos níveis de ensino-aprendizagem, mas de toda a sociedade e os
padrões de vida melhores buscados, passam pela efetiva e consequente aplicação de uma
estrutura avaliativa adequada, que busque fomentar as condições de ensino, enquanto seja capaz
de elevar o nível das propostas de ensino surgidas.
No conceito emitido por Sant'anna (1995, p. 7):
A avaliação, nas três últimas décadas, passou a ser discutida com maior intensidade,
tendo sido objeto de muitos estudos, propostas de trabalho, preocupação dos sistemas de ensino e
até mesmo de controvérsias.
Quando trabalhamos em uma perspectiva de construção de conhecimentos, devemos
considerar que nossos alunos estão inseridos em um processo e, portanto, avaliar o processo
significa coletar dados e elementos para conhecer o que eles já conseguiram construir e qual a
raiz de suas dificuldades.
Assim, torna-se incoerente uma única avaliação de todo o processo, realizado ao final de
determinadas etapas. Se assim o fizermos, estaremos considerando apenas o produto final para
julgá-lo como “certo ou errado” e não procurando conhecer as dificuldades de nossos alunos
para ajudá-los a superá-las. Sem esquecer que a avaliação também pode orientar nosso trabalho
em sala de aula.
A avaliação deve ser contínua. Não precisa de um dia em especial, com uma arrumação
especial na sala. Também não precisa ser sempre através de um mesmo tipo de instrumento (em
geral a prova escrita). Devemos estar atentos às formas como nossos alunos estão respondendo
aos desafios que apresentamos dia a dia. Assim é possível perceber o nível de compreensão dos
nossos alunos sobre conteúdos trabalhados para intervir em seu auxilio e, nesse sentido, a
avaliação é também diagnóstica ou investigadora.
Através das observações que fazemos dia-a-dia em sala de aula (que podem ser
registradas em um caderno de anotações), podemos avaliar o uso que as crianças são capazes de
fazer do seu conhecimento, como organizam esses conhecimentos em diferentes situações, quais
os avanços e retrocessos que as crianças fazem na construção do conhecimento.
É fundamental ver o aluno como um ser social e político sujeito do seu próprio
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desenvolvimento. O professor não precisa mudar suas técnicas, seus métodos de trabalho:
precisa isto sim, ver o aluno como alguém capaz de estabelecer uma relação cognitiva e afetiva
com o meio circundante, mantendo uma ação interativa capaz de uma transformação libertadora,
que propicia uma vivência harmoniosa com a realidade pessoal e social que o envolve.
A avaliação que durante décadas foi um instrumento ameaçador e autoritário, ainda
continua sendo um dos grandes nós da educação contemporânea, pois muitos professores,
principalmente de matemática, a utilizam como sendo um instrumento excludente. Isso nos leva
a repensar o papel da avaliação durante o processo educativo, que segundo Mere Abrsamowicz:
“[...] é fundamental saber que o próprio docente pode adotar por conta própria modelos mais
modernos de avaliar seus estudantes”, (Revista Fala Mestre, p. 23. ano 2004).
[...] Inútil tentar descrever o que não se viu, o que não foi trabalhado e nem
motivo de reflexão. Assim, se o professor fizer apenas o registro das notas dos
alunos nos trabalhos, ele não saberá descrever, após um tempo, quais foram às
dificuldades que cada aluno apresentou, o que ele fez para auxiliá-lo a
compreender aquele aspecto. Da mesma forma, o professor que só faz anotações
dos alunos em termos de sua conduta, não poderá descrever outros aspectos do
seu desenvolvimento. Registros significativos são construídos pelo professor ao
longo do processo. Sua forma final é apenas uma síntese do que vem ocorrendo,
uma representação do vivido , HOFFMAN (Revista Fala Mestre, p. 118, 2004).
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Da Contagem
Os homens primitivos não tinham necessidade de contar, pois o que necessitavam para a
sua sobrevivência era retirado da própria natureza. A necessidade de contar começou com o
desenvolvimento das atividades humanas, quando o homem foi deixando de ser pescador e
coletor de alimentos para fixar-se no solo.
O homem começou a plantar, produzir alimentos, construir casas, proteções, fortificações
e domesticar animais, usando os mesmos para obter a lã e o leite, tornando-se criador de animais
domésticos, o que trouxe profundas modificações na vida humana. As primeiras formas de
agricultura de que se tem notícia, foram criadas há cerca de dez mil anos na região que hoje é
denominada Oriente Médio.
A agricultura passou então a exigir o conhecimento do tempo, das estações do ano e das
fases da lua e assim começaram a surgir as primeiras formas de calendário.
No pastoreio, o pastor usava várias formas para controlar o seu rebanho. Pela manhã, ele
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soltava os seus carneiros e analisava ao final da tarde, se algum tinha sido roubado, fugido, se
perdido do rebanho ou se havia sido acrescentado um novo carneiro ao rebanho. Assim eles
tinham a correspondência um a um, onde cada carneiro correspondia a uma pedrinha que era
armazenada em um saco.
No caso das pedrinhas, cada animal que saía para o pasto de manhã correspondia a uma
pedra que era guardada em um saco de couro. No final do dia, quando os animais voltavam do
pasto, era feita a correspondência inversa, onde, para cada animal que retornava, era retirada uma
pedra do saco. Se no final do dia sobrasse alguma pedra, é porque faltava algum dos animais e se
algum fosse acrescentado ao rebanho, era só acrescentar mais uma pedra. Hoje, a palavra cálculo
é derivada da palavra latina calculus, que significa pedrinha.
A correspondência unidade não era feita somente com pedras, mas também com nós em
cordas, marcas nas paredes, talhes em ossos, desenhos nas cavernas e outros tipos de marcação.
O Fascículo 2 de Matemática nos colocou em contato com o sistema de numeração,
situando a numeração no tempo e espaço como processo dinâmico da representação numérica
que resultou na construção de um sistema mais funcional, ou seja, o hindu-arábico. Nesse
sistema as bases de numeração não decimal constituem uma importante ferramenta pedagógica
para o entendimento da base dos números naturais, adição, subtração, multiplicação, divisão e
potenciação.
A estrutura lógico-matemática de número não pode ser ensinada diretamente porque a
criança tem que construí-la, reportando-nos aos Parâmetros Curriculares Nacionais de
Matemática temos que:
A partir disso, podemos utilizar diferentes recursos didáticos para encorajar a criança a
pensar ativamente, estimulando o desenvolvimento de sua estrutura mental, por exemplo, o jogo
é um excelente recurso didático a ser utilizado nas aulas de Matemática, pois enquanto jogam, os
alunos compartilham, interagem significados, confrontam ideais e reorganizam o pensamento
através do diálogo que ocorre entre eles e com o professor.
Através do Fascículo 3 entendemos o processo das operações no conjunto dos Números
Naturais, os algoritmos, a divisão euclidiana, o jogo do MINIMAC e as situações concretas para
a aprendizagem da potenciação.
Ao estudar os Fascículos 2 e 3 de Matemática desenvolvemos com os alunos da 3ª série
do Ensino Fundamental Sapezal as atividades do Trajeto 50 e do Jogo do Resto. Nesses jogos os
alunos tinham como principal tarefa resolver atividades de adição, subtração, divisão e
multiplicação, usando cálculos mentais. Essa é uma maneira de deixar o aluno desenvolver sua
própria técnica de cálculo e não permitir que ele fique limitado ao processo ensinado pelo
professor.
Em todos os países, independentemente de raças, credos ou sistemas políticos, a
matemática faz parte do currículo educacional desde os primeiros anos de escolaridade, ao lado
da língua materna. Um fato notável de natureza surpreendente é que, mesmo no tempo em que se
dizia que as crianças iam à escola para aprender a ler, a escrever e a contar, o ensino da
matemática e o da língua materna não conseguiam articular uma aprendizagem significativa em
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conjunto. É como se as duas disciplinas, apesar de longa convivência sob o mesmo teto,
permanecessem estranhas umas às outras.
É sabido que mesmo as tentativas mais singelas de iniciação ao conhecimento
matemático pressupõe um conhecimento da língua materna, ao menos em sua forma oral, e tal
dependência não passa, no entanto, de uma trivialidade, com a agravante de ser inespecífica, uma
vez que se aplica igualmente a qualquer outro assunto que se pretenda ensinar. Assim, a
aprendizagem da matemática não viria simplesmente a reboque da língua materna, mas
constituiria, em certo sentido, uma superação dessa linguagem.
É certo que a matemática apresenta dificuldades específicas, no entanto, tais dificuldades
não parecem suficientes para justificar a postura diante da aprendizagem, tão natural no caso da
língua materna e tão discriminadora no caso da matemática. A questão fundamental a ser tratada,
no entanto, não é a da precedência ou da preponderância, mas sim a da articulação consistente
entre a língua materna e a matemática, tendo em vista o desenvolvimento do raciocínio.
De fato, se não se admitem predisposições inatas para o conhecimento matemático, que
seria todo ele passível de construção a partir apenas de mecanismos gerais para o
“funcionamento da inteligência”, comuns a todos os indivíduos, como pretendeu Piaget, isto
deveria ter, como consequência, a inteligibilidade do modesto desempenho em matemática da
grande maioria das pessoas.
Piaget iniciou seus estudos experimentais sobre a mente humana e começou a pesquisar
também sobre o desenvolvimento das habilidades cognitivas. Seu conhecimento de biologia
levou-o a enxergar o desenvolvimento cognitivo de uma criança como sendo uma evolução
gradativa. Em Genebra ele iniciou o maior trabalho de sua vida, ao observar crianças brincando e
registrar meticulosamente as palavras, ações e processos de raciocínio delas.
A partir da observação cuidadosa de seus próprios filhos e de muitas outras crianças,
concluiu que em muitas questões cruciais as crianças não pensam como os adultos. Por ainda
lhes faltarem certas habilidades, a maneira de pensar é diferente, não somente em grau, como em
classe.
A criança é concebida como um ser dinâmico, que a todo o momento interage com a
realidade, operando ativamente com objetos e pessoas. Essa interação que ela faz com o
ambiente permite que ela construa estruturas mentais e adquira maneiras de fazê-las funcionar.
A escola deve partir dos esquemas de assimilação da criança, propondo atividades
desafiadoras que provoquem desequilíbrios e equilibrações sucessivas, promovendo a descoberta
e a construção do conhecimento. “O número envolve a quantificação de objetos discretos e,
portanto, não pode ser ensinado através da extensão, que é uma quantidade contínua”, KAMI,
(p.59).
Das Frações
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séries, mas também na 5ª e na 6ª, quando habitualmente se faz uma revisão do que já foi visto
sobre o tema e se vai adiante, apresentando-se as operações com frações.
Todo o trabalho com frações pode ser feito a partir de situações-problemas, isto é,
desafios para que os alunos descubram soluções de pequenos problemas.
A prática mais comum para explorar o conceito de fração é a que recorre a situações em
que está implícita a relação parte-todo; é o caso das tradicionais divisões de um chocolate, ou de
uma pizza, em partes iguais. “ Muitos e muitos poetas, na Antiguidade, exaltaram o número. Pois
o número é de essência divina”. (M. A. AUBRY, 1952)
A descoberta das soluções fica mais fácil, no início, se os alunos utilizarem material
concreto: peças recortadas em plástico, madeira, papel, papelão ou cartolina. Se isto for
completamente impossível, é importante que os alunos façam com a ajuda do professor, todos os
desenhos que acharem necessários para compreender o problema e encontrar a solução.
Seguindo esse caminho, pode-se ter a impressão de que, afinal, os alunos vão aprender
muito pouco sobre frações. É verdade que eles não se tornarão capazes de calcular expressões
complicadas com frações, mas isto não faz falta. O importante é que se familiarizem com o
conceito de fração. Para isso, precisam trabalhar muitos problemas e, no início, sempre com
material concreto (recortado ou desenhado), pouco a pouco eles se libertarão naturalmente das
figuras recortadas ou desenhadas, resolverão mentalmente os problemas mais simples e até
mesmo descobrirão regras que passarão a aplicar com compreensão. É importante que o
professor incentive esse processo de libertação gradual do aluno em relação ao material concreto.
Para as operações com frações, é conveniente que continuem usando desenhos até que o
professor tenha certeza de que, para eles, as regras de operações não são apenas receitas
decoradas, mas problemas compreendidos.
Em matemática, como em quase tudo, mais vale a qualidade do que a quantidade. No
caso, qualidade significa compreensão e capacidade de procurar soluções, quantidade significa
fazer cálculos mecanicamente, com grande eficiência, sem entender o que se está fazendo.
Através dos fascículos 4 e 5 foi possível analisarmos os números racionais pela
representação de dizimas. Primeiro as dízimas limitadas e depois a transformação de dízima
limitada em fração decimal e vice-versa, a transformação da dízima periódica simples e
composta em frações não decimais, a construção de frações e classes de equivalência. Também
vimos operações com números racionais representados por frações e a simplificação de
expressões fracionárias complexas.
O conhecimento matemático deve ser apresentado aos alunos historicamente construído e
em permanente transformação, permitindo assim a compreensão da Matemática em sua prática
filosófica, cientifica e social e o lugar que ela tem no mundo.
Para o professor trabalhar frações de uma maneira simples com os alunos, ele deve
mostrar que fracionar é dividir um todo em partes iguais, por exemplo, um chocolate ou uma
pizza. No papel usar desenhos pintando algumas partes outras não. Assim ficará mais fácil para a
criança saber que o número total de partes que é o denominador e a parte pintada é numerador.
A criança que trabalha em grupos e com atividades lúdicas aprende a respeitar o modo de
pensar do outro e a argumentar para fazer valer seu conhecimento e suas opiniões.
Da Geometria
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Até algum tempo, o ensino da geometria era praticamente excluído do currículo escolar,
ou então era desenvolvido em aula expositiva na qual o aluno não conseguia aprender, pois não
conseguia estabelecer relações do que a escola ensinava com aquilo que vivenciava. Somente
esta constatação bastaria para suscitar questionamentos sobre a contribuição da geometria para a
formação dos indivíduos; no entanto, outros fatos vieram reafirmar essa necessidade: verifica-se,
por exemplo, a pouca capacidade de percepção espacial em um grande número de pessoas nas
múltiplas atividades profissionais.
O ensino de geometria contribuiu na formação do aluno favorecendo, como aponta
Wheeler (1981, p. 352), “um tipo particular de pensamento – que busca novas situações, sendo
sensível aos seus impactos visual, interrogando sobre eles”. Ela permite o desenvolvimento da
“arte da especulação” traduzida na questão “o que aconteceria se...”, que expressa o estilo
hipotético-dedutivo do pensamento geométrico (WHEELER, id.ibid.).
Os conceitos geométricos constituem parte importante do currículo da matemática no
Ensino Fundamental, porque, por meio deles, o aluno desenvolve um tipo especial de
pensamento que lhe permite compreender, descrever e representar, de forma organizada, o
mundo em que ele vive.
A Geometria apresenta-se como um campo profícuo para o desenvolvimento da
capacidade de abstrair, generalizar, projetar, transcender o que é imediatamente sensível, que é
um dos objetivos do ensino da matemática, oferecendo condições para que níveis sucessivos de
abstração possam ser alcançados. Partindo de um nível inferior, no qual reconhece as figuras
geométricas, embora as percebendo como todos indivisíveis, o aluno passa, no nível posterior, a
distinguir as propriedades dessas figuras; estabelece, num terceiro momento, relações entre as
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figuras e suas propriedades, para organizar, no nível seguinte, sequências parciais de afirmações,
deduzindo cada afirmação de uma outra, até que, finalmente, atinge um nível de abstração tal
que lhe permite desconsiderar a natureza concreta dos objetos e do significado concreto das
relações existentes entre eles. Delineia-se, desta forma, um caminho que, partindo de um
pensamento sobre objetos, leva a um pensamento sobre relações, as quais se tornam,
progressivamente, mais e mais abstratas.
A aprendizagem em Matemática está ligada à compreensão do significado: apreender
significado de um objeto ou acontecimento pressupõe vê-lo em suas relações com outros objetos
e acontecimentos. (Parâmetros Curriculares Nacionais da Matemática, MEC, p.19 apud
ABRANTES, 1999, p. 17)
Podemos dizer que o conhecimento matemático geométrico faz parte do patrimônio
cultural da humanidade, portanto, a sua apropriação é um direito de todos. É inconcebível que a
escola e o professor não proporcione ao aluno a oportunidade de aprender esse conhecimento de
forma significativa, estabelecendo relações com o mundo visível. Tirar do aluno o privilégio de
aprender geometria é a mesma coisa que lhe negar o direito à educação literária, científica e
artística, já que nas formas geométricas presentes no nosso mundo visível esses três patamares se
evidenciam a todo o momento.
A Estatística é uma ciência baseada na teoria das probabilidades cujo principal objetivo é
o de nos auxiliar a tirar conclusões, em situações de incerteza, as partir de informações
numéricas de uma determinada amostra. É a técnica auxiliar do estudo dos fenômenos coletivos,
econômicos, sociais e científicos. É um método de observação, de descrição, de mensuração e de
interpretação dos fenômenos coletivamente típicos e da indagação de suas uniformidades e
relações, conforme Crespo (2002 p. 13): “A Estatística é uma parte da Matemática Aplicada que
fornece métodos para a coleta, organização, descrição, análise e interpretação de dados e para
utilização dos mesmos na tomada de decisões”.
Os métodos estatísticos nos conduzem a conclusões sobre causa e efeito de determinado
fenômeno estudado e permitem testar teorias relativas ao consumido, por exemplo: o economista
os usa para escolher, dentre as possíveis formas de uma função teórica de consumo, a que melhor
explica os dados observados, o médico emprega a técnica estatística nos resultados de testes de
avaliação de um novo medicamento, o agricultor para decidir qual das fórmulas de fertilizantes é
preferível. Também, os resultados de uma eleição ou do julgamento da qualidade de um
determinado produto industrial, podem ser determinados estatisticamente.
O principal objetivo do ensino da Estatística, conforme nos diz Nazareth (1994 p. 6)”[...]
é oferecer o máximo de informação em um mínimo de espaço, constitui numa ferramenta muito
importante no desenvolvimento de uma disciplina científica”, logo podemos utilizar a Estatística
em sala de aula, incentivando e decidindo com a turma qual o assunto a ser pesquisado.,
portanto, é importante que o professor desperte o interesse estatístico em seus alunos quanto ao
surgimento da Estatística, contando a sua história. ´
É interessante que os alunos saibam que desde a Antiguidade, vários povos já registravam
o número de habitantes, de nascimentos, de óbitos, faziam estimativas das riquezas individual e
social, distribuíam equitativamente terras ao povo, cobravam impostos e realizavam inquéritos
quantitativos por processos que, hoje, chamaríamos de estatísticos, e assim, mostrando aos
alunos como surgiu o conhecimento estatístico.
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Considerações finais
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Texto complementar
Abordagem Cognitiva das Formas de Aprender Matemática
Não são de interesse as ferramentas que guardam características de métodos de ensino que privilegiam
simplesmente a transmissão de conhecimento e em que a ‘medida’ de aquisição deste conhecimento é dada pela
habilidade do aluno em memorizá-lo e reproduzi-lo, sem que se evidencie um verdadeiro entendimento. Mas sim
aquelas que trazem em seus projetos recursos em consonância com concepção de aprendizagem dentro de uma
abordagem construtivista, a qual tem como princípio que o conhecimento é construído a partir de percepções e
ações do sujeito, constantemente mediadas por estruturas mentais já construídas ou que vão se construindo ao
longo do processo, tomando-se aqui a teoria do desenvolvimento cognitivo de Jean Piaget como base teórica.
Esta teoria mostra que toda a aprendizagem depende fundamentalmente de ações coordenadas do sujeito,
quer sejam de caráter concreto ou caráter abstrato.
No contexto da Matemática, a aprendizagem nesta perspectiva depende de ações que caracterizam o ‘fazer
matemática’: experimentar, interpretar, visualizar, induzir, conjecturar, abstrair, generalizar e enfim
demonstrar. É o aluno agindo, diferentemente de seu papel passivo frente a uma apresentação formal do
conhecimento, baseada essencialmente na transmissão ordenada de ‘fatos’, geralmente na forma de definições
e propriedades. Numa tal apresentação formal e discursiva, os alunos não se engajam em ações que desafiem
suas capacidades cognitivas, sendo-lhes exigido no máximo memorização e repetição, e consequentemente não
são autores das construções que dão sentido ao conhecimento matemático. O processo de pesquisa vivenciado
pelo matemático profissional evidencia a inadequabilidade de tal abordagem. Na pesquisa matemática, o
conhecimento é construído a partir de muita investigação e exploração, e a formalização é simplesmente o
coroamento deste trabalho, que culmina na escrita formal e organizada dos resultados obtidos! O processo de
aprendizagem deveria ser similar a este, diferindo essencialmente quanto ao grau de conhecimento já
adquirido.
“Das minhas observações dos homens e rapazes inclino-me a pensar que a minha
forma de estudar é a forma comum, a forma natural, e que os professores a
destroem e substituem por qualquer coisa que conduz ao ensino mecânico”. (John
Perry, 1901)
Os conceitos em matemática não se absorvem da noite para o dia. Eles são absorvidos lentamente, ao longo de
um período de experiências matemáticas. A principal origem das experiências matemáticas para a maior parte
dos alunos é provavelmente a aula de Matemática. Assim, aquilo que se faz na sala de aula influenciará
extremamente as convicções dos alunos. Estes aprendem muito mais que os conteúdos matemáticos das
experiências da sala de aula. Eles desenvolvem também concepções (formas de encarar a Matemática) que
podem ajudá-los – ou constrangê-los.
Quando crianças aprendem Matemática na escola fazem-no na sala de aula, onde certas normas de conduta
estão estabelecidas implícita ou explicitamente. Estas normas influenciam a forma como as crianças interagem
com o professor e com os colegas, o que, por sua vez, influencia a Matemática que as crianças aprendem e como
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a aprendem.
Quando são dadas às crianças oportunidades de conversar acerca da sua compreensão da Matemática, surgem
problemas genuínos de comunicação. Estes problemas, assim como as próprias tarefas matemáticas, constituem
oportunidades para aprender Matemática.
Jean Piaget defende que certos tipos de aprendizagem só acontecem depois dos dez ou onze anos. À
aprendizagem que começa nesta fase chamou “aprendizagem formal”. O que se aprende no estádio formal não
tem raízes na vida real, isto é, na vida social e afetiva da criança e no meio cultural que a cerca. Segundo
Piaget, a criança “tem” de aprender essas coisas por meio do ensino formal.
Seymour Papert pensa, porém, que Piaget se enganou ao pensar que determinados conhecimentos e “skills” têm
de ser aprendidos formalmente, enquanto outros são aprendidos naturalmente. Ele acredita, tal como Piaget,
que a criança constrói as suas próprias estruturas intelectuais. O seu ponto de discórdia é quanto ao papel
atribuído ao meio cultural como fonte de “materiais de construção”. É a abundância do meio cultural em
determinados “materiais” que proporciona que determinadas aprendizagens se processem de forma natural,
enquanto a ausência de outro tipo de materiais pode levar a que outras aprendizagens só ocorram após ensino
deliberado. A questão fundamental na aprendizagem da Matemática está em criar uma cultura, um ambiente
rico em “materiais” que estimule a aprendizagem natural.
Quando são apresentadas aos alunos tarefas que fazem sentido a eles, encorajando-os a resolvê-las, em vez de
seguirem procedimentos que tenham sido apresentados pelo professor, desenvolvem uma variedade de
estratégias para alcançar a solução. Numa situação desafiante, as crianças utilizam os conhecimentos que já
têm para desenvolver raciocínios com significado pessoal.
Os alunos não só são capazes de desenvolver as suas estratégias para realizar as tarefas da Matemática
escolar, mas também, cada um deles pode construir o seu próprio conhecimento matemático. Isto é, o
conhecimento matemático não pode ser dado às aos alunos. Pelo contrário, eles desenvolvem conceitos
matemáticos quando se entregam a atividades matemáticas, incluindo a apreensão de “métodos” e explicações
que veem ou ouvem de outros. Este ponto de vista implica que na escola sejam proporcionadas aos alunos
atividades adequadas ao desenvolvimento de problemas matemáticos genuínos. Estes problemas dão-lhes
oportunidade para refletir e reorganizar as suas formas de pensar.
A Matemática é uma atividade humana criativa e a interação social na sala de aula desempenha um papel crucial
quando se aprende Matemática.
Tanto a interação professor-aluno como a que se processa entre os alunos influenciam o que é aprendido e
como é aprendido. O professor toma um papel crucial ao conduzir o desenvolvimento do que Silver (1985)
chamou uma atmosfera de resolução de problemas, um ambiente no qual as crianças se sentem livres para
conversar das suas matemáticas.
O papel do professor é indispensável também para que a regra da turma de que se deve ajudar sempre os
colegas, não seja secundária, mas sim um aspecto central do papel dos alunos (Slavin, 1985, p. 16). Desde que
esta regra seja assumida, oportunidades para a aprendizagem, que não estão presentes no ensino tradicional,
crescem na medida em que as crianças colaboram entre si.
Nota-se ainda que os alunos aprendem muito mais do que Matemática neste tipo – ou qualquer tipo – de
situações de sala de aula. Desenvolvem convicções sobre a Matemática, sobre o seu papel e o do professor.
Além disso, um sentido do que é valorizado desenvolve-se com atitudes e formas de motivação.
Acima de tudo a abordagem que encoraja os alunos a conversar acerca dos seus “métodos” de solução sem os
avaliar pela sua correção é caracterizada pelo desenvolvimento de uma confiança mútua entre o professor e os
alunos. O professor confia nos alunos e incita-os a tentarem resolver os seus problemas de Matemática e,
consequentemente, sente-se livre para lhes pedir que descrevam o seu pensamento. Os alunos confiam que o
professor respeita os seus esforços e consequentemente entram nas discussões explicando como realmente
compreenderam e tentaram resolver os seus problemas de Matemática.
(http://cienciabiasoto.com.br/abordagem-cognitiva-das-formas-de-aprender-matematica/)
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Atividades de síntese
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atividades avaliativas
1- Piaget diferenciava três tipos de conhecimento de acordo com suas fontes e modos finais de
estruturação: conhecimento físico, conhecimento social ou convencional e conhecimento lógico-
matemático. Em que consiste cada um deles? O que distingue o conhecimento lógico-
matemático do conhecimento físico e social?
2- Pesquise e saiba mais a respeito da discalculia, destaque como a criança que é portadora da
discalculia poderá aprender, como você como psicopedagogo pode ajudar estas crianças?
3- Faça uma síntese de como ocorrem os processos de ensino e aprendizagem da contagem, das
frações e da geometria.
4- Fernández (1990) afirma que o diagnóstico, para o terapeuta, deve ter a mesma função que a
rede para um equilibrista. É ele, portanto, a base que dará suporte ao psicopedagogo para que
este faça o encaminhamento necessário. Nesse sentido, elabore um planejamento de quais as
estratégias você como psicopedagogo utilizará para o diagnóstico.
- Não se esqueça de colocar um cabeçalho nas suas atividades para enviá-las. Este cabeçalho
deverá SEGUIR O MODELO A SEGUIR:
UNICOIMBRA
CURSO:
MÓDULO:
ALUNO:
CIDADE:
Atividades sem esta identificação não serão corrigidas.
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