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comunicativos em sistemas que até aí se definiam como sistemas de acção orientados pela
percepção psíquica dos estados psíquico-orgânicos dos agentes directamente envolvidos em
sistemas de interacção muito limitados.
O recurso a símbolos facilita a comunicação que implica coordenação entre acções e
vivências que se atribuem a agentes diferentes - ego e alter numa relação mínima. A escrita e
em geral a evolução tecnológica dos Media vem amplificar o valor da comunicação com base
em símbolos para reduzir complexidade em sistemas de interacção e em sistemas formais
(organizações) ou funcionalmente diferenciados (sistemas parciais da sociedade). A tendência
para comunicar com símbolos e sobre símbolos em vez de comunicar sobre estados psíquicos
tende a acentuar-se e a reforçar-se com a evolução social e eles tornam-se então
indispensáveis na resolução de problemas que implicam redução da contingência e da
complexidade no encadeamento de selecções em que estão presentes várias possibilidades e
em que as preferências dos agentes não são directamente conhecidas.
Na época do livro sobre o Poder, em que o tema dos meios de comunicação
generalizados do ponto de vista simbólico constituía um assunto nuclear, o poder era descrito
com base no binário acção / vivência distribuído pelos pólos ego / alter da análise da acção
que se podia encontrar na Sociologia de T. Parsons e nos trabalhos fenomenológicos de A.
Schutz. Muitas das direcções analíticas relevantes no par acção / vivência se relacionam ainda
com a Fenomenologia e as teses fenomenológicas. Esta é uma influência já muito notória no
trabalho sobre a Confiança como Mecanismo de Redução da Complexidade (1968). Alguns
anos depois, em 1982, em Liebe als Passion, o mesmo binário distribuído pelos mesmos dois
pólos é retomado de uma forma desenvolvida para a análise do meio de comunicação “amor”.
Uma parte eloquente destes trabalhos em que o poder é escrutinado ao lado de outros
meios simbólicos está centrada no problema da redução social da complexidade e da
contingência mediante a generalização social de ordenamentos emergentes da auto-
organização da acção social e da sua estabilização normativa mediante a referência a códigos
simbólicos generalizados pela escrita. A emergência e generalização social da ordem é uma
questão que se pode encontrar entre as preocupações teóricas de A. Gehlen e de H. Schelsky
ou nos escritos de F. Hayek muito embora não seja possível traçar uma linha inequívoca de
filiação até N. Luhmann. Mas não se pode ignorar o problema da ordem nas formulações
sobre estabilidade normativa na obra sobre Sociologia do Direito mesmo que a estratégia
analítica desta época seja considerada mais tarde insuficiente. Todavia, o conceito de ordem
não chega a ganhar na obra de N. Luhmann uma autonomia temática suficiente para se poder
considerar uma noção nuclear, o que significa que a análise do poder não tem de se polarizar
exclusivamente ou maioritariamente pelo tema da ordem social.
A singularidade da perspectiva da Teoria dos Sistemas reside na articulação que
estabelece entre formas da comunicação e formas do exercício do poder. Na medida em que
os três níveis da Teoria da Sociedade (interacção, organizações e sistemas sociais parciais)
reflectem todos formas da comunicação o poder socialmente generalizado tem de ser
entendido como poder comunicativamente generalizado e não como poder exercido por
indivíduos sobre outros abstraindo da comunicação. O carácter segmentável e distribuído do
poder na sociedade é uma prova da sua difusão comunicativa e não tanto do facto de ele ser
exercido por indivíduos sobre indivíduos. Deste ponto de vista a análise causal do poder, em
que percebemos como “poder” a capacidade de produzir efeitos, como potência activa, não é
falsa mas tem de ser percebida segundo um prisma comunicativo, de tal modo que as formas
da comunicação se não reduzam a componentes psíquicos. Aqueles elementos e relações
típicos da análise do poder da tradição da Filosofia Prática que partem do isolamento de
sujeitos das preferências, das decisões e das acções e da identificação de motivações,
propósitos conscientes e graus de imputabilidade têm de se sujeitar a uma reformulação de tal
forma que sem negar as dimensões volitivas sublinha as estruturas comunicativas de alcance
sistémico-funcional ou as formas comunicativas menos institucionalizadas como as que se
dão na interacção. Só assim se conseguirá evitar o problema habitual da Filosofia Política
convencional, utilitarista ou deontológica, que parte da categoria do sujeito individual do agir,
das suas preferências ou do seu dever, para daqui retirar depois consequências para o
comportamento dos agregados sociais e políticos.
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forma da mediação linguística que permite estruturar a experiência que recorre a símbolos na
distinção entre sim / não; verdadeiro / falso. Assim, o apoio da estrutura de um código
mobilizado nos meios simbólicos é uma oposição binária tecida pela negação simples. Esta
exprime-se na distinção basilar querer / não-querer e pode aplicar-se ao detentor do poder na
relação com os não-detentores. A negação simples lógico-linguística tende a reforçar o valor
opositivo em que o próprio código se estrutura e os respectivos aspectos semânticos.
Por outro lado, a análise do poder como meio simbólico não pode evitar defrontar-se
com a individuação e diferenciação dos outros meios simbólicos como o “amor”, o “dinheiro”
ou a “verdade” que igualmente estão coordenados com determinadas especificações
funcionais da sociedade moderna como a família, a economia ou o sistema da ciência. Saber
como opera o poder implica descrever as distinções de outros meios simbólicos e
compreender como elas se relacionam com a diferenciação funcional. Por este motivo, a
teoria do poder implica a teoria da diferenciação social, a caracterização aqui da diferenciação
funcional e mais particularmente a diferenciação dos meios simbólicos.
Em Poder o tema sociológico do poder como meio simbólico é investigado em
relação com a acção, com o binário acção / vivência e com o sistema social a partir da
seguinte questão geral: como é possível na sociedade a especialização de um domínio
consagrado à transmissão social de reduções de possibilidades da acção (LUHMANN,
1975: 19).
O tema é então esclarecer os mecanismos da transmissão da redução de possibilidades
da acção entre agentes situados em cadeias de acções reciprocamente condicionadas.
Ao analisar o meio do poder N. Luhmann mostra a importância da modalização e do
desenvolvimento de perspectivas sobre a acção com base em representações de alternativas.
São estas que garantem a densidade particular ao meio do poder e não já a orientação fáctica
segundo esta ou aquela via determinadas em sentido imperativo. O poder abre possibilidades
na modalidade de redução de possibilidades e assim traça aquelas possibilidades que podem
ser também para os outros revelando assim o problema da aceitabilidade social das
possibilidades reduzidas para sujeitos possíveis. Poder não é forçosamente mandar.
Da construção contrafáctica, modalizada, da relação de poder se segue que o poder é
uma relação que se desenvolve em dois níveis: um deles que permite descrever o poder na sua
dimensão de potencialidade e o outro que o descreve como relação situacional do exercício de
poder – o plano da actualização do poder.
No uso habitual do conceito de poder estão presentes as notas da causalidade e da
resistência. Estas últimas foram relacionadas com a ideia de um cálculo das condições e
possibilidades de aplicação das forças num jogo de interacção de forças e de poderes com
referência a opositores actuais ou potenciais, mas que só tomam lugar porque o problema da
aceitação social das possibilidades reduzidas do poder foi introduzido pelo próprio poder. O
grau de actualidade e virtualidade do uso do poder ou da ameaça do recurso ao poder e da
resistência é referido nas concepções políticas do poder, não só por estas terem de conceber
assim a distinção entre aliados e opositores mas também por com base nessa graduação se
referir o poder à violência como uma possibilidade sua sem se confundir nela.
A análise do poder implica então a descrição completa da diferenciação do meio de
comunicação que mobiliza o poder como símbolo e os seus tipos e graus de modalização. Os
meios de comunicação generalizados do ponto de vista simbólico foram desenvolvidos para
interacções específicas e para a solução de problemas que emergem nas interacções. Na
medida em que as diferentes formas de interacção se sobrepõem e se coordenam podemos
usar o termo da Fenomenologia e falar num “mundo da vida” estruturado nessas interacções e
nos tipos simbólicos que asseguram a reprodução de determinadas sequências comunicativas,
de vivências e de acções. O uso que N. Luhmann faz do conceito de “mundo da vida” da
Fenomenologia parte de dois aspectos nucleares: i) do carácter do “dado por garantido” de
certo tipo de crenças sobre a realidade circundante e sobre o que é esperado da interacção que
conduz a padronizações de expectativas, a antecipações por projecção e a pré-compreensão de
motivações; ii) o carácter de latência do pré-concebido e de possibilidades que no modo da
pré-concepção constituem um halo virtual projectivo a que aponta o conceito de mundo.
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selectivo e sequencial sobre possibilidades práticas que as tecnologias do poder abrem e não
tanto esta direcção determinada de um imperativo ou exercício do mando.
É claro que se o poder se generaliza socialmente nas condições modernas mediante a
sua crescente afirmação como uma tecnologia, isso significa que o poder não pode ter um
carácter violento e directamente impositivo.
5. Protesto
Referências Bibliográficas
(os textos de Niklas Luhmann mencionados referem-se aos trabalhos mais directamente relacionados
com o tema do poder e do sistema político e não é uma lista exaustiva)
BAECKER, Dirk e o. a. (Hrsg.). (1987). Theorie als Passion. Niklas Luhmann zum 60.
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IDEM (1971). Theorie der Gesellschaft oder Sozialtechnologie – Was leistet die
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IDEM (1982a). Liebe als Passion. Zur Codierung von Intimität, Frankfurt/M.
IDEM (1984). Soziale Systeme. Grundriß einer allgemeinen Theorie, Frankfurt / M.:
Suhrkamp.
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IDEM (1996a). Die Neuzeitlichen Wissenschaften und die Phänomenologie, Wien: Picus
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IDEM (1996b). Protest. Systemtheorie und soziale Bewegungen. Frankfurt / M.: Suhrkamp.
IDEM (1997). Die Gesellschaft der Gesellschaft, 2 Bd., Frankfurt / M.: Suhrkamp.
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