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ASCENSÃO DA CAMPANHA POLÍTICA ONLINE: OBSERVAÇÃO DA

CAMPANHA DE JAIR MESSIAS BOLSONARO NAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS


DE 2018

Desireé Barbosa Santiago

RESUMO

Apresenta uma breve análise do aumento da importância das redes sociais para a
campanha política, utilizando como exemplo o caso do presidente eleito em 2018, Jair
Messias Bolsonaro. Baseando-se na literatura sobre o tema, compila diferentes aspectos
que possam ter contribuído para a vitória de um candidato que utilizou a internet como
principal plataforma, tais como crescente aumento da busca por informações online e
personalismo atenuado pela importância política da mídia.

Palavras-chave: Redes Sociais. Campanha Online. Jair Messias Bolsonaro.

1. INTRODUÇÃO

Segundo a literatura tradicional da comunicação política, a mídia vem aumentando


gradualmente sua importância como instituição, principalmente após o fim da Ditadura
Militar no Brasil. (LIMA, 2009). Tanto o jornalismo impresso, quanto o rádio e a
televisão passaram a ser associados como um importante ator político, algo que
Albuquerque1 chama de “Fourth Estate”. A mídia é vista por muitos autores como
agente formadora de opiniões, não apenas como controladora, mas também permitindo
que os indivíduos acatem ou rejeitem a imposição de idéias e interajam com os
conteúdos (KELLNER, 2001). Assume um papel na construção do conhecimento da

1 In. ALBUQUERQUE, A. Em nome do público: jornalismo e política nas entrevistas dos


presidenciáveis ao Jornal Nacional. E-Compós (Brasília), v. 16, p. 1-23, 2013.
população, ao mesmo tempo em que aumenta a competição política fazendo com que
atores e instituições políticas disputem por visibilidade.

Apesar do destaque adquirido pela mídia começaram a aparecer dificuldades para a


manutenção desse poder político; problemas como a taxa de analfabetismo, a
estagnação do jornalismo impresso e a falta de democratização na distribuição de
informações foram geradas pelo oligopólio dos veículos de comunicação em massa.
Em 2006, 58% dos eleitores utilizava a televisão como principal fonte de informação
política, sendo que, para campanhas destinadas aos cargos de prefeito e vereador existe
apenas o Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral nos municípios que possuem
geradoras de televisão próprias (LIMA, 2009); sendo que, na pesquisa feita pelo Atlas
da Notícia2 , aparece que 25% dos municípios brasileiros não possuem emissora de TV
própria. Além dos problemas de acesso da população, somam-se as legislações que
restringem a propaganda eleitoral, e a exigência da prestação de contas da campanha,
que evidencia os gastos com mídia e divulgação.

Com o avanço da tecnologia e a crescente popularidade da internet, um novo espectro


de divulgação e procura por informação se consolidou. Acreditava-se, até 2014, que as
redes sociais possuíam um potencial muito maior do que o que era explorado pelas
campanhas (BAPTISTA, 2016), além de facilitar a interação citada por Kellner. Entre
as várias teorias do sucesso desse meio na política é importante ressaltar que a mídia
tradicional já fez crescer o personalismo, o que aumenta ainda mais com perfis na
internet. “No final das contas, a indicação de que as redes sociais criam laços mesmo
entre usuários distantes faz com que os eleitores possam ter a impressão de que,
efetivamente, têm alguma importância para aquele candidato que se dispôs a segui-lo.”
(JAMIL, 2011, p. 216). Quando se inclui o fato de que as regulamentações para
campanha na internet ainda deixam muitas brechas3 e a rapidez com que funciona o
mundo online, torna-se compreensível o aumento da busca por informações na internet
(vide tabela).

2 https://www.atlas.jor.br/
3 http://www.justicaeleitoral.jus.br/arquivos/propaganda-eleitoral-na-internet
FONTE: Datafolha (2018) 4

2. O CASO BOLSONARO

A eleição de 2018 foi inédita por diversos motivos, mas, principalmente, pela vitória de
um candidato de partido pequeno, sem grandes feitos políticos e com pouca verba de
campanha declarada. No caso de Jair Bolsonaro a popularidade nasceu de polêmicas
que colocavam um setor conservador da sociedade, que até então não tinha muita
representatividade, em evidência.

Além de constantes criticas da mídia por seu comportamento imponente, o presidente


eleito participou apenas de dois dos oito debates entre presidenciáveis, e de algumas
entrevistas como no programa Roda Viva e no Jornal Nacional, e teve apenas 8
segundos de propaganda eleitoral no primeiro turno. Por conta de um atentado sofrido
durante os comícios, o candidato se ausentou, e preferiu dar uma entrevista dentro de
sua casa enquanto acontecia o debate final do primeiro turno. Apesar de possivelmente
ter sido prejudicado pela falta aos debates, contribuindo para uma opinião contrária à
sua candidatura e ficando aberto ao ataque dos adversários (VASCONSCELLOS,
2015), Bolsonaro foi eleito utilizando a plataforma que mais tende a crescer no jogo
político: a internet.

Somente no perfil do Twitter5 são 2,61 milhões de seguidores, somando-se às 8.870.598


curtidas em sua página do Facebook 6 e mais de 2,3 milhões de inscritos no canal do

4 http://media.folha.uol.com.br/datafolha/2018/09/12/f57e60bb0d259d2f9084d4f3ff460465mi.pdf

5
https://twitter.com/jairbolsonaro
YouTube7 . Com 55,13% dos votos8 no segundo turno o presidente foi eleito fazendo
propaganda nas redes sociais e contando com grande influência da conjuntura atual do
país. Com mensagens no WhatsApp procurou atingir os jovens de classe média alta que
compõem a maioria do seu eleitorado; e fugindo dos debates combateu ao máximo ser
atacado por opiniões contrárias, evitando a interação com os eleitores por conta da
dificuldade em controlar a repercussão. (STROMER-GALLEY, 2000). Apesar de uma
tendência do eleitor de acessar apenas o conteúdo com que concorda (PIPPA NORRIS,
2003), Jair Bolsonaro conseguiu fortalecer o apoio que já possuía e, principalmente, o
Twitter e o Facebook permitiram que conquistasse os indecisos (JAMIL, 2011).

Apesar de a conjuntura do país ter colaborado, a estratégia do presidente eleito tende a


ficar cada vez mais comum. Espera-se que nas próximas eleições a importância das
redes sociais no papel de ator político tende a aumentar exponencialmente, junto com a
demanda de acesso à informação e a cobrança do eleitorado por uma maior proximidade
nas decisões do governo. Possivelmente, em alguns anos, a internet passe a ocupar
grande parte do espaço da mídia tradicional.

6
https://www.facebook.com/jairmessias.bolsonaro/

7
https://www.youtube.com/user/jbolsonaro/videos?app=desktop

8
http://www.tse.jus.br/eleicoes/estatisticas/repositorio-de-dados-eleitorais-1/repositorio-de-dados-
eleitorais
3. REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE, A. Em nome do público: jornalismo e política nas entrevistas


dos presidenciáveis ao Jornal Nacional. E-Compós (Brasília), v. 16, p. 1-23, 2013.

BAPTISTA, Érica Anita et al. O uso do Facebook nas eleições presidenciais


brasileiras de 2014: a influência das pesquisas eleitorais nas estratégias das
campanhas digitais. Revista Fronteiras, Rio Grande do Sul, v. 18, n. 2, p. 145-157,
maio. 2016.

GOMES, W. Transformação da política na era da comunicação de massa. São


Paulo: Paulus, 2004.

JAMIL, Francisco Paulo; SAMPAIO, Rafael. Internet e eleições 2010 no Brasil:


rupturas e continuidades nos padrões mediáticos das campanhas políticas online.
Revista Galáxia, São Paulo, n. 22, p. 208-221, dez. 2011.

KELLNER, Douglas. A cultura da mídia – estudos culturais: identidade e política


entre o moderno e o pós-moderno. Bauru, SP: Edusc, 2001.

LIMA, Venício A. de. Revisitando sete teses sobre mídia e política no Brasil.
Comunicação & Sociedade, v. 30, n. 51, p. 13-33, 2009.

NORRIS, P. Preaching to the Converted? Pluralism, Participation and Party


Websites. Party Politics, v. 9, n. 1, p. 21–45, 2003,

STROMER-GALLEY, J. Online Interaction and Why Candidates Avoid It. Journal


of Communication, v. 50, n. 4, p. 111-132. 2000.

VASCONCELLOS, F. Os personagens em ação: uma proposta de análise das


estratégias retóricas dos candidatos nos debates presidenciais na TV. In: 39º
Encontro Anual da Anpocs, Minas Gerais, 2015.
4. LINKS

http://media.folha.uol.com.br/datafolha/2018/09/12/f57e60bb0d259d2f9084d4f3ff4604
65mi.pdf

http://www.justicaeleitoral.jus.br/arquivos/propaganda-eleitoral-na-internet

http://www.tse.jus.br/eleicoes/estatisticas/repositorio-de-dados-eleitorais-1/repositorio-
de-dados-eleitorais
https://twitter.com/jairbolsonaro

https://www.atlas.jor.br/

https://www.bolsonaro.com.br/

https://www.facebook.com/jairmessias.bolsonaro/

https://www.youtube.com/user/jbolsonaro/videos?app=desktop

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