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DESTAQUES EDITORIAIS MULHER BRASILEIRA E ASSIM Heleieth |. B. Saffioti © Monica Mufioz-Vargas (orgs.) Rilo de Janeiro: Rosa dos Tempos/NIPAS; Brat DF: UNICEF, 1994 © Nucleo: Interdisciplinar de Pesquisa © Agio Social do Rio de Jansiro, com apoio do UNICEF, langou re Centemente esta importante antologia, qué retine ar- tigos sobre diferentes aspectos da particioagao da mulher na sociedade brasileira. Embora o enfoque pi- mordial soja a situagéio da mulher, a coletdnea pre- tende despertar seus leitores para’ os problemas re lativos & Infancia 6 & adolescéncia, uma das principais reas de atuapdo do UNICEF. Ressalta também a im: portancia de ‘levantamentcs do dados, segundo o 0X0, que possam abalizar diagnésticos’ precisos so- bre a realidade das criangas brasieiras. Entre 0s tpicos abordados polos varias autores estéo educacio, trabatho, satide reprodutiva, violéncia de género, identidade feminine, particioagao politica e legisiagéo. Flvia Rosemberg, por exemplo, observa fem seU artigo que embora a mulher brasileira apra- sente, em média, maior nivel de escolarizagao que os homens, ela ainda ocupa grande parte das carroiras profissionais mal-remuneradas © pouco prestigiadas. ‘Ja Cristina Bruschini expde as tondénoias recentes do perfil da mulher trabalhadora mediante a andlise com parativa de dados das PNADs (Pasquisa Nacional por Amostra de Domicllio) de 1281 © 1990. No quo se refere satide reprodutiva, Maria Carranza ciscuta, enire outras questoes de grande impacto para a mu: ther brasileira, a queda da taxa de fecundidade © 0 aborto. Em seguida, Heleieth Satfioti aborda o tema da violéncia de génaro, focalizando a violencia fisica da mulher no interior do grupo familiar. A questio ra- cial € tratada por Sueli Cameiro através da reflexdio das diferentes ordens de subordinacao entre as iden- fidades socials, como resultado de um processo his- térico-cutural. A participagio politica das mulhares, fem aspecial no proceso de redemocratizagio do Bra: Cad, Pesa., Sto Paulo, 7.92, p. 89-92, fev. 1995 AEE Aa OTST OO LTE ET TT sil, @ analisada por Celi Pinto, seja mediante formas institucionais, ou pela atuacao em movimentos sociais © populares. Examinando a logislagéo brasileira atual passada no que conceme mulher, & cidadania aos direitos humancs, Leila Barsted levanta varias questées sobre as contradigses entre o sistema juri- ico © a realidade social das muihores brasiteiras. Fi- nalizando a oletdnea, um postacio de Saffiti discute variagSes do concelto de género em diferentes areas do conhecimento, O livto apresenta um panorama importante no 86 para o trabalho do UNICEF, como para aqueles en- volvides com 08. problemas’ relatives a infancia e & mulher na sociedade brasileira. TRABALHO, SUBJETIVIDADE E PODER Marla Inés Rosa Sao Paulo: EDUSP/Letras & Letras, 1994. 228 p. Enfocando operarios de indistria dtica — “antigos de casa’ — demitidos, a autora examina com rigor cien- tiico, mas também’ com grande sensibiidade pessoal, © processo de perda vivenciado por aqueles trabaiha- dores. As relagdes de poder estabelecidas dentro da fé- brica — que acabam permeando @ maha de cada subjetividade envolvida — sfio dissecadas com base a matriz explicativa de M. Foucault. Nesse contexto, ‘0 discurso do empregador # 0 contraponto necessério as voz0s, ora asseriivas @ criticas, ora titubeantes © emocionadas, dos dispensados. O cenério 6 comple- tado polo exame da atuagéo do sindicato junto @ em- presa © aos trabalhadores. © estudo inova em diversos sentidos, principal- mente pondo a nu a afirmagao do “ser trabalhador’, afirmagao essa consttuida de profundo prazer e de- dioagdo ao “labor”, de construgao de um saber técnica 89 insubstituivel e dé momentos do resisténoia — muda ou articulada — & exploragao, Enfim, trata-se de um texto rigoroso @ sensivel, ou, nas palavras de Sergio Adorno, que assina 0 Pre. facio (citando Weber), “uma oportunidade para ver as realidades da vida, © a forga da alma que € capaz de suporté-las @ elevar-se a altura deias” Dagmar M. L. Zibas CIDADANIA E COMPETITIVIDADE, DESAFIOS EDUCACIONAIS DO TERCEIRO MILENIO Guiomar Namo de Melo Sto Paulo: Cortez, 1994 Em 1992, um lvro sacuciu © marasmo das escolas brasileiras: Magistério primério, da competéncia técni- 2a 20 compromisso politico. A polmica entre, de um lado, os “competontes”, ¢ de autre, 08 "compromises. dos” fez correr ros de tina até quo se tornasee visi vel, mesmo para os mais recalctrantes, a natureza dialética da polaridade competéncia/compromisso. Enguanto 0 debate se alastrava, a entac protes- sora © pesquisadora Guiomar Namo de Molo, respon. sével por todo este reboligo intelectual, continuot fa. zendo seus caminhos, Vitou secretéria municipal Ja Educagao, depois deputada, depois consullora inter. nacional de projetos. Pédo vivenciar, analisare inter- pretar 0 fendmieno educativo brasileiro, assumindo, na Pratica, os mais diferentes pontos de vista: da sala de aula, dos Cantros de Pesquisa, do Executive, oo Legilativo, das organizagées financiadoras. Filho dessa trajetria é o lvro Cidadanta @ com- Petividade, desatios edtucacionais do tercoiro milénia, parico em 1993, ‘Ao revistat 0 toma de competéncia aa escola — sem & qual nao pode existir competitividade — e do ‘compromise politico — sem o qual néo se constréi cidadania —, Guiomar mostra que suas idéias muda- Yam mas permaneceram as mesmas, “Nunca as mes- mas flores, sempre a primavera", diz @ autora, citando © Lio das mutagdes escrito pot seus ancestrais chi- fneses ha mais de tr€s mil anos Ela parte de uma sintose do que se discute hoje no mundo sobre Educapdo ¢ traga um retrato cruel {a inefciéncia do ensino fundamental om nosso pais. Depois do diagndstico, apresenta a lista de remédios, ‘Sho propostas exasperantemente exeqiiveis. Pare- com ao alcance da mao de qualquer diigente capaz de moblizar competéncia © compromissos para tirar 0 papel o direito de todos a uma escola de boa qua- ‘idade. Como diz Paulo Leminsky, “essa histéria ou que- ror ser exatamente 0 que a gente é, ainda val nos levar além’. Guiomar, essa técnica “eficiente dentro da loucura @ paixéo que continua vivenda pala esco- le’, vai atém. Quer amemos ou detestemos as idéias que de- fende, ¢ indispensavel conferitas. Madza Jullta Nogueira RAIZES E ASAS CENPEC — Centro de Pesquisas para Educagao © Cultura Sao Paulo, 1994 Conjunto composto de uma série de fasciculos, uma fita de video e um livro, Produzido pelo CENPEC, com © apoio do UNICEF e do Banco ital, Raizes @ Asas 8 dastinado aos que estéo empenhados na constru- ‘go coletiva de um projeto que visa A malharia da ‘qualidade do ensino basics. Os temas tratados so: “a escola @ sua fungao social’, "gestio — compromisso de todos’, “trabalho coletivo na escola’, “projeto de escola", “o'ensinar © Destaques.. © aprender’, “como ensinar’, “a sala de aula” @ “ava- liagao 9 aprendizagem’. O material foi coneebido para ser utilizado pela equipe de educadores de uma mes- ma escola, © presta-se a programas de formagio do protessores em servigo, Deverd sor distbuide gratui- tamante as escolas da rade publica que © adotarem. A equipe do CENPEC percorreu varias regiSes do pals, visitando escoias que, de algum mod, iniciaram lum proceso de renovacae. Todas as situagdes que sorvam de exemple a reflexdo propasta no material ‘80 ‘eliradas da realidade vivida por educadors ¢ ‘alunos das escolas brasileiras, Mostram que malhorar @ escola nao é um sonho impossivel POR UMA ESCOLA DE CIDADAOS Ministério da Educagao e do Desporto Brasilia: MEC/FNUAP. (Série Insttucional, 9) Texto redigido inicialmente por um grup de estudio- sos e enderegado aos professores, incorpora nesta varsdo as sugestées dos. partcipanies do. Seminacio °O Plano Deconal ¢ os Campromissos com a Cida- dania’, ealizado em 1994, em S40 Paulo. Uslizando uma linguagem simples e direta, abor- da temas como preconcelto, discriminagao, racismo, insiste na importéncia de uma formagdo que sensibi- lize e informe 0 professor sobre essas quosiées. Su- gere também sigumas agdes que podem ser desen- volvidas pelos partcipantes do sistema escolar, isto 6, © protessor, os edilores © autores~de livros didéticos, 08 colaboradores de curriculos os formuladores das poliicas educacionais. So propostas visande tomar a escola uma insttvigao democratiea, tanto no sentido de formar cidadaos abertos e receptivos as diferengas faciais, culturais, relgiosas, como toméla um ‘am- bionte” am que todos os alunos, independentemente da sua “raga’, relgido e cultura, possam se desen- volver plenamente. Cad. Pesq. 0.98, fev, 1995 (© aspecto inovador dessa iniciativa é que 0 texto do se apresenta simplesments como mais um ma- terial colocado a disposigao do professor, mas inicia tum proceso de troca para que essa agéo se aner- feigoe, se enriquega com a experiéncia do professor, suas dividas, criticas, sugestées, enfim, com sua co- laboracao. E, portanto, um texto em desenvolvimento. Espera-se, particularmente, que essa colaboragao propicio a elaboragao de outros texlos mais apertei- goados € mais préximos das expectativas dos protes- sores. NOVOS OLHARES. MULHERES E RELAGOES DE GENERO NO BRASIL Cristina Bruschini ¢ Bila Sox (orgs.) Sao Paulo: Fundagéo Carlos Chagas‘Marco Zero, 994 Os artigos reunidos nessa coleténea foram prochzicos no Ambito do VI Concurso de Dotagaes para Pesquisa sobre Muther, organizado pota Fundagdo Carlos Cha- gas, com 0 apoio da Fundagao Ford. As autoras sao pesquisadoras de diferentes instituigoes do pais, de forages discipiinares diversas e em distintos mo- mentos de suas trajetérias profissionais, o que possi= bilita um tratamento diterenciado a temética das rela- ges de género. Andréa Brandao Puppim (‘Muthares em cargos de comando") e Liliana Segnini ("Feminizagao do trabalho bancétio") revisitam © mundo do trabalho, analisando ‘a construgdo © © modus operandi dos mecanismos ‘que regulam @ limitam 0 acesso das mulhores as hie rarguias mais elevadas em empreendimentos ecan6- micos de grande porte. Tania Fontolan (’A participa qo feminina no Tribunal do Jr) empreende uma anélise do discurso dos agentes da lei sobre a part- cipagéo feminina no ja em Americana, interior de ‘Sao Paulo. Os artigos de Maria Helena Trigo (‘A mu- ot Iher universitiria: cédigos de sociabilidade e relagses ‘de genero’) & de Maria Candida Delgado Rois (‘Guar gias do Futuro: imagens do magistério de 1895. a 1920 em Sao Paulo") abordam momentos hisioricos cruciais de mudancas nos papéis femininos, quando. mulheres passam a marcar presenga no campo pro- fissionat. Marilia Pinto de Carvalho © Claudia Pereira Vian- ‘na analisam, no anigo “Educadoras e mes de alu nos: um (dés}encontro, os limites pouco definidos @ as tensées dai decorrentes entre as atribuigdes da famflia, especialmente das macs, e as responsabili. Gades das educadoras escolares junto as criangas de duas escolas publicas de 1° grau em So Paulo, Guacira Lopes Louro © Dagmar Meyer (°Donas do. casa, artesas e técnicas") debrugam-se sobre os pro- eess0s de transformagao dos ‘saberes domésticos ‘om saberes oscolares na Escola Técnica Senader Er. Resto Domnelles, de Porto Alegre, apontande para as nebulosas fronteiras entre formagéo técnica @ forma. ‘$80 para o lar no ensino profissional feminino, Maria Izilda Santos de Matos, em “Porta adentro. Criados de servir em Sao Paulo de 1890 a 1990", focaliza @ trabalho do entéo chamados criados de sorvir em ‘Sao Paulo € Santos no periodo de 1860 a 1930 6 ‘essaita as ambivaléncias das prdticas patronais, ao mesmo tompo repressivas e cooptativas. Danielle Ar- daillon, por sua vez, no estudo *O aborto no Judicia- ‘io: uma lei que justiga a vitima’, desvenda os meca- rnismos de julgamento de uma prética que, apesar de liegal, € extemamente recorrente. Renata Udler Cromberg ("A cena incestuosa: 0 problema da vitimi- Zagao') traz a esouta psicanalitica de casos de vio~ léncia sexual contra muthores © meninas, realizada or pais e padrastos, masirando © complexo embii- camento do ato sexual violento com as fantasias se- xuais inconscientes. Finalmento, Susana Bomnéo Funck (‘A sexualidade nas utopias feministas dos anos 70 na literatura norte-americana") merguiha nos ‘questionamentos sobre @ sexualidade e as relagées de poder criadas no espago imagindrio das obras fic- cionais que ostuda.

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