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Universidade Federal de Campina Grande

Centro de Ciências e Tecnologias


Unidade Acadêmica de Matemática
Perı́odo: 2020.1

ESTRUTURAS ALGÉBRICAS
Notas de Aula

Aula 1 - Operações Binárias e Tábua de operação

1 Operações Binárias

Definição 1. Seja E um conjunto não vazio, toda aplicação

∗ : E × E −→ E
(x, y) 7−→ x ∗ y

é denominada de operação (binária) sobre E (ou em E).

Neste caso, dizemos que:

i) E é um conjunto munido com a operação ∗.

ii) o elemento x ∗ y é chamado de composto de x com y.

Uma Estrutura Algébrica é um conjunto não vazio E munido de uma ou mais operações.
Se consideremos o conjunto E munido da operação ∗ vamos denotar (E, ∗) para especificar qual
operação estamos considerando no conjunto E. Caso a operação esteja subintendida denotare-
mos apenas o conjunto E.

Exemplo 2. A soma de números de inteiros definido por

+ : Z × Z −→ Z
(x, y) 7−→ x + y

é uma operação binaria em Z. Temos também como exemplo a soma usual em N, R, Q, C.

Exemplo 3. O produto de números inteiros, definido por:

· : Z × Z −→ Z
.
(x, y) 7−→ x · y

é uma operação binaria em Z. Temos também como exemplo a multiplicação usual em N, R, Q, C.

Professora: Itailma Rocha


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Observe que a subtração em N definida por:

−: N×N −→ N
(x, y) 7−→ x−y

não é uma operação binária, pois se considerarmos o par ordenado (1, 3) temos 1 − 3 = −2 ∈
/ N.

Exemplo 4. Seja Z+ = {x ∈ Z; x ≥ 0}. A aplicação

∗: Z+ × Z+ −→ Z+
(x, y) 7−→ |x − y|

é uma operação em Z+ .

Exemplo 5. Podemos definir a operação sobre N, ou seja,

∗: N×N −→ N
.
(x, y) 7−→ xy

Porém, essa operação não pode ser estendida para uma operação sobre Z, pois se considerarmos
o par ordenado (2, −3) ∈ Z × Z, temos

1
2 ∗ (−3) = 2−3 = ∈
/ Z.
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Exemplo 6. Seja X um conjunto e considere P(X) o conjunto das partes de X, ou seja, o


conjunto formado por todos os subconjuntos do conjunto X. Temos em P(X) as operações
(binárias) de união e interseção de conjuntos definidas por:

∪: P(X) × P(X) −→ P(X) ∩: P(X) × P(X) −→ P(X)


e
(A, B) 7−→ A∪B (A, B) 7−→ A∩B

Exemplo 7. No conjunto Mn (R) das matrizes quadradas de ordem n ∈ N com entrada em R,


temos as operações usuais de soma e multiplicação de matrizes:

+: Mn (R) × Mn (R) −→ Mn (R) ·: Mn (R) × Mn (R) −→ Mn (R)


e
(A, B) 7−→ A+B (A, B) 7−→ A·B

Professora: Itailma Rocha


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Seja R o conjunto dos números reais e denote por F(R) o conjuntos de todas as funções reais
de uma variável real f : R −→ R. Podemos usar as operações de soma e multiplicação em R
para definir operações similares em F(R). Definimos a soma e a multiplicação de funções em
F(R) por:

+: F(R) × F(R) −→ F(R) ·: F(R) × F(R) −→ F(R)


e
(f, g) 7−→ f +g (f, g) 7−→ f · g,

onde (f + g)(x) = f (x) + g(x) e (f · g)(x) = f (x)g(x), para todo x ∈ R.

Exemplo 8. Seja X um conjunto não vazio e F(X) o conjunto de todas as funções de X em


X. Definimos em F(X) a operação de composição de funções:

◦ : F(X) × F(X) −→ F(X)


(f, g) 7−→ f ◦ g,

onde (f ◦ g)(x) = f (g(x)), para todo x ∈ X.

Exemplo 9. Podemos definir sobre Z a seguinte operação:

∗: Z×Z −→ Z
.
(x, y) 7−→ x+y−3

Nesse caso, temos: 2 ∗ 1 = 2 + 1 − 3 = 0, 4 ∗ (−5) = 4 − 5 − 3 = −4, 5 ∗ 0 = 5 + 0 − 3 = 2.

A seguir vamos construir o conjunto Zn , com n ∈ N, que será bastante usado ao longo do
nosso estudo. Para isso, vamos considerar em Z a seguinte relação, chamada de relação de
congruência: Sejam a, b números inteiros e n um inteiro estritamente positivo. Dizemos que a é
côngruo a b módulo n se m divide a − b, ou seja, se existe q ∈ Z tal que a − b = qn. Nesse caso,
vamos denotar por
a ≡ b(mod n).

É fácil ver que essa é uma relação de equivalência em Z, ou seja, essa relação satisfaz as seguintes
propriedades:

a) Reflexiva: Para todo a ∈ Z, temos a ≡ a(mod n).

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b) Simétrica: Se a, b ∈ Z e a ≡ b(mod n), então b ≡ a(mod n).

c) Transitiva: Se a, b, c ∈ Z e a ≡ b(mod n) e b ≡ c(mod n), então a ≡ c(mod n).

Dado a ∈ Z, considere
a = {x ∈ Z; x ≡ a(mod n)}

a classe de equivalência determinada por a e denote por Zn o conjunto quociente de Z pela


relação de congruência, ou seja, Zn = {a; a ∈ Z}.

Observe que

a = b ⇔ a ∈ b ⇔ a ≡ b(mod n) ⇔ b ≡ a(mod n) ⇔ b ∈ a

Afirmação: Zn = {0, 1, · · · , n − 1}.

De fato, seja a ∈ Z, pelo algoritmo da divisão existem q, r ∈ Z, com 0 ≤ r < n, tais que

a = qn + r.

Assim, a − r = qn o que significa que a ≡ r(mod n) e portanto a = r. Como r ∈ {0, 1, 2, · · · , n −


1}, então a ∈ {0, 1, · · · , n − 1}.

Suponha que existam duas classes r e s iguais em {0, 1, · · · , n − 1}, escolhendo r e s como
seus representantes e supondo que r < s, temos que r ≡ s(mod n), ou seja, n|s − r, o que é um
absurdo, pois 0 < s − r < n. Logo, os elemento de {0, 1, · · · , n − 1} são dois a dois distintos.
Portanto,
Zn = {0, 1, · · · , n − 1}.

Observe que dado a ∈ Z, temos

a = {x ∈ Z; x tem resto a na divisão por n}.

Por exemplo, para n = 3, temos Z3 = {0, 1, 2}, onde

0 = {3k, k ∈ Z}, 1 = {3k + 1; k ∈ Z} e 2 = {3k + 2; k ∈ Z}.

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Assim, temos em 0 = 3 = 6 = · · · , 1 = 4 = 7 = · · · e 2 = 5 = 8 = · · · , em Z3 .

Podemos definir em Zn duas operações (soma e multiplicação módulo n):

+: Zn × Zn −→ Zn ·: Zn × Zn −→ Zn
e (1)
(a, b) 7−→ a+b (a, b) 7−→ ab

Essas operações estão bem definidas, ou seja, não dependem da escolha do representante
da classe de equivalência. De fato, sejam a = a0 ∈ Zn e b = b0 ∈ Zn , então a ≡ a0 (mod n) e
b ≡ b0 (mod n). Então, existem q1 , q2 ∈ Z tai que a − a0 = nq1 e b − b0 = nq2 . Somando as duas
igualdade, temos
a + b − (a0 + b0 ) = n(q1 + q2 ),

o que significa que n|a + b − (a0 + b0 ) e assim a + b ≡ a0 + b0 (mod n). Logo, a + b = a0 + b0 .


Analogamente, temos que ab ≡ a0 b0 (mod n) e portanto ab = a0 b0 .

Por exemplo, se n = 4 temos que 1 = 5 e 3 = 7 e vale:

1+3=1+3=4=0 e 5 + 7 = 5 + 7 = 12 = 0,

ou seja, 1 + 3 = 5 + 7. Analogamente, 1 · 3 = 5 · 7, pois

1·3=1·3=3 e 5 · 7 = 5 · 7 = 35 = 3.

Uma pergunta que surge naturalmente é a seguinte: Quantas operações binárias podemos
definir em um conjunto finito E? Vejamos os próximos exemplos.

Exemplo 10. Se E = {x}, podemos definir em E uma única operação:

∗: E×E −→ E
(x, x) −→ x∗x=x

Exemplo 11. Se E = {x, y}, então podemos definir 16 operações em E. De fato, observe
que E × E = {(x, x), (x, y), (y, x), (y, y)}. Uma operação sobre E é uma aplicação da forma
∗ : E × E 7−→ E. Vejamos as possibilidades:

(x, x) 7−→ {x, y} : 2 possibilidades diferentes

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(x, y) 7−→ {x, y} : 2 possibilidades diferentes

(y, x) 7−→ {x, y} : 2 possibilidades diferentes

(y, y) 7−→ {x, y} : 2 possibilidades diferentes

Logo, temos 2 · 2 · 2 · 2 = 24 = 16 operações diferentes.

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Caso Geral: Se o conjunto E tem n elementos, então existem nn operações em E.

Exemplo 12. (Operação constante:) Seja a ∈ E, definimos a operação:

∗: E×E −→ E
(x, y) 7−→ x ∗ y = a.

Por exemplo, no conjunto dos números reais, podemos definir a operação constante:

∗: R×R −→ R

(x, y) 7−→ x∗y = 2.

√ √ √ √
Neste caso, temos: 2 ∗ 4 = 2, π ∗ 2, 3 = 2, 3∗π = 2 e assim por diante.

2 Tábua de uma operação

Sejam E = {a1 , a2 , ..., an } um conjunto finito e ∗ uma operação em E. A tábua da operação ∗


é uma tabela onde disposmos na primeira linha e na primeira coluna, chamadas, respectivamente,
de linha fundamental e coluna fundamental, os elementos do conjunto E e o elemento da i-ésima
linha e j-ésima coluna será o elemento ai ∗ aj .

∗ a1 a2 ··· an
a1 a1 ∗ a1 a1 ∗ a2 ··· a1 ∗ an
a2 a2 ∗ a1 a2 ∗ a2 ··· a2 ∗ an
.. .. .. .. ..
. . . . .
an an ∗ a1 an ∗ a2 ··· an ∗ an

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Exemplo 13. A tábua da multiplicação em E = {−1, 0, 1} é

· −1 0 1
−1 1 0 −1
0 0 0 0
1 −1 0 1

Exemplo 14. A tábua da operação ∗ sobre E = {1, 3, 5, 15} onde x ∗ y = mdc(x, y) é

∗ 1 3 5 15
1 1 1 1 1
3 1 3 1 3
5 1 1 5 5
15 1 3 5 15

Exemplo 15. Considere E = {a, b}, com a 6= b. Então P(E) = {φ, {a}, {b}, E}. As tábuas das
operações de interseção e união em P(E) são as seguintes:

∩ φ {a} {b} E ∪ φ {a} {b} E


φ φ φ φ φ φ φ {a} {b} E
{a} φ {a} φ {a} {a} {a} {a} E E
{b} φ φ {b} {b} {b} {b} E {b} E
E φ {a} {b} E E E E E E

Exemplo 16. Considere Z3 em Z3 as operações de soma e multiplicação definidas em (1). A


tábula dessas operações são dadas por:

+ 0 1 2 · 0 1 2
0 0 1 2 0 0 0 0
1 1 2 0 1 0 1 2
2 2 0 1 2 0 2 1

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3 Referências:

1. DOMINGUES, Hygino H. e YEZZI, Gelson. Álgebra Moderna. 4 edição reformulada., São


Paulo: Atual, 2003.

2. VIEIRA, Vandenberg L, Álgebra Abstrata para Licenciatura, 2 edição, Campina Grande:


uduepb, 2015.

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