NA
AGROPECUÁRIA
Autores
Magno Antonio Patto Ramalho
João Bosco dos Santos
César Augusto Brasil Pereira Pinto
Elaine Aparecida de Souza
Flávia Maria Avelar Gonçalves
João Cândido de Souza
GENÉTICA
NA
AGROPECUÁRIA
5a Edição Revisada
1a Reimpressão
Lavras - MG
20 12
© 2012 by Magno Antonio Patto Ramalho, João Bosco dos Santos, César Augusto Brasil Pereira
Pinto, Elaine Aparecida de Souza, Flávia Maria Avelar Gonçalves e João Cândido de Souza.
2012: 5a Edição (Revisada) - 2018: 1a Reimpressão
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Bibliografia.
ISBN
CDD – 630.2751
PREFÁCIO
A aceitação do livro Genética na Agropecuária nas edições anteriores foi muito grande,
estimulando a publicação dessa nova edição. Como a geração de novos conhecimentos
científicos é enorme especialmente na Genética, é necessário que as publicações sejam
constantemente revisadas e atualizadas. Nessa nova edição do livro procurou-se atualizar
alguns temas.
Todos os seis autores são professores da disciplina de Genética de vários cursos de
graduação da UFLA há longo tempo. Na abordagem dos temas utilizou-se dessa experiência
dos autores para expor os mesmos de modo o mais didático possível. Procurou-se também
utilizar de exemplos ligados à agropecuária. Deve ser enfatizado, contudo, que o conhecimento
de genética obtido em qualquer organismo pode ser extrapolado para qualquer outro.
Enfatizamos que essa publicação é fruto da nossa experiência de ensino e, sobretudo
por isso estamos ávidos por sugestões da comunidade acadêmica, professores, alunos de
graduação e pós-graduação, que possam melhorar o conteúdo ou o modo de apresentação
das nossas futuras edições.
Os autores
SUMÁRIO
16 EFEITO MATERNO E
HERANÇA
EXTRACROMOSSÔMICA
16.1 INTRODUÇÃO
Como já foi amplamente discutido nos capítulos anteriores, os gametas masculinos e
femininos são equivalentes em relação à constituição de genes. Isso pode ser constatado,
por exemplo, quando um descendente bovino Shorthorn ruão - com pelos vermelhos e brancos
- é produzido a partir do cruzamento de um touro vermelho com uma vaca branca ou de um
touro branco com uma vaca vermelha. Nesse caso, o alelo responsável pela cor vermelha do
pelo do animal é passado para o filho pelo gameta masculino ou feminino e o mesmo acontece
em relação ao alelo responsável por pelo branco. Isso acontece porque a maioria dos
caracteres dos organismos superiores é controlado por genes nucleares que segregam de
acordo com o comportamento dos cromossomos na meiose.
Entretanto, um pequeno grupo de caracteres é herdado graças aos genes ou produtos
gênicos presentes no citoplasma do gameta. Como o gameta feminino contribui com quase a
totalidade do citoplasma para o descendente, o modo de herança desses caracteres, à primeira
vista, processa-se de modo diferente daqueles controlados por genes nucleares. Assim, para
se constatar esse tipo de herança, deve-se verificar se existe diferença entre os resultados de
um cruzamento e de seu recíproco. Entende-se por cruzamento recíproco aquele em que
o genitor é usado ora como fêmea, ora como macho. Desse modo, se a herança de um dado
caráter é controlada por genes nucleares, os resultados de um cruzamento e de seu recíproco
serão idênticos. Porém, se for um caso em que o caráter é decorrente de efeitos
citoplasmáticos, os resultados dos cruzamentos recíprocos serão diferentes, isto é, os
descendentes de cada cruzamento terão sempre o mesmo fenótipo do genitor feminino, que
contribui com o citoplasma. Esse tipo de herança pode ser explicado por dois mecanismos:
o efeito materno e a herança extracromossômica.
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Genética na Agropecuária
de alguns caracteres do filho, independente dos genes doados pelo pai. Contudo, é importante
salientar que o efeito materno na expressão desses caracteres nos descendentes se dá apenas
por uma ou, no máximo, duas gerações.
Um dos exemplos mais comentados na literatura sobre efeito materno refere-se à direção
de enrolamento da concha do caramujo Limnaea peregra. O enrolamento da concha é um
caráter monogênico, sendo que o alelo dominante, R, condiciona o enrolamento para a direita,
e o recessivo, r, para a esquerda. No entanto, quando se cruzam indivíduos puros com as
duas direções de enrolamento, e se obtêm também os recíprocos, são obtidos os resultados
apresentados na Figura 16.1.
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Efeito Materno e Herança Extracromossômica
Nota-se (Figura 16.1) que o fenótipo dos filhos depende do genótipo da mãe, o que é
constatado, principalmente, pelas diferentes direções de enrolamento da concha da geração
F1 e do cruzamento recíproco. Observa-se ainda que o fenótipo da F2, nos dois cruzamentos,
expressa apenas o genótipo F1, que condiciona enrolamento para a direita e cuja segregação
monogênica típica 3D: 1E da geração F2 é observada na geração F3. A explicação para
esses resultados é que o citoplasma do óvulo deve ser afetado por um produto do gene
nuclear materno que, durante a primeira clivagem do zigoto, determina o sentido das fibras
do fuso para a direita ou para a esquerda em relação ao eixo da célula e ocasiona,
respectivamente, o enrolamento da concha para a direita ou esquerda. Evidentemente, nesse
caráter, o efeito do gene materno se expressa apenas na primeira geração descendente.
A herança de caracteres de grande importância agronômica, como o teor de proteína
do grão de soja e feijão, o teor de óleo do grão de soja e o tamanho da semente da ervilha,
é um dos exemplos conhecidos onde o efeito materno é considerado a principal explicação
de resultados de cruzamentos recíprocos. Como exemplo são apresentados na Figura 16.2
os valores obtidos para o teor de proteína do grão de feijão.
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Genética na Agropecuária
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Efeito Materno e Herança Extracromossômica
ocorrem nos eucariontes em geral e os plastos, encontrados nas plantas. Como se sabe,
essas organelas possuem DNA com funções de replicação e transcrição independentes do
DNA nuclear. Em relação aos procariontes, as características com herança citoplasmática
são aquelas determinadas por genes localizados nos plasmídeos (Capítulo 17, 16.1).
Como já foi comentado, o descendente de um cruzamento recebe essencialmente o
citoplasma do óvulo; assim, os caracteres decorrentes dos genes citoplasmáticos se expressam
no filho, apresentando sempre o mesmo fenótipo da mãe.
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Genética na Agropecuária
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Efeito Materno e Herança Extracromossômica
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Genética na Agropecuária
DNA
Nuclear Mitocondrial
No núcleo da célula, Nas mitocôndrias, protegidas
Localização protegido pela membrana pela membrana mitocondrial –
nuclear influência de radicais livres(??)
Conformação Dupla hélice linear Dupla hélice circular
Estrutua Protegido por histonas Desprovido de histonas
Número de genes Aproximadamente 30.000 37
Necessita de cooperação do DNA
Funcionamento Autônomo
nuclear
Regiões codificantes
(éxons) e não codificantes 90% DNA codificante
(íntrons)
Genoma haplóide (herança
Diplóide (materno/paterno)
Característica do genoma materna) – não sofre
sofre recombinação
recombinação
Bilhões de pares de
Número de pares de bases 16.569 pares de nucleotídeos
nucleotídeos
Atividade de polimerase Grande Fraca
Sistema de reparo Presente Ausente
Número de DNA por
1.000 a 10.000
célula
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Efeito Materno e Herança Extracromossômica
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Genética na Agropecuária
Na produção de híbrido simples de milho, deve-se utilizar uma das linhagens macho
estéril e a outra macho fértil, porém com os alelos dominantes restauradores da fertilidade.
Desse modo, a linhagem macho estéril será o genitor feminino, sem a necessidade de ser
realizada a operação de despendoamento, que é muito trabalhosa e onerosa. Como já
mencionado, a semente híbrida colhida nesse genitor terá o citoplasma macho estéril e, no
núcleo, o genótipo Rfrf, que permite a produção de pólen. Para a produção de um híbrido
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Efeito Materno e Herança Extracromossômica
duplo, como já foi comentado no Capítulo 12, empregam-se quatro linhagens. Nesse processo
de produção do híbrido, são necessárias linhagens com citoplasma estéril e normal e também
o alelo nuclear restaurador de fertilidade - Rf.
Observa-se que o híbrido duplo (Figura 16.5) é produzido sem a necessidade de
despendoamento em todas as etapas. Nota-se também que apesar de 50% das sementes
híbridas obtidas serem macho estéreis não há problema com a cultura, uma vez que a
quantidade de pólen produzida pelas plantas macho férteis é suficiente para assegurar a
polinização de todas as plantas.
FIGURA 16.5. Esquema da obtenção de milho híbrido duplo, utilizando a macho esterilidade
citoplasmática e o alelo nuclear restaurador de fertilidade (Rf). O citoplasma para macho
esterilidade é representado por E para macho fertilidade por N.
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Genética na Agropecuária
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Efeito Materno e Herança Extracromossômica
PROBLEMAS PROPOSTOS
2. Suponha que em arroz ocorra uma determinada anormalidade, qual procedimento deve
ser adotado para verificar se a anormalidade é decorrente de genes nucleares,
citoplasmáticos, efeito materno ou simplesmente algum efeito ambiental?
3. Em soja, foi realizado o cruzamento entre duas linhagens visando ao estudo da herança
do teor de óleo, sendo obtido o seguinte resultado:
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Genética na Agropecuária
7. A cor amarela numa planta pode ser causada por um alelo recessivo cromossômico e/
ou por um fator citoplasmático. Quais os resultados seriam esperados nos seguintes
casos?
a) Cruzamentos recíprocos de uma linhagem verde com outra amarela.
b) Retrocruzamentos entre o produto de cada um desses cruzamentos para as linhagens
paternais.
c) Autofecundação dos F1s dos cruzamentos recíprocos.
d) Cruzamentos dos dois F1s.
8. Uma linhagem de cevada com folhas amareladas e aristas longas recebeu pólen de
outra linhagem que possuía folhas normais e aristas curtas. As plantas F1 foram de
folhas amareladas e aristas longas, na F2 foram obtidas 309 plantas com folhas
amareladas e aristas longas e 98 plantas de folhas amareladas e aristas curtas. O
cruzamento recíproco entre essas duas linhagens produziu, na F1, plantas com folhas
verdes e aristas longas e, na F2, 328 plantas com folhas verdes e aristas longas e 107
plantas com folhas verdes e aristas curtas. Qual a explicação do controle genético
desses dois caracteres?
9. Na cevada, a cor das folhas pode ser decorrente de um gene citoplasmático (L1 =
folhas normais, e L2 = folhas amarelas), ou a um gene nuclear (v), sendo o alelo recessivo
o responsável por folhas amareladas. Possuindo o citoplasma L2 a cor será amarela,
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Efeito Materno e Herança Extracromossômica
e) ( ) F1 do cruzamento a x ( ) F1 do cruzamento d
f) ( ) F1 do cruzamento d x ( ) F1 do cruzamento a
10. Na planta ornamental conhecida por maravilha, as ramificações podem ser verdes,
variegadas e brancas. A geração F1, proveniente do cruzamento de flores femininas
presentes em ramos verdes ou brancos, possui os mesmos fenótipos maternos,
independente do genitor masculino. Isso se verifica também para a geração F1 de
qualquer retrocruzamento. Em qualquer cruzamento em que a flor feminina se encontra
num galho variegado, a progênie apresenta plantas verdes, variegadas e brancas,
independente do fenótipo do genitor masculino.
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Genética na Agropecuária
a) Qual a constituição genética de uma planta que ao ser autofecundada produz 75%
de descendentes férteis e 25% de descendentes macho-estéreis?
b) Qual a constituição genética de uma planta que usada como genitor masculino e que
cruzada com uma fêmea macho-estéril, os descendentes são sempre macho-férteis?
c) Estabeleça um esquema de cruzamentos para a produção de milho híbrido
duplo, utilizando a macho-esterilidade.
d) Se for obtida uma linhagem promissora, como proceder para torná-la macho-estéril?
Uma vez obtida essa linhagem,como mantê-la?
14. Quais seriam os seus argumentos, para justificar que uma determinada anomalia em
suínos, seja controlada por genes citoplasmáticos, a partir da análise de uma árvore
genealógica?
Nesse heredograma os animais identificados com a cor escura possuem uma anomalia
respiratória. Qual seria sua hipótese para o controle genético dessa anomalia?
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