Mozart Netto
Avaliação Escolar
Pesquisa & Pratica
Pedagogica IV
Mozart Netto
Sumário
Página 06
A Avaliação no
1 Contexto Escolar
Página 08
As Concepções Pedagógicas que
2 Permeiam a Avaliação no Contexto Escolar
Página 15
A produção de
3 Conhecimento
Página 21
Funções da
4 Avaliação
Página 24
A avaliação no
5 Planejamento dos Professores
4
Introdução
1
A Avaliação no
Contexto Escolar
A avaliação escolar é um meio e não um fim em si mesma; está delimitada por uma
determinada teoria e por uma determinada prática pedagógica. Ela não ocorre num
vazio conceitual, mas está dimensionada por um modelo teórico de sociedade, de
homem, de educação e, consequentemente, de ensino e de aprendizagem, expresso
na teoria e na prática pedagógica. (p. 122)
Essa ideia de que avaliar o processo de ensino e de aprendizagem não é uma ati-
vidade neutra ou destituída de intencionalidade nos faz compreender que há um
estatuto político e epistemológico que dá suporte a esse processo de ensinar e de
aprender que acontece na prática pedagógica na qual a avaliação se inscreve.
Portanto, para esse autor, a avaliação está estritamente ligada à natureza do conhe-
cimento, e uma vez reconhecida essa natureza, a avaliação deverá ajustar-se a ela se
quiser ser fiel e manter a coerência epistemológica.
Nessa direção, podemos partir do pressuposto de que a avaliação, como prática
escolar, não é uma atividade neutra ou meramente técnica, isto é, não se dá num va-
zio conceitual, mas é dimensionada por um modelo teórico de mundo, de ciência e de
educação, traduzida em prática pedagógica.
Um segundo pressuposto é que a prática de avaliação dos processos de ensino e de
aprendizagem ocorre por meio da relação pedagógica que envolve intencionalidades
de ação, objetivadas em condutas, atitudes e habilidades dos atores envolvidos.
Na condição de avaliador desse processo, o professor interpreta e atribui sentidos
e significados à avaliação escolar, produzindo conhecimentos e representações a res-
peito da avaliação e acerca de seu papel como avaliador, com base em suas próprias
concepções, vivências e conhecimentos. Nesse sentido, Sordi (2001) afirma:
2
As Concepções Pedagógicas que
Permeiam a Avaliação no Contexto Escolar
2.1 Examinar
para Avaliar
A tradição dos exames escolares, que conhecemos hoje, em nossas escolas, foi sis-
tematizada nos séculos XVI e XVII, com as configurações da atividade pedagógica
produzidas pelos padres jesuítas (séc. XVI) e pelo Bispo John Amós Comênio (fim do
séc. XVI e primeira metade do século XVII). (p. 16)
No entanto, há registros de que tal prática antecede a esse período, pois, na China,
três mil anos antes de Cristo, já se usavam os exames para selecionar homens para
o exército. Todavia, os exames escolares, como praticados hoje em nossas escolas,
foram sistematizados com o advento da modernidade e sua consequente prática edu-
cativa (Luckesi, 2003, p. 16).
A prática dos exames atinge o seu apogeu com a ascensão e consolidação da bur-
guesia, uma vez que desprovida dos privilégios garantidos por nascimento e da for-
tuna da aristocracia recorre ao trabalho e aos estudos como forma de ascensão social.
Contudo, torna-se importante ressaltar que a introdução generalizada do exame de
admissão para o serviço público foi um grande passo na democratização do Estado e
na configuração de uma sociedade meritocracia.
Por essa razão, o autor denomina de Pedagogia do Exame essa prática que, segun-
do ele, ainda se faz presente em nossas escolas. Para esse autor, também podemos
verificar os resquícios dessa Pedagogia do Exame em algumas práticas nacionais de
avaliação, tais como o Exame Nacional do Ensino Médio – Enem e o Sistema Nacional
de Avaliação da Educação Superior – SINAES (o extinto “Provão”), e que, segundo
ele, mais reforçam a cultura do exame do que a cultura da avaliação (p.8).
2.2 Medir
para Avaliar
O primeiro diz respeito aos testes psicológicos, com base nos estudos de Sperman
(1904, 1907, 1913) sobre a Psicometria, e de Binet e Simon (1905), que criaram o pri-
meiro teste de inteligência para crianças e adultos.
Uma medida é objetiva no sentido de que, uma vez definida a unidade, deve-se ter
sempre a mesma medida do mesmo fenômeno. Certamente, um erro é sempre possí-
vel, devido às imperfeições da instrumentação, pois ele resulta então das condições
de operacionalização dos instrumentos. Ele provém da operação de medida. Por essa
razão, pode ser calculado e, portanto, neutralizado. (p. 27)
Desse modo, para o referido autor, reduzir a avaliação à medida ou mais especifi-
Uma das concepções mais tradicionais sobre a avaliação na escola refere-se à pos-
sibilidade de classificar o desempenho do aluno por meio da avaliação.
Nessa perspectiva, Perrenoud (1999) declara:
Para esse autor, outra função tradicional que a avaliação assume no contexto esco-
lar é a certificação, isto é, o diploma garante que o seu portador recebeu uma forma-
ção e, portanto, não necessita se submeter a novos exames.
Segundo Perrenoud (1999), nossas práticas de avaliação são atravessadas por duas
lógicas não necessariamente excludentes: a formativa e a somativa.
No que se refere à lógica da avaliação somativa, Sordi (2001), apoiando-se em Per-
renoud (1999), afirma:
Com relação à avaliação formativa, Hadji (2001, p. 19) sustenta que sua função
principal é a de contribuir para uma boa regulação da atividade de ensino (ou da for-
mação, no sentido amplo). Trata-se, portanto, de levantar informações úteis à regu-
lação do processo de ensino-aprendizagem. Todavia, ele nos lembra: uma avaliação
não precisa conformar-se a nenhum padrão metodológico para ser formativa (p. 19).
Nessa medida, observa-se que, na prática, essas lógicas convivem entre si. Para
Sordi (2001, p. 174), porém, a diferença reside na posição do educador diante delas,
ou seja, na coragem do professor em assumir a sua titularidade e sua autonomia na
definição do que vale em avaliação.
2.4 Avaliar
para Qualificar
Por essa razão, para a autora, a “avaliação qualitativa” passa a incorporar um con-
junto de técnicas, orientações e pressupostos da metodologia etnográfica, da investi-
gação de campo (p. 47).
Outra característica dessa avaliação é o delineamento flexível que permita um en-
foque progressivo, isto é, a avaliação centrada em processos é em si mesma um pro-
cesso que evolui em virtude de descobertas sucessivas e de transformações do con-
texto; supõe, então, um enfoque seletivo e progressivo (Saul, 1988, p. 47).
Na esteira de uma avaliação de cunho qualitativo, a autora propõe uma modalida-
de, por ela denominada de avaliação emancipatória, cujas três vertentes teórico-me-
todológicas são: a avaliação democrática; crítica institucional e criação coletiva; e a
pesquisa participante (p. 53).
Observamos, portanto, que essa proposta de avaliação qualitativa surgiu a partir
da necessidade de uma revisão e ultrapassagem das premissas epistemológicas até
então vigentes. Demo (2004) declara:
Atividade 01
3
A produção de
Conhecimento
3.1 Avaliação
Escolar Tradicional
Neste sentido, empregamos a expressão “meros acumuladores de dados” quando nos refe-
rimos ao foco da escola dita tradicional. A nova orientação para a educação é outra. Isso não
significa que não se exige dos alunos que memorizem alguns conhecimentos básicos nas dife-
rentes áreas do saber. A memorização deve ser significativa. Mas o novo foco está na prepara-
ção das condições para que o aluno seja competente, isto é, seja capaz de estabelecer relações
significativas no universo simbólico das informações dispo- níveis. Estabelecer relações, a par-
tir da análise crítica de situações complexas, é gerenciar informações na solução de problemas.
Voltamos à função fundamental da escola: pre- parar os gerentes das informações. (MORET-
TO, 2008, p. 76)
3.2 Proposta
Construtivista
Para a aprendizagem, não basta ao aluno adquirir informações isoladas como no-
mes, datas, fórmulas e definições, sendo necessário estabelecer relações entre elas,
dando significado à aprendizagem. Assim, o conceito de aprendizagem significativa
vem substituir o de aprendizagem como simples memorização (MORETO, 2003, p.
103).
A proposta construtivista busca indicar um caminho alternativo para uma nova re-
lação no ensino, levando a uma aprendizagem eficaz em que os conhecimentos já ad-
quiridos pelo aluno são fundamentais para a aprendizagem de novos. A partir de sua
vivência, o aluno constrói uma estrutura cognitiva formada por ideias e concepções
ligadas ao senso comum do meio social em que está inserido e elabora representações
em função das suas próprias experiências (MORETO, 2003, p. 105).
3.3 O Professor
Mediador
Dominar a arte de perguntar talvez seja uma das compe- tências mais importantes
para o professor. A razão principal é que uma boa pergunta possibilita uma boa res-
posta. Então, saber o que o aluno pensa e identificar suas concepções prévias sobre
determinado assunto é condição para um ensino eficaz e eficiente. Portanto, a arte de
perguntar com clareza e precisão se faz necessária e é importante que seja desenvol-
vida pelo professor no processo de sua interação com o aluno (MORETO, 2008, p. 48).
“As crianças, os jovens em sua atividade natu- ral e espontânea são levados sempre a
responder aos nossos desafios, a tentar, a ‘chutar’, a inventar respostas para questões
propostas. (Ainda mais quando sabem que as tarefas valem nota!)”.
Também tão importante quanto saber perguntar é saber ouvir. Se a pergunta for
bem formulada, o professor tem boa possibilidade de ter uma resposta dentro de sua
expectativa. No entanto, como a pergunta será recebida e analisada no contexto do
desenvolvimento cognitivo e social do aluno, a resposta precisaria ser analisada nesse
mesmo contexto, e não no do professor. Por isso a frase do professor que considera-
mos a mais importante e que deveria ser a mais frequente em sala de aula é: o que
você quis dizer com isso? Com essa pergunta, o professor dá a oportunidade ao aluno
de repetir ou reformular seu pensamento para detectar outros indicadores do signi-
Atividade 02
4
Funções da
Avaliação
A avaliação formativa indica o que deveria ser feito para tornar a avaliação ver-
dadeiramente útil em situação pedagógica. Considera-se que a avaliação formativa
é uma avaliação in- formativa (HADJI, 2001, p. 20). “Caracteriza-se por um processo
interpretação-intervenção sobre o desenvolvimento do ensino-aprendizagem com a
finalidade de garanti-lo, aprimorá-lo, direcioná-lo, enfim, de dar condições efetivas
para que o ensino e a aprendizagem ocorram com sucesso” (SILVA, HOFFMANN,
ESTEBAN, 2003, p. 39). “É formativa toda a avaliação que auxilia o aluno a aprender
e a se desenvolver, ou seja, que colabora para a regulação das aprendizagens e do
desenvolvimento no sentido de um projeto educativo” (PERRENOUD apud HADJI,
2001, p. 20).
A avaliação somativa (como os exames finais) também pode e deve cumprir fina-
lidades da avaliação formativa, mas em outro nível. Para os alunos é tarde demais,
mas não para o professor e para a instituição, que podem e devem utilizar esses da-
dos (por exemplo, número de reprovações) para avaliar o processo e tomar decisões
que ajudem a melhorá-lo. Em alguns países e em boas universidades a nova ênfase é
a tendência emergente no que diz respeito à avaliação é levar em conta os resultados
finais dos alunos, no nível institucional, para tomar decisões (de política educacional,
de formação de professorado, de inovações metodológicas) que contribuam para a
melhora da qualidade do ensino. (MORALES, 2003, p. 46)
4.1 Apropriação
do Conhecimento
Na prática escolar, o professor deve retornar ao cotidiano e manter com ele uma
continuidade, mas também precisa rom- per com ele à medida que o conteúdo avan-
ça e o reelabora. Assim, para trabalhar com o conflito, o professor deve, a partir do
cotidiano, dar o salto para a compreensão mais elaborada e complexa do mundo.
Dessa forma não haverá oposição entre os diferentes tipos de cultura, mas sim uma
cultura que se reelabora permanentemente (LUCKESI, 2002, p. 133).
5
A avaliação no
Planejamento dos Professores
5.1 Tipos
de Avaliação
Veja o que nos exemplifica o professor Luckesi (2010, s/p) sobre a avaliação da
aprendizagem e a avaliação do sistema:
5.1.1 A avaliação
da Aprendizagem
A avaliação enquanto concepção de educação não tem uma única linha teórica e
prática que a sustente, nem um paradigma aceito por todos; o que existe é uma varie-
dade de formas e maneiras de avaliar. A avaliação da aprendizagem se apresenta nas
seguintes modalidades: somativa, formativa e diagnóstica. Os primeiros a apresenta-
rem essas modalidades foram Bloom, Hasting e Madaus nos anos 1960.
PCN E
AVALIAÇÃO
- conjunto de ações que busca obter informações sobre o quê e como foi
aprendido;
- elemento de reflexão contínua para o professor sobre sua prática edu-
cativa;
Uma concepção desse tipo (dos PCN) pressupõe considerar tanto o processo que o
aluno desenvolve ao aprender como o produto alcançado. Pressupõe também que a
avaliação se aplique não apenas ao aluno, considerando as expectativas de aprendi-
zagem, mas as condições oferecidas para que isso ocorra.
Desse modo a avaliação exige critérios claros que ajudem a analisar os aspectos a
serem avaliados.
•as experiências educativas que os alunos devem ter acesso e são consideradas
essenciais para o seu desenvolvimento e socialização.
Fonte: <http://www.dominiopublico.gov.br/
pesquisa/Pesquisa-ObraForm.do?select_action=&co_autor=34116>.
5.1.2 Avaliação
do Sistema
Leia a discussão sobre a prova escrita, feita pelo professor Luckesi (2010, s/p).
O que denominamos de ‘prova’, de fato, é um ‘teste de conhecimentos’. O que
ocorre é que na história da educação moderna esse instrumento foi utilizado com fun-
ções que estão muito para além da coleta de dados sobre o desempenho do educando.
Ela foi e tem sido utilizada com um recurso de disciplinamento externo e aversivo
sobre os educandos, através das ameaças, da elaboração distorcida de questões mais
para dificultar a resposta do estudante do que para diagnosticar sua aprendizagem,
além de ser utilizado como um recurso de ‘aprovação ou reprovação dos educandos’,
o que, por muitas vezes, conduziu ao autoritarismo (tema que já abordei bastante no
passado).
• Quanto à elaboração
No momento de construir a prova, o professor deve ter cuidado com a elaboração
das questões, as quais devem ser claras e explicativas, que possibilitem ao(à) aluno(a)
relacioná-las aos conteúdos estudados. As questões tipo armadilha ficam por conta
de uma avaliação perversa, que não cabe na avaliação emancipatória. As questões
devem favorecer a construção lógica de cada pensamento, evitando a necessidade de
se ter a “pesca” ou a “cola”. As provas devem ser elaboradas para suas respectivas
turmas; assim, repetir as provas de anos anteriores ou a mesma prova em várias tur-
mas não constitui avaliação adequada para a abordagem de uma educação dialógica.
• Quanto à aplicação
O momento de aplicar uma prova deve ser envolto de concentração e descontra-
ção. O momento de responder a prova é mais um momento de aprender sobre os
conteúdos. Na aplicação, a prova pode ser respondida em dupla para que tenham um
debate antes da elaboração das respostas; em consulta devido ao grau de complexida-
de das questões; ou, em casa, para ser respondida com mais tempo e com maior rigor
na elaboração das respostas.
•Quanto à correção
Como a elaboração atende às necessidades de aprendizagem dos(das) alunos(as),
o momento de aplicação deve ser de respeito e cordialidade, conclui-se que a correção
é um levantamento de dados; em que o professor informa o percurso do estudo do(a)
aluno(a) e orienta–o(a) para retornar ou avançar para determinados conteúdos.
A professora Lea das Graças C. Anastasiou (2006,p. 83-86) apresenta um quadro de
técnicas de ensino, explicando que, sobre estas técnicas, deve incidir a aprendizagem
e o desenvolvimento das operações mentais solicitadas aos estudantes, perpassando
toda a organização do desenvolvi- mento e todo processo avaliativo das técnicas e
das operações mentais.
Apresentamos a seguir uma síntese no quadro 2 para que você visualize e com-
preenda, concretamente, os elementos e critérios do processo avaliativo da técnica de
ensino.
Atividade
Ato de fé ou conquista
do conhecimento?
O Joãozinho de nossa história é um moleque muito pobre que mora numa fave-
la sobre palafitas espetadas em um vasto mangue. Nosso Joãozinho só vai à escola
quando sabe que vai ser distribuída merenda, uma das poucas razões que ele sente
para ir à escola. Do fundo da miséria em que vive, Joãozinho pode ver bem próximo
algumas das conquistas de nossa civilização em vias de desenvolvimento (para al-
guns). Dali de sua favela ele pode ver bem de perto uma das grandes Universidades
onde se cultiva a inteligência e se conquista o conhecimento. Naturalmente esse co-
nhecimento e a ciência ali cultivadas nada tem a ver com o Joãozinho e outros milha-
res de Joãozinhos pelo Brasil afora.
Além de perambular por toda a cidade, Joãozinho, de sua favela, pode ver o aero-
porto internacional do Rio de Janeiro. Isso certamente é o que mais fascina os olhos
de Joãozinho. Aqueles grandes pássaros de metal sobem imponentes com um ruído
de rachar os céus. Joãozinho, com seu olhar curioso, acompanha aqueles pássaros de
metal até que, diminuindo, eles desapareçam no céu.
Talvez, por frequentar pouco a escola, por gostar de observar os aviões e o mundo
que o rodeia, Joãozinho seja um sobrevivente de nosso sistema educacional. Joãozi-
nho não perdeu aquela curiosidade de todas as crianças; aquela vontade de saber os
‘como’ e os ‘porquês’, especial- mente em relação às coisas da natureza; a curiosidade
e o gosto de saber que se vão extinguindo em geral, com a frequência à escola. Não
há curiosidade que agüente aquela decoreba’ sobre o corpo humano, por exemplo.
Sabendo por seus colegas que nesse dia haveria merenda, Joãozinho resolve ir à
escola. Nesse dia, sua professora se dispunha a dar uma aula de Ciências, coisa que
Joãozinho gostava. A professora havia dito que nesse dia iria falar sobre coisas como
o Sol, a Terra e seus movimentos, verão, inverno, etc.
A professora começa por explicar que o verão é o tempo do calor, o inverno é tem-
-Eu já disse a vocês numa aula anterior que a Terra é uma grande bola e que essa
bola está rodando sobre si mesma. É sua rotação que provoca os dias e as noites.
Acontece que, enquanto a Terra está girando, ela também está fazendo uma grande
volta ao redor do Sol. Essa volta se faz em um ano, o caminho é uma órbita alongada
chamada elipse. Além dessa curva ser assim alongada e achatada, o Sol não está no
centro. Isso quer dizer que, em seu movimento, a Terra às vezes passa perto, às vezes
passa longe do Sol. Quando passa perto do Sol é mais quente: é VERÃO. Quando
passa mais longe do Sol recebe menos calor: é INVERNO. Os olhos de Joãozinho bri-
lhavam de curiosidades diante de um assunto novo e tão interessante.
-Professora, a senhora não disse antes que a Terra é uma bola e que está girando
enquanto faz a volta ao redor do Sol?
-Sim, eu disse. - Respondeu a professora com segurança.
-Mas, se a Terra é uma bola e está girando todo dia perto do Sol, não deve ser verão
em toda a Terra?
-É, Joãozinho, é isso mesmo.
-Então é mesmo verão em todo lugar e inverno em todo lugar, ao mesmo tempo,
professora?
-Acho que é, Joãozinho, vamos mudar de assunto. A essa altura, a professora já
não se sentia tão segura do que havia dito. A insistência, natural para o Joãozinho, já
começava a provocar uma certa insegurança na professora.
-Mas, professora, - insiste o garoto - enquanto a gente está ensaiando a escola de
samba, na época do Natal, a gente sente o maior calor, não é mesmo?
-É mesmo, Joãozinho.
-Então nesse tempo é verão aqui?
-É, Joãozinho.
-E o Papai Novel no meio da neve com roupas de frio e botas? A gente vê nas
vitrinas até as árvores de Natal com algodão. Não é para imitar a neve? (A 40 graus
Celsius no Rio).
-É, Joãozinho, na terra do Papai Novel faz frio.
-Então, na terra do Papai Novel, no Natal, faz frio?
-Faz, Joãozinho.
-Mas então tem frio e calor ao mesmo tempo? Quer dizer que existe verão e inver-
no ao mesmo tempo?
-É, Joãozinho, mas vamos mudar de assunto. Você já está atrapalhando a aula e eu
tenho um programa a cumprir.
Mas Joãozinho ainda não havia sido domado pela escola. Ele ainda não havia per-
dido o hábito e a iniciativa de fazer perguntas e querer entender as coisas. Por isso,
-Professora, como é que pode ser verão e inverno ao mesmo tempo, em lugares di-
ferentes, se a Terra, que é uma bola, deve estar perto ou longe do Sol? Uma das duas
coisas não está errada?
-Como você se atreve, Joãozinho, a dizer que a sua professora está errada? Quem
andou pondo essas suas ideias em sua cabeça?
-Ninguém, não, professora. Eu só tava pensando. Se tem verão e inverno ao mes-
mo tempo, então isso não pode acontecer porque a Terra tá perto ou tá longe do Sol.
Não é mesmo, professora?
-Está nos livros que a Terra descreve uma curva que se chama elipse ao redor do
Sol, que este ocupa um dos focos e, portanto, ela se aproxima e se afasta do Sol. Logo,
deve ser por isso que existe verão e inverno.
Sem dar conta da irritação da professora, nosso Joãozinho lembra-se de sua expe-
riência diária e acrescenta:
-Professora, a melhor coisa que a gente tem aqui na favela é poder ver avião o dia
inteiro.
-E daí, Joãozinho o que tem a ver isso com o verão e o inverno?
-Sabe, professora, eu acho que tem.
A gente sabe que um avião tá chegando perto quando ele vai ficando maior. Quan-
do ele vai ficando pequeno é porque ele tá ficando mais longe.
-E o que tem isso a ver com a órbita da Terra, Joãozinho?
-É que eu achei que se a Terra chegasse mais perto do Sol, a gente devia ver ele
maior. Quando a Terra estivesse mais longe do Sol, ele deveria aparecer menor. Não
é, professora?
-E daí, menino?
-A gente vê o Sol sempre do mesmo tamanho. Isso não quer dizer que ele tá sempre
da mesma distância? Então verão e inverno não acontecem por causa da distância.
-Como você se atreve a contradizer sua professora? Quem anda pondo ‘minhocas’
na sua cabeça? Faz quinze anos que eu sou professora. É a primeira vez que alguém
quer mostrar que a professora está errada.
Em meio àquela confusão tocou o sinal para o fim da aula, salvando a professora
de um caso maior. Não hou- ve aparentemente nenhuma definição de vencedores e
vencidos nesse confronto.
-Como eu não havia pensado nisso antes? Como posso ter ‘aprendido’ coisas tão
evidentemente erradas? Como nunca me ocorreu, sequer, alguma dúvida sobre isso?
Como posso eu estar durante tantos anos ‘ensinando’ uma coisa que eu julgava Ciên-
cia, e que, de repente, pode ser totalmente demolida pelo raciocínio ingênuo de um
garoto, sem nenhum outro conhecimento científico?
Precisamos de uma reflexão de nossas salas de aula, sobre o aprender, somos a mu-
dança do amanhã, aprendemos com o erros e através deles conseguimos ultrapassar
nosso limites.
Façamos a partir desse momento uma análise CRÍTICA de tudo o que já fizemos e
façamos melhor, inovador.
“... Temos que fazer o melhor que podemos, com aquilo que temos em nossa mãos”
(Cortella, M. S. APUD SILVA NETO, M. P, 2017)
Referências
Bibliográficas
ÁLVAREZ MÉNDEZ, Juan M. Avaliar para conhecer: examinar para excluir. Porto
Alegre: Artmed, 2002.
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da educação. 2. ed. São Paulo: Mo-
derna, 1998.
CERVO, Amado Luiz; BERVIAN, Pedro Alcino. Metodologia científica. 4. ed. São
Paulo: MAKRON Books, 1996.
MORAES, Sandro Ricardo Coelho de, SILVA, Itamar Mendes da. Escola básica e
auto-avaliação institucional: possíveis conquistas, novos desafios. Campinas: PUC,
2010
Avaliação Escolar
Pesquisa & Pratica
Pedagogica IV
Mozart Netto
85 3347 2774
@fmbce