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São Paulo, 8 de março de 2021

Carta aberta da Assembleia de professoras e professores da Escola Vera Cruz:

Vera Cruz não é uma ilha

“Nenhuma pessoa é uma ilha isolada; cada pessoa é uma partícula do continente, uma
parte da terra; [...] a morte de qualquer pessoa diminui-me, porque sou parte do gênero
humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.”

John Donne [1572-1631]

A educação é constituída principalmente no encontro e na relação com o outro.


Sabemos da importância que o ensino presencial tem para essa troca; e que o ensino
remoto por si só não representa a escola que sonhamos.

Desde o início do isolamento social, abrimos nossas casas para alunas e alunos e
fomos recebidos nas casas das famílias, estendendo e reconfigurando a comunidade de
aprendizagem. Foi necessário nos reinventarmos para manter nossos vínculos, dentro das
limitações impostas pelo necessário combate à pandemia da COVID-19. E isso só foi
possível com muita parceria, confiança e empenho.

Durante todo o ano de 2020 ansiamos pelo retorno às aulas presenciais. As


sucessivas notícias sobre o desenvolvimento de vacinas deram materialidade a nossas
esperanças. Lamentavelmente, a situação não avançou no ritmo nem na direção desejada.
Pelo contrário: a deterioração acelerada das condições sanitárias, agravada pelo
retardamento e insuficiência da vacinação, aponta para o iminente colapso dos sistemas
público e privado de saúde. Só na última semana, mais de 10 mil pessoas morreram no
país e a ocupação das UTIs ultrapassou 80% em vários estados, inclusive no Estado de
São Paulo. Até mesmo a disponibilidade de equipamentos e insumos vitais como
respiradores e oxigênio não é mais uma garantia em alguns municípios. Além disso, as
novas cepas têm se mostrado mais transmissíveis e perigosas para crianças, jovens e
adultos. É nesse cenário de medo e desalento que nos sentimos obrigados a agir com
cuidado, responsabilidade e assertividade redobrados, como parte indissociável da
comunidade escolar, da cidade e do país. Afinal, a escola não é uma ilha.
A COVID-19 demonstra um percentual relevante de casos assintomáticos,
dificultando o rastreio de contágios mesmo com todos os esforços empregados na

elaboração, atualização e execução dos protocolos de biossegurança. Informações da

Secretaria Estadual de Educação permitem afirmar que a retomada das aulas presenciais
representaria um aumento na circulação de 13,3 milhões de pessoas, cerca de 30% da
população paulista. A manutenção do ensino remoto, nesse momento, contribui
inegavelmente para a redução tanto da circulação quanto do contato entre as pessoas,
diminuindo, assim, o risco de transmissão do vírus.

O exemplo que o cuidado com o coletivo tem na formação das e dos estudantes é
ainda mais importante nesse momento de normalização deliberada de condutas
negacionistas e de indiferença perante o sofrimento e a perda de vidas humanas. Nesse
sentido, não podemos tratar a educação de maneira isolada. A crise é geral e o
encaminhamento precisa ser coletivo, unindo todos os setores de nossa sociedade.

Considerando toda essa complexidade e nossa responsabilidade enquanto


educadoras e educadores decidimos pela paralisação das atividades presenciais a partir do
dia 11 de março, em consonância com a deliberação do SINPRO-SP. Para o retorno
presencial, seguiremos atentos às determinações das autoridades municipais e estaduais
em relação ao encerramento da fase vermelha no município de São Paulo, bem como aos
indicadores da evolução da pandemia e da ocupação hospitalar.

Manteremos o trabalho remoto com o mesmo compromisso de sempre. O ensino


presencial é importante, mas respirar é essencial.

Assembleia de professoras e professores da Escola Vera Cruz.

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