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DOI: 10.1590/1413-81232015218.

14362015 2517

Dificuldades vividas por pessoas trans

ARTIGO ARTICLE
no acesso ao Sistema Único de Saúde

Difficulties experienced by trans people


in accessing the Unified Health System

Pablo Cardozo Rocon 1


Alexsandro Rodrigues 1
Jésio Zamboni 1
Mateus Dias Pedrini 1

Abstract The objective of this study was to dis- Resumo Objetivou-se discutir as dificuldades de
cuss the difficulties of trans people living in the pessoas trans moradoras da região metropolitana
metropolitan region of Greater Vitória, Espíri- da Grande Vitória/ES em acessarem os serviços de
to Santo, Brazil, in accessing the health services saúde no SUS. Utilizou-se uma abordagem qua-
of the Unified Health System (Sistema Único de litativa por meio de entrevistas semiestruturadas
Saúde - SUS). We used a qualitative approach com 15 pessoas trans. Os resultados apontaram
through semi-structured interviews with 15 trans o desrespeito ao nome social, a discriminação e
people. The results point to disrespect toward the o diagnóstico no processo transexualizador como
adopted name, discrimination, and the diagnosis principais limitações no acesso ao sistema de saú-
required for the gender reassignment process as de. Afirma-se que o diagnóstico contribui para
major limitations to accessing the healthcare sys- ocultar a responsabilidade da heteronormativida-
tem. The diagnosis helps hide the responsibility of de e do binarismo de gênero pela marginalização
heteronormativity and gender binarism in the so- social das pessoas trans. Conclui-se que é neces-
cial marginalization of trans people. It is conclud- sário modificar o diagnóstico em sua função, já
ed that it is necessary to review the issue of diag- que a existência de uma patologia prévia não é re-
nosis, given that the existence of a prior pathology quisito para acessar o SUS. Aponta-se, também, a
is not required to access the SUS. It is important importância de elaborar programas de educação e
to develop educational programmes and perma- campanhas permanentes sobre o direito de acesso
nent campaigns concerning the right to access the ao sistema de saúde livre de discriminação e com
healthcare system free from discrimination and to uso do nome social.
use the adopted name. Palavras-chave Corpo, Saúde, Identidade de gê-
Key words Body, Health, Gender identity, Trans- nero, Pessoas transgênero
gendered people

1
Universidade Federal do
Espírito Santo. Av. Fernando
Ferrari, 514, Goiabeiras.
29075-910 Vitória ES
Brasil. xela_alex@bol.com.br
2518
Rocon PC et al.

Introdução munícipios da Grande Vitória, Estado do Espírito


Santo, no acesso aos serviços públicos de saúde.
A transformação do corpo apresenta-se como
esfera constitutiva da vida das pessoas. Mas, no
caso das pessoas trans, tal esfera assume uma Métodos
intensa magnitude. São variados os métodos
circunscritos nas modificações corporais empre- Para o desenvolvimento deste estudo foi utilizada
endidas por pessoas trans, que passam pelo uso abordagem qualitativa. A pesquisa foi realizada:
de hormônios, aplicações de silicone industrial, (a) na sede da Associação Capixaba de Redução
depilações, cirurgias plásticas, transgenitalização, de Danos (ACARD), que desenvolve trabalho de
dentre outros, que variarão a partir dos desejos, redução de danos junto à população que traba-
das possibilidades financeiras, das necessidades lha com sexo no município de Vitória/ES, dentre
do trabalho com sexo, etc.1-7. a qual se encontram pessoas trans; (b) no cam-
Percebendo a pluralidade nos procedimentos pus da Universidade Federal do Espírito Santo
de transformação do corpo e nas possibilidades (UFES), com alunas transexuais; (c) no Ambu-
de (auto)definição no gênero, neste texto será latório de Urologia do Hospital Universitário
utilizado o termo pessoa trans em diálogo com o Cassiano Antônio de Moraes (HUCAM), onde
que Benedetti5 chamou universo trans, segundo são realizadas as cirurgias de transgenitalização
o qual “o universo trans é um domínio social no e o acompanhamento clínico dos pacientes; (d)
que tange à questão das (auto)identificações.”5. na casa de algumas pessoas trans atendidas pela
Contudo, aquém e além de uma política de iden- ACARD.
tificação, e como base desta, situam-se a transfor- A coleta dos dados foi realizada por meio de
mação corporal e a invenção de modos de vida entrevistas semiestruturadas, gravadas em áu-
como processos de composição das pessoas trans. dio digital com a permissão dos participantes,
Assim, o termo pessoas trans corresponde a um orientadas por um questionário que versava so-
esforço em não delimitar fronteiras entre as iden- bre aspectos socioeconômicos – tais como idade,
tidades de gênero dos participantes dessa pesqui- identidade de gênero, orientação sexual, profis-
sa, respeitando não só a autoidentificação como são, renda, escolaridade, se possuem plano de
também seus intercruzamentos nas categorias de saúde privado, bairro e município de residência
gênero e sexualidade disponíveis. –, a frequência na busca por serviços de saúde no
Estudos1-3,8-11 expuseram inúmeras dificulda- SUS, as principais dificuldades enfrentadas pelos
des no acesso e permanência das pessoas trans entrevistados no acesso nos serviços buscados, as
nos serviços oferecidos no Sistema Único de Saú- estratégias utilizadas para modificação de seus
de, evidenciando o desrespeito ao nome social, corpos e os impactos dessas em sua saúde.
a trans/travestifobia como obstáculo à busca de Alguns participantes sentiram-se descon-
serviços de saúde e causas dos abandonos de tra- fortáveis em gravar a entrevista, aceitando pre-
tamentos em andamento. Ainda discutem a pa- encher o questionário. Conforme nossas orien-
tologização das identidades de gênero travesti e tações, muitos colocaram informações além
transexuais no processo transexualizador do SUS das solicitadas pelas questões, fato que pode ter
como promotor de seletividade nos serviços de contribuído para a redução das limitações pro-
saúde, obstruindo o acesso a muitas pessoas trans. porcionadas por esse instrumento. Também foi
Segundo Mello et al.9, dentre a população utilizado um diário de campo onde foram ano-
LGBT, as pessoas travestis e transexuais são as tadas as impressões dos autores. Foi realizada
que mais enfrentam dificuldades ao buscarem análise de conteúdo das entrevistas transcritas.
atendimentos nos serviços públicos de saúde O material foi organizado a partir de três eixos
– não só quando reivindicam serviços especia- de análise: acesso aos serviços de saúde; métodos
lizados, como o processo transexualizador, mas utilizados nas modificações corporais; percepção
em diversas outras ocasiões nas quais buscam sobre a influencia dos últimos em sua saúde.
atendimento – pela enérgica trans/travestifobia Constituíram o grupo estudado 15 pessoas
que sofrem atrelada à discriminação por outros trans: 10 mulheres transexuais, 1 homem tran-
marcadores sociais – como pobreza, raça/cor, sexual, 2 travestis, 1 gay (realizava uso de hormô-
aparência física – e pela escassez de serviços de nios e adotava nome social feminino), residen-
saúde específicos. tes nos municípios da região metropolitana da
Esse artigo discutirá as principais dificulda- Grande Vitória, Estado do Espírito Santo. Não
des enfrentadas por pessoas trans residentes em houve escolha ou qualquer forma de seleção
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prévia dos participantes da pesquisa. Eles foram contornos se produzem em meio a jogos de lin-
compondo a amostra de forma aleatória – por guagem. Entretanto, a partir de Preciado13 em sua
indicação, proximidade ou relação com cada crítica à Butler14 por conta da desvalorização des-
novo participante – de maneira que pessoas trans ta, em relação à materialidade do corpo diante da
trabalhadoras e usuárias nos serviços da ACARD, produtividade da linguagem, afirma-se a irredu-
estudantes da UFES e pacientes do HUCAM in- tibilidade do corpo à linguagem. Sendo assim, a
tegraram a pesquisa. modificação do nome e do gênero nos pronomes
A participação dos entrevistados foi condi- de tratamento tornam-se elementos entrelaçados
cionada ainda pelo preenchimento de um Ter- às transformações materiais do corpo.
mo de Consentimento Livre e Esclarecido. Essa Em 13 de agosto de 2009, o Ministério da
pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Saúde lançou, através da portaria nº 1820, a Carta
Pesquisa do Campus de Goiabeiras da Univer- dos Direitos dos Usuários do SUS. A carta tornou
sidade Federal do Espírito Santo. Como forma obrigatório haver em documentos de identifica-
de garantir o sigilo dos participantes, os nomes ção dos usuários, como prontuários, um campo
apresentados no texto são fictícios. a ser preenchido com o nome pelo qual o usuário
deseja ser chamado. Isso não deve ser realizado
de forma desrespeitosa ou preconceituosa, pois
Resultados e Discussão a carta afirma que “todo cidadão tem direito ao
atendimento humanizado, acolhedor e livre de
Nome social e discriminação qualquer discriminação”15. Em 2011, o Ministé-
como dilemas do acesso à saúde rio da Saúde lançou a Política Nacional de Saúde
Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis
A autoatribuição de um novo nome acompa- e Transexuais através da portaria nº 2.836, que
nha os processos de transformação do corpo5,6. O normatizou o direito ao “uso do nome social de
nome carrega junto ao corpo os múltiplos senti- travestis e transexuais, de acordo com a Carta dos
dos de feminilidade e masculinidade que operam Direitos dos Usuários do SUS”16.
como constituintes do gênero. Nome e corpo in- Porém, essas normativas ainda não foram in-
terferem-se mutuamente. O nome, como trans- tegralmente acolhidas no cotidiano de trabalho
formação incorporal12 ou signo a designar uma dos profissionais da saúde, impedindo a garantia
mudança que ultrapassa e radicaliza a transfor- do acesso universal à saúde pelos pacientes trans.
mação corporal, não dispensa essa última. A mu- O desrespeito ao nome adotado pelos participan-
dança de nome incita e é incitada pelas modifica- tes dessa pesquisa nos serviços de saúde pública,
ções do corpo, sem, no entanto confundirem-se somado a outros episódios de discriminação pro-
ou exigirem-se necessariamente. movidos pelos seus profissionais, tem sido rele-
Segundo Teixeira6, as pessoas trans, em seus vante na não efetivação do acesso ao cuidado em
processos de construção de um novo corpo, “são saúde. A entrevistada Afrodite (mulher transexu-
conduzidas a um investimento identitário signi- al, 24 anos) relatou: foi no DML que sofri precon-
ficativo – um novo nome, um corpo modificado ceito pelo médico. Eu pedi que me chamassem pelo
– que dê sentido ao “não senso” de um corpo que meu nome social. [...] Ele me chamou pelo nome de
parece ter se equivocado”6. Benedetti5, por sua registro e gritou pelo DML. Gritou porque ele sabia
vez, afirma que o corpo das pessoas trans “é, so- que se tratava de uma transexual. [...] Ele não quis
bretudo, uma linguagem”5. Nessas abordagens, o me chamar porque segundo ele deveria me chamar
nome, assim como todos os signos envolvidos no pelo nome da identidade. Afrodite procurou o
processo de transformação12, é tomado como sig- DML para realizar exame de corpo e delito após
nificado, rótulo que estabelece limites em meio ter sido vítima de estupro enquanto trabalhava. A
ao caos do corpo em mutação. Certamente, o entrevistada comparou o atendimento no DML
nome pode assumir essa função identitária de es- ao recebido quando procura serviços públicos de
tabelecer um ser estável em meio ao devir das ex- saúde: Eu evito muito. Se estou com uma dor de ca-
perimentações, mas não é sua função primordial. beça, alguma coisa, eu fico em casa, tomo remédio
O nome ou signo é, antes de tudo, outro tipo de em casa. Porque se você for, você vai passar raiva
transformação – incorporal –, que lança o corpo mesmo, e aí é pior. Então, igual eu falei no caso do
em outro ordenamento de mundo, outro jogo de DML, quando eu precisei procurar um serviço pú-
regras, enfim, outro gênero. blico, o que aconteceu? Sofri preconceito no DML.
A produção dos corpos trans parece ser per- Já no hospital, não sofri preconceito. Mas no DML
meada pela produção de signos, cujas formas e sofri. Então, eu prefiro o quê? Ficar em casa. Apesar
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de relatar não ter sofrido discriminação no acesso Muller e Knauth10 relataram a recusa pelo
ao serviço de profilaxia pós exposição oferecido estabelecimento de saúde em atender o pacien-
no Hospital Universitário, foi enfática ao afirmar: te trans, o desrespeito à identidade de gênero
É por isso que uma transexual ou uma travesti não em casos de internação hospitalar, a resistência
procura um centro de referência pra fazer exames, de pessoas trans em buscarem serviços de saú-
não procuram isso, não procuram um médico. Por de provocada pela discriminação, e o “dar show”
quê? Porque elas sabem que, se elas chegarem lá, como forma de garantir atendimento. Segundo
serão maltratadas. Então, ficam em casa. os autores: “A baixa instrução de grande parte das
Outros relatos que apresentaram discrimi- travestis é um dificultador para que compreen-
nação e desrespeito ao nome social podem ser dam questões cotidianas – como, por exemplo, o
destacados. Pandora (travesti, 43 anos) relatou uso do preservativo, mesmo em caso de soropo-
a discriminação sofrida em um Pronto Atendi- sitividade para HIV, a eficiência das medicações
mento ao buscar serviços de emergência por ter utilizadas para o tratamento do HIV, as consequ-
perfurado o pé: As mulheres que trabalham na ências da interrupção do uso dessas medicações
entrada do posto viram que eu era travesti e eu e o uso de drogas. Como podemos constatar na
ainda falei: Olha, eu quero que me chamem por pesquisa, muitas travestis [...] não fazem o uso
Pandora. Na hora que foram me chamar, elas não de preservativos em suas relações sexuais com os
me chamaram por Pandora. Me deu um revertério. clientes. Desse quadro, advêm três problemas de
Um colega meu, que trabalha lá, quebrou o pau lá saúde pública: 1. A reinfecção por cepas diferen-
dentro. Eu estava cheia de dor por ter furado o pé, ciadas do vírus HIV e a consequente resistência
o ferro tinha entrado pela bota e aconteceu isso. às medicações; 2. O risco de contágio do cliente,
Além de ter que lidar com a dor da lesão, Pan- que em alguma situação chega a oferecer mais di-
dora necessitou administrar o mal-estar de ser nheiro para que não seja usada a camisinha na
discriminada publicamente pelos profissionais. relação; e 3. A possível transmissão do vírus HIV
Efigênia (mulher transexual, 28 anos) assinalou ao cônjuge, pois a maioria dos clientes mantém
em seu questionário ter abandonado tratamen- relação conjugal estável”10.
tos e deixado de procurar os serviços de saúde, Sugere-se cautela em conclusões como as de
para não sofrer preconceito. Ela seguiu escreven- Muller e Knauth10 para não moralizar a leitura
do: Tem médico que trata bem e tem médico que que é feita sobre o envolvimento de pessoas trans
não respeita a orientação sexual e a identidade de nas redes de contaminação por HIV e outras Do-
gênero, tem médico que não aceita o nome social, enças Sexualmente Transmissíveis (DSTs), dese-
que chama pelo nome de registro. Já presenciei dis- nhando-as como grupo de risco responsável por
criminação com amigas e até eu já sofri homofobia esse problema de saúde pública. Deve-se conside-
e constrangimentos. Ísis (mulher transexual, 53 rar que muitas vezes a baixa instrução advém das
anos) responde se já sofreu discriminação: Já! dificuldades de permanência na escola devidas
Mas cabe a nós chegarmos antes e falar como quer à discriminação, todavia, afirmar essa condição
ser chamada. Se eles ficarem de gracinha, a gen- como responsável por uma incompreensão sobre
te dá show. A necessidade de “dar show” aparece os efeitos das medicações para o tratamento do
como estratégia de luta das pessoas trans pelo di- HIV e o uso do preservativo pode ser refutável,
reito aos serviços de saúde. devendo-se sugerir a incapacidade ou a indis-
São muitos os relatos de indignação e tristeza posição dos serviços de saúde em comunicar-se
pelas dificuldades que têm representado buscar com a diversidade de sujeitos pela educação em
ou frequentar um serviço de saúde. Resultados saúde.
semelhantes podem ser encontrados em outras Não se pode ignorar que intervir junto às
pesquisas1,8,10. Romano8, pela experiência como pessoas que trabalham sexo, dentre elas as trans,
médica no Programa Saúde da Família na Lapa/ a partir de programas de educação em saúde en-
RJ, relata o frequente abandono ou desistência volvendo as informações levantadas por Muller
de tratamentos em andamento, mesmo nos ca- e Knauth10, pode ser uma importante estratégia
sos de doenças crônicas ou graves como a Aids, de intervenção nas redes de infecção por HIV e
geralmente em decorrência do preconceito que DSTs. Contudo, há uma série de problemas vi-
sofrem ao buscar atendimento no ambulatório. A venciados por essas pessoas, apresentados nesta
autora descreve o êxito na redução desse absen- pesquisa e em outras1-3,8,9, sobre discriminação,
teísmo a partir de um trabalho de humanização marginalização social, pobreza, etc. que precisam
e acolhimento realizado junto aos pacientes e às ser considerados na construção de intervenções
equipes do PSF-Lapa. para educação em saúde, uma vez que o não uso
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do preservativo, por exemplo, pode representar Helena (mulher transexual, 28 anos) justifi-
maiores ganhos financeiros que, considerando as cou suas aplicações de silicone industrial: Acho
condições de vulnerabilidade e pobreza que mui- que para ficar mais próximo do meu desejo. Eu gos-
tas vivem, tornam-se uma forma de garantir os to de ser vista como mulherão. E gosto dessas mu-
recursos necessários para alimentação, tratamen- lheres grandonas, bonitonas, gostosonas. Mulherão
to em saúde, realização das modificações corpo- chama mais atenção e eu gosto. Em Helena, o ideal
rais desejadas, etc. Antes de representar um risco de beleza está associado ao ideal de gênero. Essa
à sua saúde ou à saúde dos clientes, o sexo sem idealização configura-se pessoal e socialmente
preservativo pode significar a sobrevivência. pelo desejo de chamar mais atenção. A figura da
Dentre as 15 pessoas trans, entrevistadas mulherão operará como um objetivo a orientar a
nesta pesquisa, verifica-se que 60% trabalham modificação corporal por meio do silicone, um
ou já trabalharam como profissional do sexo em signo que ordena o corpo durante os processos
algum momento de suas vidas, tendo essa como de transformação. A partir desse panorama, os
fonte de renda principal ou complementar. É sa- motivos para a modificação corporal se diversi-
bido que o trabalho com sexo envolve exposição ficam, como se pode notar em outros estudos1,5,7.
cotidiana a riscos de adoecimento pela contami- A modelagem do corpo para agradar a si própria,
nação por DSTs e à violência física por trans/tra- aos companheiros ou aos clientes não é uma par-
vestifobia. Dessa forma, o acesso ao SUS consi- ticularidade na vida das mulheres trans e traves-
derando os aspectos próprios às experiências das tis, inúmeras mulheres cisgênero podem modifi-
pessoas trans, com a garantia do direito ao nome car seus corpos pelas mesmas razões. As propa-
social e ao atendimento livre de discriminação, gandas e os comerciais, o mercado de trabalho,
é indispensável para que consultas e exames de dentre outros, são variados incentivos para que
rotina, informações sobre prevenção a doenças as pessoas, especialmente as mulheres, invistam
infecciosas, distribuição de preservativos e géis na transformação de seus corpos.
lubrificante para trabalharem possam produzir Mas é preciso, para não menosprezar e igno-
efeitos positivos no cuidado com a saúde das pes- rar questões próprias às pessoas trans, atentar-se
soas trans. aos aspectos de pobreza, homo/trans/travestifo-
bia, marginalização social, violência, evasão es-
O processo transexualizador como colar, desemprego, perda de laços familiares9,16,
possibilidade para promoção da saúde trans dentre muitos outros que compõem as vidas par-
ticipantes desta pesquisa. Pode-se assim perceber
A imagem e a aparência são atributos de as dificuldades que as travestis, os homens e as
grande importância nas sociedades contemporâ- mulheres trans enfrentam para alcançarem os
neas ocidentais17. Muitas pessoas cisgêneras (que recursos para modificações de seus corpos – difi-
não relatam incongruência entre seus corpos e culdades que extrapolam as de homens e mulhe-
o gênero atribuído no nascimento) modificam res cisgêneros. Pelúcio7, por exemplo, evidenciou
seus corpos por meio de dietas alimentares com que as dificuldades financeiras determinam limi-
uso de suplemento ou produtos farmacológicos, tes e possibilidades dos investimentos corporais
exercícios físicos, procedimentos estéticos, cirur- entre as travestis paulistanas.
gias, etc. em busca do corpo que lhes satisfaça, As dificuldades para obter um efetivo amparo
capaz de promover bem-estar, sinônimo de saú- pelo Sistema Único de Saúde às variadas motiva-
de e beleza17. Da mesma forma, inúmeras pesso- ções e necessidades de transformação do corpo,
as trans investem na modelagem de seus corpos atravessadas por diversos determinantes sociais,
como elemento constitutivo de suas vidas. O levaram muitas entrevistadas a correrem risco de
que varia são os procedimentos de transforma- adoecimento e morte por recorrerem ao uso de
ção corporal que, para as pessoas trans, podem hormônios sem acompanhamento de profissio-
consistir em investimentos como: hormoniote- nais de saúde e às aplicações de silicone indus-
rapia, aplicações de silicone industrial, mastecto- trial. Desejo, sonho, necessidade e sobrevivência
mia, cirurgias plásticas ou de transgenitalização, se misturam na empreitada de modelar o corpo
etc. em busca de um ideal de beleza associado à sob riscos. Algumas entrevistadas relatam pro-
construção das marcas de gênero. As técnicas de blemas de saúde decorrentes desses métodos. Se-
transformação corporal implicam a transforma- gundo Cassandra (travesti, 31 anos), aconteceram
ção incorporal do corpo bonito, as modificações situações de pessoas morrerem nas mãos da bom-
no organismo influem na construção dos signos badeira […]. Eu tive várias amigas que tomaram
de beleza – e vice-versa. hormônio e tiveram câncer. Ísis relatou: Pode mor-
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rer na hora. Dói muito. Pode morrer depois. Como real da sociedade na qual pessoas trans construi-
já vi viado morrendo. Pode ir pro pé. [...] Eu me ar- rão modos de resistência e sobrevivência18.
rependo. Eu podia... Sabe o quê? Ter colocado pró- As cirurgias e os procedimentos transgenita-
tese. Eu não tinha condições [...]. Dá febre, faço re- lizadores foram autorizados no Brasil em 1997,
pouso, nada de comida gordurosa [...] porque meu pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), atra-
silicone dá furúnculo no bumbum. Afrodite rela- vés da resolução nº 148219. Ao longo de mais de
tou em seu questionário que, em virtude do uso uma década da legalização no país, o CFM atua-
de hormônios, saíram vários abcessos em várias lizou as resoluções duas vezes. A resolução mais
partes do seu corpo. Pandora relata a intenção de atual é a nº 1.955/2010, segundo a qual, os pa-
substituir o silicone industrial dos seios por uma cientes transexuais são portadores “de desvio psi-
prótese mamária: Às vezes, o silicone vai até pro cológico permanente de identidade sexual, com
“pinto” [pênis], vai pra mala [escroto, testículos]. rejeição do fenótipo e tendência à automutilação
Eu tenho uma amiga que tem um ‘ovão’. [...] Ago- e ao autoextermínio”20. Nessa interpretação, a
ra, eu quero tirar o silicone do meu peito e colocar resolução define como critérios para acesso aos
uma prótese […]. Isso está me prejudicando [...] procedimentos transgenitalizadores: o diagnós-
e isso não é bom. Eu só fiz isso porque eu estava tico médico de transexualismo, idade acima de
precisando ganhar dinheiro. Mas, se fosse hoje em 21 anos e ausência de características físicas ina-
dia, eu não colocava. Helena relatou estar alivia- propriadas à cirurgia20. Esses critérios orientam o
da por suas aplicações de silicone industrial não trabalho da equipe multiprofissional, composta
lhe causarem problemas de saúde. Entretanto, ela por “Psiquiatra, Cirurgião, Psicólogo, Assistente
contou sobre os problemas das amigas: Não me Social, Endocrinologista”20 e envolvida na sele-
arrependo. Só que eu não indico ninguém a fazer. ção e acompanhamento dos pacientes, devendo
Eu até fiquei no tempo certo [de recuperação] e buscar encontrar nos pacientes “desconforto
tem pessoas que não fazem isso. [...] As entrevista- com o sexo natural; Desejo expresso de eliminar
das referiram-se a um tempo de repouso neces- os genitais, perder as características primárias e
sário após aplicações de silicone, mínimo de 15 secundárias do próprio sexo e ganhar as do sexo
dias, para não ocorrerem deformações. Porém, a oposto; Permanência desse distúrbio de forma
necessidade de trabalhar para pagar pelo silicone contínua e consistente por, no mínimo, 2 anos;
e sua aplicação, a cafetinagem, etc. não permite a Ausência de transtornos mentais”20.
muitas esse repouso, o que acaba ocasionando as Em 2008, o Ministério da Saúde lançou o
deformações. Processo Transexualizador do SUS a partir da
O estudo de Romano8 evidenciou o uso, con- Portaria 1707/200821. Apenas as mulheres transe-
siderado abusivo, de hormônios entre mulheres xuais foram contempladas com o acesso aos ser-
trans e travestis como causa de distúrbios hepá- viços de terapia hormonal, de acompanhamen-
ticos, e as aplicações de silicone industrial como to clínico, psicológico e social, e de cirurgias de
importante causa de infecções e trombose em transgenitalização. A partir da portaria 2803 de
membros inferiores. Contudo, sugere-se a neces- 201322, o Processo Transexualizador foi reformu-
sidade de uma mudança de perspectiva quanto às lado e passou a contemplar homens transexuais
causas dos problemas relacionados à saúde trans. e travestis com suas demandas por cirurgias de
É preciso questionar a culpabilização individua- histerectomia, mastectomia, neofaloplastia, hor-
lizante das pessoas trans pelos processos de ado- monioterapia, e outras. A portaria condicionou o
ecimento e considerar o problema como questão acesso aos procedimentos por meio de um diag-
coletiva, que implica também os modos de fun- nóstico nosológico, reiterando os critérios defini-
cionamentos dos serviços de saúde. Como suge- dos na Resolução nº 1.955/2010.
rem Almeida e Murta18, a vida das pessoas trans A incorporação das demandas das pessoas
deve ser analisada sob uma perspectiva de totali- trans por transformação do corpo pelo SUS é
dade histórica, na qual indivíduos e grupos pos- uma vitória advinda de intensas mesas de nego-
suem suas vidas atravessadas por determinações ciação entre poder público e sociedade civil or-
da cultura, da economia, da política e da subjeti- ganizada11, que possibilitaram o reconhecimento
vidade. Essas vidas experimentam rebatimentos dessas demandas em saúde pelo Estado brasilei-
de classe social, raça/cor, orientação sexual, gêne- ro. Porém, o Processo Transexualizador do SUS
ro, evasão escolar, dificuldades de acesso à saúde, ainda não se universalizou por todos os Estados
entre outros. Sendo assim, o uso de hormônios e regiões do País, existindo hospitais, como o
e de silicone industrial não pode significar ação HUCAM da Universidade Federal do Espírito
inconsequente e isolada, pois compõe a dinâmica Santo, que – apesar de realizar cirurgias de trans-
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genitalização e consultas clínicas, psicológicas e melhor reproduzem as verdades culturalmente
atendimentos sociais – ainda não se integrou ao concebidas sobre comportamentos, vestimentas,
Processo Transexualizador do SUS, o que tem gostos, etc. e fundadas em ideais homogenei-
produzido dificuldades no acesso a esses serviços. zantes e universalizantes de masculinidade e de
Helena, expondo essas dificuldades e relacionan- feminilidade esperados em homens e mulheres
do-as ao tempo de espera para realização de sua “de verdade” – e que apresentam o que o CFM
cirurgia de transgenitalização, afirma: Hoje eu chamou de desejo expresso de autoextermínio
tenho 28 anos, mas eu aprendi a ter paciência, a ou automutilação20. Dessa forma, o trabalho
me acostumar da forma que eu estou. Mas, aceitar das equipes tem sido realizar uma assepsia dos
eu nunca aceitei. Então, pra mim, essa cirurgia vai gêneros, readequando o corpo dos que melhor
ser [ótima], eu vou me sentir livre. É como se eu reproduzem o gênero binário1-3. Ísis embaralha a
estivesse mesmo num corpo que não me pertence. certeza sobre a existência de um transexual ver-
Hércules (homem transexual, 26 anos), ao rela- dadeiro: Eu sempre tive prazer. Eu tinha um pênis
tar os impasses para conseguir atendimento no bonito. Sempre tive prazer pela frente [com este
processo transexualizador, apontou o diagnósti- pênis]. Não sou igual essas doidas, que falam que
co como limitador do acesso a esses serviços: Aí, não têm prazer [...]. Simplesmente, se fosse optar
é querer colocar um transexual nas mãos dos médi- por fazer cirurgia, eu não faria. Fiz, pois tive um
cos, pessoas cis, para eles julgarem se você pode ou problema de saúde que acelerou minha cirurgia.
não ser operado, sendo que você não tem controle [...]. Mas to amando. [...] Nem lembro que ope-
sobre seu próprio corpo. Isso com uma equipe mul- rei. Quando lembro, fico toda feliz, porque agora
tiprofissional que está ali pra você desistir da opera- eu posso entrar no banheiro de mulher de cabeça
ção, mas não para você ser realizado. Por exemplo: erguida, não tem como falar que é viado [...]. Ísis
uma pessoa tira peito, põe peito, põe pinto. Agora, realizou a cirurgia por consequências do des-
nós transexuais temos que passar por um proces- locamento do silicone industrial em seu corpo.
so de só ser operado se tiver laudo médico, laudo Entretanto, não relatou histórico de repulsa por
psiquiátrico. Nota-se, assim, a hegemonia médi- sua genitália nem insatisfação pós-cirurgia, o que
ca no Processo Transsexualizador com a equipe reforça a necessidade da defesa da participação
multiprofissional submetida e submetendo-se à com autonomia das pessoas trans em seus pro-
ordenação do processo enquadrada pelo diag- cessos de transformação do corpo no processo
nóstico e pelos procedimentos médicos. Afrodite transexualizador.
também relatou sobre a espera na fila e deixou Hércules questiona a autoridade médica, pelo
implícita a problemática do diagnóstico em sua diagnóstico, sobre os corpos trans, denunciando
fala: Eu sei. Igual essa minha amiga. Ela está na a perda de autonomia que sofrem ao não serem
fila. Eu sei de todas as dificuldades [...] Os truques considerados como sujeitos de seus processos de
também! Talvez por já ser bastante feminina, eu mudanças corporais, mas tratados como corpos
acho que talvez eu não terei muito problema com abjetos sujeitados à intervenção de um poder/
isso... Em questão, pelo menos, né? To falando por- saber. O narrador denuncia a operação do dis-
que é o que ouço, gente. positivo da transexualidade que desautoriza as
As pesquisas de Bento1-3 evidenciaram o diag- pessoas trans de decidirem sobre as intervenções
nóstico como promotor da seletividade no aces- em seus corpos, como o fazem as pessoas cisgê-
so a esses programas, de modo que são pautados neras. Afrodite, por sua vez, acredita que, por sua
em estereótipos de masculinidade e feminilidade capacidade de reproduzir os estereótipos da “mu-
referendados no gênero binário – que produz a lher de verdade” sendo “feminina o bastante”, não
ideia de que o gênero é reflexo da genitália e da enfrentará dificuldades, como suas amigas, em
genética, sendo que a natureza distribui os cor- acessar os serviços transexualizadores. E ainda
pos de forma dicotômica pênis-masculino-ho- comentou sobre os “truques”, também presentes
mem versus vagina-feminino-mulher – e na he- nos estudos de Bento1,2, como estratégias para ga-
teronormatividade – que é a “a capacidade de a rantir o acesso ao processo transexualizador.
heterossexualidade apresentar-se como norma, a O diagnóstico no processo transexualizador
lei que regula e determina a impossibilidade de tem sido bastante debatido nos âmbitos do mo-
vida fora dos seus marcos”2. vimento social e da universidade1-3,11,16,24. Existem
Assim, o trabalho da equipe multiprofissional defesas à manutenção do diagnóstico tratando
opera como dispositivo da transexualidade1-3,23, a patologização das identidades trans como es-
passando a buscar identificar dentre os pacien- tratégia política para garantir a manutenção dos
tes quem são os verdadeiros transexuais, os que serviços públicos de saúde24 e produções que
2524
Rocon PC et al.

apontam o diagnóstico como causador de margi- Faz-se necessário problematizar, junto aos
nalização, exclusão dos serviços de saúde e forma profissionais da saúde, as consequências do gêne-
de fugir da problematização do binarismo dos ro binário e da heteronormatividade para a saú-
gêneros1-3,11. Almeida e Murta18 afirmam que é de das pessoas trans por meio de programas de
preciso demarcar que “os possíveis sofrimentos formação continuada e intervenções como as de
experimentados por transexuais, travestis e mes- Romano8, realizando campanhas permanentes
mo por homossexuais não são decorrentes de de divulgação do direito ao atendimento livre de
qualquer patologia inerente a tais sujeitos, mas de discriminação e ao uso do nome social.
trajetórias de exclusão social.”. É preciso questio- A seletividade no acesso aos Processo Transe-
nar a contribuição do diagnóstico das identida- xualizador do SUS promovida pelo diagnóstico
des trans para invisibilizar e fortalecer a margina- precisa continuar sendo discutida. Ainda que a
lização social, a trans/travestifobia, a violência, a patologização signifique uma concessão estraté-
pobreza e tantas outras mazelas vivenciadas pelas gica24, a Constituição Federal de 1988 não condi-
pessoas trans, ao colocar nos indivíduos a origem ciona o acesso à saúde no SUS pela existência de
dos seus problemas. uma patologia prévia27, e esse foco na saúde pela
Importa demarcar que os entendimentos so- negação da doença tem impedido pessoas trans
bre saúde e doença se produzem pelas normas de acessarem serviços públicos de saúde para as-
sociais estabelecidas historicamente25,26. Assim, sistência e cuidado profissional na modificação
os diagnósticos não avaliam somente estruturas de seus corpos.
anatomo/fisio/psico/patológicas, eles são atraves- O SUS poderá tornar-se um importante ins-
sados “pela representação comum da norma em trumento de promoção da cidadania das pessoas
um meio social em um dado momento”26. Por- trans na medida em que efetivar a universalidade
tanto, a experiência da saúde e da doença trans- do acesso – buscando superar seus impedimen-
cende a ótica biomédica por conjugar “normas, tos–, a integralidade da atenção – ofertando, de
valores e expectativas, tanto individuais como forma articulada e contínua, os serviços que per-
coletivas, e se expressa em formas específicas de mitam enfrentar os determinantes e os condicio-
pensar e agir”25. Numa sociedade cujas normas nantes da saúde e do adoecimento – e a equidade
predominantes para a inteligibilidade dos corpos – considerando as questões próprias à saúde das
residem no gênero binário e na heteronormativi- pessoas trans.
dade, todos os corpos inadequados a esse padrão
poderão ser considerados doentes, como no caso
dos corpos trans.

A saúde trans requer um SUS universal,


integral e equânime

O desrespeito ao nome social, a trans/tra-


vestifobia nos serviços de saúde e o diagnóstico Colaboradores
patologizante no processo transexualizador se
apresentaram como principais impedimentos ao PC Rocon, A Rodrigues, J Zamboni, MD Pedrini
acesso universal, integral e equânime pelos parti- participaram da concepção, análise dos dados,
cipantes desta pesquisa ao SUS. redação e revisão final do artigo.
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Ciência & Saúde Coletiva, 21(8):2517-2525, 2016


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