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Este projeto foi implementado pelo Laboratório de Análise Política Mundial (Labmundo)

com a participação da seguinte equipe:

Assistente-bolsista de pesquisa:
Tássia Camila de Oliveira Carvalho

Cartógrafo:
Allan Medeiros Pessôa

Cartógrafa:
Isabela Ribeiro Nascimento Silva

Assistentes bolsistas de iniciação científica:


Niury Novacek Gonçalves de Faria
Rafael Fidalgo Carneiro

Também contou com o apoio financeiro das seguintes instituições:

FAPERJ - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro

CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

FINEP - Financiadora de Estudos de Projetos

Atlas da política externa brasileira / Carlos R. S. Milani ... [et. al.] - 1a ed. - Ciudad Autónoma de Buenos
Aires : CLACSO ; Río de Janeiro : : CLACSO ; Rio de Janeiro : EDUerj, 2014.

E-Book.

ISBN 978-987-722-040-7

1. Política Exterior. 2. Brasil. I. Milani, Carlos R. S.


CDD 327.1

II at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
Secretário Executivo
Pablo Gentili

Diretora Acadêmica
Fernanda Saforcada

Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales – Conselho Latino-americano de Ciências Sociais


EEUU 1168| C1101 AAX Ciudad de Buenos Aires | Argentina
Tel [54 11] 4304 9145/9505 | Fax [54 11] 4305 0875| e-mail clacso@clacso.edu.ar | web www.clacso.org

CLACSO conta com o apoio da Agência Sueca de Desenvolvimento Internacional (ASDI)

Este livro está disponível em texto completo na Rede de Bibliotecas Virtuais do CLACSO.

at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a III
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Reitor
Ricardo Vieralves de Castro

Vice-reitor
Paulo Roberto Volpato Dias

EDITORA DA UNIVERSIDADE DO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Conselho Editorial
Antonio Augusto Passos Videira
Erick Felinto de Oliveira
Flora Süssekind
Italo Moriconi (presidente)
Ivo Barbieri
Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves

IV at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
A cartografia do representações diplomáticas em anos
recentes, a sociedade brasileira tam-

Brasil no mundo
bém se internacionalizou, seja pela
expansão dos investimentos no ex-
terior; da presença internacional das
organizações e movimentos sociais
e dos atores religiosos (com o Bra-
sil figurando como o segundo maior
Prefácio por Maria Regina Soares de Lima emissor de missionários no mundo);
do número crescente de brasileiros
vivendo no exterior; da nova diplo-
macia subnacional, e das mais diver-
sas políticas públicas exportadas para
Por suas dimensões continentais o atravessam os séculos e situam os os países do Sul, em particular Amé-
Brasil tende a ser um país mais vol- eventos brasileiros em perspecti- rica Latina e África. No contexto de
tado para dentro. Em vista da grande va temporal e espacial. Ao mesmo consolidação da democracia brasilei-
extensão territorial, o país apresen- tempo, processos muitas vezes trata- ra, o desafio para a política externa
ta uma relevante diversidade entre dos na atualidade como constantes é ampliar o diálogo com a sociedade
suas regiões, o que torna o estudo são colocados em perspectiva histó- civil, desenvolver uma robusta diplo-
das diferenças regionais em varia- ria. É o caso, por exemplo, das rela- macia pública, coordenar a nego-
das dimensões um atrativo objeto de ções comerciais com os EUA que ciação internacional das inúmeras
estudo de um país que é um mun- desde o início da década de 50 têm políticas públicas que hoje frequen-
do em si mesmo. O Atlas da Política diminuído sistematicamente, acom- tam as agendas da cooperação inter-
Externa Brasileira retira o Brasil de si panhando a diversificação do comér- nacional brasileira. Na democracia e
e o projeta no mundo em um duplo cio exterior brasileiro. A implicação é no contexto da crescente demanda
sentido. Em primeiro lugar, pela es- que a velha oposição entre dois mo- da sociedade civil por consulta e par-
colha da cartografia temática como a delos de política externa, alinhamen- ticipação, a política externa sai do in-
linguagem para representar grafica- to versus diversificação, deixou de sulamento e passa a fazer parte do rol
mente as dimensões quantitativas e fazer sentido. das políticas públicas.
qualitativas de uma miríade impres-
sionante de dados, tendo como pa- O Brasil é uma potência emergen- O retrato do Brasil no mundo que
râmetro representações imagéticas te? Com riqueza e variedade de emerge desta publicação é a de um
dos mesmos indicadores em diver- imagens desfilam nossos ativos ma- país diverso e complexo, uma demo-
sos outros territórios nacionais. Pela teriais e ideativos. São diversos estes cracia de massa, com uma política
centralidade conferida ao espaço ter- recursos, mas cada um deles repre- externa diversificada e com todas as
ritorial, a cartografia temática prati- senta um desafio particular não ape- credenciais para ser um modelo para
camente obriga ao uso da perspectiva nas para a cooperação internacional, os países do Sul nas águas caudalosas
comparada. Ademais, a escolha de mas para a sociedade, a política e a de uma economia globalizada e de-
uma projeção cartográfica especí- economia do país. Não se trata ape- sigual; um ordenamento geopolítico
fica, colocando o país no centro do nas de somar nossas capacidades na- estratificado mas como alguns espa-
globo, nos recorda que todas as pro- cionais e compará-las com outros ços multilaterais; e, particularmente,
jeções cartográficas são arbitrárias emergentes. Temos alguns ativos uma enorme heterogeneidade cul-
e refletem as preferências subjetivas que, explorados adequadamente, po- tural e de valores cujo manejo exige
de cada pesquisador. Em perspecti- dem nos colocar na linha de frente atores internacionais que façam da
va com outras realidades nacionais, o das discussões globais sobre questões tolerância, equidade e respeito à di-
Atlas situa o Brasil no centro do pla- como alimentos, água, megadiversi- versidade e à pluralidade o núcleo
neta, mas relativiza nossas alegadas dade, mas também riscos inerentes duro de sua inserção internacional.
especificidades nacionais, equívoco à exploração predatória dos recursos
de se tomar o caso brasileiro como aqui e em outros países, bem como Parabéns à equipe do Labmundo do
único. o desafio de consolidar uma agenda IESP-UERJ, coordenada por meu
doméstica e de cooperação interna- colega Carlos Milani, composta
O seu pioneirismo, além da narrati- cional comprometida com a dimi- por Enara Echart, Rubens Duarte e
va plástica da linguagem dos mapas, nuição das desigualdades, garantia Magno Klein, por nos brindar com
também está refletido naquilo que dos direitos humanos e participação este esplêndido Atlas tão necessário
seus idealizadores decidiram mos- democrática. nos turbulentos dias de hoje.
trar e comparar. Não se trata de um
Atlas convencional de política exter- A pluralidade, diversidade e he-
na. Os seus cinco capítulos temáti- terogeneidade dos atores e agen-
cos dão conta de eventos, processos, das que participam direta ou Maria Regina Soares de Lima é Pes-
dimensões quantitativas e qualita- indiretamente das questões externas quisadora Sênior do Instituto de
tivas que muitas vezes, como no ca- constitui talvez o retrato mais im- Estudos Sociais e Políticos da Uni-
pítulo sobre a formação nacional, pressionante da nova cara do Brasil versidade do Estado do Rio de Janei-
podem abarcar uma centena de anos, no mundo. Acompanhando a uni- ro (IESP-UERJ) e Coordenadora do
mas cuja concisão é obtida pelo uso versalização da política externa, cuja Observatório Político Sul-America-
imaginativo de linhas de tempo que evidência é o aumento expressivo das no (OPSA)

at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a V
Trajetória de uma anuncia (pelo menos no modo como a
política externa tende a ser compreen-

parceria
dida no contexto francês).

O segundo exercício de mudanças


nas escalas diz respeito às tempora-
lidades. Não se trata de uma concep-
Apresentação por Marie-Françoise Durand ção clássica da história (originária,
descritiva e teleológica), mas de pes-
quisas que mobilizam elementos his-
e Benoît Martin tóricos dos poderes, dos territórios,
das trocas e das sociedades que per-
mitem compreender o tempo presen-
É um grande poder prazer ver o resul- denso e fluido que alia intercâmbios te. Esta “rehistoricização” possibilita
tado, tão rápido e obtido com tama- científicos, formação e implementa- evitar as armadilhas muito em voga da
nho profissionalismo, deste ambicioso ção, reunindo parceiros de distintas valorização excessiva das causas econô-
projeto de Atlas da Política Externa disciplinas (ciência política e relações micas nas temporalidades muito cur-
Brasileira, iniciado a partir de uma co- internacionais, geografia, história, so- tas ou as explicações culturalistas dos
operação frutífera e estimulante entre ciologia) e tradições profissionais (pes- fenômenos sociais, frequentemente
o Ateliê de Cartografia de Sciences Po quisadores, professores, doutorandos, alternadas ou empregadas concomi-
e o Labmundo-Rio, grupo de pesquisa cartógrafos) de dois países, Brasil e tantemente. Ao método das articula-
do IESP-UERJ. França. Assim, a equipe do Labmun- ções das escalas temporais e espaciais,
do-Rio contou com uma diversida- que une os parceiros deste proje-
de de perfis individuais e, ao mesmo to, vem somar-se a novidade de asso-
tempo, logrou produzir uma obra de ciar uma rigorosa démarche científica
História de uma cooperação considerável coerência, apesar dos de- a uma ambição didática que visa a di-
safios organizacionais que um projeto fundir o que foi acumulado em anos
Este projeto de cooperação foi desen- dessa natureza envolvia. de pesquisa e, assim, alimentar o deba-
volvido e aprofundado ao longo de te público. A representação cartográ-
vários anos, incluindo desde intercâm- fica é a ferramenta privilegiada nessa
bios acadêmicos clássicos, de profes- estratégia.
sores e pesquisadores, ao trabalho em Abordagem científica
rede. O Ano da França no Brasil, em
2009, foi uma etapa importante nes- Este trabalho retoma, aprofunda e
se processo, uma vez que propiciou aplica a um novo objeto (a política ex- Pensar substância e forma
apoios institucionais e financeiros a terna brasileira) conceitos, noções e
várias publicações (principalmente a métodos já compartilhados pelas equi- Este Atlas é o testemunho de uma
tradução do “Atlas da Mundialização” pes dos dois lados do Atlântico em tor- apropriação impressionante, rápida e
e a organização do livro “Relações in- no dos processos contemporâneos da profunda, da linguagem gráfica e car-
ternacionais: perspectivas francesas”, mundialização. Entre eles salientamos tográfica pela equipe do Labmundo.
por Carlos Milani), que tiveram am- a postura metodológica indispensá- O resultado visibiliza imagens que fa-
pla difusão no Brasil. No contexto des- vel para a compreensão das dinâmi- cilitam a compreensão, o pensamento,
sa manifestação cultural e científica cas internacionais e “intersocietais”, o debate e a ação. Não se trata, portan-
que representou o Ano de 2009, nossa qual seja: considerar sistematicamen- to, de uma cartografia clássica em ter-
exposição “Os espaços tempos do Bra- te as mudanças de escala no espaço e mos editoriais, ou seja, estreitamente
sil”, composta de 27 painéis, consti- no tempo. Uma primeira mudança de ilustrativa de um argumento. Nem
tuiu o primeiro trabalho realizado em escala consiste em identificar e anali- tampouco de uma cartografia muito
parceria em torno de mapas, gráficos, sar as dimensões concomitantemente contemporânea e por vezes “espeta-
fotos e comentários curtos. Em sínte- territoriais e reticulares do espaço das cular”, como podem facilitar os sof-
se, os painéis apresentaram “imagens sociedades nas escalas local, nacional, twares atualmente disponíveis – mas
científicas” que mereciam a visita. regional e mundial (e também no sen- cuja função e resultados podem não
tido inverso). Nesse sentido o Atlas da se distanciar muito da primeira cate-
A publicação do Atlas da Política Ex- Política Externa Brasileira é, ao mes- goria de cartografia. Não se trata de
terna Brasileira, inicialmente em dois mo tempo, uma obra sobre a inserção uma cartografia geopolítica excessi-
idiomas (português e espanhol), em do Brasil no mundo, sua política ex- vamente fundamentada nos confli-
versão impressa e disponibilizado gra- terna no sentido abrangente e as di- tos, em abordagens culturalistas e nas
tuitamente na Internet graças à parce- mensões transnacionais dos atores não relações interestatais (como tende a
ria entre a Editoria da Universidade estatais. Na qualidade de generalistas ocorrer particularmente no contexto
do Estado do Rio de Janeiro (EDUerj) das relações internacionais e do trata- francês), que não integre suficiente-
e o Conselho Latino-Americano de mento gráfico da informação, especia- mente a diversidade dos atores. Essas
Ciências Sociais (CLACSO), marca lizados no estudo sobre os processos duas maneiras de enxergar e tornar vi-
nova mudança de escala e de nature- de mundialização e suas recomposi- sível o mundo, que reduzem o campo
za na compreensão das dinâmicas de ções espaciais, apreciamos o fato de das relações internacionais exclusiva-
inserção internacional do Brasil. Tra- que as questões tratadas neste Atlas mente às relações entre os Estados, são
ta-se, com efeito, de um trabalho vão muito além do que o seu título ainda amplamente difundidas, e isso

VI at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
apesar das evidentes transformações a ser abordado nas duas páginas de Apenas uma parte dos dados coleta-
globais. Um dos grandes méritos des- cada item dos capítulos e na articula- dos foi tratada e novas bases de dados
te Atlas da Política Externa Brasileira é ção dos resultados gráficos com os tex- permanecem inexploradas para novas
ter logrado se demarcar tanto da car- tos pode, em alguns casos, conduzir ao pesquisas. Portanto, esta importante
tografia clássica, quanto da cartografia abandono de algumas pistas ou à pro- etapa conquistada pela equipe do La-
espetacular. dução de documentos aparentemen- bmundo é também um começo. Já
te simples, mas que de fato resultam pudemos observar o uso e a apropria-
Na prática, o trabalho, por vezes lon- de muitas tentativas, modificações e ção dos métodos gráficos e cartográfi-
go, consiste em operacionalizar uma substituições. cos pelos diferentes pesquisadores do
cadeia de etapas desde a reflexão sobre Labmundo, a exemplo das diferentes
as noções a serem explicadas, a pesqui- Apesar dessa dificuldade, este Atlas apresentações durante o IX Encontro
sa em torno das informações conside- apresenta grande variedade de repre- da ABCP (Brasília, 4-7 de agosto de
radas pertinentes, o tratamentos dos sentações gráficas, inclusive algumas 2014). Enriquecidas graças à presen-
dados, para ao final poder represen- que são originais (como as coleções de ça de vários documentos gráficos ori-
tá-los. Não comentamos no detalhe curvas logarítmicas e as matrizes or- ginais, essas demonstrações acabam
cada uma dessas etapas, mas constata- denadas). Esses tipos de representa- por reforçar-se no plano científico e
mos que os autores deste Atlas foram ção gráfica, apesar de muito eficazes, em termos de comunicação. O Lab-
ágeis e criativos na identificação, com- ainda são pouco exploradas pois os mundo torna-se, assim, um polo im-
paração, crítica e seleção das fontes softwares atuais não as propõem auto- portante em matéria de uso e difusão
adequadas para os argumentos desen- maticamente. Deve-se recorrer inclu- do tratamento gráfico como “boa prá-
volvidos. Isso confirma que uma base sive a vários deles para produzir essas tica” da pesquisa, do ensino e da vulga-
sólida de formação em pesquisa em ci- representações, em alguns casos traba- rização científica no campo da Ciência
ências sociais resulta em bons reflexos lhar manualmente. Ao mesmo tempo, Política e das Relações Internacionais.
para encontrar as fontes e os dados re- os autores deste Atlas inspiraram-se,
levantes, tornando secundários os “de- como no caso dos diagramas de flu-
talhes” estéticos. xos, de algumas inovações interessan-
tes que emanam da atual explosão dos Marie-Françoise Durand é geógrafa e
O “exercício gráfico” (la graphique), dataminings e dataviz. coordenadora do Ateliê de Cartografia
pensada e desenvolvida por Jacques de Sciences Po.
Bertin, apresentava dois componen- Portanto, o Atlas da Política Externa
tes essenciais: a exploração dos dados Brasileira é o resultado inovador des- Benoît Martin é geógrafo, cartógrafo
e, a seguir, a comunicação fluida des- sa série de operações, as quais, ade- do Ateliê de Cartografia de Sciences
ses dados. Isso significa que o tem- mais de sua publicação, permitem Po e doutorando no Centre d’Études
po que se pode passar no tratamento difundir formas de pensar e de sa- et de Recherches Internationales de
dos dados em função do problema voir-faire muito úteis para a pesquisa. Sciences Po.

Enara Echart Muñoz

at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a VII
Lista de siglas
e acrônimos

ABC – Agência Brasileira de Cooperação e Caribe


ACNUR – Alto Comissariado das Nações Unidas para CIA – Agência Central de Inteligência dos Estados
Refugiados Unidos (em inglês: Central Intelligence Agency)
AIE – Agência Internacional da Energia CICA – Conselho Indígena Centro-Americano
AIEA – Agência Internacional da Energia Atômica CID – Cooperação Internacional para o
AIDS – Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (em Desenvolvimento
inglês: Acquired Immune Deficiency Syndrome) CIJ – Corte Internacional de Justiça
ALADI – Associação Latino-Americana de Integração CLACSO – Conselho Latino-Americano de Ciências
ALALC – Associação Latino-Alericana de Livre Sociais
Comércio CNI – Confederação Nacional da Indústria
ALBA – Aliança Bolivariana para as Américas CNM – Confederação Nacional dos Municípios
ALCA – Área de Livre Comércio das Américas CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento
ALCSA – Área de Livre Comércio Sul-Americana Científico e Tecnológico
ANA – Agência Nacional de Águas CNT – Confederação Nacional do Transporte
ANCINE – Agência Nacional do Cinema COB – Comitê Olímpico Brasileiro
ANTT – Agência Nacional de Transportes Terrestres COBRADI – Cooperação Brasileira para o
AOD – Assistência Oficial para o Desenvolvimento Desenvolvimento Internacional
ASA – Cúpula América do Sul-África COI – Comitê Olímpico Internacional
ASPA – Cúpula América do Sul-Países Árabes COMIGRAR – Conferência Nacional sobre Migrações
BAD – Banco Africano do Desenvolvimento e Refúgio
BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento COMINA – Conselho Missionário Nacional
BNDES – Banco Nacional do Desenvolvimento Eco- CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento
nômico e Social CONARE – Comitê Nacional para os Refugiados
BRIC – Grupo composto por Brasil, Rússia, Índia e COSIPLAN – Conselho Sul-Americano de Infraestru-
China tura e Planejamento
BRICS – Grupo composto por Brasil, Rússia, Índia, COP – Conferência das Partes (em inglês: Conference
China e África do Sul of the Parties) da Convenção-Quadro das Nações
C40 – Grupo de Grandes Cidades para a Liderança Unidas sobre Mudança do Clima
Climática CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
CAD – Comitê de Assistência ao Desenvolvimento da CPS/FGV – Centro de Políticas Sociais / Fundação
Organização para Cooperação e Desenvolvimento Getúlio Vargas
Econômico CS/ONU – Conselho de Segurança das Nações Unidas
CAF – Cooperação Andina de Fomento CSN – Comunidade Sul-americana de Nações
CAFTA – Tratado Centro-Americano de Livre CSS – Cooperação Sul-Sul
Comércio (em inglês: Central America Free Trade DES – Direitos Especiais de Saque
Agreement) DFID – Departamento para o Desenvolvimento
CAN – Comunidade Andina Internacional do Reino Unido
CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal DH – Direitos Humanos
de Nível Superior DJAI – Declaração Jurada Antecipada de Importação
CARICOM – Comunidade do Caribe DJAS – Declaração Jurada Antecipada de Serviços
CASA – Comunidade Sul-Americana de Nações DNPM – Departamento Nacional de Produção
CBERS – Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres Mineral
CBF – Confederação Brasileira de Futebol EAU – Emirados Árabes Unidos
CDIAC – Centro de Análise de Informações sobre o ECOMOG – Grupo de Monitoramento de Cessar-
Dióxido de Carbono Fogo da Comunidade Econômica dos Estados da
CDS – Conselho de Defesa Sul-Americano África Ocidental
CEED – Centro de Estudos Estratégicos de Defesa ECOSOC – Conselho Econômico e Social das Nações
CELAC – Comunidade dos Estados Latino-America- Unidas
nos e Caribenhos EDUERJ – Editora da Universidade do Estado do Rio
CELADE – Centro Latino-Americano e Caribenho de de Janeiro
Demografia EMBRAER – Empresa Brasileira Aeronáutica S/A
CEPAL – Comissão Econômica para a América Latina EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa

VIII at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
Agropecuária Mundial
END – Estratégia Nacional de Defesa LC – Livre Comércio
EPE – Empresa de Pesquisa Energética LNA – Licenciamento Não Automático
EUA – Estados Unidos da América LRF –Lei de Responsabilidade Fiscal
FAO – Organização das Nações Unidas para MAB – Movimento dos Atingidos por Barragens
Alimentação e Agricultura (em inglês: Food and MAC – Mecanismo de Adaptação Competitiva
Agriculture Organization) MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e
FAPERJ – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado Abastecimento
do Rio de Janeiro MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
FGV – Fundação Getúlio Vargas Comércio
FHC – Fernando Henrique Cardoso MDS – Ministério do Desenvolvimento Social e Com-
FIESP – Federação das Indústrias de São Paulo bate à Fome
FIFA – Federação Internacional de Futebol MEC – Ministério da Educação
FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos MERCOSUL – Mercado Comum do Sul
FIOCRUZ – Fundação Oswaldo Cruz MINURSO – Missão das Nações Unidas para o
FIVB – Federação Internacional de Voleibol Referendo no Saara Ocidental
FMI – Fundo Monetário Internacional MINUSTAH – Missão das Nações Unidas para a
FOCAL – Fórum de Cooperação China-América estabilização no Haiti
Latina MMA – Ministério do Meio Ambiente
FOCALAL – Fórum de Cooperação América Latina- MRE – Ministério das Relações Exteriores
Ásia do Leste NAFTA – Tratado Norte-Americano de Livre Comércio
FOCEM – Fundo para a Convergência Estrutural do (em inglês: North American Free Trade Agreement)
Mercosul NOEI – Nova Ordem Econômica Internacional
FUNAG – Fundação Alexandre de Gusmão NSA – Agência de Segurança dos Estados Unidos (em
GATT – Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (em in- inglês: National Security Agency)
glês: General Agreement on Tariffs and Trade) NSP – Grupo de Fornecedores Nucleares (em inglês:
GEF – Fundo Global para o Meio Ambiente (em inglês: Nuclear Suppliers Group)
Global Environment Fund) NYC – Cidade de Nova York (em inglês: New York
GR-RI – Grupo de Reflexão sobre Relações City)
Internacionais OACI – Organização da Aviação Civil Internacional
IBAS – Grupo composto por Índia, Brasil e África do OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvi-
Sul (também chamado de Fórum IBAS) mento Econômico
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística OCMAL – Observatório de Conflitos Minerais da
IBP – Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e América Latina
Biocombustíveis ODM – Objetivos de Desenvolvimento do Milênio
ICCA – Associação Internacional de Congressos e OEA – Organização dos Estados Americanos
Convenções (em inglês: International Congress and OECS – Organização dos Estados do Caribe Orien-
Convention Association) tal (em inglês: Organisation of Eastern Caribbean
IDH – Índice de Desenvolvimento Humano States)
IED – Investimento Estrangeiro Direto OIM – Organização Internacional para as Migrações
IEP de Paris – Instituto de Estudos Políticos de Paris OIT – Organização Internacional do Trabalho
(em francês: Institut d’Etudes Politiques de Paris - OLCA – Observatório Latino-Americano de Conflitos
Sciences Po) Ambientais (em espanhol: Observatorio Latinoame-
IESP-UERJ – Instituto de Estudos Sociais e Políticos da ricano de Conflictos Ambientales)
Universidade do Estado do Rio de Janeiro OMAL – Observatório de Multinacionais na América
IFAD – Fundo Internacional para o Desenvolvimento Latina
Agrícola (em inglês: International Fund for OMC – Organização Mundial do Comércio
Agricultural Development) OMT – Organização Mundial do Turismo
IIRSA – Iniciativa para a Integração da Infraestrutura ONG – Organização Não Governamental
Regional Sul-Americana ONU – Organização das Nações Unidas
INESC – Instituto de Engenharia de Sistemas e OPEP – Organização dos Países Exportadores de
Computadores Petróleo
INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais OSAL – Observatório Social de América Latina do
INFRAERO – Empresa Brasileira de Infraestrutura Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais
Aeroportuária OSCE – Organização para a Segurança e Cooperação
IOF – Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e na Europa
Seguros ou relativas a Títulos ou Valores Mobiliários OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte
IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada OTCA – Organização do Tratado de Cooperação
ISARM – Programa de Gestão de Recursos e Aquíferos Amazônica
Internacionais/Transfronteiriços da UNESCO PAA – Programa de Aquisição de Alimentos
IURD – Igreja Universal do Reino de Deus PALOP – Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa
JICA – Agência de Cooperação Internacional do PARLASUL – Parlamento do Mercosul
Japão (em inglês: Japan International Cooperation PARLATINO – Parlamento Latino-Americano
Agency) PCN – Programa Calha Norte
LABMUNDO – Laboratório de Análise Política PDN – Política de Defesa Nacional

at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a IX
PDVSA – Petróleo Venezuela S/A UNIAM – Universidade da Integração da Amazônia
PEA – População Economicamente Ativa UNICA – União da Indústria de Cana-de-Açúcar
PEB – Política Externa Brasileira UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas
PEC-G – Programa de Estudantes-Convênio de UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância
Graduação (em inglês: United Nations Children’s Fund)
PEC-PG – Programa de Estudantes-Convênio de UNIDIR – Instituto das Nações Unidas para pesquisa
Pós-Graduação sobre o Desarmamento (em inglês: United Nations
PIB – Produto Interno Bruto Institute for Disarmament Research)
PMA – Programa Mundial de Alimentos UNIFIL – Força Interina das Nações Unidas no Líbano
PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios UNILA – Universidade Federal da Integração
do Instituto Brasileiro de Estatística Latino-Americana
PNUD – Programa das Nações Unidas para o UNILAB – Universidade de Integração Internacional
Desenvolvimento da Lusofonia Afro-Brasileira
QUAD – Grupo formado por Estados Unidos, União UNIRIO – Universidade Federal do Estado do Rio de
Europeia, Canadá e Japão Janeiro
REBRIP – Rede Brasileira pela Integração Regional UNISFA – Força Interina das Nações Unidas em Abyei
REDLAR – Rede Latino-Americana contra as Represas (em inglês, United Nations Interim Security Force
e pelos Índios for Abyei)
RENCTAS – Relatório Nacional sobre o Tráfico da UNMIL – Missão das Nações Unidas na Libéria (em in-
Fauna Silvestre glês, United Nations Mission in Liberia)
SDP – Secretaria de Desenvolvimento de Produção UNMISS – Missão das Nações Unidas na República do
SECEX – Secretaria de Comércio Exterior Sudão do Sul
SEGIB – Secretaria Geral Ibero-Americana UNOCI – Missão das Nações Unidas na Costa do
SEM – Setor Educacional do Mercosul Marfim
SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial UNODC – Escritório das Nações Unidas sobre Drogas
SERE – Secretaria de Estado das Relações Exteriores do e Crime (em inglês: United Nations Office on Dru-
Itamaraty gs and Crime)
SESU – Secretaria de Educação Superior do Ministério UNWTO – Organização Mundial do Turismo (em in-
da Educação glês: United Nations World Tourism Organization)
SIPRI – Instituto Internacional de Pesquisas para a Paz URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
de Estocolmo (em inglês: Stockholm International USAID – Agência dos Estados Unidos para o
Peace Research Institute) Desenvolvimento (em inglês: United States Agency
TFDD – Banco de Dados de Disputa de Água Doce for International Development)
Transfronteiriça (em inglês: Transboundary USP – Universidade de São Paulo
Freshwater Dispute Database) ZOPACAS – Zona de Paz e da Cooperação do Atlântico
TIAR – Tratado Interamericano de Assistência Sul
Recíproca
TNP – Tratado de Não Proliferação Nuclear
TPI – Tribunal Penal Internacional
UAB – Universidade Aberta do Brasil
UE – União Europeia
UERJ – Universidade do Estado do Rio de Janeiro
UFFS – Universidade da Fronteira Sul
UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais
UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul
UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
UFRRJ – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina
UNAMAZ – Associação de Universidades Amazônicas
UNASUL – União das Nações Sul-Americanas
UNComtrade – Banco de Dados e Estatísticas sobre
Comércio das Nações Unidas
UNCTAD – Conferência das Nações Unidas sobre Co-
mércio e Desenvolvimento (em inglês: United Na-
tions Conference on Trade and Development)
UNESCO – Organização das Nações Unidas para Edu-
cação, Ciência e Cultura (em inglês: United Nations
Educational, Scientific and Cultural Organization)
UNESP – Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho”
UNFCCC – Convenção-Quadro das Nações Unidas
sobre Mudança do Clima (em inglês: 
United Na-
tions Framework Convention on Climate Change)
UNFICYP – Força das Nações Unidas para Manuten-
ção da Paz no Chipre

X at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
Índice

Introdução: Uso da cartografia temática Capítulo 4: América do Sul, destino geográfico do


Escolhas teóricas e metodológicas . . . . . . . . . . . . . . . . 4 Brasil?
Como interpretar as imagens? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 Projetos de integração nas Américas . . . . . . . . . . . . . 82
A escolha da projeção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 Da América Latina à América do Sul . . . . . . . . . . . . 84
O mundo político . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 Integração na América do Sul . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
Argentina: parceria estratégica . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
Defesa e segurança na região . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
Energia e a busca da integração pela infraestrutura . 92
Capítulo 1: Formação do Brasil Assimetrias e desigualdades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
Conquista e formação do Brasil colonial . . . . . . . . . . 14 Redes sociais: América Latina ou América do Sul? . . 96
Da sede do Império colonial ao Brasil imperial . . . . . 16
A República e a hegemonia dos Estados Unidos . . . . 18
Desenvolvimento e industrialização . . . . . . . . . . . . 20
Globalização e nova ordem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 Capítulo 5: Novas coalizões, multilateralismo e coo-
Diversidade cultural e pluralismo étnico . . . . . . . . . 24 peração Sul-Sul
O Brasil nas relações Norte-Sul . . . . . . . . . . . . . . . . 100
Sistema ONU: meio ambiente e direitos humanos . 102
Agências econômicas mundiais . . . . . . . . . . . . . . . . 104
Capítulo 2: Brasil, potência emergente? Novos parceiros e coalizões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106
Agronegócio: celeiro do mundo? . . . . . . . . . . . . . . . 28 Governança global mais democrática? . . . . . . . . . . 108
Parque industrial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 Cooperação: de beneficiário a doador? . . . . . . . . . . 110
Logística e desafios ao desenvolvimento . . . . . . . . . . 32 Cooperação Sul-Sul: atores e agendas . . . . . . . . . . . 112
Matriz energética e meio ambiente . . . . . . . . . . . . . . 34 Cooperação Sul-Sul em educação . . . . . . . . . . . . . . 114
Água: recurso vital e estratégico . . . . . . . . . . . . . . . . 36 Cooperação Sul-Sul: África . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116
Minério e indústria extrativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 Cooperação Sul-Sul: América Latina . . . . . . . . . . . 118
Riqueza genética e biodiversidade . . . . . . . . . . . . . . 40
População e diversidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
Pobreza e desigualdade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
Segurança e política de defesa . . . . . . . . . . . . . . . . . 46 Referências bibliográficas
Ameaças globais e transnacionais . . . . . . . . . . . . . . . 48
Cultura como soft power . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
O país do futebol, vôlei e talentos individuais . . . . . . 52
Turismo e imagem nacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
Pluralismo religioso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56

Capítulo 3: Atores e agendas


Itamaraty e diplomacia pública . . . . . . . . . . . . . . . . 60
Diplomacia presidencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
Congresso, ministérios e agências . . . . . . . . . . . . . . 64
Ação internacional dos estados . . . . . . . . . . . . . . . . 66
Ação internacional das cidades . . . . . . . . . . . . . . . . 68
Principais multinacionais brasileiras . . . . . . . . . . . . 70
Organizações e movimentos sociais . . . . . . . . . . . . 72
Atores religiosos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
Brasileiros no exterior . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
Centros de pesquisa e universidades . . . . . . . . . . . . 78

at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 1
Introdução:

Uso da
cartografia
temática

Enara Echart Muñoz


Enara Echart Muñoz
Escolhas teóricas índice de Gini no Brasil, ilustram per-
feitamente esse argumento.

e metodológicas No campo da Ciência Política e das


Relações Internacionais no Brasil, este
Atlas inova em matéria de represen-
tação gráfica, semiológica e estética,
principalmente quando se conside-
ram os estudos sobre a política externa
brasileira. O Atlas permite visualizar
de maneira mais clara a internaciona-
lização das políticas públicas, a com-
paração de uma ou mais variáveis em
Este é o primeiro Atlas da Política Ex- político, social, cultural e ambiental. situações distintas, a presença (com-
terna Brasileira. Iniciado em 2012 e Pode ser de grande utilidade a profes- plementar, mas por vezes contraditó-
fruto da parceria concebida e imple- sores e estudantes de pós-graduação, ria) dos diferentes atores nacionais e
mentada entre o Ateliê de Cartogra- graduação e ensino médio, bem como internacionais nas agendas da política
fia de Sciences Po e o Labmundo-Rio, a jornalistas e profissionais da comu- externa, bem como a complexidade da
grupo de pesquisa do CNPq vincula- nicação, diplomatas, gestores da co- superposição de dados nas distintas es-
do ao IESP-UERJ, o projeto também operação internacional atuando nos calas espaciais: do local ao nacional, do
contou com a participação da Escola setores público e privado, lideranças regional ao global. A visualização dos
de Ciência Política da Unirio. O de- da sociedade civil e ativistas no campo fenômenos da política internacional,
senvolvimento do Atlas foi inspirado da política externa. As imagens (ma- agora por meio da cartografia temáti-
em iniciativas anteriores entre Sciences pas, gráficos, matrizes, cronologias) e ca, reitera a noção de que a fronteira
Po e o Labmundo, por exemplo, a tra- os textos (uma síntese de cada tema) do Estado nacional se encontra diluí-
dução para o português e publicação constituem um conjunto: sempre da no cenário contemporâneo das re-
no Brasil do Atlas da Mundialização apresentados em duas páginas, cobrem lações internacionais - diluída mas não
no ano de 2009. Foi graças à coopera- as mais variadas pautas, agências e di- apagada. A persistência da fronteira
ção institucional com o Ateliê de Car- mensões da inserção internacional do nacional ainda é marca das assimetrias
tografia do IEP de Paris e à parceria Brasil. Essa organização deveria permi- econômicas e das desigualdades polí-
acadêmica com os colegas Marie-Fran- tir ao leitor que pouco acompanha os ticas entre Estados e sociedades na re-
çoise Durand e Benoît Martin que este debates internacionais uma introdu- gião e no sistema internacional.
projeto logrou atingir seus resultados. ção aos temas da política externa sem
A ambos os queridos colegas os nossos o risco da superficialidade; aos mais in- O uso de imagens na cartografia da
mais sinceros agradecimentos. formados ou que já atuam nessa área, política externa brasileira nos reme-
deveria produzir questionamentos e te a uma segunda transformação im-
Tão importante quanto esse trabalho a renovação de suas perspectivas. Na portante. As mudanças na sociedade e
em rede internacional foi a ação co- concepção de cada item dos capítulos, na cultura fazem com que os leitores
letiva concebida no plano local, que os textos acompanham e complemen- tenham menos tempo para se debru-
mobilizou professores, pesquisadores, tam as imagens, podendo ser conside- çar sobre textos. Cada vez mais se faz
doutorandos, mestrandos e estudan- rados um convite a que o leitor atente necessário que os autores encontrem
tes de graduação de duas instituições mais cuidadosamente para a semio- meios de comunicação que tornem
de ensino superior sediadas no Rio de logia e a estética, gerando, assim, um suas mensagens mais claras, dinâmicas,
Janeiro, além de dois geógrafos e car- diálogo com as diferentes formas de que prendam a atenção do público e
tógrafos que se associaram ao projeto expressar o conteúdo e a mensagem que sejam, portanto, mais facilmente
na qualidade de bolsistas. O trabalho desejados pelos autores. compreendidas e lembradas pelos lei-
em equipe, o contínuo treinamento tores. A quantidade de dados disponí-
presencial e virtual, o diálogo inter- O uso de imagens como ilustração de veis cresce quotidianamente, graças às
disciplinar da Ciência Política e Rela- argumentos em meio a textos escritos novas tecnologias, ao dinamismo aca-
ções Internacionais com a Geografia, ou em apresentações não é novidade. dêmico e à busca por transparência de
a valorização de pesquisas em curso Atualmente, o recurso visual é ampla- diversas instituições públicas e priva-
e a realização de novos estudos são os mente empregado em apresentações das. Maior disponibilidade de dados
principais fatores que explicam o de- com retroprojetores, em textos jorna- não implica automaticamente melho-
senvolvimento deste projeto até o seu lísticos (por exemplo, os infográficos), ria na qualidade e na compreensão das
resultado mais desejado: a publicação em livros didáticos e em artigos aca- informações. A cartografia temática
deste Atlas. dêmicos. O emprego de imagens para desempenha, portanto, função social
veicular dados é muito útil para faci- de tradução e de ponte entre mundos
De fato, o Atlas da Política Externa litar o acesso a informações, esclarecer distintos.
Brasileira tem como objetivo principal ideias e conceitos, ilustrar fatos históri-
compartilhar novas leituras da política cos, realidades geográficas e estatísticas. Isso não significa, é claro, que os tex-
internacional e da política externa bra- As imagens, como os textos, veiculam tos devam ser abandonados ou sempre
sileira com pesquisadores e estudantes mensagens, refletem visões de mundo preteridos a favor das imagens. Nada
interessados nas mais diversas formas e interpretações. A escolha de classifi- disso! O Atlas foi concebido por pes-
de inserção brasileira no cenário mun- cações e a definição de recortes, nos ca- quisadores, com base em leituras e in-
dial, do ponto de vista econômico, sos do mapa da América do Sul e do terpretações críticas sobre o papel do

4 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
INTRODUÇÃO

Brasil no mundo. Fundamentamos TIPOS DE CLASSIFICAÇÕES EM MAPAS


Dados hipotéticos usados como base para os mapas
a nossa concepção no uso científico e
acadêmico de mapas, gráficos e matri- Argentina Bolívia Brasil Chile Colômbia Equador Guiana Paraguai Peru Suriname Uruguai Venezuela
zes, a partir de fontes publicadas por Índice 0,46 0,93 0,53 0,49 0,31 0,21 0,11 0,40 0,56 0,13 0,42 0,24
instituições internacionalmente reco-
nhecidas. Da mesma maneira que as
ferramentas da imagem estão sendo Classificação com base na média dos dados
mais utilizadas em jornais impressos, Bolívia 0,93
Máximo - 0,93 (Bolívia)
revistas e outros tipos de documen-
tos na mídia e redes sociais, acredita- Mínimo - 0,11 (Guiana)
Peru 0,56
Brasil 0,53
mos que a academia pode apropriar-se 0,93 - 0,11 = 0,82
dessa linguagem e desenvolver uma se- Chile 0,49
0,82 ÷ 4 = 0,205
miologia com conteúdos próprios, que Argentina 0,46
resultem de pesquisas muitas vezes de- 0,93 Uruguai 0,42
0,93 0,725 0,52 0,315 0,11

senvolvidas ao longo de anos. + 0,205


0,725
Paraguai 0,40

+ 0,205 Sem dados


Colômbia 0,31
A cartografia temática pode ser con- 0,52 disponíveis
+ 0,205 Venezuela 0,24
vertida, assim, em mais um dos ins- 0,315 Equador 0,21
trumentos disponíveis ao contínuo + 0,205
Suriname 0,13
processo de atualização e democrati- 0,11
Guiana 0,11
zação do conhecimento científico, nes-
te caso em matéria de política externa.
Em uma sociedade que se torna pro-
gressivamente mais acostumada com Classificação com base na quantidade de unidades
a tecnologia da internet, a cartografia Bolívia 0,93
temática permite uma linguagem mais Peru 0,56
moderna, dinâmica e interativa, facil- Brasil 0,53
mente adaptável para e-books, portais Chile 0,49
e sítios web, com o uso de cores, ob- Argentina 0,46
Quantidade de países = 12
jetos geométricos e outros modos de Uruguai 0,42
apelo visual. Quantidade de classes = 4 0,93 0,53 0,42 0,24 0,11

Paraguai 0,40
12 ÷ 4 = 3
Democratizar o conhecimento sobre Colômbia 0,31

política externa é fundamental, ainda Venezuela 0,24 Sem dados


disponíveis
mais quando se parte da premissa de Equador 0,21
que a política externa é uma política Suriname 0,13
pública sui generis. Sua singularidade Guiana 0,11
resultaria de dois aspectos principais: Fonte: Elaboração própria.
(i) a sua dupla inserção sistêmica (in-
ternacional, regional, o “lado de fora”
da fronteira) e doméstica (relativa aos Exemplo concreto sobre o índice de Gini em municípios brasileiros, em 2010
Recorte por quantidade de municípios Recorte por média da variável
interesses e preferências em jogo na de-
mocracia); (ii) a preocupação ao mes-
mo tempo com temas constantes da
agenda internacional (integridade ter-
ritorial do Estado, soberania e prote-
ção dos interesses nacionais) que lhe
assegurariam o caráter de “política de
1 1
Estado”, mas também com orienta- 0,54 0,75
ções estratégicas, opções políticas e 0,49 0,5
Labmundo, 2014

modelos de desenvolvimento que po- 0,45 0,25


dem variar ao longo da história e de 0 0
acordo com a conjuntura (sua faceta
de política governamental). Fonte: IBGE, 2010b

Foi com base nessa premissa que se or-


ganizaram os capítulos do Atlas, sem finalmente das relações multilaterais, todos excelente leitura a uso produtivo
pretensão de exaustividade temática. novas coalizões e cooperação Sul-Sul. e profícuo dos mapas, imagens e textos.
Buscamos trazer a dimensão histórica Mais informações sobre o projeto e da-
e de formação da política externa bra- Nas duas próximas seções desta Intro- dos complementares sobre o Atlas da
sileira, embora o foco do Atlas seja a dução apresentaremos algumas no- Política Externa Brasileira podem ser
política contemporânea apresentada tas técnicas e metodológicas relativas obtidos no www.labmundo.org/atlas,
em torno dos recursos de poder (hard e à cartografia temática que nos pare- onde o leitor também encontrará um
soft) do Brasil, dos atores e agendas da cem instrumentais para a compreen- glossário para facilitar o entendimento
política externa, da inserção regional e são dos nossos leitores. Desejamos a de alguns tópicos aqui desenvolvidos.

at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 5
Como interpretar TIPOS DE ESCALA EM GRÁFICOS
Dados usados como base para os gráficos

as imagens?
Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Ano 6
País A 9 000 7 000 9 000 11 000 13 000 16 000
País B 10 000 8 000 6 000 9 000 12 000 10 000
País C 10 40 100 140 200 300

Gráfico com escala aritmética


16 000
País A

12 000

País B
8 000
A cartografia temática é composta por coleta e tratamento dos dados, esco-
técnicas de georreferenciamento e de lhas de projeções, definições semioló- 4 000
transformação de dados em mapas, gicas e estéticas. Todo esse processo
gráficos e matrizes, podendo ser usada deve ser conduzido com o máximo de 0
País C

para a representação de diversos temas rigor, pois impacta diretamente na in- Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Ano 6

sociais, políticos, históricos, econômi- terpretação dos mapas, gráficos e ma-


cos e internacionais, muitos dos quais trizes. Os tipos de escala, aritmética
de difícil mensuração. Disso resulta a e logarítmica, são usados em função Uso da escala logarítmica
necessidade de técnicas que permitam do que se pretende comparar ou de- País A

tratar dados qualitativos e quantita- monstrar: a escala aritmética permite


10 000
tivos. É com esse intuito de esclareci- a comparação de valores, ao passo que País B
mento que apresentamos, a seguir, as a escala logarítmica enseja a compara-
principais ferramentas de cartografia ção da evolução de cada curva. No caso
temática utilizadas neste Atlas. hipotético ilustrado nesta página, fica
claro que a escala logarítmica permite
As imagens apresentadas no Atlas re- enxergar uma taxa de crescimento do 1 000

sultam de extenso trabalho de pesquisa, país “C” não evidenciado pela escala
aritmética. País C

REPRESENTAÇÕES VISUAIS As representações visuais (dos ma-


Representação de uma variável no plano
Tamanho em uma dimensão para quantidades absolutas
pas, gráficos e matrizes) afetam as 100
percepções do leitor, podendo ser in-
6
5
4
fluenciadas por variáveis referentes a
3
2
quantidades absolutas (em uma ou
654321 1 1 2 3 4 duas dimensões) e quantidades rela-
Tamanho em duas dimensões para quantidades absolutas
tivas (mais ou menos valor, com co- 10
16 res e representações visuais distintas).
4
Pode haver relações de proporciona-
1 lidade, ordem e diferença entre os da-
16
dos. No caso da proporcionalidade
e da ordem por hierarquias, usam-se 1
1
4
pontos, traços, quadrados ou círculos Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Ano 6

de tamanhos diferentes: o maior re-


presenta um valor evidentemente su-
Em escala de valor para quantidades relativas Gráfico com escala logarítmica
perior, devendo a legenda esclarecer a 16 000
relação gráfica com o dado quantitati- 9 000
vo. Ou seja, para representar uma mes-
Mais
Valor
Menos
Valor
ma variável no plano, usam-se barras, 300
colunas e espessura de flechas para in-
0
dicar a variação na quantidade dessa x3
única variável. A diferença, por sua vez, País C
é expressada pelo uso de cores, preen-
Representação de mais de uma variável no plano chimentos ou formatos geométricos
Em cores para mostrar diferenças distintos. A fim de demonstrar variá- País A x 1,778
veis diferentes, é necessário mudar a
cor ou a textura utilizada, evidencian-
Em textura para mostrar diferenças do a existência de duas ou mais variá-
veis, que também podem ter escalas de País B
x0
valor dentro delas. Aplicam-se diferen-
Labmundo, 2014

Labmundo, 2014

Em formas geométricas para mostrar diferenças


tes tons da mesma família de cor, em
uma escala de tom escuro para outro Ano 1 Ano 6
Fonte: Durand et al., 2009 mais claro. Fonte: Elaboração própria.

6 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
INTRODUÇÃO

A escolha de como recortar as classes INTERPRETAÇÃO DE TABELAS EM CÍRCULOS PROPORCIONAIS


Dados usados como base para a tabela
também é importante. Não há um
único método para criar classes; estas Sarney Collor Itamar FHC Lula Dilma**
Dilma TOTAL
podem ser divididas de acordo com a Am. do Sul 13 7 14 53 88 18 193
quantidade de unidades, com a mé- Am. Central e C. 0 0 0 5 22 1 28
dia da variável ou de modo discricio- Am. do Norte 5 3 1 14 19 5 47
nário. Cada um desses recortes resulta Europa 3 9 0 31 54 1610
000 107
em uma imagem diferente, que pode África 2 4 1 4 34 10 7000 52
levar a conclusões distintas. O recorte O. Médio 0 0 0 0 10 300
0 10
em classes pode induzir o leitor ao erro, Ásia 2 1 0 8 16 16 4000 31
caso não seja bem explicitado na legen- Oceania* 0 0 0 0 0 10 0000 0
da. Por esse motivo, o leitor deve sem- TOTAL 10 40 100 140 200 300

pre atentar à legenda dos mapas, para

is
na
entender qual o fenômeno representa-

cio
or
Quantidade absoluta de viagens presidenciais
do e como está sendo apresentado.

op
pr
L
*

los
a*
ey

TA
ar
r
lo

lm
m
rn

TO
la
C

cu
l

FH
Co

I ta

Lu
Sa

Di
No campo específico da política ex-

cír
m
Am. do

se
terna, o uso de cartografia temática Sul

a
tad
apresenta diversas vantagens. Ao repre-

en
res
Europa
sentarmos uma imagem, o território

rep
es
fica muito mais evidente para o leitor,

ad
África

tid
principalmente em temas que sofrem

an
Qu
influência direta da geografia política. Am. do
Além das fronteiras (que indicam o ter- Norte
ritório dos Estados) podem ser visua- Ásia
lizados os fluxos (econômicos, sociais,
culturais, ambientais). Por exemplo, Am. 468
em uma apresentação sobre migrações, Central

a proximidade territorial tem grande Oriente 193

influência sobre a movimentação do Médio

fluxo de pessoas; a espessura e a orien- Oceania* 18

tação das flechas, indicando um ponto


de partida e outro de chegada, permi-

Labmundo, 2014
tem vizualizar e compreender rapida- TOTAL *Oceania não foi visitada no período
mente os principais fluxos migratórios **Viagens de Dilma Rousseff até
mundiais. Portanto, a representação Fonte: Planalto, 2014 dezembro de 2013
cartográfica permite verificar quais são
as principais rotas escolhidas pelos mi-
grantes e como a geografia facilita ou entendimento da mensagem que o selecionar em função do tipo de men-
cria obstáculos (a exemplo de mares e emissor quer transmitir. sagem que o autor da imagem visa a
montanhas) para o fluxo das pessoas. construir. Portanto, visualizar e com-
Finalmente, as fontes usadas para a co- parar os mapas e as matrizes a partir
Podemos argumentar no sentido de leta dos dados são muito importantes de dados diferentes também foi um
que imagens podem ser usadas para no processo de confecção de imagens, exercício contínuo no desenvolvimen-
demonstrar números e facilitar a com- como as aqui apresentadas. Algumas to deste Atlas. Por exemplo, em ma-
paração de uma ou mais variáveis, en- dificuldades podem surgir no caminho. téria de energia, utilizamos os dados
tre diversos casos. Por exemplo, ao Os serviços estatísticos dos Estados va- da Central Intelligence Agency dos
comparar a fonte de matriz energéti- riam em qualidade, e no caso brasilei- EUA, porque a fonte mais completa
ca de diversos países, para demonstrar ro a produção de dados e o acesso a além da CIA seria o Banco Mundial.
que a matriz energética brasileira é ma- eles têm-se aperfeiçoado e melhorado Ocorre que o Banco não desagregava
joritariamente limpa, um texto longo desde meados dos anos 1980. Os da- os dados por tipos de fontes de energia,
e com muitos números pode dificul- dos produzidos por organismos inter- incluindo o setor hidroenergético, que
tar o entendimento rápido da com- nacionais (agências do sistema ONU, nos interessava apresentar em separa-
paração que o autor quer comunicar Banco Mundial, OCDE, etc.) e, fenô- do. Fizemos a opção pelos dados da
a seus destinatários. Além disso, o ex- meno cada vez mais importante, por CIA porque eles também são interna-
cesso de informações em um mesmo organizações da sociedade civil e gran- cionalmente considerados de confian-
parágrafo pode tornar a leitura demo- des corporações podem complementar ça, tendo sido usados na produção de
rada, truncada e entediante, eventual- a construção de sentidos sobre a rea- outros Atlas na Europa, nos EUA e na
mente acarretando o desinteresse do lidade do mundo. Os dados, depen- América Latina. É importante esclare-
leitor. Com o uso da imagem (seja por dendo de suas fontes, podem revelar cer que a coleta de dados foi conduzi-
gráficos com círculos, seja por barras realidades nem sempre coincidentes. da ao longo de 2013 e 2014. Padronizar
ou mapas), a comparação fica muito usos e referências também é essencial.
mais evidente. A leitura e a compre- Em muitos casos, torna-se funda- Por exemplo, adotamos como padrão
ensão são imediatas, evitando ruí- mental triangular os dados, sempre o termo “dólares” para indicar dólares
dos na comunicação e facilitando o que possível diversificar as fontes e dos Estados Unidos.

at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 7
A escolha da Os mapas nunca são exaustivos ou
completos, nem totalmente objetivos.

projeção
Orientado ao Norte? A Europa no cen-
tro? O Pacífico ou a África reduzidos?
Uma das decisões mais importantes
na concepção de um mapa diz respei-
to à escolha da projeção. Projeções
cartográficas podem ser entendidas
como um instrumento de represen-
tação do globo por meio de um dese-
nho. É um exercício de transformação
de um objeto tridimensional em uma
representação plana, razão pela qual
PROJEÇÃO DESCONTÍNUA DE GOODE as projeções são objeto frequente de
Projeção de Goode sem alterações questões, críticas e debates. As proje-
ções sempre geram distorções, mais ou
menos acentuadas, de partes do terri-
tório do planeta.

As distorções são perceptíveis mais fa-


cilmente à medida que nos aproxima-
mos dos pólos. Em alguns casos, como
a projeção de Mercator, o estado es-
tadunidense do Alasca é representa-
do maior do que o território brasileiro.
Outro exemplo das distorções pre-
sentes nesta projeção desenvolvida
por Gerard de Kremer é a Groenlân-
dia, representada com território equi-
valente ao do continente africano, mas
Áreas retiradas para a projeção padrão do Atlas que de fato é 50 vezes menor. Além
das distorções da imagem, há outros
questionamentos que são frequente-
mente vinculados à confecção e ao uso
de projeções cartográficas. O primeiro
deles é quanto à disposição no plano:
tradicionalmente, devido à influên-
cia de cartógrafos europeus, a Europa
é representada no centro da projeção.
Também por influência das principais
escolas de cartografia na Europa e nos
EUA, o Norte geográfico é geralmen-
te representado em cima do hemisfério
Sul. Cabe ressaltar que, como o plane-
ta Terra é um geoide, não há necessida-
de de se representar o Norte em cima;
o Sul, o Leste ou o Oeste podem estar
na parte superior.

Projeção padrão do Atlas Ou seja, a escolha da projeção não é


neutra, mas resulta das opções feitas
pelo cartógrafo, cabendo ao pesquisa-
dor a decisão de qual modelo se ade-
qua a seus objetivos. Se o fenômeno
a ser estudado ocorre principalmen-
te no hemisfério Norte, é natural que
o pesquisador dê preferência a pro-
jeções que destaquem essa região do
globo, para deixar a imagem mais evi-
dente ao leitor. Do mesmo modo, se
o objetivo da imagem for representar
por setas algum fenômeno, deve-se dar
Labmundo, 2014

preferência a projeções que deixem os


continentes mais afastados (como a
Projeção cedida pelo Ateliê de Cartografia de Sciences Po projeção de Fuller), para que a flecha

8 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
INTRODUÇÃO

não passe “por cima” de territórios im- DIFERENTES REPRESENTAÇÕES E SUAS DISTORÇÕES
portantes, deixando-os ocultos ou po- Projeção de Bertin Projeção de Fuller
luindo a imagem.

O Ateliê de Cartografia Labmun-


do entende que a escolha da projeção
também deve considerar esse caráter
político da representação. Evitamos
projeções que superestimem a repre-
sentação do hemisfério Norte em
detrimento do hemisfério Sul. Preferi-
mos usar as projeções de Fuller, Bertin
e Goode. Além disso, também é ma-
nifesta a preferência por uma proje-
ção que não seja eurocêntrica, mas que Projeção de Gall-Peters Projeção de Mercator
apresente o Brasil no centro.

As projeções usadas neste Atlas são, em


sua maioria, centradas no continente
americano e não apresentam distor-
ção relevante quanto ao tamanho do
hemisfério Norte. Optamos por man-
ter a representação do Norte para cima
– e isso em função da novidade talvez
excessiva que poderia representar, aos
olhos ainda pouco habituados dos lei-
tores brasileiros, a utilização de pro-
jeções com o Sul geopolítico na parte Projeção Miller Cylindrical Projeção de Robinson
superior do planisfério. No sítio web
do Atlas os leitores poderão encontrar
exemplos de mapas com essa projeção,
que também ilustra a nossa capa.

Este projeto somente foi factível por-


que contou com o apoio de algumas
instituições e a parceria de alguns
pesquisadores, colegas e amigos. Os
apoios financeiros da Faperj, Finep e
CNPq foram decisivos. Agradecemos Projeção Brasil Alasca Índia
ao IESP-UERJ pelo amparo institu-
cional e pelo espaço físico destinado ao
grupo de pesquisa Labmundo-Rio. Os Mercator

nossos agradecimentos também se des-


tinam aos colegas e pesquisadores que
nos ajudaram na obtenção de dados e
na produção de análises, na redação ou
revisão de itens dos diferentes capítu- Miller
Cylindrical
los. Em particular, queremos agradecer
a Breno Marques Bringel, Henrique
Sartori, Cristiano A. Lopes, Bernabé
Malacalza, Rafael C. Fidalgo, Renata
Albuquerque Ribeiro, Danielle Costa Fuller
da Silva e Wallace da Silva Melo. Além
disso, agradecemos aos colegas Da-
niel Jatobá, Elsa Sousa Kraychete, Le-
ticia Pinheiro, Maria Regina Soares de
Lima e Miriam Gomes Saraiva pelos Bertin

comentários, críticas e sugestões feitos


durante o seminário acadêmico que
organizamos no IESP-UERJ em se-
tembro de 2014. É importante lembrar
que as fotos que ilustram os capítu-
Labmundo, 2014

Goode

los do Atlas são todas de Enara Echart


Muñoz, que gentilmente as cedeu para
a publicação deste Atlas. Fonte: Elaboração própria. Projeções cedidas pelo Ateliê de Cartografia de Sciences Po.

at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 9
O mundo político

Canadá

Quirguistão Mongólia
Tajiquistão

Estados Unidos
Afeganistão China

Paquistão Nepal Butão Japão


Coreia
Coréia do Sul
Coreia
Coréia do Norte
Índia Taiwan
Myanmar Hong Kong México
Laos
Bangladesh Tailândia Macau Marianas
Vietnã GuamGuam
(EUA) Micronésia
Filipinas
Palau Ilhas Marshall
Camboja Nauru
Brunei Kiribati
Malásia
Cingapura
Sri Lanka
Maldívias
Maldivas Tuvalu
Indonésia Papua-Nova Guiné
Território Britânico Tokelau (Nova Zelândia)
do Oceano Índico
Wallis e Futuna (França)
Timor Leste
América Central: Samoa
Ilhas Salomão Samoa Americana
a- Ilhas Cayman
1- Ilhas Cayman Vanuatu
b- Turks ee Caicos
2- Turks Caicos Niue
c-
3- Ilhas Virgens (EUA) Nova Caledônia
Caledónia Polinésia Francesa
d-
4- Ilhas Virgens Britânicas (França)
e-
5- Anguilla (Reino Unido) Ilhas Cook
f-
6-Ilha
Ilhade
deSan-Martin
São Martinho(França) Austrália Ilhas Pitcairn (Reino Unido)
g- Coletividade de
7- Coletividade de São
São Bartolomeu
Bartolomeu (França) Tonga
h- Montserrat
8- Ilha (Reino Unido)
de São Martinho
i-
9-São
SãoCristóvão
CristóvãoeeNevis
Nevis Ilhas Fiji
j-
10-Antigua
Antiguae eBarbuda
Barbuda
k-
11-Guadalupe
Guadaloupe (França)
l-
12-Dominica
Dominica
m
13--Martinica
Martinica (França) Nova Zelândia
n-
14-Santa
SantaLúcia
Lúcia
o-
15-Barbados
Barbado
p-
16-São
SãoVicente
VicenteeeGranadinas
Granadinas
q-
17-Granada
Granada
r-
18-Países
PaísesBaixos
BaixosCaribenhos
Caribenhos
s-
19-Curaçao
Curação
t-
20-Aruba
Aruba

Fonte: Elaboração própria.

10 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
INTRODUÇÃO

Europa
1- Guernsey 21- Bósnia e Herzegovina
2- Jersey (Reino Unido) 22- Montenegro
3- Andorra 23- Albânia Groelândia Jan Mayen
4- Bélgica 24- Macedônia (Dinamarca)
5- Luxemburgo 25- Kosovo Noruega
6- Holanda 26- Sérvia Suécia
7- Mônaco 27- Åland (Finlândia) Finlândia
Suíça
8- Suiça Estônia
28- Estónia Islândia 27
9- Itália Letônia
29- Letónia Ilha de Man 28
10- Alemanha 30- Lituânia (Reino Unido) 29 Rússia
12 30
11- Liechtenstein Romênia
31- Roménia 6
12- Dinamarca 32- Bulgária Irlanda 34
13- Vaticano 33- Moldávia 4 5 10 Polônia
Reino Unido 1 2 17 Ucrânia
14- San Marino 34- Bielorrússia 11 15 18 Kasaquistão
15- Áustria 35- Chipre França 8 16 19 31 33
16- Eslovênia 36- Chipre do Norte 9 20 21 26 Azerbaijão
3
17- República Checa 7 14 22 25 24
32 Geórgia Uzbequistão
18- Eslováquia Portugal Espanha 13 23
19- Hungria Turquia Turcomenistão
20- Croácia Tunísia Armênia
Açores Grécia 35 36 Síria
Bermudas Ilha da Madeira Malta Líbano
Marrocos Iraque Irã
Palestina
Israel Jordânia Kuwait
Argélia Líbia Bahrein
Cuba Bahamas Rep. Dominicana Saara Egito Catar
Belize Porto Rico Ocidental Arábia EAU
2b Saudita
a1 3c 4d 5e
f6 g
7 10 Mauritânia Mali Omã
Jamaica 89
h j k11 Senegal Níger
Honduras Haiti i l12 Chade Sudão Eritreia Iêmen
20
t 19
s r18 13
m 14
n 15
o Cabo Verde
Nicaragua
Nicarágua p
16 17
q Burkina Djibouti
Gambia
Trinidad Guiné-Bissau
Guiné Bissau Guiné Somália
Guatemala e Tobago Nigéria
Venezuela Gana Sudão Etiópia
Serra Leoa República do Sul
El Salvador Guiana Libéria Centro-Africana
Costa Rica Colômbia Suriname Camarões
Guiana Francesa Togo Uganda
Panamá Bénin
Benin Quênia
Equador Costa
Costa do
do Marfim
Marfin República Ruanda
São Tomé e Príncipe Democrática Burundi
do Congo Comores
Guiné Equatorial Tanzânia Seychelles
Gabão
Brasil Congo
Peru Angola
Zâmbia Moçambique
Rep. de
Bolívia Maurício
Maurícia
Zimbábwe
Malawi
Malaui
Botswana Madagascar
) Namíbia
Chile
Paraguai Suazilândia
Argentina Reunião
Uruguai África do Sul Lesoto
Labmundo, 2014

Ilhas Malvinas
Ilhas Geórgia do Sul e Sandwich do Sul
100 km

at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 11
Capítulo 1:

FORMAÇÃO
DO BRASIL

Enara Echart Muñoz


Enara Echart Muñoz
O processo histórico de constituição e desenvolvimento do Estado-nação
brasileiro legou características e potencialidades estruturais em suas for-
mas de inserção internacional. É inescapável ao analista das relações inter-
nacionais e da política externa brasileira (PEB) compreender o modo co-
mo ocorreu a consolidação territorial do país, os ciclos econômicos atra-
vessados e a importância dos fluxos migratórios internacionais. Os mais
de cinco séculos de história da inserção internacional do Brasil, primeiro
como colônia do Império português, depois Reino Unido a Portugal e,
enfim, Estado independente, foram em boa parte marcados pelo paradig-
ma agrário-exportador, que só seria modificado em meados do século
XX. As monoculturas da cana-de-açúcar, do café, da borracha e a explora-
ção de minerais como ouro e diamantes definiram decisivamente as rela-
ções exteriores do Brasil, além de reforçarem as características históricas
de sua conformação social, política e produtiva. Neste capítulo, apresen-
tamos as raízes históricas da PEB, fundamentais para a compreensão tem-
poral dos vários temas que, nos capítulos seguintes, serão analisados em
suas dinâmicas contemporâneas. Temas como migração, multilateralismo
e economia estão conectados com unidades subsequentes e nos dois mo-
mentos o texto faz indicação expressa desta complementação (por meio
do “Veja também”), sugerindo uma leitura não linear do conteúdo, o que
é uma característica do Atlas em geral. Nos itens finais deste capítulo se-
rão apresentadas, em perspectiva histórica, as grandes transformações que
caracterizam a inserção internacional contemporânea do Brasil, por exem-
plo, seu recente ativismo em questões globais ou, em um âmbito domés-
tico, a demanda por maior participação social na formulação da política
externa brasileira.
Conquista e lados foi mais conflitivo do que amis-
toso, com saldo negativo para os indí-

formação do
genas. E foi definido por apresamento,
aculturação, estímulo a rivalidades in-
tertribais e pela difusão de doenças
europeias entre indivíduos sem imu-

Brasil colonial
nidade aos males europeus. A chegada
ao continente não desviou o interesse
europeu pelo caminho das Índias. No
Brasil, além do extrativismo, o proje-
to de colonização iniciou-se só a partir
de 1530. Dividiu-se o território em ca-
pitanias e implantou-se a monocultura
A chegada dos europeus às Améri- levaram à projeção mundial da Europa. de cana-de-açúcar. A mão de obra foi
cas resultou do processo de expansão Os primeiros europeus a aportarem inicialmente de indígenas capturados
marítima e comercial no início da in- nesta região encontraram populações e depois de escravos africanos.
ternacionalização do capitalismo. Fa- indígenas divididas em mais de 2 mil
tores culturais, políticos e econômicos povos e tribos. O contato entre os dois O território era delimitado pelo Trata-
do de Tordesilhas. Sua definição nunca
foi simples, nem mesmo levada rigo-
CONTINENTE AMERICANO ÀS VÉSPERAS DA CONQUISTA EUROPEIA rosamente em consideração. A união
Principais povos indígenas e áreas culturais As cores representam áreas culturais, das cortes ibéricas também contri-
definidas por etnólogos e arqueólogos
INUITS
que realizaram uma classificação das
buiu para o espraiamento da presença
INUIT
S múltiplas sociedades aborígenes. de portugueses pelo território colo-
ALEÚTES

As áreas culturais compartilham modo nial espanhol. O Tratado de Madri de


de subsistência, organização política e
NU
U
OJÍBUAS
social, sendo às vezes unificadas pela 1750 consolidaria a nova divisão espa-
ALGONQUINOS difusão de línguas dominantes como o cial entre portugueses e espanhóis. A
-C
HA

S
HURÕES SE nahuatl na Mesoamérica ou o quechua
UE
H-N

IROQ nos Andes. soberania da América Portuguesa foi


ULT

CHEYENNES São o produto de composições entre ameaçada por outros reinos, como
SHOSHONE indivíduos sedentários e nômades,
NAVAJOS
COMANCHES,
CHEROKEES agricultores e guerreiros, cada grupo França e Inglaterra. Holandeses ocu-
América do Norte
APACHES
NATCHES conservando alguns de seus param o Nordeste por longo perí-
Ártico particularismos.
Sub-ártico Não são, porém, mundos fechados; odo, criando um sistema político e
NÁUATLES ao contrário, as áreas culturais são
Costa noroeste MAIAS
OTOMIS espaços de circulação, por terra e por
Planalto mar.
Grande bacia ARUAQUES EXPORTAÇÕES COLONIAIS
S CARAÍBAS
Califórnia CHIBCHA em milhões de libras esterlinas, 1500-1822
AROS
JI V
Sudoeste ARUAQUES
ÉCHUAS
300 Açúcar
Grandes planícies QU
Nordeste TUPIS TUPIS 170 Ouro e diamantes
Sudeste 15 Couros
AIMARAS TUPIS
Mesoamérica 15 Pau-brasil e outras madeiras
S

Mesoamérica
A NI

12 Tabaco
AR

América do Sul 12 Algodão


GU

Caribe QUÉCHUAS 4,5 Arroz


Savana Orinoco 4 Café
Andes
Labmundo, 2014

3,5 Cacau e especiarias diversas


Floresta tropical 1000 km
Labmundo, 2014

Atlântico Total: 536


ALAKALUF
Sul
Fonte: Simonsen, 2005.
Fontes: L’Histoire, 2012; Barraclough, 1991.

BRASIL COLÔNIA, 1500 - 1808


1625
1492
Expedição de Colombo
1555-1567 Publicação de
Franceses ocupam a baía ‘Do direito da guerra
chega ao continente americano
de Guanabara 1602 e da paz’, de Hugo Grotius
1494 Holandeses criam a Companhia
Tratado de Tordesilhas das Índias Orientais e iniciam
1500 atuação no delta amazônico
Expedição de Cabral 1612-1615
chega a Porto Seguro na Bahia Franceses ocupam o Maranhão
1517
1580-1640
Lutero inicia Reforma 1624-1625
União Ibérica Holandeses ocupam
1492

Protestante na Europa
1651

1529 Salvador
Eventos domésticos
Tratado de Saragoça
Golpes e mudanças de regime 1630-1654
1530
Início da ocupação
Eventos internacionais Formação das capitanias hereditárias holandesa no Nordeste
Relações internacionais do Brasil
1545 1598

14 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
FORMAÇÃO DO BRASIL

EUROPEUS À CONQUISTA DO MUNDO


Principais expedições nos séculos XV e XVI
* as datas indicam a chegada aproximada
John Davis, 1587 ao ponto mais distante da partida
(Inglaterra)

Jacques Cartier, 1534 Império português no séc. XVI


(França)
Jean Cabot, 1497 Territórios não conhecidos
(Inglaterra) pelos europeus
durante o séc. XVI
Áreas já alcançadas por
europeus no séc. XVI

Cristóvão
Colombo, Vasco
1492 (Espanha) da Gama,
1498
(Portugal)
Bartolomeu
Dias, 1488
(Portugal)
Américo
Vespúcio,
1497 (Espanha)

Fernão
s

de Magalhães,

Trata
esilha

1522 (Espanha) Pedro A. Cabral,


1500 (Portugal)

do d
Tord

Labmundo, 2014
e S
e

ara
T. d

Território declarado como de influência 1000 km

go
portuguesa pela Igreja Católica (exceto Europa)

ça
Fontes: Barraclough, 1991; Duby, 2003.

econômico de duradouro impacto. avanço da urbanização, interiorização na condução do Brasil independen-


Sua expulsão foi um dos primórdios da e diversificação das profissões liberais, te ajudam a explicar a manutenção da
formação da nacionalidade brasileira. além do surgimento de uma camada unidade territorial e o processo de in-
social média. Com a mineração, des- dependência relativamente pacífico.
O Brasil colonial teve sua inserção in- locou-se o eixo econômico e político,
ternacional baseada na dependência contribuindo para a transferência da
direta de sua metrópole e indireta da sede política de Salvador para o Rio VEJA TAMBÉM:
Inglaterra, com produção econômica de Janeiro. A invasão de Portugal por Brasil Império p. 16
marcada pela monocultura de exporta- Napoleão Bonaparte deu fim ao perí- Diversidade cultural p. 24
ção (gêneros agrícolas, principalmen- odo colonial. A vinda da família real, Integração na América do Sul p. 86
te a produção de cana-de-açúcar). A a ascensão do Brasil a Reino Unido Relações Norte-Sul p. 100
descoberta de ouro contribuiu para o e a presença de um de seus membros

1750
Portugal e Espanha 1789
1680
assinam Tratado de Madri Revolução Francesa
Fundação da Colônia do Sacramento
1648 1755
Esquadra portuguesa, armada 1681
Terremoto em Lisboa destrói
no Rio de Janeiro e com índios Chega a um milhão o número
sede do Império Português
brasileiros, reconquista de escravos trazidos de Angola
1759
Angola dos holandeses 1687 Companhia de Jesus é expulsa
1657 Fundação dos Sete Povos das Missões do Brasil pelo Marquês de Pombal
Guerra entre Portugal e Holanda 1763
1694
por disputas ultramarinas. Transferência da capital de Salvador
Descobertas as primeiras
Ao assinar Tratado de Paz (1661), para o Rio de Janeiro
1651

1810

jazidas de ouro em Minas Gerais


Portugal reconhece a perda 1773
de territórios orientais 1703 Escravidão abolida
1673 Portugal e Inglaterra no Reino de Portugal
Chegada dos primeiros assinam Tratado de Methuen 1782
casais de colonos açoreanos Ingleses desocupam Ilha de Trindade
1704 1757

at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 15
Da sede do Com a chegada da Corte, o Brasil pas-
sou a ser centro do Império português,

Império colonial
apesar de cristalizar uma relação sub-
missa à Inglaterra, como visto, em
1808, na abertura dos portos às nações
amigas. Nem mesmo a independência

ao Brasil imperial
alterou o caráter desigual e hierárqui-
co das relações entre Brasil e Inglaterra,
haja vista que a primeira dívida exter-
na do Brasil independente, a fim de pa-
gar compensações à antiga metrópole,
foi contraída junto à coroa britânica.
GUERRA DA TRÍPLICE ALIANÇA, 1864-1870
O Brasil independente contrastava
BOLÍVIA* com o restante da América Latina: era
Corumbá
a única monarquia entre as repúblicas
Coxim da região. Este fato, somado à unifor-
Albuquerque
midade das elites e à estabilidade polí-
Forte Coimbra tica e social do Brasil Império, criou no
imaginário político doméstico da épo-
Miranda ca a crença de um país civilizado em
da
efini meio a repúblicas caudilhescas. Nas re-
ão d Nioaque
t e i ra n guerra
Fron poca da lações regionais, sobressaía a rivalidade
àé
com a Argentina e o esforço por man-
Laguna
Dourados ter a região da bacia do Prata de modo
Rio

PARAGUAI a não ameaçar as fronteiras e os interes-


Cerro Corá
Par

ses do país, em um sistema regional de


aguai

balança de poder. Ao longo do século


BRASIL XIX, o país buscou manter sua hege-
Assunção
monia nessa região. Entre 1821 e 1828,
Itororó
Avaí
manteve a posse territorial da provín-
165 km
cia Cisplatina. Já com o Uruguai inde-
á

Humaitá
n

pendente, o Brasil buscou influenciar a


ra

Curupaiti
Pa

R io
Tuiutí
vida política do novo país, fruto da ri-
validade com Buenos Aires.
Corrientes Fronteiras atuais
Riachuelo São Borja As intervenções brasileiras na região e a
Jataí Itaqui Principais batalhas expansão econômica do Paraguai alte-
raram a balança de poder regional e re-
ARGENTINA Uruguaiana Máxima extensão
do controle paraguaio sultaram no maior conflito armado da
durante a guerra história da América do Sul, envolven-
Avanço das tropas do Brasil, Argentina, Uruguai e Para-
á
ran

paraguaias guai. A Guerra da Tríplice Aliança teve


Rio Pa

URUGUAI Área litigiosa entre resultados significativos para o Brasil,


Paraguai e vizinhos
como a consolidação de seu exército e
o aumento da dívida com a Inglater-
Labmundo, 2014

Morte de S. Lopes
e fim da guerra ra, além de contribuir indiretamente
Fontes: Albuquerque et al., 1977; Goes Filho, 1999; Montevidéu * A Bolívia não para a abolição do regime escravocrata.
Wehling e Wehling, 2002; Gurnak et al., 2010. participou da guerra As fronteiras dos países também foram

FORMAÇÃO DO ESTADO BRASILEIRO, 1808 - 1889


1801 1822
1835
Tratado de Badajoz 1811 Independência brasileira Rev. Farroupilha (fim 1845)
1807 Portugal intervém na Banda Oriental 1843
1825
Fuga de Lisboa 1817 Início Guerra Cisplatina (fim em 1828) Abertura do primeiro
1808 Rev. Pernambucana Consulado do Brasil
Chegada da corte 1827 na China, em Cantão
1820
Abertura dos portos Brasil e EUA rompem relações
Rev. Porto
1821 1844
1809-1814 Anexação da Província Cisplatina Tarifa Alves Branco
D. João ordena ocupação 1823 1845
de Caiena com apoio britânico Presidente dos EUA lança Doutrina Monroe Parlamento
1800

1850

1810 1824 britânico


Tratados entre Portugal Confederação do Equador sanciona o bill
e Grã-Bretânha de Comércio Primeiro empréstimo público externo, junto à City londrina Aberdeen
e Navegação e de Aliança e Amizade
D. Pedro I Período Regencial D. Pedro II

1810 1820 1830 1840

16 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
FORMAÇÃO DO BRASIL

reordenadas: o Paraguai, por exemplo, como Ministro das Relações Exterio- EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS
perdeu cerca de 40% de seu território. res. O Barão participou diretamente Total de cada década em porcentagem do total, entre
1821 e 1890
dos acordos que garantiram a sobe- Café
Mais da metade das fronteiras brasilei- rania brasileira sobre os territórios do
50
ras foi definida ao longo do século XIX. Acre, de Palmas (SC) e do Amapá.
Fazendo uso do uti possidetis, o Brasil
realizou várias negociações fronteiriças A extensão e unidade do território bra-
com os vizinhos. A região Sul foi a de sileiro também foram conseguidos à Açúcar
30
maior complexidade, em função dos custa da repressão de movimentos in- Borracha
receios dos vizinhos e da extensa fron- ternos separatistas, tais como a Confe- Algodão
teira em litígio. Acordos internacionais deração do Equador, a Cabanagem, a 10
Couros e pele
sucederam-se a partir da segunda me- Revolução Farroupilha, República Ju-

Labmundo, 2014
tade do século XIX, porém também liana e a Inconfidência Mineira. Fumo

aconteceram conflitos armados que vi- 1830 1850 1870 1890

savam a garantir a soberania nacional Na economia, produtos como café, Fonte: Almeida, 2001.
sobre o território. Em geral, primou o açúcar, borracha e algodão destina-
uso pelo governo brasileiro da via di- ram-se à exportação. No caso do café, a
plomática na solução das controvérsias tecnologia empregada evoluiu vagaro- e 1883, aportaram às terras brasileiras
territoriais. samente e ao final do século novas téc- cerca de 540 mil migrantes, dos quais
nicas aumentaram a produtividade das 220 mil portugueses, 96 mil italianos,
A consolidação das fronteiras seria fazendas e uma nova forma de mão de 70 mil alemães e 15 mil espanhóis.
completada, no começo do século XX, obra passou a ser empregada: o escravo
graças à liderança do Barão do Rio africano foi paulatinamente substituí- O mercado consumidor internacional
Branco, antes e durante o seu mandato do pelo migrante europeu. Entre 1819 do café brasileiro se expandia à medi-
da que novos centros urbanos se for-
mavam e que ascendiam novas classes
FRONTEIRAS BRASILEIRAS NA HISTÓRIA médias nos EUA e na Europa. Na vi-
Venezuela 1817 Algumas disputas fronteiriças
rada para o século XX, o café seria o
Inglaterra França
1859 1904 mais importante produto da pauta
1900
Colômbia Tratado de de exportação e os EUA o seu maior
1907 Madrid,1750
Madri, 1750 consumidor.
Peru Tratado de Santo
1851 Ildefonso, 1777 Nas vésperas da República, o Brasil ti-
Tratado de nha pouco mais de 14 milhões de habi-
Badajóz, 1801
tantes, já então bastante miscigenados
494)

Fronteiras atuais e no geral de baixa instrução. Essen-


has (1

Conflitos resolvidos cialmente agrícola e rural, tendo como


único grande centro urbano o Rio
desil

Bolívia América
América Disputas perdidas
Áreas ainda
1867 e 1903 em disputa de Janeiro com 500 mil habitantes, o
Portuguesa
Por tuguesa
. To r

Áreas ainda
em disputa
país era pouco integrado econômica e
territorialmente.
I. da Trindade
Paraguai
1872 250 km Inglaterra
Argentina 1895 VEJA TAMBÉM:
1895
*as datas indicam o momento Integração na América do Sul p. 86
em que os dois Estados acordaram
Labmundo, 2014

Uruguai
fronteira em comum na região indicada Argentina p. 88
1851 Governança global p. 108
Cooperação Sul-Sul p. 112
Fontes: Goes Filho, 1999; Gurnak et al., 2010; Albuquerque et al., 1977.

1861
1850 1867-1869 1889- Proclamação
Questão Christie 1876
Aprovação entre Brasil Brasil e Peru rompem da República
relações D. Pedro II
da Lei Euzébio de Queirós e Grã-Bretanha é o primeiro monarca
e da Lei de Terras a visitar os EUA
1863-1865 1871
1853 Brasil e Grã-Bretanha 1884
Lei do Ventre Livre 1889
EUA pressionam rompem relações Início
para ter direito EUA, Argentina e Uruguai
da Conferência reconhecem o novo regime
à livre-circulação 1864
de Berlim
ao rio Amazonas Tropas brasileiras republicano brasileiro
1854
invadem o Uruguai I Conferencia Internacional
1879-1883 Americana, em Washington
Brasil Intervém Guerra do Pacífico,
no Uruguai Guerra Paraguai entre Peru e Bolívia
1850

1900

1859
Prússia proíbe 1866 contra o Chile, 1888
emigração O rio Amazonas é aberto em que o Brasil Abolição da escravatura
para o Brasil à navegação internacional permanece neutro
Deodoro F. Peixoto P. de Moraes C. Sales

1860 1870 1880 1890

at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 17
A República e a RELAÇÕES COMERCIAIS
Comércio brasileiro, entre 1901 e 2010 (em milhões
de dólares)*

hegemonia dos
100 000

10 000

Estados Unidos 1 000

100
01 920 930 940 950 960 970 980 990 000 010
19 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2
* Foi adotada a escala logarítimica

O Império do Brasil (1822-1889) man- No começo do século XX, o fortaleci-


Participação do comércio com os EUA, entre 1901
teve laços de lealdade com as famílias mento das relações Brasil-EUA visava e 2010 (% do total)
reais e as monarquias da Europa, en- a “republicanizar” a PEB. Afirmava o 50
quanto assistia com distância crítica Manifesto Republicano de 1870: Nós
40
ao desenrolar da Doutrina Monroe. somos americanos e queremos ser
As relações entre Brasil e EUA muda- americanos. Resultado para a PEB: 30
ram com o advento da República no posições menos favoráveis à Europa e 20
Brasil, devido não apenas à proximi- aproximação com os EUA e vizinhos
dade ideológica dos regimes políticos hispânicos. O Acordo de Cooperação 10

e à afirmação do ideal republicano no Aduaneira, assinado em janeiro de 1891 0


0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
/1 /2 /3 /4 /5 /6 /7 /8 /9 00 1/1
continente americano, mas também com os Estados Unidos, o apoio esta-

Labmundo, 2014
01 11 21 31 41 51 61 71 81 /2 0
19 19 19 19 19 19 19 19 19 991 20
pelos interesses econômicos dos cafei- dunidense – ao lado de ingleses, por- Exportação do Brasil para os EUA
1

cultores ligados à exportação. As rela- tugueses, italianos e franceses – aos Importação dos EUA pelo Brasil
ções do Brasil com os Estados Unidos militares republicanos sob a liderança Fonte: MIDC, 2008.
passariam, ao longo do século XX, a de Floriano Peixoto em 1893 e o Trata-
constituir-se no elemento sistêmico do de Cooperação assinado com a Ar-
mais relevante da PEB. gentina em 1896 são exemplos dessa
aproximação. XX pode ser explicado à luz dos em-
bates entre esses dois posicionamentos.
PACTO DO RIO Na transição para o século XX, as rela- Durante os primeiros trinta anos do
Participação no TIAR, entre 1947 e 2014
ções econômicas e políticas entre e Bra- século XX, o Brasil manteve sua posi-
sil e EUA passaram a ser fundamentais ção de país alinhado com os interesses
na definição das prioridades e orienta- dos EUA, procurando tirar benefícios
ções estratégicas da PEB, provocando, das condições de segurança continen-
inclusive, o desenvolvimento de visões tal garantidas na América Latina pelo
1 000 km diferenciadas da diplomacia brasilei- prestígio internacional da nova potên-
ra. Dois posicionamentos podem ser cia. Foi assim que a autonomia relativa
Membros originários considerados marcos interpretativos nos marcos de uma “aliança não escri-
Estados que aderiram
ao longo do tempo*
desenvolvidos no seio do Itamaraty so- ta” com os Estados Unidos (expressão
Estados que se retiraram** bre as relações Brasil-EUA: o da alian- de Bradford Burns, forjada em 1966)
*Datas de adesão: Nicarágua (1948),
ça com os EUA e o de uma diplomacia e o fortalecimento doméstico da PEB,
Equador (1949), Trinidad e
Tobago (1967) e Bahamas (1982).
universalista e diversificada (comér- sob a liderança do Barão do Rio Bran-
cio com a Europa ocidental e orien- co (1902-1912), garantiram ao Brasil
Labmundo, 2014

**O México (em 2004), assim como


Bolívia, Equador, Nicarágua e tal, os continentes asiático e africano, bons resultados nas negociações terri-
Venezuela (em 2012) retiraram-se
do tratado. a América Latina e o Oriente Médio). toriais com os países vizinhos na Amé-
Fontes: Itamaraty, 2013a; OEA, 2014 Muito da PEB republicana do século rica do Sul.

REPÚBLICA OLIGÁRQUICA, 1889 - 1930


1895 1904
Laudo arbitral pelos EUA 1900 Proferido o corolário Roosevelt à Doutrina Monroe
1891-1894 na questão de Palmas Laudo arbitral suíço 1905
Convênio aduaneiro com a Argentina na questão do Amapá Troca de embaixadas entre
com os EUA Tratado de amizade, comércio Brasil e EUA
e navegação com o Japão
1902-1912
1893 O Barão do Rio Branco é Ministro 1906
Apoio estrangeiro aos republicanos das Relações Exteriores III Conferência Pan-Americana
na Revolta da Armada 1902 no Rio de Janeiro
Na Argentina, é proferida
1907
1894-1896 a Doutrina Drago
Rui Barbosa na
1910
1890

Ocupação britânica 1903 II Conferência de Paz


da Ilha da Trindade Tratado de Petrópolis na Haia
com a Bolívia sobre o Acre

Deodoro F. Peixoto P. de Moraes C. Sales Rodrigues Alves Afonso Pena N. Peçanha

1895 1900 1905

18 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
FORMAÇÃO DO BRASIL

O Brasil aceitou o Corolário Roosevelt EUA E BRASIL NA INTERVENÇÃO NA REPÚBLICA DOMINICANA


e não apoiou a Doutrina Drago anun- Intervenção na República Dominicana, em 1965
42
ciada em 1902 pelo governo argentino. EUA
.6 0
0
Essa doutrina afirmava que nenhu- Quantidade de
tropas (acima de
ma potência estrangeira deveria po- 150 soldados)
der utilizar a força contra uma nação
americana a fim de lhe obrigar ao pa- Países
interventores
gamento de suas dívidas. A Argentina
era percebida pela elite brasileira como 1 60
1.1
o principal rival no Cone Sul, e as re- Honduras 30
lações entre o Brasil e os EUA nesse pelos americanos

184
Guatemala
período também serviram para minar a Vargas. Os
o projeto de construção de uma lide- EUA procura- Nicarágua
rança regional da Argentina. Em 1905, ram envolver o Costa Rica
Rio de Janeiro e Washington concor- Brasil em seu sis-
daram em elevar à categoria de embai- tema de poder a
xada suas respectivas representações fim de neutralizar a influên-
diplomáticas e os EUA mantiveram o cia alemã. Recorde-se que a Ale-
Brasil
mesmo embaixador no Rio de Janei- manha, em 1930, era responsável por
ro (Edwin Morgan) entre 1912 e 1933, 25% das importações brasileiras, ligei-
fato que contribuiu ainda mais para a ramente acima dos EUA. A coopera-
aproximação entre os dois países. Em ção também se deu nos campos militar
1914, o embaixador Cardoso de Olivei- (sobretudo no que diz respeito à mo- Paraguai 500 km
ra, representante brasileiro no México, dernização dos aeroportos no Nordes-
atuou nesse país como mediador dos te do Brasil) e industrial (por exemplo,

Labmundo, 2014
Uruguai
interesses norte-americanos. no setor do aço, com o financiamen-
to da construção da usina de Volta
No entanto, a grande depressão de Redonda), muito embora as Forças Ar- Fonte: White, 2013
1929, a instabilidade na Europa e a in- madas estivessem divididas: Marinha
satisfação dos países da América Latina com o Reino Unido e o Exército en-
com a política dos EUA para a região, tre Alemanha e EUA. O “jogo duplo” Juraci Magalhães, primeiro embaixa-
entre outros fatores, levaram a algumas de Vargas entre a Alemanha e os EUA dor nos EUA e depois chanceler, che-
mudanças na postura dos EUA para a (1935-1941), conhecido como a estraté- gou a a afirmar “o que é bom para os
América Latina a partir de 1930. Apesar gia política da equidistância pragmá- EUA é bom para o Brasil”. Em outros
das promessas retóricas de cooperação tica, associou claramente a PEB aos momentos (Política Externa Indepen-
econômica de Franklin D. Roosevelt, desafios do desenvolvimento nacional dente, Pragmatismo Responsável e
o conteúdo real da política dos Estados e a colocou, ao final de 1945, sob nítida Ecumênico), a PEB rompeu com a tra-
Unidos não foi alterado e a liderança área de influência norte-americana. O dicional continuidade, ousou sair da
norte-americana continuou a fundar- equilíbrio entre opção preferencial pe- sombra do hegemon do Norte e pensar
se na Doutrina Monroe. O discurso los EUA e diversificação das parcerias de modo autônomo e soberano suas
da cooperação ajudou, porém, os EUA é considerado uma variável explicativa estratégias de inserção internacional.
a consolidarem sua esfera de influên- da PEB ao longo do século XX.
cia hemisférica em um momento-cha-
ve do século XX: a Segunda Guerra Em alguns momentos a PEB pendeu VEJA TAMBÉM:
Mundial e a ordem da Guerra Fria. O fortemente para a associação ou o ali- Segurança e defesa p. 46
Brasil se manteve neutro no confli- nhamento quase automático com os Novas Coalizões p. 106
to até 1942, quando se alinhou com EUA (governo Dutra, primeiros anos Governança global p. 108
os Estados Unidos. Esse alinhamen- do regime autoritário, intervenção Cooperação Sul-Sul p. 112
to foi facilitado por concessões feitas militar na República Dominicana).

1915 1922 1926


1909
Tratado pacifista Ascensão do fascismo Brasil veta ingresso da
Projeto de Pacto ABC,
entre países do ABC de Mussolini na Itália Alemanha na Liga das Nações,
entre Argentina, Brasil e Chile 1916 Missão naval dos EUA Brasil sai da Liga das Nações
Superando a Grã-Bretanha, Semana de Arte Moderna em nome da “dignidade nacional”
1912 os EUA se tornam o principal em São Paulo
parceiro comercial do Brasil 1927
Morte do Barão do Rio Branco
1917 Relatório com
Nomeação de Edwin Morgan
Brasil entra na primeira Guerra prioridades da PEB
como Embaixador dos EUA
Mundial contra a Alemanha na América do Sul
no Brasil (até 1933)
1919
Fundação da OIT e da Liga das Nações 1929
1910

1930

1914 Missão militar francesa


Quebra da
Tratado pacifista com os EUA Brasil na Conferência de Paz
Bolsa de Nova
Brasil na Liga das Nações
I Guerra Mundial York

Hermes da Fonseca Venceslau Brás D. Moreira Epitácio Pessoa Artur Bernardes Washington Luís

1915 1920 1925

at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 19
Desenvolvimento POPULAÇÃO BRASILEIRA
Evolução da participação da população urbana,

e industrialização
entre 1940 e 2010 (em %)
90

80 No Brasil

70

60

50
No mundo
40

Entre 1930 e 1980 foram definidas im- principal produto brasileiro de expor-
30
portantes estratégias econômicas que tação: o café. Getúlio Vargas, salvo no
influenciaram o crescimento econômi- Estado Novo, buscou criar um gover- 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010
co e industrial do Brasil no século XX, no de compromisso que equilibrasse Fontes: ONU, 2013a e IBGE, 2013a.

assim como sua inserção internacional. os interesses de diversos grupos políti-


Crescimento populacional, entre 1940 e 2010
Essas cinco décadas também foram cos influentes no Brasil. Isso permitiu
palco de grandes mudanças sociais, de- a concentração do poder (antes mui- 190,8 mi
mográficas e políticas, em meio a um to fragmentado entre os entes federa- 150 mi
mundo que testemunhou a Segun- tivos) na Presidência, o que viabilizou
da Guerra Mundial e a Guerra Fria. A um projeto de industrialização guiada
100 mi
década de 1930 foi muito importan- e protegida pelo Estado nacional.
te para que os surtos industriais pe-
los quais o Brasil passava se tornassem Antes da década de 1930 já existiam in- 50 mi

Labmundo, 2014
um projeto governamental com efeitos dústrias no Brasil, geralmente vincula-
duradouros. 1930 marcou a ascensão à das ao capital excedente da economia 0
presidência da República de um gover- cafeeira. No entanto, o projeto de in- 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010

no menos comprometido com a oli- dustrialização iniciado em 1930 e con- Fonte: ONU, 2013a.
garquia rural, que estava no poder há tinuado, em menor ou maior grau,
mais de 30 anos. Essa mudança políti- pelos governos sucessores foi crucial e
ca foi acompanhada dos efeitos da crise ficou conhecido como “modelo de in- “tripé econômico”, formado pelo capi-
internacional de 1929, que significou a dustrialização por substituição de im- tal público, capital privado domésti-
retração do mercado consumidor do portações”. Apesar do que o termo co e capital privado internacional, que
pode indicar, o objetivo não era a redu- variaram em intensidade e importân-
ção imediata dos fluxos de importação. cia ao longo do tempo. Desse modo,
EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA Em um primeiro momento, as impor- houve deslocamento do centro dinâ-
% do total do PIB brasileiro, entre 1945 e 1995 tações eram incentivadas, para que a mico da economia brasileira do setor
capacidade produtiva da economia externo para o doméstico. Enquan-
brasileira fosse aumentada. O plano de to país agroexportador, a maior parte
20 desenvolvimento previa etapas de in- das riquezas, dos empregos e da ren-
dustrialização, abrangendo a indústria da era associados à produção para o
de base, bem como a de bens duráveis mercado externo. O desenvolvimen-
15
e não duráveis. Desse modo, a pro- to industrial brasileiro alterou a dinâ-
dução nacional iria, progressivamen- mica econômica do país, baseando-se
Labmundo, 2014

10 te, agregando valor aos seus produtos. a partir de então no mercado consu-
1950 1960 1970 1980 1990
Fontes: IBGE, 2013a; Sítio web Ipeadata, 2013 e Os investimentos que permitiram a midor interno. Contribuíram para
Bonelli et al., 2013. industrialização foram baseados no isso diversos fatores sociais, entre eles

DESENVOLVIMENTISMO E PROJETO NACIONAL, 1930 - 1989


1940 1950
1930
Revolução de 1930 Código de Minas veta participação Entrega aos EUA de um memorando que manifestava
de estrangeiros na mineração e na metalurgia a “frustração do governo brasileiro com a falta de reciprocidade
1932-1935 EUA aceita financiar a construção nas relações bilaterais”
Guerra do Chaco entre de siderúgica em Volta Redonda 1951
Bolívia e Paraguai 1942
Acordo de venda de materiais
1935 Brasil declara guerra ao Eixo estratégicos para os EUA
Acordo de comércio com os EUA 1945 1952- Acordo militar com os EUA
1936 Fundação da ONU 1953
Acordo de comércio com a Alemanha 1947 Criação da Petrobrás
1938 Rompimento das relações e nacionalização do petróleo
Acordo de compra diplomáticas com a URSS 1956- Plano de Metas
de armas da Krupp
1930

1958
1960

Assinatura do TIAR
(Alemanha) Lançada a
1948
Operação Pan-
II Guerra Mundial Criação da Cepal Americana
Gov. prov. Vargas Gov. const. Vargas Estado Novo Dutra Vargas Juscelino Kubitschek

1940 1950

20 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
FORMAÇÃO DO BRASIL

o crescimento demográfico, acompa- COOPERAÇÃO EM BUSCA DO DESENVOLVIMENTO


Membros do G77, em 2014
nhado de uma forte urbanização e de
planos de integração regional.

Nesse período, aprofundou-se o pro-


cesso, que conheceu o auge no final
da década de 1950, de interiorização
dirigida da população brasileira e de
aumento da conexão entre as regiões.
Como o Brasil era um país voltado à Fundadores
Fundadores que se
exportação, a integração entre suas retiraram
regiões era frágil. O Plano de Metas
optou pela construção de diversas ro- 1000 km
Fonte: Sítio web do G-77, 2014
dovias, ligando o território nacional,
como meio de superar a falta de infra- Movimento dos Não Alinhados em sua fundação
estrutura em menor tempo e de atrair
a indústria automobilística para o Bra-
sil. Outros gargalos estruturais que fo-
ram foco da intervenção estatal são a
energia e a telecomunicação. Como o
projeto previa o deslocamento do se-
tor produtivo para o mercado interno,
era evidente a necessidade de financia- Participantes plenos
mento internacional para viabilizar a Observadores
industrialização, acarretando o endivi-

Labmundo, 2014
damento externo. Além disso, esse mo-
delo de desenvolvimento se mostrou 1000 km

incapaz de superar mazelas como a dis- Fonte: Declaração de Belgrado dos Países não Alinhados, 1961
paridade econômica entre as regiões, a
desigualdade social, a pobreza e outros
desequilíbrios. Pelo contrário, o forte a superpotência estadunidense era en- menores (por exemplo, a proposta da
crescimento econômico foi acompa- tendida como meio de garantir retor- NOEI). Devido ao alto endividamen-
nhado pelo aprofundamento da con- nos difusos em outras áreas. As elites to externo, resultado de um modelo
centração de renda. políticas brasileiras não tenderam a de industrialização muito dependen-
questionar o pertencimento ao blo- te de liquidez externa, o Brasil enfren-
O Brasil entrou mais fortemente na co capitalista, mas também interpreta- tou desequilíbrios macroeconômicos,
área de influência dos EUA, juntou- vam o Brasil como um país periférico, o que resultou na exaustão do mode-
se ao esforço de guerra dos Aliados e com necessidade de crescimento e de- lo nos moldes pensados em 1930. Con-
fez parte do bloco ocidental no âmbito senvolvimento. Nesse sentido, algu- sequentemente, a busca de autonomia
da Guerra Fria. Esse alinhamento foi mas iniciativas brasileiras revelavam na política externa também sofreu um
poucas vezes automático ou ideológi- certo grau de autonomia, ao defende- grande revés no final do século XX.
co, mas buscava barganhar vantagens rem maior equidade e justiça no cená-
econômicas ou políticas. Embora a lo- rio internacional e ao buscarem maior
calização geográfica restringisse a auto- diversificação de parceiros, inclusive VEJA TAMBÉM:
nomia do Brasil, pois a América do Sul no mundo comunista. Esse pragma- Multinacionais brasileiras p. 70
era entendida como área de influência tismo da diplomacia brasileira era mais Relações Norte-Sul p. 100
dos EUA, a política externa foi usada evidente em momentos em que a capa- Parque industrial p. 30
como um instrumento do projeto de cidade econômica interna aumentava Logística p. 32
desenvolvimento. A aproximação com e em que as restrições sistêmicas eram

1972
1964 1982
I Plano Nacional de Desenvolvimento
Golpe Civil-Militar Guerra das Malvinas
1964 Pragmatismo Responsável Brasil declara moratória
1961 1974 1985
Programa de Ação 1978
Participação Econômica do Governo Proposta da Nova Apoio à criação do
como observador Ordem Econômica Tratado de Cooperação
Grupo de Contadora
da Conferência Internacional Amazônica
1965 1986
do Movimento dos Acordo do MEC com a USAID Reconhecimento do 1979
governo comunista Criação do
Não Alinhados Rompimento de relações Acordo Tripartite Grupo do Rio
diplomáticas com Cuba de Pequim (Questão Itaipú-Corpus)
Política Externa 1975 Fundação da ZOPACAS
Independente Reconhecimento da independência
1968 1989
1960

1990

de Angola, governada pelo


1962 Recusa de assinar o Tratado de Queda do
Movimento Popular pela
Cuba é suspensa da OEA Não Proliferação Nuclear Muro de
Libertação de Angola
Brasil se absteve na votação Berlim
II Plano Nacional do Desenvolvimento
JK JQ J Goulart Castelo Branco Costa e Silva Médici Geisel Figueiredo José Sarney

1970 1980

at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 21
Globalização A política externa de Collor promo-
veu a aproximação com os EUA (visto

e nova ordem
como aliado necessário para as refor-
mas econômicas internas) e a adoção
do modelo econômico neoliberal base-
ado na abertura comercial e na inserção
competitiva no mercado internacional
(“modernização pela internacionaliza-
ção”). Procurando melhorar sua ima-
gem e credibilidade (importantes para
renegociar a dívida externa), o Bra-
sil começou a aderir aos regimes in-
ternacionais, assinando importantes
O fim do regime militar e a consequen- externa (suspensão do pagamento dos declarações e tratados no campo co-
te redemocratização do país não impli- juros em 1987, seguida de pressões co- mercial, ambiental (no contexto da
caram, de início, mudanças profundas merciais dos EUA) e sucessivos progra- Rio-92) e de não proliferação nucle-
na política externa. Manteve-se o foco mas de estabilização macroeconômica ar. Nesse contexto, o Itamaraty perdeu
na promoção do desenvolvimento na- (Plano Cruzado em 1986, Plano Bres- força em proveito da diplomacia presi-
cional e o Itamaraty permaneceu como ser em 1987 e Plano Verão em 1989). dencial, que se consolidou com os go-
formulador central da política externa, No âmbito latino-americano, houve vernos de Fernando Henrique Cardos
muito embora tenham emergido no- maior aproximação com a vizinha Ar- (FHC) e, depois, com Luiz Inácio Lula
vos atores com presença destacada nas gentina (iniciando processo de integra- da Silva. Começaram a ter maior par-
agendas internacionais. Preocupado ção que levaria, anos depois, à criação ticipação outros atores, em um primei-
principalmente com o âmbito interno, do Mercosul) e se restabeleceram as ro momento o setor empresarial, mas
o governo Sarney se caracterizou por relações diplomáticas com o Estado também organizações sociais, entida-
uma forte instabilidade econômica, cubano. Desse modo e em compara- des subnacionais, academia, etc. Cres-
com alta taxa de inflação (que quadru- ção com as décadas anteriores, tendeu ceu a pressão pela formulação de uma
plicou entre 1985 e 1988), baixo cres- a ganhar peso relativo a dimensão re- PEB mais plural e, em alguns casos,
cimento econômico, crise da dívida gional da PEB. mais democrática. No âmbito regional,
a assinatura do Tratado de Assunção,
em 1991, levou à constituição do Mer-
COMÉRCIO EXTERIOR BRASILEIRO cosul, processo de integração regional
Exportação, em 1990 Importação, em 1990 em bilhões de dólares que contribuiu para consolidar a aber-
tura econômica, mas também para que
seus integrantes (sobretudo o Brasil)
10,460 4,731 1,005 ganhassem peso e poder de negociação
Ásia Oriente Ásia
Médio Oriente
Médio
internacional.
África África
Europa Europa Com o impeachment de Collor, o
Saldo comercial (em bilhões
de dólares) Governo Itamar Franco deu conti-
EUA -2 0 2 4 6 nuidade à agenda externa de liberali-
EUA Europa
zação econômica, desenvolvimento e
EUA
Ásia
maior autonomia. Teve dois impor-
África tantes chancelares (FHC em 1992-1993
e Celso Amorim em 1993-1994), que
Labmundo,2014

América do Sul
América
do Sul América
do Sul
Oriente Médio buscaram participar na definição de
1000 km
déficit superávit regimes internacionais (por exemplo
Fonte: MDIC, 2008 a agenda de desenvolvimento ou de

GLOBALIZAÇÃO E INSERÇÃO INTERNACIONAL, 1990 - 2003


1994
1990
Reunificação alemã Formação do NAFTA
Fim do apartheid na África do Sul I Cúpula das Américas
Ratificação pelo Brasil da Convenção Protocolo de Ouro Preto
Internacional sobre os Direitos da Lançamento do Plano Real
Criança de 1989 1995
1991 Com 1.300 homens, o Brasil participa
Dissolução 1992 de Missão de Paz em Angola
da União Soviética Adesão à Convenção Interamericana Ratificação da Conv. Interamericana
I Cúpula sobre Direitos Humanos de 1969 para erradicar a Violência Contra a Mulher
Ibero-Americana Brasil contribui para que Peru e Equador
Eco-92, no Rio de Janeiro
Tratado de Assunção assinem Declaração de Paz do Itamaraty
Ratificação da Pacto Internacional
1990

1997

de Direitos Civis e Políticos 1996


e de Direitos Econômicos, I Cúpula dos Países
Sociais e Culturais de 1966 de Língua Portuguesa
Fernando Collor Itamar Franco Fernando Henrique Cardoso

1992 1995

22 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
FORMAÇÃO DO BRASIL

direitos humanos da ONU) e nas su- No contexto de crescente interdepen- de ação coletiva a fim de garantir os
cessivas conferências durante a déca- dência derivada da globalização e de interesses brasileiros. No âmbito re-
da dos 1990. O Brasil passou a insistir grande instabilidade econômica glo- gional, a consolidação do Mercosul
na reforma do Conselho de Segurança bal (crises mexicana, asiática e russa, com o Protocolo de Ouro Preto (em
(exigindo um assento permanente) e a que afetaram a economia brasileira), o 1994) e o início do processo de cons-
atuar nas operações de paz da ONU. governo de FHC deu ênfase às refor- trução da Comunidade Sul-America-
No âmbito multilateral aprofundou mas liberalizantes por meio da política na de Nações (CASA) contribuíram
a integração regional sul-americana, de estabilização macroeconômica, da para promover a liderança brasileira na
a fim de se contrapor à Área de Livre abertura e liberalização das regras de América do Sul. A lusofonia ganhou
Comércio das Américas (ALCA). Em comércio, da privatização e responsa- nova dimensão política e multilateral
1994, o governo brasileiro implemen- bilidade fiscal. Também intensificou a com a criação da Comunidade de Pa-
tou o Plano Real, visando a aumentar participação brasileira nos foros sobre íses de Língua Portuguesa (CPLP) em
a credibilidade econômica e política, a a nova ordem internacional do Pós- 1996. Como característica dos diversos
controlar as altas taxas de inflação e a Guerra Fria. Nos debates da Terceira governos da redemocratização, a aspi-
melhorar os indicadores, bem como a Via, FHC enfatizou a crença na coope- ração de fazer do Brasil um ator glo-
imagem externa do país. ração e nos mecanismos multilaterais bal foi constante na PEB. Para atingir
essa meta, o Brasil democrático vem
tentando equilibrar, com ênfases dis-
IMPORTAÇÕES E EXPORTAÇÕES tintas em cada governo, a busca de cre-
Evolução do comércio internacional brasileiro por origem e destino, entre 1980 e 2006 (em bilhões de dibilidade internacional e a construção
dólares)
de autonomia (mantendo a flexibilida-
Importações 22,7 Exportações
31,6
de, maior liberdade e diversificação de
20,9 parceiros) no campo da PEB.

TOP 10 - INVESTIMENTOS
ESTRANGEIROS DIRETOS NO BRASIL
Europa
3,5 31,0 em milhões de dólares, em 1980 e 1990
América do Sul EUA
16,0 Alemanha
3,5 Suíça
Libéria
24,8
Ásia Japão
Kuaite
1,6 14,4 20,8 Itália
França
Europa Panamá Ano: 1980
Antilhas H.
4,1 Estados 8,2 5,4 50 250 500
Unidos Estados 7,4 Canadá
Alemanha
Unidos EUA
América Japão
2,7 do Sul 3,5 França
Reino Unido

Labmundo, 2014
Ásia Luxemburgo
Liechtenstein
Cayman Ano: 1990
2,0 5,8 Ilhas Virgens
50 250 500
1,1
África 1,1 Fonte: Banco Central do Brasil, 2013
África
7,8
Oriente
Médio VEJA TAMBÉM:
Oriente 3,1 Ameaças globais e transnacionais p. 48
1,0
Médio
Labmundo,2014

2000 Diplomacia presidencial p. 62


1980 1990 2000 2006
Integração regional p. 82
1980 1990 2006
Relações Norte-Sul p. 100
Fonte: MDIC, 2008

1997
2001
Crise Financeira asiática
Aprovado protocolo de Quioto Atentados terroristas aos EUA
Início da Rodada Doha da OMC
I Fórum Social Mundial, em Porto Alegre
1998
Implementação do Tribunal
Penal Internacional 2002
Adesão ao Tratado de Inicia a circulação do Euro
Não Proliferação Nuclear Formação da Organização do Tratado
de Cooperação Amazônica
1999
Formação do G20 financeiro Brasil assina Protocolo de Quioto
1997

2004

Inauguração do primeiro trecho


do gasoduto Brasil-Bolívia
Fim da paridade do Real com o Dólar

F H Cardoso Fernando Henrique Cardoso Lula da Silva

1999 2002

at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 23
Diversidade significativo, em especial em compara-
ção com outros países da América do

cultural e
Sul e Europa, a história da migração
para o Brasil é fundamental para com-
preender seu atual panorama social e
as dinâmicas internacionais em que o

pluralismo étnico
país está inserido.

Os indígenas foram escravizados no


início da ocupação portuguesa, tendo
sido logo substituídos pelos escravos
africanos. A escravidão de africanos
para as plantations brasileiras foi um
A sociedade brasileira foi formada a à chegada dos primeiros europeus) se dos fluxos migratórios forçados mais
partir do encontro das várias popula- somaram grupos vindos da Europa, relevantes da história. O comércio
ções originárias e daquelas que vieram África e Ásia, e isso ao longo de qui- de escravos se aproveitava de fluxos
posteriormente se estabelecer neste ter- nhentos anos em uma dinâmica ain- já existentes no continente africano e
ritório. Aos indígenas (habitantes ori- da em operação. Apesar de atualmente foi explorado também por brasileiros.
ginários, estimados em alguns milhões o fluxo imigratório brasileiro não ser A diversidade de origens dos cativos

TRÁFICO NEGREIRO
Rotas usadas pelos traficantes, séc. XV-XIX

do Golfo da
Cultura do café
Guiné
Belém

bia
Cultura do açúcar gâm
São Luís ene
Fortaleza Natal da S
Recife
Principais zonas
de revoltas co
cis
Salvador
Salvador
n

iné
do Golfo da Gu
Fra
.
R. S

Povoamento de escravos
africanos (até 1850)

de
Be
Porto

ng
Belo Seguro

ue
Horizonte

la
de
Rotas do comércio negreiro Ca
Vitória bin
da
séc. XV ao XVII São Paulo
Rio de
Janeiro de
Lu and
ao séc. XVIII a

de
de

Lu
ao séc. XIX an
Za

da-
nz

Porto Alegre ba B eng


i

r uel
a
Labmundo, 2014

500 km

Fonte: King et al., 2010

POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA NO SÉCULO XXI


2003 2006 2009
EUA invadem Iraque Início do escândalo Wikileaks China se torna o principal
Fórum de Diálogo IBAS Bolívia nacionaliza atividades e petróleo e gás parceiro comercial brasileiro
Criação do G-20 na OMC Primeira Cúpula África-América do Sul Primeira Cúpula BRIC
2004
Brasil participa de intervenção 2007 2010
militar da ONU no Haiti XV Jogos Pan-Americanos no Rio Brasil e Turquia
Brasil reconhece China propõem acordo
2008
como economia de mercado para a questão
Crise Financeira Internacional
Lançamento da Comunidade nuclear iraniana
Criação da Unasul
Sul-Americana de Nações Brasil vence disputa
Lançamento programa Bolsa Família na OMC contra
2005
2003

2011

subsídios ao algodão
Criação da Cúpula América do Sul-Países Árabes
pelos EUA
Criação do Parlasul
Início do escândalo do mensalão
Luiz Inácio Lula da Silva Luiz Inácio Lula da Silva

2007

24 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
FORMAÇÃO DO BRASIL

africanos explica parte das diferenças unidade cultural (oriundos no geral da MIGRANTES PARA O BRASIL
Europeus e asiáticos vindos entre 1819 e 1939
culturais presentes no país ainda hoje. região de Angola) e guardavam maior
Nacionalidade 1819-1883 1884-1940
Em sua maioria, os grupos que vinham diferença em relação aos grupos chega-
ao Rio e ao Recife possuíam maior dos a Salvador. Estas distinções resul-
taram em particularidades na herança Italianos
religiosa e linguística que marcam o Portugueses
ESCRAVOS PARA O BRASIL Brasil atual. Espanhóis
Quantidade de escravos por destino,
entre 1500 e 1850 Japoneses
Esse processo histórico tem efeitos na
Alemanha
diplomacia brasileira contemporânea.
Russos
Total mundial O governo Lula declarou que a socie-
dade brasileira tem uma dívida his- Áustriacos
tórica com a África, o que justificaria Turcos
medidas como o perdão de dívidas, o Poloneses
apoio a projetos de cooperação para o Franceses
desenvolvimento e o estabelecimen- Ingleses
to de uma universidade no Brasil para Iugoslavos
contribuir com a formação de jovens Sírios
africanos, a Universidade da Integra-
Suíços
ção Internacional da Lusofonia Afro-
-Brasileira (Unilab). O fim do tráfico Quantidade de indivíduos
1.000.000
negreiro e a paulatina supressão da es-
Brasil
cravidão alteraram o perfil da mão-de-

Labmundo, 2014
-obra no Brasil. Do final do século XIX 100.000
50.000
ao início do século XX, migraram cen- 10.000
tenas de asiáticos e europeus, muitos Fonte: Alvim, 1998.
em busca de trabalho em plantações
de café. Estima-se em 4,3 milhões o
número de europeus emigrados para o transatlântica entre culturas. Descen-
Brasil entre os anos de 1815 e 1930. dentes e migrantes podem desenvolver
Sudeste laços com seus países de origem, parti-
(Rio e São Paulo)
A assimilação de grupos tão diversos, cipar de ações coletivas locais e manter
não sem conflitos, contribuiu para a vínculos com suas famílias e comuni-
formação cultural do Brasil e da iden- dades (via remessas, entre outros).
tidade nacional. A configuração atual
1550 1650 1750 1850 da sociedade resultante desses fluxos Após essa breve introdução histórica,
100.00 influencia o processo de internacio- nos capítulos seguintes serão trabalha-
nalização do país. O Brasil é a maior dos temas contemporâneos da inser-
colônia de descendentes de japoneses ção internacional do país, seus atores e
75.000 fora do Japão, uma das maiores de li- agendas mais relevantes.
Mortos
na travessia
baneses fora do Líbano e de impor-
Embarcados

tância equivalente para portugueses,


50.000
espanhóis e sírios. A embaixada italia- VEJA TAMBÉM:
na calculou em 30 milhões o número População e diversidade p. 42
25.000 Desembarcados de descendentes de italianos no Brasil Organizações e movimentos sociais p. 72
em 2013. Em discursos diplomáticos,
Labmundo, 2014

Atores religiosos p. 74
apresenta-se o país como a maior na- Redes sociais e integração regional p. 96
ção negra fora da África e uma ponte
Fonte: Eltis et al., 1998.

2012
Conferência da ONU Rio +20
Criação da Aliança do Pacifico 2015
Balanço dos ODM na ONU
2013
Escândalo NSA
Agravamento da crise síria
Jornada Mundial da Juventude
Senador boliviano asilado na embaixada
brasileira em La Paz foge para o Brasil
2016
2014 Jogos Olímpicos
Copa do Mundo FIFA no Rio de Janeiro
Criação do Banco dos BRICS
2011

2019

Anúncio da criação do FOCAL


Crise argentina com “fundos abutres”
Crise na Ucrânia
Dilma Rousseff Dilma Rousseff

2015

at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 25
Capítulo 2:

BRASIL,
POTÊNCIA
EMERGENTE?

Enara Echart Muñoz


Enara Echart Muñoz
No início dos anos 2000, volta-se a discutir a percepção que existia entre
brasileiros e estrangeiros já na década de 1970: a de que o Brasil é uma
potência. As denominações quanto à tipologia e ao conceito de potência
variaram entre potência média, regional, emergente ou em desenvolvi-
mento, mas sempre esteve presente a percepção de que o país figura entre
os mais importantes do tabuleiro de xadrez mundial. Essa imagem que o
Brasil tem de si e que outros têm dele fundamenta-se em fatores variados:
a) de natureza econômica, tais como o aumento do PIB absoluto em rela-
ção a outros países de renda média (Argentina, México, etc.) e países
industrializados (Reino Unido e França); b) de fundamento político, visí-
vel na existência de políticas públicas domésticas que servem de modelo
internacionalmente (redução da pobreza, meio ambiente, não prolifera-
ção nuclear e recuperação financeira); c) de origem material, por ser um
grande território rico em reservas minerais, água e biodiversidade; e d) de
cunho social e cultural (riqueza, tamanho e miscigenação de sua popula-
ção, organização de sua sociedade civil, mercado consumidor interno,
cultura musical e de ritmos variados, etc.). Entretanto, o Brasil apresenta
características que dificultam sua inserção internacional e a percepção
pelos outros países como uma potência. Taxas elevadas de analfabetismo,
mortalidade infantil, desigualdade social, disparidade econômica entre as
regiões, alto índice de descrédito da população em seus representantes
políticos, falta de infraestrutura e capacidade logística, conflitos agrários,
desmatamento, tráfico de armas e de entorpecentes, prostituição infantil...
Agronegócio: produtividade por hectare e, além dis-
so, tem disponível um grande con-

celeiro do mundo?
tingente de terras aráveis ainda não
exploradas. Esses dois dados, associa-
dos a políticas governamentais de in-
centivo ao setor (apoio à pesquisa,
abertura de novos mercados, etc.), dei-
xam vislumbrar grande potencial para
o agronegócio no Brasil.

De 1976 a 2010 a produtividade brasi-


leira cresceu 2,5 vezes, permitindo que
a produção aumentasse 213% em uma
O agronegócio é constituído de in- EUA e União Europeia). A busca por área plantada de grãos e oleaginosas
dústria e comércio no setor rural, pe- conhecimento especializado (com des- somente 27% maior. Algumas estima-
cuária, pesca e agricultura, tudo isso taque para a ação da Embrapa) fez o tivas propõem que as exportações do
associado à produção de conhecimen- Brasil superar a ideia de que o clima setor em 2014 tenham superado os 100
to e geração de tecnologias aplica- temperado seria o mais adequado para bilhões de dólares e que seu crescimen-
das. Historicamente, é um dos setores a produção de alimentos e colocou um to entre os anos de 2005 e 2014 possa
mais dinâmicos da economia brasilei- país essencialmente tropical entre os ter sido de 34%.
ra, representando em torno de um ter- grandes produtores mundiais. É inegá-
ço de seu produto interno bruto. O vel a importância do setor para o bom
Brasil é um dos principais exportado- desempenho da balança comercial bra- MERCADO MUNDIAL DE ALIMENTOS
Posição brasileira na exportação e na produção,
res de vários produtos, como soja, ce- sileira e para a expansão de suas reser- em 2010 1° 2° 3° 4°
reais, frutas e carne. A força do setor vas em moeda estrangeira.
fica evidente se comparada com os tra- Açúcar
dicionais grandes exportadores de ali- O país apresenta crescimento contí- Café
mentos (Canadá, Argentina, Austrália, nuo e de longo prazo de suas taxas de
Suco de
laranja

CELEIRO MUNDIAL Soja*


Participação brasileira na produção mundial de alimentos, entre 2010 e 2021 Carne
bovina

Tabaco**

Cana-de-açúcar
Safra 2014/15*

Safra 2020/21*

Etanol**
Safra 2010/11
49%
47%
44%

Aves
33%
31%
32%

30%
30%
28%

Milho

Carne
11%
12%

11%
12%
10%

10%

*projeção suína
Labmundo, 2014

Labmundo, 2014
Na exportação *dados preliminares
Carne Soja Grão Carne Bovina Carne Suína Milho
de Frango Na produção **posição em 2009
Fonte: MAPA, 2011. Fonte: MAPA, 2010.

MERCADOS DO AGRONEGÓCIO
Destino das exportações do agronegócio brasileiro, em 2011

UE Rússia

Japão
Coreia do Sul EUA
China Irã
Argélia
Taiwan Egito EAU
Hong Kong
Arábia
Saudita
Tailândia Venezuela

Malásia

Indonésia

* Valores em bilhões de dólares. Paraguai


Somente representadas vendas
Labmundo, 2014

Total das
totais acima de 1 bilhão de dólares. exportações 98,9 256,0
Valores para a União Europeia brasileiras
Argentina
apresentados consolidados. Participação do
20 10 5 1 agronegócio
Fonte: Instituto de Economia Agrícola, 2012 1000 km

28 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
BRASIL, POTÊNCIA EMERGENTE?

O agronegócio brasileiro apresenta, AGRONEGÓCIO


Valor da produção agropecuária, em 2006
porém, desafios equivalentes a suas po-
tencialidades: reforma agrária, desma-
tamento, logística, apoio à agricultura
familiar, êxodo rural e financiamento
da produção são exemplos de desafios
relevantes que contribuíram para que
o setor fosse tema prioritário nas últi-
mas eleições presidenciais.

O agronegócio tem sido parte relevan-


te do conjunto das exportações bra-
sileiras, beneficiado pela demanda
crescente de commodities pela China.
Apesar de apresentar produção agríco-
la diversificada, cada vez mais o setor
se especializa na soja, e isso principal-
mente em função do mercado chinês.

A China é destino de parte conside- Alto

rável da produção agrícola brasileira.


Alguns analistas debatem uma possí-
vel sinodependência e os impactos no
Brasil de uma eventual crise econômi-
ca chinesa. Pesquisas recentes que ten-
tam antecipar perspectivas futuras de
consumo de alimentos na China cons- Baixo 300 km

tataram que o padrão alimentar de sua

Labmundo, 2014
população apresentaria tendência mais
estável quando comparado ao mode-
lo chinês de desenvolvimento econô- Fonte: IBGE, 2010a.
mico. O país deve expandir a demanda
por produtos em cuja produção o Bra-
sil tem avançado, como é o caso do mi- Recentemente, o governo brasileiro todas as terras cultiváveis. No caso do
lho, da soja e das carnes bovina, suína adicionou o novo desafio de expor- Brasil, levando em consideração os de-
e de frango. tar o modelo agropecuário brasileiro safios mencionados, o país poderá rea-
para outros países, com destaque para lizar o epíteto criado na Era Vargas de
O setor é estratégico para o país, mui- Moçambique nos projetos conheci- “celeiro do mundo” e contribuir para
to embora ainda deva confirmar sua dos como Pró-Savana e Pró-Alimentos. abastecer de alimentos uma popula-
capacidade de expansão com baixos Além disso, o setor possui investimen- ção mundial estimada em 9 bilhões em
impactos sociais e ambientais e, ao tos em vários países vizinhos com pa- 2050, com maior renda e com padrões
mesmo tempo, ser capaz de enfrentar pel relevante na produção de grãos e de consumo mais elevados que os atu-
a resistência à abertura de novos mer- gado, em especial no Paraguai e Bo- ais. Segundo previsões da FAO publi-
cados, em especial da União Europeia lívia. Também nestes países, o setor é cadas em 2014, até meados do século
e dos EUA. acusado de criação de latifúndios e de XXI, a produção de grãos precisará au-
grilagem de terras. A presença do mo- mentar pela metade e a de carne, do-
delo agroexportador brasileiro em pa- brar. Tais metas são ambiciosas em um
COMPLEXO SOJA íses em cooperação com o Brasil com mundo com limitações para expandir
Dados entre 1983 e 2012
estímulo do governo federal tem fei- suas terras aráveis, resolver o proble-
to com que várias entidades da socie- ma de abastecimento de água, enfren-
Produção (mil toneladas) dade civil apontem a exportação das tar a crise ecológica e garantir o direito
x4,6 contradições e falhas do modelo bra- à alimentação. Nesse cenário, o Brasil
66.383
sileiro para países com quadro ainda apresenta potencial importante para
14.533 mais grave de concentração de terra e responder aos desafios colocados à co-
importância da agricultura familiar. munidade internacional, podendo re-
forçar ainda mais sua importância no
Área plantada (mil ha) x3
Apesar de não existir uma real inte- mercado internacional de alimentos.
8.412
25.042 gração entre as cadeias produtivas do
agronegócio da região, a América Lati-
na já é considerada a maior exportado- VEJA TAMBÉM:
Produtividade (kg/ha)
x1,5 ra (em termos líquidos) de alimentos Logística p. 32
1.728
do mundo. Segundo relatório do BID
Labmundo, 2014

2.651
Multinacionais brasileiras p. 70
de 2014, a região fornece cerca de 11% Organizações e movimentos sociais p. 72
1983/84 1999/00 2011/12 do valor da produção mundial de ali- Energia e infraestrutura p. 92
Fonte: CONAB, 2014. mentos, mas possui cerca de 24% de

at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 29
Parque industriais no total do comércio exte-
rior, mas poderia ser classificado como

industrial
desindustrialização? Não existe con-
senso sobre o tema na academia, mas
caso o conceito de desindustrialização
seja entendido como perda de partici-
pação da indústria na economia de um
país, os anos 1970 do “Milagre Brasi-
leiro” também apresentaram essa ca-
racterística, segundo dados do Banco
Mundial. Por outro lado, nas décadas
de 1980 e de 1990, que foram palco de
diversas crises e de retração na econo-
O desenvolvimento por meio da in- que seriam importantes para facilitar o mia nacional, a produção industrial
dustrialização sempre foi um dos crescimento de suas vendas internacio- aumentou sua participação no total do
maiores objetivos dos governantes bra- nais. Todavia, há políticos e membros PIB.
sileiros desde os anos 1930. O governo da academia que argumentam que
brasileiro promoveu uma série de po- o setor industrial, apesar de publica-
PARTICIPAÇÃO DA INDÚSTRIA
líticas desenvolvimentistas, investin- mente demandar medidas de orienta-
NAS ECONOMIAS NACIONAIS
do em infraestrutura e em tecnologia. ção liberal para o governo, também se Ao longo da década, entre 1970 e 2010 (em %)
Também ofereceu incentivos fiscais a beneficiaria de certa proteção do Esta- -10 0 10
indústrias que se instalassem em terri- do (via política cambial, tarifária, con- Sem dados
disponíveis
tório nacional e garantiu tarifas alfan- cessão de linhas de crédito especiais ou de 1970 a 1979 Perda Ganho

degárias com o objetivo de proteger por meio de compras governamentais).


a indústria nascente. Foi nesse pro- Esse modelo permitiu que o Brasil ti-
cesso de desenvolvimento por subs- vesse grande avanço em seu parque
tituição de importações que o Brasil industrial, despontando entre os exis-
conheceu um forte crescimento indus- tentes na América Latina e em outros
trial na segunda metade do século XX. países periféricos, muito embora tam-
Uma das características desse proces- bém tenha contribuído ao surgimento
so é a participação central do Estado de um perfil de capitalismo relativa-
na economia, traçando as estratégias mente avesso a riscos sem a proteção 1000 km
e prioridades, assim como fornecendo do Estado.
linhas de crédito. de 1980 a 1989

À medida que o preço internacional


O modelo de desenvolvimento basea- das commodities aumentou no início
do no tripé econômico (investimento dos anos 2000, intensificou-se a ex-
público, privado nacional e privado es- portação de produtos agrícolas. Com
trangeiro) gerou uma correlação entre isso emergiu o temor por parte de al-
o crescimento industrial e o aumen- guns economistas e responsáveis polí-
to dos gastos do governo. Os repre- ticos de que se iniciasse um processo
sentantes políticos do setor industrial de especialização regressiva das expor-
costumam ir a público para demandar tações brasileiras. Esse fenômeno indi- 1000 km
acordos de livre comércio, justificando ca a diminuição relativa dos produtos de 1990 a 1999

INDUSTRIALIZAÇÃO NO MUNDO
Evolução do valor bruto agregado, entre 2001 e 2011 (em trilhões de dólares, preços correntes)
Labmundo, 2014

Brasil ( ) em relação os países ricos e China Brasil ( ) em relação aos países emergentes

3 China
0,5
EUA Índia
Rússia
2,5
0,4 1000 km

2 México de 2000 a 2010


0,3
1,5

0,2 Turquia
1 Alemanha
Argentina
R. Unido
Áf. do Sul
Labmundo, 2014

França 0
2001 2006 2011 2001 2006 2011 1000 km

Fonte: Sítio web da base de dados do Banco Mundial, 2013 Fonte: Sítio web da base de dados do Banco Mundial, 2013

30 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
BRASIL, POTÊNCIA EMERGENTE?

CONCENTRAÇÃO INDUSTRIAL
Distribuição da indústria por tipo e por unidade federativa, em 2013
Be De
Au Q ns Be Tê m
to Co Eq fa uím nã xt ai
Al m u rm ic bi il e In si
im m M ip o da fo M nd
ob bu et am ac a e m s ca Ce r ov O mapa representa a quantidade total de indústrias
en ilís st al en êu et e lça lul m el ús
tíc tic íve ur tic ál fu do os át ei tri
ia gi to ico m ic ra as por unidade federativa, em bilhões de Reais.
a is a s a s o s e a
DF
R. Centro-oeste

MS

MT

GO

PA
R. Norte

AM

Outros

SE
600km
R. Nordeste

PE

BA

Outros
R$ 50 bilhões
R$ 25 bilhões
SC R$10 bilhões
R$ 1 bilhão
R. Sul

PR

RS

* Somente os valores acima de 0,01 bilhão R$


ES são representados.
R$ 50 bilhões
R. Sudeste

RJ R$ 25 bilhões
R$10 bilhões
MG R$ 1 bilhão

Labmundo, 2014
SP

Fonte: IBGE, 2013a

Apesar do receio econômico e político exemplo, a produção de aviões pela Como a maior parte dos investimen-
de uma possível desindustrialização, a Embraer. Grande parte das indústrias tos tem participação estatal, defendem
perda de participação da indústria no brasileiras são montadoras, importan- que os recursos (que são escassos) de-
total do PIB é uma tendência verifi- do as peças de maior tecnologia ao in- veriam ser concentrados em nichos
cada em diversos países das Américas, vés de desenvolver essa tecnologia em industriais mais competitivos, prete-
da África e da Europa. A exceção a essa território nacional. Por esse motivo, rindo algumas áreas menos eficientes.
tendência, além da China, são alguns embora não seja consenso, há uma
países africanos e asiáticos, que inicia- crescente demanda por parte dos eco- A produção industrial brasileira é con-
ram o seu processo de industrialização nomistas de planos que promovam a centrada em regiões mais dinâmi-
recentemente. Em termos absolutos, especialização do parque industrial e, cas do território nacional, agravando
fica evidente que o Brasil continua au- em alguns casos, de exigência de com- as disparidades econômicas espaciais.
mentando sua capacidade industrial. ponente nacional na cadeia produtiva. Apesar de alguns esforços do governo
O valor agregado da sua indústria é su- federal e de alguns estados, a indústria
perior à maioria dos países emergentes se concentra nas regiões Sul e Sudes-
e também comparável a países euro- PERDA DE PARTICIPAÇÃO INDUSTRIAL te, devido à proximidade do mercado
peus. Alguns setores se destacam nessa Evolução da participação da indústria no PIB, consumidor de maior poder aquisitivo
entre 1975 e 2010
produção, como a indústria de máqui- (inclusive do Mercosul) e à existência
nas e equipamentos elétricos, a farma- de infraestrutura de melhor qualidade.
cêutica e a automobilística. 20%

A desvantagem da produção industrial VEJA TAMBÉM:


15%
brasileira tem sido o pouco desenvol- Logística p. 32
vimento de produtos que demandem
Labmundo, 2014

Multinacionais brasileiras p. 70
produção de ponta. Apenas 10% do 10% Energia e infraestrutura p. 92
valor agregado industrial é relativo a 1980 1990 2000
Fontes: IBGE, 2013a; Sítio web do Ipeadata, 2013;
2010
Relações Norte-Sul p. 100
componentes de alta tecnologia, por Bonelli et al., 2013.

at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 31
Logística e TRANSPORTES NO BRASIL
Rodovias, em 2013

desafios ao
desenvolvimento Rodovias

Rodovias
privatizadas

300 km
Um país que busca projeção interna- aos interesses estrangeiros, a organiza-
cional deve ter capacidades materiais ção espacial do território que veio a ser Fontes: Ministério dos Transportes, 2014; ANTT, 2012
e, também, saber usá-las racionalmen- do Brasil era muito semelhante a um
te. Por exemplo, a produção de miné- arquipélago econômico: as regiões do Ferrovias, em 2013
rios ou de bens manufaturados é um território pouco se comunicavam en-
indicador importante para a economia tre si, pois a relação política e econômi-
de um Estado, mas a capacidade de es- ca mais importante era com a Europa.
coar essa produção (para a exportação Com isso, os nichos dinâmicos da eco-
ou para o mercado interno) repercute nomia se ligavam ao litoral, para escoar
diretamente na competitividade e na a produção, mas permaneciam desarti-
qualidade dos serviços. Uma infraes- culados. Essa lógica de inserção na eco-
trutura de transportes, telecomunica- nomia mundial não foi subitamente
ções (telefonia e internet) e de energia, alterada, mesmo com a independência,
por exemplo, pode trazer maior facili- o que contribuiu para perpetuação das
dade de gerir a burocracia estatal, criar heranças dessa organização física das
condições para novos empreendimen- estradas e portos que favorecia quase
tos econômicos, promover a integra- que exclusivamente a exportação de 300 km

ção regional e garantir o controle de bens primários. Fonte: Ministério dos Transportes, 2014

todas as regiões do território nacional.


No caso do Brasil, devido às dimen- No início do século XX, a ferrovia era Aeroportos, em 2013 (em milhões de passageiros)
sões continentais de seu território e ao muito importante nesse processo de
déficit histórico de investimento, a in- integração. Embora concentrada no
fraestrutura ainda é um desafio. litoral e no Sul do território, a malha
ferroviária representava um significa-
Até o final do século XIX, persistia o tivo meio de deslocamento de pesso-
modelo econômico que fora imposto as e de produtos. Ao longo da história
ao Brasil pela metrópole, baseado na brasileira, a ferrovia perdeu importân-
exportação de bens primários, neces- cia se comparada com outros meios de
21,2
sários e complementares para o desen- transporte (aéreo e portuário). Essa re- 13,2

volvimento das potências europeias. dução do peso da ferrovia foi causada 1,4

Nesse modelo, os países europeus im- por uma decisão do governo brasilei-
pediam a industrialização da colônia, ro (incentivado por outros atores in-
de modo a criar um mercado consu- ternacionais) de priorizar a rodovia. 300 km

midor para os seus produtos. Cabia O processo de interiorização dirigida Fonte: Sítio web da Infraero, 2012
às colônias, por sua vez, exportar seus pelo Estado teve seu começo com Ge-
produtos primários. Como resultado túlio Vargas, na década de 1930, mas Portos, em 2013 (valor da carga transportada,
dessa economia colonial subordinada teve seu ápice na década de 1950, com em bilhões de dólares)
o Plano de Metas no governo de Jus-
celino Kubitschek. Havia o entendi-
TRANSPORTE DE CARGAS NO BRASIL mento de que era necessário aumentar
Distribuição por meio de transporte, em 2013
60% massivamente a rede de transporte em
um curto período de tempo. Em com-
50%
paração com a ferrovia, o modelo ro-
40% doviário poderia cumprir o objetivo de
30%
ligar as regiões brasileiras entre si em
pouco tempo, propiciando uma in- 63,8
23,9
20%
dustrialização rápida, para atingir os 3,8
10% níveis industriais dos países europeus.
Portos que
Labmundo, 2014

Nesse sentido, a opção pelo mode-


Labmundo, 2014

transportam
lo rodoviário também passou por um menos de 1 bi.
io

r io

io

o
io

re
ár

ár

ár
á

cálculo que buscava industrializar o


vi

vi

vi
av
do

300 km
ro

to
u
r

Du
Aq
Ro

Fe

Fonte: CNT, 2013. país. Junto com tarifas alfandegárias Fonte: Sítio web AliceWeb do MDIC, 2013

32 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
BRASIL, POTÊNCIA EMERGENTE?

RODOVIAS USUÁRIOS DE INTERNET NO MUNDO


Pavimentadas, em 2010 Em porcentagem da população, em 2012
Total
(% do total)
(em mil km)
6545 EUA

Reino
420 Unido

1028 França

137 Egito

0 25 50 75 100
367 Turquia

Labmundo, 2014
199 Irã Sem dados
disponíveis
1000 km
Fonte: Sítio web da base de dados do Banco Mundial, 2014
826 Austrália

372 México
Labmundo, 2014

substanciais para ampliar a sua malha A opção rodoviária foi acompanhada


78 Chile de transporte (não apenas a rodoviária) de um progressivo abandono de ou-
e melhorar a qualidade da mesma. tros meios de transporte, aspecto que
1851 Brasil
demonstrou sinais de reversão somen-
0 20 40 60 80 100
Fonte: Sítio web da base de dados do Banco Mundial, 2014 Outra consequência negativa da op- te a partir do final do século XX, graças
ção rodoviária é o alto custo necessário aos investimentos em hidrovias e fer-
para a manutenção das estradas. Estas, rovias. A maior parte dos investimen-
protecionistas, a garantia de um mer- comparadas com as ferrovias, têm cus- tos em logística é feita pelo Estado ou
cado consumidor para veículos auto- to e tempo de construção menor, mas em parcerias público-privadas. Tam-
motores atraiu as multinacionais do necessitam de investimentos constan- bém merece destaque a política go-
setor automobilístico, que instalaram tes e robustos para a sua manutenção, vernamental de concessão de estradas
indústrias montadoras no Brasil. uma vez que o asfalto se deprecia mais para a iniciativa privada, muito pre-
rapidamente. Todos esses fatores so- sente nos anos 1990 e 2000. Essa po-
O projeto original visava a conectar vá- mados constituem as principais cau- lítica é muitas vezes contestada, pois o
rias regiões do Brasil por meio de ro- sas do que se convencionou chamar investimento privado em logística não
dovias que cruzassem o país em vários de “custo Brasil”. Esse fenômeno diz parece acompanhar as necessidades do
sentidos e ligassem as diversas regiões respeito aos altos gastos com transpor- Brasil. Quase a totalidade das ferro-
à nova capital, Brasília. Apesar desse te intrínsecos à produção e escoamen- vias, por exemplo, estão concedidas à
plano, muitas dessas estradas estão em to no Brasil. Os investidores no país iniciativa privada, mas ainda assim os
estado precário ou ainda não foram têm que lidar com serviços de trans- seus usuários reclamam da ineficiência
construídas. O investimento mais ro- porte lentos, pouco eficientes e caros. e da falta de investimento.
busto continuou sendo na região mais Como a manutenção das estradas nem
dinâmica economicamente: o centro- sempre é feita do modo mais adequa- O déficit em investimento no Brasil
sul do país. Os meios de transporte do, não é raro que ocorram aciden- também existe no âmbito tecnológi-
nessa região são superiores em qualida- tes e quebra de veículos, o que agrava co. Serviços como telefonia e internet
de e em quantidade, sobretudo quan- ainda mais os custos e atrasa a entre- são bastante caros, ineficientes e, por-
do comparados com as demais regiões ga dos bens. Além disso, o Brasil tor- tanto, objeto recorrente de reclamação
brasileiras. Também no centro-sul é na-se muito dependente do óleo diesel dos consumidores. Em uma econo-
mais frequente a quantidade de con- importado, um dos combustíveis mais mia globalizada, esses tipos de serviço
cessões de rodovias à iniciativa privada. usados para o transporte de cargas no são essenciais para as redes e cadeias de
O Brasil ainda carece de investimentos país. A necessidade da importação des- produção, mas também para o suces-
se combustível se deve à falta de ca- so de diversas atividades econômicas.
pacidade das refinarias nacionais em Apesar dos altos custos e da baixa qua-
INVESTIMENTOS EM TRANSPORTE produzir óleo diesel em grande quan- lidade desses serviços, alguns nichos
Entre 2011 e 2014, em bilhões de reais tidade, a partir do petróleo produzido brasileiros continuam a se destacar. Os
50 no Brasil. Ademais não se trata de fon- usuários de telefonia móvel e de inter-
te energérica limpa, embora seja esti- net crescem em um ritmo bastante ace-
40 mulada a utilização do biodíesel. lerado, o que faz com que o Brasil seja
um dos maiores mercados consumido-
30 res de serviços de telecomunicação e
PRIVATIZAÇÃO DO SISTEMA compras na internet.
20 Rodovias, em 2013 Ferrovias, em 2013

10 VEJA TAMBÉM:
Privatizadas Privatizadas
14.786 km 28.692 km Multinacionais brasileiras p. 70
Labmundo, 2014

Labmundo, 2014

Projetos de integração p. 82
as
as

as

s
to

rto

i
vi

vi

ov
r
do

ro

Po

po

Energia e infraestrutura p. 92
dr
r
Ro

Fe

ro

Hi

Total Total
Ae

1.584.402 km 30.129 km Relações Norte-Sul p. 100


Fonte: Ministério dos Transportes, 2014. Fonte: CNT, 2013.

at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 33
Matriz energética CONSUMO TOTAL DE ENERGIA
Por setor, em 2012
Indústria

e meio ambiente
Transporte
Residencial
Alimentos
Setor energético
Papel e celulose
Agropecuário
Comercial
Cerâmica
Área pública
Têxtil

Labmundo, 2014
Outros
10% 20% 30%

Fonte: Empresa de Pesquisa Energética, 2012


A energia é uma das pautas mais estra- O consumo e a produção de energia
tégicas da política internacional. As são ambos estreitamente vinculados
tensões entre petróleo e geopolítica ao modelo de desenvolvimento, que comparativos, o Brasil possui a ma-
têm estado na origem de muitos con- pode ser mais ou menos destrutivo dos triz elétrica mais limpa do mundo: a
flitos entre países (por exemplo, no recursos ambientais e ecológicos. A hidroeletricidade corresponde a apro-
Oriente Médio) e também têm in- energia pode ser entendida como um ximadamente 84,5% da matriz. A in-
fluenciado as grandes crises da econo- dos elos fundamentais da equação do dústria é o setor que mais consome
mia internacional (por exemplo, nos desenvolvimento. energia, seguido pelos transportes e, a
anos 1970). Os recursos energéticos seguir, pelo consumo residencial.
são fixos e têm localização precisa no No plano global e regional, os recursos
território soberano dos Estados. Isso energéticos fazem parte das relações Um relatório de 2013 da Agência In-
não significa que os interesses e os flu- econômicas e políticas internacio- ternacional de Energia, órgão vincu-
xos transnacionais estejam ausentes do nais. Atentos às volatilidades do preço lado ao governo dos Estados Unidos,
debate, mas implica que grandes cor- do petróleo e às incertezas do abaste- aponta que os combustíveis fósseis de-
porações tenham necessariamente de cimento, muitos países têm buscado verão continuar dominando a matriz
negociar com os Estados a fim de ter conquistar sua segurança energética, energética mundial pelo menos até
acesso a petróleo, gás e, mais recente- garantindo acesso aos recursos ener- 2040. Além disso, a demanda por ener-
mente, combustíveis de menor im- géticos necessários para o desenvolvi- gia crescerá 56% nos próximos 30 anos,
pacto negativo sobre o meio ambiente mento nacional. Buscam, por exemplo, em função do crescimento da China e
(hidroelétricas, biocombustíveis, etc.). reduzir as margens de incerteza e de- dos emergentes. Ainda segundo esse
O debate sobre sustentabilidade am- pendência ao tentarem garantir maior relatório, graças à conscientização eco-
biental fez com que as energias renová- produção no plano nacional e maior lógica e às diferentes crises ambientais
veis, na atualidade, tenham adquirido integração energética no âmbito re- por que passa o mundo (as mudanças
dimensão estratégica. Diversificar a gional. Não foi por acaso que uma das climáticas e o aumento dos níveis dos
matriz energética converteu-se, para origens do processo de integração na oceanos, por exemplo), as fontes reno-
os Estados, em resposta a demandas da Europa esteve associado à Comunida- váveis terão um papel cada vez maior,
sociedade e em vantagem competitiva de Econômica do Carvão e do Aço. Da crescendo 2,5 % ao ano.
no mercado energético internacional. mesma forma, no caso da Unasul, a in-
tegração de infraestruturas energéticas Nesse contexto, o Brasil levaria alguma
Ademais, existe uma clara relação en- é considerada estratégica para o futu- vantagem, podendo despontar como
tre consumo de energia e crescimento ro da região. uma potência em recursos energéti-
econômico: os países mais desenvol- cos considerados renováveis no futu-
vidos consomem muito mais energia No caso do Brasil, buscou-se essa segu- ro próximo. O Brasil possui expertise
do que os menos desenvolvidos. O rança por meio do processo de diver- em energias renováveis graças ao in-
consumo de energia é vital para a in- sificação da matriz energética, graças vestimento em pesquisa e tecnologia
dústria, para o desenvolvimento do aos diferentes recursos naturais de iniciado no Governo Vargas, na déca-
transporte, para a produção de alimen- que dispõe o país. A matriz energéti- da de 1930. Desde então a participação
tos, além do próprio consumo resi- ca brasileira é composta por 42,4% de das fontes renováveis na matriz ener-
dencial. É claro que existem variações energias renováveis, enquanto a média gética brasileira só tem aumentado. É
nacionais e locais quanto ao consumo mundial é 13,2%, segundo a Agência claro que a construção de grandes usi-
energético mais ou menos responsável. Internacional de Energia. Em termos nas hidroelétricas gera impacto social

DIVERSIFICAÇÃO DA MATRIZ ELÉTRICA


Distribuição por países e por fonte, em 2012 (em %)
80

60
40
Labmundo, 2014

20

Brasil Turquia Índia China México França Rússia EUA Alemanha Reino Unido África do Sul
Hidroeletricidade Combustíveis fósseis Nuclear Outras fontes (solar, geotérmica, eólica, etc.)
Fonte: CIA, 2013

34 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
BRASIL, POTÊNCIA EMERGENTE?

MERCADO DE ETANOL E CANA-DE-AÇÚCAR


Dados entre 2010 e 2012

Países
Coreia Reino Unido Baixos
do Sul 173 478
528
Japão EUA
436 888

Jamaica
Índia 327 Trinidad e
174 Tobago
157 Nigéria
138

Produção de
cana-de-açúcar
em 2012 (milhões
Exportação de etanol de toneladas)

Labmundo, 2014
pelo Brasil
entre 2010 e 2012 0,3 2 10 100
(milhões de dólares) Sem dados 1000 km
disponíveis
Fontes: FAO, 2012; SECEX, 2011

gordura animal ou óleos de frituras. A


e ambiental, mas a energia hidroelétri- produção, comercialização e uso dos PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR
Quantidade e variação da safra por estados
ca gera muito menos emissões de gases biocombustíveis envolvem uma série
nocivos à atmosfera. Isso é importan- de debates sobre a real sustentabilida-
te lembrar: todas as formas de energia de associada a seu uso. Porém, o gover-
causam algum impacto (ambiental, so- no brasileiro afirma oficialmente que
cial) negativo. O fundamental estaria a produção, principalmente de cana,
na busca de equilíbrios entre os ganhos não causaria desmatamento na Ama-
e as perdas geradas. zônia, apesar de pesquisadores mais
críticos afirmarem que a produção de
De acordo com a AIE, o Brasil ganha biocombustíveis poderia levar os pro- Aumento
destaque na produção de biocombustí- dutores a plantarem alimentos no da produção
veis. Juntamente com os EUA, será res- interior do Brasil ou na Amazônia, dei- entre 1998 e 2012
- 63 %
ponsável por mais da metade da oferta xando as terras destinadas à produção 300 km

de biocombustíveis até 2040. A produ- de combustível situadas preferencial- 0


Safra
ção de biocombustíveis no Brasil está mente no litoral. Isso contribuiria para + 100 %
+ 200 %
de 2012
(mil toneladas)
voltada para dois segmentos: etanol e o aumento do preço dos alimentos. + 638 % 300.000
biodiesel. O etanol é um biocombus- Cultivo a partir
100.000
tível altamente inflamável que pode ser A aposta brasileira nos biocombustí- de 1999

Labmundo, 2014
Sem dados 10.000
obtido a partir da cana-de-açúcar, do veis e na hidroeletricidade, pode ga- disponíveis
milho, da beterraba, da mandioca, da rantir ao Brasil autossuficiência em *A produção no período
em Santa Catarina é igual
batata, entre outras fontes. Já o biodie- consumo. Porém, com a descoberta Fonte: UNICA, 2013 a zero

sel pode ser definido como um com- do pré-sal em 2007, a estratégia nacio-
bustível renovável derivado de óleos nal tem-se pautado em transformar o
vegetais (girassol, mamona, soja, ba- Brasil em importante ator no merca- petróleo são fundamentalmente polí-
baçu e outras oleaginosas), além de do energético mundial. Partindo do ticas e econômicas, para se tornar um
matérias primas alternativas como a pressuposto de que as negociações do exportador forte no ramo da energia, o
Brasil precisa estar preparado para en-
frentar os desafios da geopolítica ener-
ENERGIA E DESENVOLVIMENTO gética mundial. Além disso, precisa
Uso per capita de energia em kg de petróleo ou equivalente, em 2011
resolver problemas internos de infra-
estrutura, como armazenamento e es-
tocagem, investindo em pesquisas,
tecnologia e, ponto muito importante
e sensível, em mão-de-obra qualificada.

VEJA TAMBÉM:
3.206 Multinacionais brasileiras p. 70
1.539 Projetos de integração p. 82
Labmundo, 2014

691 Energia e infraestrutura p. 92


0
Relações Norte-Sul p. 100
Sem dados 1000 km
disponíveis
Fonte: Banco Mundial, 2013.
at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 35
Água: recurso Os principais conflitos se referem ao
controle das fontes de água potável,

vital e estratégico
mostrando que também nesse cam-
po as relações de poder se associam às
de distribuição desigual dos recursos.
Muitos países têm forte dependência
de água externa, importando mais da
metade do consumo interno (é o caso
da Bolívia, do Paraguai e do Uruguai
na América Latina). Neste cenário, o
Brasil é uma potência hídrica, pelas
grandes reservas de água subterrânea
DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA NO MUNDO que possui (quase o 13% de toda a água
Disponibilidade per capita de água potável, em milhares de metros cúbicos, em 2013 doce do planeta), pelas chuvas abun-
dantes em grande parte do território, e
por ser um dos principais exportado-
res mundiais (o quarto, atrás dos EUA,
China e Índia) do que se conhece como
“água virtual” ou pegada hídrica, ao ex-
portar produtos que demandam mui-
533
70
ta água para sua produção, como carne
50 (produzir um quilo requer 15,5 mil li-
30 tros), arroz (3.000 litros por quilo) ou
10 café (140 litros por xícara). Segundo

Labmundo, 2014
0
Sem dados a Unesco, o Brasil exportaria indire-
1000 km
disponíveis tamente cerca de 112 trilhões de litros
de água doce por ano através de suas
Fonte: Sítio web da base de dados do Banco Mundial, 2013.
commodities. Em contexto de gran-
de escassez global, os recursos hídricos
colocam o Brasil em lugar de destaque,
O estabelecimento da Década Inter- melhor gestão, uma exploração mais mas também exigem do Estado políti-
nacional da Água (2005-2015) pelas sustentável e um acesso mais igualitá- cas públicas responsáveis, interna e ex-
Nações Unidas revela a importân- rio aos recursos hídricos. ternamente. Ao mesmo tempo em que
cia política e estratégica deste recur- o uso da água é fundamental na produ-
so: a água é vital para a sobrevivência Dadas as características transnacionais ção de commodities (e para as exporta-
dos organismos vivos, garantir níveis de grande parte das bacias – 19 paí- ções), é inegável sua relevância para a
de vida dígnos, para a economia e o ses dependem da bacia fluvial do Da- soberania alimentar e a sustentabilida-
funcionamento dos ecossistemas. São núbio, 13 do Congo, 11 do Nilo e 9 do de ambiental.
muitos os campos direta ou indireta- Amazonas, entre eles o Brasil –, trata-
mente vinculados à água (saúde, sane- se de um campo que gera importantes O consumo excessivo e descontrola-
amento, meio ambiente, diversidade conflitos, mas também interessantes do de água, acima da capacidade de re-
biológica, prevenção de desastres eco- potencialidades e experiências de co- posição, prejudica muitas das grandes
lógicos, agricultura e alimentação, operação. O Brasil, pelas suas caracte- bacias internacionais em todos os con-
contaminação, energia), sendo neces- rísticas e capacidades diplomáticas de tinentes, com grande impacto no nor-
sária uma ação coordenada para uma negociação em organismos multilate- te da África e no Oriente Médio. Nos
rais, poderia desempenhar um papel Estados Unidos e na Europa, princi-
muito relevante nessa agenda. pais consumidores mundiais de água
HIDROGRAFIA E FRONTEIRAS
Principais bacias hidrográficas brasileiras, em 2014
PRINCIPAIS BACIAS HIDROGRÁFICAS TRANSFRONTEIRIÇAS
Distribuição no mundo, em 2014
Atlântico
(Norte)

Atlântico
Amazônia (Nordeste)

Tocantins
São
Francisco
Atlântico
(Leste)
Paraná

Bacia internacional
com tratado
Uruguai Outras bacias
Atlântico
Labmundo, 2014

Labmundo, 2014

(Sudeste) 500 km internacionais

1000 km

Fontes: ANA, 2010; Sítio web da ISARM, 2014. Fonte: Oregon State University, 2014

36 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
BRASIL, POTÊNCIA EMERGENTE?

USO DA ÁGUA NO BRASIL ÁGUA POLUÍDA NO MUNDO


Usos não renováveis em 2012, por setor, em % Fluxo comercial de água poluída, em 2011
60

50

40

30

20

1000 km
10

Quantidade em
Labmundo, 2014

milhões de litros:
no

l
ia

ria

l
ra
ár

ba

Ru
st
cu

10 1 0 -1 -10 Valores máximos:


du
Ur

O mapa representa o fluxo comercial da Pegada Hídrica


pe

In

Japão: 20,9
ro

Cinza. Água “cinza” é o volume de água poluída associada


Ag

à produção de bens e serviços para indivíduos ou comu- Reino Unido: 11,5


déficit superávit
Fonte: ANA, 2012 importa poluição exporta poluição nidades. Durante a produção de um bem, uma parcela de Estados Unidos: 9,9
água é poluída. Por isso, todo produto é responsável pela

Labmundo, 2014
Sem dados
disponíveis poluição de uma quantidade de água. Se um país apresenta Valores mínimos:
déficit, significa que ele compra mais do que exporta produtos China: -53,6
que poluam a água. Caso o país apresente superávit, ele
em setores não agrícolas, a urbaniza- vende mais água poluída.
Rússia: -26,7
Índia: -16,5
ção e a industrialização crescentes têm Fonte: Water Footprint Network, 2014
forte impacto negativo. Isso sem con-
tar as consequências das mudanças
climáticas e da poluição, que causam A água representa uma dimensão es- saneamento básico provocam 2 mi-
importante declínio da quantidade sencial da segurança humana. No en- lhões de mortes por ano, mais do que
de água em regiões áridas e semiári- tanto, apesar de importantes avanços, os conflitos armados, além de pro-
das (Nordeste brasileiro), impactando um bilhão de pessoas ainda não têm duzir fome e desnutrição, colocando
as colheitas, a alimentação e a pobre- acesso a abastecimento de água sufi- em risco a segurança alimentar. Isso
za. Vários estudos e encontros interna- ciente. Vivemos com o uso ineficien- sem esquecer as inundações que cau-
cionais têm denunciado o aumento de te, a poluição da água ou abuso das sam 15% das mortes por desastres na-
pessoas que vivem e dependem de ba- reservas subterrâneas. As doenças as- turais. A água limpa é vital para a nossa
cias exploradas abusivamente. sociadas à falta de água potável e sobrevivência humana e do planeta, e
sua proteção faz parte dos Objetivos
de Desenvolvimento Sustentável da
ACESSO À ÁGUA POTÁVEL E CONDIÇÕES SANITÁRIAS Rio+20.
Pessoas com abastecimento inadequado de água e de esgoto, entre 1991 e 2010 (em %)
1991 2000 2010 O mundo tem água suficiente para ga-
rantir segurança hídrica para todas as
sociedades. O desafio principal é a dis-
tribuição, que exige uma responsabi-
lidade coletiva e atuação concertada
entre os diversos atores estatais, priva-
dos e associativos para garantir o aces-
15 so de forma sustentável a esse recurso.
Labmundo, 2014

10 A cooperação oferece interessantes


600 km 600 km 600 km
5 oportunidades para uma gestão inte-
Fonte: PNUD, 2013b. 0 grada de recursos hídricos, e é de fato
a opção mais habitual de resolução dos
conflitos. Existem 145 acordos sobre
CONTEXTO DOS RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL energia hidroelétrica, consumo, con-
Demanda em junho Investimento previsto Desperdício total de água trole das cheias, distribuição industrial,
de 2010 (em m³/s) em abastecimento de água potável em 2010 (em %)
entre 2010 e 2015 navegação, poluição e pesca. Apesar
(em milhões de reais) de ser potência hídrica, o Brasil tem
grandes desafios pela frente: assime-
trias internas na distribuição e quanto
ao acesso, uso inadequado e ineficien-
te, bem como poluição dos rios e lagos.

VEJA TAMBÉM:
600 km 600 km 600 km
0 0 0 Minério e indústria extrativa p. 38
Labmundo, 2014

10 400 20% Multinacionais brasileiras p. 70


20 800 40% Organizações e movimentos sociais p. 72
30 1200 60%
100% Centros de pesquisa p. 78
Fonte: ANA, 2012

at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 37
Minério e indústria De volta à formação geológica do ter-
ritório brasileiro, além dos escudos,

extrativa
também são encontradas bacias se-
dimentares, sejam elas continentais
ou marítimas. A partir de grande es-
forço e investimento público a par-
tir da década de 1930, o Brasil passou
a ser um importante produtor de hi-
drocarbonetos. Apesar disso, gran-
de parte do gás natural consumido no
país é importado, principalmente da

Recursos minerais são fatores mate- outros metais como o nióbio. A pro- INDÚSTRIA EXTRATIVA
riais clássicos da potência estatal. Tam- dução brasileira de nióbio se concen- Produção das principais unidades federativas,
em 2013
bém são estratégicos para as economias tra em duas jazidas (uma em Minas M H M
ca idro m ine
m ine rb - et ra
nacionais no mundo todo. Os paí- Gerais e outra em Goiás) que repre- et ra
ál is
ico
on
et
ál is
ico n Ca
r
s ão vã
ses com minérios importantes têm sentam aproximadamente 75% da pro- s os o

suas capacidades econômicas e políti- dução mundial desse minério, sendo PR


cas aumentadas no tabuleiro mundial. que há a estimativa de que o Brasil de-

R. Sul
A autossuficiência em energia e maté- tém mais de 95% das reservas mundiais. SC

rias primas, por exemplo, diminui a O nióbio é muito utilizado na produ- RS


dependência de um Estado, tornan- ção de metais mais leves e resistentes.

R. Centro-oeste
do-o mais livre para agir internacio- As ligas metálicas que contêm nióbio MS
nalmente. No caso de países que sejam geralmente são utilizadas na constru-
grandes exportadores de produtos es- ção civil, veículos automotores, aero- GO

tratégicos, há um elemento político, naves, veículos espaciais, etc. Apesar MA


além do fator econômico. O controle da importância desse metal para di-

R. Nordeste
desses materiais pode, em última me- versos produtos e do quase monopólio SE
dida, influenciar a capacidade e o cus- brasileiro, o preço internacional dele é
RN
to do projeto de desenvolvimento de considerado baixo. Esse fato gera a re-
outros Estados, que se tornam sensí- volta de muitos especialistas, mas tam- BA
veis às decisões políticas do exporta- bém há os que afirmam que o aumento
dor. Como demonstrou a Organização do preço internacional somente iria

R. Norte
AP
dos Países Exportadores de Petróleo incentivar a produção de metais con-
PA
(OPEP), na década de 1970, a concen- correntes, pois o nióbio pode ser subs-
tração de um produto essencial para o tituído por outros metais. SP
desenvolvimento nas mãos de poucos
países, pode se tornar um meio de se

R. Sudeste
ES
obter conquistas políticas. EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS
Em bilhões de dólares por ano, entre RJ
2007 e 2012
O Brasil está em uma situação con-
MG
fortável em relação às reservas mine- %
rais. Devido à sua posição na Pangeia e + 33
5,2
R$ 50 bilhões * Somente os valores
às intensas mudanças morfológicas ao Minério R$ 25 bilhões acima de 30 milhões de
reais são representados.
longo das eras geológicas, a estrutura de Ferro
+ 191
,1 R$10 bilhões

do território brasileiro pode ser consi- Óleos


R$ 1 bilhão

derada bastante diversificada. O Escu- combustíveis


%
do Brasileiro e o Escudo das Guianas + 187
,5 O mapa representa a quantidade
total de atividades extrativistas
R$ 50 bi
R$ 25 bi
são as duas formações geológicas mais Petróleo por unidade federativa. R$10 bi
R$ 1 bi
antigas que se encontram no território em bruto
9%
nacional e representam 36% do mes- + 127,
Semimanufaturados
mo. São nessas regiões que se concen- de ferro

tra a maior parte dos recursos minerais


do Brasil. É o caso, por exemplo, do Alumínio - 4,7 %

ferro, que pode ser encontrado princi- Laminados


palmente em Carajás (PA), no Quadri- planos
- 5,4 %

látero Ferrífero (MG) e no Maciço do


Urucum (MS). O Brasil é um grande Gasolina

exportador de ferro e tem como seus 2007


principais mercados consumidores a 45 951,7 -8
8 ,3
China, o Japão, a Coreia do Sul e al-
Labmundo, 2014

30 000,0 %
Labmundo,2014

guns países europeus. Além do ferro, 2 000,0

o Brasil também se destaca na extra- 214,9


300 km

ção de manganês, cassiterita, bauxita e Fonte: Sítio web AliceWeb do MDIC, 2013 2012 Fonte: IBGE, 2013b.

38 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
BRASIL, POTÊNCIA EMERGENTE?

Bolívia. As principais áreas de prospec- EXPORTAÇÃO BRASILEIRA DE FERRO E DE PETRÓLEO


ção de petróleo se situam nas bacias se- Em bilhões de dólares, em 2012
Ferro Petróleo
dimentares marítimas, o que fez com
que o Brasil desenvolvesse tecnologia
de ponta na extração de petróleo em
águas profundas. Essa tecnologia con-
tribuiu, também, na descoberta e, mais

Labmundo, 2014
recentemente, na extração dos poços
situados na região do pré-sal. Apesar 1000 km 1000 km

de serem considerados de difícil pros- Fonte: Sítio web AliceWeb do MDIC, 2013 14,9 5,5 2,9 0,8

pecção (pois se situam em águas pro-


fundas e abaixo de diversas camadas de
rochas e de sal petrificado), o petróleo LOCALIZAÇÃO CONHECIDA DOS MINERAIS
Em 2014
situado nas Bacias de Tupi, de Iara e ar-
redores é considerado de boa qualida-
de e as reservas ultrapassam 33 bilhões
de barris. A descoberta desses campos
de petróleo elevou significativamente
a reserva brasileira de hidrocarbonetos. Ouro Estanho
Diamante
Carvão
Titânio Alumínio Campo de
Hidrocarbonetos
O Brasil também é rico em outros
Tupi

materiais estratégicos, como as areias 600 km 600 km 600 km

monazíticas, nas quais se encontram


minérios fundamentais para a produ-
ção de energia nuclear. Por esse motivo,
o Brasil é membro do Nuclear Suppli-
ers Group (NSP), grupo de países que Níquel
são importantes exportadores de ma- Ferro Chumbo
Nióbio
teriais usados para finalidades nucle- Alumínio Cobre
Manganês
ares. Devido à relevância estratégica 600 km 600 km 600 km
desses materiais, há um grande contro-
le por parte desse grupo de países no
que concerne o comércio dos produ-
tos. Fazer parte do NSP significa par-
ticipar de decisões sobre esse tema na
agenda internacional. Tungstênio Berilo

Labmundo, 2014
Flúor
Urânio Calcário
A exploração econômica dos recursos Zinco
Fósforo
Sal
minerais também apresenta riscos eco- 600 km 600 km 600 km
lógicos e potenciais efeitos de degrada- Fontes: IBGE, 2013b; IBP, 2013; Ross, 1996; e DNPM, 2003
ção ambiental. A Serra do Navio, no
Amapá, é um exemplo notável de ma-
lefícios que a atividade extrativa pode
causar. O local, que era conhecido PRINCIPAIS PRODUTORES E DETENTORES DE RESERVAS DE PETRÓLEO
Produção, em 2013 (em milhões de barris/dia) Reservas, em 2013 (em bilhões de toneladas)
pela produção de manganês, foi aban- 10 8 6 4 2
Arábia
10 20 30 40
donado, pois a empresa que explora- 1° Saudita 2°

va o minério entendeu que a atividade 2° Rússia 8°

não era mais interessante economica- 3° EUA 11°

mente. Deixou como legado à comu- 4° China 14°

nidade uma enorme cratera e efeitos 5° Canadá 3°

comprometedores ao futuro de seu 6° Irã 4°


EAU
desenvolvimento. No caso do petró- 7° 7°
Kuaite
leo, a dependência excessiva pode ge- 8° 6°
Iraque
rar problemas econômicos (“doença 9° 5°
México
holandesa”) e sua extração em alto mar 10° 17°
11° Venezuela
também apresenta riscos socioambien- 1°
12° Nigéria
tais e ecológicos. Brasil
10°
13° 15°
14° Catar 13°
15° Noruega 19°
VEJA TAMBÉM:
16° Angola 16°
Agronegócio p. 28 17° Cazaquistão 12°
Labmundo, 2014

Centros de pesquisa p. 78 18° Argélia 18°


Defesa e segurança p. 90 19° Líbia 9°
Agências econômicas mundiais p. 104 20° Reino 20°
Fonte: British Petroleum, 2013. Unido

at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 39
Riqueza genética de proteção das espécies nativas (e do
conhecimento coletivo a respeito de

e biodiversidade
seu uso).

O Brasil sofre com práticas de biopi-


rataria e tráfico de animais silvestres. A
biopirataria é a exploração, manipula-
ção, exportação ou comercialização ir-
regular de recursos biológicos ou da
apropriação de conhecimentos tradi-
cionais associados oriundos de comu-
nidades indígenas e locais. O conceito
BIODIVERSIDADE NO MUNDO foi desenvolvido na Convenção sobre
Indicador de biodiversidade, em 2002 Diversidade Biológica, durante na
Eco-92, que definiu que os países têm
soberania sobre a biodiversidade de
seus territórios. O problema afeta o
país em vários setores, inclusive em sua
soberania. Na busca por enfrentar essa
questão, foi criada em 2003 uma Co-
missão Parlamentar de Inquérito ex-
clusiva para o tema. Seu relatório final
Sem dados
disponíveis
indicava que o país perderia mais de
5,7 bilhões de dólares por ano com o
tráfico ilegal de animais de sua fauna e
1000 km de conhecimentos tradicionais e remé-
0,50 Os dados indicam a diversidade dios de suas florestas.
Labmundo, 2014
Países Megadiversos 0,25 de espécies (mamíferos, aves, répteis,
anfíbios e plantas vasculares) e
0,10
Países Megadiversos Afins seu caráter endêmico. O tráfico de animais silvestres é, igual-
0,05 Somente considerados Estados
com mais de 5000 km2.
mente, um problema grave. Algumas
Fonte: Groombridge e Jenkins, 2002.
espécies podem valer mais de 60 mil
dólares no mercado internacional. A
ONU definiu a atividade como a ter-
O Brasil é um país de dimensões con- pessoas; e a biomassa vegetal respon- ceira atividade criminosa mais lucrati-
tinentais com grande diversidade de de por 30% da produção energética va do mundo, somente atrás do tráfico
zonas climáticas e de biomas. O resul- do país. Existe a expectativa de maio- de drogas e armas. O impacto nos bio-
tado disso é uma grande riqueza em res benefícios econômicos oriundos de mas pode ser muito grave: entre dez
termos de fauna e flora, que fazem do patentes e novas tecnologias a partir do aves capturadas no país para fins de co-
país o mais biodiverso do mundo. A estudo de sua biodiversidade. A preser- mércio irregular, somente uma ou duas
biodiversidade possui papel de desta- vação e exploração sustentável deste sobrevivem e chegam ao seu destino.
que na economia nacional: as exporta- potencial passam por grandes desafios,
ções agrícolas compõem mais de 30% como o avanço no conhecimento a res- A apropriação de conhecimentos locais
do total exportado pelo país; ativida- peito da fauna e da flora brasileiros. O ou a descoberta de substâncias tera-
des como extrativismo florestal e pes- panorama atual é de subaproveitamen- pêuticas de maneira irregular por par-
queiro empregam mais de 3 milhões de to dessa riqueza genética, mas também te da indústria farmacêutica fez com o
que país perdesse o direito a patentes
de elementos originários de sua biodi-
UM PAÍS MEGADIVERSO versidade. Por exemplo, o laboratório
Dados de 2002
Espécies de anfibios Espécies de mamíferos Merck detém a patente do princípio
Brasil 798 México 491 ativo do jaborandi, planta amazônica,
Colômbia 714 RD Congo 450
Equador 467 Camarões 409
461 Brasil 394
Peru DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA LEGAL
China 394 O Brasil possui
de 15 a 20% Em milhares de km2/ano, entre 1988 e 2012
Espécies de aves 30
Colômbia 1695
de todas as
Foi realizada
Peru 1538 espécies 25
uma média
para os anos
Indonésia 1519 de fauna e flora de 1993 e 1994.
Brasil 1492 do mundo

15
Espécies de plantas vasculares
Brasil 56.215
Colômbia 51.220
China 32.220 5
Labmundo, 2014
Labmundo, 2014

Indonésia 29.375
México 26.071
1988 1992 1996 2000 2004 2008 2012

Fonte: Groombridge e Jenkins, 2002. Fonte: INPE, 2013.

40 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
BRASIL, POTÊNCIA EMERGENTE?

para o combate da calvície e glauco- A ECONOMIA DA TERRA


Origem das espécies vegetais e animais economicamente relevantes para o Brasil (casos selecionados)
ma. O laboratório Squibb dos EUA se
aproveitou de conhecimento público Ásia
divulgado pelo cientista brasileiro Sér- Equinos

gio Henrique Ferreira sobre o veneno China


Ásia Menor
da jararaca nos anos 60 para criar uma soja
laranja
America Central e México
trigo
cacau
droga contra hipertensão até hoje co- Filipinas pinheiros África
mercializada. O pesquisador brasileiro Índia arroz capim
bovinos
publicamente já negou se tratar de um Nova-Guiné
cana-de-açúcar Etiópia
caso de biopirataria, mas o exemplo Brasil
café
abacaxi
evidencia a incapacidade do país de ti- amendoim
rar proveito de sua riqueza biológica. Austrália castanha do pará
mandioca

Labmundo, 2014
eucaliptos
caju
Muitas patentes de espécies brasileiras 1000 km carnaúba

são registradas no exterior de modo ir- Fonte: MMA, 2006.

regular. Ademais, nem sempre benefi-


ciam as comunidades locais detentoras
do conhecimento primário. O país ha- A biodiversidade marinha brasileira exploração madeireira, grilagem de
via se comprometido na Convenção não é tão variada quanto a de outros terras, avanço descontrolado da urba-
sobre Diversidade Biológica a colo- países, mas ainda assim se estima que nização ou mesmo da construção de
car 10% de seus ecossistemas sob pro- o Brasil concentre cerca de 6% das es- infraestruturas como barragens e estra-
teção, mas até 2010 só tinha alcançado pécies existentes de invertebrados “não das, o desmatamento produz desloca-
a cifra de 1,5%. Ainda assim, a meta de insetos”, a maioria dos quais vive no mentos forçados de comunidades, gera
colocar 30% da Amazônia sob algu- mar. poluição, permite a invasão de espécies
ma forma de proteção legal foi supera- exóticas sobre a flora nativa e contribui
da, tendo alcançado o total de 40% da Outro potencial pouco explorado no para o aquecimento global. O país tem
região. Um dos biomas menos prote- país é o consumo de peixes. O consu- conseguido manter uma tendência de-
gidos por força de lei e menos conheci- mo deste alimento fica abaixo do valor clinante das taxas de desmatamento na
dos pelos cientistas é o mar, já definido sugerido pela FAO (12kg). O consumo Amazônia (área mais vigiada) desde
pelo Ministério do Meio Ambiente anual per capita foi de 11,17 kg em 2011, 2004. No final de 2013, houve uma re-
como “a grande lacuna” do Sistema um recorde histórico, que significou versão dessa tendência, com o aumen-
Nacional de Unidades de Conservação. aumento de 23,7% do consumo em to da taxa para 28%, embora esta tenha
relação aos dois anos anteriores. Parte sido a segunda menor média anual
deste progresso é indicado como fru- desde 1993. O Brasil tem enfrentado os
BIOPIRATARIA E TRÁFICO DE ESPÉCIES to das ações do Ministério da Pesca, se- desafios domésticos do desmatamen-
Valor por espécie no mercado internacional, em
2003 (em milhares de dólares)
cretaria especial criada em 2003 que se to e da degradação ambiental, buscan-
Colecionadores particulares e zoológicos
tornou ministério em 2009. Apesar do do contribuir, no plano internacional,
Arara-azul-de-lear
consumo modesto, pesquisa realizada para as negociações sobre mudanças
Harpia
pelo governo federal entre 1995 e 2006 climáticas (princípio das responsabili-
Mico-leão-dourado
indicou que cerca de 80% das espécies dades comuns mas diferenciadas).
pescadas comercialmente eram explo-
Jaguatirica
radas plenamente ou em demasia, co-
Fins científicos locando em risco o consumo de longo FLORESTAS
1g de veneno - Coral verdadeira prazo. Países com as maiores áreas de florestas, em 2010
(em milhões de hectares)
1g de veneno - Aranha marrom
Rússia 809
Jararaca-ilhoa No âmbito multilateral, a importân-
Brasil 520
1g de veneno - Escorpião cia da riqueza genética e ambiental do
Canadá 310
Algumas espécies de besouro Brasil para o mundo e seu ativismo na
EUA 304
Surucucu-pico-de-jaca diplomacia ambiental colocam o país
China 207
Animais de estimação como um ator-chave nos debates e ne-
R. D. Congo 154
Sagui-da-cara-branca
gociações. O Itamaraty e o Ministé-
Austrália 149
Arara-vermelha
rio do Meio Ambiente participam de
Indonésia
Teiús
fóruns multilaterais a respeito da bio- 94

diversidade, como o grupo dos Países Sudão 70


Labmundo, 2014

Tucano-toco
Megadiversos Afins, que se organizou Índia 68
Jibóia
como mecanismo de consulta e coo- Outros 1.347

5 20 60 peração em torno dos interesses e das Fonte: FAO, 2010.


prioridades dos países-membros em
relação à conservação e utilização sus-
Espécies brasileiras patenteadas no exterior*
tentável da diversidade biológica. VEJA TAMBÉM:
Açaí Cupuaçu
Andiroba Espinheira Santa Agronegócio p. 28
Um dos graves problemas ambien-
Labmundo, 2014

Ayahuasca Jaborandi Centros de pesquisa p. 78


Copaíba Veneno da jararaca tais enfrentados pelo país é o desma- Sistema ONU p. 102
*essas patentes já foram revertidas tamento. Fruto de conversão de terras Cooperação Sul-Sul p. 112
Fontes: Sarney Filho, 2003; RENCTAS, 2001. para a agricultura, atividade pecuária,

at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 41
População 44 milhões de habitantes), seguido de
Minas Gerais (20 milhões) e Rio de

e diversidade
Janeiro (16 milhões). No outro extre-
mo, o Norte tem uma densidade de
4,12 hab/km2, sendo Roraima o estado
menos povoado, com apenas 500.000
habitantes. Também cresce a concen-
tração urbana, cuja população repre-
senta 84,9% do total. Essa urbanização
relaciona-se, entre outros, com o sur-
gimento de megacidades como São
Paulo (com mais de 23 milhões de ha-
bitantes, é a 7ª cidade mais populosa
Com uma população que supera os distribuição geográfica dessa popula- do mundo) ou Rio de Janeiro (com
200 milhões de habitantes, segundo o ção é bastante desigual. Há uma forte 13,6 milhões).
IBGE, o Brasil é o 5º país mais popu- concentração no sudeste, onde a den-
loso do mundo. Com uma densidade sidade atinge 87 hab/km2: São Paulo Em relação à composição dessa popu-
relativamente baixa (22,4 hab/km2), a é o Estado mais populoso (com quase lação, a melhoria da expectativa média
de vida (de 69,8 anos em 2000 para
74,8 em 2013) e a queda da taxa de fe-
DEMOGRAFIA BRASILEIRA cundidade (de 2,4 filhos por mulher
Densidade demográfica, em 2010 População urbana, em 2010 (em milhões de pessoas)

GRANDES AGLOMERAÇÕES URBANAS


Evolução de grandes aglomerações urbanas, entre
1950 e 2050
1950 2010 2050*
Tóquio (Japão)
38,66 mi

40 Nova Délhi
444
(Índia)
100 14 32,94 mi
50 8
10 2 Xangai (China)
28,40 mi
0 0 11,27 mi

Mumbai (Índia)
300 km 300 km 26,56 mi

1,37 mi
Cidade do
México (México)
População rural, em 2010 (em milhões de pessoas) População rural, em 2010 (em %) 24,58 mi
5 15 25 35 4,3 mi
MA
PI
PA 2,86 mi Nova York (EUA)
23,57 mi
BA
AC São Paulo
SE 2,88 mi (Brasil)
RO 23,17 mi
AL 12,34 mi Dacca
CE (Bangladesh)
4 PB 22,91 mi
2 RR
RN Pequim (China)
1
TO 22,63 mi
0,5 AM
0 PE 2,33 mi
MT
ES Karashi
SC Paquistão)
RS 0,34 mi
20,19 mi
300 km MG
PR Calcutá (Índia)
MS 18,71 mi
AP 1,67 mi
GO
SP Manila (Filipinas)
DF 16,28 mi
1,06 mi
População por gênero e faixa etária, RJ
em 2010 (em milhões de pessoas) > 80
75 a 79 4,51 mi Los Angeles
70 a 74
65 a 69 (EUA)
15,69 mi
60 a 64
55 a 59 Buenos Aires
50 a 54
45 a 49 1,54 mi (Argentina)
40 a 44 15,52 mi
35 a 39 Rio de Janeiro
30 a 34 4,05 mi
25 a 29 (Brasil)
20 a 24 13,62 mi
15 a 19 5,10 mi
10 a 14
Labmundo, 2014
Labmundo, 2014

5a9
1a4 *Para os dados de 2050,
>1 foram consideradas
8 6 4 2 2 4 6 8 2,95 mi as projeções médias feitas
Homens Mulheres pela ONU
Fonte: IBGE, 2010b. Fonte: ONU, 2013a
42 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
BRASIL, POTÊNCIA EMERGENTE?

em 2000 a 1,8 em 2013), antecipa o ce- CLASSES SOCIAIS NAS REGIÕES BRASILEIRAS
nário de envelhecimento da popula- Número de habitantes por classe social nas regiões do Brasil, em 2009
ção, hoje ainda relativamente jovem Regiões
(população em milhões)
(“bônus demográfico”). Quanto à cor
da pele, 47% se autodeclaram bran- Norte
Classe Social
cos, majoritários no sul e sudeste (55% 12,4
e 78% da população, respectivamen-
te), 43% pardos (majoritários no Norte
e no Nordeste), 7% pretos e 0,4% indí-
Centro-Oeste
genas (concentrados no Norte).
13,9
AB
Essa composição encontra suas origens
nos fluxos migratórios que configura-
ram historicamente a população bra-
sileira. Durante muito tempo o Brasil Sul
foi considerado um país de imigração: 27,7

aqui foram chegando os colonizadores


portugueses, os escravos africanos ví- C
timas do tráfico negreiro, os migran-
tes vindos do Velho Mundo no final
do século XIX (principalmente traba-
lhadores portugueses e italianos, segui- Nordeste
dos de espanhóis, alemães, japoneses e 53,9
sírio-libaneses, entre outros), mudan-
do a fisionomia de várias regiões, que
hoje mostram a herança cultural des- D
ses fluxos. Diante dessas tendências no
passado, hoje os dados revelam uma
proporção de imigrantes de apenas
0,4% (diante de 0,7% de emigrantes),
e isso apesar de relativo aumento dos
fluxos mais recentes. Sudeste
E

80,3
A população brasileira ainda sofre com
Quantidade de indivíduos
vários problemas associados às desi-
gualdades sociais (tais como acesso à

Labmundo, 2014
10 milhões
educação, trabalho digno e saúde) e
às várias formas de discriminação, que 1 milhão
aos poucos vão sendo enfrentados. A Fonte: CPS/FGV, 2014.
distribuição das classes sociais está mu-
dando, com uma importante amplia-
ção da classe C, que ganhou, em uma No entanto, essa nova classe C en- um escasso nível de satisfação cidadã
década, quase 30 milhões de pesso- frenta desafios, como o alto nível de com a saúde (só 44% dos brasileiros
as oriundas da classe D. Segundo da- endividamento e problemas no aces- se declararam satisfeitos), a educação
dos da Fundação Getúlio Vargas, a so a serviços básicos, mostrando os (53,7%) ou a segurança (40%). Reivin-
classe C representaria 52% da popula- limites de uma concepção da cidada- dicações de ampliação de direitos ocu-
ção (diante de 28% pertencente à clas- nia baseada só no nível de renda e de param as ruas a partir de junho de 2013,
se baixa). consumo. Dados do PNUD mostram com demandas de melhorias no trans-
porte, na habitação (7% da popula-
ção urbana mora em assentamentos
IMIGRANTES NO BRASIL precários, colocando em risco o direi-
Quantidade total de imigrantes vivendo no Brasil, em 2010 (em milhares de pessoas) to à moradia), na saúde (há apenas 1,7
médicos por cada 1000 habitantes, si-
tuação agravada nas áreas rurais) e na
s
se
s educação (apesar dos avanços na ma-
e

Japoneses

trícula, muito ainda deve ser feito para


e
gu
Ale
rtu

melhorar a qualidade).
Po

Co
rea
nos
ó is
nh
pa

VEJA TAMBÉM:
Es

s
no

s l
ia

Bolivianos
Chileno

Ita Diversidade cultural p. 24


Labmundo, 2014

Paraguaios
Pobreza e desigualdade p. 44
os

U r u u ai Redes sociais e integração regional p. 96


g
os

17,24 55,37 214,51 1000 km


A r g e n ti n Cooperção Sul-Sul p. 112
Fonte: Banco Mundial, 2011.

at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 43
Pobreza e tendo na reconfiguração da paisagem
do desenvolvimento mundial, com

desigualdade
políticas que unem crescimento eco-
nômico e desenvolvimento humano
(que inclui a educação, a saúde, a ren-
da e o emprego).

Apesar dos avanços, 8,9 milhões de


brasileiros ainda sofrem da extrema
pobreza, e as desigualdades internas
continuam sendo muito importantes
entre regiões (há 5 vezes mais pobres
no Nordeste do que no Sul), zonas ru-
A luta contra a pobreza tem ocupado o York, no caso de seu programa Oppor- rais e urbanas (a pobreza rural é três ve-
centro das agendas da cooperação para tunity NYC: Family Rewards), além zes maior do que a urbana) e grupos
o desenvolvimento desde a adoção dos de modelos para organismos interna- raciais (68% das pessoas que vivem em
Objetivos de Desenvolvimento do Mi- cionais como a FAO e o PNUD. Este situação de pobreza extrema são ne-
lênio (ODM) no ano 2000. Essa agen- último de fato ressaltou a ascensão do gros ou pardos, diante de 28% bran-
da permitiu importantes avanços na Sul no seu relatório de 2013, mostran- cos). Um dos grandes desafios do país
diminuição da pobreza, mas os dados do a importância que potências emer- continua sendo a diminuição das múl-
ainda são preocupantes, com 1,4 tri- gentes como o Brasil, a China, a África tiplas desigualdades para garantir um
lhão de pessoas vivendo em extrema do Sul ou a Índia, entre outros, estão nível de vida digno para todos.
pobreza (ou seja, com menos de 1,25
dólares por dia) nas regiões em desen-
volvimento, a maioria na África sub- DESENVOLVIMENTO HUMANO E DESIGUALDADES
Valores de Gini de 2010 e IDH de 2013 Austrália Irlanda
saariana e na Ásia meridional. A fome Itália Suíça
desenvolvimento humano elevado

Alemanha
continua sendo um problema global, *Nem todos os países estão representados; Israel
Canadá
Bélgica Noruega
Estados
especialmente para essas regiões, agra- IDH e Índice de Gini disponíveis para 135 Geórgia Unidos Suécia
Argentina
vado nos últimos tempos pelo impac- países exibidos.
Costa Rica Uruguai Nova Zelândia
to da crise financeira e do aumento do Chile Malásia Espanha
Finlândia
Áustria
Panamá
preço dos alimentos: 850 milhões de Equador Qatar Grécia Eslovénia
Luxemburgo
Estónia Polônia
pessoas ainda sofrem de nutrição insu- Venezuela
República Dominicana
Lituânia Hungria Quirguizistão
ficiente, o que demonstra os limites de 0,8 Jamaica
Rússia Letônia Croácia
um mercado dominado pelas diretri- México
China Roménia
Bielorrússia
Bulgária
Colômbia
zes do agronegócio em detrimento da Bolívia Brasil Irã Albânia
Bósnia
Sérvia
Peru 

soberania alimentar. Nas outras áreas 


 
 Ucrânia
Paraguai Jordânia
contempladas pelos ODM (educação, Honduras
Cazaquistão
Arménia
El Salvador
saúde, igualdade de gênero, etc.), tam- Micronésia
Turquia Azerbaijão

Egito
bém houve melhorias, mas ainda in- Srilanca
Tunísia
Filipinas Síria Moldávia
Tajiquistão
suficientes, mostrando que os avanços Tailândia
Gabão Palestina Indonésia
África do Sul
foram afetados pela crise e se distribuí- 0,6 Namíbia Mongólia Vietnã
Iraque
Nicarágua
IDH

ram de forma desigual entre as regiões Guatemala


Cabo Verde Marrocos Timor Leste
Suazilândia Gana Índia
e países, e no interior destes (com for- São Tomé e Príncipe
Uzbequistão
tes diferenças de gênero, raça, regio- Congo Quirguizistão Bangladeshe Paquistão
Camboja
nais, e entre as áreas rurais e urbanas). Angola Quénia
Lesoto
Haiti
Nigéria
Nepal
No Brasil, os avanços no cumprimen- Togo
to dos ODM têm sido ressaltados no Laos
0,4 Etiópia
mundo todo, principalmente no que Gâmbia
Madagáscar
Senegal
Djibouti Sudão Afeganistão
se refere à extrema pobreza (a porcen- Zâmbia
Ruanda Uganda
baixo desenvolvimento humano

tagem da população vivendo em extre- República Centro-África Mauritânia


Costa do Marfim
ma pobreza passou de 25,6% em 1990 Guiné Bissau
Burundi
a 4,8% em 2008) e à luta contra a fome Moçambique Serra Leoa Camarões Mali
(diminuindo a porcentagem de crian- República do Congo
Burquina Faso
Lituânia
Iémen Níger
ças com peso abaixo do esperado para Chade Benin
Malaui
Guiné
a sua idade de 4,2 em 1996 para 1,8% Libéria

em 2006). Os resultados obtidos pelos 60 50 40 30


programas governamentais Bolsa Fa- desigualdades Índice de Gini desigualdades
mília e Fome Zero os converteram em altas baixas

referências internacionais, sendo um América do Sul Oceania África População dos Estados, 2007
(em milhões de habitantes)
dos focos centrais da cooperação Sul– América do Norte Europa Ásia
250
Labmundo, 2014

Sul brasileira, mas também uma práti- 100


América Central e Caribe
ca institucional que inspira programas
de transferência de renda (inclusive 10
para cidades do Norte, como Nova Fonte: PNUD, 2013a

44 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
BRASIL, POTÊNCIA EMERGENTE?

POBREZA E BOLSA FAMÍLIA INDICADORES SOCIAIS NO BRASIL E NO MUNDO


Bolsa família por região, em milhões IDH no mundo, em 2013 IDH nos municípios brasileiros, em 2013
de famílias contempladas 7
entre 2004 e 2014 O índice varia de 0 a 1
0,30 0,54 0,71 0,81 0,96
6

Sem dados
5 disponíveis

1000 km 250 km
3
Fonte: PNUD, 2013a. Fonte: PNUD, 2013b.

Expectativa de vida no mundo, em 2013 Expectativa de vida nos municípios brasileiros,


1 em 2013
Em anos
48,1 67,4 73,2 76,7 83,6
04
05
06
07
08
09
10
11
12
13
14
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20

R. Nordeste R. Sudeste R. Sul Sem dados


R. Norte R. Centro-Oeste disponíveis
Fonte: MDS, 2014

1000 km 250 km
Evolução da pobreza, em milhares de pessoas
Fonte: PNUD, 2013a. Fonte: PNUD, 2013b.
40

Gini no mundo, em 2013 Gini nos municípios brasileiros, em 2013

30 O índice varia de 0 a 1
0,23 0,32 0,39 0,46 0,80

Sem dados
20 disponíveis
Labmundo, 2014

10
1000 km 250 km

Fonte: CIA,2013. Fonte: PNUD, 2013b

Escolaridade no mundo, em 2013 Escolaridade nos municípios brasileiros, em 2013


20 1
02

20 3
04

20 5
20 6
20 7
20 8
20 9
20 0
11
0

0
0
0
0
0
1
20

20

20

Quantidade de moradores com renda domiciliar per capita:  Média de anos de


R$ 0 a 70 R$ 70,01 a 140 R$ 0 a 140 frequência escolar
1,2 5,3 8,2 10,1 13,3
Fonte: MDS, 2014
Sem dados
disponíveis

Esta é uma pequena amostra das limi-


tações de uma agenda internacional
focada quase exclusivamente na re- 1000 km 250 km

dução da pobreza e nos programas de Fonte: PNUD, 2013a. Fonte: PNUD, 2013b

crescimento econômico. Essa concep-


ção tende a desconsiderar os processos Homicídios no mundo, em 2013 Homicídios nos municípios brasileiros, em 2013
contraditórios e complexos do desen-
Homicídios por 100 mil habitantes
volvimento, além de excluir do de- 0 9 18 30 139,5
bate questões-chave para a melhoria
das condições dos cidadãos. Aspectos Sem dados
disponíveis
como a reprodução sistêmica das desi-
gualdades, a garantia universal dos di-
reitos humanos, a participação social
Labmundo, 2014

e inclusiva nas deliberações democrá- 1000 km 250 km

ticas ou ainda a dimensão estrutural


das responsabilidades comuns e dife- Fonte: UNODC, 2013. Fonte: Waiselfisz, 2014.
renciadas para a construção de relações
mais equitativas entre as nações, entre
outros, estão frequentemente ausentes responsabilidades compartilhadas en- VEJA TAMBÉM:
dessa agenda. Entender o desenvolvi- tre os países do Norte e do Sul, é uma População e diversidade p. 42
mento como a realização dos direitos das propostas com mais força nos de- Ação internacional dos estados p. 66
humanos, superando os limites da vi- bates das redes e movimentos interna- Multinacionais brasileiras p. 70
são estreita associada às necessidades cionais para a definição de uma agenda Cooperção Sul-Sul p. 112
básicas, e enfatizando a visão global de de desenvolvimento pós-2015.

at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 45
Segurança da República em 1889, dos golpes de
1930 e 1937 e do golpe que instaurou a

e política
ditadura em 1964. Mesmo assim, de-
vido a condições internas e externas,
consolidou-se no Brasil a imagem de
um país pacífico, que utiliza sobretu-

de defesa
do a diplomacia como estratégia de ne-
gociação internacional e resolução dos
conflitos. Principalmente após o golpe
de 1964, desenvolveu-se uma concep-
ção segundo a qual as Forças Armadas
responderiam a problemas internos e
BRASIL NAS MISSÕES DE PAZ DA ONU não externos. A ordem da Guerra Fria
Contingente de brasileiros no total das missões de paz, em julho de 2013 acrescentou a esse marco interpreta-
Haiti tivo condicionantes externos, relati-
MINUSTAH 1408
vos à ameaça comunista e à segurança
Líbano 260
UNIFIL
UNIFIL
UNFICYP
no continente americano. O externo
Sudão do Sul 14 MINUSTAH
MINURSO
e o interno convergiam em um movi-
UNMISS
mento associado, graças à doutrina da
UNISFA
Saara Ocidental 10
MINURSO Guerra Fria elaborada no meio estraté-
Costa do Marfim 7 gico dos EUA. A defesa como política
UNOCI Efetivo total
nacional renasceu no Brasil de modo
Efetivo brasileiro UNMIL
Libéria
UNMIL 4 UNOCI
UNMISS
mais relevante somente no período de
10 585
Abiey* redemocratização do Estado.
UNISFA 4 1000

Labmundo, 2014
Chipre
UNFICYP 1 1
*Cidade disputada na fronteira
do Sudão com Sudão do Sul 1000 km Ao final do século XX e início do XXI,
algumas mudanças ocorreram no cam-
Fontes: ONU, 2013b; Sítio web da ONU – Manutenção da Paz, 2014
po político e institucional da defe-
sa nacional. Com a transição política
na década de 1980 que pôs fim ao re-
A política de defesa diz respeito à pro- potenciais ou manifestas. O diagnós- gime militar e permitiu o desenho da
teção da soberania e à integridade ter- tico sobre as ameaças também consta nova Constituição em 1988 e, sobre-
ritorial, mas também à projeção dos dos mesmos documentos oficiais. tudo, com a criação do Ministério da
interesses nacionais no campo da segu- Defesa em 1999, a função das Forças
rança regional e coletiva. No caso do Nesse sentido, defender a soberania Armadas foi alterada: ganharam aten-
Brasil, como indica o quadro apresen- no plano internacional implica, quan- ção os temas internacionais e regionais
tando os principais documentos ofi- do for necessário, o uso de aparato bé- e se intensificou a projeção do Bra-
ciais, a defesa nacional é definida como lico e, para tanto, resulta na aposta sil em missões de paz. Se o Brasil aspi-
o conjunto de medidas e ações do Esta- atual de investir em tecnologias mais rasse a postos de coordenação política
do, com ênfase no campo militar, para inovadoras e modernizar recursos hu- no plano sistêmico, deveria demons-
a proteção do território, da soberania manos. No Brasil há um longo histó- trar compromisso com a estabilidade
e dos interesses nacionais contra ame- rico de atuação dos militares na vida regional e internacional. O Brasil pas-
aças preponderantemente externas, política, a exemplo da proclamação sou a mobilizar mais recursos (huma-
nos, financeiros e políticos) no seio das
operações de paz das Nações Unidas.
PRINCIPAIS PAÍSES EXPORTADORES DE ARMAS Desde então, houve constante aumen-
Valores absolutos em bilhões de dólares e valores per capita, em 2012
to orçamentário reservado ao campo
da defesa no Brasil. Isso pode ser ob-
8,760

8
servado, por exemplo, no gráfico de or-
8,003

7 çamentos militares no mundo, em que


6 se percebe claramente que este setor
obteve um crescimento nos montan-
5 Valores
per capita: tes destinados pelo governo brasileiro
100
4
50 à defesa. Também ocorreram inova-
3 10 ções quanto a parcerias com o segmen-
5 to empresarial (Embraer, Odebrecht),
2 1
0
Sem dados que passou a investir em defesa e tec-
1,783

disponíveis 1000 km
1 nologia militar.
0,5

Além disso, merece destaque a publica-


Canadá
EUA
Rússia
China
Ucrânia
Alemanha
França
Reino Unido
Itália
Holanda
Espanha
Israel
Suécia

Suíça
Uzbequistão

Noruega
África do Sul
Polônia
Romênia
Chile
Singapura
Austrália
Nova Zelândia
Finlândia
Bielorrússia
Turquia
Brasil
Líbia

Labmundo, 2014 Irlanda


Coreia do Norte

ção da Política de Defesa Nacional em


1996 e da Estratégia Nacional de De-
fesa em 2008. Estes dois documentos,
Os dados representam os valores de 2012, com exceção de Chile (2008), Coreia do Norte (2009), Líbia (2010),
Bielorrússia (2011) e Uzbequistão (2011).
sobretudo o segundo, apresentam de-
Fontes: SIPRI, 2014a; Sítio web da base de dados do Banco Mundial, 2014. finições importantes sobre a função

46 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
BRASIL, POTÊNCIA EMERGENTE?

DOCUMENTOS SOBRE DEFESA NO BRASIL


Documento Ano Objetivos Centrais Meios de Execução Principais Definições
Garantir a soberania nacional e a integridade Intensificação dos processos de regionalização e Segurança: condição em que o Estado, a sociedade
territorial cooperação com os países da América do Sul e da ou os indivíduos se sentem livres de riscos, pressões
Costa Africana ou ameaças externas
Contribuir com a estabilidade regional
Criação de órgãos regionais e multilaterais de Defesa: é o conjunto de ações do Estado, função dos
Contribuir para a manutenção da paz e segurança resolução de controvérsias militares, para a defesa do território, da soberania e
Política de 1996 internacionais dos interesses nacionais
Defesa a Integração das Bases Industriais de Defesa
Nacional 2005 Intensificar a projeção do Brasil Ambiente internacional: complexo, pós-bipolar,
Reformas nas organizações internacionais visando a globalizado, caracterizado pelas novas ameaças
Manter as Forças Armadas modernas e integradas sua maior legitimidade (terrorismo, crimes transfronteiriços)

Desenvolver a indústria de defesa nacional, visando à


autonomia no setor
Visa à reorganização e reorientação das Forças Dissuadir forças hostis Brasil como país pacífico por tradição e convicção
Armadas, da organização da Base Industrial de Defesa
e da política de composição dos efetivos da Marinha, Organizar as Forças Armadas sob o trinômio Projeto de ascensão ao cenário internacional, sem
do Exército e da Aeronáutica, contribuindo para monitoramento, mobilidade e presença buscar hegemonia
fortalecer o papel cada vez maior do Brasil no plano
internacional Fortalecer setores estratégicos: cibernético, nuclear e Nexo inextricável entre Defesa e Desenvolvimento
espacial
Estratégia 2008
Nacional de a Adensar presença nas fronteiras e priorizar a região
Defesa 2012 amazônica

Labmundo, 2014
Estimular a integração da América do Sul e preparar
as Forças Armadas para agirem em missões da ONU

Capacitar a Base Industrial de Defesa para desenvolver


autonomia tecnológica

Fonte: Ministério da Defesa, 2012.

das Forças Armadas e apresentam uma ações humanitárias organizadas e ge- Entraves e dificuldades na política
nova compreensão do sistema inter- ridas pelas Nações Unidas. As Missões de desenvolvimento industrial mili-
nacional, exigindo do Brasil uma ação de Paz da ONU são inclusive defendi- tar nacional e regional, baixa inserção
diferente no preparo de suas Forças Ar- das na END do Brasil. Ou seja, uma no mercado militar mundial, sucatea-
madas. Por exemplo, a PDN apresen- das funções de nossas Forças Armadas mento da tropa e dos recursos milita-
ta um sistema internacional permeado passou a ser de participar e liderar essas res (armas, aviões, navios, artilharia e
por ‘novas ameaças’, tais como o nar- ações da ONU como meio de inten- demais itens), baixo interesse do setor
cotráfico, o terrorismo, a biopirataria sificar a participação brasileira no pla- público e congressual (“assunto de De-
e outros. no internacional, contribuindo para o fesa não dá voto”) são somente alguns
aumento da influência do Brasil exter- dos problemas que o Brasil precisa en-
A partir daí, as Forças Armadas assu- namente. A defesa mudou de estatuto frentar se quiser se tornar um ator re-
mem novo papel, voltado ao plano político no século XXI e passou a dia- levante nesse setor. É evidente que há
externo. Cada vez mais também é de- logar mais fortemente com a PEB de sinais de modernização, a exemplo
fendida a utilização de militares em potência emergente. do submarino nuclear (parceria com
a França) e dos caças suecos. Como
construir em termos ideacionais e ma-
BRASIL E ORÇAMENTOS MILITARES teriais um Brasil potência se os temas
Evolução em bilhões de dólares, entre 1988 e 2012
de defesa não ocuparem espaço impor-
Entre os países ricos e China Entre os países emergentes
tante no debate público? Somente soft
700
50 power seria capaz de garantir estabili-
Desmantelamento
da URSS
EUA Redemocratização
e crises monetárias Índia dade política regional, poder de deci-
600 são e dissuasão no plano internacional?
Tudo indica que o discurso oficial em
40
matéria de defesa esteja mudando no
500
Brasil Brasil: o atual Ministro da Defesa, Em-
baixador Celso Amorim, reconheceu
400
30 que o Brasil precisa ter força e capaci-
11 de setembro dade dissuasória e que, portanto, não
de 2001 seria possível conceber uma realidade
300 de Brasil potência sem considerar se-
20
riamente a defesa nacional.
Turquia
200
China
10 México
VEJA TAMBÉM:
100 Rússia Ameaças globais p. 48
Labmundo, 2014

R. Unido Áf. do Defesa e segurança p. 90


Brasil Sul
Energia e infraestrutura p. 92
1988 2000 2012 1988 2000 2012 Novas coalizões p. 106
Fonte: SIPRI, 2014b.

at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 47
Ameaças globais e Desenvolvimento (1992), a cons-
cientização ecológica aumentou, mas

e transnacionais
também se ampliou o leque de crises
produzidas pela ação humana sobre a
natureza. O aumento dos níveis dos
mares pode comprometer territorial-
mente alguns Estados. Outros tipos de
ameaças ambientais dizem respeito à
escassez de recursos (água, terra arável,
por exemplo) e ao incremento do nú-
mero de refugiados ambientais.

O Brasil não está imune a essas amea-


Em um mundo concebido em ter- guerra e o outro para celebrar os acor- ças transnacionais, uma vez que possui
mos de anarquia e interesses estratégi- dos. Hoje, muitas ameaças ao terri- extenso território, é rico em diversi-
cos, a defesa e a segurança dos Estados tório dos Estados são dessa natureza, dade ecológica, em recursos minerais,
sempre estiveram no centro das rela- uma vez que os conflitos e as ingerên- florestas e água doce. O controle sobre
ções internacionais e dos debates so- cias seguem acontecendo, como no o acesso a tais recursos tem tornado-se,
bre política externa. No entanto, a caso da invasão do Iraque em março de cada vez mais, um tema de segurança.
natureza dos problemas de seguran- 2003 ou da crise na Criméia em 2014. Da Amazônia verde à Amazônia azul
ça e defesa mudou com o advento das No caso do Brasil, a maioria dos confli- as Forças Armadas têm sido mobiliza-
bombas nucleares, a aceleração da in- tos territoriais se concentrou no século das e demandam sua modernização a
terdependência econômica, os avan- XIX. No século XX, o país participou fim de lograrem responder à altura aos
ços tecnológicos da globalização, com das duas grandes guerras, mas a amea- desafios de proteção do território e dos
o crescimento dos problemas trans- ça de invasão territorial era distante e interesses nacionais. As ameaças evo-
nacionais ligados à crise ambiental, não provocava receios maiores entre os luíram também com a própria noção
ao narcotráfico e às guerras cibernéti- membros da elite governante. de riquezas potenciais do território dos
cas, por exemplo. A partir do momen- Estados: não somente é necessário pro-
to em que as ameaças se diversificaram, No entanto, com o final da ordem da teger os cidadãos e os recursos minerais
ao mesmo tempo, transformaram-se o Guerra Fria têm-se multiplicado os clássicos fixados ao território nacional
conteúdo, o escopo e a escala das po- sentidos e as expressões materiais da
líticas nacionais de defesa. Em alguns ameaça. As ameaças também são de
casos, os temas de defesa passaram in- natureza transnacional, relacionadas, CIBERSEGURANÇA
clusive a fazer parte da agenda de co- por exemplo, a diferentes formas do Top 10 de origens de ataques via internet ou por
meio de HTTP em 2013 (em % do total mundial)
operação dos Estados, a exemplo da crime organizado (narcotráfico, tráfi- 5 15 25
Política Externa e de Segurança Co- co de seres humanos) e às crises ecoló- China
mum da UE e do Conselho de Defe- gicas (mudanças climáticas, aumento EUA
sa da Unasul. dos níveis dos oceanos). No caso da Holanda
crise ambiental, a dimensão transna- Reino
Tradicionalmente, a principal amea- cional é ainda mais evidente: chuvas Unido
Rússia
ça à integridade territorial dos Estados ácidas, emissões de gases de efeito es-
Vietnã
provinha da ação militar de outros Es- tufa, poluição dos rios, contaminação
tados. Os exércitos estrangeiros cons- dos oceanos, entre outros, são proble- França

tituíam a principal das ameaças à mas que atravessam as fronteiras na- Brasil

soberania dos Estados e às suas socie- cionais e produzem impacto no médio Índia

dades nacionais. As metáforas mais e longo prazos. Desde a Conferência Japão

citadas sobre os atores das relações in- de Estocolmo sobre Meio Ambiente Fonte: Symantec, 2014.
ternacionais giravam em torno do sol- Humano (1972) até a Conferência do
dado e do diplomata: um para fazer a Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente
Top 10 de origem de ataques via Bot*, em 2013
(em % do total mundial)
5 15 25
CIBERSEGURANÇA EUA
Combate a crimes cibernéticos, em 2013
China
Itália
Taiwan
Brasil
Japão
Hungria
Alemanha
Crimes combatidos por Espanha
instituições militares
Canadá
Labmundo, 2014
Labmundo, 2014

Crimes combatidos por


instituições civis *Ataques por meio de programas maliciosos que
comprometem os computadores e permitem que o
1000 km Sem dados invasor controle o sistema infectado de um ponto remoto.
disponíveis
Fonte: UNIDIR, 2013. Fonte: Symantec, 2014.

48 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
BRASIL, POTÊNCIA EMERGENTE?

EMISSÕES DE DIÓXIDO DE CARBONO EMISSÕES DE CO2


Em bilhões de toneladas de m³, entre 1992 e 2010 Em tonelada per capita, em 2009

1 bi
0,5 bi

0,25 bi

40,3
6
11
6

Labmundo, 2014
1
China
0
1000 km
Sem dados
Fonte: Banco Mundial, 2009. disponíveis

Índia
(petróleo, gás, ouro, diamante, ferro, diferentes formas de pirataria, as inva-
etc.), mas também os recursos naturais sões virtuais (via Internet), as doenças
que passaram a ganhar valor agrega- e os tráficos transnacionais. O alar-
do graças à própria evolução das fron- gamento do sentido e do conceito de
teiras da “economia verde” (recursos segurança é acompanhado pela neces-
Brasil biogenéticos, florestas, mares). A bio- sidade de pensar-se tanto a dimensão
pirataria e a obtenção de certificados objetiva (tamanho dos exércitos ini-
de propriedade intelectual (como no migos, número de ogivas nucleares de
caso do arroz basmati pela Ricetec, do que dispõe o inimigo) quando a di-
África do Sul cupuaçu pela empresa japonesa Asahi mensão subjetiva da ameaça, ou seja, a
Food) são exemplos típicos dessas “no- percepção da ameaça e dos riscos exis-
vas” ameaças aos interesses e potenciais tentes pela sociedade e pelos tomado-
ganhos econômicos dos Estados. res de decisão.

México É claro que os agentes das ameaças Outro desafio importante colocado
transnacionais são cada vez mais di- ao Estado brasileiro diz respeito à di-
versificados, muito frequentemente mensão doméstica da segurança: as
ligados ao mercado e ao mundo das ameaças podem ter origem dentro do
EUA
corporações, cujas ações podem gerar próprio território nacional. Nesse caso,
impacto muito negativo sobre o meio podem ocorrer inclusive comporta-
ambiente. No entanto, também po- mentos abusivos de controle do Estado
dem ser grupos e indivíduos vincula- sobre a sociedade, chegando a configu-
Japão
dos a diferentes formas de terrorismo e, rar, em alguns casos, claras violações
por motivações totalmente distintas, a dos direitos humanos. Uma política de
ONG e movimentos sociais libertários segurança, ao almejar o controle total
Itália que militam contra o controle não de- dos riscos e ameaças, pode incorrer em
mocrático do Estado sobre a ação dos abusos e violações de direitos. A polí-
indivíduos. O caso de Edward Snow- tica de defesa do Estado nacional deve
França den revela essa dimensão do risco as- equacionar as tensões potenciais resul-
sociado aos atos praticados por um tantes do imperativo de segurança e do
indivíduo, mais precisamente um an- respeito às liberdades individuais e aos
Reino Unido tigo funcionário da CIA. direitos humanos. Esse é um dilema
da ação doméstica e externa do Estado.
Essa multiplicação de agentes faz com A resposta institucional à ameaça ter-
que o conceito de segurança se torne rorista adotada em alguns países oci-
Alemanha
cada vez mais abrangente: de seguran- dentais (por exemplo, no caso da Lei
ça nacional (conceito de triste lem- Patriota nos Estados Unidos) ilustra
brança na América do Sul durante as perfeitamente essas tensões e não deve-
ditaduras militares) à segurança regio- ria servir de modelo de política pública
Rússia
nal, de segurança coletiva à segurança de segurança ao Brasil.
humana. Os debates sobre tais concei-
tos estão longe de produzirem consen-
so, mas convergem no sentido de que VEJA TAMBÉM:
os agentes que geram insegurança dos
Labmundo, 2014

Matriz energética e meio ambiente p. 34


1992 2010
Estados podem ainda ser os demais Es- Biodiversidade p. 40
tados, mas cada vez mais as catástro- Defesa e segurança p. 90
Fonte: CDIAC, 2013.
fes naturais, as mudanças climáticas Governança global p. 108
provocadas pelas emissões de CO2, as

at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 49
Cultura como a rede de Institutos Culturais e Cen-
tros de Estudos Brasileiros no exte-

soft power
rior, bem como repassar os recursos
necessários às atividades de divulgação
cultural. No âmbito multilateral, am-
bos os ministérios são fundamentais
na atuação brasileira junto à Unesco.
No plano dos estados e dos municí-
pios, algumas secretarias podem ter pa-
pel mais destacado no campo cultural
(como nos casos de São Paulo, Rio de
Janeiro e Bahia, por exemplo).
CINEMA NACIONAL E ESTRANGEIRO NO BRASIL
Público entre 2009 e 2012, Títulos lançados entre 2009 e 2012 Renda (em milhões de reais) São exemplos de iniciativas organi-
em milhões de expectadores zadas pelo Brasil o festival de cinema
lusófono, o concurso Itamaraty de
curta-metragem, as mostras de cine-
419,4 EUA 4 179,1 ma brasileiro (o Itamaraty em coorde-
nação com a Embrafilme), o Ano do
Brasil 660,5
Brasil na França em 2005, os apoios à
72,4
capoeira na América Latina, a promo-
ção da cultura no seio da CPLP, mos-
4,7 França 51,6 tras de artes plásticas, a edição das
revistas Cultura Brasileña e Brasil Cul-
6,9
Reino 72,9 tura (respectivamente, pelas embaixa-
Unido
das em Madri e Buenos Aires), etc. A
política cultural brasileira no exterior
1,1 Argentina 11,8
Labmundo, 2014
é abundante em projetos, muito em-
bora peque por escassez de recursos e
2,4 Espanha 26,8 excessiva fragmentação das iniciativas.
100 200 300 400 500
A diplomacia cultural seria, assim, ins-
Fonte: Ancine, 2013.
trumento da inserção externa do Brasil,
devendo contribuir para consolidar a
identidade nacional, reforçar a aproxi-
A noção de soft power, o poder brando identidades e podem fazer da diploma- mação dos povos em torno de um pa-
dos Estados, pode ser definida como a cia cultural uma ferramenta de comu- trimônio comum e evitar, ao mesmo
capacidade de atrair ou seduzir indiví- nicação e de política externa. No caso tempo, que as programações culturais
duos e grupos para o lado que se este- do Brasil, literatura, música popular sejam meras ferramentas de trabalho.
ja defendendo sem o uso da coerção. brasileira, bossa nova, samba, carna- A diplomacia cultural deve constituir
No caso da política externa, trata-se de val, novelas, esportes (e o futebol em prioridade política e, consequente-
convencer outros países a querer o que particular), capoeira e jiu-jitsu brasi- mente, receber recursos, financeiros e
o seu próprio país está buscando, sem leiro, cinema ou ainda a organização humanos, que sejam condizentes com
a necessidade de ordenar ou coagir por de eventos culturais, entre outros, fa- a sua função.
meios militares ou econômicos. A bar- zem parte do conjunto de vetores e ins-
ganha e a negociação são elementos trumentos culturais que projetam uma É evidente que o uso diplomático da
constitutivos do poder brando, consi- imagem sobre o Brasil no plano inter- cultura parte de visões oficiais sobre
derado a outra face do hard power. Se- nacional. Algumas dessas imagens po- a identidade de uma sociedade nacio-
riam três as suas principais fontes: a dem se converter em clichês. nal. A diplomacia cultural reflete o uso
cultura (que pode ser atraente e exercer específico da relação cultural para fins
fascínio sobre indivíduos e sociedades O Itamaraty e o Ministério da Cultu- de natureza não somente cultural, mas
de outros países), os valores políticos ra são, no âmbito federal, os principais também político, comercial ou econô-
(democracia, direitos humanos, boa promotores da diplomacia cultural mico. Ademais, tende a existir uma re-
vizinhança, justiça social, etc.) e a di- brasileira. O Ministério da Cultura lação muito estreita entre a diplomacia
plomacia (desde que considerada legí- atua por meio de sua Diretoria de Re- e a alta cultura, ainda que de manei-
tima e portadora de alguma forma de lações Internacionais. A Diretoria e o ra implícita e tácita. Nesse processo, o
respeitabilidade e autoridade moral). Departamento Cultural do Itamara- que o Estado brasileiro procura proje-
ty trabalham juntos na divulgação in- tar, em última instância, são seus va-
Dessas três fontes, a cultura talvez seja ternacional da cultura brasileira e da lores, interpretados por aqueles que
a mais descentralizada e com grande língua portuguesa. Além disso, o Ita- concebem e implementam as políticas.
capilaridade nas sociedades. Ademais, maraty negocia acordos, desempenha É claro que a existência de um regime
suas fontes e capacidades de produ- atividades de organização e estabele- democrático e a variável doméstica as-
ção se encontram em vários agen- ce contatos com vistas à realização de sociada à coalizão político-partidária
tes, no mercado, na sociedade e nas eventos culturais. Ainda é da com- no poder ambas influenciam o proces-
próprias políticas públicas. Os Esta- petência do Departamento Cultural so decisório sobre que tipo de cultura
dos projetam no plano externo suas do Itamaraty acompanhar e orientar e de identidade cultural promover no

50 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
BRASIL, POTÊNCIA EMERGENTE?

DIPLOMACIA CULTURAL BRASILEIRA NO MUNDO É por isso que deve fazer parte da di-
Manifestações culturais com apoio do Itamaraty, em 2013 plomacia cultural brasileira não apenas
combater esses clichês, mas sobretu-
do disseminar fatos históricos e fenô-
menos culturais desconhecidos pelo
público ou pouco acessíveis no exte-
rior. Durante o Ano do Brasil na Fran-
ça, por exemplo, foram organizados
seminários e exposições sobre a heran-
ça africana no Brasil, tecnologias de
Total de eventos
ponta ligadas à aviação, diversidade
Centros Culturais cultural, arte modernista, ballet con-
Brasileiros
1000 km 6 3 Quantidade
temporâneo, políticas públicas e inser-
1 de eventos ção internacional.

Manifestações culturais por tipo de evento com apoio do Itamaraty, em 2013 Finalmente, não se pode esquecer que
Música Cinema os meios de comunicação e a mídia
têm uma posição importante como
instrumentos de influência global. A
radiodifusão internacional, durante a
Guerra Fria, havia se tornado parte in-
tegrante da agenda de política externa
1000 km 1000 km dos EUA. O controle sobre as ondas
Literatura Gastronomia de rádio, por exemplo, foi objeto de
intensa disputa Leste-Oeste.

Hoje, com a globalização da televisão


e das telecomunicações, com a desre-
gulamentação e digitalização da co-
1000 km 1000 km municação e a entrada de prestadores
Artes plásticas Dança privados de grande envergadura, a pai-
sagem se transformou profundamen-
te. Existem vários tipos de novos meios
de comunicação, alguns provenientes
de países europeus com base em velhos
padrões coloniais, que convivem com
Labmundo, 2014

Quantidade
1000 km
de eventos: 1000 km outros conteúdos mais recentes de pa-
4 3 2 1 íses do Sul, como nos casos da Telesur
Fonte: Itamaraty, 2013c. e da indústria de televisão no forma-
to de telenovela que se espalhou para a
maioria dos países da América Latina
plano internacional. Além disso, de- os estereótipos frequentemente asso- e da África (PALOP), bem como nos
pendendo naturalmente do peso polí- ciados à identidade do país – muitos continentes asiático e europeu.
tico de um Estado, de sua importância dos quais, de natureza sexista e discri-
histórica global e regional, esses valo- minatória, veiculam imagens de um
res podem ter maior ou menor capaci- país de praias, mulheres lindas, liber- VEJA TAMBÉM:
dade de influência e irradiação. dade sexual, samba e carnaval. É bem Pluralismo étnico p. 24
verdade que, quando diplomacia cul- População e diversidade p. 42
Por meio da diplomacia cultural, o go- tural e interesses de mercado se com- Futebol e esportes p. 52
verno brasileiro procura difundir valo- binam, essas distinções entre valores Religião p. 56
res culturais que coloquem em xeque e estereótipos se tornam menos claras.

LUTAS E CULTURA
Grupos brasileiros de capoeira no exterior, em 2013 Academias brasileiras de jiu-jitsu no exterior, em 2013
Labmundo, 2014

Quantidade
Quantidade
de academias
de grupos
211
124
30
46 1
18 1000 km 1000 km

Fonte: Itamaraty, 2013d. Fontes: Sítios na web das academias, 2014

at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 51
O país do futebol, BRASIL NAS OLIMPÍADAS
Evolução da posição brasileira no ranking, entre
1984 e 2012

vôlei e talentos
Olimpíadas

*Los Angeles

Barcelona

Londres
Pequim
Sydney
Atlanta

Atenas
1984

1988

1992

1996

2000

2004

2008

2012
Seul
individuais 19
24 25 25
16
23 22

52
Desde a segunda metade do século XX, internacional, muitos jogadores des-
o Brasil tem sido reconhecido pelo seu pontam e são lembrados com carinho 1
8
1
6
2
3
3
15
0
12
5
10
3
15
3
17
desempenho esportivo, devido, prin- na memória de torcedores dos clubes
cipalmente, à seleção masculina de fu- de diversos países. Essa imagem posi-
Parolimpíadas
tebol. Os cinco títulos mundiais, as tiva pode gerar capacidades imateriais 9 8
seleções de 1970 e de 1982, assim como para o país, por facilitar as interações
14
alguns craques podem ser citados para entre as pessoas e entre as instituições.
explicar essa imagem brasileira no ex- O esporte pode, portanto, ser usado
terior. E isso apesar da recente der- como um instrumento da política ex- 24 25 24

rota frente à Alemanha na Copa de terna brasileira, de modo a suprir, é


32
2014. Não é raro que jogadores de fu- claro que muito parcialmente, a fal-
37
tebol brasileiros tenham reconheci- ta de capacidades materiais em outros
mento internacional. Edson Arantes âmbitos. É o caso, por exemplo, do 7 4 3 2 6 14 16 21
28 28 7 21 22 33 47 43
do Nascimento (Pelé) é apontado por “Jogo da Paz”, quando a seleção brasi-
*As Parolimpíadas de 1984 foram disputadas em Nova York
diferentes especialistas como um dos leira enfrentou a seleção do Haiti em
10 Posição do Brasil no ranking de países
melhores jogadores de futebol de to- 2004, em Porto Príncipe. Os clubes de
dos os tempos, Arthur Antunes Coim- futebol brasileiros são menos conhe- 8 Quantidade de medalhas de ouro
6 Quantidade total de medalhas
bra (Zico) tem estátuas no Brasil, no cidos mundialmente, embora existam
Fonte: Sítio web da COI, 2013
mundo árabe e no Japão, assim como indícios de que isso esteja mudando
as camisas “amarelinhas” da seleção de (com a abertura de escolas de clubes Esportes que mais deram medalhas ao Brasil,
futebol são vendidas ao redor do mun- brasileiros em países sul-americanos e até 2014
do como símbolo do “futebol-arte”. com a inclusão em contratos de forne- Vôlei 20 6

cedores esportivos de cláusulas que ga- Judô 19 3


Não somente os craques do futebol rantam venda e publicidade mundial).
Vela 17 6
contribuem para a imagem do país.
Os jogadores brasileiros passaram a ser Apesar de o Brasil despontar como o Atletismo 14 4
um produto de exportação de serviços “país do futebol”, outros esportes, além Natação 13 1
para diversos países, entre eles, países do futebol masculino, renderam essa

Labmundo, 2014
Futebol 7
africanos, asiáticos, europeus e ameri- imagem positiva. É o caso de Marta Total de medalhas

canos. Ainda que o futebol brasileiro Vieira da Silva, eleita por cinco vezes a Basquete 6 Medalhas de ouro

tenha perdido a hegemonia no cenário melhor jogadora pela FIFA; de Ayrton Fonte: Sítio web da COI, 2013.

GRANDES EVENTOS ESPORTIVOS


Concentração dos grandes eventos esportivos entre 1900 e 2014

123
Cidades olímpicas

Sediou a Copa FIFA uma vez


Labmundo, 2014

Sediou a Copa FIFA duas vezes 1000 km

1000 km *Japão e Coreia sediaram


uma copa juntos
**Eventos realizados
Fontes: Sítios web da COI, 2013; e da FIFA, 2013. e aprovados

52 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
BRASIL, POTÊNCIA EMERGENTE?

ESCOLA BRASILEIRA DE FUTEBOL NO MUNDO que conquistou um total de 10 meda-


Jogadores atuando em clubes estrangeiros da primeira divisão, em maio de 2013.
lhas de ouro, 4 de prata e uma de bron-
ze nos jogos de Londres e de Pequim.

Essa imagem do Brasil no exterior, por


meio do esporte, contribuiu para que
o país tenha sido escolhido, em 2014,
pela segunda vez, para sediar a Copa
Quantidade do Mundo FIFA. Além disso, o Rio
de jogadores de Janeiro, com um forte apoio popu-
88 lar, foi eleito sede dos Jogos Olímpicos

Labmundo, 2014
30
10
1
*O círculo verde de 2016. Além de ganhar visibilidade,
representa a quantidade
1000 km
de jogadores estrangeiros o Brasil espera que esses eventos es-
Fonte: Sítio web da FIFA, 2013. que jogam no Brasil. portivos impulsionem a economia do
país, em termos de investimentos, mas
também nos setores do turismo, do co-
Senna, no automobilismo; de Gustavo o Brasil frequentemente tem desem- mércio, entre outros. Apesar dessa ex-
Kuerten, no tênis; de Oscar Schmidt, penho inferior nos Jogos Olímpicos pectativa, grande parte da população
no basquete; de Anderson Silva e de em relação a países com menor de- se mostrou insatisfeita com os resul-
José Aldo, nas lutas marciais; de Gil- mografia e com economias menos tados parciais desses investimentos e
berto Amaury de Godoy Filho (Giba), dinâmicas (Hungria, Coreia do Nor- aproveitou a visibilidade desses gran-
no vôlei; etc. Todavia, o futebol ten- te, Cazaquistão, Cuba, Jamaica, etc.). des eventos para ir às ruas a fim de pro-
de a concentrar grande parte da aten- Cabe ressaltar, também, que o Bra- testar e contestar quais seriam os reais
ção dos brasileiros e dos investimentos. sil não conquistou nenhuma meda- benefícios que a população terá com a
Essa preferência popular pelo futebol, lha nos Jogos Olímpicos de Inverno, realização dessas competições no país.
associada à falta de eficiência política dos quais participa, tradicionalmente, Dentre as principais reclamações estão
das federações e de vários níveis do go- com delegação reduzida, e isso apesar a falta de investimentos em educação,
verno, explicam em parte a ausência da desvantagem geográfica. mobilidade e saúde (diante dos expres-
de investimentos mais significativos sivos gastos com novos estádios de fu-
em outros esportes. O esporte é, mui- O Brasil depende de resultados prin- tebol) e remoções em grande escala de
tas vezes, visto pela população caren- cipalmente em esportes individuais comunidades, para viabilizar obras de
te como um recurso para conquistar como natação, vela, judô e atletismo, infraestrutura.
estabilidade econômica. Consequen- para garantir uma posição melhor no
temente, o Brasil vive de talentos indi- quadro de medalhas nos Jogos Olím-
viduais que conseguem driblar a falta picos. Os esportes brasileiros que mais VÔLEI BRASILEIRO
Medalhas no World Grand Prix /FIVB (feminino),
de investimentos, de infraestrutura e contribuíram com medalhas foram o em 2014
de apoio aos atletas nacionais. judô e a vela, que somente são supera- 16
dos pelo vôlei (se considerarmos as mo- 14 Total de medalhas
12
Esse fator pode ser usado para expli- dalidades de vôlei de quadra e de areia 10
Medalhas de ouro
car por que o Brasil não é uma po- na mesma categoria). Em curva ascen- 8
tência olímpica. Apesar de números dente desde a geração que conquistou 6
demográficos e econômicos expressi- a prata olímpica em 1984 (masculino), 4
2
vos, esses resultados não conseguem o esporte de quadra tem dado grandes
ser traduzidos em um melhor desem- títulos ao Brasil, tanto no masculino
ia

ha
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ia
ba

Ho a
A

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l
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EU
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Itá

an
Cu

Ch

penho do esporte brasileiro. A despei- quanto no feminino. As seleções bra-


Br

la

em
Al

to de ter uma população significativa e sileiras são as maiores vencedoras dos


ser um dos 10 maiores PIB do mundo, torneios internacionais, assim como Medalhas na World League/FIVB (masculino), em
estiveram presentes em cinco das úl- 2014
timas seis finais olímpicas (em Atenas, 18
16
JOGADORES ESTRANGEIROS em Pequim e em Londres). Na moda- 14
Atuando em times da Série A, em 2013
lidade de areia, o Brasil também se des- 12
10
Colômbia
taca, desde a primeira olimpíada, em 8
A

Atlanta, quando a final da modalida-


EU

6
d
a

la n de feminina foi disputada por duas du-


Labmundo, 2014

Equador 4
Ho 2
Espa
nha plas brasileiras.
il

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nd

ni
EU
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rv

an
Itá

Peru
Cu


Br


la

China
Fr
Po

Bolívia Outro expoente do esporte brasilei- Fonte: Sítio web da FIVB, 2013.

Ang
ro são os resultados obtidos nas Pa-
Paraguai o la
raolimpíadas. Apesar da falta de um
apoio mais substancial e de visibilida- VEJA TAMBÉM:
Quantidade
Chile
Uruguai de jogadores de, os atletas paraolímpicos brasileiros Turismo p. 54
apresentam resultados animadores, o
Labmundo, 2014

Argentina Religião p. 56
1 2 4 que coloca o país entre os 10 primeiros Cooperação p. 110
500 km nos quadros de medalhas. Muito devi- Cooperação em educação p. 114
Fontes: Sítio web da CBF, 2013; e da FIFA, 2013. do, também, ao nadador Daniel Dias,

at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 53
Turismo e do Turismo, desde os anos 2000, a
quantidade de turistas estrangeiros no

imagem nacional
país oscila entre 5 e 6 milhões de in-
divíduos. Com estes valores, o país re-
cebe menos turistas que locais como
Catalunha, Tunísia e Vietnã.

Boa parte das explicações possíveis


para esse fato se encontra na distân-
cia dos principais polos emissores de
turistas (o turismo internacional é
principalmente de fronteira) e no alto
custo dos hotéis e passagens domésti-
O turismo é um dos setores econômi- A identidade nacional do Brasil está cas. Além disso, o país tem conexões
co que ganharam grande importância fortemente conectada à ideia de um turísticas deficitárias com o exterior e
nas últimas décadas. Estudo realizado país paradisíaco, sedutor aos estran- muito concentradas em poucas cida-
pelo Fórum Econômico Mundial em geiros e culturalmente aberto ao novo. des, como o Rio de Janeiro e São Paulo.
2007 indica que, entre 1950 e 2004, as Na imprensa internacional e em mí-
receitas internacionais com o turismo dias sociais é comum que o país, suas
aumentaram de 2,1 bilhões para 723 bi- cidades ou alguns de seus atrativos tu- CONTA TURISMO
lhões de dólares. No ano de 2006, o se- rísticos sejam classificados entre os pri- em bilhões de dólares, entre 2000 e 2012
25
tor foi responsável por 10,3% do PIB meiros no mundo ou como “o lugar do gastos de brasileiros no exterior
20
mundial e por 8,2% do total de empre- momento a ser visitado”.
gados no mundo. O turismo é apon- 15

tado como possível ferramenta de Apesar disso, o Brasil está inserido nos 10

desenvolvimento econômico e social fluxos turísticos internacionais de ma-

Labmundo, 2014
5
para países em desenvolvimento e fa- neira periférica. A recepção de turistas gastos de estrangeiros no Brasil
cilitador do intercâmbio entre cultu- estrangeiros é relativamente modesta 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012
ras e empoderamento de comunidades e teve na última década um aumento Fonte: Ministério do Turismo, 2013a.
locais. tímido. Segundo dados do Ministério

TURISMO MUNDIAL
Chegada de turistas estrangeiros, em 2012 (em milhares de indivíduos) Total de turistas internacionais, entre
1950 e 2020 (em milhões)

1800
1600
1400

1000

800
Maiores destinos
200
1. França 83,0 25
2. EUA 67,0 83 1950 1980 2000 2020*
3. China 57,7 57
4. Espanha 57,7 35
5. Itália 46,4 22 *previsão

1000 km ... 5
38. Brasil 5,7

Receitas do turismo internacional, em 2012 (em bilhões de dólares) Receita cambial, entre 1999 e 2012
(em bilhões de dólares)

Maiores receptores
1.042
1.075

1. EUA 126,2
445
475
472
474
525
633
680
745
860
944
855
930

2. Espanha 56,0
2000 2004 2008 2012
3. França 53,7
Labmundo, 2014

4. China 50,0
5. Macau 43,7
1000 km ...
35. Brasil 6,7
30 10 5 1 0
Fontes: UNWTO, 2013; Ministério do Turismo, 2013b.

54 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
BRASIL, POTÊNCIA EMERGENTE?

A distância da Europa, Estados Unidos TURISTAS ESTRANGEIROS NO BRASIL


Países emissores de mais de 100 mil turistas para o Brasil, em 2011
e Ásia faz com que turistas desses pa-
íses prefiram estadas mais longas, re-
alizadas em várias cidades brasileiras.
Enquanto o Brasil apresenta proble-
mas como infraestrutura e longas dis-
tâncias, os demais países da América
do Sul tornam-se competitivos por te- Principais emissores:
Argentina 1.593.775
rem atrativos turísticos mais próximos EUA 594.947
uns dos outros. Uruguai 261.204
1,593 0,594 0,261 0,183 Alemanha 241.739
O Brasil adota por lei uma política de Itália 229.484

Labmundo, 2014
reciprocidade em que se exigem vistos
daqueles países que possuem a mesma
obrigação para brasileiros. Desta for- Fonte: Ministério do Turismo, 2013a.
ma, turistas americanos enfrentam um
trâmite maior para vir ao Brasil, o que
reduz o fluxo de um dos principais po- elevados gastos no exterior. O turis- Segundo dados da Euromonitor In-
los emissores de turistas. Desse modo, mo realizado por estrangeiros no Brasil, ternational, ida de turistas brasileiros
um americano em busca de uma via- porém, contribui para algumas maze- para o exterior apresentou aumento
gem de praia pode encontrar no Ca- las do país, como a prostituição (sobre- exponencial na última década. Esse fe-
ribe, e não no Brasil, um destino com tudo infantil), a descaracterização dos nômeno se reflete no grande aumen-
melhor infraestrutura turística, menor hábitos de comunidades tradicionais e to dos gastos dos turistas brasileiros
tempo de deslocamento, menos buro- serve de justificativa para investimen- no exterior, que, associado a uma es-
cracia e preços equivalentes. tos públicos preferencialmente nas áre- tagnação dos gastos de turistas estran-
as nobres dos municípios brasileiros. geiros no Brasil, fez com que a conta
Além disso, as políticas de promoção turismo do país apresentasse déficit
do Brasil no exterior são marcadas pelo As recentes transformações econômi- crescente. Recentes medidas tomadas
baixo interesse em atrair grupos asi- cas e sociais têm feito do país uma re- pelo governo brasileiro, como o au-
áticos, em especial chineses, que são gião mais para emissão de turistas do mento de impostos sobre transações
uma força emergente no setor e têm que de recepção. O setor é bastante de- em cartão de crédito no exterior e o au-
pendente do mercado doméstico. E mento do IOF, têm buscado contro-
no exterior, os brasileiros se destacam lar esse aumento do consumo além das
TURISTAS BRASILEIROS pelo seu poder de consumo em cidades fronteiras.
Viagens domésticas (em milhões de viagens)
como Paris e Nova York. O turismo
2005 138,71 doméstico no Brasil tem apresentado Os destinos preferidos por brasilei-
2006 147,10
altas taxas de crescimento, acompa- ros no exterior estão concentrados
nhando a inserção de largas parcelas em poucas regiões, principalmente na
2007 156,00 da população em um novo padrão de América do Norte, na Europa Ociden-
2008 165,43 consumo. Em pesquisa realizada no tal e no Cone Sul. Por sua vez, EUA
2009
final de 2013 pelo Ministério do Tu- e Argentina são, respectivamente, os
175,44
rismo, a quantidade de pessoas que dois principais destinos dos turistas
pretendiam viajar pelo Brasil (72,7%) brasileiros no exterior. Entre as cida-
Total estimado de viagens brasileiras ao exterior
(em milhões de viagens) foi três vezes maior do que os que dese- des, destacam-se Nova York e Miami,
8,3
11 javam um destino no exterior (24,7%). Paris e Roma, assim como Buenos Ai-
7,5
2,2
Dos que miravam o turismo domésti- res e Santiago do Chile.
co, mais da metade (53,7%) escolheu
Labmundo, 2014

2002 2011 2012* 2013* a região Nordeste, que vem ganhan-


*estimativa
do peso cada vez mais significativo nos MAIORES DESPESAS EM TURISMO
Fontes: Ministério do Turismo, 2013b; Canadian Tourism Em 2013, em bilhões de dólares
Comission, 2012. fluxos turísticos brasileiros. China 102
Alemanha 83,8
EUA 83,5
RUMO AO EXTERIOR Inglaterra 52,3
Rússia 42,8
Viagens internacionais de brasileiros, em 2012 (por milhares de indivíduos) 37,2
Labmundo, 2014

França
Canadá 35,1
Japão 27,9
Austrália 27,6
Itália 26,4
Fonte: UNWTO, 2013.

Maiores destinos:
VEJA TAMBÉM:
1. Estados Unidos
2. Argentina Globalização e nova ordem p. 22
1.017
Labmundo, 2014

3. França 909 Logística p. 32


4. Portugal
Demais países 5. Itália 432 Ação internacional das cidades p. 68
265 1000 km
Brasileiros no exterior p. 76
Fonte: Euromonitor International, 2012.

at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 55
Pluralismo BRASILEIROS NA FÉ
Evolução da religião entre os brasileiros, entre 1870
e 2010

religioso
Total de praticantes,
em milhões de fiéis
123,4

42,4

3,8

Católicos

A configuração religiosa brasileira é um contextuais, a realidade do catolicis-


elemento que contribui para o atual mo nesses países em desenvolvimen- Evangélicos
processo de internacionalização de sua to, em geral, é de hegemonia, mas com
sociedade. Os movimentos religiosos uma participação relevante de outros
brasileiros fazem parte de dinâmicas grupos religiosos, fazendo com que
internacionais que favorecem a influ- os principais países católicos do mun- Sem religião
ência externa no cotidiano domésti- do não possuam porcentagens da sua
co, bem como o impacto de nacionais população católica acima de 90%. A
no exterior. Apesar de as pesquisas de importância da religiosidade entre os
opinião pública indicarem uma im- países do Sul e a expansão de suas po- Outros
portância levemente declinante no pulações faz com que o atual panora- Espíritas
conjunto da população, com o acrésci- ma religioso, em termos mundiais, seja

Labmundo, 2014
Candomblé
e Umbanda
mo do número de ateus nas estatísticas caracterizado pela tendência ligeira-
mais recentes, o âmbito espiritual ain- mente ascendente no número de in-

70

90

40

60

80

20 0
10
0
18

19

19
18

19

20
da é fundamental para compreender as divíduos que se afirmam e consideram Fonte: IBGE, 2013a.
dinâmicas sociais no país. religiosos.

O Brasil é historicamente de maioria No caso do Brasil, a religião católica Participação de fiéis em relação ao total da
população, em 2010
católica, identidade em relativo declí- tem passado por relativo declínio. Os 64,6 %
nio em especial pela maior presença grupos de fiéis católicos têm uma das
de grupos religiosos evangélicos e neo- médias de idade mais elevadas. Os pa-
pentecostais. O país é hoje a maior co- pados recentes promoveram políticas
munidade nacional católica do mundo, que pouco incentivam a participação
mas ainda assim com peso modesto dos fiéis nas comunidades religiosas,
na alta cúpula do Vaticano. Por exem- principalmente quando o catolicis- 22,2 %
plo, o país passou a ter seu primeiro mo é comparado a outras denomina-
santo nascido no Brasil somente em ções. Os católicos também seriam o 8%
2,9 %
2% 0,3 %
2007 com Frei Galvão. A Igreja católi- grupo que menos contribui financei-
ca mantém seu grupo de fiéis, cada vez ramente para sua instituição. Tais as- Labmundo, 2014
os

os

as

nd lé

s
tro

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a
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lic

lic

lig

Ou

mais, em países em desenvolvimento pectos, associados à emergência dos


Um do
re

Es
Ca

an

e an
m
Ev

Se

e parece estar buscando reforçar a pre- praticantes de religiões evangélicas, Fonte: IBGE, 2013a.
sença de jovens em suas maiores comu-
nidades. É nesta ótica que se poderia
interpretar a visita do Papa Francis- CRISTIANISMO
co ao Brasil (sua primeira viagem fora Maiores comunidades católicas % da popopulação nacional % da população católica mundial
da Itália após sua eleição) e a edição de França 40.510.000 98,4 13,9
Itália 35.270.000 99,9
1910

12,1
um dos mais importantes eventos ca- Brasil 21.430.000 95,6 7,4
tólicos, a Jornada Mundial da Juven- Espanha 20.350.000 99,9 7,0

tude, na cidade do Rio de Janeiro, em Polônia 18.750.000 77,1 6,4

2013. Maiores comunidades católicas % da popopulação nacional % da população católica mundial


Brasil 126.750.000 65,0 11,7

Se há cem anos as principais comu- México 96.450.000 85,0


2010

8,9
Filipinas 75.570.000 81,0 7,0
nidades católicas do mundo eram no Estados Unidos 75.380.000 24,3 7,0
geral de países europeus, a tendên- Itália 49.170.000 81,2 4,6

cia atual é de redução da importância Maiores comunidades protestantes % da popopulação nacional % da população protestante mundial
do âmbito religioso nos países desen- Estados Unidos 159.850.000 51,4 20,0
volvidos. Isso afeta o perfil do grupo Nigéria 59.680.000
2010

37,7 7,5
de fiéis da Igreja católica, aumentan-
Labmundo, 2014

China 58.040.000 4,3 7,2

do a importância de grandes países Brasil 40.500.000 20,8 5,1


África do Sul 36.550.000 72,9 4,6
do Sul, como Brasil, México, Colôm-
bia e Filipinas. Apesar das diferenças Fonte: Pew Research Center, 2011.

56 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
BRASIL, POTÊNCIA EMERGENTE?

PAPA MÓVEL RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA


Viagens pastorais de papas fora da Itália por ano, entre 1963 e julho de 2014 Praticantes de Umbanda, em 2010

1965 1975 1985 1995 2005 2015

Paulo VI João Paulo I João Paulo II Bento XVI Francisco


1963-1978 1978-1978 1978-2005 2005-2013 2013
x9 x 104 x 24 x3

O 1º Papa a sair da Itália Permaneceu somente Viajou mais Mesma média de viagens Fez sua primeira
em mais de um século 33 dias no cargo, de 1.167.000 km de J. Paulo II se comparados viagem fora da

Labmundo, 2014
e o 1º a viajar de avião. sem realizar viagens os períodos em que Itália para o Brasil
Ficou conhecido fora da Itália tinham a mesma idade
como “Papa Peregrino”
Viagens pastorais de Papas ao Brasil
Fonte: Vaticano, 2014. 300 km

são marca importante do contexto re- mais recentes. São religiões brasileiras,
ligioso brasileiro. no sentido de terem sido fundadas no
Praticantes de Candomblé, em 2010
país, mas estão envolvidas também em
De fato, o fenômeno mais expressivo processos de internacionalização. Os
da dinâmica religiosa brasileira na atu- espíritas, por exemplo, têm sua origem
alidade é a ascensão dos grupos religio- no livro publicado por Allan Kardec
sos protestantes. De acordo com dados no século XIX, na França, e difundido
do censo do IBGE, de 2000 a 2010 amplamente no Brasil.
houve uma expansão de 61% no nú-
mero de fiéis. São grupos heterogêneos, As religiões de matriz africana são re-
sem necessariamente uma identida- sultado do sincretismo religioso a par-
de comum. Possuem os fiéis mais ati- tir da resistência cultural de africanos.
vos em sua comunidade religiosa. São Não possuem unidade institucional e,
muito influenciados pela experiência por isso, apresentam grande variedade
evangélica nos Estados Unidos , como nas suas práticas e mesmo definições, Quantidade de 300 km
se observa na influência da música gos- algumas das quais são majoritariamen- fiéis por município:
pel. Destaca-se também o caráter mis- te regionais, como o candomblé na

Labmundo, 2014
50.000 *Somente representados
sionário de muitos desses grupos que Bahia ou a macumba no Rio de Janei- 10.000 valores maiores a
5.000
colocam o país entre os principais ro. No caso do candomblé praticado 1.000
1000 indivíduos.

emissores do mundo de religiosos. na Bahia, as yalorixás e os babalorixás Fonte: IBGE, 2010b.


são figuras reconhecidas internacio-
Este grupo religioso possui uma dinâ- nalmente, que servem de ponte espiri-
mica demográfica bastante particular: tual e cultural entre o Brasil e a África. embora possa produzir contradições
em específico, as igrejas evangélicas no futuro. O Estado brasileiro é cons-
(como Assembleia do Reino de Deus, A importância da dimensão regional é titucionalmente laico, mas é inegável
Universal, ou Igreja do Evangelho evidente em algumas religiões pratica- a influência de alguns grupos religio-
Quadrangular) possuem a maior pro- das por grupos da Amazônia, Piauí e sos na política doméstica (em especial,
porção de fiéis com renda per capita Maranhão, onde além do sincretismo em temas relativos à liberdade da prá-
inferior a um salário mínimo (63,7% católico e africano estão associados ele- tica religiosa, ao diálogo entre as religi-
do total) e são predominantemente mentos da cultura indígena. A umban- ões e à tolerância, ao ensino público da
urbanas, onde alcançam 13,9% do to- da, nascida no Rio de Janeiro no início religião, aborto e casamento homos-
tal da população (em comparação com do século XX, é um exemplo dessa sexual). Seria possível imaginar que a
12,2% dos que se identificam com esta complexidade e riqueza, porquanto política externa brasileira venha a ser
vertente no total do país). A disper- reúne elementos da cultura indígena, influenciada por atores religiosos, por
são de evangélicos pelo território bra- africana e católica, associadas a doutri- exemplo, na defesa de valores morais
sileiro não é uniforme, havendo uma nas do Espiritismo francês. Os filhos no âmbito multilateral ou na busca
concentração na região Sudeste, em es- de santo do candomblé estão presen- por maior liberdade de atuação reli-
pecial nas capitais e regiões metropo- tes essencialmente nas cidades de São giosa de brasileiros no exterior? Trata-
litanas de Rio de Janeiro, São Paulo e Paulo, Rio de Janeiro e no recôncavo se de questões novas para a agenda da
Belo Horizonte, Goiânia e litoral da baiano. Os praticantes da umbanda PEB, mas que merecem o olhar atento
região sul (em especial Paraná e Santa têm presença maior no centro-sul do da sociedade brasileira.
Catarina). país, com destaque para o Rio de Ja-
neiro, São Paulo e Rio Grande do Sul.
Entre os espíritas e os praticantes de re- VEJA TAMBÉM:
ligiões de matriz africana (por exemplo, O Brasil possui uma experiência reli- Diversidade cultural p. 24
umbanda e candomblé), podem ser giosa variada e dinâmica, recortando Itamaraty p. 60
lembradas algumas dinâmicas interna- distintos grupos culturais e classes so- Atores religiosos p. 74
cionais relevantes, tanto na sua origem ciais. O âmbito religioso não pode ser Cooperação Sul-Sul: África p. 116
e formação, quanto nos seus processos ignorado pela política externa, muito

at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 57
Capítulo 3:

ATORES
E AGENDAS

Enara Echart Muñoz


Enara Echart Muñoz
Muitos analistas consideram que a política externa brasileira é uma polí-
tica de Estado, marcada por continuidade, vinculada a um interesse na-
cional permanente e, dessa forma, protegida de influências políticas e
ideológicas, graças sobretudo à atuação do Itamaraty. Neste capítulo, o
argumento vai em outro sentido, ou seja, partimos da premissa de que a
formulação e a implementação da PEB se inserem na dinâmica política
das escolhas de governo (coalizões, barganhas, disputas, etc.). A PEB é o
resultado da ação do Estado e do governo no plano internacional. Ela
reage a mudanças no sistema internacional, relaciona-se diretamente com
a evolução das organizações multilaterais, responde aos desafios regionais,
porém a PEB não começa apenas onde termina a política doméstica. Os
atores e as agendas nacionais são de fundamental importância para enten-
der a nova configuração da política externa, principalmente no bojo dos
processos de globalização da economia e de democratização do Estado
brasileiro. Daí decorre a necessidade de analisar os atores e as agendas que
nos permitem compreender claramente esse sentido de mudança e, ao
mesmo tempo, confirmar a premissa aqui defendida de que a política
externa também deve ser tratada enquanto política pública.
Itamaraty constituem, ao lado das Forças Arma-
das, a mais antiga e tradicional buro-

e diplomacia
cracia do Estado brasileiro. Burocracia
implica rigor no processo seletivo, re-
gras com base no mérito para a pro-
moção de seus quadros, formação e

pública
treinamento contínuos ao longo da
carreira, mas também normas hierár-
quicas que ordenam o aprendizado e
a socialização de seus agentes, criando
assim as bases sociais e culturais para o
reconhecimento mútuo no âmbito da
organização. O Instituto Rio Branco,
De acordo com a Constituição de 1988, a participação nas negociações comer- fundado em 1945, é uma peça central
a política externa é da competência do ciais, econômicas, técnicas e culturais nessa arquitetura, uma vez que sele-
Presidente da República, que a dele- com governos e entidades estrangei- ciona e capacita os diplomatas brasilei-
ga ao Ministério das Relações Exterio- ras, a concepção e articulação dos pro- ros, definindo critérios para progressão
res. As áreas principais de atuação do gramas de cooperação internacional, funcional na carreira a partir do nível
Itamaraty são a implementação das es- bem como a coordenação ou o apoio de terceiro secretário.
tratégias da política internacional de a delegações, comitivas e representa-
acordo com as diretrizes do Presiden- ções brasileiras em agências e orga- A tradição da burocracia diplomáti-
te, a condução das relações diplomáti- nismos internacionais e multilaterais. ca também tendeu, ao longo da Repú-
cas e a prestação de serviços consulares, O Itamaraty e o corpo diplomático blica, a privilegiar alguns indivíduos
(sobretudo homens) oriundos de de-
terminadas famílias e classes sociais,
DIPLOMACIA PÚBLICA NA INTERNET em detrimento de uma representação
Facebook e as páginas oficiais dos ministérios, em 2014
Usuários que curtiram página oficial, em milhão de usuários Usuários falando sobre, em milhares mais plural e condizente com a reali-
EUA EUA dade social e demográfica nacional. A
Índia Rússia competência na condução das rela-
França França
Reino Reino ções exteriores e na negociação dos
Unido Unido
Brasil Brasil interesses nacionais, reconhecida in-
Japão Índia ternacionalmente, construiu-se quase
Rússia Argentina exclusivamente com base na represen-
Argentina Japão
Espanha Espanha
tação das elites sociais, econômicas
África
do Sul
África
do Sul
e culturais. Essa realidade começou
0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 5 10 15 20 25 30 a mudar lentamente com a redemo-
*O Ministérios das Relações Exteriores da Turquia e da China não têm canais oficiais no Facebook
Fonte: Páginas oficiais dos ministérios no Facebook.
cratização do Estado e graças à pres-
são social e política, principalmente a
YouTube e os canais oficiais dos ministérios, em 2014 partir de 2002, quando foi lançada a
Inscritos, em milhares de usuários Vídeos, em milhares Visualizações, em milhões Bolsa Prêmio de Vocação para a Diplo-
Índia Índia Índia
EUA França França
macia com a finalidade de proporcio-
Japão Brasil Brasil nar maior igualdade de oportunidades
Brasil Japão Japão de acesso à carreira de diplomata e de
Reino
Unido EUA EUA acentuar a diversidade étnica nos qua-
Rússia
França
Turquia Turquia
dros do Itamaraty.
Rússia Rússia
Turquia Espanha Espanha
Argentina Argentina Argentina No plano internacional, foi nesse mo-
Espanha Reino
Unido
Reino
Unido mento que o Brasil se dotou de uma
África
do Sul
África
do Sul
África
do Sul
verdadeira diplomacia mundial, com
5 10 15 20 0,5 1 1,5 2 0,5 1,5 2
numerosas representações (embaixa-
*O Ministério das Relações Exteriores da China não tem canais oficiais no YouTube
**O Ministério das Relações Exteriores da Índia tem mais de um canal oficial no YouTube das, consulados e escritórios), contan-
Fonte: Canais oficiais dos ministérios no YouTube. do, em 2014, com 896 diplomatas no
Twitter e as contas oficiais dos ministérios, em 2014 exterior (526 na Secretaria de Estado
Seguindo, em milhão de usuários Tweets, em milhares em Brasília), 448 oficiais de chance-
EUA EUA
Reino
laria no exterior (305 na SERE) e 344
França
Reino
Unido
França
assistentes de chancelaria no exterior
Unido
Turquia Rússia (209 na SERE).
Índia Brasil
Japão
Brasil
Índia
No plano doméstico, a redemocrati-
Turquia
Argentina Japão
zação trouxe ao Itamaraty o desafio
Rússia Argentina de construir, paulatinamente, uma
Labmundo, 2014

Espanha Espanha dimensão de política pública para a


0,2 0,4 0,6 0,8 10 20 30
*O Ministérios das Relações Exteriores da África do Sul e da China não têm canais oficiais no Twitter
política externa, não sem tensões e al-
**O Ministério das Relações Exteriores da Índia tem mais de um canal oficial no Twitter gumas contradições. Para fora dos mu-
Fonte: Contas oficiais dos ministérios no Twitter. ros institucionais, esse processo levou

60 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
ATORES E AGENDAS

REPRESENTAÇÕES DIPLOMÁTICAS
Localização das representações diplomáticas brasileiras, e quantidade de funcionários e diplomatas** nas 35 principais representações, em 2014

**A parte hachurada no gráfico representa o total de diplomatas


em cada representação.

Total dos funcionários:


500 1000 1500
Embaixadas
Países em que o Consulados
Brasil tem embaixada
Missões 70
Consulados diplomáticas

Missões em organismos 60
multilaterais
Escritórios e outras 50
representações

40
*O Brasil não reconhece os seguintes países: Abecásia; R. Turca do
Chipre do Norte; Ossétia do Sul; R. Árabe Sahauri Democrática (Saara
Ocidental); Somalilândia; Transdniéstria; e Taiwan. 30

20

10

Labmundo, 2014
ão

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Fonte: Dados oficiais obtidos do Itamaraty por meio da Lei de Acesso de Informação (Lei 12.527/2011)

EVENTOS INTERNACIONAIS também diversificou-se e passou a dia-


Por cidade, entre 2004 e 2012 logar mais regularmente com o Itama-
raty. Sob iniciativa da sociedade civil
(GR-RI), está posto o desafio de se
criar o Conselho Nacional de Política
Externa, institucionalização desse pro-
cesso mais democrático e pluralista de
diálogo sobre os caminhos da PEB.

Dessa realidade também resultou uma


diplomacia pública, por meio da qual
o Itamaraty tem respondido às deman-
das por informação, nem sempre com
Cidades com menos de 5 eventos
a agilidade e a transparência que exige
477 um regime democrático. Foi nesse sen-
tido que os seus setores de relação com
141 a imprensa foram ampliados e que fo-
78 ram desenvolvidos verdadeiros servi-
24 ços de relações públicas. Junto com o
Ministério do Turismo, foi pensada
uma “marca Brasil”, visando também
Top 20 de países que sediaram mais eventos a atrair o investimento estrangeiro e
internacionais em 2012
a organização de eventos internacio-
800
nais no país. A promoção dos interes-
ses nacionais passou, assim, a dispor de
600
300 km
meios públicos e recursos tecnológi-
cos dos mais diversos. Instrumento de
400
soft power da PEB, a diplomacia pú-
blica valoriza a crescente importância
das ferramentas mais contemporâne-
200 as de mídia e comunicação no mundo
cada vez mais digitalmente conectado
e globalizado.
Labmundo, 2014
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VEJA TAMBÉM:
Co

Fonte: ICCA, 2013.

Cultura e soft power p. 50


Diplomacia presidencial p. 62
o Itamaraty a ter de abrir o diálogo federais, estados e municípios, fede- Organizações e movimentos sociais p. 72
com outros ministérios (muitos com rações empresariais e organizações da Redes sociais e integração regional p. 96
assessorias internacionais), agências sociedade civil. O mundo acadêmico

at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 61
Diplomacia continentais, como o Brasil, isso era
especialmente problemático, pois os

presidencial
meios de transporte existentes na épo-
ca não permitiam que viagens presi-
denciais a outros países fossem curtas.
As viagens eram demoradas, aumen-
tando o tempo em que o chefe de
Estado deveria ser substituído pelo vi-
ce-presidente ou outras autoridades.
Em alguns casos, a ausência desses lí-
deres tornava o ambiente domésti-
co propício para manobras políticas,
muitas vezes golpistas. Quando da re-
Visitas recíprocas entre chefes de Es- um evidente prestígio em receber es- núncia de Jânio Quadros, o Vice-Presi-
tado e chefes de governo não são uma ses representantes, o diálogo direto en- dente João Goulart encontrava-se em
novidade no cenário político interna- tre chefes de governo tende a facilitar visita oficial à China e, em um primei-
cional. Desde a formação do Estado e acelerar negociações em diversos âm- ro momento, foi impedido de voltar
Nacional nos moldes de Westphalia, bitos, do político ao comercial. ao país para assumir a presidência.
as trocas de visitas entre monarcas eu-
ropeus eram comuns e tratadas como As viagens dessas autoridades políticas Os avanços tecnológicos ao longo dos
grandes eventos da nobreza. O Brasil serviam para acelerar negociações, es- séculos XX e XXI tornaram as viagens
aderiu a essa prática desde a época do treitar relações políticas entre países mais céleres e baratas, criando a opor-
Império, como as viagens de D. Pedro e fazer uma diplomacia de prestígio. tunidade a que chefes de Estado e de
II à Europa, América do Norte e Áfri- Todavia, essa prática também causa- governo viajem mais frequentemente
ca podem comprovar. Visitas de altas va desafios no âmbito doméstico, pois e sem deixar seus postos por períodos
autoridades nacionais são, geralmente, acarretava a ausência desses líderes de demorados. Se, no início do século XX,
usadas para estreitar relações comer- seus respectivos postos. No início do uma viagem entre a capital (Rio de Ja-
ciais e políticas entre países. Além de século XX e em um país de dimensões neiro) e a Europa levava semanas por

DESTINO E MÉDIA ANUAL DE VIAGENS DOS PRESIDENTES BRASILEIROS


José Sarney (março de 1985 a março de 1990) Fernando Collor (março de 1990 a outubro de 1992)

1000 km 1000 km

Itamar Franco (outubro de 1992 a janeiro de 1995) Fernando Henrique Cardoso (janeiro de 1995 a janeiro de 2003)

1000 km 1000 km

Luiz Inácio Lula da Silva (janeiro de 2003 a janeiro de 2011) Dilma Rousseff (período analisado de janeiro de 2011 a dezembro de 2013)

3
Labmundo, 2014

1
0,25
1000 km 1000 km

Fonte: Planalto, 2014; Itamaraty, 2013b. *Foram consideradas todas as viagens da Presidência da República, sejam elas de caráter bilateral ou multilateral

62 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
ATORES E AGENDAS

via marítima, já nos anos 1950 o mes- VISITAS OFICIAIS AO BRASIL


mo percurso demorava dias por via Viagens de chefes de Estado e de governo ao Brasil entre 2003 e 2010
aérea. Hoje, aeronaves modernas per-
mitem que uma viagem entre Brasília
e as capitais europeias leve apenas al-
gumas horas.

A diplomacia presidencial teve o pre-


sidente estadunidense Theodore Roo-
sevelt como um de seus precursores.
No Brasil, Campos Sales foi o primei-
ro presidente a fazer uma visita ofi-
cial a outro país, em 1899, à Argentina.
20
Apesar de ser uma prática antiga, as vi- 10
sitas presidenciais ganharam novo fôle- 1
go na década de 1980, quando a nova

Labmundo, 2014
Constituição Federal, promulgada
em 1988, reiterou que caberia exclusi- 1000 km

vamente à Presidência da República a Fonte: Planalto, 2014; Itamaraty, 2013b.


função de manter relações com Esta-
dos estrangeiros.
fundamentais para se ter credibilidade a presidenta Dilma Rousseff, nos três
O Itamaraty, desde a sua criação, era nas relações internacionais. primeiros anos de mandato, já supe-
conhecido por ser uma instituição po- rou em termos absolutos a quantidade
liticamente independente com funcio- Por esse motivo, as viagens presiden- de viagens presidenciais de José Sarney
nários profissionais. Os chanceleres e ciais são usadas por cientistas políticos em seus cinco anos de governo.
diplomatas foram os grandes responsá- e internacionalistas como um indica-
veis pela formulação da política exter- dor das preferências políticas de de- O destino dessas viagens também é
na, ao longo do final do século XIX e terminado governo. Uma média anual um fenômeno muito estudado, pois
boa parte do século XX. A redemocra- elevada de viagens presidenciais ao ex- indica a preferência conferida a um
tização impactou na condução da po- terior pode indicar que esse político ou outro grupo de países. Ao compa-
lítica externa brasileira no sentido de considera a política externa como uma rar o governo de Fernando Henrique
diminuir o insulamento do Ministério área de importância em seu governo e Cardoso com o de seu sucessor, per-
das Relações Exteriores. Progressiva- participa ativamente da sua condução cebe-se que houve um crescimento de
mente, os chefes de Estado brasileiros em visita a outros países e a eventos ou aproximadamente 110% das viagens
passaram a atuar direta e pessoalmente organizações internacionais. Por outro presidenciais. Todas as regiões apresen-
nos assuntos internacionais. Apesar de lado, uma média anual baixa de via- taram crescimento, inclusive a Améri-
toda política externa ter preferências e gens presidenciais pode indicar que o ca do Sul (59%), a América do Norte
discursos distintos, os diplomatas ten- presidente tem preferência por assun- (71%) e a Europa (74%), mas há regiões
dem a evitar mudanças radicais, pois tos domésticos. que tiveram um crescimento robus-
estabilidade e coerência são fatores to como a América Central e Caribe
O crescente número de visitas inter- (480%), África (750%) e Oriente Mé-
nacionais também é um indicador de dio (antes não visitado). Esses dados
QUANTIDADE DE VIAGENS uma nova realidade das relações inter- revelam que o Brasil tornou-se mais
Quantidade absoluta de viagens presidenciais, nacionais e do papel do Brasil. Com presente em outras regiões do mundo,
entre 1985 e 2013 algumas variações, percebe-se que os sem preterir suas relações tradicionais.
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presidentes brasileiros, desde a déca-


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Am. do da de 1980, têm aumentado gradual- Do mesmo modo, chefes de Estado e


Sul
mente a quantidade de viagens oficiais. de governo de outros países também
Europa Esse aumento da diplomacia presiden- visitam o Brasil. Esse indicador é mui-
África
cial, como citado, deve-se a evoluções to importante para demonstrar que
tecnológicas nos meios de transporte, não somente o mundo está na agenda
Am. do
Norte
mas também ao aumento do protago- do Brasil, como o Brasil está na agen-
nismo brasileiro no cenário político in- da de muitos países. É possível verifi-
Ásia
ternacional. O objetivo brasileiro de se car, inclusive, a existência ou não de
Am.
Central
tornar um global player acarreta a ne- reciprocidade nas escolhas de visitas
Oriente
cessidade dos políticos brasileiros de presidenciais.
Médio se fazerem presentes em eventos inter-
Oceania* nacionais, reuniões de cúpula e de dia-
logarem diretamente com líderes de VEJA TAMBÉM:
TOTAL
outros países (prestígio). Nesse sen- Turismo p. 54
468
tido, pode-se ressaltar o alto número
Labmundo, 2014

*Oceania não foi visitada no período Itamaraty p. 60


193
de viagens oficiais do presidente Luís Projetos de integração p. 82
**Viagens de Dilma Rousseff até
18 dezembro de 2013 Inácio Lula da Silva, em oito anos de Cooperação Sul-Sul p. 112
Fonte: Planalto, 2014; Itamaraty, 2013b. mandato, assim como o fato de que

at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 63
Congresso, POLÍTICA EXTERNA E
HORIZONTALIDADE
Competência internacional no Poder Executivo,

ministérios
segundo a Constituição de 1988 e leis
complementares
Com competência
56,4%

e agências
Sem competência
43,6%
Foram analisados todos os
gabinetes dos ministros e
secretarias executivas e as
secretarias de Estado da
estrutura básica do poder
executivo federal, tanto da
Presidência da República
quanto dos ministérios

ITAMARATY EM COMISSÕES INTERMINISTERIAIS Tipo de inserção internacional dos órgãos com


Criação de comissões interministeriais por ano, entre 1969 e 2007 competência internacional
5 Criação de comissão
interministerial Sem competência
4 43,6%
Criação de comissão
3 interministerial com
participacão do Processa informações e assessora
2 Itamaraty 26,5% políticamente outros órgãos do mesmo
ministério
1

Labmundo, 2014
Voltados a firmar acordos de
16,2% cooperação técnica internacional

Labmundo, 2014
2003

2007
1968

1973

1978

1983

1988

1993

1998

Possuem prerrogativa de negociar e


13,7% definir a posição brasileira em
processos decisórios no sistema
Fonte: Figueira, 2010. internacional
Fonte: França e Badin, 2010.

Com a redemocratização do Esta- a ação internacional. As assessorias co-


do, o Itamaraty teve de abrir-se pau- ordenam os projetos e as parcerias in- papel não apenas de ratificação de
latinamente ao diálogo com outras ternacionais do respectivo ministério. acordos internacionais, mas também
entidades governamentais. Aumen- Em 2009, somente os Ministérios das de debate público sobre temas-chave
taram as comissões interministeriais Comunicações, Integração Nacional e da PEB. Esse contexto tem produzido
criadas para tratar de temas transver- Previdência não contavam com algum uma “política burocrática” nas relações
sais. Muitos ministérios e agências órgão deste tipo. As políticas públicas entre esses distintos atores.
têm atuado em projetos internacio- encontram-se em franco processo de
nais, por meio de suas assessorias in- internacionalização. O Congresso tem A PEB e as demais políticas públicas
ternacionais ou serviços voltados para sido chamado a cumprir cada vez mais (educação, integração e fronteiras, cul-
tura, saúde, etc.) passaram a interagir
mais ativamente umas com as outras,
FRONTEIRA CONTINENTAL DO BRASIL resultando em cooperação, mas tam-
Faixa de fronteira e cidades-gêmeas, em 2014
Municípios na fronteira
bém em conflito acerca do lugar que
o Brasil deveria ocupar (ou reivindi-
te

Municípios na faixa
car) no sistema internacional. Esse fe-
or

de fronteira
oN

Cidades gêmeas nômeno de pluralização dos atores e


Arc

das agendas da PEB tende a contribuir


para um vagaroso processo de demo-
cratização do processo decisório em
política externa no país. A horizontali-
zação da política externa no Poder Exe-
cutivo coloca desafios para o Itamaraty
na busca por formular e gerir políti-
cas públicas em temas internacionais
com práticas coerentes entre si e coe-
rentes com as grandes estratégias defi-
nidas pela Presidência. O aumento da
ntral

interlocução com os demais ministé-


Ce

rios vem alterando a maneira como se


co

Ar faz política externa no Brasil, anterior-


mente definida como insulada e con-
centrada no MRE.
400 km ul O Ministério da Educação tem exten-
S
Arco

sa atuação internacional. O Ministério


Labmundo, 2014.

participa dos acordos educacionais no


contexto regional, como o Setor Edu-
cacional do Mercosul (desde 1991).
Fonte: Sítio web do Ministério da Integração Nacional, 2014. Outro exemplo dessa atuação é o

64 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
ATORES E AGENDAS

projeto conhecido como Escolas Inter- CONGRESSO E POLÍTICA EXTERNA


Assinatura pelo Executivo e ratificação pelo Congresso dos principais acordos internacionais de direitos
culturais de Fronteira, que realiza uma humanos, entre 1980 e 2014
parceria entre escolas públicas brasilei-
ras situadas em cidades de fronteira e 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010

escolas de países vizinhos, envolven- Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher
do em especial o intercâmbio de pro-
fessores. O ensino superior também é
Convenção contra Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes
uma área de forte atuação da diploma-
cia educacional brasileira. Durante os
Convenção sobre os Direitos das Crianças
dois mandatos do Presidente Lula, o
Ministério da Educação fundou qua-
Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional
tro universidades que têm como uma Período entre conclusão do acordo
e assinatura ou adesão pelo Brasil
de suas propostas promover a presen-
ça no Brasil de professores e estudan- Período entre a assinatura e a ratificação Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos da
Criança relativo ao envolvimento de crianças em
tes estrangeiros: a UNIAM, a UFFS, a conflitos armados
Unilab e a UNILA. O Ministério da
Integração Nacional também atua em Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos da
temas internacionais, por exemplo, no Outro ator fundamental da PEB é Criança relativo à venda de crianças, à prostituição
infantil e à pornografia infantil
que se refere às cidades-gêmeas brasi- o Congresso Nacional. Suas atribui-
leiras e à faixa de fronteira. As cidades- ções presvistas na Costituição de 1988
gêmeas brasileiras são aquelas cortadas são a ratificação de tratados, conven- Protocolo Facultativo à Convenção contra a Tortura e
outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou
pela linha de fronteira com integração ções e atos internacionais, a fiscaliza- Degradantes
urbana com países vizinhos e onde há ção das políticas governamentais por
elevado potencial de integração econô- meio de suas comissões (por exemplo, Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas
mica e cultural. Em 2014, a pedido do a Comissão de Relações Exteriores e com Deficiência

Ministério da Integração, o Ministério Defesa Nacional, do Senado Federal),


da Fazenda regulamentou a instalação a autorização ao presidente para decla- Protocolo Facultativo da Convenção Internacional
sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência
de lojas francas em fronteira terrestre rar guerra, celebrar a paz, assim como
(free shops), atualmente, em 26 das ci- aprovar a circulação ou permanência
dades-gêmeas brasileiras. Em matéria de tropas estrangeiras no interior do Convenção Internacional para a Proteção de Todas as
Pessoas contra Desparecimentos Forçados
de saúde pública, outro órgão estatal país. Por meio da análise do tempo ne-
com crescente atuação internacional é cessário para a aprovação de acordos in-
a Fiocruz, responsável por pesquisas na ternacionais pelo Congresso é possível

Labmundo, 2014
Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos da
Criança relativos aos procedimentos de comunicação
área de saúde e comercialização de me- perceber que, em alguns momentos, as
dicamentos. Priorizando países em de- votações são disputadas e há necessida-
senvolvimento, a instituição contribui de de negociações entre o Legislativo e Fontes: ONU, 2014a; ONU 2014b.
para a formação das posições brasilei- o Executivo para a aprovação de algu-
ras em saúde no sistema internacio- mas proposições, como no caso do in-
nal e reforça laços com outros países gresso da Venezuela no Mercosul (final e do relativamente baixo nível de in-
do Sul. A Fiocruz é um elo essencial do de 2009). Além disso, cabe ao Senado teresse dos representantes em tema de
que passou a ser conhecido como “di- aprovar os chefes de missões diplomá- política externa, existe outra possibili-
plomacia da saúde”. O mesmo padrão ticas e ser consultado em operações ex- dade de interferência do Congresso no
de internacionalização pode ser obser- ternas de natureza financeira. Apesar momento da aprovação do orçamento
vado no caso da Embrapa. do perfil do sistema político brasileiro anual da União. A “diplomacia parla-
mentar” também é fenômeno crescen-
te. O Congresso desenvolve relações
POLÍTICA EXTERNA EM EDUCAÇÃO com outros parlamentos nacionais, as-
Atuação internacional do Ministério da Educação, 2014
sim como organizações internacionais
representativas dessas instituições (por
exemplo, o Parlamento do Mercosul).
Dentro desse quadro também se inse-
Universidade da rem a visita de autoridades estrangeiras
Universidade
Integração Amazônica
da Integração e a presença de delegações parlamen-
da Lusofonia tares no exterior em uma ampla gama
Afro-brasileira
de eventos, no geral acompanhando as
delegações do Poder Executivo.
*O programa Escolas Interculturais de
250 km
Fronteira tem planos de ampliação para
Colômbia, Peru, Guiana e Guiana Universidade da
Integração Programa Escolas de Fronteira:
Francesa.
O governo declara a participação de 17 Latino-americana
VEJA TAMBÉM:
Escolas no exterior
unidades de ensino no Brasil, mas só Diplomacia presidencial p. 62
indica a cidade de 14 destas escolas. Escolas no Brasil
Labmundo, 2014

Campi de universidades Projetos de integração p. 82


Universidade com perfil internacional Assimetrias e desigualdades p. 94
da Fronteira Sul
Cooperação Sul-Sul em educação p. 114
Fonte: Ministério da Educação, 2014.

at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 65
Ação internacional internacionais. Na América Latina,
a Argentina aprovou, em 1994, uma

dos estados
emenda à constituição que permitiu
que atores subnacionais se relacionas-
sem com outros atores estrangeiros no
que dissesse respeito aos seus respecti-
vos interesses. No Brasil, não existe ne-
nhum dispositivo constitucional que
permita expressamente a atuação in-
ternacional das unidades subnacionais.
Pelo contrário, as competências rela-
cionadas aos assuntos internacionais
são divididas entre as casas do Con-
Segundo a Constituição Federal bra- internacionalmente, buscando seus gresso e, principalmente, mantidas
sileira, a condução da PEB é de com- próprios interesses, com certa autono- pelo Executivo. Apesar disso, a ação de
petência exclusiva do Presidente da mia do governo federal. atores subnacionais torna-se cada vez
República. Ao longo de mais de um mais frequente no Brasil, à revelia de
século, essa competência foi delegada Um exemplo desses atores subnacio- um marco jurídico-normativo para tal.
ao MRE. Entretanto, ao final do sécu- nais que, progressivamente, incluem
lo XX e início do século XXI, o insula- temas e relações internacionais em Não é raro que os estados brasileiros,
mento do Itamaraty foi gradualmente sua agenda, são os estados brasileiros. enquanto unidades federativas, atuem
diminuindo, o que permitiu que ato- A ação internacional das unidades fe- internacionalmente, buscando em-
res subnacionais também agissem in- derativas subnacionais não é novidade préstimos ou celebrando acordos de
ternacionalmente. Contribuíram para em alguns países. Desde 1874, na Su- cooperação. Como exemplo recen-
esse fenômeno a redemocratização do íça, há dispositivo constitucional que te disso, podemos citar a escolha do
Brasil, a partir anos 1980, e a globali- permite que os cantões atuem inter- Rio de Janeiro como cidade sede para
zação. Com os avanços tecnológicos e nacionalmente. A constituição alemã os Jogos Olímpicos de 2016. Evidente-
com a internacionalização da econo- de 1949 também confere aos landers mente, a cidade do Rio de Janeiro par-
mia, ficou muito mais fácil para que os certo grau de liberdade para relacio- ticipou decisivamente da candidatura,
atores subnacionais passassem a atuar nar-se com outros atores políticos mas somente com um forte compro-
metimento do governo estadual flu-
minense e da União o projeto ganhou
EXPORTAÇÃO DAS UNIDADES FEDERATIVAS força para vencer fortes candidaturas
Por destinos em bilhões de dólares, em 2013 concorrentes, como Chicago, Tóquio
e Madri. Como o estado do Rio de Ja-
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neiro é responsável por grande parte da


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(e m. L

O mapa representa o valor da exportação total,


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infraestrutura na região metropolita-


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por unidade federativa, em bilhões de dólares.


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E.
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Ch
U.
M

PA
na da capital fluminense, foi necessá-
rio que o governo estatal se engajasse
Demais da internacionalmente, a fim de garantir
R. Norte
acordos de investimento em obras, co-
BA operação em programas de mobilidade
urbana e desenvolvimento de parques
Demais da
R. Nordeste
esportivos, entre outros exemplos.

GO A ação internacional dos estados tam-


bém tem gerado competição entre as
MT unidades federativas brasileiras. Para
Demais atrair o investimento estrangeiro, mui-
da R.
300 km tos governos estaduais lançam mão de
Centro-oeste
pacotes de incentivos fiscais para que
SC
empresas ou indústrias se instalem no
seu território. O objetivo desses gover-
RG
nos é atrair esses investimentos para o
59,3
20
seu território, o que aqueceria a econo-
PR
0,15 mia local e criaria empregos, compen-
ES
sando, assim, as perdas do governo em
termos de arrecadação e de isenções
RJ
fiscais concedidas. Todavia, a competi-
ção entre os governos federais tornou-
MG 10,8
se muito acirrada e os incentivos fiscais
prometidos ao capital internacional
Labmundo, 2014

SP 0,5 chegaram a ultrapassar a capacidade


0,02
dos governos. Em alguns casos, os go-
Fonte: IBGE, 2013a. vernadores buscavam evitar o prejuízo

66 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
ATORES E AGENDAS

político de perderem a competição PROJETOS FINANCIADOS PELO BANCO MUNDIAL


Projetos em andamento em fevereiro de 2014 Projetos concluídos até fevereiro de 2014
pelo investimento estrangeiro. Para
evitar situações dessa natureza, criou-
se a Lei de Responsabilidade Fiscal, se-
gundo a qual cada governo estadual
seria responsável por fechar a sua ba-
lança de pagamentos no positivo, ge-
rando superávit. Essa medida reduziu
a competição, mas é bastante criticada
por parte da sociedade civil, que alega
que, em última instância, a LRF impe-
diria que o governo estadual pudesse
investir nos locais a partir dos quais ha- 2000

Labmundo, 2014
1000
via arrecadado os impostos. 300 km 250 300 km

Em um país democrático, a liberdade Fonte: Sítio web da base de dados do Banco Mundial, 2013.
para que as unidades federativas se re-
lacionem internacionalmente pode ser
visto como algo benéfico. Ao descen- Os estados tendem a se relacionar com diversidade em sua pauta comercial
tralizar a ação internacional do país, os quem lhes parece mais oportuno polí- também tenderiam a concentrar suas
estados conseguem promover ações tica, social e economicamente. É na- relações internacionais. Por fim, as
que atendam necessidades específi- tural que as unidades federativas que escolhas também passam por uma
cas de determinada região ou popula- fazem fronteira com outros países te- dimensão política. Cada unidade fe-
ção. Esse modelo descentralizado pode nham relações mais intensas com os derativa tem preferências políticas di-
causar um impacto positivo, também, vizinhos. Do mesmo modo, se exis- ferentes, o reflexo das preferências e
na transparência do aparato burocráti- te parcela significativa de imigrantes trajetórias dos diversos partidos que
co, pois a população fica mais próxima de determinado país vivendo em uma estão no governo. Uma unidade fe-
dos governos estaduais, e pode cobrar região, é de se esperar que haja rela- derativa pode usar suas ações paradi-
resultados sobre os projetos desenvol- ções mais fortes entre o estado e os pa- plomáticas como ferramenta de uma
vidos. Todavia, esse modelo descentra- íses de origem de seus residentes. É o “diplomacia do desafio” a fim de testar
lizado também pode causar problemas caso, por exemplo, da comunidade ja- e divulgar alternativas de inserção in-
na coerência da ação internacional do ponesa em São Paulo, das comunida- ternacional à política externa do gover-
Estado. No caso brasileiro, há um es- des de origem africana no Nordeste e no federal.
forço por parte do governo federal das comunidades germânica e italia-
para que exista um discurso estratégico na nos estados do Sul do Brasil. As re-
e coerente no campo da PEB. Quan- lações internacionais de uma unidade VEJA TAMBÉM:
do aumenta a quantidade de atores es- federativa também são pautadas pe- Brasil Império p. 16
tatais que agem internacionalmente, a los padrões econômicos daquele esta- Nova ordem p. 22
política externa tende a ser mais plural, do, dependendo do que e com quem Ação internacional das cidades p. 68
porém, pode produzir resultados me- comercializam. Nesse sentido, é possí- América do Sul p. 84
nos coerentes. vel dizer que as regiões que têm menos

RIO DE JANEIRO, CIDADE OLÍMPICA


Remoções para construção de obras de infraestrutura e para parques esportivos para 2016

Região Metropolitana Baía de


do Rio de Janeiro Guanabara

Região Metropolitana
do Rio de Janeiro

Baía de Sepetiba

5 km

Oceano Atlântico
Número de famílias Moradores ameaçados Pontos de Instalações Estradas Metrô Bus Rapid
Labmundo, 2014

500 de remoção realocamento olímpicas e existentes existente Transit (BRT)


200 das famílias Porto Maravilha Nova linha
50 Moradores removidos Trem
existente do Metrô Veículo leve
construída sobre trilhos (VLT)
Fontes: Comitê Olímpico Rio 2016, 2014; Sítio web dos Comitês Populares da Copa, 2013. para os eventos

.
at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 67
Ação internacional DIPLOMACIA MUNICIPAL BRASILEIRA
Quantidade de municípios no Brasil

das cidades
por milhares de habitantes, em 2011
acima
de 500
de 300
a 500
de 100
a 300
de 50
a 100
de 25
a 50
de 15
a 25
de 5
a 15
menos
O cenário político internacional não ensejavam participação de outros ato- de 5

é mais monopolizado pelos Estados, res (como meio ambiente, direitos hu- 500 1000 1500 2000
Fonte: Confederação Nacional dos Municípios, 2014.
mas também é composto por atores manos, combate à fome e a doenças,
subnacionais, entre eles os municí- etc.). Além disso, tem se reforçado o
Busca de ações internacionais pelos municípios,
pios, que agem nesse espaço, alterando entendimento de que muitos dos pro-

Labmundo, 2014
em 2011
padrões e modos de ação das relações blemas mundiais são problemas co-
internacionais. A globalização con- letivos, o que demanda uma resposta 3000

tribuiu para esse fenômeno, no sen- articulada. Um exemplo disso é o gru-


tido de que criou mecanismos que po C40, que representa um grupo de 2000

reduziram a noção de espaço-tem- cidades que percebem o aquecimento


po e aumentaram os fluxos de pessoas, global como um problema de todos (e 1000
produtos, informações e capital inter- não somente dos governos centrais de
nacionalmente. No contexto de glo- seus respectivos países) e tomam me- Possui Possui Tem interesse Não tem interesse
balização da política, as cidades, assim didas locais e articuladas, com vistas a administrações funcionários
para assuntos para assuntos
em assuntos em assuntos
internacionais internacionais
como os estados federados, também reduzir as emissões de gases de efeito internacionais internacionais

são atores subnacionais que atuam in- estufa e criar uma estrutura logística- Fonte: Confederação Nacional dos Municípios, 2014.
ternacionalmente. No Brasil, os go- -organizacional mais eficiente.
vernos municipais, paulatinamente,
começam a se interessar por assuntos Contribuiu para o maior ativismo dos
internacionais e a agir baseados na pró- municípios nas relações internacionais cidades maiores e dependem da econo-
pria agenda de interesses, por vezes in- o fato de que a população mundial é mia e dos serviços ali concentrados. É
dependentemente do governo central. majoritariamente urbana. As aglome- nessas grandes cidades que, geralmen-
rações urbanas se tornam cada vez mais te, se encontram governos municipais
Também contribuiu para esse fenô- centros econômicos e políticos e, con- que têm burocracias específicas para
meno o entendimento de que muitos sequentemente, tendem a buscar seus tratar de assuntos internacionais.
problemas atuais não podem ser resol- interesses. Cabe ressaltar que um fa-
vidos sem uma ação conjunta no plano tor determinante para que os governos Além do tamanho, a posição geográfi-
local. Ao longo do século XX e parti- municipais se lancem na diplomacia ca também é um fator relevante para
cularmente durante a Guerra Fria, a descentralizada é a relevância demo- o interesse de uma cidade se relacio-
ação de atores subnacionais era redu- gráfica e econômica da cidade. Apesar nar internacionalmente e criar uma
zida, pois o Estado detinha maior con- do Brasil ter mais de 5500 municípios, burocracia específica para isso. Com a
trole sobre as fronteiras. Todavia, com muitas regiões brasileiras sofrem de proximidade de outros países, muitas
o fim da Guerra Fria, surgiram ou- macrocefalia urbana. Ou seja, apesar questões econômicas, sociais, políticas
tros temas na agenda internacional, de existir um número grande de mu- e de segurança não respeitam os limites
além do militar e do estratégico, que nicípios, muitos deles são satélites de fronteiriços. É comum que, em caso
de cidades vizinhas de países diferentes,
muitas pessoas trabalhem em um país
CIDADES E MEIO AMBIENTE e morem em outro, façam compras no
Cidades participantes do C40, em 2014 país vizinho, etc. Com esse intenso flu-
xo internacional (que também é local),
é natural que os municípios também
se preparem burocraticamente para
se relacionar com atores estrangei-
ros, mesmo que sejam cidades relati-
vamente menores. Isso ajuda a explicar,
por exemplo, a concentração no Sul
do Brasil de cidades que declaram te-
Cidades membros
do Conselho diretor rem interesse em assuntos internacio-
nais. Também explica esse fenômeno a
Labmundo, 2014

1000 km
Cidades membros
porcentagem de municípios uruguaios
*C40 é uma rede de megacidades que tem o compromisso de
combater o aquecimento global. que atuam em projetos de cooperação
Fonte: Sítio web do C40, 2014. descentralizada, apesar de existir um

68 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
ATORES E AGENDAS

problema de macrocefalia urbana na-


quele país. PARADIPLOMACIA DAS CIDADES
Cidades que atuam internacionalmente, em 2011

A diplomacia descentralizada das cida-


des brasileiras ganhou impulso com a
redemocratização em meados dos anos
1980. A Constituição de 1988, além
de promover a abertura política, tem
um caráter muito menos centralizador
do que a precedente, o que permitiu
que os municípios começassem a agir
mais livremente no plano externo. Um
exemplo dessa nova fase para a ação
dos municípios é a criação, em feverei-
ro de 1980, da Confederação Nacional
de Municípios (CNM), que se defi-
ne como maior entidade municipa-
lista da América Latina, apartidária e
sem fins lucrativos. A CNM tem como
objetivo fortalecer a emancipação dos
municípios e dar apoio logístico e téc-
nico para que isso ocorra. Dentro de
Cidades que tem
suas ações estão previstos cursos prepa- funcionários para tratar
ratórios para funcionários públicos de

Labmundo, 2014
Relações Internacionais
Cidades que atuam
governos municipais que queiram se Internacionalmente
lançar na diplomacia descentralizada. 250 km

Fonte: Confederação Nacional dos Municípios, 2014.


Como foi ressaltado no item anterior,
sobre a ação internacional dos estados,
não há no Brasil lei que regulamente do governo federal, como seguran- estava começando a implementar esse
a diplomacia descentralizada e, con- ça, defesa, etc. Em geral, as atividades sistema na cidade francesa. Esse acor-
sequentemente, como os municípios de diplomacia descentralizada em que do foi tão bem recebido que a prefeitu-
que se relacionam internacionalmente os municípios brasileiros se envolvem ra do Rio de Janeiro, em conjunto com
devem agir. É uma consequência natu- versam sobre cooperação técnica ou o governo estadual fluminense, seguiu
ral da descentralização uma tendência temas que não seriam resolvidos pela a estratégia da cidade gaúcha e foi até
maior à pluralidade e a uma possível ação exclusiva do governo federal. Paris para estudar o sistema de bicicle-
perda na unidade do discurso. Ape- tas públicas, que também foi imple-
sar disso, a ação internacional das ci- Além desses temas, cabe ressaltar que mentado em alguns bairros cariocas.
dades não tem prejudicado a coerência muitas cidades usam a diplomacia des-
do discurso diplomático oficial do go- centralizada para atrair turistas inter-
verno federal. As cidades tendem a res- nacionais e para fazer acordos culturais PARADIPLOMACIA NAS AMÉRICAS
peitar uma hierarquia política, antes com outras cidades ou países. O Rio Municípios na América Latina que participam
da diplomacia descentralizada, em 2011 (em %)
de atuarem internacionalmente, bus- de Janeiro, por exemplo, foi a primei-
90
cando evitar setores da competência ra cidade da América Latina a adotar,
em 2014, domínio próprio na inter-
net (.rio). Além disso, os municípios 70
ACORDOS DE IRMANAMENTO agem de acordo com suas raízes his-
Total de acordos com municípios brasileiros, tóricas, sociais e políticas. Isso é per- 50
em 2011 10 20 30 40 50
ceptível nos acordos de irmanamento
França entre cidades, em que as cidades fazem
acordos culturais, projetos de coope- 30
Portugal
ração técnica, programas de capacita-
Itália ção, entre outros. A maior quantidade 10
de acordos entre cidades irmãs ocorre
Labmundo, 2014

Espanha com cidades europeias, principalmen-


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te com a França e com Portugal. Um


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Alemanha
dos muitos exemplos que pode ser ci- Fonte: Confederação Nacional dos Municípios, 2014.

Holanda
tado de frutos da diplomacia descen-
tralizada das cidades é a adoção de
Bélgica corredores expressos de ônibus em VEJA TAMBÉM:
Porto Alegre. Atualmente esse sistema Relações com os EUA p. 18
Reino
é muito comum nas cidades brasilei-
Labmundo, 2014

Unido Desenvolvimento e industrialização p. 20


ras e no mundo, mas o seu pioneirismo Ação internacional dos estados p. 66
Grécia
em território nacional se deveu a um Argentina: parceira estratégica p. 88
Fonte: Confederação Nacional dos Municípios, 2014. acordo com a prefeitura de Paris, que

at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 69
Principais Para a economia e para a política bra-
sileiras, interessa que as empresas na-

multinacionais
cionais se internacionalizem. Em
uma economia globalizada, faz-se im-
portante que as empresas brasileiras
contribuam na inserção do país na

brasileiras
economia global. A internacionaliza-
ção do capital privado nacional pode
significar o seu fortalecimento, gerar
prestígio ao Brasil, produzir empregos
e propiciar acordos comerciais. Esse
fenômeno pode abrir caminho para
acordos de facilitação de comércio,
Se considerarmos a política externa porte. Devido ao seu tamanho, elas cria mercado consumidor para pro-
como uma política pública, definiti- movimentam grandes fluxos de capital dutos brasileiros, assim como permi-
vamente a atuação das empresas deve e geram muito empregos. Essas carac- te acordos de cooperação técnica. Ao
ser considerada como uma de suas va- terísticas são importantes para enten- atuarem em outros países, as empresas
riáveis centrais. Toda política externa, der o motivo pelo qual os responsáveis também buscam absorver novas tec-
e a PEB não seria distinta, tem uma políticos brasileiros costumam criar nologias, adaptar a novas realidades e,
economia política que a fundamenta. condições políticas favoráveis para o com isso, existe um ganho de experti-
Em primeiro lugar, apesar das empre- crescimento dessas empresas. Quando se por meio da troca de conhecimentos
sas não serem as responsáveis primárias essas empresas apresentam um aumen- técnicos com outros países, culturas e
pela condução da política externa, não to na produção, é provável que o PIB tecnologias.
há dúvida de que os tomadores de de- nacional e a geração de empregos tam-
cisão do governo brasileiro levam em bém sejam afetados. Além disso, os di- Como será aprofundado no capítulo
conta os interesses do setor privado ao retores dessas empresas costumam ter 5, há uma relação complementar, mas
formularem as diretrizes da política ex- acesso aos principais tomadores de de- por vezes contraditória, entre a inter-
terna. Em segundo lugar, as empresas, cisão da política brasileira, por meios nacionalização das empresas brasileiras
ao atuarem em países desenvolvidos informais ou a convite das instituições. e a política de cooperação internacio-
e em desenvolvimento, também afe- Muitos políticos e altos diretores das nal para o desenvolvimento do Bra-
tam a imagem do Brasil no exterior, de empresas brasileiras se conhecem pes- sil. A política de cooperação brasileira
modo positivo ou negativo. soalmente, frequentaram os mesmos pode contribuir para a internaciona-
bancos escolares, foram colegas em lização das empresas brasileiras, pois
As grandes empresas brasileiras são cursos na universidade, vão aos mes- cria uma porta de entrada em outros
muito influentes, não apenas interna- mos eventos sociais, etc. Isso faz com países. Muitas vezes, as empresas na-
cionalmente, mas também no plano que exista um canal informal de comu- cionais se instalam em outros países,
da política doméstica (financiamento nicação entre a iniciativa privada e po- aproveitando o canal de diálogo cria-
de campanha eleitoral, lobbies junto líticos de alto nível, permitindo que as do pela diplomacia brasileira no âmbi-
ao Congresso e às Assambleias Legisla- empresas expressem suas vontades e fa- to da cooperação. O governo brasileiro
tivas, projetos de responsabilidade so- çam solicitações, influenciando, ainda também se beneficia da ação das em-
cial). Em geral, as empresas nacionais que por meios informais, a formulação presas, sendo elas responsáveis pela
que têm maior capacidade de ação in- das políticas públicas do Brasil, entre execução de muitos projetos de in-
ternacional são também as de maior elas a política externa. fraestrutura no exterior, assim como

PRINCIPAIS EMPRESAS BRASILEIRAS NO MUNDO


Local das atividades por empresa, em 2014

Petrobras
Vale
Embrapa
Odebrecht
Labmundo, 2014

Andrade Gutierrez
1000 km

Fontes: Sítios web das empresas, 2014.

70 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
ATORES E AGENDAS

financiadoras de projetos de responsa- INTERNACIONALIZAÇÃO DAS EMPRESAS BRASILEIRAS


bilidade social, como criação de esco- 35 empresas com maior índice de internacionalização, em 2013
0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6
las e hospitais. JBS
Gerdau
Stefanini
O Brasil tem um número considerável Magnesita Refratários
de empresas atuando em outros países. Marfrig Alimentos
Em alguns casos, a empresa se interna- Metalfrio
Ibope
cionaliza por meio de franquias, em Odebrecht
acordo com investidores locais. Mas Sabó
Minerva Foods
há, também, as empresas que abrem Tigre
filiais e realizam operações em outros Vale
países. O setor em que existe o maior Weg
Suzano
número de empresas brasileiras atuan- BRF
do internacionalmente é o de serviços. Camargo Corrêa
Esses serviços são bastante variados e Embraer
Ci&T
consistem em consultoria econômica, Marcopolo
consultoria comercial, setor de logís- Artecola

tica, serviços ligados a marketing e ao DMS Logistics


Indústrias Romi
uso da internet, entre outros. Todavia, Cia Providência
as empresas que são mais visíveis para a Votorantin
Andrade Gutierrez
sociedade em geral são as de indústria Natura
pesada, empreiteiras e indústria extra- Agrale
tiva. A Vale (antiga Companhia Vale Itaú-Unibanco
Bematech
do Rio Doce, privatizada em 1997) é Petrobrás
uma das empresas mais atuantes na CZM
extração de minérios e tem operações Banco do Brasil
Ultrapar
em praticamente todos os continen-

Labmundo, 2014
Bradesco
tes. A Petrobrás, firma de capital misto, BRQ IT Services
*O índice considera a relação entre o doméstico e o internacional em três domínios: quantidade de ativos, volume de
mas de controle governamental, tam- receitas e quantidade de funcionários.
bém é uma das empresas mais atuan- Fonte: Fundação Dom Cabral, 2013.
tes internacionalmente. Além de ser
competitiva no meio petrolífero, a
empresa desenvolveu tecnologia de característica marcante a bandeira bra- Por esse motivo, o movimento dos
extração em águas profundas, que a fa- sileira como detalhe da alça do calçado. “Atingidos pela Vale”, existente no Bra-
vorece na competição com outras em- sil, tornou-se muito forte também em
presas do ramo. Esse é um dos motivos A internacionalização das empresas, Moçambique.
pelos quais a Petrobrás é muito pre- apesar de criar grandes oportunidades
sente em alguns países costeiros, como para o Brasil, também cria desafios e A ação internacional das empresas é
em Angola. Fora do âmbito extrati- produz contradições. A ação de algu- um fenômeno estrategicamente apoia-
vo, também é marcante a existência mas empresas (principalmente no âm- do pelo governo, mas não produz
de conglomerados de empresas bra- bito extrativo) causa impactos e pode apenas impactos positivos. Portan-
sileiras que abrem fábricas e lojas em ser considerada predatória por par- to, deve ser vista, também, como um
outros países. A empresa Vulcabrás-A- te da sociedade do país em que a em- desafio à imagem nacional. O Brasil
zaléia é um exemplo disso, sendo que presa atua. Apesar das empresas não busca mostrar-se como um país que
uma de suas marcas é responsável por serem representantes do governo bra- pratica a diplomacia da solidariedade,
patrocinar clubes de futebol na argen- sileiro ou do país como um todo, as preocupado com modelos de desen-
tina, além da seleção brasileira de vôlei. críticas dirigidas a elas também refle- volvimento que sejam justos e equitati-
Outra marca dessa empresa, Havaia- tem na imagem que o país tem no ex- vos. Ainda não é claro se e como a ação
nas, obteve grande sucesso no mercado terior. Denúncias de desrespeito às leis das empresas brasileiras pode ser inse-
internacional de sandálias, e tem como trabalhistas, por exemplo, podem ser rida nesse discurso. Como as empresas
verificadas nas obras das empreiteiras não estão limitadas em sua ação inter-
brasileiras no exterior, dificultando a nacional por um marco regulatório ou
EMPRESAS BRASILEIRAS NO MUNDO credibilidade do discurso oficial bra- ético, tudo leva a crer que suas postu-
Quantidade de empresas por ramo, em 2014
14
sileiro preocupado com um desenvol- ras se assemelhem às de outras empre-
12
vimento mais justo e equitativo. Na sas globalizadas, no marco do sistema
10 América do Sul, a ação da Petrobrás internacional cuja economia política é
8 na Bolívia e da Odebrecht no Equador o próprio capitalismo.
6 (ambas com financiamento por parte
4 do BNDES) foi criticada pela opinião
2 pública e pelo governo de ambos paí- VEJA TAMBÉM:
ses. A ação da Vale no exterior, pela na- Relações com os EUA p. 18
s

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tureza da sua atividade, causa impactos


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Desenvolvimento e industrialização p. 20
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significativos no meio ambiente, além


Labmundo, 2014
do
I

Organizações e movimentos sociais p. 72


ro
et

de impactos sociais, como a remoção


El

*Foram consideradas as 45 empresas brasileiras com o Energia e integração p. 92


maior índice de internacionalização, segundo a Fundação
Dom Cabral
de famílias das áreas de prospecção.
Fontes: Sítios web das empresas, 2014.
at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 71
Organizações ramificada e diversa, os atores sociais
brasileiros apresentam diversas for-

e movimentos
mas de internacionalização e um am-
plo leque de dinâmicas de cooperação
e formas de expressar o conflito social.
Alguns, mais centralizados, operam

sociais
principalmente por coalizões estratégi-
cas e mobilizando expertises setoriais;
em outros, mais policêntricos, pri-
mam os laços de afinidade e a tradução
de experiências vividas no cotidiano
na formação de opinião, demandas,
agendas e formas de ação.
Há algumas décadas assiste-se a uma recentemente, os diferentes protestos
crescente complexidade da política pelo mundo forjaram uma geopolíti- Pensando em tipologias, alguns ato-
transnacional e do ativismo além-fron- ca global das redes. Nesse novo cená- res sociais, mais próximos ao Itama-
teiras. A emergência e a rearticula- rio, são cada vez mais numerosos os raty, aos governos e às instituições,
ção de atores sociais atuando, muitas movimentos sociais que geraram alian- buscam influenciar a regulação de go-
vezes concomitantemente, em dife- ças, agendas e campos de atuação di- vernos e dos regimes de informação,
rentes escalas (do local ao global, pas- versos, bem como variadas formas de uma maior participação na decisão de
sando pelo nacional e regional), é hoje incidência política, muitas das quais questões importantes para o futuro do
uma realidade. Redefinem-se as so- impactam, direta ou indiretamente, país ou a reforma de políticas. Outros,
lidariedades transnacionais. Os mo- nas políticas externas dos Estados. mais orientados à ruptura do que ao
vimentos anti/alterglobalização, as diálogo, e normalmente com menor
organizações transnacionais de advo- O caso brasileiro é paradigmáti- proximidade das instâncias decisórias
cacy, o movimento zapatista ou, mais co. Com uma sociedade civil ativa, da diplomacia brasileira, incidem na
política externa de maneira mais exó-
gena e indireta, com ações que visibi-
ORGANIZAÇÕES SOCIAIS NA ONU lizam contradições da atuação externa
Quantidade de Organizações Não Governamentais com status consultivo na ONU, entre 1946 e 2012
brasileira. O gráfico sobre a evolução
23 ONG brasileiras tiveram status consultivo na ONU, entre 1946 e 2012 da participação das organizações não
3 637 ONG tiveram status consultivo na ONU, no total, entre 1946 e 2012 governamentais brasileiras com status
consultivo na ONU e o mapa sobre o
300 Fórum Social Mundial assinalam dois
padrões distintos dentro de uma diver-
sidade ainda maior de atores e formas
de internacionalização das organiza-
200
ções e movimentos sociais.

Os atores sociais brasileiros são cen-


100
trais para a democratização política e
social. Participam de redes regionais
e globais e possuem vários projetos
de cooperação no exterior, mas nem
sempre são reconhecidos pela política
externa brasileira, o que gera certo pa-
46

51

56

61

66

71

76

81

86

91

96

01

06

12
19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

20

20

20

Fonte: Ecosoc, 2013. Labmundo, 2014 radoxo, tendo em vista sua inserção in-
ternacional e o forte reconhecimento
dos atores sociais no plano das políti-
FORUM SOCIAL MUNDIAL cas públicas domésticas.
Cidades que receberam edições do Fórum Social Mundial e eventos relacionados, 2001-2014
Essa questão está no centro dos de-
bates sobre política externa no Brasil,
com exigências de uma maior parti-
cipação das organizações sociais que
permita democratizar esta política, en-
tendida como política pública. A cria-
ção de conselhos consultivos é um
passo nesse sentido, que permite escu-
tar a voz das organizações nos proces-
sos de tomada de decisões no âmbito
institucional, e desta forma ter algum
Labmundo, 2014

Mundial
1000 km
Regional impacto na configuração das agendas.
*Não estão representados todos
Temático
os FSM temáticos No entanto, é essencial também a cria-
Fonte: Sítio web do Fórum Social Mundial, 2014. ção de vínculos com a cidadania e os

72 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
ATORES E AGENDAS

movimentos sociais, dentro e fora das REDES TRANSNACIONAIS DE MOVIMENTOS SOCIAIS


fronteiras institucionais e nacionais, a Marcha Mundial das Mulheres, em 2013
partir de campanhas de informação e
sensibilização, e de redes transnacio-
nais que possibilitem o intercâmbio de
expertises e a socialização de práticas e
saberes para a melhoria das condições
de vida e da justiça social. Desse modo,
as mudanças no campo da cooperação Quantidade de
internacional para o desenvolvimento organizações
oferecem desafios mas também inte- membro:
482
ressantes possibilidades ainda não ple- 139
namente exploradas para a ampliação 1000 km 17
dessas solidariedades transnacionais. Conferências
Fonte: Sítio web da Marcha Mundial das Mulheres, 2014.
As dinâmicas de cooperação interna-
cional entre atores, agendas e projetos
Via Campesina, em 2013
complementam-se com iniciativas de
protesto e denúncia. Os recursos natu-
rais, a defesa dos bens comuns, a terra
e o território estão no centro dos con-
flitos sociopolíticos na América Lati-
na contemporânea e, tendo em vista
seu caráter geoestratégico, são centrais
na definição da política externa, posto
que apelam a tensões centrais em tor-
no da soberania nacional, da vida, dos Quantidade de
organizações
modelos de desenvolvimento e da coe- Cidades que membro:
rência da atuação dos Estados no pla- 1000 km
sediaram 13
6
conferências
no doméstico e externo. Fonte: Sítio web da Via Campesina, 2013. 1

Tais conflitos operam transversalmen-


te e em diversas escalas. Nesse senti- CONFLITOS NO CAMPO
Quantidade de conflitos por unidade federativa Quantidade de famílias envolvidas em conflito
do, importantes redes transnacionais
de movimentos sociais, como são os
casos da Marcha Mundial das Mulhe-
res e da Via Campesina, constroem co-
alizões políticas, ações, campanhas e
agendas globais que não estão disso-
ciadas de práticas sociais e articulações 43,2 9,9
locais. Por conseguinte, é importan- 3 3
te ressaltar a dimensão da territoriali- 1,5 1,5
zação dos conflitos e das resistências. 0,5
300 km
0,5
300 km
0 0
Em outras palavras, por mais que os
conflitos sejam localizados, não são Fonte: Comissão Pastoral da Terra, 2014. Fonte: Comissão Pastoral da Terra, 2014.
necessariamente localistas. Esse é o
caso específico dos conflitos no cam-
po, onde atores locais e nacionais ge- Conflitos no campo ao longo do tempo Total de conflitos Conflitos trabalhistas
ram interfaces regionais e globais. Por Quantidade total de conflitos
Conflitos pela terra Conflitos pela água
1800
exemplo, a Via Campesina se torna um Outros conflitos
ator de referência tanto pela sua capa- 1400

cidade de articular movimentos e orga- 1000


nizações de base, como pela influência
em fóruns especializados, disputando 600

os sentidos e os rumos da política agrí- 200


cola, alimentar e comercial, nos planos 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
interno e externo. Pessoas envolvidas, em milhão
1
0,8
VEJA TAMBÉM: 0,6

Agronegócio p. 28 0,4
Labmundo, 2014

Água: recurso vital p. 36 0,2


Pobreza e desigualdade p. 44
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Redes sociais e integração regional p. 96
Fonte: Comissão Pastoral da Terra, 2014.

at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 73
Atores religiosos Unidos. No ano de 2010, estimavam-
se em 34 mil o número de cristãos
brasileiros que partiram em missão re-
ligiosa para o exterior, um aumento de
70% em comparação com os valores do
ano 2000. Com o declínio da Europa
e a estagnação dos Estados Unidos, au-
menta a importância dos países do Sul
no total de cristãos no mundo, em es-
pecial na África e na Ásia. Nitidamen-
te a nova fronteira de expansão para o
cristianismo está hoje nos países em
desenvolvimento.
RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA
Internacionalização desde os anos 1950
Em estudo de 2013, o total de missio-
nários católicos brasileiros no exterior
Re-africanização
IORUBALÂNDIA para aquele ano teria sido de 1829, sen-
do as mulheres mais de 80% do total.
Influência na abertura de terreiros
em países da América do Sul Os destinos mais comuns seriam Áfri-
ca, América do Sul e Europa. A Igreja
católica estimula este movimento por
meio do Comina, o Conselho Missio-
nário Nacional e o Centro Cultural
Missionário, em Brasília, que reali-
Rio de Janeiro
500 km
za cursos de capacitação para atuação
Fronteiras que são portas
de entrada para além fronteiras. Os grupos evangélicos
ARGENTINA a influência religiosa:
também possuem experiência missio-
Labmundo, 2014
Rio Grande Uruguaiana / Paso de los Libres
do Sul
Santana do Livramento / Riviera
nária de grande impacto nas relações
URUGUAI internacionais. Mais de 70 deles evan-
Fontes: Banaggia, 2008; Melo, 2008; Bem, 2012. gelizam fora do Brasil. Sua presença
no exterior associa práticas de evange-
lização de estrangeiros assim como as-
Os movimentos religiosos brasilei- Grupos missionários estrangeiros atu- sistência a brasileiros, contando com
ros desenvolvem-se por meio de redes am há décadas no Brasil, como alguns uma grande rede midiática de rádios,
dinâmicas de interações internacio- grupos evangélicos norte-america- canais de televisão, livros e jornais. A
nais que vai muito além dos laços hie- nos. Missionários presbiterianos agem IURD, em especial, realiza ações hu-
rárquicos com suas sedes no exterior no Brasil desde o século XIX, e mes- manitárias no exterior, em especial na
(como ocorre com o Vaticano para os mo antes houve experiências isoladas África, onde por exemplo distribui ali-
católicos). No caso das religiões cristãs, de protestantes, como os calvinistas mentos e preservativos no combate à
participam ativamente de movimen- franceses que ocuparam o Maranhão e AIDS. Países africanos de língua por-
tos missionários e também buscam o Rio de Janeiro ainda no século XVI tuguesa vivem um fenômeno recente
evangelizar além fronteiras e ganhar ou os holandeses na costa do Nordes- de conversão religiosa de parcela de sua
novos adeptos, gerando desafios e con- te no século XVII. Ainda assim, um fe- população de práticas católicas para
tradições para a política externa. Se nômeno religioso dos mais influentes cultos evangélicos. Em maio de 2013, o
as doutrinas espirituais contemporâ- no panorama global é o missionaris- governo angolano baniu a maioria das
neas são eminentemente universalis- mo realizado por brasileiros. Trata-se igrejas evangélicas brasileiras de atua-
tas (qualquer um poderia fazer parte de um fenômeno que tradicionalmen- rem no país. Foram acusadas de serem
de qualquer religião), as práticas reli- te fora empreendido por católicos, mas um “negócio” e praticarem “propagan-
giosas têm relações particulares com que vem sendo superado em volume da enganosa”. A única reconhecida
identidades étnicas e nacionais, clas- por grupos evangélicos. O Brasil é hoje pelo Estado foi a IURD, que funciona
ses sociais e outros elementos, como o segundo maior emissor de missio- sob fiscalização de vários ministérios.
idade, sexo e contexto rural ou urba- nários do mundo só atrás dos Estados Ela possuía em Angola 230 templos e
no. Portanto, características demográ-
ficas atuam decisivamente não só no
perfil do grupo dos fiéis, mas também MISSIONARISMO
nas estratégias de atuação de seus líde- Principais países de origem, em 2010 Principais países de destino, em 2010
res na manutenção da comunidade e Estados Unidos 127.000 Estados Unidos 32.400
na atração de novos seguidores. Assim,
Brasil 20.000
deve-se considerar que uma parte dos Brasil 34.000

atores religiosos desenvolve estratégias França 21000 Rússia 20.000


de evangelização por meio de redes R.D. Congo 15000
Espanha 21000
transnacionais, visando ao aumento
Labmundo, 2014

de suas comunidades, mas esse proces- Itália 20000 África do Sul 12.000

so ao mesmo tempo complexifica o pa-


norama religioso dos países receptores. Fonte: Center for the Study of Global Christianity, 2013.

74 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
ATORES E AGENDAS

IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS


Presença da instituição, em 2013

Templos por milhão


de habitantes
Quantidade 57,5 18,1 5,5 1,1 0
de Templos
310
162

21 Sem dados
1 disponíveis

Labmundo, 2014
s
p lo
em
1000 km t
00
56
de
Brasil, mais
Fontes: Sítio web da Igreja Universal, 2014; CIA, 2013.

Veículos de mídia da IURD fora do Brasil Igrejas evangélicas do Brasil no exterior


Revistas
e culturais podem ocasionar na PEB.
TV Rádio
e Jornais • Igreja Universal do Reino de Deus
• Internacional da Graça de Deus
Que importância os novos atores reli-
África do Sul Angola África do Sul • Deus é Amor giosos, por meio de suas redes políticas,
Angola Argentina Angola
EUA Equador Argentina
• Igreja Mundial do Poder de Deus podem vir a ter nas agendas da PEB?
• Renascer em Cristo
França França Equador • Sara Nossa Terra Esta é uma questão em aberto para fu-
Itália Itália EUA
Moçambique Moçambique Itália
• Igreja do Caminho turas agendas de pesquisa. Sabe-se que
• Alguns ministérios brasileiros
a política externa, ao longo da histó-
Labmundo, 2014
Portugal Portugal Moçambique da Assembleia de Deus
Reino Unido Reino Unido Portugal
Uruguai *Casos selecionados,
ria, associou políticas de aproximação
...e pelo menos outros 70 grupos religiosos
Uganda incluindo versões on-line com a África a práticas de diploma-
Fontes: Sítio web da Igreja Universal, 2014; Freston, 1999. Fonte: Nascimento, 2004. cia cultural e de cooperação educacio-
nal, apresentando o Brasil como lugar
onde também são cultuadas divinda-
aproximadamente 500 mil fieis. A im- Esse não foi um processo recente, ten- des africanas. A Bahia e outras regiões
prensa brasileira relatou que o pas- do seus primórdios nos anos 1930. Mas do país, com sua religiosidade afrobra-
tor Valdemiro Santiago, líder da Igreja foi entre os anos 1950, 1960 e 1970 que sileira, seriam uma ponte entre dois
Mundial do Poder de Deus, buscou o se fortaleceu esta transnacionalização. mundos. É interessante notar que, re-
ex-Presidente Lula para poder intervir Até este momento, eram argentinos e centemente, essas credenciais também
na determinação do governo angolano. gaúchos que buscavam conhecimen- têm sido usadas em relação aos países-
A importância da bancada parlamen- to religioso no centro do Brasil. A par- caribenhos, como no caso do vodu no
tar evangélica no Congresso brasileiro tir dos anos 80 pais de santo gaúchos Haiti.
e o processo de internacionalização de passaram a ir a estes países. Na déca-
muitas dessas igrejas apontam a possi- da de 1990, já havia pais e mães de san-
bilidade de no futuro haver ainda mais to uruguaios e argentinos, com laços CONTROLE DA FÉ
pressão para que a diplomacia brasilei- com gaúchos e participação de outras Restrições a religião por país, em 2014
ra atue em prol da liberdade de atuação influências como do Rio de Janeiro, da
Alto
Hostilidades Sociais

Paquistão

destes grupos no exterior. África e outras vindas de afrocubanos.


Além disso, vários religiosos, em espe-
Filhos de santo de religiões de matriz cial de Salvador e São Paulo, procuram
africana também atuam na divulgação retornar à África em busca das energias
de suas crenças no exterior, mais espe- primárias de sua crença, o que alguns Brasil
cialmente no Cone Sul. O Rio Grande pesquisadores definem como “reafri- média dos países
do Sul, que concentra parte dos adep- canização” ou “dessincretização”, um
EUA China
tos das religiões afrobrasileiras, pode processo que começou no final dos
Labmundo, 2014

ser considerado uma das plataformas anos 1970 e início dos anos 1980, mas
Baixo

Uruguai Restrições Governamentais


de sua difusão internacional, contri- que já teria sido esboçado nos anos Baixo Alto

buindo para a abertura de terreiros na 1930. Um dos destinos mais comuns Fonte: Pew Research Institute, 2014.
Argentina e no Uruguai. Nesse proces- dos candomblecistas da vertente ioru-
so, as cidades gaúchas de Santana do bá seria a Iorubalândia, região cultu-
Livramento e Uruguaiana e as cida- ral do povo iorubá situada na Nigéria, VEJA TAMBÉM:
des de Paso de los Libres (Argentina) que possui raízes religiosas semelhan- Cultura e soft power p. 50
e Rivera (Uruguai) serviram como li- tes às do candomblé brasileiro. Pluralismo religioso p. 56
gação entre os dois lados e contribuí- Brasileiros no exterior p. 76
ram para a propagação das religiões É importante questionar os impac- Redes sociais e integração regional p. 96
afrobrasileiras na região do Cone Sul. tos que esses intercâmbios religiosos

at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 75
Brasileiros Historicamente, o Brasil foi considera-
do um país de imigração, contribuin-

no exterior
do este fenômeno para a sua formação
social, política e econômica. Só recen-
temente começou a inverter a direção
dos fluxos migratórios, principalmen-
te a partir da década de 1980, crescen-
do o número de brasileiros que moram
fora do país, ainda assim pequena em
relação à população total (menos do
1%). Em 1990 emigraram 493.934 bra-
sileiros, principalmente ao Paraguai
(21%), EUA (19%) e Japão (11%). No
ano 2000, saíram 975.986, a maio-
MIGRANTES BRASILEIROS NO EXTERIOR ria (73%) com destino a países desen-
Em milhares por país de residência, em 2010
volvidos (Japão, 26%, e EUA, 23%) e
Paraguai (9%). Já em 2013, migraram
1.768.980 brasileiros, 79% deles com
destino aos países desenvolvidos; nes-
te ano, EUA (21%) e Japão (21%) se
mantêm como destinos prioritários,
seguidos dos países europeus e, pela
primeira vez, de China (7%). Em re-
lação à composição desses fluxos mi-
gratórios, a maioria é de classe média
340 e com crescente peso das mulheres.
Além dos dados gerais, é importante
Labmundo, 2014
70,3

1000 km
57,2
17,6
Total de emigrantes brasileiros também ressaltar o lugar que o Brasil
residentes nos demais países
ocupa nas rotas internacionais de tráfi-
Fontes: IBGE, 2010b; OIM, 2010. co de mulheres.

A configuração dos sistemas migra-


tórios incide na escolha do destino: a
BRASIL E PRINCIPAIS FLUXOS MIGRATÓRIOS procura de melhores oportunidades la-
Emigração e imigração em milhões de pessoas, em 2011 borais e de vida leva os brasileiros aos
países ricos, principalmente EUA e
Europa, ao tempo que a existência de
Japão EUA
Espanha
Portugal Itália
fluxos migratórios prévios entre Japão
e Brasil explica o peso deste país entre
os migrantes brasileiros, muitos deles,
de fato, de origem japonesa (os dekas-
seguis). No caso do Paraguai é clara-
mente uma migração fronteiriça, dos
chamados brasiguaios.
Paraguai
Labmundo, 2014

Essa estabilidade do sistema migrató-


1000 km
rio brasileiro se explica também pela
339 162 29
Fonte: Banco Mundial, 2011. conformação de redes transnacionais
que servem de apoio aos migrantes fa-
cilitando a integração nas sociedades
QUANTIDADE DE MIGRANTES de acolhida. O Itamaraty contabili-
Saldo total de migrantes em milhões de indivíduos, em 2011
za centenas de associações de brasilei-
ros no exterior que contribuem para
o intercâmbio de informações sobre
moradia ou emprego com os recém‐
emigrados, mas também para o de-
senvolvimento de práticas culturais,
religiosas, econômicas e políticas, ser-
+ 40,4 vindo de interlocução com os governos.
Emigração Imigração

+ 2,0
Dentre essas práticas transnacionais
+ 0,5
0 destacam-se a organização da partici-
pação e representação política em de-
Labmundo, 2014

- 0,5

1000 km
- 2,0
- 11,13
Sem dados fesa dos direitos dos migrantes, assim
disponíveis
como o envio de remessas para os lo-
Fonte: Banco Mundial, 2011. cais de origem, fluxo financeiro que

76 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
ATORES E AGENDAS

REMESSAS PARA BRICS BRASIL E PRINCIPAIS FLUXOS DE REMESSAS


Evolução das remessas recebidas, entre 1990 e Entrada e saída, em 2011
2010 (em bilhões de dólares, preços correntes)
1990
Índia Espanha
*Não há dados l Itália
disponíveis para Japão ga
China a Rússia, em EUA tu Líbano
1990

r
Po
Rússia

Brasil
África
do Sul
20 40

2000

Labmundo, 2014
Paraguai
Índia Em milhões de dólares
1000 km
China

Rússia Fonte: Banco Mundial, 2011. 1168 580 163

Brasil
África
do Sul QUANTIDADE DE REMESSAS
20 40
Saldo total de remessas em milhares de dólares, em 2011
2010
Índia

China

Rússia
Labmundo, 2014

Brasil
África
do Sul
20 40
Fonte: Banco Mundial, 2011. - 118,7
remessas

- 10
Enviou

-1

Labmundo, 2014
0
pode ter um grande impacto no desen- +1 Sem dados
remessas
Recebeu

volvimento dos lugares de origem. 1000 km


+ 10
disponíveis

Fonte: Banco Mundial, 2011. + 60,2


Em 2012, Brasil recebeu 2.582.640.313
dólares em remessas (procedentes dos
EUA, Japão, Espanha, Portugal e Pa- a atenção a dependência que países em São Paulo e para a situação dos hai-
raguai, principalmente), colocando-se como Tajiquistão (48% do Produto In- tianos no Acre.
como o segundo maior receptor da re- terno Bruto), Quirguistão (31%), Leso-
gião atrás do México, com mais de 23 to e Nepal (25% cada um) têm desses O vínculo entre migrações e desenvol-
bilhões. Em volume total, os princi- recursos. vimento, e as trágicas consequências
pais receptores mundiais foram a Índia de políticas migratórias inadequadas
(quase 69 bilhões) e China (quase 40 A crise tem impactado a configura- vivenciadas pelos emigrantes brasilei-
bilhões). Em termos relativos, chama ção dos fluxos migratórios, colocan- ros na última década, exigem que os
do o Brasil como principal destino dos governos (federal e estaduais) estejam
emigrantes europeus, principalmente especialmente atentos a uma gestão
HAITIANOS RUMO AO BRASIL portugueses, e mudando a direção das coletiva e coerente dos fluxos migra-
Rota dos emigrantes haitianos para o Brasil,
em 2014
remessas nesse corredor (do Sul para o tórios que contribua para fomentar
País de origem (Haiti)
Norte). O país também é atrativo para os benefícios e diminuir os proble-
Países de passagem
País de destino (Brasil)
migrantes de países do Sul, muito me- mas de integração, discriminação e in-
HAITI nos numerosos, mas com uma visibili- segurança humana que enfrentam os
R. DOMINICANA dade mediática maior, como é o caso migrantes. Firmar a Convenção Inter-
Labmundo, 2014

dos haitianos. Essa mudança repercu- nacional sobre a Proteção dos Direitos
PANAMÁ
te no debate sobre a legislação migra- de Todos os Trabalhadores Migrantes
tória: se até recentemente a agenda e dos Membros das suas Famílias se-
Panamá esteve marcada pela defesa dos direitos ria um primeiro passo para demonstrar
dos brasileiros no exterior e as contri- o compromisso do governo brasileiro
buições dos migrantes para o desenvol- com os direitos e o contexto de vida
EQUADOR vimento nacional, hoje ganha espaço dos migrantes.
Manaus (AM)
Tabatinga (AM)
BRASIL no debate político a garantia dos di-
Brasiléia (AC)
reitos humanos dos estrangeiros no
Brasil, como ocorreu na Primeira Con- VEJA TAMBÉM:
Assis Brasil (AC)
Lima
rumo ao ferência Nacional sobre Migrações e Cultura e soft power p. 50
PERU Centro-sul Refúgio (Comigrar), que defendeu a Pluralismo religioso p. 56
São Paulo (SP) necessidade de mudança da Lei do Es- Brasileiros no exterior p. 76
500 km
Rio de Janeiro (RJ) trangeiro e chamou atenção para as Redes sociais e integração regional p. 96
Fontes: Fernandes et al., 2014. condições de trabalho dos bolivianos

at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 77
Centros de internacional e de abertura de merca-
dos por grupos privados das principais

pesquisa e
potências (EUA, Reino Unido, França
e, cada vez mais, Austrália).

Os Estados atuam nesse campo princi-

universidades
palmente por meio da abertura de va-
gas em suas universidades a estudantes
estrangeiros e pela concessão de bolsas
dos mais variados tipos. O Brasil, ain-
da muito modesto nessa competição
internacional, tem dois grandes pro-
gramas institucionais de concessão de
Dados da Unesco indicam aumen- um mercado global para os serviços bolsas: o PEC-G (para a graduação) e
to de 50% no número global de estu- de educação superior, estimado pela o PEC-PG (para a pós-graduação). No
dantes de nível superior entre 2000 e OCDE em cerca de 40 bilhões de dóla- caso do PEC-G, entre 2000 e 2013, o
2007, antecipando, para 2050, que cer- res, mas também no campo da pesqui- Brasil concedeu cerca de 7700 bolsas,
ca de oito milhões do total desses estu- sa acadêmica. O processo é facilitado 73% das quais a cidadãos oriundos dos
dantes estariam realizando cursos fora pelos baixos custos dos transportes e países africanos de língua portugue-
de seu próprio país. Dados da OCDE comunicação, pela crescente migração sa e 15% para latino-americanos. No
de 2010 apontam aproximadamente internacional e pelo aumento do fi- caso do PEC-PG, entre 2000 e 2012,
3,2 milhões de estudantes internacio- nanciamento privado nesse setor. Por- foram 1880 bolsas, 70% delas para lati-
nais no mundo. Somente na Améri- tanto, além de setor estratégico para os no-americanos e 20% para estudantes
ca Latina, segundo a Unesco, existiam Estados, porquanto estreitamente re- dos PALOP. O governo federal abriu
em 2007 mais de 23 milhões de estu- lacionado com a formação das elites e recentemente duas universidades com
dantes universitários, sendo que mais a geração de laços transnacionais du- vocação explícita para a cooperação in-
de 50% deles estariam concentrados radouros entre indivíduos e socieda- ternacional: a UNILA, em 2008, e a
no Brasil, na Argentina e no México. des, o campo do ensino superior e da Unilab, em 2010.
Essa quantidade de estudantes de ensi- pesquisa converteu-se em aposta eco-
no superior e a mobilidade internacio- nômica estratégica, tendo desperta- O Brasil forma cerca de 12 mil douto-
nal que tendem a buscar têm gerado do interesses em matéria de regulação res por ano. Os investimentos públicos
prioritários destinam-se a áreas como
nanotecnologia, TV digital, defesa na-
PRODUÇÃO DE TRABALHOS CIENTÍFICOS cional, engenharias, administração,
Índice H* de produções científicas feitas entre 1996 e 2012, por países saúde e ciências do mar, principalmen-
te por meio do programa Ciências Sem
Fronteiras, que concedeu mais de 38
mil bolsas até 2013. O sistema Univer-
sidade Aberta do Brasil (UAB) visa a
ampliar a oferta de cursos de educação
superior no Brasil, particularmente
na formação de professores, contan-
*Índice H baseia-se
do hoje com cerca de 243 mil alunos
no impacto do trabalho matriculados. Mas existem inúmeros
acadêmico, por meio
da quantidade de pontos frágeis. Um deles é a distribui-
citações feitas e recebidas. 1380 ção geográfica, visto que 72% dos mes-
569
1000 km
68
trados e 78,7% dos doutorados estão
Fonte: Scimago Lab, 2014. nas regiões sul e sudeste do país. Da-
dos do IBGE de 2010 apontam que a
Produção científica no Brasil entre 1996 e 2012 Evolução da produção científica no Brasil escolaridade média da população bra-
sileira com idade até 25 anos é de ape-
nas 5,8 anos, contra 12 anos na Coréia
do Sul, 13,3 anos em Taiwan e 13,4 nos
EUA. Na América Latina, o Chile tem
Produção em 2012: 27,2% dos jovens (entre 17 e 24 anos)
55 803 trabalhos
54,6% da região na universidade, a Argentina 26,4%, o
2,29% do mundo Uruguai 19,9%, o Brasil apenas 13,2%.
Total de trabalhos Além disso, o Brasil investe em pes-
científicos Produção em 1996:
8 698 trabalhos
quisa e desenvolvimento apenas 1% do
118 854
38,42% da região Produto Interno Bruto, em compara-
35 812 0,76% do mundo
ção aos 3,45% do Japão, 2,79% dos Es-
tados Unidos e 2,82% da Alemanha.
Labmundo, 2014

2 069

300 km
Além dos Estados e das empresas, as
Fonte: Scimago Lab, 2014. organizações internacionais (OCDE,

78 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
ATORES E AGENDAS

Banco Mundial, OMC, ONU e Unes- UNIVERSIDADES NO MUNDO


150 universidades melhores avalidadas, em 2013
co) têm buscado influenciar as agendas
e as políticas nacionais no campo da
educação superior e da pesquisa, por
meio, por exemplo, de suas políticas
institucionais, indicadores e relatórios
específicos. O regime internacional de
propriedade intelectual, ao regular o
sistema de patentes e a circulação do
conhecimento no mercado interna- Top 10
cional, também criou uma interface Top 50

Labmundo, 2014
importante com a evolução da pes- Top 100
quisa científica e os métodos de ava- 1000 km
Top 150

liação dos pesquisadores e dos centros


acadêmicos. Fonte: Shanghai Ranking, 2013.

Os rankings, usados para exibir a


posição comparativa do conjunto Webometrics, que é o ranking mundial emergentes: nesse mesmo ano, a Chi-
das instituições ou certas facetas de de universidades na internet. Existem na aparecia em 2° lugar e a Índia em
seu desempenho, também têm sido questionamentos sobre a objetividade 7°. No âmbito latino-americano, no
usados como benchmarking que desses sistemas de categorização, mas entanto, o Brasil se destaca: segun-
conferem visibilidade internacional eles se converteram em classificações do os mesmo dados, o México apare-
às universidades e centros de pesquisa. de desempenho de pesquisa e cia em 31° lugar, a Argentina em 40° e
Os mais conhecidos são o Academic prestígio acadêmico inclusive para o Chile em 46°. O número de artigos
Ranking of World Universities (da a obtenção de financiamentos científicos publicados por brasileiros
Universidade Jiao Tong de Xangai), internacionais. Entre as universidades representa 54% do total publicado na
publicado desde 2003, e o Times brasileiras, costumam aparecer entre América Latina e 2,63% daqueles pu-
Higher Education Supplement as 500 melhores do mundo a USP, blicados no mundo. Assim, é inegável
(THES), que começou a ser a Unicamp, a UFMG, a UFRJ, a o papel da pesquisa universitária à pro-
publicado em 2004. Também existe o UNESP e a UFRGS (no sistema de jeção de soft power do Brasil.
Xangai). No ranking de 2013, a USP
aparece entre as top 150, a UFRJ, a
BOLSAS PARA ESTRANGEIROS UFMG, a UNESP e a Unicamp entre TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
Bolsas concedidas pelo governo brasileiro entre Top 10 da produção mundial de hardware e de
2000 e 2012
as top 400, a UFRGS entre as top- software, em 2013
900 500. Já entre as top 200 do THES, EUA 39%
aparece apenas a USP, em 175° lugar Japão 9%
em 2007 e em 196° em 2008, porém Reino Unido 7%
700
nenhuma universidade brasileira em Alemanha 6,3%
2009 e em 2010. No mesmo ranking França 4,7%
500 de 2013, a USP aparece entre as top Canadá 3,1%
250 e a Unicamp entre as top 350. Por Brasil 3,0%
300
outro lado, dados de maio de 2014 do
China 2,2%
Webometrics apontam a USP em 29°
2,2%
lugar, a UFRGS em 206°, a UFSC em Austrália
2,1%
100 235°, a UFRJ em 240°, a Unicamp em Itália

2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012


335°, a UFMG em 354° e a UNESP em Fonte: Abes, 2013.

PEC-G
373°. No mesmo ranking e no âmbito
PEC-PG
latino-americano, o Brasil apresenta, Participação regional da produção brasileira,
em 2014, 25 universidades entre as em 2013
64,3%
Bolsas concedidas pelo governo brasileiro entre top 1000, o México 6, Colômbia e
2000 e 2012 por origem dos estudantes Argentina 3 cada; entre os BRICS, a
Labmundo, 2014

6000
China apresenta 106 universidades na
5000
lista das top 1000, a Índia 4, a Rússia 8
e a África do Sul 6. 13,0% 12,2%
4000 8,3%
2,2%

3000
De acordo com o Scimago Institutions Sudeste Centro-oeste Sul Nordeste Norte
Ranking, que avalia o número de pu- Fonte: Abes, 2013.
2000 blicações e citações na base de dado
Scopus, o Brasil ocupava, em 2012, a
1000
13a posição entre os países de maior VEJA TAMBÉM:
produtividade científica. Tal posição Parque industrial p. 30
África América Ásia
o coloca atrás de países desenvolvidos
Labmundo, 2014

Latina e
Caribe Minério e indústria extrativa p. 38
PEC-PG PEC-G
como os EUA, Inglaterra, Alemanha Projetos de integração regional p. 82
e Japão, mas também de alguns paí- Cooperação Sul-Sul em educação p. 114
Fontes: PEC-G, 2013 e PEC-PG, 2013. ses em desenvolvimento e potências

at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 79
Capítulo 4:

AMÉRICA DO SUL,
DESTINO
GEOGRÁFICO
DO BRASIL?

Enara Echart Muñoz


Enara Echart Muñoz
O lugar geográfico em que os países se situam não é fruto de uma esco-
lha, mas os rumos e o teor das relações com os vizinhos o são. A porosi-
dade das fronteiras, reforçada pelas inovações em telecomunicação, em
transporte e pela globalização, favorece o fluxo financeiro, o comércio de
mercadorias e de serviços e,