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FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS DE OLINDA

DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

Mônica Diniz
Olga Anacleto
Sandra Guabiraba
Tatyani Toscano
Valquíria César

FATORES QUE DESENCADEIAM O COMPORTAMENTO


AGRESSIVO EM ADOLESCENTES BRASILEIROS NA CIDADE
DE OLINDA

Disciplina: Pesquisa do Comportamento Humano


Prof. : Marcílio Ângelo

Olinda, 2010
FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS DE OLINDA
DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

Mônica Diniz
Olga Anacleto
Sandra Guabiraba
Tatyani Toscano
Valquíria César

FATORES QUE DESENCADEIAM O COMPORTAMENTO


AGRESSIVO EM ADOLESCENTES BRASILEIROS NA CIDADE
DE OLINDA.

Estudo apresentado ao professor


Marcílio Ângelo, da disciplina
Pesquisa do Comportamento
Humano, como requisito para
segunda nota da disciplina.

Olinda, 2010
1. INTRODUÇÃO

Muitos fatores podem influenciar no comportamento dos adolescentes. No


ambiente familiar o adolescente, muitas vezes, é exposto a cenas de hostilidade e
violência doméstica. Nas relações com os amigos, às brincadeiras de criança são coisas
do passado, dando lugar às disputas por poder e relacionamentos com pessoas do sexo
oposto, sendo estes fatores essenciais para a construção da identidade. Os pais da
contemporaneidade passam pouco tempo com os filhos e este tempo nem sempre é um
tempo de qualidade, onde se educa, aconselha e transmite-se afeto. Os limites e valores
passados na educação também são imprescindíveis para o desenvolvimento saudável
dos adolescentes. Muitos pais estão transferindo sua responsabilidade para os
professores e deixando seus filhos a mercê de profissionais, muitas vezes,
despreparados para tal exercício. A falta de preparo contribui de forma negativa para o
aumento do comportamento agressivo dos adolescentes.

A mídia também tem influenciado, de forma significativa, o comportamento dos


adolescentes. As propagandas criam ou ampliam o desejo pelo consumo dos objetos
veiculados a elas. A não satisfação deste desejo, principalmente no caso de adolescentes
pobres, gera sentimentos negativos que podem se transformar em comportamentos
agressivos. Muitos programas exibidos na televisão estão cada vez mais violentos,
assim como filmes e sites de jogos, acessados na internet, podem ser um estímulo à
agressividade dos adolescentes. Mesmo não sendo este, nosso foco de estudo,
entendemos a contribuição que tais informações possam trazer aos pais, ampliando sua
compreensão, relacionada ao tema agressividade na adolescência, diante da
responsabilidade a eles atribuída na orientação e educação de seus filhos.

Um estudo feito pelo Instituto de Soluções de Internet para Crianças, nos EUA, e
publicado na revista Pediatrics (2009), aponta que aqueles que navegam por sites com
conteúdo violento têm mais tendência de adotar esse tipo de perfil. Foi analisada a
relação entre a violência na mídia e comportamentos agressivos (como atirar em
alguém, por exemplo) em quase 1.600 adolescentes. A cada site violento visitado, o
risco de comportamento agressivo aumentava em 50%. Aqueles que admitiram acessar
páginas em que pessoas reais lutavam e atiravam em outras eram cinco vezes mais
propensos a desenvolver essa postura.

Para Nikaedo (2009) , programas de TV, internet e jogos de videogame têm


parcela de culpa nesse contexto, porém não podem ser apontados como únicos
responsáveis. "Eles influenciam a maneira como o jovem encara essas atitudes, mas não
determinam que eles se tornem agressivos, como um fenômeno isolado", completa.

Além de todos os fatores externos e ambientais, a genética pode estar por trás da
agressividade juvenil. Mas isso não significa que as pessoas já nasçam violentas. Uma
analogia explica como funciona essa questão. Imagine um revólver. A genética é à bala
e o meio ambiente é aquele responsável por puxar o gatilho. Isso significa que, caso a
arma não esteja carregada (informação genética), não é possível atirar. Da mesma
maneira, o revólver pode continuar sem uso se ninguém puxar o gatilho (influência do
meio).

A verdade é que há diversas razões para que isso aconteça. Não é apenas um
motivo ou situação que desencadeia a agressividade nesses adolescentes. "A violência é
um fenômeno de múltiplas causas", define Rose Miyahara (2009), coordenadora do
Centro de Referência às Vítimas de Violência do Instituto Sedes Sapientiae. "Pais
violentos, privações materiais ou afetivas, valores culturais que induzam à
discriminação e ao preconceito estão associados e resultam nesse tipo de
comportamento", completa.

Os pais podem (e devem) se antecipar e evitar que o jovem cometa atos


violentos. O ideal é estabelecer limites (com autoridade, e não autoritarismo) desde
pequeno. "Saber dizer não na hora e da forma certa é a chave para impor regras de uma
maneira que a criança tenha respeito pelos pais e não se revolte. Isso não significa que
os pais devem ser contrários a tudo, o que a tornaria excessivamente comportada e
reprimida. Para os filhos, liberdade em excesso é sinônimo de falta de carinho", justifica
Possendoro (2009).

Segundo considerações de Ceccarelli (1997), a delinqüência infanto-juvenil


(quase sempre acompanhada de agressividade) está relacionada ao aumento do
sentimento de desamparo, típico da nossa modernidade cultural, onde a descrença
generalizada nos valores tradicionais, como a família, igreja, escola, etc., leva a uma
intensa busca de prazer pessoal e do individualismo, em detrimento dos ideais coletivos.

Este trabalho tem como principal objetivo verificar elementos que contribuam
para o comportamento agressivo de adolescentes. Temos como objetivos específicos:
Identificar possíveis expressões de agressividade apresentada pelos adolescentes no seu
meio social e identificar se a ausência dos pais influencia na agressividade do
adolescente. O objeto de nossa pesquisa é a indagação: Será a manifestação de
agressividade no comportamento do adolescente resultado, principalmente, das
influências do meio social e da ausência dos pais? Sendo a hipótese: A influência do
meio e a ausência dos pais podem acarretar o surgimento de comportamento agressivo.

A escolha deste tema se deu através da preocupação da equipe com aumento do


índice de violência na adolescência, divulgado pela mídia durante o ano de 2010. A
pesquisa foi desenvolvida na tentativa de identificar os fatores que contribuem para o
aumento deste comportamento, trazendo à psicologia as informações necessárias no
preparo de profissionais, de suas diversas áreas de atuação, para lidarem com tais
questões. A identificação de fatores que possam gerar comportamentos agressivos na
adolescência, trará à psicologia um leque de possibilidades para reflexão sobre como
trabalhar de forma interventiva e preventiva no tratamento da agressividade direcionado
a essa faixa etária.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

A adolescência é uma fase do desenvolvimento caracterizada por conflitos


relacionados às mudanças corporais, valores existentes, as escolhas que precisam ser
feitas, e a construção da identidade, ou seja, o lugar que ocuparão na sociedade. Eles se
distanciam da identidade infantil e vão construindo, gradativamente, uma nova
definição sobre si mesmo. É uma fase de reorganização pessoal e social que se inicia
muitas vezes através de contestações, rebeldias, rupturas, inquietações, podendo passar
por transgressões, para ter uma reflexão sobre os valores que o cercam sobre o mundo e
sobre o seu próprio existir nesse mundo e na sociedade. Nesse processo de construção a
escola e a família deveriam ter uma importante influência, porém isto nem sempre têm
acontecido de forma correta, causando assim comportamentos agressivos.

Agressão é qualquer forma de conduta direcionada visando prejudicar ou ferir


outra pessoa (Kaplan & Sadock, 1993). A agressividade faz parte do processo de
conhecer, pode estar dentro do nível simbólico, ao passo que a agressão não está
mediatizada e, muitas vezes, encontra-se a serviço da destruição do pensamento
(Fernandez, 1992).

Autores da linha psicanalítica (Chess & Hassibi, 1982; Osório, 1982) tentaram
identificar aspectos determinantes da agressividade na adolescência. Alguns consideram
que o problema acontece devido a uma carência emocional experimentada pela criança
que se sente ferida; outros acreditam que a criança não teve fixado os seus limites.
Perceberam que crianças e adolescentes em desvantagem, expostos ao abandono, morte
ou doença dos pais, ou submetidos à intensa ansiedade gerada pelo ambiente das ruas,
podem apresentar conduta agressiva (Fagan & Wexler, 1987). Quando os pais ferem-se
mutuamente, abandonam as famílias ou ameaçam suicidar-se, a ansiedade dos filhos é
esmagadora. Eles podem desenvolver um padrão crescentemente agressivo em suas
relações familiares, escolares e sociais (Wolff, 1985). Foi encontrada associação entre
privação emocional na infância, agressão física entre os pais, depressão materna,
quebra precoce do vínculo mãe-filho, negligência ou rejeição materna, número elevado
de substitutos maternos, abuso físico e sexual e conduta violenta em adolescentes
(Forchand, 1991; Assis, 1991). Histórias de abuso físico e sexual têm sido relatadas por
adultos e adolescentes que apresentam auto-imagem negativa, dificuldades de
relacionamento e vazão inapropriada de impulsos agressivos (Dodge et al., 1991; Gil,
1990; Oates, 1984; Blomhoff et al., 1990).

Cecílica Minayo, autora adepta das doutrinas biologicistas e comportamentalistas


da agressão percebem-na como:

Instintiva à natureza humana, tão natural e irresistível


como a fome e o instinto sexual. Eles tendem a transferir
as regularidades do nível biológico para o social e a
extrapolar os dados referentes aos animais para as relações
humanas em sociedade. (Minayo,1990).
Na literatura clássica sobre agressividade, o livro “Agressão” de Konrad Lorenz
(1974) ocupa um lugar de grande destaque, sendo freqüentemente citado mesmo em
publicações recentes. O trabalho de Lorenz é resultado de uma minuciosa pesquisa
sobre o comportamento agressivo, realizada através da observação do comportamento
animal.

Influenciado pela teoria evolucionista, Lorenz discute a agressividade a partir de


sua importância adaptativa (Pinho, 2005). De acordo com Lorenz (1974) a
agressividade é um instinto como qualquer outro e, em condições naturais, é essencial
para a preservação da vida, para a organização social e, conseqüentemente, para a
manutenção da sobrevivência da espécie. Isso implica dizer que, assim como em
qualquer outro animal, o homem também apresenta sinais de defesa quando suas
condições de sobrevivência são ameaçadas (quando se encontra em situações onde o
acesso à comida é escasso, por exemplo, ou quando sofre algum tipo de ameaça). A
Etiologia clássica, ao se direcionar para o comportamento humano, parte de um nível de
análise que leva em consideração a história de sobrevivência da espécie humana tal e
como isto pode se refletir no contexto atual.

Na década de 1960, a importância do reforço direto sobre o comportamento como


fator determinante da aprendizagem, era tema corrente e que recebia aceitação massiva
dentro da comunidade científica da época (Skinner, 1953). Mas, como explicar
comportamentos que são aprendidos antes mesmo de terem sido expostos a uma
contingência direta de reforço? Albert Bandura (1965) investigou uma forma de
aprendizagem que então se estendia para além do modelo skinneriano tradicional, ao
considerar que as pessoas podem também aprender simplesmente observando o
comportamento de outrem e a forma como tais comportamentos são reforçados ou
punidos.

Novas respostas são adquiridas ou as características de repertórios existentes de


respostas são modificadas em função da observação do comportamento dos outros e
suas conseqüências reforçadoras, sem que as respostas modeladas sejam
manifestamente desempenhadas pelo espectador durante o período de exposição
(Bandura, 1965c, p.3)
Além do simples ato de observar, diversos fatores estão envolvidos na facilitação
deste modelo de aprendizagem. O status do modelo, o sexo, os papéis ocupados pelo
modelo dentro do contexto familiar, social ou determinados pelo sistema cultural
vigente, são fatores a serem considerados. O sexo do observador e do modelo, por
exemplo, torna-se uma variável importante, já que crianças do sexo masculino
normalmente se identificam mais prontamente com modelos adultos ou de idades
maiores do seu mesmo sexo, tal como o próprio grupo cultural costuma reforçar
(Cloninger, 1999). Por exemplo, meninos são reforçados a agir imitando os
comportamentos típicos do “pai”, enquanto meninas são reforçadas a fazer o mesmo em
relação à “mãe”. Logo, se uma criança do sexo masculino observa o comportamento
agressivo do pai e percebe as recompensas por ele adquiridas como conseqüência desta
maneira de se comportar, aprende com maior facilidade do que se observassem os
mesmos comportamentos sendo emitidos por uma pessoa do sexo feminino.
Não apenas o sexo do modelo, mas o grau de importância que o mesmo ocupa nas
relações estabelecidas com o observador, sejam relações reais ou imaginárias
(personagens heróis, por exemplo), podem tornar a aprendizagem por observação mais
provável de ocorrer. Esta afirmação sugere que pais, professores e outras figuras
importantes do cotidiano dos adolescentes são modelos muito mais poderosos para a
aprendizagem do que personagens de fora do ambiente (Bandura, 1979; Cloninger,
1999). Ainda considerando o mesmo argumento, na aprendizagem social em crianças
pequenas, os irmãos mais velhos e os colegas mais velhos também exercem papel
fundamental (Barr & Hayne, 2003).

O trabalho de Barr e Hayne (2003) mostra que, apesar da interação social com os
pais e outros adultos significantes facilita o curso do desenvolvimento cognitivo durante
a infância, os adultos não são os únicos responsáveis por esses efeitos da experiência
social infantil. Alguns estudos têm demonstrado que crianças muito jovens podem
adquirir uma vasta gama de novos comportamentos simplesmente observando e
repetindo ações dos outros (Barr & Hayne, 2003). No estudo de Barr e Hayne (2003),
crianças de 12 a 18 meses aprenderam de um a dois novos comportamentos por dia,
simplesmente imitando comportamentos. As crianças que tinham irmãos mais velhos
imitaram outras crianças com maior freqüência e imitaram mais ações de “brincadeira
turbulenta” e “ações simbólicas” (pretend actions). Estes resultados, segundo os
próprios autores, demonstram consistência com o trabalho de Vygotsky (1978) e Piaget
(1962), ao ressaltarem a importância da mediação de outro sujeito que se encontra em
fase mais avançada de desenvolvimento (Barr & Hayne, 2003; Oliveira, 1993). Então é
possível que o contato com figuras significativa possam levar o adolescente a externar
comportamentos agressivos.

A agressividade entre adolescentes parece estar aumentando, porém este


comportamento pode ser resultado de uma conduta menos repressiva em relação a este
fenômeno. Por outro lado, os adolescentes podem estar mais violentos como resposta à
violência estrutural da sociedade (Stith, 1993), ou seja, que por questões genéticas, quer
por influência do meio, o fato é que a agressividade por parte dos adolescentes tem
crescido de forma surpreendente.

Nas escolas, o discurso é construtivista, embora a violência simbólica esteja


explícita ou mascarada, e o aluno 'agressivo', que não se enquadra nas normas vigentes,
acaba expulso ou convidado a se retirar das mesmas.

Os mesmos professores que, em teoria, consideram que ser


um bom aluno não tem nada a ver com submissão,
valorizam positivamente situações que incluem a
obediência e repetição, e desvalorizam alunos em
situações de agressividade, porque não se encaixa no
modelo inconsciente do que é ser um bom aluno.
(Fernandez, 1992).

Caracterizar o comportamento de um adolescente como agressivo na escola pode


ser uma forma velada de violência, um estigma de desprestígio, que os discrimina no
mesmo rótulo de marginalizados, delinqüentes, infratores ou perigosos.

Neste tema tão complexo e sujeito a vieses, fica difícil explicitar até onde os
adolescentes estão exteriorizando uma conduta 'agressiva' como uma reação de defesa à
violência estrutural da sociedade, ou quando há uma intenção deliberada de infligir dano
ou sofrimento a outrem. O comportamento agressivo dos adolescentes certamente está
articulado com as múltiplas formas de violência, explícitas ou não.

O contexto familiar também pode ser considerado como fator de influência no


comportamento dos adolescentes, pois a agressividade pode ser apenas, um reflexo da
situação vivenciada pela família. Hoje faltam conceitos básicos de relacionamento,
como o diálogo e o abraço. Os pais da contemporaneidade tem pouco tempo com os
filhos e este nem sempre é aproveitado de forma a suprir as necessidades dos
adolescentes. Em conseqüência dessa falta de tempo os adolescentes passam por esta
fase tão difícil cheia de duvidas e carências afetivas.
O comportamento também pode ser um sinal da violência doméstica, como surras, falta
de atenção e até negligência dos pais. "Mesmo inconsciente, eles irão chamar a atenção
de alguma forma". A agressividade pode ser um pedido de ajuda. Quem afirma é a
psicóloga Fátima Regina Kotowski, da assessoria de relacionamentos externos e
institucionais da superintendência da Secretaria Estadual da Educação de Curitiba-PR.

Para Krech e Crutchfield(1980) os comportamentos agressivos estão ligados aos


efeitos destrutivos da frustração.

Se os efeitos construtivos da frustração e do conflito não


conseguem provocar a obtenção do objetivo, a tensão
contínua vai aumentar. Eventualmente, atingirá níveis nos
quais seus efeitos não mais são facilitadores, mas
perturbadores da atividade dirigida para o objeto. (Krech e
Crutchfield,1980)

Para prevenir tais comportamentos por parte dos adolescentes, os pais podem (e
devem) tomar algumas atitudes. O ideal é estabelecer limites (com autoridade, e não
autoritarismo) desde pequeno. "Saber dizer não na hora certa e da forma correta é a
chave para impor regras de maneira que o eles tenham respeito pelos pais e não se
revoltem. Isso não significa que os pais devem ser contrários a tudo, o que os tornaria
excessivamente comportados e reprimidos. Para os filhos, liberdade em excesso é
sinônimo de falta de carinho e perceber que não estão sendo cuidados e amados por seus
pais e cuidadores pode gerar uma grande frustração no adolescente levando-o a deslocar
sua frustração para o comportamento agressivo.

Outra forma eficiente de impedir que o adolescente se torne agressivo é ser


exemplo. Afinal, os filhos usam os pais como espelho. "Seja um modelo de pacificação,
até mesmo na maneira de administrar os conflitos que surgem pelo comportamento
violento do filho, afinal violência gera violência”. Adotar uma postura pacífica é
diferente de não colocar limites. É preciso determinar de forma clara as regras para a
convivência saudável e aplicar punições leves, como proibir as coisas que eles gostam
de fazer, quando descumprem o que foi estabelecido, alerta Rose Miyahara.
A mídia também pode influenciar de forma significativa o comportamento,
agressivo, do adolescente. A American Psychological Association- APA publicou um
relatório informativo(2000), abordando os principais estudos e conclusões realizados
sobre os perigos, de crianças e adolescentes, assistirem a filmes violentos. As pesquisas
psicológicas mostraram três grandes efeitos dos filmes violentos: crianças e
adolescentes podem tornar-se menos sensíveis a dor e ao sofrimento dos outros.
Aqueles que assistem muitos programas violentos são menos sensíveis a cenas violentas
do que aqueles que assistem pouco, em outras palavras, a violência os importuna
menos, ou ainda, consideram, em menor grau, que o comportamento agressivo está
errado; crianças e adolescentes podem se sentir mais amedrontado em relação ao mundo
ao seu redor.

A APA relata que programas infantis têm vinte cenas violentas a cada hora,
permitindo que crianças que vêem muita TV pensem que o mundo é um lugar perigoso;
crianças e adolescentes podem, provavelmente, se comportar de maneira agressiva ou
nociva em relação aos outros, ou seja, comportam-se de maneira diferente após
assistirem a programas violentos em TV. Além disso, crianças que assistem desenhos
animados, mesmo considerando-os engraçados, têm maior probabilidade de bater em
seus companheiros de jogos, desobedecerem a regras, deixar tarefas inacabadas, e estão
menos dispostas a esperar pelo que desejam, do que as que não assistem a programas
violentos.

Todo o espaço dado a mídia pode ter sua origem, em alguns casos, no pouco
tempo que os pais dispensam para os filhos. Segundo Nikaedo (2009), nos dias atuais os
pais têm menos tempo disponível para seus filhos, o que gera sentimento de culpa. Para
compensar suas ausências, muitas vezes, agem de forma extrema, permissiva, ou são
exigentes demais e tornam os poucos momentos de união cheios de cobranças. O
professor de medicina comportamental da Universidade federal de São Paulo (unifesp),
Geraldo Possendoro (2009), chama a atenção para atitude que alguns pais têm em
ralação aos filhos: “Cada vez menos dizem ‘não’. A família não estabelece limites, da
infância à adolescência”.

O distanciamento ou a ausência de um dos pais na vida da criança pode


representar, para ela, um expressivo vazio familiar. Isso acaba trazendo sentimentos de
insegurança, ansiedade, tristeza, etc, levando ao desenvolvimento de sintomas da
agressividade. Vem daí o ditado popular “o importante é participar”, contrariando o
pensamento daqueles que acreditam ser suficiente, apenas o suprimento das
necessidades materiais de seus filhos.

Muitas são as investigações que têm se concentrado, no influente papel da


interação mãe-filho, mas pouco se tem falado dos efeitos do apoio mútuo dos dois pais
ao seu filho. O apoio mútuo está diretamente relacionado a coesão familiar, elemento
muito importante para o bom desempenho de um comportamento equilibrado, não
vulnerável ao desenvolvimento da agressividade nas crianças e adolescentes. Essa
necessidade de apoio mútuo remete à outra questão importante: como pais separados
promovem a coesão familiar? Quando o outro cônjuge não está presente, que imagem
deste passam para a criança ou adolescente? O outro é desqualificado, enaltecido,
aprovado, etc? Os resultados de alguns estudos apóiam a hipótese de que altos níveis de
hostilidade, competitividade e baixos níveis de harmonia familiar se associam a
probabilidade elevada de agressividade na idade escolar podendo se estender a outras
fases que se seguirão. Muitos são os casais que, separados ou não, vivem depreciando
um ao outro para os filhos. Alguns estudos mostram que os meninos menos
problemáticos eram aqueles que tinham um pai que promovia a coesão familiar e uma
mãe pouco crítica com a postura desse pai (McHale e Rasmussem, 1998).

Considerando ainda o vínculo família, inserindo desta feita a escola, observa-se


que quando o vínculo é seguro, a escolarização precoce pode repercutir negativamente
(Egelande e Hiester - 1995). Isso poderia refletir o efeito compensatório de
algum cuidador, que não os pais verdadeiros, sobre uma personalidade carente de
segurança em seu vínculo. Estes resultados também concordam com outros estudos,
segundo os quais os meninos que começam a freqüentar creches antes dos 12 meses
são mais agressivos e contestadores durante a infância (Haskins, 1985).
Assim sendo, reconhece-se hoje à possibilidade do vínculo seguro desenvolver-
se com outros cuidadores que não os pais verdadeiros e, por isso, Howes (1990)
afirma que, para crianças que começam precocemente freqüentar creches, a qualidade
desta tem mais importante influência em posteriores problemas de conduta que os
fatores familiares. Em todo caso os estudos ressaltam a implicação de terceiras
pessoas, fora do contexto familiar, no desenvolvimento de condutas agressivas.

As diferenças de conduta entre as crianças com vínculo seguro das crianças


com vínculo inseguro se reduzem com os anos de escolarização, sugerindo a
implicação da escola como normalizadora de condutas. Isso acontece, talvez, porque
as crianças se acostumam à situação escolar e adotam um padrão de conduta similar
aos demais, ou porque a escola os ensina a respeitar as normas básicas de conduta.

O início da escola implica também no início do processo de socialização, onde


a criança enfrenta uma situação nova, com novas pessoas, e onde se lhe cobram um
aprendizado que tem que competir com outros meninos nas mesmas condições.

Os companheiros influem no desenvolvimento de condutas socialmente


aceitáveis ou não. Tem-se observado que a associação com pessoas desadaptadas
repercute no desenvolvimento de condutas problema; assim como também, ter amigos
socialmente adaptados pode prevenir o aparecimento de condutas desadaptadas.
Apesar disso e infelizmente, observa-se que adolescentes agressivos tendem a
associar-se com outros adolescentes também agressivos e a pressionar aqueles
socialmente adaptados. Teoricamente a escola também poderia influir no
desenvolvimento ou prevenção de problemas de conduta. O pessoal escolar deveria
avisar aos familiares quando detecta problemas nos adolescentes, poderia
proporcionar programas de estímulo de habilidades sociais, resolução de conflitos
entre os alunos, ou buscar outras soluções aos problemas de cada aluno. No entanto o
que se vê é a contínua perda de autoridade de funcionários e professores, passando a
respeitar, por absoluto medo, os alunos que se destacam como líderes de gangues e
bandos.

Outro fator a ser considerado que tem sido alvo de muitos estudos é o
relacionamento do nível sócio-econômico baixo com desenvolvimento de problemas
de conduta. Um desses estudos observou que alta porcentagem de crianças agressivas,
de pouca idade, pertencia a um nível social mais baixo. Em contrapartida, a evolução
dessas crianças não guardava nenhuma relação com o nível socioeconômico
(McFadyen-Ketchum, Bates, Dodge e Pettit, 1996). As brigas e lutas corporais na
meia infância ocorrem mais entre crianças que provêem de ambientes mais
desfavorecidos economicamente, e as classes sociais mais baixas tendem a
desenvolver vínculos mais desorganizados (Haapasalo e Tremblay, 1994). O fato de
pertencer a classes sociais desfavorecidas não implica, por si mesmo, no
desenvolvimento de problemas de conduta. São os fatores associados a esta condição
que determinam o desenvolvimento de condutas desadaptadas e, entre esses fatores
podem ser citadas as mudanças mais freqüentes de domicilio, as disputas
matrimoniais, história de alcoolismo, poucas habilidades sociais, métodos coercitivos
mais violentos, a necessidade da mãe (algumas solteiras) trabalhar para ajudar nas
despesas da família ou mesmo para sustentá-la, se ausentando a maior parte do tempo
de casa, etc.. Deve-se ter em conta, além disso, que estes fatores diferem de uma
família para outra, de forma que, nem todas as famílias pertencentes a uma classe
social mais baixa se caracterizam pelos mesmos padrões de conduta.

Um estudo realizado na Alemanha, em busca de elementos contra a idéia de


todo e qualquer fator preditivo de futura conduta agressiva, encontrou uma relação
entre classes sociais mais altas e o desenvolvimento de problemas de atenção e
conduta agressiva. O resultado alemão pode ser atribuído às recentes mudanças nesta
sociedade, em relação à liberação da mulher e ao grande aumento do número de
mulheres trabalhadoras (implicando ausência da mãe trabalhadora na educação de seu
filho), sobretudo nas classes sociais mais altas. Este fato poderia ser tomado como
exemplo das implicações do contexto cultural e social no desenvolvimento de
problemas de conduta (Hadders-Algra e Groothuis, 1999). Outros estudos não
encontram relação entre o nível socioeconômico e o desenvolvimento de problemas
de comportamento (Prior, Smart, Sansom, Pedlow e Oberklaide, 1991).

Os fatores que desencadeiam comportamentos agressivos em adolescentes


podem ter várias matrizes. Porém se os pais não estiverem presentes na construção da
identidade do adolescente, se a escola e os professores não complementarem com a
educação adequada e se o meio em que ele está inserido não for saudável, há uma
grande probabilidade dele apresentar comportamento agressivo não só na adolescência,
como provavelmente o resto de sua vida.

METODOLOGIA

Amostra – A partir dos objetivos propostos, a amostra será constituída de 100


adolescentes, de ambos os sexos, entre 12 a 18 anos de idade, os quais não apresentam
em sua história pessoal transtorno psiquiátrico ou psicológico graves, nem deficiências
cognitivas e/ou sensoriais. Para definição dos grupos sócio-econômico, adotaremos
apenas a variável “ambiente escolar”, sendo considerados de baixo nível sócio-
econômico os adolescentes provenientes de escolas públicas, enquanto os adolescentes
das escolas particulares serão considerados de alto nível sócio-econômico. A amostra
final será composta por dois grandes grupos de 50 adolescentes, sendo 25 meninas e 25
meninos de escola da rede pública e o mesmo grupo respectivamente, de escola
particular.

Procedimento – Aplicaremos, em entrevista semi-estruturada, um questionário


contendo 10 perguntas abertas e fechadas que será respondido em salas de aulas
reservadas nas próprias escolas dos alunos. Formalizaremos o termo de consentimento
dos pais (apêndice A) para participação de seus filhos na pesquisa. Aplicamos o estudo
piloto para verificação da funcionalidade da estrutura do questionário em um pequeno
grupo de adolescentes. A amostra foi constituída de 10 alunos de forma randômica,
sendo 05 de escola pública e 05 de escola particular, de ambos os sexos, tendo essas
escolas sua localização na cidade de Olinda (PE). Como instrumento de coleta de dados
utilizamos o questionário, acima citado, versando o tema, agressividade na
adolescência. A elaboração das perguntas, foi baseada nos objetivos específicos da
pesquisa, visando identificar se as influências do meio social e a ausência dos pais têm
contribuído para desencadear comportamento agressivo dos adolescentes.
As coletas dos dados foram realizadas na entrada dos alunos em suas respectivas
escolas. Da rede pública: Escola Manoel Pintor Bandeira, das 7h às 7:15h no dia
10/12/10 e em frente a escola particular Colégio Imaculado Coração de Maria das 7:20h
às 7:35h no mesmo dia, ambas localizadas na rua Monsenhor Francisco Ambrósio de
Barros Leite , Bairro novo - Olinda - PE . Ao abordar os adolescentes nos
identificamos, apresentando a finalidade da pesquisa e a importância da participação
deles respondendo as perguntas com sinceridade e de forma pessoal. Foi verificada
compreensão das perguntas elaboradas e boa colaboração por parte dos adolescentes
entrevistados não apresentando nenhuma dificuldade em respondê-las. Agradecemos a
colaboração dos alunos e nos despedimos. Nesta abordagem, dos sujeitos na rua, não
houve necessidade do termo de consentimento dos pais.
Em anexo (apêndice B), estão contidos cópias dos questionários respondidos pelos
adolescentes.

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