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ISBN 978-85-89943-23-9
RESUMO
O presente artigo se refere a uma pesquisa, que tem como locus uma escola de Ensino
Fundamental do Estado do Rio de Janeiro, com objetivo de favorecer o processo de ensino e
aprendizagem dos alunos público alvo da Educação Especial. Trata-se de uma investigação
relacionada à implementação do Ensino Colaborativo, como suporte para a inclusão escolar.
Os dados demonstraram os benefícios que o Ensino Colaborativo tem proporcionado à toda
comunidade escolar através da verificação de evolução na aprendizagem dos alunos, assim
como em sua socialização, autonomia e independência na escola, e do crescente engajamento
da comunidade escolar em todo processo inclusivo. Deste modo, a proposta do Ensino
Colaborativo apresenta-se como uma alternativa para determinados alunos, no sentido de
favorecer sua inclusão escolar com ganhos acadêmicos e sociais, além de ser um
disseminador da cultura inclusiva entre docentes e demais atores da escola.
INTRODUÇÃO
Conforme preconizam os documentos oficiais referentes à política de educação
inclusiva, as escolas necessitam de se readaptar para que ofereçam escolaridade aos alunos
que apresentam necessidades educacionais especiais. De acordo com as proposições da
Política de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008a) para
implementação da escola inclusiva, todos os alunos com deficiência devem estar matriculados
em turmas comuns, recebendo uma complementação pedagógica por meio do atendimento de
um professor especialista, em uma sala de recursos, no turno inverso à sua escolarização. Mas
entendemos que, além desse suporte, são necessárias outras ações efetivas com esse alunado
para que a inclusão de fato aconteça.
O presente artigo se refere à reestruturação de uma escola de Ensino Fundamental do
Estado do Rio de Janeiro com objetivo de favorecer o processo de ensino e aprendizagem dos
alunos público-alvo da Educação Especial. As ações institucionais para alcançar este objetivo
estão sendo implementadas pelo viés da pesquisa com abordagem qualitativa, que segundo
Chizzotti (2006) se apresenta como vantajosa por permitir a adoção de “multimétodos de
investigação para um estudo de um fenômeno situado no local que ele ocorre, e, enfim,
procurando tanto encontrar o sentido desse fenômeno, quanto interpretar os significados que
as pessoas dão a ele” (p.28).
O processo de inclusão é parte inerente da natureza humana, pois uma vez constituídos
grupos, surgem conflitos entre os indivíduos e a tendência são os “próximos/iguais” se
integrarem. No paradigma da inclusão escolar a proposta é que todos os alunos, independente
de suas “condições e/ou diferenças”, devam aprender juntos, pois a escola deve ser a mesma
para todos.
De acordo com Beyer (2010), dentro do princípio inclusivo necessitamos reinventar
essa escola que não seja excludente e não reproduza processos de exclusão social. O autor
alerta que há um discurso diluído e confuso sobre inclusão escolar ao se tratar da questão de
atender a todos os alunos nas suas diferenciadas características, denunciando posturas
ingênuas e reducionistas, ao se afirmar que uma escola para todos não deve fazer distinção
ente alunos.
Apresentamos então uma proposta de ação no cotidiano escolar relacionada à garantia
do direito de efetiva escolarização, com aprendizagem acadêmica e inserção social de
estudantes com deficiência ou outra condição atípica que necessitem de diferenciação no
ensino, como pontua a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (ONU,
2006) que foi ratificada por meio de Decretos 186 (BRASIL, 2008b) e 6949 (BRASIL, 2009),
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com status de Emenda Constitucional que, ao tratar do direito à educação de pessoas com
deficiência, determina em seu artigo 24:
Para realização deste direito, os Estados Partes assegurarão que: [...] d. As pessoas
com deficiência recebam o apoio necessário, no âmbito do sistema educacional
geral, com vistas a facilitar sua efetiva educação; e. Medidas de apoio
individualizadas e efetivas sejam adotadas em ambientes que maximizem o
desenvolvimento acadêmico e social, de acordo com a inclusão plena (BRASIL,
2009).
aos alunos oriundos da escola especial da rede no sentido de fortalecer práticas inclusivas no
seu cotidiano.
O Núcleo de Estudos e Assessoria Pedagógica à Inclusão – NEAPI, setor integrante da
DIVIN, em parceria com a escola de ensino fundamental e a escola especial da rede, iniciaram
a implantação do Ensino Colaborativo, através da Bidocência e da Mediação Escolar, como
um projeto de responsabilidade profissional e acadêmica de pensar a inclusão escolar, não
apenas como um processo de inserção, mas como uma garantia de aprendizagem dos alunos
com deficiência em situações de práticas escolares.
Para tornar esse objetivo possível, foi proposta a ação de um novo agente no âmbito da
escola comum, o professor de Educação Especial, mas como uma função diferenciada dos que
já atuavam na escola atendendo os alunos na Sala de Recursos no contra turno escolar, esse
professor atuaria nas salas de aulas comum em parceria com o docente do ensino comum. Foi
a proposta do projeto do Ensino Colaborativo que pode ser corroborado com uma proposta no
cotidiano escola visto que a Lei 13.146 (BRASIL, 2015), a conhecida Lei Brasileira de
Inclusão, em seu artigo 28 preconiza:
[...] um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em
estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no
qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema
estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo (p.20).
O critério para a escolha das duas modalidades de Ensino Colaborativo foi associada à
demanda do segmento escolar ao qual os alunos estariam inseridos. A rotina do primeiro
segmento permitia um acompanhamento contínuo do docente, especialista em parceria com o
docente da turma, favorecendo o trabalho no viés da bidocência. Já a mediação enquadrava-se
melhor à rotina do segundo segmento que é mais complexa por envolver o trabalho
pedagógico com diferentes docentes na mesma turma.
O DESENVOLVIMENTO DO ESTUDO
O acompanhamento do projeto se deu por reuniões sistemáticas com os participantes
envolvidos. Questões positivas e negativas na implementação da proposta eram pensadas em
grupo e decididas no coletivo. Na bidocência, além da saída de dois alunos transferidos para
outra rede regular de ensino, foi evidenciada grande dificuldade na divisão dos papeis entre os
docentes envolvidos, sendo necessário o diálogo sobre a gestão compartilhada de uma turma.
No caso da mediação, a falta de acesso do especialista ao planejamento do professor regente,
dificultava a elaboração das adequações pedagógicas.
Em 2014, ingressaram na escola mais dois alunos no sexto ano e um aluno no primeiro
ano, todos oriundos da Escola Especial, totalizando seis alunos contemplados pelo projeto. No
decorrer desses dois anos, além do acompanhamento por meio de relatórios e diários de
campo, fez-se necessário também a realização de reuniões quinzenais com as professoras
especialistas a fim de refletir, discutir e propor novas estratégias de atuação, assim como
realizar centros de estudos com assuntos pertinentes à prática pedagógica, tais como:
avaliação, políticas públicas e deficiência intelectual.
Outra ação implementada foi a realização de encontros mensais com os pais dos
alunos envolvidos no projeto, com discussão e reflexão de textos, vídeos e dinâmicas sobre
inclusão a fim de estimular a parceria entre família e escola. Diferentemente dos anos
anteriores, em 2015 foram matriculados três alunos, um com atraso no desenvolvimento no
quinto ano, um com deficiência intelectual no sexto ano e um com deficiência visual também
no sexto ano, que anteriormente realizava o AEE na Sala de Recursos no contraturno.
Nas reuniões de equipe para discussão do trabalho desenvolvido, verificou-se a
necessidade de formular estratégias e ferramentas que viabilizassem uma avaliação mais
concreta dos benefícios dos projetos apresentados, assim como ações para aperfeiçoar a
implementação do projeto.
Visando atingir esses objetivos, foi apresentado às professoras participantes do
projeto, o Plano Educacional Individualizado - PEI, que possibilita a sistematização da
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avaliação das habilidades do aluno, norteia a escolha dos objetivos a serem trabalhados e
fundamenta os recursos, métodos, estratégias e avaliação utilizados. Dessa forma, permite
elencar as possibilidades e as necessidades dos alunos de maneira mais fidedigna,
contribuindo para o desenvolvimento escolar do aluno.
Atualmente, com o objetivo de proporcionar maior autonomia ao projeto, este passou a
integrar as atividades regulares da escola, sendo acompanhado e assessorado pela equipe
técnico pedagógica da escola e Diretoria pertinente ao segmento educacional, com consultoria
da Divisão de Diversidade e Inclusão Educacional. O quadro 1 representa o cenário atual de
alunos atendidos pelo ensino colaborativo na unidade escolar:
CONSIDERAÇÕES
Diante do exposto, fica evidente que a plena Inclusão Escolar é um direito garantido
por lei, devendo ser respeitado. As discussões em reuniões e as análises dos instrumentos de
registros utilizados no projeto até 2015 demonstraram os benefícios que os projetos de Ensino
Colaborativo têm proporcionado a toda comunidade escolar através da verificação de
evolução na aprendizagem dos alunos, assim como em sua socialização, autonomia e
independência na escola e do crescente engajamento da comunidade escolar em todo processo
inclusivo. Além disso, destacam-se a confiança e a parceria conquistadas com as famílias dos
alunos que foram essenciais ao fortalecimento e crescimento do projeto.
Apesar dos documentos legais orientarem que o AEE seja realizado prioritariamente
nas Salas de Recursos Multifuncionais, os três anos de pesquisa demonstraram que um
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modelo único de AEE nem sempre atende às especificidades do público alvo da Educação
Especial.
Devemos entender que a Educação Especial, nos dias atuais, é uma modalidade que
perpassa todos os níveis de ensino e tem como uma de suas atribuições dar suporte
para efetivação dos pressupostos da Educação Inclusiva. Mas cabe ressaltar que não
é possível implantar a inclusão escolar em nossas escolas apenas com base em
direitos legais. Para Pletsch (2010), essa é uma questão na qual há que se considerar
as múltiplas dimensões vivenciadas por alunos com deficiência ou outras
necessidades educacionais especiais. Existe, portanto, necessidade de o campo
investigativo da Educação Especial avaliar a forma relacional em que a legislação é
aplicada no cotidiano escolar. Tais ações poderiam dar subsídios para efetivação da
Educação Inclusiva (MASCARO, 2016 p. 30)
REFERÊNCIAS
______. Decreto Legislativo nº 186, de 9 julho de 2008b. Aprova o texto da Convenção sobre os
Direitos das Pessoas com Deficiência e de seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova Iorque, em
30 de março de 2007. Diário Oficial da União, Brasília, 10 jul. 2008c. Seção 1, Edição 131, p. 1.
Disponível em: http://www2.senado.gov.br/bdsf/item/id/99423 . Acessado em: 26/01/16.
CHIZZOTTI, A. Pesquisa qualitativa em ciências humanas e sociais. Rio de Janeiro: Vozes, 2006.
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