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Arquitetura

Prof.ª Keila Tyciana Peixer


Prof.ª Luciana Budag

2009
Copyright © UNIASSELVI 2009

Elaboração:
Prof.ª Keila Tyciana Peixer
Prof.ª Luciana Budag

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

720
P379c Peixer, Keila Tyciana.
Caderno de estudos : arquitetura / Keila Tyciana
Peixer [e] Luciana Budag, Centro Universitário Leo-
nardo da Vinci. – Indaial : Grupo UNIASSELVI, 2009.
x ; 152 p. : il.

Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7830-144-6

1. Arquitetura. I. Budag, Luciana. II. Centro Uni-


versitário Leonardo da Vinci. Núcleo de Ensino a
Distância. III. Título.
Apresentação
Prezado(a) acadêmico(a)!

Estamos iniciando os estudos de Arquitetura! A disciplina que se


inicia apresenta conceitos fundamentais de arquitetura, para que o tecnólogo
em Negócios Imobiliários possa caracterizar as obras de arquitetura e
compreender os projetos arquitetônicos.

A atuação no mercado imobiliário, através da identificação de


oportunidades e da realização de atividades de comercialização de imóveis,
exige o conhecimento da obra arquitetônica, no que se refere à identificação
dos elementos que a compõem, a sua caracterização e compreensão da
sua relação com o homem e seu contexto; e o conhecimento do projeto
arquitetônico, no entendimento do seu processo de elaboração, dos elementos
que o compõem e da sua forma de representação.

Neste Caderno de Estudos, abordaremos, na Unidade 1, os conceitos


fundamentais de arquitetura, caracterizando os elementos que a definem:
forma, tecnologia, programa e contexto, e apresentando um panorama da
arquitetura brasileira contemporânea. Na Unidade 2, apresentaremos a
profissão do arquiteto urbanista, incluindo a regulamentação e as atribuições
profissionais. A Unidade 3 contempla a representação dos projetos de
arquitetura, compreendendo as fases e os elementos do projeto arquitetônico
e as convenções do desenho arquitetônico.

Esperamos que esses estudos contribuam para a sua formação


profissional, e que os conteúdos apresentados neste caderno de ensino
possibilitem a aprendizagem de conceitos de arquitetura que enriqueçam a
sua atuação no mercado imobiliário.

Vamos ao estudo do nosso caderno?

Prof.ª Keila Tyciana Peixer


Prof.ª Luciana Budag

III
NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto


para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui
para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

IV
V
VI
Sumário
UNIDADE 1 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ARQUITETURA ..................................... 1

TÓPICO 1 – ARQUITETURA: INTRODUZINDO CONCEITOS............................................... 3


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 3
2 ARQUITETURA: ORIGEM E EVOLUÇÃO.................................................................................. 3
2.1 ARQUITETURA NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA...................................................... 4
2.2 ARQUITETURA MEDIEVAL............................................................................................... 4
2.3 ARQUITETURA NO RENASCIMENTO . ....................................................................... 5
2.4 ARQUITETURA NO SÉCULO XIX.................................................................................... 6
2.5 ARQUITETURA MODERNA............................................................................................... 7
3 SIGNIFICADO DA ARQUITETURA............................................................................................. 9
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 11
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 12

TÓPICO 2 – FORMA E ESPAÇO NA ARQUITETURA................................................................. 13


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 13
2 FORMA................................................................................................................................................. 13
3 FORMA E ESPAÇO............................................................................................................................ 14
4 ORGANIZAÇÕES ESPACIAIS....................................................................................................... 16
4.1 ORGANIZAÇÃO CENTRALIZADA................................................................................. 16
4.2 ORGANIZAÇÃO LINEAR..................................................................................................... 17
4.3 ORGANIZAÇÃO RADIAL ................................................................................................... 18
4.4 ORGANIZAÇÃO AGLOMERADA..................................................................................... 19
4.5 ORGANIZAÇÃO EM MALHA............................................................................................. 19
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 21
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 22

TÓPICO 3 – ARQUITETURA E TECNOLOGIA............................................................................. 23


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 23
2 TECNOLOGIA DA ARQUITETURA............................................................................................. 23
3 SISTEMAS ESTRUTURAIS ............................................................................................................ 24
4 CONFORTO AMBIENTAL............................................................................................................... 26
5 ARQUITETURA SUSTENTÁVEL................................................................................................... 27
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 29
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 30

TÓPICO 4 – PROGRAMA ARQUITETÔNICO ............................................................................. 31


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 31
2 EXIGÊNCIAS DO TEMA.................................................................................................................. 31
3 NECESSIDADES E ASPIRAÇÕES DOS USUÁRIOS................................................................ 32
4 FATORES SOCIOCULTURAIS....................................................................................................... 32
5 FATORES ECONÔMICOS............................................................................................................... 32
6 RESTRIÇÕES LEGAIS...................................................................................................................... 32
7 FLEXIBILIDADE E PERMANÊNCIA DO PROGRAMA ARQUITETÔNICO...................... 33

VII
LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................................................. 35
RESUMO DO TÓPICO 4..................................................................................................................... 39
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 40

TÓPICO 5 – ARQUITETURA E CONTEXTO.................................................................................. 41


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 41
2 CONTEXTO NATURAL.................................................................................................................... 41
3 CONTEXTO CULTURAL.................................................................................................................. 42
RESUMO DO TÓPICO 5..................................................................................................................... 44
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 45

TÓPICO 6 – ARQUITETURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA........................................... 47


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 47
2 A FORMAÇÃO DA ARQUITETURA MODERNA NO BRASIL............................................. 47
2.1 O MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E SAÚDE NO RIO DE JANEIRO..................... 48
2.2 O PAVILHÃO DO BRASIL NA EXPOSIÇÃO INTERNACIONAL DE NOVA
IORQUE........................................................................................................................................ 48
2.3 O CONJUNTO DA PAMPULHA........................................................................................ 49
2.4 A NOVA ARQUITETURA BRASILEIRA......................................................................... 50
3 A MATURIDADE DA ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA....................................... 51
4 ARQUITETURA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL.................................................................. 52
4.1 RECICLAGEM DE EDIFÍCIOS DE INTERESSE HISTÓRICO ............................... 52
4.2 EDIFÍCIOS RESIDENCIAIS.................................................................................................. 54
4.3 EDIFÍCIOS COMERCIAIS..................................................................................................... 56
4.4 EDIFÍCIOS INDUSTRIAIS ................................................................................................... 57
4.5 EQUIPAMENTOS CULTURAIS . ....................................................................................... 58
4.6 EQUIPAMENTOS DE ESPORTE E LAZER.................................................................... 60
4.7 EDIFÍCIOS EDUCACIONAIS.............................................................................................. 61
4.8 EDIFÍCIOS HOSPITALARES............................................................................................... 63
4.9 TERMINAIS DE TRANSPORTE ........................................................................................ 64
4.10 INTERVENÇÕES URBANAS.............................................................................................. 65
RESUMO DO TÓPICO 6..................................................................................................................... 67
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 68

UNIDADE 2 – A PROFISSÃO DO ARQUITETO E URBANISTA.............................................. 69

TÓPICO 1 – REGULAMENTAÇÃO DO PROFISSIONAL........................................................... 71


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 71
2 A REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO.................................................................................. 72
3 LEGISLAÇÃO..................................................................................................................................... 73
3.1 EXERCÍCIO E O REGISTRO PROFISSIONAL.............................................................. 73
3.2 EXERCÍCIO ILEGAL DA PROFISSÃO............................................................................. 73
3.3 ACOMPANHAMENTO DA OBRA.................................................................................... 75
3.4 REGISTRO DE EMPRESAS................................................................................................... 75
3.5 ÉTICA PROFISSIONAL.......................................................................................................... 76
4 O SISTEMA CONFEA/CREAS........................................................................................................ 77
4.1 CONFEA – CONSELHO FEDERAL DE ENGENHARIA, ARQUITETURA E
AGRONOMIA............................................................................................................................ 77
4.2 CREA – CONSELHO REGIONAL DE ENGENHARIA, ARQUITETURA E
AGRONOMIA............................................................................................................................ 78
4.2.1 ART – Anotação de Responsabilidade Técnica................................................................ 79

VIII
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 80
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 81

TÓPICO 2 – ATRIBUIÇÕES PROFISSIONAIS.............................................................................. 83


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 83
2 ATRIBUIÇÕES PROFISSIONAIS................................................................................................... 83
3 RESPONSABILIDADES PROFISSIONAIS.................................................................................. 85
LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................................................. 89
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 91
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 92

UNIDADE 3 – REPRESENTAÇÃO DE PROJETOS DE ARQUITETURA................................. 93

TÓPICO 1 – FASES DO PROJETO ARQUITETÔNICO ............................................................... 95


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 95
2 ESTUDOS PRELIMINARES............................................................................................................ 95
3 ANTEPROJETO.................................................................................................................................. 96
4 PROJETO ARQUITETÔNICO EXECUTIVO................................................................................ 96
4.1 MEMORIAL DESCRITIVO E PLANILHA QUANTITATIVA
DE MATERIAIS......................................................................................................................... 97
5 PROJETOS COMPLEMENTARES.................................................................................................. 97
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 99
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 100

TÓPICO 2 – ELEMENTOS DO PROJETO ARQUITETÔNICO................................................... 101


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 101
2 PLANTA BAIXA.................................................................................................................................. 102
2.1 GRAFISMO.................................................................................................................................. 103
2.2 PLANTA BAIXA HUMANIZADA..................................................................................... 104
2.3 PLANTA BAIXA EXECUTIVA............................................................................................ 104
3 CORTES................................................................................................................................................ 107
4 ELEVAÇÕES/FACHADAS................................................................................................................ 109
4.1 GRAFISMO.................................................................................................................................. 111
5 PLANTA DE SITUAÇÃO.................................................................................................................. 112
6 PLANTA DE LOCALIZAÇÃO/IMPLANTAÇÃO........................................................................ 113
7 PLANTA DE COBERTURA.............................................................................................................. 114
8 PROJETOS COMPLEMENTARES.................................................................................................. 115
8.1 PROJETO ESTRUTURAL....................................................................................................... 115
8.2 PROJETO DE INSTALAÇÕES HIDROSANITÁRIAS................................................. 116
8.3 PROJETO DE INSTALAÇÕES ELÉTRICAS.................................................................... 118
LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................................................. 120
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 123
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 124

TÓPICO 3 – CONVENÇÕES DO DESENHO ARQUITETÔNICO............................................ 125


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 125
2 PADRONIZAÇÃO DOS DESENHOS TÉCNICOS..................................................................... 125
3 FORMATOS DO PAPEL (NBR 10068)............................................................................................ 126
4 DOBRADURA DAS PRANCHAS (NBR 13142)........................................................................... 128
5 CALIGRAFIA TÉCNICA (NBR 8402)............................................................................................. 129
6 TIPOS DE PAPEL................................................................................................................................ 129
7 APLICAÇÃO DE LINHAS EM DESENHOS (NBR 8403)........................................................... 130

IX
8 ESCALAS.............................................................................................................................................. 131
8.1 ESCALA NATURAL................................................................................................................ 131
8.2 ESCALA DE AMPLIAÇÃO.................................................................................................... 132
8.3 ESCALA DE REDUÇÃO......................................................................................................... 133
8.4 ESCALAS GRÁFICAS............................................................................................................. 133
9 LINHAS DE COTA............................................................................................................................. 134
9.1 COTAS DE NÍVEL..................................................................................................................... 135
10 SÍMBOLOS GRÁFICOS.................................................................................................................. 135
10.1 REPRESENTAÇÃO DE PAREDES.................................................................................... 135
10.2 REPRESENTAÇÃO DE PORTAS....................................................................................... 136
10.3 REPRESENTAÇÃO DE JANELAS.................................................................................... 141
10.4 REPRESENTAÇÃO DE PEÇAS SANITÁRIAS............................................................. 144
10.5 TEXTURAS................................................................................................................................ 146
10.6 REPRESENTAÇÃO DA VEGETAÇÃO............................................................................ 147
10.7 REPRESENTAÇÃO DE AUTOMÓVEIS.......................................................................... 148
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 149
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 150
REFERÊNCIAS....................................................................................................................................... 151

X
UNIDADE 1

CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE
ARQUITETURA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você estará apto(a) a:

• compreender os elementos fundamentais envolvidos no conceito de ar-


quitetura;

• caracterizar a forma arquitetônica;

• compreender o significado da tecnologia na arquitetura;

• identificar os elementos que definem o programa arquitetônico e sua in-


fluência na arquitetura;

• analisar a inserção da obra arquitetônica no seu contexto natural e cultu-


ral;

• reconhecer o panorama atual da arquitetura brasileira.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em seis tópicos. Ao final de cada um deles, você
encontrará atividades que o(a) ajudarão a fixar os conteúdos apresentados.

TÓPICO 1 – ARQUITETURA: INTRODUZINDO CONCEITOS

TÓPICO 2 – FORMA E ESPAÇO NA ARQUITETURA

TÓPICO 3 – ARQUITETURA E TECNOLOGIA

TÓPICO 4 – PROGRAMA ARQUITETÔNICO

TÓPICO 5 – ARQUITETURA E CONTEXTO

TÓPICO 6 – ARQUITETURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

ARQUITETURA: INTRODUZINDO CONCEITOS

1 INTRODUÇÃO
Arquitetura, em uma conceituação mais ampla, pode ser entendida como a
arte e a técnica de organizar e configurar os espaços a fim de construir o ambiente
propício à vida humana.

Entretanto, em um mundo complexo e sujeito a mudanças tão aceleradas,


o conceito de arquitetura, assim como o das demais artes, técnicas e ciências está
sempre em contínua reelaboração.

Etimologicamente, o termo “arquitetura” vem da junção das palavras


gregas arché, que significa “primeiro” ou “principal”, e tékton, que possui o
significado de “construção”.

Ao longo da história, a arquitetura apresentou diversos significados,


considerando os aspectos culturais, sociais, econômicos e tecnológicos de cada
período histórico.

UNI

Caro(a) estudante, veremos agora a evolução do conceito de arquitetura desde


a sua origem até os dias atuais, identificando os elementos essenciais envolvidos no seu
significado.

2 ARQUITETURA: ORIGEM E EVOLUÇÃO


A seguir, estudaremos a arquitetura desde sua origem e evolução; da
Antiguidade clássica, medieval, no Renascimento, século XIX, até a arquitetura
moderna.

3
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ARQUITETURA

2.1 ARQUITETURA NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA


Os estudos sobre arquitetura têm origem já no século IV a.C. Vários
arquitetos gregos e romanos escreveram livros sobre arquitetura em anos
anteriores ao nascimento de Cristo. Dentre eles, o mais importante é o engenheiro
e arquiteto romano Marcos Vitrúvio Polião, que viveu no século I a.C. e deixou
como legado os “Dez Livros de Arquitetura” (De Architectura Libri Decem), em
aproximadamente 40 a.C.

Vitrúvio definiu a arquitetura através de três grandes sistemas: “a


arquitetura deve proporcionar solidez, utilidade e beleza” (em latim, língua do
texto original, firmitas, utilitas, venustas).

A solidez se refere aos sistemas estruturais, às tecnologias, à qualidade dos


materiais utilizados. Segundo Vitrúvio, “solidez pode ser conseguida quando as
fundações são plantadas em solo firme e os materiais são sabiamente escolhidos”.

A utilidade aborda a condição dos espaços criados para atender aos


objetivos dos usuários, e a maneira como estes espaços se relacionam. Para
Vitrúvio, a condição é atendida “quando o arranjo dos ambientes é correto e
não apresenta obstáculos ao uso, e a cada categoria do edifício é assegurada sua
adequação e propriedade”.

A beleza se refere às questões estéticas envolvidas na construção, que


nos instigam à contemplação e à fruição. Beleza significava, para o arquiteto
romano, que “a aparência da obra é agradável e de bom gosto, e seus elementos
são proporcionados de acordo com os princípios da simetria”.

Os “Dez Livros de Arquitetura” consistem no único tratado europeu do


período grego-romano que chegou aos nossos dias e serviu de fundamentação a
diversos textos sobre construções e arquitetura desde a Antiguidade. Essa obra
serviu de inspiração dos arquitetos, principalmente durante o Renascimento.

2.2 ARQUITETURA MEDIEVAL


A Idade Média, período entre os anos de 450 e 1450, fez pouco uso dos
escritos de Vitrúvio. Os construtores dessa época abandonaram desde o princípio
as referências aos padrões tradicionais e evitaram associar a arquitetura a
considerações teóricas absolutas. A atividade de projeto era considerada de
um modo estritamente empírico, como uma sucessão de escolhas entre muitas
possibilidades igualmente incertas.

A análise construtiva era a essência da prática arquitetônica, que era


atributo de profissionais que mantinham os conhecimentos interdisciplinares nos
segredos das corporações, confundindo-se a figura do arquiteto com a do mestre
de obras.

4
TÓPICO 1 | ARQUITETURA: INTRODUZINDO CONCEITOS

Segundo Benevolo (1987), o projeto de um edifício concluía-se


espontaneamente durante a execução, não havendo uma definição antecipada
do efeito de cada solução. Por outro lado, a continuidade da tradição assegurava
a concordância das sucessivas intervenções e o entendimento entre as várias
pessoas responsáveis por elas. Não existia, portanto, uma distinção exata entre
projetistas e executantes, mas, sim, uma hierarquia entre pessoas que tinham a
seu cargo uma maior ou menor responsabilidade: o mestre ocupava-se de todo
o organismo, mas definindo durante a execução, até certo ponto tinha liberdade
para inventar.

2.3 ARQUITETURA NO RENASCIMENTO


Por volta de 1420, o Renascimento surgiu na Itália através de um grupo
de artistas florentinos (Donatello, Brunelleschi, Paolo Ucello e Masaccio) que
buscaram a substituição de uma orientação particular, recebida em herança, por
uma escolha geral e consciente. Os elementos da arte receberam uma formulação
universal, baseada no conhecimento da natureza (em sentido filosófico: essentia
vel natura, isto é, a realidade universal e inteligível das coisas) e da Antiguidade
clássica concebida como uma segunda natureza.

O Renascimento fez ressurgir a estética de Vitrúvio e todas as demais lições


de seus “Dez Livros de Arquitetura” através de Leon Battista Alberti (1404-1472),
o teórico do Renascimento. Para os arquitetos renascentistas, a redescoberta da
Antiguidade significou imitação das formas antigas em busca de regularidade
formal.

Segundo Benevolo (1987), a nova orientação metodológica faz com que


a personalidade individual seja reavaliada. A substituição dos hábitos variáveis
dos construtores medievais, de uma tradição recebida em herança para uma
tradição construída racionalmente, coloca os projetistas perante uma nova
responsabilidade. Antes a sua relação com a tradição era um ato coletivo de gosto
e de formação, comum a todos aqueles que tinham sido educados em determinado
lugar e em determinada época, e a nova cultura se apresenta como um sistema
de formas universais, independentes dos lugares e das épocas, e os projetistas
participam nela com uma atitude de decisão individual.

O projeto transita entre dois lados, deve transferir valores intelectuais


ao mundo sensível e adaptar-se à evidência racional das regras e aplicá-las
livremente. Tem, portanto, um aspecto universal igual para todos, e um aspecto
particular, sempre diferente, e que está a cargo da escolha do artista.

O Renascimento apresenta um método peculiar de projeto, que é o


desenho em perspectiva, permitindo que cada particularidade do edifício
seja definida previamente e proporcionando também um meio para controlar
antecipadamente os resultados finais. A idealização do projeto cabe ao arquiteto,

5
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ARQUITETURA

que desenha o projeto completo do edifício, enquanto o mestre construtor executa


a realização manual dos trabalhos definidos em projeto. Passa a consolidar-se o
afastamento entre o projeto e a execução.

Os períodos que se seguiram, Maneirismo, Barroco e Neoclássico,


apresentaram-se como a interpretação das regras pelas quais, a partir do
Renascimento, regula-se a experiência arquitetônica. O vocabulário clássico
subsistiu através de outras maneiras de compor espaços.

2.4 ARQUITETURA NO SÉCULO XIX


Ao final do século XVIII, a Revolução Industrial provocou sucessivas
alterações no modo de vida e na arte, agora ao alcance de um número crescente
de pessoas. O que era antes restrito aos intelectuais e aos mais ricos, passou a ser
de domínio de todos.

O período neoclássico é caracterizado pela pluralidade de estilos,


motivado pelo desejo de manter a continuidade com o passado. As referências
aos estilos do passado podem aplicar-se indiferentemente em todos os lugres,
porque se baseiam em informações que estão à disposição de qualquer um.

O progresso advindo dessa época se refletiu nas construções. A máquina


passou a adquirir importância no campo da construção e da decoração, mas
é utilizada como simples meio de fabricar, em grandes quantidades, objetos
semelhantes aos que, antigamente, eram realizados de maneira artesanal. Segundo
Benevolo (1987), essa mudança leva a uma nítida separação entre a técnica e a
composição arquitetônica e a uma distinção entre os conceitos de construção, que
apresenta um caráter utilitário, e a arquietura, com um maior valor artístico.

A técnica baseia-se em regras científicas próprias e não pode acompanhar


a pluralidade de estilos. O conceito de estilo fica assim limitado, sendo
considerado um revestimento decorativo que muitas vezes se aplica a uma
determinada estrutura de suporte. É a partir deste período que se definiu uma
clara diferenciação entre o arquiteto e o engenheiro, ao arquiteto cabe a ação
decorativa e ao engenheiro às demais atividades.

A possibilidade de ampla divulgação das ideias permitiu o conhecimento


de diversas definições de arquitetura, que sugerem visões românticas comparadas
com a música. Goethe (1749-1832), por exemplo, dizia que “a arquitetura é música
petrificada”, enquanto Schelling (1775-1854) enunciava que a “arquitetura é a
forma artística inorgânica da música plástica.” (LEMOS,1995).

Na França, dois pensadores arquitetos expuseram suas teorias, antevendo


a teorização da arquitetura moderna. Eungéne Emmanuel Viollet-Le-Duc (1814-
1879), o grande esteta de seu tempo, afastou a presença até então obrigatória de
Vitrúvio. Segundo Lemos (1995), a natureza da teoria de Viollet-Le-Duc foi a

6
TÓPICO 1 | ARQUITETURA: INTRODUZINDO CONCEITOS

objetividade. O arquiteto francês foi buscar a beleza nas relações geométricas e


graficamente determinava, ou comprovava, as leis da harmonia que engrandeciam
a composição arquitetônica. Sua “teoria do triângulo” foi uma inovação e, para ele,
naquela figura geométrica estava a “chave do mistério”. Outro arquiteto francês,
Leonce Raymond, no seu Traité d’architecture, de 1860, procurava a “verdade” na
arquitetura, através da frase “o bom é o fundamento do belo e as formas de arte
devem ser sempre verdadeiras”.

E
IMPORTANT

Ao final do século XVIII, vimos que o progresso advindo com a Revolução


Industrial provocou mudanças na arquitetura. Ao estudar o período moderno, veremos
surgir um novo elemento significativo na definição de arquitetura: o espaço.

2.5 ARQUITETURA MODERNA


No final do século século XIX e início do século XX, as definições de
arquitetura assumiram posturas diversas, fazendo surgir o espaço como um
elemento significativo. Para Lemos (1995), foi Auguste Perret (1874-1954) o
primeiro a dizer que “arquitetura é a arte de organizar o espaço e é pela construção
que ela se expressa”. E ainda, que “móvel ou imóvel, tudo aquilo que ocupa o
espaço pertence ao domínio da arquitetura”.

Durante o século XX, especialmente entre as décadas de dez e cinquenta


se consolidou a arquitetura moderna, inserida no contexto artístico e cultural
do Modernismo. Não existe, entretanto, um ideário moderno único, suas
características podem ser encontradas em origens diversas como a Bauhaus,
na Alemanha; em Le Corbusier, na França; em Frank Lloyd Wright, nos EUA
ou nos construtivistas russos, alguns ligados à escola Vuthemas, entre muitos
outros. Foi nos CIAM (Congresso Internacional de Arquitetura Moderna) que
essas referências encontraram um instrumento de convergência, produzindo
um ideário de aparência homogênea, resultando no estabelecimento de alguns
princípios que foram seguidos por inúmeros arquitetos.

Uma das principais características dos arquitetos modernos é a recusa


dos estilos históricos, principalmente no que se refere ao uso de ornamentos.
Produzir uma arquitetura sem ornamentos tornou-se regra para alguns. Outra
característica importante eram os conceitos de industrialização, economia e design.
Acreditava-se que o arquiteto era um profissional responsável pela construção do
ambientes econômicos, limpos e úteis.

7
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ARQUITETURA

Duas frases se tornaram a síntese do ideário moderno: menos é mais (“less


is more”, do arquiteto Mies Van der Rohe) e a forma segue a função (“form follows
function”, do arquiteto protomoderno Louis Sullivan).

Os novos materiais – o ferro, o vidro e o concreto armado – apresentam


aos arquitetos novas possibilidades de projeto: paredes ou coberturas
inteiramente transparentes, apoios delicados e arrojadas estruturas suspensas.
Ao mesmo tempo, são apresentados novos temas - estações ferroviárias, pontes,
estabelecimentos industriais e prédios para escritórios - completamente distintos
dos monumentos do passado e, consequentemente, propícios a uma nova
interpretação arquitetônica desligada dos estilos históricos.

Em “Por uma arquitetura”, Le Corbusier define que:

A arquitetura é o jogo sábio, correto e magnífico dos volumes reunidos


sob a luz. [...] Utilizamos a pedra, a madeira, o cimento; com eles
fazemos casas, palácios; é a construção. [...] Mas, de repente, você me
interessa fortemente, você me faz bem, sou feliz, digo é belo. Eis aí a
arquitetura. A arte está aqui. Minha casa é prática. Obrigado, assim
como obrigado aos engenheiros das estradas de ferro e à Companhia
Telefônica. Vocês não tocaram meu coração. Mas as paredes se elevam
no céu em uma ordem tal que fico comovido. Sinto suas intenções.
Vocês são delicados, brutais, encantadores ou dignos. Suas pedras me
dizem. Vocês me prendem a esse lugar e meus olhos contemplam.
Meus olhos contemplam algo que enuncia um pensamento. Um
pensamento que se ilumina sem palavras nem sons, porém unicamente
com prismas que mantêm relações entre si. Esses prismas são tais que a
luz os detalha claramente. Essas relações nada têm de necessariamente
prático ou descritivo. São a linguagem da arquitetura. Com materiais
brutos, sobre um programa mais ou menos utilitário que vocês
ultrapassam, vocês estabeleceram relações que me comoveram. É a
‘arquitetura’. (LE CORBUSIER, 1998).

No texto escrito em 1952, “Considerações sobre arte contemporânea”, o


arquiteto brasileiro Lucio Costa apresenta a influência de Le Corbusier sobre sua
obra e define o que entende por arquitetura:

Arquitetura é, antes de qualquer coisa, construção; mas construção


concebida com o propósito primordial de ordenar o espaço para
determinada finalidade e visando determinada intenção. E nesse
processo fundamental de ordenar e expressar-se ela se revela
igualmente arte plástica, porquanto nos inúmeros problemas com que
se defronta o arquiteto desde a germinação do projeto até a conclusão
efetiva da obra, há sempre, para cada caso específico, certa margem
final de opção entre os limites máximo e mínimo determinados
pelo cálculo, preconizados pela técnica, condicionados pelo meio,
reclamados pela função ou impostos pelo programa, cabendo, então,
ao sentimento individual do arquiteto (ao artista, portanto) escolher, na
escala dos valores contidos entre tais limites extremos, a forma plástica
apropriada a cada pormenor em função da unidade última da obra
idealizada. A intenção plástica que semelhante escolha subentende é
precisamente o que distingue a arquitetura da simples construção. Por
outro lado, a arquitetura depende ainda, necessariamente, da época
da sua ocorrência, do meio físico e social a que pertence, da técnica

8
TÓPICO 1 | ARQUITETURA: INTRODUZINDO CONCEITOS

decorrente dos materiais empregados e, finalmente, dos objetivos


visados e dos recursos financeiros disponíveis para a realização
da obra, ou seja, do programa proposto. Pode-se, então, definir a
arquitetura como construção concebida com a intenção de ordenar
plasticamente o espaço em função de uma determinada época, de um
determinado meio, de uma determinada técnica, de um determinado
programa e de uma determinada intenção. (COSTA, 1997).

A trajetória do arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer segue um caminho


até certo ponto balizado pelas convicções de seus mestres, Lucio Costa e Le
Corbusier, mas não deixa de ter suas peculiaridades. Reconhecido pelas formas
revolucionárias de seu estilo arquitetônico, Oscar Niemeyer vê a arquitetura
de forma única: “De um traço nasce a arquitetura. E quando ele é bonito e cria
surpresa, ela pode atingir, sendo bem conduzida, o nível superior de uma obra
de arte.” (NIEMEYER, 1993).

NOTA

Para aprofundar seus estudos sobre a história da arquitetura, sugerimos a leitura


do livro “Introdução à Arquitetura”, de Leonardo Benevolo.

3 SIGNIFICADO DA ARQUITETURA
As definições de arquitetura, ao longo do tempo, apresentam uma clara
imprecisão de seu significado. Muitas vezes poéticos, os termos são duplamente
enganosos, primeiro porque não definem a arquitetura e, segundo, porque não
definem a si mesmos.

Somente no final do século século XIX e início do século XX, as definições


de arquitetura incorporaram um elemento significativo: o espaço. Até então,
todos relacionavam a arquitetura com a construção e a beleza.

Para Zevi (1996), o espaço interior é protagonista do fato arquitetônico, e


completa: “a definição mais precisa que se pode dar atualmente da arquitetura é
a que leva em conta o espaço interior. E é o homem que, movendo-se no edifício,
dá ao espaço a sua realidade integral”.

O espaço constitui o caráter essencial da arquitetura, mas não é o suficiente


para defini-la. Cada edifício caracteriza-se por uma pluralidade de elementos
que podem ser aqui definidos como forma, tecnologia, programa e contexto.
Segundo Ching (2002), alguns desses elementos podem dominar enquanto outros
desempenham um papel secundário na organização de um edifício. Entretanto,
esses elementos devem estar inter-relacionados para formarem um todo integrado
que contenha uma estrutura unificadora e coerente.

9
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ARQUITETURA

TUROS
ESTUDOS FU

Os próximos tópicos abordarão os elementos que compõem a arquitetura:


forma, tecnologia, programa e contexto.

10
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, buscamos construir conceitos sobre arquitetura. Você
pôde perceber que:

• Ao longo da história, a arquitetura apresentou diversos significados,


considerando os aspectos culturais, sociais, econômicos e tecnológicos de cada
período histórico. Somente no final do século XIX e início do século XX, as
definições de arquitetura incorporaram o espaço como elemento essencial. Até
então, todos relacionavam a arquitetura com a construção e a beleza.

• O espaço vivenciado constitui a essência da arquitetura, mas não é o suficiente


para defini-la. A forma, a tecnologia, o programa e o contexto são elementos que
compõem a obra arquitetônica. Todos esses elementos devem ser percebidos e
experimentados.

11
AUTOATIVIDADE

Caro(a) acadêmico(a), para melhor fixar o conteúdo apresentado neste


tópico, sugerimos que você efetue seguinte atividade:

1 A partir da sua compreensão do texto até agora estudado (Tópico 1) e da visão


dos vários autores apresentados, componha um conceito de arquitetura.

12
UNIDADE 1
TÓPICO 2

FORMA E ESPAÇO NA ARQUITETURA

1 INTRODUÇÃO
A arquitetura começa a existir à medida que o espaço passa a ser
organizado por elementos materiais. O espaço é material e sua forma visual
depende da organização dos limites espaciais definidos pela forma.

Os espaços são dotados de características formais que interferem nas


condições físicas e psicológicas dos usuários. Torna-se importante, então, a
disponibilidade de um referencial de análise que possibilite o entendimento da
forma espacial. Esse instrumental implica o conhecimento das características
de composição, isto é, nas diversas maneiras de organização dos espaços
arquitetônicos.

UNI

Cabe-nos, agora, estudar o conceito e o referencial de análise da forma


arquitetônica.

2 FORMA
Forma é um termo abrangente que comporta e admite diferentes
significados. Segundo o dicionário Aurélio (FERREIRA, 2004), a forma se refere
aos limites exteriores da matéria de que é constituído um corpo, em que se
conferem a este feitio uma configuração, um aspecto particular.

Em arte e projeto, frequentemente, o termo é utilizado para expressar a


estrutura formal de um trabalho, ou seja, a maneira de dispor e coordenar os
elementos e partes de uma composição de maneira a produzir uma imagem
coerente. (CHING, 2002).

A forma nos informa sobre a natureza da aparência externa do objeto.


Tudo que se vê possui forma. A percepção da forma é o resultado de uma interação
entre o objeto físico e o meio de luz ainda como transmissor de informação, e as
condições e imagens que prevalecem no sistema nervoso do observador, que é,
em parte, determinado pela própria experiência visual.

13
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ARQUITETURA

Para perceber a forma, é necessário que existam variações, ou seja,


diferenças no campo visual. As diferenças acontecem por variações de estímulos
visuais, em função dos contrastes dos elementos que configuram um determinado
objeto ou coisa.

Para Ching (2002), as formas apresentam propriedades visuais de tamanho,


cor e textura. O tamanho refere-se às dimensões físicas de comprimento, largura
e profundidade de uma forma. As dimensões determinam as proporções de uma
forma, mas sua escala é determinada por seu tamanho em relação a outras formas
de seu contexto.

A cor é um fenômeno de luz e percepção visual que pode ser descrito em


termos da percepção que um indivíduo tem de matiz, saturação e valor total. Cor
é o atributo que mais claramente distingue uma forma de seu ambiente. Também
afeta a atração visual de uma forma.

A textura é a qualidade visual e especialmente tátil conferida a uma


superfície pelo seu tamanho, formato, disposição e proporção das partes. A
textura também determina o grau em que as superfícies de uma forma refletem
ou absorvem a luz incidente.

3 FORMA E ESPAÇO
O espaço é definido, segundo Ching (2002), por elementos horizontais e
verticais.

O plano de base é um elemento horizontal que define um campo de


espaço simples. O plano superior é um elemento horizontal localizado acima da
cabeça, definindo um volume de espaço entre ele e o plano do solo.

Os planos verticais têm uma presença maior no campo visual do que


os planos horizontais e são, portanto, mais eficazes para definir um volume
isolado de espaço e proporcionar um sentido de fechamento e privacidade para
seus usuários. Além disso, têm a competência de separar um espaço de outro e
estabelecer um limite comum entre os ambientes interno e externo.

FIGURA 1 – PLANO DE BASE, PLANO SUPERIOR E PLANOS VERTICAIS

FONTE: CHING, 2002

14
TÓPICO 2 | FORMA E ESPAÇO NA ARQUITETURA

A forma como se configuram os elementos horizontais e verticais gera e


define tipos específicos de espaços.

O plano de base pode ser elevado, estabelecendo uma separação visual


entre seu campo e aquele do solo circundante, ou rebaixado, descrevendo uma
depressão no plano do solo e utilizando as superfícies verticais da área rebaixada
para definir um volume no espaço.

O plano superior é representado nos edifícios pela sua cobertura, que


não somente abriga os espaços interiores das intempéries como também exerce
impacto sobre a forma geral do edifício. A forma do plano superior é determinada
pelo material, pela geometria e pelo seu sistema estrutural.

Os elementos verticais, segundo Ching (2002), também desempenham


papéis importantes na construção de formas e espaços arquitetônicos.

FIGURA 2 – PLANO DE BASE ELEVADO, FÓ- FIGURA 3 – PLANO DE BASE REBAIXADO, JAR-
RUM ROMANO, ROMA, ITÁLIA DIM DE VERSAILLES, FRANÇA

FONTE: As autoras FONTE: As autoras

FIGURA 4 – PLANO SUPERIOR EM ABÓ-


BADA, GALLERIA VITTORIO EMANUELLE, FIGURA 5 – PLANO SUPERIOR HORIZON-
MILÃO, ITÁLIA TAL, PALÁCIO DA ALVORADA, BRASÍLIA/DF

FONTE: As autoras FONTE: As autoras

15
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ARQUITETURA

FIGURA 6 – PLANO VERTICAL


ÚNICO, ARCO DE TITO NO FIGURA 7 – PLANOS VER- FIGURA 8 – FECHAMENTO,
FÓRUM ROMANO, ROMA, TICAIS PARALELOS, UFIZZI, PLACE DES VOSGES, PARIS,
ITÁLIA FLORENÇA, ITÁLIA FRANÇA

FONTE: As autoras FONTE: As autoras FONTE: Google earth, 2008

4 ORGANIZAÇÕES ESPACIAIS

E
IMPORTANT

Agora apresentaremos as formas básicas em que se organizam os espaços de


um edifício.

A organização dos espaços depende de condições específicas referentes


ao programa arquitetônico, como proximidades funcionais, necessidades
dimensionais, classificação hierárquica de espaços e requisitos indispensáveis
para acesso, iluminação ou vista, e ao terreno, que possam limitar ou incentivar
a forma ou o tipo de organização. Para Ching (2002), as organizações espaciais
podem ser centralizada, linear, radial, aglomerada, em malha.

4.1 ORGANIZAÇÃO CENTRALIZADA


A organização centralizada consiste em um espaço central dominante
ao redor do qual uma série de espaços secundários é agrupada. Esse tipo de
organização apresenta um caráter geométrico.

16
TÓPICO 2 | FORMA E ESPAÇO NA ARQUITETURA

FIGURA 9 – TIPOS DE ORGANIZAÇÃO CENTRALIZADA

FONTE: Ching (2002)

O espaço central, unificador da organização, tem, geralmente, uma forma


regular e apresenta dimensões suficientes para reunir um número de espaços
secundários ao redor de seu perímetro. Os espaços secundários da organização
podem ser equivalentes entre si, em termos de função, forma e tamanho, e criar
uma configuração global geometricamente regular e simétrica em relação a
um ou dois eixos, ou podem diferir entre si, a fim de responder às exigências
individuais de função, hierarquia ou entorno, resultando em uma configuração
global, geometricamente irregular e até assimétrica. (CHING, 2002).

A organização centralizada permite o crescimento e possibilita uma série


de variações e complexidades.

4.2 ORGANIZAÇÃO LINEAR


A organização linear consiste em uma sequência linear de espaços
repetitivos. Esses espaços podem estar diretamente relacionados um ao outro ou
ligados através de um espaço linear separado. (CHING, 2002).

FIGURA 10 – ORGANIZAÇÃO LINEAR COM ESPAÇOS DIRETAMENTE RELACIONADOS E SEPARADOS

FONTE: Ching (2002)

Esse tipo de organização pode realizar-se através da repetição de espaços


semelhantes em termos de tamanho, forma e função, ou diferentes entre si.

FIGURA 11 – ORGANIZAÇÃO LINEAR POR REPETIÇÃO DE ELEMENTOS SEMELHANTES E DIFE-


RENTES ENTRE SI

FONTE: Ching (2002)

17
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ARQUITETURA

A organização linear pode ser reta, segmentada ou curvilínea.

FIGURA 12 – ORGANIZAÇÃO LINEAR POR RETA, SEGMENTADA E CURVILÍNEA

FONTE: Ching (2002)

É possível hierarquizar a organização, destacando a importância de


determinados espaços através de sua forma, tamanho ou pela sua localização.

FIGURA 13 – ORGANIZAÇÃO LINEAR COM ESPAÇOS HIERARQUIZADOS

FONTE: Ching (2002)

A organização linear proporciona flexibilidade, podendo adaptar-se às


diferentes condições de terreno, permitindo realizar adições ao longo dos eixos.

4.3 ORGANIZAÇÃO RADIAL


A organização radial consiste em um espaço central dominante, a partir
do qual organizações lineares de espaço se estendem de maneira radial. (CHING,
2002).

Nesse tipo de organização, assim como nas organizações centralizadas,


o espaço central tem geralmente forma regular. Os eixos lineares para os quais
o espaço central se estende podem ser semelhantes um ao outro em termos de
forma e comprimento e manter a regularidade da forma global da organização.
Mas podem também diferir um do outro para atender às necessidades individuais
de função e contexto. (CHING, 2002).

18
TÓPICO 2 | FORMA E ESPAÇO NA ARQUITETURA

FIGURA 14 – ORGANIZAÇÃO RADIAL

FONTE: Ching (2002)

4.4 ORGANIZAÇÃO AGLOMERADA


A organização aglomerada se baseia em espaços agrupados pela
proximidade ou pelo fato de compartilharem uma característica ou relação visual.
Os espaços apresentam, frequentemente, funções semelhantes e uma característica
visual comum, como o formato ou a orientação, mas podem também apresentar
diferenças em termos de tamanho, forma e função, porém relacionados um ao
outro pela proximidade ou por um recurso de ordenação como a simetria ou um
eixo. (CHING, 2002).

Essa organização não se origina de um conceito geométrico rígido,


apresentando um caráter flexível, pode aceitar crescimento e mudança sem afetar
a sua identidade.

FIGURA 15 – ORGANIZAÇÃO AGLOMERADA

FONTE: Ching (2002)

4.5 ORGANIZAÇÃO EM MALHA


A organização em malha consiste em espaços relacionados entre si,
regulados por um padrão ou malha tridimensional. Uma malha é configurada por
dois conjuntos de retas paralelas, geralmente perpendiculares, que estabelecem
um padrão regular de pontos em suas interseções. (CHING, 2002).

19
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ARQUITETURA

FIGURA 16 – ORGANIZAÇÃO EM MALHA

FONTE: Ching (2002)

Na arquitetura, uma malha, geralmente, é estabelecida por um sistema


estrutural composto por colunas e vigas.

A organização em malha é caracterizada pela regularidade e continuidade


de seu padrão, que estabelece um conjunto estável de referência no espaço.

Uma malha pode sofrer transformações para melhor atender ao programa,


adaptar-se às condições do terreno, criar uma hierarquia ou possibilitar seu
crescimento e expansão, e ainda assim, manter sua identidade como malha
na organização dos espaços. Uma parte da malha pode ser subtraída ou
acrescentada. É possível tornar uma malha irregular em uma ou mais direções,
criando um conjunto de módulos hierárquicos diferenciados pelo tamanho,
proporção e localização. Também porções da malha podem deslizar para alterar
a continuidade visual e espacial através de seu campo (CHING, 2002).

FIGURA 17 – TRANSFORMAÇÕES DA ORGANIZAÇÃO EM MALHA

FONTE: Ching (2002)

NOTA

Para aprofundar os seus conhecimentos sobre forma e espaço, sugerimos


a leitura do livro Forma, Espaço e Ordem. Francis D. K. Ching. São Paulo: Editora Martis
Fontes, 2002.

20
RESUMO DO TÓPICO 2
Nos estudos referentes à forma e ao espaço na arquitetura, destacamos
os seguintes conteúdos, que foram estudados no presente tópico:

• A palavra forma apresenta diferentes significados. Em arte e projeto, refere-se


à maneira de dispor e coordenar os elementos e partes de uma composição de
maneira a produzir uma imagem coerente.

• O espaço é definido por elementos horizontais e verticais: plano de base, plano


superior e planos verticais. As diferentes maneiras, como esses elementos se
configuram, geram e definem tipos específicos de espaços.

• O modo de organização dos espaços é incentivado ou limitado por condições


específicas referentes ao programa arquitetônico e ao terreno. As organizações
espaciais podem ser: centralizada, linear, radial, aglomerada, em malha. Cada
tipo de organização apresenta um resultado formal e espacial.

21
AUTOATIVIDADE

Estudamos que as organizações espaciais podem apresentar


configuração centralizada, linear, radial, aglomerada e em malha. A partir do
referencial de análise apresentado, identifique o modo de organização espacial
dominante nas edificações que você conhece: sua casa, local de trabalho, igreja,
escola, hospital, prefeitura, centro cultural etc.

22
UNIDADE 1
TÓPICO 3

ARQUITETURA E TECNOLOGIA

1 INTRODUÇÃO
As inovações tecnológicas têm espaço também na construção civil,
transformando o canteiro de obras em canteiro de montagem, gerando vantagens
como diminuição na geração de entulhos e maior rapidez de execução.

A estes conceitos acrescentam-se fatores relativos ao conforto do usuário


e ao meio ambiente. Um edifício, além de bem executado, deve apresentar
desempenho adequado, de modo a proporcionar conforto  aos seus usuários
(térmico, acústico e luminotécnico), resistência estrutural, entre outros. E toda a
tecnologia utilizada para isso deve gerar o mínimo impacto ambiental, buscando
a sustentabilidade na construção de edifícios.

UNI

Tentemos, agora, compreender o significado da tecnologia na arquitetura.


Abordaremos questões referentes ao sistema estrutural do edifício e ao conforto ambiental
que este deve proporcionar aos seus usuários, com base em princípios sustentáveis.

2 TECNOLOGIA DA ARQUITETURA
A tecnologia (do grego, tékhné, refere-se à arte e logo a tratado) consiste
em um conjunto de conhecimentos aplicados à produção de bens, incluindo as
técnicas que permitem a organização e a eficiência do processo produtivo. É
entendida como conjunto doutrinário e instrumental para organizar os processos
de modificação e de transformação da matéria, da energia, do habitat do homem,
portanto capaz de modificar as próprias condições de existência dos grupos
humanos. (VIANNA, 1990).

A tecnologia da arquitetura refere-se ao tratamento sistemático de todos


os fenômenos de transformação artificial do habitat do homem, vistos pela ótica
da utilidade social e no respeito aos acontecimentos naturais.

23
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ARQUITETURA

Na visão conservadora que caracterizou a tecnologia da arquitetura até


pouco tempo atrás, concebia-se a tecnologia como o saber-fazer técnico como o
elo entre os dois momentos da arquitetura: o de projeto e a construção, tecnologia
confundida com técnica da construção, simples superposição instrumental a
um momento de concepção do espaço. Mas Vianna (1990) define que o enfoque
tecnológico da arquitetura não mais coincide só com as medidas físicas da
construção, mas com o conjunto das operações programáveis para se construir
uma outra natureza, alternativa àquela tradicional, correspondente ao mundo
físico do conhecido.

Tecnologia, neste sentido, é entendida como um modo ou um método de


projetação que faz dos dois momentos, da idealização e da realização, não mais
uma relação estática de causa e efeito, mas um processo interativo, do influenciar-
se recíproco até se chegar a uma nova concepção do próprio espaço. Tecnologia
entendida como uma tentativa de se substituir os modelos estáticos e definidos
por processos abertos e dinâmicos, individualizando, mais que o tipo funcional
da forma arquitetônica, os parâmetros estruturais de transformação e construção
do ambiente. (VIANNA, 1990).

Na atual sociedade de informação, vivemos um período de grande


transformação, em que um novo tipo de construção emerge, quebrando barreiras
entre disciplinas profissionais antes separadas e especializadas. Nos projetos
atualmente pensados e executados de uma forma totalmente digital, a concepção,
a análise estrutural e a escolha material fundem-se e resultam na produção do
projeto diretamente através de máquinas de controle numérico.

Atualmente, um novo tipo de construção emerge. Vivemos um período


de reestruturação produtiva em que os projetos são pensados e executados de
uma forma totalmente digital, em um processo de integração entre a concepção,
a análise estrutural e a escolha material.

A integração entre concepção e construção digital é recente. Ainda


é necessária uma investigação multidisciplinar, que permita aprofundar o
conhecimento das vantagens, limitações e oportunidades, pois constituem uma
grande transformação no processo de construção tradicional, introduzindo novos
desafios em todo o processo produtivo.

3 SISTEMAS ESTRUTURAIS
O sistema estrutural é formado por elementos estruturais responsáveis
por absorver e transmitir os esforços de uma edificação. Caracteriza-se por ser
a parte mais resistente de uma construção, sendo essencial para sua segurança e
solidez.

Podemos citar diferentes sistemas estruturais que podem ser adotados


durante a concepção do projeto de uma edificação. A escolha do sistema adequado
ocorre em função do uso da edificação, de custos e recursos disponíveis.
24
TÓPICO 3 | ARQUITETURA E TECNOLOGIA

Antigamente, nas construções egípcias e na Idade Média, tinha-se o


uso da pedra e, no século XVIII, os vãos foram sendo incrementados com o uso
da madeira. A partir da Revolução Industrial, começaram a ser utilizadas as
estruturas metálicas, que apresentavam vantagens em relação ao uso da madeira,
devido à relação entre o peso próprio e as dimensões das peças estruturais, à
escassez da madeira e pela suposição de que o ferro fundido fosse mais resistente
a incêndios, elevando a segurança das edificações. Posteriormente, com o uso
do aço e a invenção do concreto, estes materiais foram tendo suas propriedades
melhoradas e o uso cada vez mais difundido.

O aço é obtido do carvão mineral ou do minério de ferro, com retirada de


impurezas e promoção de adições pela siderurgia. Tem elevada resistência, tanto
à compressão quanto à tração. Uma estrutura constituída por materiais metálicos
apresenta como principais características: qualidade homogênea, esbelteza das
peças resistentes, precisão na fabricação e montagem, necessidade de proteção
contra corrosão e incêndios.

O concreto é uma mistura de aglomerante com água e agregrados (areia e


pedra), que desde o patenteamento do cimento Portland por Joseph Aspdin, em
1824, vem sofrendo sucessivos incrementos de resistência.

Associados às armaduras passivas (barras de aço de construção) formam


o concreto armado, moldado in loco ou pré-moldado. Atualmente, é o material
estrutural mais aplicado em obras civis no mundo, devido à facilidade de criação
de qualquer seção, mão de obra barata e não especializada para a confecção e
materiais. As principais características do uso do concreto armado são: obtenção
de peças monolíticas, alta resistência a choques e vibrações, durabilidade, bom
condutor de calor e som, necessidade de escoramentos durante a fabricação,
dificuldade de adaptações e reformas.

Com o advento do concreto protendido, pôde-se extrair o máximo de


eficiência dos materiais de concreto e aço. O concreto protendido é obtido com
a utilização de cabos de aço de alta resistência, que são tracionados e fixados no
próprio concreto. Os cabos de protensão têm resistência em média quatro vezes
maior do que os aços utilizados no concreto armado. Dentro das vantagens que
esta técnica pode oferecer, temos a redução na incidência de fissuras, diminuição
na dimensão das peças devido à maior resistência dos materiais empregados,
possibilidade de vencer vãos maiores do que o concreto armado convencional.

A evolução dos materiais permitiu a liberação da função estrutural das


paredes. Anteriormente, estas tinham o duplo papel de suportar as cargas dos
pavimentos e coberturas e vedar o edifício, isto é, separar o interior do exterior.
Apresentavam a função portante, vedante e divisória. Com as estruturas
independentes de metal e concreto, as paredes ganharam maior liberdade,
dispensando-se a função portante.

25
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ARQUITETURA

A prévia escolha da tipologia estrutural fornece subsídios ao partido


arquitetônico, por meio da definição de formas, vãos e alturas livres. Por outro
lado, pode-se tirar proveito da linguagem estrutural para a estética da arquitetura.

4 CONFORTO AMBIENTAL
O conforto ambiental e a eficiência energética das edificações são
condições fundamentais para garantir uma edificação de qualidade que apresente
como objetivo principal a satisfação do homem. As principais formas de conforto
no ambiente construído que os homens buscam são: conforto térmico, conforto
acústico e conforto luminotécnico.

O conforto térmico na arquitetura pode ser alcançado através do


correto posicionamento do edifício no lote e do partido arquitetônico adotado,
considerando as questões específicas locais de orientação solar e o direcionamento
dos ventos dominantes. Brises, fachadas ventiladas ou ventilação cruzada
são também alguns dos recursos que a própria arquitetura pode utilizar para
minimizar a carga térmica no interior dos edifícios.

O uso de materiais transparentes em fachadas de edificações, adotado sem


o necessário cuidado com a entrada de energia solar no ambiente interno, tem se
revelado um dos grandes causadores de desconforto térmico, principalmente em
climas quentes como o do Brasil. É também um dos grandes fatores responsáveis
pelo consumo excessivo de energia para refrigeração e condicionamento do ar.

E
IMPORTANT

Brise, em português, é a abreviação da expressão francesa brise-soleil, cuja


tradução literal seria quebra-sol. É um dispositivo arquitetônico utilizado para impedir a
incidência direta de radiação solar nos interiores de um edifício. É também um importante
elemento compositivo que foi muito utilizado na arquitetura moderna.

O conforto acústico é uma condição importante para alcançar o bem-


estar nos ambientes. A ausência de conforto acústico condiciona a nossa saúde e
a nossa produtividade. Observa-se que, nas cidades, a qualidade dos ambientes
vem sendo comprometida significativamente pelos ruídos urbanos. Além disso,
as novas tecnologias da construção vêm tornando o edifício e seus ambientes mais
vulneráveis aos ruídos, tanto àqueles vindos do exterior como do interior. As
aberturas, por menores que sejam, permitem a propagação do som e a vibração
dos materiais. Dessa forma, o tratamento acústico de uma edificação deve ser
realizado ainda na fase de projeto.

26
TÓPICO 3 | ARQUITETURA E TECNOLOGIA

Contra os ruídos externos, pode-se adotar como meio de proteção a


distância da fonte de ruído, a utilização de barreiras sonoras, o posicionamento
das aberturas e a utilização de materiais isolantes. Para os ruídos gerados dentro
do edifício, as seguintes medidas podem ser consideradas: redução na fonte de
ruído, isolamento da fonte através de barreiras absorventes, zoneamento das
atividades, redução dos ruídos produzidos por impactos, utilização de superfícies
absorventes, utilização de construções herméticas com isolamento acústico,
redução da transmissão sônica pelas estruturas mediante descontinuidades.

O conforto luminotécnico é necessário para a adequada realização das


atividades visuais em ambientes internos, com o máximo de precisão visual, com
o menor esforço, com menor risco de prejuízos à vista e com reduzidos riscos de
acidentes.

A arquitetura apresenta uma série de variáveis que contribuem na


iluminação dos ambientes internos como a posição e o dimensionamento
das aberturas, o tipo de fechamento utilizado na construção, as características
reflexivas dos materiais de revestimento, as cores utilizadas e o uso de sistemas
artificiais de iluminação.

5 ARQUITETURA SUSTENTÁVEL
Entende-se como desenvolvimento sustentável aquele capaz de atender
às necessidades das atuais gerações, sem comprometer os direitos das futuras
gerações. É na forma como arquitetos e engenheiros se inter-relacionam com as
questões ambientais e a escassez de recursos energéticos que se dá a contribuição
da arquitetura na sustentabilidade.

Segundo a arquiteta Roberta Kronka Mülfarth (Laboratório do


Departamento de Tecnologia da FAU-USP), a arquitetura sustentável “é uma
forma de promover a busca pela igualdade social, valorização dos aspectos
culturais, maior eficiência econômica e menor impacto ambiental nas soluções
adotadas nas fases de projeto, construção, utilização, reutilização e reciclagem
da edificação, visando à distribuição equitativa da matéria-prima e garantindo a
competitividade do homem e das cidades.” (CORBIOLI, 2003).

Os conceitos de arquitetura sustentável baseiam-se na utilização de


sistemas construtivos e de materiais de acabamento recicláveis, que não causem
grande impacto ambiental, que não comprometam o meio ambiente nem a saúde
do ser humano que trabalhará na obra ou fará uso da edificação. Na lista destes
materiais, incluem-se, por exemplo, produtos como madeira de reflorestamento,
cimento, concreto, derivados de petróleo, tintas e vernizes insolúveis em água
ou com grande concentração de metal, para citar apenas alguns exemplos. O
aço e vidro, embora tenham muita energia incorporada, devido ao processo de
fabricação do material, têm seu uso justificado pela possibilidade de reciclagem.

27
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ARQUITETURA

A arquitetura sustentável baseia-se também em conceitos de conforto


ambiental, através de uma adaptação ao clima, considerando aspectos como
insolação, ventos dominantes, características do entorno, para definir o
posicionamento no lote, a espessura das paredes, a dimensão das aberturas e os
materiais a serem utilizados.

O conceito de arquitetura sustentável que está se difundindo no Brasil


estabelece o ato projetual consciente que pode ser aplicado tanto em edificações
novas como na adaptação de edificações existentes (retrofits). Mas há, ainda,
no país um longo caminho a percorrer, principalmente na elaboração de uma
legislação que interfira diretamente na sustentabilidade da arquitetura.

Vários países no mundo já têm ou estão produzindo leis e incentivos para


edificações que sejam projetadas de forma ambientalmente responsável e com alto
desempenho. Em muitos deles, existem sistemas de certificação ambiental para
edificações. Essa forma de incentivo iniciou na Europa e se difundiu por outros
continentes. Entre os principais sistemas de avaliação ambiental de edificações
podem-se destacar: LEED (Leadership in Energy and Environmental Design, USA);
REEAM e ECOHOMES (BRE Environmental Assessment Method, Reino Unido);
CASBEE (Comprehensive Assessment System for Building Environmental Efficiency,
Japão); HQE (Haute Qualité Environnementale dês Batiments, França) e GREEN
STAR, Austrália.

28
RESUMO DO TÓPICO 3
Esse tópico abordou vários conteúdos relacionados à tecnologia da
arquitetura. Resumidamente, apresentamos tais conteúdos a seguir:

• A tecnologia da arquitetura se refere ao conjunto de ações envolvidas no


processo de transformação artificial do habitat humano, consideradas sob o
aspecto social e ambiental.

• Tecnologia não é mais entendida somente como o elo entre o projeto e a


construção, mas como um método de projetação que faz dos dois momentos,
da idealização e da realização, não mais uma relação estática de causa e efeito,
mas um processo interativo, do influenciar-se recíproco até se chegar a uma
nova concepção do próprio espaço.

• O conceito de sustentabilidade na arquitetura busca a igualdade social,


a valorização dos aspectos culturais, a maior eficiência econômica e menor
impacto ambiental nas soluções adotadas nas fases de projeto, construção,
utilização, reutilização e reciclagem da edificação.

29
AUTOATIVIDADE

Considerando que a arquitetura sustentável se baseia na utilização


de materiais construtivos e de acabamento que não causem grande impacto
ambiental e no emprego de conceitos de conforto ambiental, analise a
sustentabilidade de um edifício que constitui referência arquitetônica em sua
cidade.

30
UNIDADE 1
TÓPICO 4

PROGRAMA ARQUITETÔNICO

1 INTRODUÇÃO
O projeto de arquitetura tem como principal objetivo a geração de
soluções físico-espaciais que atendam às necessidades e anseios de um indivíduo
ou grupo, para a realização das atividades humanas que precisam de espaços
adequados para se realizarem plenamente.

A intenção do projeto se resume no programa arquitetônico que apresenta


as exigências do tema, necessidades e as aspirações funcionais, sociais, culturais,
econômicas e legais.

O programa arquitetônico envolve as relações entre indivíduo ou grupo


social e o edifício, evidenciando a sua adequação às necessidades dos usuários.

UNI

Neste tópico, estudaremos os elementos que definem o programa


arquitetônico, com vistas a compreender a sua influência na arquitetura.

2 EXIGÊNCIAS DO TEMA
Os diferentes temas de projeto arquitetônico, como edifícios residenciais,
comerciais, industriais, educacionais, hospitalares, equipamentos culturais
e terminais de transporte, por exemplo, apresentam exigências específicas
de programa, que são relacionadas à adequação do espaço para a adequada
realização da atividade a que se destinam.

As questões a serem consideradas são: a compartimentação e o


dimensionamento dos ambientes, as relações espaciais, a população fixa e variável
e os fluxos de pessoas, veículos e materiais.

31
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ARQUITETURA

3 NECESSIDADES E ASPIRAÇÕES DOS USUÁRIOS


O programa arquitetônico compõe um registro das necessidades e
expectativas que os usuários esperam sejam atendidas pelo projeto arquitetônico,
almejando que venha a ser o novo edifício capaz, então, de exercer a função para
qual foi planejado.

O projeto arquitetônico apresenta a espacialização do programa de


necessidades estabelecidas pelo cliente.

4 FATORES SOCIOCULTURAIS
Os fatores sociais e culturais interferem no programa arquitetônico. Os
programas são mutáveis no tempo e dependem das características sociais e
culturais. O progresso constante, os novos modos de planejar, o desenvolvimento
das atividades em geral estão sempre a exigir alterações nos programas dos
edifícios.

5 FATORES ECONÔMICOS
O programa arquitetônico possui interferência também da disponibilidade
de recursos e dos prazos exigidos para o projeto e a execução. Esses fatores
podem determinar a forma espacial e a tecnologia a ser utilizada, dependendo da
flexibilidade dos custos e da disponibilidade de tempo, permitindo que o projeto
e a obra sejam executados em curto ou longo prazo, ou ainda que sejam divididos
em etapas.

6 RESTRIÇÕES LEGAIS
As restrições legais limitam o projeto e controlam as edificações,
principalmente as urbanas. As restrições podem ser referentes ao código de
zoneamento de uso e ocupação do solo, que define o uso permitido, adequado
ou restrito para as diversas áreas da cidade, além das dimensões espaciais dos
edifícios através de índices urbanísticos como a taxa de ocupação, o coeficiente de
aproveitamento, gabarito, recuos entre outros.

32
TÓPICO 4 | PROGRAMA ARQUITETÔNICO

E
IMPORTANT

Antes de continuar, procuraremos entender o que são estes índices urbanísticos:


- taxa de ocupação: corresponde ao índice urbanístico que limita a máxima projeção
ortogonal possível da área construída sobre um lote;
- coeficiente de aproveitamento: é o índice urbanístico que define o potencial construtivo
do lote, através do produto entre este e a área do lote;
- gabarito: é o índice urbanístico que indica, geralmente, a altura máxima permitida das
edificações, podendo ser indicado pelo número de pavimentos ou pela altura em metros;
- recuos: corresponde ao índice urbanístico que define a distância que separa as divisas do
lote da projeção horizontal da edificação, podendo ser frontal, lateral ou de fundos.

O código de obras de um município pode determinar o número de


vagas de garagem em função do tipo de uso e do porte da edificação, os vãos
de iluminação e ventilação, as dimensões mínimas de certos compartimentos e
exigências relativas a tipos específicos de edificação.

Outras exigências arquitetônicas também podem ser definidas pelas


Prefeituras Municipais, Corpo de Bombeiros, Concessionárias de Serviços
Públicos, Ministérios da Marinha, Aeronáutica, Trabalho e Saúde e Órgãos de
Proteção ao Meio Ambiente e Patrimônio Histórico, entre outros.

Essas leis surgiram principalmente para se alcançar condições mínimas


de higiene, segurança, estabilidade e conforto das edificações.

As restrições legais podem apresentar flexibilidade, possibilitando uma


gama de soluções arquitetônicas ou podem ser rígidas, determinando o partido
arquitetônico.

7 FLEXIBILIDADE E PERMANÊNCIA DO PROGRAMA


ARQUITETÔNICO
O programa compõe a obra arquitetônica e constitui um elemento
importante para que esta se configure em um ambiente propício para o
desenvolvimento das atividades humanas individuais e coletivas.

Entretanto, não se deve elevar a importância funcional na composição


dos edifícios. A arquitetura deve constituir uma ordem espacial que possibilite a
realização efetiva de uma multiplicidade de atividades, entendendo que os usos
mudam e as construções muitas vezes vão se acomodando.

Rossi (1995), quando aborda a permanência histórica dos fatos urbanos,


afirma que a função é insuficiente para definir a sua continuidade e, se a origem

33
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ARQUITETURA

da constituição tipológica dos fatos urbanos é simplesmente a função, não se pode


explicar nenhum fenômeno de sobrevivência: uma função é sempre caracterizada
no tempo e na sociedade e o que dela depende intimamente não pode deixar de
estar ligado ao seu desenvolvimento.

Em antigas construções, as sucessivas adaptações podem, aos poucos,


transformar as velhas estruturas em novos programas. Para que essa realidade
ocorra, o edifício deve ser maleável, permitindo reformulações. Mas sempre há
um limite para as adaptações sucessivas e daí a necessidade da previsão de uma
solução para o crescimento planejado.

34
TÓPICO 4 | PROGRAMA ARQUITETÔNICO

LEITURA COMPLEMENTAR

ARQUITETURA, PROJETO E CONCEITO

Carlos Alberto Maciel

O texto a seguir faz parte do artigo “Arquitetura, projeto e conceito”,


do arquiteto urbanista Carlos Alberto Maciel. Para o autor, a realização de um
projeto de arquitetura tem premissas que lhe são próprias: há um programa a ser
atendido, há um lugar em que se implantará o edifício e há um modo de construir
a ser determinado. Esse conjunto de premissas é elaborado graficamente em
um desenho que opera como mediador entre a ideia do projeto e sua realização
concreta. Esperamos que o texto a seguir lhe proporcione reflexões sobre a
dimensão do programa no projeto arquitetônico. (MACIEL).

Acreditava que um navio, de algum modo, deveria ser criado pelo


conhecimento do mar, como que moldado pela própria onda!...
Mas, na verdade, esse conhecimento consiste em substituir o mar,
em nossos raciocínios, pelas ações que ele exerce sobre um corpo, -
como se tratasse, para nós, de descobrir as outras ações que a essas se
opõem, defrontando-nos tão somente com um equilíbrio de poderes,
uns e outros extraídos da natureza, onde não se combatiam utilmente.
(VALÉRY, 1996).

Os usos e atividades que geralmente dão origem à demanda por um edifício


são em geral colocados no início do processo de projeto. Também são colocadas
as restrições relativas à economia, um aspecto geralmente desconsiderado ou
subestimado pelos arquitetos.

Desconsiderar as definições relativas às limitações econômicas ou


entendê-las como uma restrição à criação é recorrer à exclusão do problema
para buscar uma solução mais simples e fácil. A consideração das questões de
economia, quando se opera com recursos limitados, característica recorrente no
contexto brasileiro, é, antes de tudo, uma premissa que pressupõe a viabilidade da
construção. Sendo assim, ignorar as restrições e limitações de ordem econômica
representa em um contexto de escassez um ato de irresponsabilidade em relação
ao usuário, no caso de uma relação particular entre arquiteto e cliente, ou em
relação à sociedade, no caso em que o cliente se trate de uma instituição pública.
Representa ainda um descompromisso do arquiteto com a realização concreta
de sua obra. A necessidade da atenção à economia remete à questão do decoro,
apontada por Vitruvio: “o decoro é o aspecto correto da obra, que resulta da
perfeita adequação do edifício, no qual não haja nada que não esteja fundado em
alguma razão”. (VITRUVIO, 1955).

35
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ARQUITETURA

Mesmo em situações em que a escassez não é condição para a realização


da arquitetura, o dispêndio excessivo e supérfluo implica em última instância a
inserção direta do trabalho do arquiteto no mundo do consumo desenfreado, a
promover a não preservação dos recursos naturais disponíveis para o homem no
planeta. Como aponta Moneo,

A construção de um edifício requer um empenho enorme e um


grande investimento. Arquitetura em princípio, quase por princípio
econômico, deve ser durável. Os materiais devem assegurar vida longa
aos edifícios. Antes um edifício era construído para durar para sempre
ou, pelo menos, certamente não esperávamos que desaparecesse.
(MONEO, 1985).

Ao se estabelecer um programa, surge a necessidade da determinação


de dimensões dos espaços a fim de acomodar as diversas atividades propostas
para o edifício. Esse dimensionamento se constitui em parte fundamental da
interpretação do programa. Como aponta Le Corbusier, a noção da dimensão
deve ser algo que ultrapassa a abstração da reprodução de padrões métricos
universalmente aceitos, considerando as dimensões e a escala do homem como
referência para a determinação dos espaços:

O metro é apenas uma cifra sem corporeidade [...] As cifras do Modulor


são ‘medidas’, e, por conseguinte, feitos em si que têm corporeidade;
[...] os objetos que se deve construir [...] são, de qualquer modo,
‘continentes do homem’ ou prolongamentos do homem. Para escolher
as melhores medidas vale mais ‘vê-las e apreciá-las com a separação
das mãos’ do que pensá-las somente (isso para as medidas muito
próximas da estatura humana). [...] A arquitetura (e com essa palavra
englobo a quase totalidade dos objetos construídos) deve ser tão carnal
e substancial como espiritual e especulativa. (LE CORBUSIER, 1961).

Para além das questões relativas às proporções da forma, o domínio


efetivo das dimensões permite a atuação ativa do arquiteto sobre a construção
a fim de definir espaços qualitativamente distintos. A definição da ambiência de
um espaço de permanência ou de um percurso e a demarcação de seu caráter
público ou privado são diretamente determinados pelas suas dimensões. Portanto
o dimensionamento é fundamental, em primeira instância, para um domínio das
demandas de espaço a que correspondem as diversas atividades e, em segunda
instância, para a definição de hierarquias e demarcação de diferenciações claras
entre os espaços de naturezas distintas.

Em relação aos usos e atividades demandados em um programa, para


além de um atendimento imediato às questões utilitárias entendidas em um
sentido funcionalista, é possível buscar como parte desta estratégia conceitual a
investigação dos diversos modos de vida dos usuários, conhecidos ou imaginados,
a fim de buscar nesses modos de vida as especificidades que sugiram o espaço
mais apropriável e mais adequado para que estes hábitos tomem lugar. Como
aponta Brandão,

36
TÓPICO 4 | PROGRAMA ARQUITETÔNICO

Os conceitos, como aqueles que elaboramos durante a produção


de um projeto, não surgem do nada, mas da reflexão sobre a nossa
própria experiência dos espaços e daquilo que nos fornece a tradição
que lhes concerne. Assim, [...] cumpre elaborar a reflexão sobre nossa
experiência desses espaços, sobre a imagem, os significados e sentidos
que a tradição nos transmite e que se depositou como repertório da
cultura. (BRANDÃO, 2000).

Essa compreensão da tradição pode aqui ser tomada como uma


interpretação do repertório acumulado da cultura a fim de transformá-lo em
proposições adequadas para o presente, ao invés de reproduzir padrões de
espaço culturalmente desenvolvidos ao longo da história para esta ou aquela
finalidade. Nesse sentido, parece mais fértil, como sugere Valéry, construir o
navio a partir da compreensão das forças que o mar lhe impõe, ou seja, pensar o
espaço fisicamente construído a partir das forças e tensões que as diferenciações
entre os domínios do individual e do coletivo nele determinam. A partir deste
entendimento, parece possível interpretar e interferir nestes diferentes modos de
vida, a partir da reelaboração dos padrões recorrentes na tradição, promovendo
articulações variadas entre as atividades e os domínios territoriais, a fim de
estabelecer no espaço físico continuidades e descontinuidades, integrações,
separações e fragmentações, ora controladas pelas necessárias transições, ora
justapostas em demarcações e rupturas violentas entre os domínios do público
e do privado.

A demarcação de territórios com caracterizações distintas em suas relações


de privacidade evoca a premissa de que a arquitetura se funda na necessidade de
mediação das relações humanas. A partir desse entendimento, é possível superar
uma visão funcionalista, que definiria o espaço como atendimento objetivo a
atividades específicas, passando ao entendimento da questão dos usos e da
ocupação humana do espaço edificado a partir da compreensão das diversas
possibilidades de vivência do edifício no cotidiano. Habitamos simplesmente o
espaço, mesmo quando nele momentaneamente não desenvolvemos qualquer
atividade, ou seja, o habitar não passa pela noção da função ou da utilidade
imediata.

A arquitetura pode surgir do conhecimento e da interpretação dos


condicionantes impostos pela vida cotidiana. Quando entendida assim, resulta
mais circunstancial e menos ideal. Nesse sentido, cada projeto é um ato único,
que deve incorporar as contradições específicas surgidas do embate entre
seus condicionantes. A forma é, portanto, algo que resulta deste embate, e é
mais relevante quando evita os gestos retóricos que procuram, por um lado, a
determinação de uma linguagem a priori e, por outro lado, a caracterização de um
discurso sobre algum dos aspectos envolvidos na sua realização.

37
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ARQUITETURA

A arquitetura pode prescindir do discurso, desvestir as pretensões


excessivas que extrapolam seus fundamentos primeiros e cuidar daquilo que lhe
é mais caro, e tem sido mais abandonado, que é a importância do conhecimento
da construção como o único meio de viabilização do espaço físico destinado à
habitação pelo homem.

FONTE: MACIEL, Carlos Alberto. Arquitetura, projeto e conceito. Disponível em: <http://www.
vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp211.asp>. Acesso em: 10 jan. 2009.

38
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, caro(a) acadêmico(a), você teve oportunidade de estudar
os seguintes conteúdos:

• É importante evidenciar a adequação do edifício às necessidades humanas, o


que deve ser estabelecido pelas exigências do tema, necessidades e aspirações
dos usuários, fatores socioculturais, fatores econômicos e pelas restrições
legais.

• O projeto deve ser limitado pela função, possibilitando a efetiva realização


de uma multiplicidade de atividades, entendendo que os usos mudam e as
construções muitas vezes vão se adaptando às novas exigências.

39
AUTOATIVIDADE

Elabore um programa arquitetônico de uma residência, entrevistando


um colega ou uma pessoa de sua família. Identifique as exigências do tema, as
necessidades e aspirações dos usuários, os fatores socioculturais e econômicos.
Verifique se, na sua cidade, existe o código de zoneamento e o código de obras
e identifique as restrições impostas para os edifícios residenciais.

40
UNIDADE 1
TÓPICO 5

ARQUITETURA E CONTEXTO

1 INTRODUÇÃO
Arquitetura inserida no contexto é aquela que se harmoniza com o meio
em que está inserida. Ao falar de harmonização com o contexto, Colin (2000)
caracteriza o contexto natural e o artificial. O contexto natural é o meio agreste,
em pouco ou nada modificado pela intervenção do homem, e o contexto cultural,
carregado de realizações humanas, intensamente modificado para atender às
condições da vida coletiva.

UNI

Veremos agora como a arquitetura pode se integrar com o seu contexto


natural e cultural.

2 CONTEXTO NATURAL
Para Colin (2000), a relação entre a arquitetura e o meio ambiente natural
pode ocorrer através da contrastação, pela qual o objeto se diferencia no contexto,
e da harmonização, quando a arquitetura participa como coadjuvante no cenário
natural.

A contrastação considera o objeto arquitetônico diferenciado do seu


contexto, afirmando suas qualidades próprias, sem qualquer concessão às formas
naturais, sem buscar uma integração visual, mas aparecendo como um produto
do homem e, por isso mesmo, em oposição ao legado da natureza. Este princípio
corresponde ao projeto iluminista de dominação da natureza pelo homem,
assumido pelo modernismo. (COLIN, 2000).

A harmonização é um conceito mais recente e surge com as poéticas


subjetivistas. O objeto arquitetônico ou qualquer um de seus elementos constitui-
se no resultado de uma leitura, interpretação ou decodificação dos fenômenos
naturais. (COLIN, 2000).

O princípio da harmonização reconhece que a inserção de uma nova


estrutura no tecido urbano deve considerar as preexistências geográficas.

41
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ARQUITETURA

Considera o objeto arquitetônico como parte intrínseca da natureza. Nesta


postura, cidade e natureza não estão em estados opostos, a arquitetura não é
desligada de seu suporte geográfico. Este é um elemento tão importante como os
fatos construídos.

As características naturais preexistentes constituem-se em elementos


determinantes da obra arquitetônica. Integrada à natureza, a arquitetura deve
acompanhar e respeitar suas formas.

O sítio contém já em muitos casos a gênese e o potencial gerador das formas


construídas, pelo apontar de um traçado, pela expressão de um lugar. Rossi (1995)
refere-se ao sítio designando-o pelo locus. Mas o locus não é propriamente o sítio
geográfico. É a relação singular que existe entre certa situação local e as construções
que estão nesse lugar. A escolha do lugar, tanto para uma construção como para
uma cidade, tinha um valor proeminente no mundo clássico; a situação, o sítio,
estava governado pelos genius loci, pela divindade local que presidia a tudo o que
se desenvolvia nesse mesmo lugar.

3 CONTEXTO CULTURAL
A cultura se compõe das atividades realizadas pelo ser humano. O meio
ambiente cultural é aquele culturalmente modificado, embora talvez não exista
algum lugar em nosso planeta que não tenha sido modificado pelo homem. A
cidade é o local em que se tornam mais evidentes os efeitos culturais. A cidade
é repositório da cultura, em que se sobrepõem, em camadas, os produtos das
diversas estruturas e conjunturas sociais que adotaram o seu espaço como palco
de atuação. (COLIN, 2000).

Segundo Rossi (1995), a cidade é, por si mesma, depositária de história


que, como fato material, sua construção ocorreu no tempo e do tempo conserva
os vestígios, ainda que de modo descontínuo. A cidade é, assim, o texto da
história, porque se oferece a nós através dos fatos urbanos determinantes, em que
é preeminente o elemento histórico. Apesar de muitas das antigas cidades serem,
hoje, bem maiores que há anos, e apresentarem estrutura e função diferenciadas
daquelas que lhe originaram, mesmo assim são caracterizadas pelas realizações
do seu passado.

No conceito de arquitetura integrada ao contexto cultural, considera-


se que a inserção de uma nova estrutura na cidade deverá considerar também
as preexistências culturais. Os projetos de arquitetura devem ocorrer em
continuidade com o espaço urbano e arquitetônico preexistente, fortalecendo os
espaços significativos, espaços da cultura e do cotidiano. O objeto arquitetônico
deverá respeitar essa obra da coletividade, reconhecendo as ambiências e os
usos produzidos ao longo do tempo, encarando o cidadão como protagonista da
vida urbana. A arquitetura é um fato cultural e, por isso, deve estar a serviço do
coletivo. A arquitetura tem que ser vista no contexto urbano e não isolado.

42
TÓPICO 5 | ARQUITETURA E CONTEXTO

Entretanto, nossas cidades apresentam muitos problemas relativos à


contextualização, resultado da arquitetura moderna que se estruturou para
atender às questões colocadas pelo desenvolvimento da sociedade, porém não se
preparou para a necessidade de convivência dos novos edifícios com a arquitetura
do passado. Privilegia o edifício isolado, muitas vezes em detrimento do conjunto;
as grandes soluções modernistas excluem as considerações sobre o passado ou
outro contexto qualquer. A arquitetura moderna foi pensada na renovação: seus
grandes momentos são discursos que realçam as próprias qualidades, entre as
quais não se inclui a preocupação pela integridade ou harmonia dos contextos
preexistentes.

Os projetos de renovação envolveram demolições em massa, criando um


vazio entre o novo e o que existe, impedindo um e outro de proporcionar um
ambiente de qualidade.

Esse respeito pelo contexto não corresponde a uma negação do uso de


tecnologias modernas. Ao contrário, elas são utilizadas para ressaltar e otimizar o
valor do contexto. Também não se refere à repetição de elementos arquitetônicos
do passado, mas pela leitura e interpretação desses elementos para reforçar uma
identidade cultural.

43
RESUMO DO TÓPICO 5
Apresentamos, no Tópico 5, a interação da arquitetura com o contexto
natural e cultural. Pontuamos, a seguir, os assuntos tratados neste tópico:

• A arquitetura integrada ao contexto natural considera o objeto arquitetônico


como parte intrínseca da natureza, respeitando e acompanhando as suas
formas. As características naturais preexistentes constituem-se em elementos
determinantes da criação arquitetônica.

• A integração da arquitetura com o contexto cultural reconhece as ambiências


e os usos produzidos pela coletividade ao longo do tempo. Os projetos
de arquitetura devem ocorrer em continuidade com o espaço urbano e
arquitetônico preexistente, fortalecendo os espaços significativos, espaços da
cultura e do cotidiano.

44
AUTOATIVIDADE
Considerando os princípios estudados, analise como uma obra de
arquitetura pode inserir-se em seu contexto natural e cultural.

45
46
UNIDADE 1
TÓPICO 6

ARQUITETURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA

1 INTRODUÇÃO
A arquitetura brasileira passou por uma transformação decisiva no ano
de 1936, especialmente pela vinda do arquiteto franco-suíço Le Corbusier que,
durante a rápida estadia, marcou profundamente os arquitetos que com ele
tiveram oportunidade de trabalhar, repercutindo decisivamente no conjunto da
classe profissional.

A construção do edifício do Ministério da Educação e Saúde, no Rio de


Janeiro, em 1943, foi o marco de um notável movimento que se desenvolveu
desde então em profundidade, comandado pelos arquitetos Lúcio Costa e Oscar
Niemeyer. Entre os anos de 1940 e 1950, consolida-se uma arquitetura local,
com particularidade formal e espacial que assegura a sua expressão original. Os
projetos desenvolvidos pelos arquitetos naquele período influenciam até hoje a
produção arquitetônica brasileira.

UNI

Neste tópico, veremos como ocorreu a formação e a consolidação da


arquitetura moderna no Brasil e quais são os projetos que apresentam maior realização e
destaque na arquitetura nos últimos anos.

2 A FORMAÇÃO DA ARQUITETURA MODERNA NO BRASIL


A seguir, veremos grandes exemplos sobre a formação da arquitetura
moderna no Brasil, como o Ministério da Educação e Saúde no Rio de Janeiro,
o Pavilhão do Brasil na Exposição Internacional de Nova Iorque, o Conjunto da
Pampulha e a Nova Arquitetura Brasileira.

47
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ARQUITETURA

2.1 O MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E SAÚDE NO RIO DE


JANEIRO
O primeiro grande marco da arquitetura moderna no Brasil foi o edifício
do Ministério da Educação e Saúde (hoje Palácio Gustavo Capanema), construído
entre 1937 e 1943, no Rio de Janeiro. O projeto contou com a consultoria de Le
Corbusier que, a convite do Ministro da Educação e Saúde, Gustavo Capanema,
assessorou a equipe de arquitetos brasileiros encarregada do projeto do edifício
do ministério, que teve a participação de Affonso Eduardo Reidy, Jorge Moreira,
Carlos Leão e Ernani Vasconcellos, sob a liderança de Lucio Costa e de Oscar
Niemeyer.

A experiência transmitida por Le Corbusier nas seis semanas de trabalho


intensivo desenvolvido com a equipe influenciou profundamente os jovens
brasileiros que dela faziam parte, modificando-os profundamente com esse breve
contato.

Entretanto, segundo Bruand (1997), apesar da obra trazer marca profunda


de Le Corbusier, a personalidade dos arquitetos brasileiros se fez presente de
maneira intensa no campo estético. As características presentes no projeto,
dinamismo, leveza e riqueza plástica, são contribuições indiscutíveis a crédito
dos arquitetos brasileiros.

O edifício do Ministério da Educação e Saúde foi admirado universalmente,


publicado em todas as grandes revistas de arquitetura. É considerado, até hoje,
um dos paradigmas da arquitetura moderna mundial, precursor dos grandes
edifícios públicos modernos construídos nos Estados Unidos e na Europa.

2.2 O PAVILHÃO DO BRASIL NA EXPOSIÇÃO


INTERNACIONAL DE NOVA IORQUE
O segundo projeto que firmou a arquitetura moderna brasileira foi o
Pavilhão do Brasil na Exposição Internacional de Nova Iorque, em 1939-40.
Buscando corresponder ao programa da Exposição de Nova Iorque, que pretendia
oferecer uma visão do “mundo de amanhã”, o projeto deveria apresentar um
caráter nacional, não como imitação do passado, mas como pesquisa de “uma
forma arquitetônica que pudesse traduzir a expressão do meio brasileiro”.

O Pavilhão Brasileiro, projetado por Lucio Costa e Oscar Niemeyer,


antecipou futuras tendências, com a liberdade de sua rampa, flexibilidade de
volumes, proteção da insolação com elementos fixos, uso da curva como elemento
expressivo e indistinção de espaço interno e externo. Começou neste projeto o
estabelecimento de uma linguagem brasileira própria, independente e autônoma
da matriz europeia. (CAVALCANTI; LAGO, 2005).

48
TÓPICO 6 | ARQUITETURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA

2.3 O CONJUNTO DA PAMPULHA


O conjunto da Pampulha, implantado entre 1940 e 1944, próximo a Belo
Horizonte, representa o terceiro momento decisivo para a consolidação da
arquitetura moderna brasileira.

O projeto idealizado pelo prefeito da capital de Minas Gerais, Juscelino


Kubitschek, foi destinado ao arquiteto Oscar Niemeyer, que projetou um conjunto
de edifícios, em torno do lago artificial da Pampulha, destinados a configurar o
centro de uma futura área de lazer. O programa previa cinco edifícios: cassino, iate
clube, salão de danças popular, igreja e hotel para férias. Entretanto, esse último
não foi construído durante a administração de Kubitschek, sendo abandonado
pelo seu sucessor.

Segundo Bruand (1997), o conjunto da Pampulha é uma demonstração


notável de imensa gama de possibilidades que o concreto armado oferece.

Os jogos de volumes variados do cassino, a criação ou adoção de


formas novas, ao mesmo tempo simples e compostas, para o Iate Clube
e a Igreja, a aparente liberdade dada à inspiração do salão de danças
popular abriram bruscamente novos horizontes, rompendo o rígido
vocabulário racionalista e introduzindo na arquitetura a variedade e o
lirismo que tinham sido banidos.

FIGURA 18 – MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E


SAÚDE, RIO DE JANEIRO
FIGURA 19 – PAVILHÃO DO BRASIL, NOVA
YORK, 1938. ARQUITETOS LUCIO COSTA E
OSCAR NIEMEYER

FONTE: Disponível em: <http//www.vitruvius.


FONTE: Disponível em: <http//www.
com.br>. Acesso em: 10 jan. 2009.
vitruvius.com.br>. Acesso em: 10 jan.
2009.

49
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ARQUITETURA

FIGURA 20 – CASSINO DA PAMPULHA, 1942, FIGURA 21 – IGREJA DE SÃO FRANCISCO,


OSCAR NIEMEYER PAMPULHA, 1942, OSCAR NIEMEYER

FONTE: Disponível em: <http//www.vitruvius. FONTE: Disponível em: <http//www.vitruvius.


com.br>. Acesso em: 10 jan. 2009. com.br>. Acesso em: 10 jan. 2009.

FIGURA 22 – CASA DO BAILE DA PAMPULHA, FIGURA 23 – IATE CLUBE DA PAMPULHA,


1942, OSCAR NIEMEYER 1942, OSCAR NIEMEYER

FONTE: Disponível em: <http//www.vitru- FONTE: Disponível em: <http//www.vitruvius.


vius.com.br>. Acesso em: 10 jan. 2009. com.br>. Acesso em: 10 jan. 2009.

2.4 A NOVA ARQUITETURA BRASILEIRA


A formação da arquitetura moderna brasileira foi favorecida pelas
autoridades federais ou municipais ou por organizações da sociedade civil
pública, que propiciaram oportunidades significativas para os seguidores da
nova arquitetura afirmar-se.

50
TÓPICO 6 | ARQUITETURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA

O caráter público das edificações explica certas características dessa


arquitetura. A primeira é a monumentalidade. Segundo Bruand (1997), os edifícios
oficiais exigiam grandeza e distinção, para que cumprissem perfeitamente o seu
papel. Geralmente isolados, impunham-se no contexto urbanístico ou natural
em que se apresentavam; possuíam localização privilegiada e ainda continham
sentido publicitário, já que precisavam proclamar a glória do político responsável
pela iniciativa. Caracteriza-se ainda pela riqueza, tanto formal, quanto material,
e por um efeito de síntese das artes, possível pelo fato de que nem sempre era
necessário ponderar os custos.

Essas características influenciaram o caráter formal desses edifícios,


especialmente em seu aspecto externo. Diversas críticas foram realizadas ao
formalismo brasileiro, por certos críticos europeus defensores de uma arquitetura
essencialmente funcionalista. Entretanto, apesar das restrições à forma brasileira
de interpretar a linguagem moderna, uma nova geração de arquitetos liderada por
Lucio Costa e Oscar Niemeyer expandiu as fronteiras da expressão da arquitetura
do século XX, muito além do que conseguiu a maioria dos arquitetos europeus na
década de 1940.

NOTA

O livro Arquitetura Contemporânea no Brasil, de Yves Brund, é uma sugestão


de leitura para aprofundar os conhecimentos sobre o tema que estamos estudando.

3 A MATURIDADE DA ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA


Por volta de 1944-1945, os jovens arquitetos que nos anos anteriores
começaram a se destacar afirmaram-se integralmente, influenciando arquitetos
recém-formados que, aos poucos, impunham seus talentos. A segunda fase da
arquitetura moderna brasileira não marca uma ruptura, mas apenas uma diferença
de ritmo, marcada por realizações cada vez mais numerosas e significativas
que se enquadram na mesma linha das primeiras experiências, assegurando ao
conjunto dessa arquitetura uma unidade global que torna possível falar de um
estilo brasileiro.

Por outro lado, não se pode atribuir a essa arquitetura um caráter


homogêneo, pois a diversificação ocorreu na medida em que se afirmava a
personalidade de arquitetos com pretensões distintas. Lucio Costa e Oscar
Niemeyer lideraram esse processo, mas toda uma geração de arquitetos com
expressões particulares aqui atuava. Os Irmãos Marcelo e Milton. Roberto, Affonso
Reidy, Jorge Machado Moreira, Rino Levi, Vilanova Artigas, Oswaldo Bratke,
Sérgio Bernardes, Paulo Mendes da Rocha e Lina Bardi criaram a diversidade da
arquitetura brasileira impondo-se em escala mundial.
51
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ARQUITETURA

4 ARQUITETURA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL


Após duas décadas de regime militar, impulsionada pelo forte
desenvolvimento econômico e social alcançado pelo país ao longo de processo de
instauração da democracia nos anos oitenta, a arquitetura brasileira retoma o seu
caráter inovador.

A arquitetura que se evidencia a partir de 1990, no Brasil, apresenta uma


clara influência dos projetos modernistas brasileiros dos anos 1940 e 1950. É
perceptível, nessa produção, a descendência a posturas que tiveram seus edifícios
paradigmáticos lançados pela primeira geração de modernistas brasileiros, como
se os arquitetos contemporâneos utilizassem o precioso legado modernista para
voltar a atingir uma expressão inconfundivelmente brasileira, cosmopolita e
internacional. (CAVALCANTI; LAGO, 2005).

Apesar de um processo de globalização que viu o aparecimento de


arquiteturas fortemente influenciadas pelo pós-modernismo internacional e o
retorno de estilos como o neoclássico, houve um processo de reelaboração de
modelos e conceitos modernistas. (PADOVANO, 2009). O moderno serve de
referência para que se possa voltar a avançar na linguagem arquitetônica.

Construídos hoje com o fraco incentivo do Estado, os melhores exemplos


de arquitetura contemporânea brasileira resultam de investimentos feitos por
clientes particulares. Entre os temas que apresentam maior realização e destaque
na arquitetura nos últimos anos, pode-se relacionar: reciclagem de edifícios de
interesse histórico; edifícios residenciais; edifícios comerciais; edifícios industriais;
equipamentos culturais; edifícios educacionais; edifícios hospitalares; terminais
de transporte; intervenções urbanas.

4.1 RECICLAGEM DE EDIFÍCIOS DE INTERESSE HISTÓRICO


Nos últimos anos, um número expressivo de experiências vêm sendo
realizadas no Brasil na área de conservação do patrimônio histórico através
da destinação de novos usos que viabilizem a conservação e sustentabilidade
dos antigos edifícios, muitas vezes decorrendo de transformações espaciais e
modificações parciais de sua arquitetura original. (PADOVANO, 2009).

Destacam-se, nesta tipologia de projeto, as obras do escritório Brasil


Arquitetura, dos arquitetos Marcelo Ferraz e Francisco Fanucci. O projeto do
Centro Cultural KKKK (1999/2002), na cidade de Registro/SP, foi realizado no
conjunto da Kaigai Kogyo Kabushiki Kaisha (KKKK, a Companhia Ultramarina de
Desenvolvimento), formado por quatro galpões de linhas fabris e um volume de
três pavimentos. No projeto, os profissionais priorizaram a adaptação do conjunto
ao novo programa, preservando, porém, muitas das características originais. Ao
mesmo tempo, novos componentes, como o teatro de 250 lugares e a caixa de
elevador, foram acrescidos e claramente identificados, destacando o antigo do
contemporâneo.
52
TÓPICO 6 | ARQUITETURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA

No Museu Rodin Bahia (2002/06), os arquitetos Marcelo Ferraz e


Francisco Fanucci realizaram o projeto de restauração de um palacete de 1912,
desenhado pelo arquiteto italiano Baptista Rossi, um dos últimos exemplares do
ecletismo na capital baiana. Como os pouco mais de 1,5 mil metros quadrados da
casa eram insuficientes para abrigar o programa do museu, foi proposto um novo
volume, com área edificada semelhante, implantado de forma quase simétrica à
construção existente. A proposta dos arquitetos reside na relação entre os dois
edifícios, e não na leitura isolada de cada um.

É também de autoria do escritório Brasil Arquitetura o projeto do Museu


do Pão, em Ilópolis/RS (2005/07). Restaurado, o Moinho Colognese ganhou dois
novos volumes, perpendiculares entre si, que possuem área semelhante, mas uso
e materialidade diferentes. Além da articulação formal dos anexos entre si, é
interessante o diálogo que ambos realizam com o volume existente restaurado e
com o entorno.

Outro exemplo significativo dessa linha de trabalho é a intervenção do


arquiteto Paulo Mendes da Rocha e equipe no antigo edifício do Liceu de Artes e
Ofícios - um projeto do escritório de Ramos de Azevedo construído entre 1897 e
1900 -, e sua refuncionalização para um museu artístico - a Pinacoteca do Estado
(1993/98), em São Paulo/SP. O projeto transformou o antigo edifício neoclássico
(em ruína de tijolos) num dos museus mais modernos do país, através de um
deslocamento do eixo principal do edifício e inserção de vigas, peitoris, elevadores
e outros elementos novos em aço pintados na cor marrom-café. Essa obra deu
ao arquiteto o Prêmio Mies Van der Rohe, da Fundação homônima, com sede em
Barcelona, para a melhor obra na América Latina, em 2000.

O projeto de intervenção na Estação da Luz (2000/06), erguida em 1905 em


São Paulo, para criação do Museu da Língua Portuguesa, também é do arquiteto
Paulo Mendes da Rocha e de seu filho Pedro. No projeto, os andares superiores
da estação se abriram à visitação pública, no espaço expositivo multimídia e nos
novos usos que se incorporaram ao programa como o auditório, o restaurante e
a Praça da Língua.

Também apresenta relevância o projeto da Sala São Paulo, uma sala


para concertos para 1.500 pessoas, instalada em um pátio interno da Estação
Júlio Prestes, de autoria do arquiteto acadêmico Cristiano Stockler das Neves,
no centro de São Paulo. A obra de reciclagem é de autoria do arquiteto paulista
Nelson Dupré, que recebeu vários prêmios no Brasil e no exterior pela excelência
de soluções arquitetônicas e acústicas adotadas.

A área central de Porto Alegre recebeu diversas obras de reciclagem no


final do século XX e início do século XXI. Entre elas a Casa de Cultura Mário
Quintana (1987/90), de Flávio Kiefer e Joel Gorski e o Santander Cultural (2001),
de Roberto Loeb.

53
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ARQUITETURA

FIGURA 24 – CENTRO CULTURA KKKK, REGIS- FIGURA 25 – MUSEU RODIN, SALVADOR/BA,


TRO/SP, 2002 2006

FONTE: Disponível em: <http//www.ar-


coweb.com.br>. Acesso em: 10 jan. 2009. FONTE: Disponível em: <http//www.ar-
coweb.com.br>. Acesso em: 10 jan. 2009.

FIGURA 26 – MUSEU DO PÃO, ILÓPOLIS/RS FIGURA 27 – SALA SÃO PAULO, SÃO PAULO/SP

FONTE: Disponível em: <http//www.ar- FONTE: Disponível em: <http//www.ar-


coweb.com.br>. Acesso em: 10 jan. 2009. coweb.com.br>. Acesso em: 10 jan. 2009.

4.2 EDIFÍCIOS RESIDENCIAIS


Os projetos residenciais constituem um amplo campo para a realização
da arquitetura no Brasil, possibilitando interessantes inovações. As residências
unifamiliares têm oferecido grande variedade de soluções para os arquitetos
brasileiros, já que seu custo tem sido mais acessível para um número maior de
clientes.

Entretanto, Segre (2003) descreve que grande parte das luxuosas mansões
é projetada com valores estéticos alheios aos contemporâneos, combinando
elementos formais clássicos com características kitsch, que buscam principalmente
a representação do status econômico do morador. Por outro lado, encontram-se
algumas obras com valores estéticos que identificam a vanguarda arquitetônica
brasileira e demonstram a sensibilidade de determinada camada da sociedade
com a beleza no espaço da vida privada.

54
TÓPICO 6 | ARQUITETURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA

Destacam-se, neste setor, os projetos de arquitetos de sucessivas gerações:


Paulo Mendes da Rocha, Ruy Ohtake, Marcos Acayaba, Isay Weinfeld, Carlos
Bratke, Eduardo de Almeida, Luz Eduardo Índio da Costa, Gustavo Penna,
Thiago Bernardes e Paulo Jacobsen, Mario Biselli e Artur Katchborian, Marcio
Kogan, Brasil Arquitetura, UNA Arquitetos, Piratininga Arquitetos Associados,
entre outros.

Os edifícios residenciais multifamiliares têm apresentado várias tipologias,


desde os mais tradicionais edifícios de apartamentos até conjuntos de casas
geminadas em condomínios fechados. Destacam-se os projetos dos escritórios:
Rocco e Arquitetos Associados, do arquiteto Luís Fernando Rocco e Fernando
Vidal; Aflalo & Gasperini Arquitetos, dos arquitetos Roberto Aflalo Filho, Gian
Carlo Gasperini e Luiz Felipe Aflalo Herman; e FGC Arquitetura, comandado
pelos arquitetos Elizabeth Goldfarb e Wilson Marchi Júnior.

Em relação à habitação social, pouco tem se desenvolvido na busca de


eficiência funcional e econômica, aliada aos valores estéticos e ainda acessíveis à
população de baixa renda. Em 1993, o arquiteto mineiro João Diniz propôs um
conjunto habitacional para o Residencial Gameleira, em Belo Horizonte, com um
interessante jogo de volumes e planos e utilização de cores para personalizar os
diversos blocos de apartamentos.

FIGURA 28 – RESIDENCIAL GAMELEIRA, FIGURA 29 – RESIDÊNCIA, JOANÓPOLIS/SP


BELO HORIZONTE/BH, JOÃO DINIZ

FONTE: Disponível em: <http//www.ar-


coweb.com.br>. Acesso em: 10 jan. 2009

FIGURA 30 – EDIFÍCIO RESIDENCIAL, SÃO


PAULO/SP, ROCCO ASSOCIADOS

FONTE: Disponível em: <http//www.arcoweb.


FONTE: Disponível em: <http//www.ar-
com.br>. Acesso em : 10 jan. 2009.
coweb.com.br>. Acesso em: 10 jan. 2009

55
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ARQUITETURA

NOTA

Para aprofundar os seus conhecimentos sobre a arquitetura de edifícios


residenciais no Brasil, sugerimos a leitura do livro de Roberto Segre, Casas Brasileiras, Rio de
Janeiro, Editora Viana & Mosley, 2006.

4.3 EDIFÍCIOS COMERCIAIS


Os edifícios comerciais construídos no Brasil têm, em sua maioria,
soluções bastante convencionais, seguindo um perfil da economia internacional,
utilizando-se de revestimentos em alumínio e fachadas de vidro. Poucos edifícios
são projetados com uma arquitetura adequada ao país.

Uma notável exceção é o pequeno edifício de escritórios de advocacia em


Curitiba/PR (1995/97), dos arquitetos paulistas Mario Biselli e Artur Katchborian,
que mostra a nova face da arquitetura brasileira. O More Business Center possui
uma arquitetura ao mesmo tempo simples e rica em detalhes, que demonstra
qualidade espacial, conforto ambiental e relação com o entorno.

Em Salvador, as obras de Fernando Peixoto, como o Centro Empresarial


Previnor (1991/93), demonstram a diversidade da arquitetura brasileira, através
das torres de volumes prismáticos, revestidas de cerâmica, compondo um
grafismo próprio.

O escritório Königsberger Vannucchi Arquitetos, de Jorge Königsberger


e Gianfranco Vannucchi tem uma trajetória ligada principalmente aos edifícios
de escritórios. O Brascan Century Plaza, na zona sul de São Paulo, formado por
duas torres de flats e uma de escritórios, é organizado ao redor de uma praça com
um lado aberto para a rua de acesso, criando uma nova centralidade ao bairro
do Itaim Bibi, propiciando um espaço de lazer e serviços com qualidade urbana,
comodidade, conveniência e segurança.

Também é responsável pela produção dos mais relevantes edifícios


comerciais, o escritório Aflalo & Gasperini Arquitetos, de Roberto Aflalo Filho,
Gian Carlo Gasperini e Luiz Felipe Aflalo Herman, que se destaca pela qualidade
técnica de seus trabalhos. As torres dos condomínios Rochaverá e Eldorado,
em São Paulo, e Ventura, no Rio de Janeiro, estão entre as primeiras edificações
corporativas de grande porte pautadas pelos conceitos de sustentabilidade.

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TÓPICO 6 | ARQUITETURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA

FIGURA 31 – BRASCAN CEN-


TURY PLAZA, SÃO PAULO/SP,
KÖNIGSBERGER VANNUCCHI FIGURA 32 – ROCHAVERÁ CORPORATE TOWERS, SÃO
ARQUITETOS PAULO/SP, AFLALO & GASPERINI ARQUITETOS

FONTE: Disponível em: FONTE: Disponível em: <http//www.arcoweb.com.br>.


<http//www.arcoweb.com.br>. Acesso em: 10 jan. 2009.
Acesso em: 10 jan. 2009.

4.4 EDIFÍCIOS INDUSTRIAIS


A necessidade de modernização do parque industrial brasileiro trouxe
várias oportunidades para os arquitetos locais. Parte da indústria nacional seguiu
a transformação ocorrida nos parques industriais dos países desenvolvidos,
humanizando os locais de trabalho e incluindo preocupações ecológicas no
processo de produção. Uma mudança clara nos projetos é a separação entre a
área administrativa e a de produção.

Um dos setores industriais que obteve transformação


através de bons projetos de arquitetura foi o de parques gráficos.
O primeiro a se modernizar foi o centro gráfico da Folha de
São Paulo (1992/95), em Barueri, na Grande São Paulo, com projeto do arquiteto
Paulus Magnus, através de uma linguagem racionalista aliada ao uso de novas
tecnologias construtivas. O Diário Popular construiu, também em São Paulo,
novas instalações gráficas, com projeto de Valente, Valente. No Rio de Janeiro,
o escritório Mindlin e Associados projetou o parque gráfico de O Dia. O edifício
do parque gráfico do jornal Correio da Paraíba, do arquiteto José Maciel Neto,
destaca-se pela interessante resolução plástica da fachada principal.

O escritório Sidônio Porto Arquitetos Associados recebeu a premiação


Asbea 2002 (Associação Brasileira de Escritórios de Arquitetura), na categoria
edifícios industriais, com dois trabalhos. Um deles é o da Flextronics (1999/2001),
uma empresa multinacional, montadora de equipamentos eletrônicos,
implantada em Sorocaba/SP, no qual alia o domínio formal e tecnológico para
criar uma arquitetura que expressa os próprios processos produtivos da empresa.
O outro trabalho é o projeto da Ipel (2000/01), empresa de embalagens e pincéis

57
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ARQUITETURA

para produtos de beleza localizada em Cajamar, na Grande São Paulo. Ambas as


construções utilizam estrutura metálica na cobertura, luz zenital para iluminar o
interior dos espaços de produção, caixilhos em alumínio pintados de branco com
vidros laminados e fechamentos pré-fabricados de concreto.

Para Padovano (2009), a obra de maior destaque no campo industrial nos


últimos anos é a do Novo Espaço Natura (1996/2001), indústria de cosméticos,
na cidade de Cajamar/SP, com projeto do arquiteto paulista Roberto Loeb, que
obteve um conjunto de grande coerência formal, funcionalidade e força imagética,
utilizando aço e concreto de forma ousada e cuidadosamente implantado no
terreno.

FIGURA 33 – CENTRO GRÁFICO DA FOLHA FIGURA 34 – FÁBRICA DE COSMÉTICOS NATURA,


DE S.PAULO, BARUERI/SP, PAULUS MAGNUS CAJAMAR/SP, ROBERTO LOEB E ASSSOCIADOS

FONTE: Disponível em: <http//www.ar-


FONTE: Disponível em: <http//www.ar- coweb.com.br>. Acesso em: 10 jan. 2009.
coweb.com.br>. Acesso em: 10 jan. 2009.

4.5 EQUIPAMENTOS CULTURAIS


Nos últimos anos, as atividades culturais passaram a ter significância
nas cidades brasileiras, privilegiando o desenvolvimento de uma arquitetura
voltada para os projetos de teatros, centros culturais e museus. A participação da
iniciativa privada foi relevante no financiamento desses espaços para a cultura,
que se implantaram também em pequenas e médias cidades.

O arquiteto Oscar Niemeyer é responsável pelo projeto de museus que


causam impacto na paisagem como o Museu de Arte Contemporânea - MAC
(1996), em Niterói/RJ, em formato de cálice que se destaca na baía de Guanabara,
contrastando com o céu e a água; o Museu Oscar Niemeyer - MON (2002), o olho,
em Curitiba/PR; e mais recentemente o Museu Nacional Honestino Guimarães
(2006), que integra o complexo cultural do eixo monumental em Brasília/DF,
através de uma cúpula com aberturas pontuadas por rampas.

Também se destaca na paisagem, às margens do rio Guaíba, em Porto


Alegre, o edifício-sede da Fundação Iberê Camargo, do arquiteto Álvaro Siza.
Concluído em 2008, a obra em concreto branco é um marco para a arquitetura
brasileira. Ainda em projeto, ganhou em 2002 o Leão de Ouro, prêmio máximo

58
TÓPICO 6 | ARQUITETURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA

da Bienal de Arquitetura de Veneza, e foi pauta de inúmeras publicações


especializadas antes mesmo de ficar pronto.

De outro lado, o arquiteto Paulo Mendes da Rocha opta pela neutralidade


minimalista no Museu Brasileiro da Escultura - Mube (1995), em São Paulo, ao
criar uma praça coberta por uma laje de concreto estendida, soterrando as funções
principais. Marcio Kogan, no museu de Microbiologia (2002), em São Paulo, torna
o edifício quase que imaterial, quando envolve uma estrutura preexistente com
um delicado muxarabi de madeira.

Nos espaços destinados a espetáculos, sobressaem-se os projetos de Oscar


Niemeyer para o Teatro de Araras/SP (1990/91) e de Paulo Zimbres para o Teatro
Unimep (1996/98), em Piracicaba/SP. Ambos localizados em cidades do interior
paulista, possuem planta circular e duas salas de espetáculos.

Em São Paulo, o Teatro Alfa Real (1996/98), da AIC Arquitetura, é um


luxuoso empreendimento com capacidade para 1.200 espectadores, e o Credicard
Hall (1996/99), de Aflalo & Gasperini, abriga até 7.500 pessoas em sua planta em
forma de um quarto de circunferência.

Em Niterói/RJ, o Teatro Popular faz parte do conjunto de obras planejadas


para o Caminho Niemeyer. Através de fachada dupla, com painéis de vidro e
brises metálicos, é possível apreciar o mar da baía de Guanabara.

Oscar Niemeyer destaca-se também nos projetos de centros culturais. Na


capital de Goiás, o Centro Cultural Oscar Niemeyer (1999/2006) é um amplo
conjunto voltado à arte, integrado por quatro volumes com formas e usos
distintos, dispostos sobre uma esplanada retangular.

Em Ipatinga/MG, os jovens arquitetos Gustavo Ribeiro, André Abreu e


Anna Ávila projetaram um centro cultural da empresa USIMINAS (1997/98), em
que o formato do terreno conduziu a um partido curvilíneo e o entorno industrial
orientou o edifício para um pátio interno.

Em Fortaleza, o Dragão do Mar (1994/99), de Delberg Ponce de Leon e


Fausto Nilo, constitui um grande centro cultural em que os diversos edifícios
- museu, teatro, planetário, cinema e auditório - ocupam duas quadras e são
interligadas por uma grande passarela metálica.

O Complexo Múltiplo Uso Ohtake Cultural (1995/2004), em São Paulo/


SP, é um marco urbano para a cidade, que destoa na paisagem, pelo seu porte,
pela forma e pelo uso. Desenhado por Ruy Ohtake, é composto por duas torres
de escritórios e um espaço cultural que agrega salas de exposições e de reuniões,
ateliês, livraria, teatro e auditório.

59
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ARQUITETURA

FIGURA 35 – MUSEU OSCAR NIEMEYER - FIGURA 36 – TEATRO DA UNIMEP, PIRACICA-


MON, CURITIBA /PR, OSCAR NIEMEYER BA/SP, PAULO ZIMBRES

FONTE: Disponível em: <http//www.ar- FONTE: Disponível em: <http//www.ar-


coweb.com.br>. Acesso em: 10 jan. 2009. coweb.com.br>. Acesso em: 10 jan. 2009.

FIGURA 37 – CENTRO CULTURAL OSCAR NIE- FIGURA 38 – COMPLEXO MÚLTIPLO USO OH-
MEYER, GOIÁS\GO, OSCAR NIEMEYER TAKE CULTURAL, SÃO PAULO/SP, RUY OHTAKE

FONTE: Disponível em: <http//www.ar-


coweb.com.br>. Acesso em: 10 jan. 2009.
FONTE: Disponível em: <http//www.arcoweb.
com.br>. Acesso em: 10 jan. 2009.

4.6 EQUIPAMENTOS DE ESPORTE E LAZER


Nos últimos anos, poucos foram os investimentos para a construção
de equipamentos de esporte e lazer. Neste sentido, apresentam importância
as realizações do Serviço Social do Comércio (SESC), que construiu inúmeras
unidades em várias regiões do Brasil.

O mais significativo complexo implantado nos últimos anos é o Sesc


Nova Iguaçu (1985/92), no Rio de Janeiro, que foi reconhecido nacional e
internacionalmente, selecionado como finalista no I Prêmio Mies van der Rohe
para a América Latina. O projeto dos arquitetos Hector Vigliecca e Bruno
Padovano é composto por quatro edifícios: ginásio poliesportivo, teatro com
quatrocentos lugares, restaurante e um volume que abriga creche, administração
e serviço médico. O projeto integra linguagens plásticas, tecnologias e materiais,
constituindo um dos maiores representantes da arquitetura produzida na metade
da década de 1980. O complexo se integra com o entorno conformando uma
espécie de espaço público com praças e vias de circulação de pedestres.

60
TÓPICO 6 | ARQUITETURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA

Ainda no Rio de Janeiro, destaca-se a construção do Sesc São Gonçalo


(1991/98), de Fabiana Izaga e Eduardo Horta. Em São Paulo, o Sesc Itaquera
(1985/92), projetado por Eduardo de Castro Mello e Cláudio Cianciarullo, é
composto por nove edifícios térreos dispostos em patamares. As edificações são
contornadas por uma via perimetral que proporciona o acesso a cada uma delas.
No Sesc Vila Mariana (1988/97), Jerônimo Bonilha Esteves adotou um partido
verticalizado, no qual duas torres de concreto de cinquenta metros de altura
possuem a mesma escala dos edifícios residenciais do entorno. O Sesc de Santo
André (2002), na região do ABC, na Grande São Paulo, de Tito Lívio Frascino, é
um exemplo de arquitetura contemporânea, pela presença de soluções high-tech,
como na cobertura das quadras poliesportivas.

FIGURA 39 – SESC NOVA IGUAÇU (1985/92), NOVA IGUAÇU/RJ, HECTOR


VIGLIECCA E BRUNO PADOVANO

FONTE: Disponível em: <http//www.arcoweb.com.br>. Acesso em: 10 jan. 2009.

4.7 EDIFÍCIOS EDUCACIONAIS


Poucos investimentos foram realizados na construção de escolas nos
últimos anos, resultando, na maioria das vezes, na baixa qualidade arquitetônica
e ambiental desses espaços. A maior parte das propostas que se sobressaem pela
qualidade dos projetos são oriundas do setor privado.

No setor público, evidenciam-se as escolas construídas pela prefeitura


de Porto Alegre, baseadas nos métodos de ensino construtivista de Jean Piaget.
Os projetos foram desenvolvidos pelo arquiteto Flávio Kiefer, que desenvolveu
arquiteturas marcadas por pátios internos, texturas e delicada leitura urbana.
Entre esses projetos, está a Escola Infantil Santa Rosa (1992/93).

No setor privado, destacam-se as escolas construídas pela Fundação


Bradesco, projetadas por Luiz Paulo Conde. Entre os edifícios escolares
construídos pelo Senac, ressalta-se o de São José dos Campos (1988/92), da
Central de Projetos. Também apresenta importância o projeto para o Instituto
Santa Úrsula, de Siegbert Zanettini, composto por oito edificações em forma de
pavilhão, marcadas por arcadas de concreto e telhados em duas águas.

61
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ARQUITETURA

No ensino superior, tem-se vivido um forte processo de diminuição dos


investimentos por parte do setor público, com o aparecimento de várias obras
importantes, oriundas de investimentos privados. Há, no entanto, bons exemplos
de edifícios educacionais que foram realizados nos últimos anos, através de
investimentos públicos na área educacional.

A Universidade Livre do Meio Ambiente - Ulma (1992), do arquiteto


Domingos Bongestabs, está instalada em uma pedreira desativada em Curitiba,
utilizando madeiras oriundas de reflorestamento.

O edifício do Instituto Rio Branco, que forma os diplomatas brasileiros,


foi projetado pelo arquiteto Luís Antônio Reis, que criou dois volumes, ocupados
pelo auditório e a área acadêmica.

Para a Universidade Federal de Minas Gerais, o arquiteto Gustavo Penna


idealizou a Escola Guinard de Artes Públicas, cujo edifício é composto por linhas
curvas que acompanham a geometria da rua e estabelece um interessante jogo
volumétrico com o entorno urbano.

As unidades Umuarama e Santa Mônica da Universidade Federal de


Uberlândia foram projetadas pelos arquitetos Paulo Zimbres e Luís Antônio Reis, que
partiram da valorização da biblioteca dentro da universidade, adotando o mesmo
partido para os dois projetos. Os edifícios sobre pilotis possuem plantas quadradas e
interessante fechamento com elementos vazados.

No setor privado, destaca-se o novo campus da UniABC, em Santo André/


SP, do arquiteto Affonso Risi Júnior, composto por diversos blocos de instalações
universitárias, articulados ao longo das duas laterais do terreno, resultando em
uma interessante inserção urbana. Também são referenciais as obras de Ricardo
Bandeira para a Uniso, em Sorocaba/SP, e do escritório Brasil Arquitetura para
a Esan, em São Paulo/SP, em que dois volumes de concreto interligados por
rampas criam uma interessante relação com o entorno. Em Curitiba, o Centro
Universitário Positivo (UnicenP), projetado pelo arquiteto Manoel Coelho,
impressiona pela qualidade construtiva e espacial das edificações.

FIGURA 41 – CENTRO UNIVERSITÁRIO


FIGURA 40 – ESCOLA INFANTIL SANTA POSITIVO (UNICENP), CURITIBA/PR, MA-
ROSA, PORTO ALEGRE/RS, FLÁVIO KIEFER NOEL COELHO

FONTE: Disponível em: <http//www.ar- FONTE: Disponível em: <http//www.ar-


coweb.com.br>. Acesso em: 10 jan. 2009. coweb.com.br>. Acesso em 10 jan. 2009.
62
TÓPICO 6 | ARQUITETURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA

FIGURA 42 – UNIABC, SANTO ANDRÉ/ FIGURA 43 – UNIVERSIDADE LIVRE DO MEIO AM-


SP, AFFONSO RISI JR. BIENTE, CURITIBA/PR, DOMINGOS BONGESTABS.

FONTE: Disponível em: <http//www.ar-


coweb.com.br>. Acesso em: 10 jan. 2009.

FONTE: Disponível em: <http//www.ar-


coweb.com.br>. Acesso em: 10 jan. 2009.

4.8 EDIFÍCIOS HOSPITALARES


A arquitetura hospitalar é uma área em que atuam escritórios
especializados, como Bross, Breitman, Karman, Miquelin, Pompeu e Zanettini.
Mas uma das principais realizações nesse setor no país é, sem dúvida o Hospital
Sarah Kubitscheck, do arquiteto baiano João Filgueiras Lima, o Lelé, no qual
propõe um sistema de aeração dos ambientes que permite condições ideais
de assepsia e eliminação da incidência de infecções hospitalares. A obra do
arquiteto utiliza sistemas de construção pré-fabricada, com soluções tecnológicas
inovadoras. O Hospital do Aparelho Locomotor Sarah Kubitschek, em Salvador
(1990/94), é, ao mesmo tempo, o protótipo e a obra-prima de uma série de unidades
da mesma rede desenvolvidas por Lelé.

Destacam-se também as pequenas clínicas de psicanálise (1995/99) e


odontológica (1998/2000), em Orlândia/SP, dos arquitetos paulistas Angelo Bucci,
Fernando de Mello Franco e Milton Braga, do escritório MMBB Arquitetos. Devido
às suas linhas racionalistas, controle da insolação e grande rigor formal e construtivo
do conjunto, a clínica odontológica foi selecionada em 2000 pela Fundação Mies
van der Rohe, de Barcelona, como uma das melhores obras na América Latina.

FIGURA 44 – HOSPITAL DO APARELHO LOCOMOTOR SARAH KU-


BITSCHEK, SALVADOR/BA, JOÃO FILGUEIRAS LIMA

FONTE: Disponível em: <http//www.arcoweb.com.br>. Acesso em:


10 jan. 2009.
63
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ARQUITETURA

4.9 TERMINAIS DE TRANSPORTE


Importantes obras de terminais para aeroportos e sistemas de transporte
metropolitano (ônibus e metrô) foram realizadas nos últimos anos, na tentativa
de acompanhar o aumento de tráfego aéreo e viário no país. Os projetos nesse
setor têm demonstrado domínio tecnológico e ousadias espaciais.

O aumento significativo do tráfego aéreo brasileiro levou à ampliação


de grande parte dos terminais, como os de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília,
Fortaleza, Natal, Belém e Maceió. O arquiteto Sérgio Parada é responsável pela
ampliação dos terminais aeroportuários de Brasília (1990/94), Natal (1998/2000)
e Belém (1997/99). Em Brasília, além de aumentar o edifício existente, o projeto
criou dois satélites com planta circular; em Natal o projeto utiliza a tecnologia
do aço para proporcionar um forte sentido de dinâmica espacial; e em Belém, a
cobertura metálica, com a justaposição de dois planos curvos, permite a entrada
de luz natural em toda a plataforma.

No aeroporto de Fortaleza (1995/98), os irmãos Deusdará misturaram


tecnologia com regionalismo na cobertura de vidro e policarbonato, fazendo uma
relação com o desenho da renda cearense. Em Maceió, o Aeroporto Internacional
Zumbi dos Palmares (2001/05), do escritório Traço Planejamento e Arquitetura,
tem o volume definido por dois blocos integrados por uma abertura elíptica,
coberta por uma estrutura metálica com telhas em vidro no tom de verde para
reproduzir a cor do mar da cidade.

A ampliação do Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro (1997/98),


realizada por Roseli Pereira, duplicou a capacidade de operação. Também no
Rio de Janeiro, a ampliação do Aeroporto Santos Dumont (2002/07), realizada
pelo escritório de arquitetura Planorcon, teve como premissa básica respeitar o
edifício idealizado pelos irmãos Roberto, na década de 1930, considerado ícone
da arquitetura modernista.

Os sistemas de metrô também têm demandado importantes projetos na


área de transportes. Salvador, Brasília e Fortaleza ganharam novos projetos, e São
Paulo e Rio de Janeiro ampliaram suas linhas, em ritmo lento.

No Rio de Janeiro, destaca-se a estação Cardeal Arcoverde (1997/98),


projetada por João B. Martinez Correa, da Promon, que integra a arte à edificação,
com a intervenção da artista plástica Amélia Toledo no estudo de cores ao longo
dos túneis escavados na rocha.

Em São Paulo, têm relevância as obras das estações: da Paulista (1980/91),


de Roberto MacFadden, Renato Viégas e Meire Selli; a Sumaré (1991/98), de Wilson
Bracetti; a Vila Madalena e a premiada estação ferroviária Pêssego (1991/99),
de João Walter Toscano. A implantação da Linha Cinco de Metrô resultou na
construção de seis novas estações metroviárias (1993/2002). O arquiteto Luiz

64
TÓPICO 6 | ARQUITETURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA

Carlos Esteves é o autor dos projetos que apresentam forte presença na paisagem
urbana pelo uso de estruturas metálicas para as aerodinâmicas passarelas e outros
espaços do conjunto.

No setor rodoviário, destacam-se os terminais de ônibus urbano de São


Paulo, pela qualidade arquitetônica: o terminal do parque D. Pedro II (1995/96),
de Paulo Mendes da Rocha e MMBB, impressiona pela leveza da cobertura; o
terminal da praça Princesa Isabel (1996/97), projetado por João Walter Toscano e
Odiléa Toscano é marcado pela cuidadosa inserção no contexto urbano; o terminal
de ônibus urbanos de Pirituba (2002/03), do escritório Una Arquitetos, apresenta
a transparência como essência do projeto; e o terminal de ônibus urbanos da
Lapa (2002/03), do escritório Núcleo Arquitetura, buscou estabelecer a relação
com o seu entorno.

FIGURA 46 – ESTAÇÃO PONTE SANTO


FIGURA 45 – TERMINAL AÉREO DE BELÉM/PA, AMARO, SÃO PAULO, LUIZ CARLOS
SÉRGIO PARADA ESTEVES

FONTE: Disponível em: <http//www.arcoweb. FONTE: Disponível em: <http//www.


com.br>. Acesso em: 10 jan. 2009. arcoweb.com.br>. Acesso em: 10 jan.
2009.

4.10 INTERVENÇÕES URBANAS


As intervenções urbanas realizadas nas últimas décadas referem-se
principalmente à requalificação de centros urbanos e revitalização de núcleos
históricos, elaboração e revisão dos planos diretores municipais e criação de uma
cidade nova.

A revalorização do centro de São Paulo reúne um conjunto de importantes


obras realizadas na área central da cidade, que tem como objetivo recuperar
áreas degradadas, melhorar a qualidade ambiental, alavancar a economia da
região, promover a inclusão social e o repovoamento do Centro. Destaca-se a
reurbanização do vale do Anhangabaú (1981/92), de Jorge Wilheim, Rosa Kliass e
Jamil Kfouri, que equacionou o fluxo de pedestres e veículos, criando a base para
a recuperação do centro paulistano.

65
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ARQUITETURA

A revitalização urbana também se fez presente em Salvador/BA, na


recuperação do Pelourinho, que iniciou em 1993 tendo como objetivo a sua
transformação em polo de atração turística. A intervenção foi amplamente
criticada por excluir a população que morava no local.

Em Recife/PE, o Plano de Recuperação do Bairro do Recife (PRBR),


elaborado em 1993, através de uma parceria entre os poderes público e privado,
buscou a inserção de novas atividades no local, inclusive habitacionais, como
meio de garantir maior utilização dos espaços públicos e aumentar a segurança.

Em Belém, um processo de reconfiguração territorial baseia-se em


intervenções urbanísticas, arquitetônicas e de restauro na orla fluvial da baía do
Guarajá. Os projetos da Estação das Docas (2000), de Paulo Chaves Fernandes
e Rosário Lima, e do mercado Ver-o-Peso (2002), de Flávio Ferreira, foram
idealizados com o intuito de incrementar o turismo, movimentar a economia e
valorizar a cultura local.

No Rio de Janeiro, dois grandes programas, Rio-Cidade e Favela-Bairro,


resultaram em um processo e renovação urbana comandada pelo arquiteto Luiz
Paulo Conde. O Rio-Cidade, iniciado em 1992, consiste na requalificação das áreas
públicas, restaurando as praças e as vias centrais dos dezenove bairros em que foi
realizado. Já o Favela-Bairro, cuja primeira fase foi iniciada em 1994, favoreceu
dezenove favelas, com a implantação de uma política habitacional que procura
integrar a favela com o bairro circundante, valorizando a sua espacialidade
peculiar.

Curitiba ganhou notoriedade nacional na década de 1990, com a realização


de diversas intervenções urbanas. Com o intuito de aumentar a área verde da
cidade, foram implantados inúmeros parques e bosques, a exemplo do Jardim
Botânico, de Fanchette Rischbieter e Assad (1990/91), que foi transformado em
símbolo da capital paranaense; e também da Ópera de Arame (1991/92), projetada
por Domingos Bongestabs, que é um espaço de espetáculos construído em uma
pedreira desativada e transformada em parque. A Rua 24 horas (1989/91), de
Assad, Célia Bim e Simone Soares, tem como intenção possibilitar a atividade
constante em um espaço coberto no centro da cidade.

A construção de uma cidade planejada se concretizou em Palmas (1990/91),


capital de Tocantins, a partir do projeto dos arquitetos Luiz Fernando Cruvinel
Teixeira e Walfredo Antunes de Oliveira Filho, do escritório goiano Grupo
Quatro. Desenvolvido em um curto espaço de tempo para abrigar as instalações
do estado de Tocantins recém-criado, o projeto busca a relação harmônica entre
homem e natureza.

Nos últimos anos, o planejamento urbano se tornou um instrumento


importante de políticas públicas, principalmente após a promulgação, em 2001,
da lei do Estatuto da Cidade, pelo Governo Federal, que obriga todo município
de mais de 20.000 habitantes a elaborar ou revisar o seu Plano Diretor em um
prazo de cinco anos.
66
RESUMO DO TÓPICO 6

Neste tópico, fizemos uma abordagem sobre a arquitetura contemporânea


no Brasil. É importante lembrar que:

• A formação da arquitetura moderna, no Brasil, ocorreu sob a liderança de


Lucio Costa e Oscar Niemeyer, influenciados pela obra do arquiteto europeu
Le Corbusier. O Ministério da Educação e Saúde no Rio de Janeiro, o Pavilhão
do Brasil na Exposição Internacional de Nova Iorque e o Conjunto da Pampulha
constituem o marco desta arquitetura que se firma no Brasil entre os anos de
1940 e 1950.

• A segunda fase da arquitetura moderna brasileira é marcada pela afirmação dos


ideais propostos por Lucio Costa e Oscar Niemeyer, que passam a influenciar
outros arquitetos. A produção cada vez mais numerosa e significativa desses
profissionais estabelece um estilo brasileiro de arquitetura, caracterizado pela
diversidade, que se impõe em escala mundial.

• A produção arquitetônica no Brasil, a partir de 1990, se faz com referência


aos projetos modernistas brasileiros dos anos 1940 e 1950, na tentativa de
retomar uma linguagem brasileira de expressão internacional. Os principais
projetos desenvolvem-se principalmente com o financiamento da iniciativa
privada, nas áreas de edifícios residenciais, comerciais, industriais, culturais,
educacionais, hospitalares, terminais de transporte, reciclagem de edifícios de
interesse histórico e intervenções urbanas.

67
AUTOATIVIDADE
Você estudou que a arquitetura brasileira se desenvolveu na busca de
uma linguagem própria, que se destacasse no contexto internacional. A partir
dos exemplos apresentados ao longo deste tópico, identifique as principais
características que definem a arquitetura contemporânea brasileira.

68
UNIDADE 2

A PROFISSÃO DO ARQUITETO E
URBANISTA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

A partir do estudo desta unidade, você estará apto(a) a:

• identificar os aspectos legais de regulamentação profissional da arquitetu-


ra no Brasil;

• reconhecer as áreas de atuação dos arquitetos e urbanistas, fundamenta-


dos na legislação que regulamenta a profissão.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em dois tópicos. Ao final de cada um deles, você
encontrará atividades que o(a) ajudarão a fixar os conteúdos apresentados.

TÓPICO 1 – REGULAMENTAÇÃO DO PROFISSIONAL

TÓPICO 2 – ATRIBUIÇÕES PROFISSIONAIS

69
70
UNIDADE 2
TÓPICO 1

REGULAMENTAÇÃO DO PROFISSIONAL

1 INTRODUÇÃO
Existem profissões que exigem habilitações especiais para serem exercidas,
como é o caso dos advogados, médicos, engenheiros, arquitetos etc. Outras, no
entanto, preveem condições materiais adequadas para o seu funcionamento.
Como exemplo, temos os estabelecimentos de ensino, hospitais, entre outros. Todo
o exercício de determinada atividade que diz respeito ao interesse público exige
uma regulamentação. E o que significa regulamentação? Segundo o Dicionário
Aurélio, regulamentação é o ato ou efeito de regulamentar, isto é, sujeitar a um
regulamento.

Com o diploma e com o título de competências, o arquiteto é detentor


de um ‘privilégio’ legalmente estabelecido: o de exercer com exclusividade a
profissão escolhida. Desta maneira, os que não tiveram a mesma formação não
poderão exercê-la e estarão sujeitos às penalidades da lei se o fizerem. O preço
desse privilégio é ser fiscalizado por uma entidade que deve representar os
interesses da sociedade.

Exclusividade e condições necessárias para o exercício de uma profissão


constituem um conjunto que costumamos chamar de regulamentação
profissional. A profissão é regulamentada para garantir à sociedade que somente
cidadãos qualificados irão exercer atividades previstas na lei. Portanto, um
cidadão sem a formação adequada está impedido de projetar ou construir uma
edificação. Aqueles que praticam atividades reservadas aos profissionais, sem a
devida formação, exercem ilegalmente a profissão.

E
IMPORTANT

As pessoas que praticarem o exercício ilegal da profissão estão sujeitas às


penalidades previstas na Lei das Contravenções Penais – Decreto-Lei n° 3.668 de 03/10/41:

Art. 47 Exercer profissão ou atividade econômica ou anunciar que a exerce, sem preencher
as condições a que por ela está subordinado seu exercício: pena-prisão simples de 15 dias
a três meses, ou multa.”

71
UNIDADE 2 | A PROFISSÃO DO ARQUITETO E URBANISTA

2 A REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO
A regulamentação de determinadas profissões visa proteger a sociedade
impedindo o seu exercício por quem seja inabilitado a tanto. A Constituição
Federal, em seu artigo 5°, inciso XIII, assegura a liberdade do exercício profissional
de qualquer trabalho, ofício ou profissão, desde que quem o exerça atenda às
qualificações profissionais estabelecidas por lei.

O sistema de regulamentação profissional foi oficializado em 1933, pelo


Decreto Federal n° 23.569, de 11 de dezembro, promulgado pelo presidente
Getúlio Vargas. Foi considerado um marco na história da regulamentação
profissional e técnica no país. Este decreto regulamenta o exercício das profissões
de engenheiros (civil, industrial, mecânico-eletricista, geógrafo e de minas) assim
como as de engenheiro-arquiteto ou arquiteto e do agrimensor.

UNI

Atualmente, no dia 11 de dezembro, é comemorado, nacionalmente, o dia do


Engenheiro e do Arquiteto.

Este decreto, além de regulamentar o exercício destes profissionais, institui


um sistema profissional, denominado Sistema CONFEA/CREAs, integrado por
um Conselho Federal (CONFEA - Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura
e Agronomia) e Conselhos Regionais (Conselhos Regionais de Engenharia,
Arquitetura e Agronomia – CREAs), representados por entidades de classes,
sindicatos e instituições de ensino.

A profissão do arquiteto foi regulamentada apenas na década de trinta,


porém ela existe formalmente no país desde a fundação da Escola Nacional de
Belas Artes, fundada no Rio de Janeiro, no início do século XIX. Anteriormente, a
formação oficial de arquitetos no país não existia. Os profissionais que atuavam
no Brasil ou haviam estudado na Europa ou foram aprendizes de Corporações
de Ofícios.

Atualmente, a Lei n° 5.194, de 24 de dezembro de 1966, é a que regulamente


as atividades dos profissionais de arquitetura. Além desta lei que regulamenta a
profissão, os arquitetos estão submetidos às Resoluções do CONFEA, instância
superior do sistema de autarquia pública, e atendem à Lei Federal nº 6.619 de
1978, que criou a Mútua de Assistência aos Profissionais, instituição que passou a
fazer parte do Sistema CONFEA/CREAs, e a ART – Anotação de Responsabilidade
Técnica, registro obrigatório das atividades profissionais, feito nos CREAs.

72
TÓPICO 1 | REGULAMENTAÇÃO DO PROFISSIONAL

No sistema CONFEA/CREAs, a regulamentação profissional exige uma


dupla habilitação para o exercício de qualquer uma das profissões a ele vinculadas.
A primeira delas é a habilitação acadêmica, obtida pela diplomação do profissional
em estabelecimento de ensino reconhecido pelo sistema educacional e registrado
no sistema profissional. A segunda é a habilitação legal, obtida pelo registro do
profissional nos Conselhos Regionais, encarregados da fiscalização, do controle e
do desenvolvimento das profissões regulamentadas.

3 LEGISLAÇÃO
Considerando que a legislação é vasta, apresentaremos, no desenvolvimento
deste tópico, apenas os pontos que nos parecem ser de maior interesse quanto à
regulamentação da profissão. Serão abordados apenas aspectos relacionados à
profissão do arquiteto, embora a Lei nº 5.194/66 em algumas ocasiões refira-se de
modo distinto aos engenheiros, arquitetos e agrônomos.

3.1 EXERCÍCIO E O REGISTRO PROFISSIONAL


O arquiteto só pode exercer sua profissão no Brasil se:

• possuir um diploma registrado em uma escola superior de arquitetura. Se o


diploma foi obtido em uma escola estrangeira, este deve ser revalidado;

• possuir registro no Conselho Regional do local em que exerce sua atividade;

• estrangeiro, tiver seu título registrado temporariamente.

3.2 EXERCÍCIO ILEGAL DA PROFISSÃO


A Lei nº 5.194/66 que regulamenta a profissão de arquitetura traz alguns
artigos relacionados ao exercício ilegal da profissão:

LEI Nº 5.194, DE 24 DE DEZEMBRO DE 1966

Regula o exercício das profissões de Engenheiro, Arquiteto e


Engenheiro-Agrônomo, e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA faço saber que o CONGRESSO


NACIONAL decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

73
UNIDADE 2 | A PROFISSÃO DO ARQUITETO E URBANISTA

O CONGRESSO NACIONAL DECRETA:

TÍTULO I

Do Exercício Profissional da Engenharia, da Arquitetura e da Agronomia

CAPÍTULO I

Das Atividades Profissionais

SEÇÃO III

Do exercício ilegal da profissão


[...]
Art. 6º Exerce ilegalmente a profissão de engenheiro, arquiteto ou engenheiro-
agrônomo:
a) a pessoa física ou jurídica que realizar atos ou prestar serviço público ou
privado reservados aos profissionais de que trata esta lei e que não possua
registro nos Conselhos Regionais;
b) o profissional que se incumbir de atividades estranhas às atribuições
discriminadas em seu registro;
c) o profissional que emprestar seu nome a pessoas, firmas, organizações ou
empresas executoras de obras e serviços sem sua real participação nos trabalhos
delas;
d) o profissional que, suspenso de seu exercício, continue em atividade;
e) a firma, organização ou sociedade que, na qualidade de pessoa jurídica,
exercer atribuições reservadas aos profissionais da engenharia, da arquitetura
e da agronomia, com infringência do disposto no parágrafo único do art. 8º
desta lei.

[...]
Art. 64. Será automaticamente cancelado o registro do profissional ou da
pessoa jurídica que deixar de efetuar o pagamento da anuidade, a que estiver
sujeito, durante 2 (dois) anos consecutivos sem prejuízo da obrigatoriedade do
pagamento da dívida.
Parágrafo único. O profissional ou pessoa jurídica que tiver seu registro
cancelado nos termos deste artigo, se desenvolver qualquer atividade regulada
nesta lei, estará exercendo ilegalmente a profissão, podendo reabilitar-se
mediante novo registro, satisfeitas, além das anuidades em débito, as multas
que lhe tenham sido impostas e os demais emolumentos e taxas regulamentares.

FONTE: Disponível em: <http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.ac-


tion?id=91648>. Acesso em: 10 fev. 2009.

Em todos os trabalhos gráficos apresentados pelos arquitetos, é obrigatória


a assinatura, menção do título profissional e o número do seu registro no CREA,
precedido do nome da empresa, sociedade, instituição ou firma a que estiverem
ligados.
74
TÓPICO 1 | REGULAMENTAÇÃO DO PROFISSIONAL

3.3 ACOMPANHAMENTO DA OBRA


O acompanhamento da execução de uma obra não é uma obrigação,
mas, sim, um direito do arquiteto, caso a execução da obra venha causar danos
a terceiros. O arquiteto deve deixar expresso em seu contrato de trabalho se irá,
ou não, realizar o acompanhamento da obra e estabelecer as condições em que
procederá tal acompanhamento.

Para assegurar ao arquiteto a possibilidade de acompanhar a execução da


obra, o artigo 22 da Lei nº 5.194/66 destaca o seguinte:

Art. 22° Ao autor do projeto ou aos seus prepostos é assegurado o


direito de acompanhar a execução da obra, de modo a garantir a
sua realização, de acordo com as condições, especificações e demais
pormenores técnicos nele estabelecidos.
Parágrafo único. Terão direito assegurado neste Artigo o autor do
projeto, na parte que lhe diga respeito, e os profissionais especializados
que participarem, como corresponsáveis, na sua elaboração.

3.4 REGISTRO DE EMPRESAS


Os artigos nos 59 a 62 da Lei nº 5.194/66, as Resoluções n° 336 de 27/10/89,
265 de 15/12/79 e 250 de 16/12/77 e a Decisão Normativa n° 008 de 30/06/83 tratam
do registro de firmas e entidades. Destas legislações, é importante destacar:

As firmas, sociedades, associações, cooperativas e empresas em geral, que


se organizarem para executar obras ou projetos relacionados com arquitetura,
engenharia ou agronomia, só podem iniciar suas atividades após obterem
o registro no CREA, assim como os profissionais de seu quadro técnico. A
qualificação dos seus componentes e a finalidade deverão estar condizentes com
a sua denominação. (MAFFEI, 1990).

As empresas que se organizarem para executar obras ou serviços de


arquitetura só podem iniciar suas atividades após o registro no CREA, assim
como o registro dos profissionais em seu quadro técnico.

A responsabilidade técnica de qualquer atividade exercida no campo


da arquitetura é sempre do profissional dela encarregado, não podendo, sob
nenhuma hipótese, ser assumida pela pessoa jurídica. O arquiteto deixa de
responder pela empresa (pessoa jurídica) no momento em que:

• requerer, por escrito, o cancelamento das responsabilidades;

• for suspenso do exercício da profissão;

• mudar residência para local que torne impraticável o exercício da função de


responsável técnico;

75
UNIDADE 2 | A PROFISSÃO DO ARQUITETO E URBANISTA

• o arquiteto tiver seu registro cancelado.

Nestes casos a empresa deve substituir o responsável técnico no prazo de


10 dias.

3.5 ÉTICA PROFISSIONAL


O Código de Ética Profissional (Resolução n° 205, CONFEA, de 30.09.71)
estabelece a todos os profissionais da Engenharia, Arquitetura e Agronomia, seus
deveres – é um guia de condução de sua atividade.

De acordo com Maffei (1990), o profissional exemplar é aquele que está


alerta para o cumprimento fiel do Código de Ética. A observância deste código
durante a exercício da vida profissional é importante para a valorização e
engrandecimento perante a sociedade.

O profissional deverá estar sempre atento para não praticar atos


que comprometam a sua dignidade, cometendo injustiças contra colegas,
prejudicando interesses de outros profissionais. Deverá atuar aplicando sempre
a melhor técnica, exercer a atividade com lealdade, dedicação e honestidade.
Atuando profissionalmente dentro destes preceitos, estará cumprindo o Código
de Ética Profissional.

São deveres dos profissionais da engenharia, da arquitetura e da


agronomia:

1° interessar-se pelo bem público e, com tal finalidade, contribuir com seus
conhecimentos, capacidade e experiência para melhor servir à humanidade;

2° considerar a profissão como alto título de honra e não praticar nem permitir
a prática de atos que comprometam a sua dignidade;

3° não cometer ou contribuir para que se cometam injustiças contra colegas;

4° não praticar qualquer ato que, direta ou indiretamente, possa prejudicar


legítimos interesses de outros profissionais;

5° não solicitar nem submeter propostas contendo condições que constituam


competição de preços por serviços profissionais;

6° atuar dentro da melhor técnica e do mais elevado espírito público, devendo,


como consultor, limitar seus pareceres às matérias específicas que tenham sido
objeto da consulta;

76
TÓPICO 1 | REGULAMENTAÇÃO DO PROFISSIONAL

7° exercer o trabalho profissional com lealdade, dedicação e honestidade


para com seus clientes e empregadores ou chefes, e com espírito de justiça e
equidade para com os contratantes e empreiteiros;

8° ter sempre em vista o bem-estar e o progresso funcional dos seus empregados


ou subordinados e tratá-los com retidão, justiça e humildade;

9° colocar-se a par da legislação que rege o exercício profissional da Engenharia,


da Arquitetura e da Agronomia, visando a cumpri-la corretamente e colaborar
para sua atualização e aperfeiçoamento.

FONTE: Disponível em: <http://www.crea-to.org.br/site/to_instituicao.html>. Acesso em: 10


fev. 2009.

4 O SISTEMA CONFEA/CREAS
Os conselhos profissionais são órgãos auxiliares da administração pública
federal, nos quais o registro profissional é obrigatório. São personalidades
jurídicas, criadas por leis específicas para o desempenho de atividades públicas.
Atualmente, o sistema CONFEA/CREAs possui aproximadamente novecentos
mil profissionais cadastrados.

Genericamente, o principal objetivo do Sistema CONFEA/CREAs é o de


atender às necessidades da sociedade brasileira relacionadas ao exercício das
profissões regulamentadas, isto é, prestar à sociedade os serviços públicos que a
lei lhe delegou. (MACEDO, 1998).

4.1 CONFEA – CONSELHO FEDERAL DE ENGENHARIA,


ARQUITETURA E AGRONOMIA
O CONFEA está localizado em Brasília – DF – e possui jurisdição em todo
o território nacional. Exerce o papel institucional, em última instância, do Sistema
CONFEA/CREAs. É a instância máxima à qual um profissional pode recorrer no
que se refere ao regulamento do exercício profissional.

Segundo o site do próprio conselho (www.confea.org), possui


competências de natureza normativa, recursal e administrativa:

• Competência de natureza normativa: estabelece as normas que regulam ou


disciplinam a aplicação das leis e decretos pertinentes ao exercício profissional.

• Competência de natureza recursal: aprecia e decide, em terceira e última


instância, sobre os recursos relativos à regulamentação profissional e às
penalidades impostas pelos CREAs e por eles julgados em primeira e segunda
instância.

77
UNIDADE 2 | A PROFISSÃO DO ARQUITETO E URBANISTA

• Competência de natureza administrativa: fiscaliza o exercício profissional, sob


a responsabilidade dos CREAs, âmbito de suas respectivas jurisdições.

Através de instrumentos administrativos, denominados de Resoluções, o


CONFEA regulamenta o que consta na Lei nº 5.194/66, orientando a fiscalização
e o controle do exercício profissional em todo o país.

Para o exercício de seu papel institucional e de suas ações, a organização do


CONFEA compreende uma estrutura básica e uma estrutura auxiliar. A estrutura
básica é constituída pelo plenário, comissões, conselho diretor e comitê de avaliação e
articulação. A estrutura auxiliar é integrada pelo conjunto de órgãos de apoio técnico
e administrativo exigidos para o funcionamento da estrutura básica.

4.2 CREA – CONSELHO REGIONAL DE ENGENHARIA,


ARQUITETURA E AGRONOMIA
Os Conselhos Regionais são congregados no CONFEA, que é a entidade
nacional, a instância operacional do sistema de fiscalização do exercício profissional.
Possuem jurisdição estadual e exercem o papel institucional de primeira e segunda
instância. São órgãos de fiscalização, orientação e aprimoramento profissional,
criados com o objetivo de defender a sociedade da prática do exercício ilegal das
profissões abrangidas pelo Sistema CONFEA/CREAs.

Aos conselhos regionais, a Lei nº 5.194/66 concedeu a prerrogativa de


participarem do processo normativo que disciplina, em suas jurisdições, o
exercício das profissões regulamentadas. São atribuições dos Conselhos Regionais
“cumprir e fazer cumprir a presente lei, as resoluções baixadas pelo Conselho
Federal, bem como expedir atos que para isso julguem necessário.” (art. 34).

De acordo com a legislação brasileira, o exercício da profissão do arquiteto


é permitido no território nacional a todos formados por uma instituição de ensino
devidamente reconhecida, e que tenham procedido ao registro no Conselho
Regional de sua jurisdição.

O Conselho Regional é responsável pela fiscalização do exercício ilegal


das profissões, reprimindo a atuação de leigos no mercado, garantindo, assim,
mais segurança para todos. Ele comprova a habilitação legal através da emissão
da carteira profissional. Sendo assim, antes de exercer qualquer atividade nas
áreas abrangidas pelo Sistema CONFEA/CREAs, o profissional ou empresa
devem proceder seu registro no CREA.

O órgão máximo do CREA é o Conselho em Pleno (Plenário), que


desempenha funções normativas, de julgamento, deliberativas e executivas, sendo
estas últimas regimentalmente delegadas a uma Diretoria, por ele mesmo eleita
dentre os conselheiros para o mandato de um ano. Cabe ao plenário a aprovação
dos atos, que são instrumentos administrativos próprios dos Conselhos Regionais
e que orientam a aplicação da Lei nº 5.194/66 e as Resoluções do CONFEA nas
78
TÓPICO 1 | REGULAMENTAÇÃO DO PROFISSIONAL

respectivas jurisdições. Para a apreciação de matérias específicas em nível de


primeira instância, os conselheiros se reúnem em agrupamentos denominados
Câmaras Especializadas. Sua função é basicamente julgar e decidir sobre assuntos
de fiscalização pertinentes às respectivas especializações profissionais e infrações
ao código de ética. A fiscalização das atividades profissionais nas várias cidades e
regiões da jurisdição é realizada com o apoio das inspetorias, que são subunidades
descentralizadas dos conselhos. (MACEDO, 1998).

Em Santa Catarina, o CREA possui vinte inspetorias regionais, oito


escritórios de representação regional e quatro postos de atendimento.

4.2.1 ART – Anotação de Responsabilidade Técnica


Todos os profissionais vinculados ao CREA possuem a obrigação legal
de emitir a ART. (Anotação de Responsabilidade Técnica). Instituída pela Lei nº
6.496, de sete de dezembro de 1997, ele é um instrumento que o Sistema CONFEA/
CREAs tem para registrar as realizações profissionais. Tem por finalidade
documentar e garantir à sociedade a participação de profissional técnico e
legalmente habilitado na obra ou serviço contratado. É ainda um importante
instrumento de fiscalização, permitindo ao Conselho Regional a verificação das
atividades profissionais sob suas jurisdições. (MAFFEI, 1990).

É um documento de existência obrigatória, que deve ser preenchido a


cada contrato de engenharia. Ela caracteriza os limites da responsabilidade e da
participação técnica em cada obra ou serviço, conferindo as garantias judiciais
de um contrato e a prova de atividades especiais para efeitos de aposentadoria.
Legalmente, todo o contrato, escrito e verbal para execução de obras ou prestação
de quaisquer serviços profissionais referentes à Engenharia, à Arquitetura e à
Agronomia fica sujeito à ART.

Com o registro da ART, o profissional constrói seu acervo técnico, um


documento que reflete toda a experiência por ele adquirida ao longo de sua
vida profissional. À medida que o profissional registra suas Anotações de
Responsabilidade Técnica, o seu acervo vai sendo construído.

A Anotação de Responsabilidade Técnica – ART – é feita em formulário


próprio, fornecido pelos Conselhos Regionais, no qual são declarados os
dados principais do contrato firmado entre o profissional e seu cliente. “O
preenchimento deste formulário é de responsabilidade do profissional, o qual,
quando for contratado, recolherá também a taxa respectiva.” (Resolução n° 307,
de 28 de fevereiro de 1986, art. 4°).

Os valores da ART são calculados de acordo com a Resolução n° 487, de


29 de outubro de 2004, que “fixa os valores das taxas de registro de ART e dá
outras providências”. Ela é editada anualmente pelo CONFEA. Esta taxa varia
em função do valor do contrato ou subcontrato. (BOTELHO, 1991).

79
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, caro(a) acadêmico(a), estudamos os seguintes conteúdos:

• A regulamentação profissional garante à sociedade que somente cidadãos


qualificados poderão exercer atividades. Uma pessoa sem qualificação fica
impedida de projetar ou construir uma edificação.

• A profissão do arquiteto, no Brasil, é regulamentada pela Lei Federal n°


5.194, de 24 de dezembro de 1966, que também dispõe sobre os engenheiros e
agrônomos.

• De acordo com esta lei, para o exercício profissional é obrigatória a formação


em curso superior reconhecido.

• Além da Lei Federal, os arquitetos estão submetidos ainda às resoluções do


Sistema CONFEA/CREAs, criado para fiscalizar o exercício profissional.

80
AUTOATIVIDADE

No site <http://www.confea.org.br/normativos>, do Conselho Federal


de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, você pode conferir integralmente
todas as leis e resoluções que regulamentam as atividades dos profissionais de
arquitetura. Sugerimos que você realize a leitura da Lei Federal n° 5.194, de 24
de dezembro de 1966, e faça um resumo, em forma de tópicos, dos principais
pontos sustentados por ela.

81
82
UNIDADE 2 TÓPICO 2
ATRIBUIÇÕES PROFISSIONAIS

1 INTRODUÇÃO
Atribuição profissional define que tipo de atividade uma determinada
categoria profissional pode desenvolver, isto é, aquilo que a legislação permite o
profissional realizar. Toda a atribuição é dada a partir de uma formação técnico-
científica adquirida em uma universidade. No caso dos arquitetos, as atribuições
estão previstas genericamente nas leis (Lei n° 5.194/66) e de forma específica nas
resoluções do Conselho Federal - CONFEA (Resolução n° 218/73).

A formação do profissional de arquitetura possibilita a atuação em várias


áreas. Neste tópico, conheceremos essa habilitação que é expressa pela Lei Federal
n° 5194/1966 e pela Resolução n° 218/1973.

2 ATRIBUIÇÕES PROFISSIONAIS
A Lei n° 5.194/66 regulamenta genericamente em seus artigos 1° a 7° e
parágrafo único as atividades e atribuições dos profissionais vinculados do
sistema profissional. A seguir a transcrição do artigo 7º:

Art. 7° - As atividades e atribuições profissionais do engenheiro, do


arquiteto e do engenheiro agrônomo consistem em:

a) desempenho de cargos, funções e comissões em entidades estatais,


paraestatais, autárquicas e de economia mista e privada;
b) planejamento ou projeto, em geral de regiões, zonas, cidades, obras,
estruturas, transportes, explorações de recursos naturais e desenvolvimento
da produção industrial e agropecuária;
c) estudos, projetos, análises, avaliações, vistorias, perícias, pareceres e
divulgação técnica;
d) ensino, pesquisa, experimentação e ensaios;
e) fiscalização de obras e serviços técnicos;
f ) execução de obras e serviços técnicos;
g) direção de obras e serviços técnicos;
h) produção técnica especializada, industrial e agropecuária.

83
UNIDADE 2 | A PROFISSÃO DO ARQUITETO E URBANISTA

Parágrafo único. Os engenheiros, arquitetos e engenheiros agrônomos


poderão exercer qualquer outra atividade que, por sua natureza, se inclua no
âmbito de suas profissões.
FONTE: Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5194.htm>. Acesso em: 24
jan. 2009.

No caso da arquitetura, o CONFEA, ao propor resoluções, considera


os currículos e programas fornecidos pelas instituições de ensino, sendo que
as disciplinas de características profissionalizantes são as que determinam as
atribuições profissionais.

Em suas resoluções, o CONFEA estabelece, para efeito de fiscalização,


todas as atividades técnicas que o profissional pode desenvolver, de acordo com
a sua modalidade. Na Resolução n° 218/73, estão relacionadas dezoito atividades
técnicas, além das competências relacionadas aos engenheiros, arquitetos e
agrônomos.

Conforme colocamos no tópico anterior, para exercer a profissão de


arquiteto, é necessário ter habilitação em escola oficial do país ou ter diploma
estrangeiro, validado no Brasil. Exercer a arquitetura sem ser arquiteto é
contravenção. Porém, qualquer cidadão pode exercer o negócio ‘arquitetura’,
desde que tenha na sua firma um engenheiro civil como responsável.

Em face da generalidade do artigo n° 7 da Lei nº 5.194/66, o CONFEA


expediu a Resolução n° 218 de 29 de junho de 1973, com o objetivo de caracterizar
perfeitamente as atribuições que competem a cada profissão, permitindo, assim, a
fiscalização do exercício profissional.

De acordo com os critérios estabelecidos, compete ao arquiteto o


desempenho das atividades descritas a seguir, referente às edificações,
conjuntos arquitetônicos e monumentos, arquitetura paisagística e de interiores;
planejamento físico, local, urbano e regional; seus serviços afins e correlatos.

Segue a descrição do artigo 1° e 2º da Resolução n° 218:

Art 1° Para efeito de fiscalização do exercício profissional correspondente às


diferentes modalidades da Engenharia, Arquitetura e Agronomia em nível
superior e em nível média, ficam designadas as seguintes atividades:

01 – supervisão, coordenação e orientação técnica;


02 – estudo, planejamento, projeto e especificação;
03 – estudo de viabilidade técnico-econômica;
04 – assistência, assessoria e consultoria;
05 – direção de obra e serviço técnico;
06 – vistoria, perícia, avaliação, arbitramento, laudo e parecer técnico;
07 – desempenho de cargo e função técnica;

84
TÓPICO 2 | ATRIBUIÇÕES PROFISSIONAIS

08 – ensino, pesquisa, análise, experimentação, ensaio e divulgação técnica,


extensão;
09 – elaboração de orçamento;
10 – padronização, mensuração e controle de qualidade;
11 – execução de obra e serviço técnico;
12 – fiscalização de obra e serviço técnico;
13 – produção técnica e especializada;
14 – condução de trabalho técnico;
15 – condução de equipe de instalação, montagem, operação, reparo ou
manutenção;
16 – execução de instalação, montagem e reparo;
17 – operação e manutenção de equipamentos e instalação;
18 – execução de desenho técnico.

Art 2° Compete ao ARQUITETO ou ENGENHEIRO ARQUITETO:


I – O desempenho das atividades 01 a 18 do artigo 1° desta Resolução, referentes
a edificações, conjuntos arquitetônicos e monumentos, arquitetura paisagística
e de interiores; planejamento físico, local, urbano e regional; seus serviços afins
correlatos.

FONTE: Disponível em: <http://normativos.confea.org.br/ementas/visualiza.asp?idEmen-


ta=266&idTipoEmenta=5&Numero=218>. Acesso em: 24 jan. 2009.

3 RESPONSABILIDADES PROFISSIONAIS
Todos os profissionais que executam as atividades específicas no
item de atribuições profissionais assumem por todo o trabalho que realizam
responsabilidades técnicas, civis, penais ou criminais, administrativas,
trabalhistas, objetivas e éticas.

Veja alguns exemplos referentes à construção de uma edificação:

• O arquiteto que elabora o projeto de uma casa será o responsável técnico pelo
projeto.

• O engenheiro que executa a construção desta mesma casa será o responsável


técnico pela construção.

Qual o significado de cada uma destas responsabilidades? A seguir, breve


comentário sobre elas:

• Responsabilidade Civil

Responsabilidade civil, “responder civilmente”, significa ter a obrigação


de reparar ou ressarcir um dano injustamente causado por alguém.

85
UNIDADE 2 | A PROFISSÃO DO ARQUITETO E URBANISTA

Apura-se a responsabilidade para exigir uma reparação civil que consistirá


na indenização do dano causado ou ressarcimento dos prejuízos causados por
uma infração às normas legais e/ou por descumprimento de cláusula contratual.

Segundo Königsberger e Almeida (2003), o arquiteto profissional liberal


é um técnico e o responsável técnico responderá civilmente e/ou criminalmente
pelo dano causado se:

• não tomou todas as cautelas (observação às leis, posturas, normas técnicas etc.)
que deveria quando executou seu serviço, pois, nesse caso, foi imprudente;

• não teve qualificação para executar o serviço a contento do consumidor (seu


contratante), pois nesse caso foi imperito;

• deixou de executar o que devia ter executado ou o fez sem cuidados necessários,
pois, nesse caso, foi negligente.

A responsabilidade civil por determinada obra dura, de acordo com o


Código Civil Brasileiro, pelo prazo de cinco anos, a contar da data que a mesma
foi entregue, podendo, em alguns casos, estender-se por até vinte anos, se
comprovada a culpa do profissional pela ocorrência.

Entre os casos de responsabilidade civil, de acordo com as circunstâncias,


poderão ser discutidos os seguintes itens:

• responsabilidade pelo projeto;

• responsabilidade pela execução da obra contratada;

• responsabilidade por sua solidez e segurança;

• responsabilidade quanto à escolha e utilização dos materiais;

• responsabilidade por danos causados a terceiros.

• Responsabilidade Ética

Todo o profissional deve observar rigorosamente as determinações do


Código de Ética, estabelecido na Resolução nº 1.002, de 26/112002, do CONFEA.

Uma infração ao Código de Ética coloca o arquiteto sob julgamento,


sujeitando-o a penalidades. Veja alguns exemplos de desrespeito, apontados por
Macedo (1998, p. 78):

• profissional que propõe serviços com redução de preços, após ter conhecido
propostas de outros profissionais;

86
TÓPICO 2 | ATRIBUIÇÕES PROFISSIONAIS

• profissional que, como diretor de uma empresa, nomeia pessoa que não possui
necessária habilitação profissional para o exercício de cargo rigorosamente
técnico;

• profissional que critica de maneira desleal os trabalhos de outros profissionais


ou as determinações do que tenham atribuições superiores.

• Responsabilidade Objetiva:

Quanto à responsabilidade objetiva, o Código de Defesa do Consumidor


(Lei n° 8.089) prevê a responsabilidade do fornecedor de produtos ou serviços.
Uma de suas poucas exceções é relativa aos profissionais liberais, encontrada no
parágrafo 4° de seu artigo 14, no qual encontramos a responsabilidade por danos
causados ao contratante (consumidor).

A responsabilidade objetiva baseia-se na teoria do risco. Aquele que, através


de sua atividade, cria um risco de dano para terceiros deve ser obrigado a repará-
lo, ainda que tenha agido sem culpa.

O código coloca em questão a efetiva participação preventiva e consciente


dos profissionais. Sendo assim, é fundamental que o arquiteto esteja atento à
obrigatoriedade de observância às Normas Técnicas e à execução de orçamento
prévio de projeto completo, com especificação correta de qualidade, garantia
contratual (contrato escrito) e legal (ART).

• Responsabilidade Trabalhista

Ela poderá acontecer em virtude das relações contratuais ou legais


assumidas com os empregados (operários, mestres, técnico e até mesmo outros
profissionais) utilizados na obra ou serviço, estendendo-se também sobre as
obrigações acidentárias (decorrentes de acidentes de trabalho) e previdenciárias
em relação aos empregados.

É regulada pelas leis trabalhistas em vigor. Este tipo de responsabilidade


o profissional só assume quando contratar empregados pessoalmente, ou através
de representante seu ou de sua empresa. Nas obras e serviços contratados por
administração, o profissional estará isento dessas responsabilidades, desde que
o proprietário assuma o encargo da contratação dos operários. (MAFFEI, 1990).

• Responsabilidade Administrativa

Resulta das restrições impostas pelos órgãos públicos, através do


Código de Obras, Código de Água e Esgoto, Normas Técnicas, Regulamento
Profissional, Plano Diretor e outros. Essas normas legais impõem condições e
criam responsabilidades ao profissional, cabendo a ele, portanto, o cumprimento
das leis específicas à sua atividade, sob pena, inclusive, de suspensão do exercício
profissional. (MAFFEI, 1990, p. 74).

87
UNIDADE 2 | A PROFISSÃO DO ARQUITETO E URBANISTA

• Responsabilidade Penal ou Criminal

Resulta da prática de uma infração que pode ser considerada contravenção


(infração mais leve) ou crime (infração mais grave) e pode sujeitar o causador –
no caso o arquiteto – conforme a gravidade do fato, a penas que implicam desde
a eliminação da liberdade física (reclusão, detenção ou prisão simples) a penas de
natureza pecuniária (multas) ou a penas que impõem restrições ao exercício de
um direito ou uma atividade.

Veja alguns exemplos de infrações:

• profissional que não atende às especificações contidas no projeto estrutural e,


visando obter maiores lucros, assume o risco de reduzir a bitola das ferragens;

• desabamento de uma construção, em virtude de sua execução;

• desmoronamento;

• incêndio, quando provocado por sobrecarga elétrica.

Todas essas ocorrências são incrimináveis, havendo ou não lesão corporal


ou dano material, desde que se caracterize perigo à vida ou à propriedade. Por
isso, cabe ao arquiteto, no exercício de sua atividade, prever todas as situações que
possam ocorrer a curto, médio e longo prazo, para que fique isento de qualquer
ação penal.

• Responsabilidade Técnica

O arquiteto que realiza uma atividade profissional assume a


responsabilidade técnica pelo trabalho, sendo obrigado a garantir a qualidade, a
segurança e o bom desempenho dos serviços, considerando as normas técnicas
reconhecidas. Inclui a responsabilidade por orçamentos e pela especificação e
qualidade de materiais utilizados nos serviços sob controle do profissional.

O profissional que faltar com sua responsabilidade técnica poderá estar


cometendo infrações ao Código de Ética, ao Código Civil, ao Código Penal,
cabendo ser enquadrado nas penalidades previstas nestes regulamentos. (SENRA,
1998).

88
TÓPICO 2 | ATRIBUIÇÕES PROFISSIONAIS

LEITURA COMPLEMENTAR

O texto a seguir é um clássico sobre a arquitetura, pois trata da Formação


dos Arquitetos. Foi escrito pelo arquiteto romano Marcus Vitruvius Pollio, no ano
25 d.C.

A FORMAÇÃO DOS ARQUITETOS

Kelson Vieira Senra

A ciência da arquitetura é beneficiada com muitas disciplinas e vários


conhecimentos; por seu julgamentos são provadas todas as obras realizadas pelas
outras artes. Ela nasce tanto na prática como na teoria. A prática é o exercício
habitual da experiência contínua que se executa com as mãos em todo gênero
de material necessário à representação do projeto. E a teoria pode descrever e
explicar coisas construídas na medida da habilidade e da arte.

Por isso os arquitetos que, sem leitura, haviam se esforçado no exercício


com as mãos, não puderam ter autoridade pelos seus trabalhos; e os que só
confiaram nas teorias e nos seus conhecimentos, parecem ter perseguido uma
sombra, não a realidade. Mas aqueles que aprenderam ambas a fundo, como
munidos de todas as formas, atingiram mais facilmente, com autoridade, aquele
que foi seu objetivo.

De fato, estas duas estão presentes em tudo e também na arquitetura que


é demonstrada e a que demonstra. Demonstrado é o projeto sobre o qual se fala; e
o que demonstra é a descrição desenvolvida com as explicações das ciências. Por
isso o arquiteto deve ter habilidade nos dois sentidos, para que seja considerado
como tal. E assim também é preciso que seja engenhoso e dócil à ciência. Pois
nem o talento sem a disciplina, nem a disciplina sem o talento pode fazer o artista
perfeito. E que seja culto, perito em desenho, versado em geometria, conheça
história, tenha ouvido atentamente os filósofos, saiba música, não seja ignorante
de medicina, conheça os pareceres dos juristas, conheça astronomia e as razões
do céu.

Por isso é assim, estas são as razões. É preciso que o arquiteto tenha
cultura, para que possa melhorar a memória com anotações. Depois, é preciso
conhecer a ciência do desenho para que possa representar mais facilmente, com
representações gráficas o aspecto que queira da obra. E a geometria presta vários
socorros à arquitetura; primeiro ensina o uso das réguas e do compasso, com
o qual são feitos mais facilmente os traçados dos edifícios nos seus terrenos e
o alinhamento tanto dos níveis quanto dos prumos, com o uso dos esquadros.
Do mesmo modo por meio da ótica os raios de luz são levados diretamente de
certas regiões dos céus aos edifícios. E pela aritmética são calculados os custos
dos edifícios, são explicados os cálculos das dimensões. As questões difíceis da
simetria são encontradas com métodos e explicações geométricas.

89
UNIDADE 2 | A PROFISSÃO DO ARQUITETO E URBANISTA

É preciso que conheça história porque os arquitetos desenham mais


frequentemente em suas obras muitos ornamentos sobre os quais devem
responder aos que pedem explicações.

Quanto à filosofia, forma o arquiteto de grande espírito, e para que não seja
arrogante, mas antes tratável, justo e fiel, sem avareza, o que é muito importante,
porque na verdade nenhuma obra pode ser feita sem confiança e integridade.
Não seja ambicioso nem tenha a alma preocupada em receber recompensas; mas,
tendo boa fama, preserve com serenidade seu prestígio; e é isto que a filosofia
prescreve. Além disso, a filosofia trata da natureza, que se diz em grafo physiologia.
É necessário estudá-la mais cuidadosamente porque apresenta muitas e variadas
questões naturais. Como nas aduções das águas. Pois nos seus percursos, tanto
na curva, como nos planos, formam-se ares com as elevações, naturalmente, num
ou noutro caso, dos quais ninguém poderá remediar os danos, exceto aquele que
saiba a partir da filosofia dos princípios da natureza das coisas.

É preciso conhecer a música para que conheça a teoria canônica e


matemática. Devem-se harmonizar os sons dos espaços, o ritmo. As máquinas
hidráulicas e as outras, ninguém poderá fazer sem os princípios musicais do
círculo, a quarta, a quinta, a oitava, a dupla oitava, a harmonia dos sons.

Até a disciplina da medicina é necessário conhecer por causa da inclinação


do céu, que os gregos chamam de klímata, do ar e dos lugares que são saudáveis
ou insalubres e da utilidade das águas, pois sem esses princípios não se pode
fazer nenhuma habitação salubre.

Também é preciso que conheça as leis necessárias para os edifícios de


paredes comuns, para a divisória das águas pluviais e dos esgotos, das claraboias.
Da mesma forma, a adução das águas e outras questões congêneres, é preciso
que sejam conhecidas dos arquitetos, a fim de que, antes que se construam os
edifícios, cuidem para, feitas as obras, não deixar o processo aos pais de família
e para que quando fechar os contratos possa cuidar, com prudência, tanto do
contratante quanto do empreiteiro; e de fato se o contrato estiver bem escrito, será
de modo que se desobrigue um do outro sem logro.

E com a astronomia se conhece o Oriente, o Ocidente, o Sul, o Norte,


também a teoria do céu, o equinócio, o solsístico, o curso dos astros.

FONTE: Adaptado de: Senra et al. (1998, p. 20-21)

90
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, caro(a) acadêmico(a), estudamos os seguintes conteúdos:

• As atribuições profissionais foram definidas pela Resolução n° 218, do


CONFEA, em 29 de junho de 1973, com objetivo de estabelecer o campo de
atuação de cada uma das profissões de arquiteto, engenheiro e agrônomo.

• Para caracterizar as atribuições de cada profissão, foram definidas as atividades


profissionais que competem a cada uma, permitindo, desta maneira, a
fiscalização do exercício profissional.

• O profissional não está habilitado a desempenhar nenhuma atividade além


daquelas que lhe competem.

• Os arquitetos que exercem as atividades previstas no item de atribuições


profissionais assumem responsabilidades: técnica, civil, penal ou criminal,
objetiva, administrativa, trabalhista e ética.

91
AUTOATIVIDADE

Considerando o texto do arquiteto Vitruvius, sobre a Formação dos


Arquitetos, reflita sobre as principais atribuições consideradas fundamentais
na época e analise se hoje elas podem ser consideradas atuais para o exercício
da profissão de arquitetura.

92
UNIDADE 3

REPRESENTAÇÃO DE PROJETOS DE
ARQUITETURA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

A partir do estudo desta unidade, você estará apto(a) a:

• compreender as fases que compõem o projeto arquitetônico;

• interpretar elementos gráficos e escritos do projeto arquitetônico;

• reconhecer as diretrizes e normas que regem o desenho arquitetônico.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. Ao final de cada um deles você
encontrará atividades que o(a) ajudarão a fixar os conteúdos apresentados.

TÓPICO 1 – FASES DO PROJETO ARQUITETÔNICO

TÓPICO 2 – ELEMENTOS DO PROJETO ARQUITETÔNICO

TÓPICO 3 – CONVENÇÕES DO DESENHO ARQUITETÔNICO

93
94
UNIDADE 3
TÓPICO 1

FASES DO PROJETO ARQUITETÔNICO

1 INTRODUÇÃO
A necessidade de fazer um projeto surge quando alguém pretende
construir algo. Sem o projeto, não há possibilidade de ser determinado o custo
da construção, a quantidade de materiais e o tempo que será empregado na
construção.

O projeto é a ideia, o resultado de pesquisas e discussões. É o plano


organizado de uma edificação que traduz uma intenção, um desejo que parte de
alguém e tem por objetivo determinar um caminho a ser seguido.

O processo de concepção arquitetônica de uma edificação é composto por


diversos estágios para que o projeto se torne viável e completo. A complexidade
e quantidade de informações de um desenho variam de acordo com suas fases de
desenvolvimento do projeto.

UNI

Primeiramente, é importante esclarecer a diferença entre projeto e planta.


Planta é o desenho em que está representado aquilo que se deseja construir, que é o projeto.
Já o projeto é uma ideia que foi eleita entre diversos fatores.

Os estudos preliminares, o anteprojeto e o projeto técnico são três etapas


diferenciadas que caracterizam os estágios mais significativos do processo de
projeção na arquitetura. A seguir, uma breve descrição destas etapas.

2 ESTUDOS PRELIMINARES
Os estudos preliminares representam o estágio inicial do processo
projetual. Esta fase tem por objetivo familiarizar o projetista com o tema e o
programa de necessidades a ser trabalhado. Leva em consideração aspectos
relativos ao pré-dimensionamento da obra a ser concebida e as características do
terreno e do entorno.

95
UNIDADE 3 | REPRESENTAÇÃO DE PROJETOS DE ARQUITETURA

Nesta fase, cabe ao cliente dizer os objetivos que pretende atingir com sua
construção, fixar o tempo que pretende gastar para construir e o custo máximo
para a obra. No diálogo entre cliente e o projetista vão surgindo diversas questões
e soluções.

A partir do momento em que o arquiteto/engenheiro fica ciente dos


objetivos e necessidades de seu cliente, começa a elaboração de um croqui, ou
seja, um rascunho do projeto, que dará início a uma nova fase denominada de
anteprojeto.

3 ANTEPROJETO
Segundo Montenegro (2001), o anteprojeto é um croqui “passado a
limpo”. Ele representa a solução geral do problema, com a definição do partido
adotado, da concepção estrutural e das instalações.

São as primeiras linhas traçadas pelo arquiteto, procurando objetivar uma


ideia ou concepção arquitetônica. Constitui a etapa inicial de apresentação do
projeto ao cliente, o primeiro momento da criação expressa no papel.

Para expressar suas ideias, o arquiteto/engenheiro, habitualmente,


apresenta, nesta etapa, uma planta com a distribuição das peças projetadas e
perspectivas, representando as vistas externas da edificação.

4 PROJETO ARQUITETÔNICO EXECUTIVO


O projeto arquitetônico executivo é a proposta conclusiva representada
de forma clara, exata e completa. É constituído por desenhos (plantas, cortes,
elevações, esquemas, detalhes etc.) e elementos textuais (memoriais, planilhas
quantitativas, gráficos e tabelas).

O principal objetivo deste projeto é possibilitar a execução da obra


concebida, enquanto o anteprojeto tem a finalidade de fornecer uma imagem da
concepção que o projetista elaborou. O anteprojeto interessa primordialmente
à necessidade de compreensão e aprovação da ideia, enquanto o projeto
arquitetônico executivo interessa à execução.

Esta etapa serve como instrumento para realização da obra. O projeto


executivo deve ser considerado, acima de tudo, um sistema de instruções
que informará de que maneira deve ser construída a edificação. Devem ser
desenhados todos os detalhes do edifício (detalhes de portas e janelas, cobertura,
escadas, entre outros) com um nível de complexidade adequado à realização da
construção, especificação de materiais e de acabamentos (pisos, paredes, peças
sanitárias, ferragens, tintas etc.).

96
TÓPICO 1 | FASES DO PROJETO ARQUITETÔNICO

Este projeto deverá ser submetido à aprovação de entidades públicas e


servirá de orientação para a elaboração de projetos complementares, orçamentos
e para a construção. A função primordial do projeto executivo é comunicar.
Isto naturalmente implica a utilização de recursos de linguagem para que a
comunicação seja possível.

4.1 MEMORIAL DESCRITIVO E PLANILHA QUANTITATIVA DE


MATERIAIS
Após a conclusão do projeto executivo, é elaborado um memorial
descritivo. O objetivo principal deste memorial é complementar as informações
que não puderam ser expressas em forma de desenho e apresentar especificações
técnicas e definições qualitativas e quantitativas no que diz respeito aos materiais
e procedimentos construtivos. É um documento detalhando quais materiais serão
utilizados em todo o imóvel que será construído - desde o material bruto (tijolo,
laje etc.) até os acabamentos (material das esquadrias, pisos, revestimentos,
louças, metais etc.).

A planilha quantitativa de materiais, assim como o memorial descritivo,


complementa as informações que não puderam ser expressas nos desenhos. Seus
dados são formatados em uma tabela que expressa a quantidade de material que
será utilizado na obra. Esta tabela é dividida em vários itens, que vão desde a
instalação de um canteiro de obra (quantidade de tábuas de caixaria, pregos,
número de horas trabalhada de um pedreiro, impostos etc.) até o acabamento
final – conclusão da obra.

5 PROJETOS COMPLEMENTARES
Finalizado o projeto arquitetônico técnico, inicia-se a elaboração dos
projetos complementares que, geralmente, são elaborados por engenheiros
civis. Os projetos complementares devem atender rigorosamente ao Projeto
Arquitetônico em todos os seus detalhes e especificações.

Os principais projetos complementares necessários para execução de uma


obra são:

• Projeto Estrutural.

• Projeto de Instalações Hidrossanitárias (distribuição de água e esgoto).

• Projeto de Instalações Elétricas.

97
UNIDADE 3 | REPRESENTAÇÃO DE PROJETOS DE ARQUITETURA

TUROS
ESTUDOS FU

No próximo tópico, conceituaremos e apresentaremos a simbologia de cada


um destes projetos.

98
RESUMO DO TÓPICO 1

Ao estudar o presente tópico, caro(a) acadêmico(a), você esteve em


contato com os seguintes conteúdos:

• No primeiro tópico desta unidade, conhecemos as principais fases de concepção


do projeto arquitetônico – estudo preliminar, anteprojeto e projeto executivo.

• O estudo preliminar é o momento em que o arquiteto/engenheiro fica ciente


de todos objetivos e necessidades de seu cliente. É uma fase em que surgem
muitas questões e nascem os primeiros esboços da edificação.

• Na fase do anteprojeto, a ideia do arquiteto/engenheiro é apresentada para


apreciação do cliente.

• A etapa final de concepção do projeto arquitetônico é o projeto arquitetônico


executivo. Após a discussão e aprovação do anteprojeto pelo cliente,
são elaborados os desenhos que servirão de base para execução da obra,
desenvolvimento dos projetos complementares e aprovação nos órgãos
públicos.

99
AUTOATIVIDADE

Considerando todas as fases de desenvolvimento do projeto


arquitetônico, reflita sobre a importância de cada uma delas para o sucesso
de um empreendimento. Na sua opinião, existe uma fase que mereça maior
importância que as demais?

100
UNIDADE 3
TÓPICO 2

ELEMENTOS DO PROJETO ARQUITETÔNICO

1 INTRODUÇÃO
No tópico anterior, foram apresentadas as fases que compreendem um
Projeto Arquitetônico. Estas fases são representadas por elementos que possuem
uma linguagem gráfica, denominada desenho arquitetônico.

O desenho arquitetônico é um desenho técnico normatizado, voltado para


a execução e representação de projetos de arquitetura. Este desenho manifesta-se
como um código para uma linguagem, estabelecida entre o emissor (o desenhista
ou projetista) e o receptor (o leitor do projeto). É uma importante ferramenta
que permite ao arquiteto não apenas apresentar uma ideia, mas comunicar-se com
outras pessoas.

Ele consiste na representação geométrica das diferentes projeções ou


seções de um edifício, utilizando convenções que buscam uniformizar e facilitar
a leitura do desenho, e, consequentemente, a execução da obra. Este conjunto de
projeções se resume em:

• plantas;

• elevações/fachadas;

• cortes ou seções;

• detalhes.

Baseados nos princípios da projeção ortográfica, estes desenhos são


representados dimensionalmente em escala, utilizando convenções que buscam
uniformizar e facilitar sua leitura e, consequentemente, a execução da obra.

UNI

Projeção ortográfica é quando a linha de visada é perpendicular tanto ao plano


do desenho como às principais superfícies da edificação representada.

101
UNIDADE 3 | REPRESENTAÇÃO DE PROJETOS DE ARQUITETURA

FIGURA 47 – SISTEMA DE REPRESENTAÇÃO

VISTA LATERAL
ESQUERDA

VISTA DE FRENTE

vista de cima
PLANTA DE COBERTURA

FONTE: Montenegro, 2001

Ao utilizar desenhos para representar um projeto arquitetônico, na


verdade estamos utilizando um método abstrato para representar a realidade.

FIGURA 48 – REPRESENTAÇÃO DE FORMAS

Formas diferentes, porém


planta em planta são idênticas

FONTE: Ching (2002)

Embora os quatro objetos tenham formas diferentes, as vistas em planta


para todos eles (olhando direto de cima para baixo) são idênticas. Por isso, a
relação entre as vistas em planta, corte e elevação são importantes para a descrição
e compreensão da planta que estamos desenhando.

2 PLANTA BAIXA
As plantas baixas são desenhos que descrevem a configuração interior de
uma edificação numa vista superior. É quando secionamos uma edificação com
um plano horizontal, paralelo ao plano do piso, de maneira que corte janelas,
portas, paredes etc. e que fiquem demarcadas todas as particularidades da
construção.

102
TÓPICO 2 | ELEMENTOS DO PROJETO ARQUITETÔNICO

FIGURA 49 – PLANTA BAIXA

A planta baixa é uma vista, olhando de cima O corte horizontal seciona todos
para baixo depois de ter cortado a edificação os elementos verticais principais e
por um plano horizontal e removido a parte aberturas de portas e janelas.
superior. Geralmente este corte situa-se a
1,5m acima do piso - dependendo do que se
quer ilustrar.

Importantes elementros acima do corte


horizontal (pisos superiores, aberturas no
telhado, forros, rebaixos beirais, etc) são
indicados por linhas tracejadas.

FONTE: Ching (2002)

2.1 GRAFISMO
De maneira geral, tudo que é cortado em planta (paredes, pilares etc.) tem
prioridade de expressão e é representado por linhas de valor dominante. São as
linhas principais. Por conseguinte, aquilo que é visto (parapeitos, piso, bancada
de cozinha etc.) tem um valor menor que o corte, devendo ser expresso por traços
mais leves. São as linhas secundárias médias.

UNI

Parapeito: muro ou parede que se eleva à altura do peito.

As linhas secundárias finas expressam a trama de piso das áreas molhadas,


as diferenças de nível e as linhas de cota.

As plantas baixas podem ser apresentadas utilizando duas linguagens:

 Humanizada: o objetivo desta planta e fornecer informações suficientes para


compreensão dos espaços projetados.
103
UNIDADE 3 | REPRESENTAÇÃO DE PROJETOS DE ARQUITETURA

 Executiva: com objetivo de informar todos os dados técnicos para uma perfeita
execução da obra (projeto arquitetônico técnico).

2.2 PLANTA BAIXA HUMANIZADA


A planta humanizada é, geralmente, apresentada na etapa do anteprojeto.
Ela permite ao cliente um maior entendimento quanto à disposição dos cômodos
do imóvel e do que poderá caber em cada ambiente projetado. É o principal
desenho voltado para a compreensão do projeto pelo leigo. Normalmente, o
cliente é desconhecedor da linguagem arquitetônica, portanto sem condições de
visualizar perfeitamente as plantas baixas voltadas para a construção.

As plantas humanizadas o ajudam a perceber as propostas de layout para os


ambientes e também suas proporções, já que os espaços são representados com o
máximo de elementos possíveis (camas, cadeiras, mesas, objetos, eletrodomésticos
etc.) Estes desenhos, em conjunto com as perspectivas, são também responsáveis
pela venda do projeto, já que retratam os espaços projetados.

FIGURA 50 – EXEMPLO DE PLANTA BAIXA HUMANIZADA

FONTE: SCHIMIDT, Edson; CAMPOS, Leonel (arquitetos)

2.3 PLANTA BAIXA EXECUTIVA


O desenho da planta baixa executiva serve de base para o desenvolvimento
dos projetos complementares, para a execução da obra e para aprovação nos
órgãos públicos.

104
TÓPICO 2 | ELEMENTOS DO PROJETO ARQUITETÔNICO

FIGURA 51 – EXEMPLO DE PLANTA BAIXA HUMANIZADA


INDICAÇÃO PORTAS
(QUADRO DE ESQUADRIAS)
PROJEÇÃO ESCADA
(OBSERVAR REPRESENTAÇÃO)

LINHA DE CORTE
(TRANSVERSAL)

NOME DO AMBIENTE E ÁREA


(INDICAÇÃO QUADRO DE ÁREAS)

COTAS

INDICAÇÃO JANELAS LINHA DE CORTE


(QUADRO DE ESQUADRIAS) COTA DE (LONGITUDINAL)
NÍVEL

INDICAÇÃO
TÍTULO DO DESENHO
ÁREA E ESCALA FACHADAS

FONTE: As autoras

A folha em que está desenhada a planta baixa técnica apresenta alguns


elementos textuais, que fornecem informações complementares que não foram
representados no desenho.

O quadro de esquadrias apresenta uma descrição completa


(dimensionamento, material, quantidade, especificações) de portas e janelas
sugeridas no projeto. Já o quadro de áreas apresenta a metragem e especificações
dos pisos indicados em cada ambiente projetado.

105
UNIDADE 3 | REPRESENTAÇÃO DE PROJETOS DE ARQUITETURA

QUADRO 1 – EXEMPLO DE QUADRO DE ESQUADRIAS E DE ÁREAS

FONTE: As autoras

Em uma planta baixa executiva, a representação de escadas e de elementos


projetados acima do plano de corte da planta baixa apresentam particularidades
em relação aos demais itens.

106
TÓPICO 2 | ELEMENTOS DO PROJETO ARQUITETÔNICO

FIGURA 52 – REPRESENTAÇÃO DE ESCADAS

CORRIMÃO
BALAUSTRE
PATAMAR

CORRIMÃO PISO
GUARDA-CORPO NÍVEL DE
BALAUSTRE CHEGADA ESPELHO
PATAMAR

DESLOCAMENTO
CORTE A
PISO
ESPELHO

VERTICAL
PISO

NÍVEL DE
PARTIDA

PLANTA BAIXA

Acima do plano de corte,


usamos linhas tracejadas
para completar os
elementos ascendentes
da escada.
FONTE: Disponível em: <www.marcosbandeira.arq.br>. Acesso em: 15 jan. 2009.

3 CORTES
Os desenhos dos cortes descrevem elevações interiores. É uma vista de
elevação que encara frontalmente a parte restante da edificação, ou seja, aquela
que não foi removida.

FIGURA 53 – REPRESENTAÇÃO DA LINHA DE CORTE Como regra, as setas da linha


de corte indicam o ponto
em que o corte foi feito e a
direção da qual é visto. As
setas são indicadas nas plantas
baixas por traços grossos
interrompidos e terminados
por setas que indicam a
situação do observador em
relação ao plano cortado. Os
cortes são representados por
uma letra maiúscula.
FONTE: Disponível em: <www.marcosbandeira.arq.br>.
Acesso em: 15 jan. 2009.

107
UNIDADE 3 | REPRESENTAÇÃO DE PROJETOS DE ARQUITETURA

FIGURA 54 – REPRESENTAÇÃO DOS CORTES

Plano Vertical

FONTE: Montenegro, 2001

A quantidade de cortes varia de acordo com a complexidade do projeto,


e podem ser até mesmo referentes a apenas um elemento específico do projeto.
Na maioria das vezes, uma única seção não é suficiente para demonstrar todos
os detalhes do interior de um edifício, sendo necessários, no mínimo, dois cortes.
Desta maneira, um projeto, geralmente, apresenta dois cortes:

FIGURA 55 – CORTE LONGITUDINAL E TRANSVERSAL

Transversal - quando o corte passar no Longitudinal - quando o corte passar no


menor sentido da edificação. maior sentido da edificação.

FONTE: Odebrecht, (2006)

108
TÓPICO 2 | ELEMENTOS DO PROJETO ARQUITETÔNICO

O corte é posicionado sempre nos principais elementos do edifício (janelas


principais, portas, circulação vertical – escadas – etc.). A função básica do corte é
complementar as informações da planta baixa e, principalmente, no que se refere
às alturas dos componentes da edificação.

À semelhança das plantas baixas, o que está representado em vista tem


um traçado com menor espessura. As linhas de cota e piso recebem um traçado
com linhas finas.

FIGURA 56 – ELEMENTOS QUE COMPÕEM O CORTE

COSTAS DE
NÍVEL

LINHA DE
TERRA
TÍTULO E
INDICAÇÃO DA ESCALA

FONTE: As autoras

4 ELEVAÇÕES/FACHADAS
As elevações, ou fachadas, são vistas da edificação, projetada
ortogonalmente em um plano vertical do desenho. A elevação pode ser frontal,
lateral ou posterior, dependendo de como nos orientamos com relação ao objeto
ou como definimos a relativa significação de suas faces.

As normas brasileiras (NBR 10.067) estabelecem a convenção usada pelas


normas italianas, alemãs, russas e outras, em que se considera o objeto a ser
representado envolvido por um cubo. O objeto é projetado em cada uma das
seis faces do cubo e, em seguida, o cubo é aberto ou planificado, obtendo-se seis
vistas.

109
UNIDADE 3 | REPRESENTAÇÃO DE PROJETOS DE ARQUITETURA

FIGURA 57 – PLANIFICAÇÃO (VISTAS)

VE – Vista Esquerda
VP – Vista Posterior
VD – Vista Direita
VF – Vista Frontal
VI – Vista Inferior
VS – Vista Superior

AUTOR: Montenegro, (2001)

Teríamos assim, as projeções do prédio rebatidas na planificação do cubo.


Todas as superfícies planas paralelas ao plano do desenho e perpendiculares à
linha de vista do observador mantêm sua verdadeira grandeza (em escala), sua
forma e sua proporção.

A função básica de uma fachada é, a exemplo do que acontece com os


cortes, complementar informações das plantas baixas e dos próprios cortes,
mostrando o edifício através de suas vistas externas. Na fachada, aparecerão
os elementos gráficos que representarão as esquadrias, a cobertura, paredes,
revestimentos, indicações de materiais, entre outros.

As elevações podem ser rotuladas em relação aos pontos cardeais. É


importante notar que a face de uma edificação é nomeada pela direção para a qual
ela está orientada, ou a direção a partir da qual você a vê. Por exemplo, a elevação
norte de uma edificação faceia o norte ou é a que você vê do norte. Em alguns
casos, as elevações podem estar rotuladas com respeito a uma característica do
local: por exemplo, elevação da Rua ... (nome da rua).

110
TÓPICO 2 | ELEMENTOS DO PROJETO ARQUITETÔNICO

FIGURA 58 – REPRESENTAÇÃO DE ELEVAÇÕES

norte geográfico
elevação norte

elevação oeste

elevação leste

nor
te v
erd
elevação sul

ade
iro
FONTE: Ching, (2002)

4.1 GRAFISMO
O desenho das elevações, as linhas, traduzem a hierarquia de proximidade
e/ou afastamento dos diferentes planos componentes da fachada. As linhas grossas
parecem avançar mais ou estar mais próximas que as linhas finas, que têm tendência
a recuar em um desenho.

Linhas fortes: definem os primeiros planos.

Linhas médias: definem os planos intermediários.

Linhas finas: traduzem os planos bem afastados do observador.

FIGURA 59 – GRAFISMO NAS ELEVAÇÕES

A representação de materiais, texturas e sombras são utilizadas para melhorar a sensação de profundidade
em um desenho de elevação.

FONTE: Ching, (2002)

111
UNIDADE 3 | REPRESENTAÇÃO DE PROJETOS DE ARQUITETURA

5 PLANTA DE SITUAÇÃO
A função básica da planta de situação e posicionar o terreno na cidade. A
planta de situação indica a forma e as dimensões do terreno, os lotes, as quadras
vizinhas e as ruas de acesso. Geralmente, estes desenhos são representados na
escala 1:500, 1:1000 ou 1:2000 e abrangem uma área relativamente extensa.

FIGURA 60 – EXEMPLO DE UMA PLANTA DE SITUAÇÃO

AUTOR: Montenegro, (2001)

Na planta de situação, consta, no canto superior direito, uma tabela


denominada Quadro Resumo. O objetivo deste quadro é apresentar os índices
urbanísticos do terreno e as áreas permitidas e projetadas da edificação.

112
TÓPICO 2 | ELEMENTOS DO PROJETO ARQUITETÔNICO

FIGURA 61 – EXEMPLO DE UM QUADRO RESUMO

Zona, estabelecida segundo o plano diretor, Quadro indicativo dos índices urbanísticos
em que está localizada do terreno e do projeto.

O coeficiente de aproveitamento determina a área total


que pode ser contruída em um determinado terreno

A taxa de ocupação determina a área que a projeção


horizontal de uma edificação pode ocupar no terreno
FONTE: As autoras

6 PLANTA DE LOCALIZAÇÃO/IMPLANTAÇÃO
A função básica da planta de localização é posicionar a edificação no
terreno. Esta planta serve como ponto de partida para marcação ou locação da
construção no terreno. Ela não se limita apenas à edificação projetada – apresenta
a representação de muros, acessos de veículos e pedestres, árvores existentes ou
a plantar, um ponto de referência, a calçada, rebaixos e o passeio.

Estes desenhos são representados frequentemente na escala 1:200 e 1:500.

FIGURA 62 – TERMOS UTILIZADOS EM UMA PLANTA DE LOCALIZAÇÃO

MURO DE DIVISA DE LOTE


FUNDO

RECUO OU AFASTAMENTO
FRONTAL

PASSEIO OU CALÇADA

ALINHAMENTO, TESTADA
AFASTAMENTO LATERAL OU FRENTE DO LOTE

FONTE: Montenegro, (2001)

113
UNIDADE 3 | REPRESENTAÇÃO DE PROJETOS DE ARQUITETURA

FIGURA 63 – EXEMPLO DE UMA PLANTA DE LOCALIZAÇÃO

FONTE: Ching, (2002)

7 PLANTA DE COBERTURA
A planta de cobertura é uma vista obtida olhando a edificação diretamente
para baixo, sem qualquer corte. O principal objetivo deste desenho é transmitir a
forma geral da cobertura, suas massas, inclinações e caimentos.

FIGURA 64 – EXEMPLO DE COBERTURA (PERSPECTIVA E PLANTA BAIXA)

FONTE: Odebrecht (2006)

114
TÓPICO 2 | ELEMENTOS DO PROJETO ARQUITETÔNICO

FIGURA 65 – EXEMPLO DE UMA PLANTA DE COBERTURA

A planta de telhado ou cobertura


de uma edificação é, normalmente,
combinada com a planta de
localização, ilustrando a localização
e a orientação de uma edificação.

FONTE: Ching (2002)

NOTA

Se você quiser visualizar outros exemplos de representações de projetos de


arquitetura desenvolvidos por arquitetos, acesse o endereço eletrônico www.marcosbandeira.
arq.br. Neste site, você encontrará informações complementares sobre este tema.

8 PROJETOS COMPLEMENTARES
Conforme já citado no tópico referente às fases de um projeto arquitetônico,
os projetos complementares são elaborados a partir do projeto arquitetônico
executivo. É importante dizer que esses projetos possuem muito mais símbolos
que os demais, mas todos eles são legendados.

Entre os principais projetos complementares para execução de uma


residência estão:

8.1 PROJETO ESTRUTURAL


O projeto estrutural é o dimensionamento das estruturas, geralmente
de concreto armado, que vão sustentar a edificação, transmitindo as suas
cargas ao terreno. Elaborado geralmente por um engenheiro civil, esse projeto
é de fundamental importância, pois é o responsável pela segurança do prédio
contra rachaduras (trincas) e desabamentos. Uma estrutura com lajes, vigas,
pilares e fundações superdimensionados representa custos altos e não significa
115
UNIDADE 3 | REPRESENTAÇÃO DE PROJETOS DE ARQUITETURA

obrigatoriamente segurança. É preciso que haja um perfeito equilíbrio entre


o concreto e o aço dentro dos elementos estruturais para que as peças sejam
consideradas seguras e, consequentemente, toda a obra.

Para elaboração do projeto estrutural, é necessário, além do projeto


arquitetônico executivo, o laudo de sondagem. O laudo de sondagem é um
documento confeccionado por empresas especialistas em sondagens que
apresenta o perfil do solo abaixo do nível zero, ou seja, todos os tipos de camadas
de solos e suas respectivas resistências à compressão. Este laudo é necessário para
o dimensionamento adequado das fundações. Sem ele, o engenheiro projetista de
estruturas deverá prever, por medida de segurança, resistências do solo inferiores,
aumentando, consequentemente, as bases das fundações.

FIGURA 66 – EXEMPLO DE UM PROJETO ESTRUTURAL


(Planta de Forma – pilares e vigas baldrame)

No projeto estrutural,
constam as plantas de infra-
estrutura, que englobam
os elementos estruturais
que ficam abaixo do
solo, como as fundações,
estacas, sapatas e vigas
baldrames e as plantas de
supra-estrutura, que são os
elementos que ficam acima
do solo como os pilares,
lajes e vigas.

FONTE: As autoras

8.2 PROJETO DE INSTALAÇÕES HIDROSANITÁRIAS


Este projeto busca dimensionar as tubulações necessárias, para cada
área molhada (banheiros, lavabos, área de serviço, cozinha e outros). O projeto
de instalações hidrossanitárias pode ser feito por um engenheiro civil ou por
um arquiteto e é o responsável pelo bom dimensionamento das tubulações de
águas e esgotos sanitários e pluviais. Promove economia, conforto e higiene.
Casos comuns de pouca pressão de água em chuveiros e mau cheiro em ralos são
oriundos da falta de um bom projeto hidrossanitário.

116
TÓPICO 2 | ELEMENTOS DO PROJETO ARQUITETÔNICO

FIGURA 67 – EXEMPLO DE UM PROJETO DE INSTALAÇÕES SANITÁRIAS

Nestas plantas são definidos todos os pontos de tubulação, além dos locais em que serão
instaladas as pias e vasos sanitários.

FONTE: As autoras

FIGURA 68 – DETALHE EM PERSPECTIVA E PLANTA BAIXA


linha de interrupção
porta

abertura
da porta

soleira bacia

pia
linha de
interrupção

pilar

janela pingadeira

Uma das características das plantas hidráulicas é o grande detalhamento. A perspectiva é


importante para garantir a perfeita instalação de todos os componentes hidráulicos projetados.

FONTE: REVISTA CONTRUÇÃO DO COMEÇO AO FIM, v. 1, p. 44.

117
UNIDADE 3 | REPRESENTAÇÃO DE PROJETOS DE ARQUITETURA

8.3 PROJETO DE INSTALAÇÕES ELÉTRICAS


O projeto elétrico indica o caminho das tubulações elétricas, desde a
caixa de entrada de energia que vem da rua até a sua chegada aos equipamentos
elétricos. Pode ser elaborado por um arquiteto, engenheiro civil ou elétrico.
Baseia-se no dimensionamento das cargas elétricas, fios, eletrodutos, disjuntores
e vários outros elementos com seus respectivos detalhamentos. É um projeto
muito importante, pois uma instalação mal dimensionada e mal executada,
apesar do emprego de material de primeira qualidade, pode acabar gerando
grandes despesas futuras e até acidentes de grandes proporções como incêndios.

FIGURA 69 – EXEMPLO DE UM PROJETO DE INSTALAÇÕES ELÉTRICAS

Neste projeto, são definidos todos os caminhos e pontos do circuito.

FONTE: As autoras

118
TÓPICO 2 | ELEMENTOS DO PROJETO ARQUITETÔNICO

FIGURA 70 – LEGENDA UTILIZADA NOS PROJETOS DE INSTALAÇÕES ELÉTRICAS

Quadro de distribuição de luz


Máquina de lavar pratos H = 0.30
Motor para portão elétrico
Forno elétrico
Tomadas de microondas H = 1.10
Luminaria na parede a prova de umidade
Poste decorativo com 125W

Luminaria na parede equipada com 01 Lâmpada incandescente de 40W


Luminaria no teto equipada com 01 Lâmpada incandescente de 100W

Luminaria no teto equipada com 01 Lâmpada incandescente de 60W

Antena de TV em caixa 2X4

Legenda com alguns símbolos utilizados nos projetos de instalações elétricas.


FONTE: As autoras

119
UNIDADE 3 | REPRESENTAÇÃO DE PROJETOS DE ARQUITETURA

LEITURA COMPLEMENTAR

REPRESENTAÇÃO GRÁFICA

Frank Ching
Corky Binggeli

Os projetistas usam desenhos de muitas formas. Os desenhos para


apresentação feitos ao final de um projeto arquitetônico são usados para
persuadir o cliente, os colegas ou o público em geral quanto aos méritos de uma
grande proposta de arquitetura. Os desenhos executivos são necessários para que
se deem instruções gráficas para execução ou construção de uma obra. Mas os
projetistas também usam tanto o processo quanto o produto de uma atividade
de se desenhar de outros modos. No projeto a função do desenho se expande
para incluir o registro do que já existe, eliminar ideias e se especular e planejar
para o futuro. Ao longo do processo de se projetar, usamos desenhos para guiar
o desenvolvimento de uma ideia desde o conceito à proposta e à realidade
construída.

Seja feito a caneta ou a lápis ou desenvolvido em CAD (Computer Aided


Design), a representação gráfica de ideias de projeto é particularmente útil nos
estágios preliminares do processo projetual. Desenhar uma ideia de projeto no
papel nos possibilita explorar e esclarecer tal ideia de modo bastante similar à
formação e ordenação de um pensamento que é posto em palavras. Tornar as
ideias de projeto concretas e visíveis nos permite agir sobre elas. Podemos analisá-
las, vê-las sob novos ângulos, combiná-las de novos modos e transformá-las em
novas ideias.

Embora o uso de computadores possa acelerar o processo de redesenhar


uma planta base ou deslocar elementos repetidos, muitos arquitetos acham que
podem se concentrar na síntese de ideias de projeto mais facilmente usando uma
folha de papel e um lápis ou uma caneta, sem a distração e as limitações de usar
um programa de computador.

A tarefa central do desenho de arquitetura é representar formas, construções


e ambientes espaciais, tridimensionais em uma superfície bidimensional. Três
tipos distintos de sistemas de representação foram desenvolvidos com o passar
dos anos para cumprir uma missão: desenho de múltiplas vistas, paraline e
perspectiva. Esses sistemas visuais de representação constituem uma linguagem
gráfica que é governada por um conjunto consistente de princípios.

120
TÓPICO 2 | ELEMENTOS DO PROJETO ARQUITETÔNICO

cobertura

vista frontal vista lateral vista posterior vista lateral

Desenhos de múltiplas vistas compreendem os tipos de desenhos que


conhecemos como plantas baixas, elevações ou seções (cortes). Cada um desses
é uma projeção ortográfica de um aspecto particular de um objeto ou de uma
construção.

Assim, a projeção ortográfica de uma característica ou de um elemento


que é paralelo ao desenho permanece com o tamanho, forma e configuração
real. Isso resulta na principal vantagem dos desenhos de múltiplas vistas – a
capacidade e a inclinação de linhas e descrever a forma e o tamanho dos planos.

Um único desenho de múltiplas vistas pode revelar apenas informações


parciais sobre um objeto ou uma construção. Há uma ambiguidade inerente na
profundidade, já que a terceira dimensão é achatada contra o plano do desenho.
Seja qual for a profundidade que lermos em uma planta baixa, um corte ou uma
elevação isoladamente, devem ser sugeridas por tais representações gráficas
dicas de profundidade, como pesos distintos de linhas hierarquizadas e tons
contrastantes. Embora se possa inferir uma sensação de profundidade, apenas se
pode ter certeza ao se olhar desenhos adicionais. Assim, precisamos de uma série
de vistas distintas, mas relacionadas, para descrever na totalidade a natureza
tridimensional de uma forma ou composição – daí o termo múltiplas vistas.

Desenhos paraline transmitem a natureza tridimensional de uma forma ou


contrução em uma única representação. Eles incluem o subconjunto de projeções
ortográficas conhecidas como projeções axonométricas, entre as quais a mais
comum é a projeção isométrica.

121
UNIDADE 3 | REPRESENTAÇÃO DE PROJETOS DE ARQUITETURA

Projeções perspectivas representam uma forma ou contrução


tridimensional projetando todos os seus pontos em um plano do desenho (PD)
através do uso de linhas retas que convergem para um ponto fixo, representando
a visão de um único olho observador. Embora normalmente visualizemos através
dos dois olhos, através do que se chama de visão binocular, a projeção perspectiva
pressupõe que vejamos um objeto ou uma cena tridimensionalmente através de
um único olho, o qual chamamos de ponto de vista do observador (PV).

Desenhos paralines e de múltiplas vistas utilizam projetores paralelos e o


tamanho projetado de um elemento permanece o mesmo, independente da sua
distância do plano do desenho. Os projetores convergentes ou linhas de visão
de um desenho em perspectiva, no entanto, alteram o tamanho aparente de uma
linha ou um plano, conforme a distância do plano do desenho e do observador.
Em outras palavras, linhas de visão convergentes reduzem o tamanho dos objetos
a distância.

O uso principal dos desenhos em perspectiva em projetos é representar


uma vista experimental do espaço e das relações espaciais. Programas de
computador de modelagem em 3D, ao seguir os princípios matemáticos das
perspectivas, podem facilmente criar vistas perspectivas distorcidas.

FONTE: Ching e Binggeli (2006, p.76-85)

122
RESUMO DO TÓPICO 2

Ao estudar o presente tópico, caro(a) acadêmico(a), você esteve em


contato com os seguintes conteúdos:

• Reconhecemos que, para a representação de projetos de arquitetura, é


necessário o uso de uma linguagem, que é praticada a partir do desenho
arquitetônico.

• O desenho arquitetônico é um conjunto de projeções que facilitam a leitura das


plantas no momento de apresentação de um empreendimento ao cliente e da
execução da obra.

• Estas projeções são as plantas baixas (que podem ser humanizadas ou


executivas), cortes (longitudinais e transversais), elevações ou fachadas, planta
de situação, planta de implantação e planta de cobertura. Este conjunto de
desenhos pode ser denominado como projeto arquitetônico.

• Os projetos complementares são elaborados a partir do projeto arquitetônico.


Os principais projetos complementares são: estrutural, instalações elétricas e
instalações hidrossanitárias.

123
AUTOATIVIDADE

Considerando os itens abordados neste tópico sobre os elementos de um


projeto arquitetônico, reflita sobre estas questões:

1 Argumente acerca da planta que você considera fundamental para a


apresentação de um empreendimento.

2 Discorra sobre o modo como você organizaria esta apresentação. Iniciaria


por qual desenho?

124
UNIDADE 3
TÓPICO 3

CONVENÇÕES DO DESENHO ARQUITETÔNICO

1 INTRODUÇÃO
Nos tópicos anteriores, foi destacado que o desenho é a principal maneira
de comunicação e transmissão das ideias de um projetista. Deste modo, é necessário
que os outros profissionais envolvidos possam compreender perfeitamente o que
está representado em seus projetos. Para isto, é necessário que todos os envolvidos
“falem a mesma língua”, nesse caso, a linguagem do desenho técnico.

Para facilitar esta comunicação foi determinada a normatização para


desenhos de arquitetura. Normatizar significa estabelecer normas, as quais
têm a função de regular regras e conceitos únicos de representação gráfica e
simbologia, possibilitando ao desenho técnico representar o que se quer tornar
real. As diretrizes e normas que regem o desenho arquitetônico serão abordadas
neste tópico.

2 PADRONIZAÇÃO DOS DESENHOS TÉCNICOS


Para transformar o desenho técnico em uma linguagem gráfica, foi
necessário padronizar seus procedimentos de representação gráfica. Essa
padronização é feita por meio de normas técnicas seguidas e respeitadas
internacionalmente.

Cada país elabora suas normas técnicas e estas são acatadas em todo o
seu território por todos os que estão ligados, direta ou indiretamente, a este setor.

O sistema de padronização é o alicerce para garantir a qualidade de


um projeto. Para facilitar a compreensão do projeto em nível nacional, todos
os componentes que envolvem o desenho de arquitetura e engenharia são
padronizados e normalizados em todo o país. Para isto, existem normas específicas
para cada elemento do projeto: caligrafia, formato de papel, dobraduras,
simbologias etc. O objetivo é conseguir melhores resultados a partir do uso de
padrões que descrevem o projeto de maneira mais adequada e permitem a sua
compreensão e execução por profissionais diferentes, independentemente da
presença daquele que o concebeu.

O órgão responsável pela normalização técnica no país é a ABNT


(Associação Brasileira de Normas Técnicas). Fundada em 1940, fornece a base
necessária ao desenvolvimento tecnológico brasileiro.

125
UNIDADE 3 | REPRESENTAÇÃO DE PROJETOS DE ARQUITETURA

Os procedimentos para execução de desenhos técnicos aparecem em


normas gerais que abordam desde a denominação e classificação dos desenhos
até os modos de representação gráfica, conforme segue:

NBR 8196 - Emprego de escalas em desenho técnico;


NBR 8402 - Execução de caracter para escrita em desenho técnico;
NBR 8403 - Aplicação de linhas em desenhos - tipos de linhas - largura de
linhas;
NBR 10068 - Folha de desenho - leiaute e dimensões;
NBR 10647 - Desenho técnico - norma geral;
NBR 13142 – Dobragem das pranchas.

Apesar de existirem normas para representação gráfica de projetos, estas


representações podem variar de acordo com o profissional.

NOTA

Uma consulta aos catálogos da ABNT mostrará muitas outras normas vinculadas
à execução de algum tipo ou alguma especificidade de desenho técnico.

3 FORMATOS DO PAPEL (NBR 10068)


Os formatos de papel para execução de desenhos técnicos são
padronizados. A NBR 10068 tem o objetivo de padronizar as dimensões,
layout, dobraduras e a posição da legenda/carimbo, garantindo, deste modo,
uniformidade e legibilidade.

A série mais usada de formatos é originária da Alemanha e conhecida como


série ‘A’, cuja base é o formato A0 (lê-se “a zero”), constituído por um retângulo de
1.189 mm x 841 mm = 1 m² (aproximadamente). Mediante uma sucessão de cortes,
dividindo em duas partes iguais os formatos, a partir do A0, obtêm-se os tamanhos
menores das séries.

126
TÓPICO 3 | CONVENÇÕES DO DESENHO ARQUITETÔNICO

FIGURA 71 – PAPEL A0 E DIVISÕES

FONTE: NBR 10068

O espaço de utilização do papel fica compreendido por margens, que


variam de dimensões, dependendo do formato usado. No entanto, a margem
esquerda é sempre 25mm a fim de facilitar o arquivamento em pastas próprias.

QUADRO 5 – FORMATO E DIMENSÕES DO PAPEL


Dimensões Margens Largura do Ca-
Formato
(y) (x) Esquerda Outras (a) rimbo
A0 1189 x 841 mm 25 mm 10 mm 175 mm
A1 841 x 594 mm 25 mm 10 mm 175 mm
A2 594 x 420 mm 25 mm 7 mm 178 mm
A3 420 x 297 mm 25 mm 7 mm 178 mm
A4 297 x 210 mm 25 mm 7 mm 178 mm
FONTE: NBR 10068

FIGURA 72 – MODELO FORMATO DE PAPEL

FONTE: NBR 10068

127
UNIDADE 3 | REPRESENTAÇÃO DE PROJETOS DE ARQUITETURA

O carimbo ou legenda tem a finalidade de uniformizar as informações


que devem acompanhar os desenhos. Os tamanhos e formatos dos carimbos
obedecem à tabela dos formatos A. Toda folha desenhada deve levar, dentro do
quadro e no canto inferior direito, uma legenda.

Em um projeto arquitetônico, faz-se necessária a identificação de alguns


elementos, tais como: nome da empresa, nome do cliente, tipo de projeto,
endereço, autor do projeto, responsável técnico pela obra, escala empregada,
área de construção, número da prancha, espaço reservado para a aprovação da
prefeitura, entre outros.

4 DOBRADURA DAS PRANCHAS (NBR 13142)


A Norma 13142 recomenda procedimentos para que as cópias sejam
dobradas de tal maneira que estas fiquem com dimensões, depois de dobradas,
similares às dimensões de folhas tamanho A4. Esta padronização se faz necessária
para arquivamento e armazenamento destas cópias, pois os arquivos e as
pastas possuem dimensões padronizadas. O formato final deve ser o A4, para
arquivamento.

FIGURA 73 – FORMA DE DOBRAMENTO E DIMENSÕES (MM) PARA A FOLHA


TAMANHO A0

FONTE: NBR 13142

128
TÓPICO 3 | CONVENÇÕES DO DESENHO ARQUITETÔNICO

5 CALIGRAFIA TÉCNICA (NBR 8402)


Existe uma padronização também para a caligrafia técnica, para evitar
que os projetos desenvolvidos em localidades diferentes sejam interpretados de
maneiras distintas. Deste modo, adquire-se maior agilidade na interpretação e
execução do projeto.

A NBR 8402 tem a finalidade de fixar características da escrita à mão livre


ou por instrumentos usados para elaboração dos projetos. Segundo a norma, as
letras devem ser sempre maiúsculas e não inclinadas, os números não devem
estar inclinados.

FIGURA 74 – EXEMPLOS DE CALIGRAFIA TÉCNICA

FONTE: NBR 8402

6 TIPOS DE PAPEL
Existem duas categorias de papel para elaboração de projetos e arquitetura:
opacos e transparentes:

 Transparentes:antes do advento do software para projetos, as plantas originais


eram elaboradas em papel vegetal, por ser um papel de fácil manuseio e
proporcionar cópias idênticas às originais.

 Opacos: os projetos de arquitetura e engenharia abandonaram o uso do papel


vegetal, abrindo espaço para o papel sulfite. Com o uso do computador para
a elaboração dos projetos, é possível imprimir em papel sulfite tantas vezes
quantas forem necessárias.

129
UNIDADE 3 | REPRESENTAÇÃO DE PROJETOS DE ARQUITETURA

7 APLICAÇÃO DE LINHAS EM DESENHOS (NBR 8403)


As linhas são os principais elementos do desenho arquitetônico. Além de
definirem o formato, dimensão e posicionamento das paredes, portas, janelas,
pilares, vigas, objetos etc., determinam as dimensões e informam as características
de cada elemento projetado.

Já comentamos no tópico anterior que nas plantas, cortes e fachadas, para


sugerir profundidade, as linhas sofrem uma gradação no traçado em função do
plano em que se encontram. As linhas em primeiro plano – mais próximas –
serão sempre mais grossas e escuras, enquanto as do segundo e demais planos
visualizados – mais afastados – serão menos intensas.

QUADRO 6 – ESPESSURA DO TRAÇO, TIPOS DE LINHA E USO

TRAÇO TIPO DE LINHA USO

Linhas que estão sendo


GROSSO, FORTE, ESCURO Principais/ secundárias
cortadas

MÉDIO Secundárias Linhas em vista/elevações

Linhas de construção/cotas/
FINO, FRACO, CLARO Grades/ representação
texturas
FONTE: NBR 8403

• Traço forte: As linhas grossas e escuras são utilizadas para representar, nas
plantas baixas e cortes, as paredes e todos os demais elementos interceptados
pelo plano de corte.

• Traço médio: As linhas médias, ou seja, finas e escuras, representam elementos


em vista ou tudo que esteja abaixo do plano de corte, como peitoris, soleiras,
mobiliário, ressaltos no piso, paredes em vista etc.

• Traço fino: Para linhas de construção do desenho – que não precisam ser
apagadas – utiliza-se linha bem fina. Nas texturas de piso ou parede (azulejos,
cerâmicas, pedras etc), as juntas são representadas por linhas finas.

Tipos de Linhas

Veja, no quadro a seguir, os tipos de linhas e sua utilização:

130
TÓPICO 3 | CONVENÇÕES DO DESENHO ARQUITETÔNICO

QUADRO 7 – TIPOS DE LINHAS

Linhas de Contorno – contínuas

Linhas Internas – contínuas

Linhas situadas além do plano do desenho – Tracejadas.

Linhas de projeção – traço e dois pontos


São indicadas para representar projeções de pavimentos superiores, marquises, balanços etc.

Linhas de eixo ou coordenadas – traço e ponto

Linhas de cotas – contínuas

Linhas auxiliares – contínuas

Linhas de Interrupção

FONTE: NBR 8403

8 ESCALAS
A escala indica a relação do tamanho do desenho técnico com o tamanho
real da peça. Toda escala é expressa por uma fração. Esta fração é chamada escala
numérica e sua representação gráfica chama-se escala gráfica. A representação
em escala vai depender daquilo que queremos analisar. Existem quatro tipos de
escalas: natural, de ampliação, de redução e gráfica.

8.1 ESCALA NATURAL


Quando o objeto que está sendo representado no desenho apresenta a
mesma medida do real, chamamos de escala natural. A escala natural está na
escala 1 para 1. Para indicar que o desenho técnico está em escala natural, junto
do desenho, aparece a abreviatura da palavra escala seguida de dois numerais.

131
UNIDADE 3 | REPRESENTAÇÃO DE PROJETOS DE ARQUITETURA

FIGURA 75 – ESCALA NATURAL

FONTE: As autoras

A abreviatura da palavra escala é Esc. Os numerais aparecem separados


por dois pontos. Na indicação da escala natural, os dois numerais são sempre
iguais. Isto porque o tamanho do desenho técnico é igual ao tamanho real da
peça. A escala natural é sempre indicada deste modo: esc. 1:1, que se lê escala um
por um.

8.2 ESCALA DE AMPLIAÇÃO


Quando o objeto que está sendo representado é muito pequeno, necessita
ser ampliado para melhor interpretação do projeto. A indicação da escala de
ampliação também é feita através da abreviatura da palavra escala, seguida de
numerais separados por dois pontos. O numeral à esquerda dos dois pontos
representa o tamanho do desenho técnico e o numeral à direita representa o
tamanho real da peça.

FIGURA 76 – ESCALA DE AMPLIAÇAO

FONTE: As autoras

132
TÓPICO 3 | CONVENÇÕES DO DESENHO ARQUITETÔNICO

Na indicação da escala de ampliação, o numeral à esquerda é sempre


maior que o numeral à direita. Isto porque o tamanho do desenho técnico é
sempre maior do que o tamanho real da peça. (esc.: 2:1), que se lê dois por um.
Isto significa que o desenho técnico ampliou em duas vezes o tamanho real da
peça.

8.3 ESCALA DE REDUÇÃO


Quando o objeto que está sendo representado é de grande dimensão,
usamos escala de redução para possibilitar sua representação no papel. É
frequentemente utilizada nos projetos arquitetônicos. O número 1 indica o
desenho e o próximo o real (1:50 – um por cinquenta). Significa que um centímetro
do papel representará 50 cm do real, ou seja, o desenho será reduzido 50 vezes.

FIGURA 77 – ESCALA DE REDUÇÃO

FONTE: As autoras

8.4 ESCALAS GRÁFICAS


É a representação através de um gráfico proporcional à escala utilizada. A
escala gráfica é utilizada quando for necessário reduzir ou ampliar o desenho por
processo fotográfico. Assim, se o desenho for reduzido ou ampliado, a escala o
acompanhará em proporção. Para obter a dimensão real do desenho, basta copiar
a escala gráfica numa tira de papel e aplicá-la sobre a figura.

A escala gráfica correspondente a 1:50 é representada por segmentos


iguais de 2 cm, pois 1 metro/50 = 0,02 = 2 cm.

FIGURA 78 – EXEMPLO DE ESCALA GRÁFICA

metros

FONTE: As autoras

133
UNIDADE 3 | REPRESENTAÇÃO DE PROJETOS DE ARQUITETURA

QUADRO 8 – ESCALAS USUALMENTE UTILIZADAS NO PROJETO

Planta Baixa............................ 1:50

Cortes...................................... 1:50

Fachadas/Elevações............. 1:50

Planta de Situação.................. 1:500 / 1:1000 / 1:2000

Planta de Localização............. 1:200 / 1:500

Planta de Cobertura................ 1:100

Detalhamentos em Geral........ 1:1 / 1:2 / 1:5 / 1:10


FONTE: As autoras

Como o desenho arquitetônico é utilizado para representação de


edificações, é fácil concluir que nem sempre será possível representar os
objetos em suas verdadeiras grandezas. Assim, para viabilizar a execução dos
desenhos, os objetos grandes precisam ser representados com suas dimensões
reduzidas, enquanto os objetos, ou detalhes muito pequenos, necessitarão de
uma representação ampliada (por exemplo, detalhes de uma fechadura).

9 LINHAS DE COTA
Cotas são os números que correspondem às medidas reais no desenho.
Representam sempre dimensões reais do objeto e não dependem, portanto, da
escala em que o desenho está sendo executado. São os números que correspondem
às medidas.

FIGURA 79 – LINHAS DE COTA

valor numérico

extremidade
indica o ponto cotado
linha de cota
FONTE: Disponível em: <www.marcosbandeira.arq.br>. Acesso em: 15 jan. 2009.

As cotas indicadas nos desenhos determinam a distância entre dois


pontos, que pode ser a distância entre duas paredes, a largura de um vão de porta
ou janela, a altura de um degrau de escada, o pé direito de um pavimento etc.

A cotagem é a maneira pela qual passamos, nos desenhos, as informações


referentes às dimensões de projeto. São normalmente dadas em centímetros.
Isso porque, nas obras, os operários trabalham com o “metro” (trena dobrável

134
TÓPICO 3 | CONVENÇÕES DO DESENHO ARQUITETÔNICO

com dois metros de comprimento), que apresenta as dimensões em centímetros.


Assim, para quem executa a obra, usuário do “metro”, a visualização e aplicação
das dimensões se torna mais clara e direta.

9.1 COTAS DE NÍVEL


Possui a função de indicar o quanto determinado local está acima ou
abaixo do referencial de nível, que pode ser a guia da rua ou qualquer outro item
adotado e identificado em projeto como nível de referência.

FIGURA 80 – COTAS DE NÍVEL

nível em planta nível em corte


FONTE: As autoras

10 SÍMBOLOS GRÁFICOS
O desenho arquitetônico, por ser feito em escala reduzida e por abranger
áreas relativamente grandes, é obrigado a recorrer a símbolos gráficos. Os símbolos
gráficos são constantemente utilizados nos desenhos de arquitetura e abrangem:
paredes, portas, janelas, peças sanitárias, mobiliário, veículos, entre outros. Desta
forma é muito clara a importância desta simbologia para entendimento de um
projeto pelo técnico em Negócios Imobiliários.

10.1 REPRESENTAÇÃO DE PAREDES


Normalmente, as paredes são representadas com 15 a 20 cm de espessura.
Convenciona-se para paredes altas (que vão do piso ao teto) traço grosso
contínuo, e paredes a meia altura, com traço médio contínuo, indicando a altura
correspondente.

Quando desenhadas na escala 1:100 ou 1:200, as paredes podem ser


representadas ‘cheias’.

135
UNIDADE 3 | REPRESENTAÇÃO DE PROJETOS DE ARQUITETURA

FIGURA 81 – REPRESENTAÇÃO DE PAREDES

REPRESENTAÇÃO DE PAREDES

Parede alta
(traço cheio)

Parede alta r
(com traço grosso) dica
in
ra
a pa e
d
zad re
Parede a meia altura utili da pa
é ra
(com traço médio) tra H altu
e a
Al
FONTE: Montenegro (2001)

A ABNT recomenda a utilização de expressão gráfica diferenciada para


representação de projetos que envolvam reformas/demolições e ampliações.

FIGURA 82 – REPRESENTAÇÃO DE PAREDES PARA REFORMAS/DEMOLIÇÕES

Paredes a construir Paredes a conservar Paredes a demolir

Vermelho Preto Amarelo

FONTE: As autoras

Esta representação é utilizada para figurar as paredes em alvenaria nas


plantas baixas e nos corte.

10.2 REPRESENTAÇÃO DE PORTAS


As portas são representadas conforme a sua abertura, que pode ser em 90°,
de correr, vaivém, pivotante, entre outras. Uma planta não revela completamente
a aparência das portas. Para esta informação, devemos nos apoiar nas elevações e
no quadro de esquadrias.

136
TÓPICO 3 | CONVENÇÕES DO DESENHO ARQUITETÔNICO

FIGURA 83 – REPRESENTAÇÃO DE PORTA DE ABRIR

ESPESSURA DA PORTA

BATENTE DA PORTA
(CAXILHO)
FONTE: As autoras

O que a planta baixa mostra é a posição e a largura da abertura da porta,


e em grau limitado, sua esquadria, marco e o tipo de operação de abertura (se a
porta gira, desliza, se as folhas abrem). Desenhamos normalmente uma porta de
abrir com uma folha perpendicular ao plano da parede, indicando o sentido de
abertura com o desenho leve de um arco de circunferência.

Porta interna – faz a comunicação entre dois ambientes que têm os pisos
no mesmo nível, ou seja, possuem a mesma cota de nível.

FIGURA 84 – REPRESENTAÇÃO DE PORTAS INTERNAS

PLANTA

CORTE
LARGURA X ALTURA
FONTE: Montenegro (2001)

137
UNIDADE 3 | REPRESENTAÇÃO DE PROJETOS DE ARQUITETURA

Porta externa – comunica ambientes em que os pisos possuem cota de


nível diferente, sendo, em geral, o piso externo mais baixo.

FIGURA 85 – REPRESENTAÇÃO DE PORTAS EXTERNAS

REPRESENTAÇÃO
PORTAS EXTERNAS

a diferença de nível é
representada por uma linha

EXTERIOR

PLANTA CORTE
FONTE: Montenegro (2001)

Outros tipos de portas e sua representação:

FIGURA 86 – PORTA PANTOGRÁFICA

FONTE: Disponível em: <www.fag.edu.br>. Acesso em: 15 jan. 2009.

138
TÓPICO 3 | CONVENÇÕES DO DESENHO ARQUITETÔNICO

FIGURA 87 – PORTA PIVOTANTE


FIGURA 88 – PORTA PIVOTANTE

EIXO
VERTICAL

PIVÔ
INFERIOR

FONTE: Disponível em: <www.fag.edu.br>. Acesso em:


FONTE: <www.fazfacil.com.br>. 15 jan. 2009.
Acesso em: 15 jan. 2009.

FIGURA 89 – PORTA BASCULANTE FIGURA 90 – PORTA BASCULANTE

FONTE: Disponível em: <www.habicon- FONTE: Disponível em: <www.fag.edu.br>. Aces-


trol.com>. Acesso em: 15 jan. 2009. so em: 15 jan. 2009.

FIGURA 91 – PORTA DE ENROLAR

FONTE: Disponível em: <www.fag.edu.br>. Acesso em: 15 jan. 2009.

139
UNIDADE 3 | REPRESENTAÇÃO DE PROJETOS DE ARQUITETURA

FIGURA 92 – PORTA SANFONADA

FIGURA 93 – PORTA SANFONADA

FONTE: Ching (2002)

FONTE: Disponível em: <www.cidadedas-


persianas.com.br>. Acesso em 15 jan. 2009.

FIGURA 94 – PORTA GIRATÓRIA FIGURA 95 – PORTA GIRATÓRIA

linha de acesso linhas de


(inclui espaço caixilho
varrido pela
rotação)

FONTE: Disponível em: <www.blinda- FONTE: Ching (2002)


co.com.br>. Acesso em: 15 jan. 2009.

FIGURA 96 – PORTA EMBUTIDA

FIGURA 97 – PORTA EMBUTIDA

porta embutida
FONTE: Ching (2002)

FONTE: Disponível em: <www.praktika.


com.br>. Acesso em: 15 jan. 2009.

140
TÓPICO 3 | CONVENÇÕES DO DESENHO ARQUITETÔNICO

10.3 REPRESENTAÇÃO DE JANELAS


Assim como as portas, não podemos mostrar a aparência das janelas em
uma planta. Uma planta baixa revela a posição e a largura de abertura da janela
e, em grau limitado, mostra os marcos das esquadrias. A planta deve incluir
parapeito, sob o plano de corte, indicando o plano de vidro e a esquadria da
janela em corte.

Nas plantas, as janelas aparecem fechadas quando são de correr e abertas


quando possuem sistema pivotante. São representadas por linhas paralelas às
paredes e, quando há indicação de vidros, eles aparecem em forma de linhas
paralelas muito próximas.

FIGURA 98 – REPRESENTAÇÃO DE JANELAS EM PLANTA BAIXA

Quanto maior for a escala do desenho, mais detalhes irão aparecer.


FONTE: Ching (2002)

141
UNIDADE 3 | REPRESENTAÇÃO DE PROJETOS DE ARQUITETURA

FIGURA 99 – SISTEMA DE REPRESENTAÇÃO (JANELAS)

PIVOTANTE

FONTE: Montenegro (2001)

O plano horizontal da planta baixa corta as janelas com altura do peitoril


até 1.50 m, sendo estas representadas conforme a figura acima.

Para janelas em que o plano horizontal não o corta, a representação é feita


com linhas invisíveis.

FIGURA 100 – REPRESENTAÇÃO DE JANELAS ALTAS

TAL
ZON
HORI
NO
PLA

PLANTA

FONTE: Montenegro (2001)

142
TÓPICO 3 | CONVENÇÕES DO DESENHO ARQUITETÔNICO

Outros tipos de janelas e sua representação:

FIGURA 101 – JANELA BASCULANTE

VISTA DE FRENTE
CORTE

PLANTA BAIXA
FONTE: GONÇALVES, Almir (2003)

FIGURA 102 – JANELA DE CORRER

VISTA DE FRENTE CORTE

PLANTA BAIXA
FONTE: GONÇALVES, Almir (2003)

143
UNIDADE 3 | REPRESENTAÇÃO DE PROJETOS DE ARQUITETURA

FIGURA 103 – JANELA GUILHOTINA

VISTA DE FRENTE CORTE


FONTE: GONÇALVES, Almir (2003)

FIGURA 104 – JANELA COM VENEZIANA DE ABRIR

VISTA DE FRENTE

PLANTA BAIXA

FONTE: GONÇALVES, Almir (2003)

10.4 REPRESENTAÇÃO DE PEÇAS SANITÁRIAS


As peças sanitárias podem ser vistas em planta, vista e corte. Vários são
os tipos, modelos e qualidades para a mesma finalidade. Dependendo da obra,
escolhem-se os aparelhos que deverão combinar, na cor, com o piso e os azulejos.

144
TÓPICO 3 | CONVENÇÕES DO DESENHO ARQUITETÔNICO

FIGURA 105 – PEÇAS SANITÁRIAS (LAVATÓRIOS)

LAVATÓRIOS

PLANTA BAIXA

FONTE: Montenegro (2001)


CORTE PLANTA BAIXA

FONTE: Montenegro (2001)

FIGURA 106 – PEÇAS SANITÁRIAS (LAVATÓRIOS)

FONTE: As autoras

FIGURA 107 – PEÇAS SANITÁRIAS (VASOS SANITÁRIOS)

VASO SANITÁRIO

VISTA FRONTAL E LATERAL

FONTE: Montenegro (2001)

FIGURA 108 – PEÇAS SANITÁRIAS (VASOS SANITÁRIOS)


PLANTA BAIXA - VASO SANITÁRIO

COM CAIXA ACOPLADA SEM CAIXA ACOPLADA (VÁLVULA DE DESCARGA)


FONTE: As autoras
145
UNIDADE 3 | REPRESENTAÇÃO DE PROJETOS DE ARQUITETURA

FIGURA 109 – PEÇAS SANITÁRIAS (CHUVEIRO E


BANHEIRA)

CHUVEIRO E BANHEIRA FIGURA 110 – PEÇAS SANITÁRIAS (BANHEIRA)


BANHEIRA

PLANTA BAIXA
FONTE: As autoras
ALTURA

FONTE: Montenegro (2001)

A seguir, veja a representação do mobiliário:

FIGURA 111 – MOBILIÁRIO (SALA DE ESTAR, DORMITÓRIO, COZINHA)

SALA DE ESTAR
CAMAS

MESA DE JANTAR COZINHA

FONTE: Ching (2002)

10.5 TEXTURAS
A textura é utilizada para descrever a suavidade ou a rugosidade
relativa de uma superfície. Busca reproduzir as características dos materiais
representados.

As texturas, ou também chamadas de hachuras, têm como finalidade


acrescentar graficamente informações sobre os materiais que compõem os
elementos representados.

146
TÓPICO 3 | CONVENÇÕES DO DESENHO ARQUITETÔNICO

A seguir, alguns exemplos de representação de materiais.

FIGURA 112 – EXEMPLOS DE TEXTURA

Representação de pedras

Representação de madeira

FONTE: Ching (2002)

10.6 REPRESENTAÇÃO DA VEGETAÇÃO


Veja a seguir alguns exemplos de representação de vegetação em planta
baixa e elevação.

FIGURA 113 – EXEMPLOS DE REPRESENTAÇÃO DE VEGETAÇÃO EM PLANTA BAIXA


E ELEVAÇÃO

PLANTA BAIXA

ELEVAÇÃO
FONTE: Ching (2002)

147
UNIDADE 3 | REPRESENTAÇÃO DE PROJETOS DE ARQUITETURA

10.7 REPRESENTAÇÃO DE AUTOMÓVEIS

FIGURA 114 – EXEMPLOS DE REPRESENTAÇÃO DE AUTOMÓVEIS EM PLANTA BAIXA E ELEVAÇÃO

FONTE: Ching (2002)

148
RESUMO DO TÓPICO 3

No estudo deste tópico, caro(a) acadêmico(a), você esteve em contato


com os seguintes conteúdos:

• Revelamos a importância da normatização nos desenhos de arquitetura.


Devido às padronizações estabelecidas, é possível a leitura de projetos por
vários profissionais, tanto em escritórios como em canteiros de obra.

• Foram apresentadas também as principais normas técnicas que guiam


o desenho arquitetônico: formatos de papel, tipos e tamanhos de papel,
dobradura de pranchas, caligrafia técnica, espessura e tipos de linhas.

• Observamos que a escala é um importante recurso para a representação das


edificações. Elas podem ser naturais, simbolizando o tamanho real, de ampliação,
quando for necessário representar um detalhe maior que o tamanho natural,
e de redução, principal escala utilizada nos desenhos de plantas, reduzindo o
tamanho natural do que está sendo representado.

• Os símbolos gráficos são utilizados no desenho arquitetônico para a


representação de paredes, portas, janelas, louças sanitárias, mobiliário, texturas
e vegetação. Neste tópico, foi possível visualizar alguns exemplos.

149
AUTOATIVIDADE

Durante esta unidade, foram apresentadas informações sobre a


representação de projetos de arquitetura. Procure um material publicitário de
um empreendimento residencial, com construtoras e/ou incorporadoras, e faça
uma análise sobre o que está representado. Relacione quais elementos foram
utilizados e o que não ficou claro na representação.

150
REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 6492:
representação de projetos de arquitetura. Rio de Janeiro, 1994.

______. NBR 8402: execução de caracter para escrita em desenho técnico. Rio de
Janeiro, 1994.

______. NBR 8403: aplicação de linhas em desenhos, tipos de linhas, largura de


linhas. Rio de Janeiro, 1984.

______. NBR 10068: folha de desenho, leiaute e dimensões. Rio de Janeiro, 1987.

______. NBR 13142: desenho técnico, dobramento de cópia. Rio de Janeiro, 1999.

BENEVOLO, Leonardo. Introdução à arquitetura. Lisboa: Edições 70, 1987.

BRUAND, Yves. Arquitetura contemporânea no Brasil. 3. ed. São Paulo:


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______. Representação gráfica em arquitetura. 3. ed. Porto Alegre: Bookman,


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______. Representação gráfica para desenho e projeto. 3. ed. Porto Alegre:


Gustavo Gili SA, 2001.

COLIN, Sílvio. Uma introdução à arquitetura. Rio de Janeiro: Uapê, 2000.

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CONSELHO FEDERAL DE ENGENHARIA ARQUITETURA E AGRONOMIA
(BRASIL). Compromissos permanentes e transformações necessárias. 3. ed.
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CORBIOLI, Nanci. Construção sustentável: o futuro pode ser limpo. Projeto


Design, São Paulo, nº 277, mar. 2003.

151
COSTA, Lucio. Lucio Costa: registro de uma vivência. 2. ed. São Paulo: Empresa
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FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário Aurélio: da língua


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KÖNIGSBERGER, Jorge; ALMEIDA, Lízia Manhães de. O arquiteto e as leis:


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LE CORBUSIER. Por uma arquitetura. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 1998.

LEMOS, Carlos A. C. O que é arquitetura. São Paulo: Brasiliense, 1995.

MACEDO, Edison Flávio. Manual do profissional: introdução à teoria e prática


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MAFFEI, Walter. ManuArq: manual do exercício profissional do arquiteto. 3. ed.


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MONTENEGRO, Gildo A. Desenho arquitetônico: para cursos técnicos de 2.


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NIEMEYER, Oscar. Conversa de arquiteto. Rio de Janeiro: Revan, 1993.

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