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PÓS- MODERNIDADE
AULA 1
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não permite apenas uma resposta? Aqui está uma reflexão inicial sobre o que
pode ser a pós-modernidade.
É Importante adiantar que o conceito de pós-modernidade é muito
debatido e criticado dentro das teorias contemporâneas. E, ainda que seja
possível questionar se a modernidade já acabou para que possamos falar de
pós-modernidade, vamos deixar essa discussão para o decorrer da disciplina e
nos baseara na constatação de que, mesmo que a modernidade não tenha
acabado, percebemos que há um contexto diferente, com paradigmas diferentes
e que, portanto, deve ser definido para ser utilizado.
Ou seja, constata-se, com base no parágrafo anterior, que há uma
necessidade de se discutir o que é modernidade e analisar a concepção de cada
um dos autores quando indica a noção de pós-modernidade, modernidade tardia
ou modernidade em crise, como vamos analisar de maneira geral durante esta
aula e aprofundar no decorrer na disciplina.
Além dessas concepções, é preciso revisar o conceito de cultura,
identificar que se trata do simbólico, construído. Levando em conta esses
elementos, podemos discutir o impacto do contexto também na construção da
identidade dos sujeitos. Sendo assim, constata-se que não estamos apenas
diante de um “novo tempo histórico”, com diferentes paradigmas, mas estamos
discutindo a identificação de um “novo sujeito”, o “sujeito pós-moderno”.
Para dar conta dessas discussões, nesta aula iremos definir e discutir
desde o processo de socialização, concepções básicas sobre cultura como
construção social, tentando caracterizar e diferenciar entre modernidade e pós-
modernidade, para então aplicar essa conceituação na análise do que seria o
sujeito pós-moderno. Em seguida, faremos algumas análises de temas
contemporâneos; discussões que serão aprofundadas posteriormente, com base
em diferentes autores.
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1.1 Processo de socialização e transmissão cultural
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possível que seu grupo de amigos tenha costumes semelhantes aos de um
grupo de amigos de algum familiar que more em outra cidade, uma vez que
vivemos no mesmo país, onde diversas características são comuns a todos.
Nessa linha de raciocínio, podemos supor que possivelmente um
estrangeiro adote posturas diferentes. Entretanto, com o efeito da globalização,
está cada vez comum vermos uma foto aérea de uma cidade e não sabermos
de que país é; assim como podemos tirar uma foto de uma sala de aula em
diferentes lugares do mundo, sem saber exatamente de onde é.
Sobre essas concepções, antes de seguir com a análise, importa retomar
o conceito de cultura e sua característica simbólica, para ressaltar principalmente
que se trata de uma realidade construída e que também está em constante
transformação.
Comparando aos outros animais, para Cassirer (1994), o homem não vive
apenas em uma realidade mais ampla, vive em um universo simbólico, em uma
nova dimensão da realidade.
Saiba mais
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Ao tentar descrever a pós-modernidade, estamos lidando com o tempo
presente. Fazer um exercício reflexivo de buscar diferenciar relações sociais,
culturais e econômicas entre a Idade Antiga, Idade Média, Moderna e a
contemporaneidade é definir a pós-modernidade, ou modernidade tardia,
modernidade em crise, como alguns autores indicam.
Trata-se, portanto, de compreender que nos diferenciamos da
modernidade. Sendo assim, interessa caracterizar o que entendemos pelo
período moderno (explicar um modelo indicando as diferenças com o anterior
interessa não só por uma questão didática, mas por buscar compreender como
as mudanças foram ocorrendo, com base em que “terrenos”, possibilidades,
capazes, inclusive, de explicar, justificar as transformações).
Por exemplo, temos a associação da Idade Média com explicações
religiosas, o modo de produção feudal e relações próprias de poder, como a
monarquia absolutista e o poder da Igreja.
Em contrapartida, temos a modernidade associada a explicações
racionais, modo de produção capitalista e surgimento da democracia e dos
Estados nação.
Mas, se não temos o fim dos Estados nação, o anúncio de outro sistema
econômico ou o fim da racionalidade, como explicar e anunciar que vivemos em
outra época?
Pois é... Trata-se de um tema polêmico e que, para além de ter muitas
respostas definidoras, assim como uma de suas principais características, não
possui uma única resposta que o defina, o caracterize.
Há autores que indicam datas específicas para o surgimento da pós-
modernidade, como a Revolução Francesa, a década de 1960 ou a implosão de
um conjunto habitacional de menos de 20 anos, nos Estados Unidos (1972),
considerado símbolo da arquitetura moderna. Como é um termo usado como
adjetivo em várias áreas, como ocorreu com a modernidade, interessa indicar a
diferença entre pós-modernismo, considerado um estilo, e pós-modernidade
como um contexto.
Ainda que pareça indefinido, se nos perguntarmos sobre as diferenças
entre ser jovem, estudar, produzir ciência, fazer política e até significar a
existência – em 1900 e 2020, certamente há características que todos poderiam
indicar. Perceba que mais do que fatos que indiquem ruptura, estamos falando
de novas explicações e significações para as mesmas relações, bem como
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novos tipos de relações, experiências, padrões de comportamento, que podem
estar associados ao aumento da velocidade da vida, bem como ampliações das
relações e trocas econômicas e culturais, que cada vez mais modificam ou
ressignificam a cultura e até o objetivo da vida.
Muito mais do que definir um período histórico com acontecimentos
específicos, percebemos que temos paradigmas diferentes que explicam e
orientam a vida em sociedade de maneiras específicas.
A abertura para a ciência e o desenvolvimento da indústria podem explicar
o surgimento da modernidade, o questionamento sobre a própria ciência e o
surgimento das novas tecnologias que sustentam a ampliação das
comunicações (globalização) e, portanto, novas relações não só de mercado,
econômicas, mas sociais, culturais, anunciam a pós-modernidade.
Para iniciarmos a discussão sobre o termo, elencamos algumas
características e exemplos para sustentar esta conversa inicial que busca
apresentar alguns impactos da pós-modernidade para a cultura, e, como
consequência, para a formação do indivíduo.
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Não mais contracultura, e sim integração, culturas paralelas,
desconstrução;
Aproximação e tensão entre local X global;
Sociedade planetária;
Imediatismo, hedonismo;
Mistura da indústria cultural, cultura de massa e cultura do espetáculo;
Separação tempo X espaço;
Tempo da conjunção e, e não ou (queda da hierarquização de práticas,
profissões, áreas do conhecimento, religiões);
Pós-modernidade não é algo necessariamente novo. Há discursos,
reflexões sobre o momento, indicando que não há garantias, certezas;
Sem referências, somos livres para fazer muitas coisas, sem saber o quê;
Polissemia e não uniformidade;
Não materialidade que determina as coisas, mas o sentido que é atribuído;
Relativização de padrões, explicações, modos de vida;
Entendimento de que a compreensão de formas de conhecimento e
explicações são limitadas.
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significa a vida, as relações, as práticas etc. É claro que importa lembrar que a
teoria não é determinista, mas é importante entender que a visão que eu tenho
de mim mesma também passa pelas concepções sociais.
Como exemplo, podemos citar George Mead quando indica que a
construção da minha identidade, se eu me sinto mais ou menos confortável com
a reação do outro sobre a minha ação, impacta na construção do meu eu.
Seria o mesmo que afirmar que a forma pela qual a sociedade significa os
costumes, práticas, objetivos, estilos e modos de vida, por exemplo, impactam
em como eu também significo e me sinto mais ou menos confortável em agir
desta ou daquela forma.
Outro exemplo podemos apresentar com base na concepção de Goffman
(1975), quando associa a construção da identidade relacionada aos papéis que
assumimos ao longo da vida. Como se fosse um teatro, e vamos incorporando
papéis, que aos poucos acabam por “nos construir”.
É como se estivéssemos expostos a uma cena, e as maneiras pelas quais
reagimos a elas vai resultar na construção de nossa identidade social.
Sendo assim, podemos dizer que a pós-modernidade é uma cena,
diferente da modernidade, e que, portanto, o sujeito pós-moderno também tende
a ser outro.
Nesse cenário, caracterizado por Giddens (2002), como “modernidade
tardia”, prevalece um enfoque subjetivo e individualista, que tem colocado em
questão paradigmas universais, modelos dominantes e padrões até então
aceitos socialmente. Além das verdades absolutas que são questionadas, como
a falibilidade da ciência, que, para Marcuse (1967) deve ser posta em questão,
Hall (2002) indica que nesse âmbito entram também as crenças e valores que
regem a sociedade. Seria, no âmbito cultural, uma ampla relativização das
crenças, práticas, costumes, que passam a não mais orientar de maneira
uniforme o modo como as pessoas devem ou não viver e significar seus dias,
suas histórias, suas vidas.
Dentre os aspectos inerentes à contemporaneidade, um dos pontos
centrais dessa análise sobre a pluralidade de valores então concebidos no
mundo atual, temos a globalização como aspecto fundante e determinante para
analisar as relações sociais. Justamente a considerar características principais
da pós-modernidade como a quebra e valores, de padrões e paradigmas
totalizantes, os aspectos inerentes à globalização – que permite a troca de
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informações e de padrões entre culturas diversas – têm papel importante nessa
análise sobre a construção da identidade do sujeito num mundo onde o contexto
local se confunde com o global, determinando padrões dos mais diversos que
parecem estar ao alcance de todos, num mundo que parece não ter barreiras.
Assim como afirma Giddens (2002):
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Dentro dessa perspectiva, da velocidade da informação e das relações,
parece ser impossível o homem absorver, assimilar tudo o que acontece no
mundo. É sobre esse mundo que a análise desta aula objetiva interpretar as
relações – com base nos pressupostos que regem essas relações, tanto a
velocidade da informação, a falta de padrões e busca do bem-estar individual. É
nessa tensão entre o local e o global que o sujeito pós-moderno vai reconhecer
os seus parâmetros, modelos, que em síntese se embasam na falta de um único
padrão: ou seja, o mundo pós-moderno apresenta a pluralidade de valores e de
opções, na superação de paradigmas totalizantes e verdades absolutas,
características do mundo moderno.
Nessa relação com o mundo, em que o temos o cidadão de uma
sociedade planetária, fragmentada, que este novo indivíduo busca a sua
identidade. Segundo Hall (2002), temos na modernidade tardia a perspectiva de
que as identidades modernas se encontram descentradas, deslocadas,
fragmentadas; na perda de um sentido de si estável.
Portanto, mundo pós-moderno é, como diz Thompson (2004), o mundo da
experiência mediada. Para ele, são três as possíveis formas de relação: a face
a face, a mediada (cartas, telefones, internet etc.) e a quase mediada (TV,
jornais, revistas, internet, rádio etc.), que criam, na pós-modernidade, uma nova
forma de relação, na qual os indivíduos podem criar e estabelecer uma forma de
intimidade não compartilhada e essencialmente não recíproca (Thompson,
2004).
Se antes (há menos de 40 anos atrás) os sujeitos se relacionavam face a
face, as novas relações agora são mediadas quase na sua totalidade por
celulares, pela internet, pelo mundo informatizado. Nesse sentido, é válido
ressaltar que o referencial teórico clássico e moderno parece não atender às
novas demandas e problemáticas trazidas pela questão do indivíduo e a
complexidade das relações desse “novo sujeito”.
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direito de recusar. Não se tem tal direito, não neste jogo, não enquanto
os árbitros impuserem a sua vontade.
NA PRÁTICA
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Nesse contexto, temos também novas problemáticas, ou temas que foram
reconhecidos e observados com base na ótica escolar, como as necessidades
especiais, sob a constatação de que não há apenas uma forma de aprender ou
de aplicar e significar os saberes aprendidos.
Não haver um modelo rígido a ser seguido já é um “modelo” adotado por
diferentes correntes educacionais, que focam na experiência e têm deixado de
lado a ótica utilitarista e padronizante da modernidade. Temos visto cada vez
mais escolas sem provas, sem séries (separação por níveis, idades) e até sem
salas de aula.
FINALIZANDO
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REFERÊNCIAS
ELIAS, N. A sociedade dos indivíduos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1994.
GEERTZ, C. Uma descrição densa: por uma teoria interpretativa da cultura. In:
_____. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989.
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