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PÓS-MODERNIDADE
AULA 4
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TEMA 1 – JACQUES DERRIDA
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Criticado e acusado de “querer desconstruir tudo”, entendia que a análise
desconstrutiva é um exercício para construir uma consciência histórica e avaliar
a contribuição da própria história para a compreensão da condição humana –
isso destacando que, para o autor, a narrativa histórica está mais para literatura
do que para ciência, uma vez que o texto não acompanha a realidade do objeto,
mas trata-se de um enredo imposto pelo historiador.
Parece confuso? Pois é: Derrida se insere na discussão sobre filosofia da
linguagem – o que é uma tarefa árdua e que nos convida a mergulhar em
algumas concepções extremamente filosóficas para compreender sua análise. É
de fato uma leitura que pode ser considerada complexa, que fica mais simples
quando compreendemos sua postura geral com relação ao objeto de estudo –
ao entrar no rol de pós-estruturalistas e pós-modernistas, que negam a
existência de uma realidade que seja estável, de um conhecimento confiante.
Torna-se importante compreender, inicialmente, as críticas que esse autor faz
ao estruturalismo.
TEMA 2 – ESTRUTURALISMO
Não somos nós que falamos – mas somos falados pela língua! A língua
interfere no modo de vermos o mundo. Não somos nós quem fazemos nossa
história, com base em concepções exclusivas, individuais – nos comportamos
baseados em estruturas dadas, que orientam, de certa maneira determinam
nosso comportamento.
Para compreender o pensamento de Derrida, importa revisitar as
definições básicas do estruturalismo por ele criticado. Dentre os aspectos
centrais, tem-se a concepção de que há uma estrutura concreta, um ponto de
origem, uma essência que determina e nos permite compreender o significado
das coisas (na linguística); da cultura; das relações sociais (na antropologia e
ciências sociais).
O termo é amplamente conhecido a partir da obra do suíço Ferdinand de
Saussure (1857-1913), filósofo e linguista que exerce influência até os dias de
hoje nos estudos culturais e na literatura. Para Saussure (2002), a língua é um
sistema homogêneo, com um conjunto de signos que é exterior aos indivíduos;
um conjunto de unidades que obedecem a princípios de funcionamento e que
constituem um todo coerente. O seu objeto de estudo é a língua (e não a fala),
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que se estabelece com base em manifestações concretas e em cada ato
linguístico efetivo.
Ao analisar a dimensão coletiva, social da língua, Saussure (2002) centra-
se nas regras e convenções que permitem à língua operar (buscando uma lógica
oculta por trás da fala). O autor se interessou pelo que é comum a todos os
falantes e que funciona em nível inconsciente. Com base nessa concepção,
concentra-se mais na estrutura da língua (sem fazer referência a aspectos
históricos, evolutivos dos idiomas).
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Signo: produção humana dotada de sentido (natural: da natureza; signos
acordados: palavras, sinais, ícones).
Signo linguístico: associação de um conceito com uma imagem
acústica, formada por duas partes inseparáveis – significante e
significado. Trata-se de uma forma de apreender a realidade.
Arbitrariedade linguística: é uma atividade simbólica; as palavras criam
conceitos e estes organizam a realidade. O signo não está relacionado
necessariamente, naturalmente ao significado.
Arbitrariedade do signo: não existe relação necessária, natural, entre a
imagem acústica (o significante) e o sentido a que ela nos remete (o
significado).
Dicotomia: um par de conceitos definidos um em relação ao outro.
Significante: espécie de imagem acústica – impressão psíquica do som
(sequência de fonemas).
Significado: conceito.
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Segundo o pensador, há como apagar essas diferenças entre significante
e significado:
TEMA 3 – DESCONSTRUÇÃO
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das ciências sociais, temos a desconstrução, a diferença (différence) e a
hospitalidade.
O gesto da desconstrução consiste em desnaturalizar, não assumir o que
foi condicionado pela história, pelas instituições, pela sociedade como natural.
Transcrevemos um recorte do documentário sobre Derrida (2002) para
ilustrar a maneira pela qual o autor se insere na discussão da filosofia da
linguagem:
A escrita é finita. O fato de a escrita ser finita quer dizer que, desde o
momento em que há uma inscrição, há necessariamente uma seleção
e, consequentemente, uma rasura, uma censura, uma exclusão. [...]
qualquer coisa dita é seletiva, finita e, por consequência, tão marcada
pela exclusão, pelo silêncio, pelo não dito [...]. Vocês mesmos estão
escrevendo, quer dizer, estão escrevendo imagens que, por sua vez,
podem ser editadas, selecionadas, cortadas, coladas. Então, estamos
preparando, de maneira muito artificial, um texto que vocês vão
escrever e filmar e nele eu sou uma espécie de material para sua
escrita. Assim, com tanto material para a escrita deste filme, o material
deve falar um pouco da escrita e da biografia. (Derrida, 2002)
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ela aparece pela primeira vez na obra De la grammatologie, por influência
de Heidegger;
é uma maneira de ler textos e revelar suas aporias (contradições,
paradoxos, dúvidas);
trata-se de comparar um texto com ele mesmo;
e também de questionar a autoevidência lógica de algumas dicotomias;
compreende um esforço para quebrar barreiras, ultrapassar fronteiras que
se estabeleceram ao longo da história da filosofia;
é uma estratégia subjetiva e objetiva, interpretativa;
compõe uma forma de reorganizar o pensamento ocidental, com base nas
suas contradições e desigualdades lógico-discursivas;
é uma releitura do mundo como realidade;
o significado do texto seria o resultado da diferença entre as palavras
usadas (seja num artigo, seja num romance, seja num ensaio etc.);
ao se decompor a estrutura da linguagem, poderão ser descobertas
diferentes significações de um texto;
a desconstrução implica uma prática narrativa;
Derrida insiste na necessidade de se desmontar os aspectos mais
enrijecidos da história da filosofia.
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novo conceito fornece – ou seja, a diferência representa o movimento que
produz as diferenças, acusando o princípio de identidade de ser responsável
por se alinhar o saber a uma totalidade racional, fechada, que leva a
subordinação de um polo a outro.
Nessa concepção, o significado de um texto seria o resultado da
différence entre as palavras usadas (não a diferença entre os termos opostos),
da referência, do que representam. Assim, os diferentes significados de um texto
poderão ser descobertos ao se decompor a estrutura da linguagem.
Ao constatar que recebemos da tradição metafísica um conjunto de
oposições (alma/corpo, voz/escrita; voz/pensamento; racional/irracional), essas
dicotomias são também vistas de maneira hierárquica, como a alma sendo
apresentada como superior ao corpo; com a valorização da razão, que exclui a
loucura etc. Derrida constata que não há uma norma neutra, mas hierarquizante
de valores que acabam gerando violência, uma vez que podem excluir um dos
lados.
Ao questionar as oposições, negando a exclusão, Derrida mostra que
cada noção só tem sentido em relação a uma outra. Para a compreensão do
conceito de différance, sistematizamos algumas de suas características e
concepções principais:
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Derrida, que teve sua história marcada pela segregação, olha de maneira
particular para a recusa de alteridade – que afeta o estrangeiro, a mulher, o
idoso, a criança e mesmo o animal. Ressalta que a exclusão é a negação do
diferente, aquele que fica, de alguma maneira, marginalizado.
Quando trata da ambivalência da hospitalidade, Derrida discute um tema
que, para ele, tem significado pessoal, como militante da causa dos refugiados,
lembrando que ele sofreu, na infância, com o antissemitismo. Segundo explica,
a relação entre acolhedor e acolhido implica uma inovação teórica.
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a hospitalidade se dá com base na desconstrução do outro;
deve haver abertura para o outro;
Derrida se opõe a Kant quando indica que o direito da propriedade está
acima da lei de hospitalidade e que o estrangeiro seja recebido sob
condições sob um período, mas que, após ser submetido a uma
inquisição, deva se identificar e apresentar seus documentos;
a hospitalidade deve acolher sem impor condições;
Derrida propõe a criação de uma cidade franca, que se coloque acima das
nações;
o direito ao asilo é restritivo e cada vez menos respeitado;
o autor aponta a necessidade de se conceder ajuda ao imigrante;
Derrida propõe a adoção da hospitalidade incondicional.
A obrigação única que cada um de nós tem com o outro [...] leva a uma
hospitalidade pura ou incondicional [...] A hospitalidade pura ou
incondicional, a hospitalidade em si, abre-se ou está aberta
previamente para alguém que não é esperado nem convidado, para
quem quer que chegue como um visitante absolutamente estranho,
como um recém-chegado, não identificável e imprevisível, em suma,
totalmente outro. (Derrida; Dufourmantelle, 2003, p. 15)
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Então, quando falo de uma democracia por vir, não me refiro a uma
democracia futura, a um novo regime, a uma nova organização de
Estados-nação (ainda que isto possa ser desejável), mas quero dizer,
com este por vir, a promessa de uma autêntica democracia que nunca
se concretiza no que chamamos democracia. Isso é um modo de se
prosseguir criticando o que hoje se dá em todo lugar em nossas
sociedades sob o nome de democracia. Isso não significa que a
democracia por vir será simplesmente uma democracia futura
corrigindo ou aperfeiçoando as atuais condições das assim chamadas
democracias. Significa, antes de tudo, que esta democracia com a qual
sonhamos está ligada conceitualmente a uma promessa. A ideia de
uma promessa está inscrita na ideia de democracia: igualdade,
liberdade, liberdade de expressão, liberdade de imprensa – todas estas
coisas estão inscritas como promessas da democracia. (Derrida, citado
por Duque-Estrada, 2002, p. 244)
NA PRÁTICA
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Crédito: Livraria da Travessa.
FINALIZANDO
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Além de ser um conceito que nos permite revisitar, de maneira
diferenciada, teorias consolidadas, a desconstrução pode ser associada com a
desnaturalização e o questionamento das estruturas e referências
problematizadas por todos os autores que vimos até aqui, quando falam da
sociedade contemporânea.
Para elucidar de maneira mais didática a semelhança e a diferença entre
os autores já estudados, propomos um esquema que nos permite situar e/ou
inserir os autores já estudados na discussão sobre a contemporaneidade
(modernidade líquida, tardia ou pós-modernidade).
Enquanto Bauman e Baudrillard identificam a quebra com referências
culturais, institucionais, com base na sociedade do consumo, Derrida e
Lyotard (autor a ser estudado na próxima aula) discutem a quebra com
referências teóricas. Para revisar e fazer uma comparação didática, temos:
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desconstrução, conseguiremos ler para além do que está escrito e descobrir
novas análises de textos e teorias que parecem já ter sido esgotados?
Interessa-nos, também, ressaltar que não estamos tratando apenas de
constatações conceituais, teóricas mesmo Derrida, que propõe uma análise mais
filosófica, chama atenção para problemáticas e angústias factuais como a
violência de não se considerar ou de se negar a dignidade do outro – ponto
também apresentado por todos os autores. Cada um, a sua maneira, explica
como a sociedade contemporânea é capaz de negligenciar a vida alheia.
Além desse aspecto angustiante das constatações feitas, temos também
a visão de que, ao desnaturalizar as estruturas até então consideradas rígidas e
determinantes, há espaço para novas possibilidades – que também podem ser
vistas de maneira mais otimista. E você, de que maneira percebe essa
desnaturalização/problematização das estruturas?
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REFERÊNCIAS
SAUSSURE, F. de. Curso de linguística geral. 24. ed. São Paulo: Pensamento-
Cultrix, 2002.
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