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Objeção de consciência: uma questão

constitucional

José Carlos Buzanello

Sumário
Introdução. 1. Construção conceitual. 2. Da
institucionalização. 3. Da justificação. 4. Das clas-
sificações. Considerações finais.

Introdução
A objeção de consciência se discute na
teoria da constituição como problema da
obrigação jurídica. Objetivamos, com este
artigo, demonstrar, além da questão doutri-
nária, a indicação do acesso ao direito da
objeção de consciência, quanto aos aspec-
tos teóricos e quanto às práticas possíveis
por parte da cidadania.
Ainda que a objeção de consciência seja
um tema relevante no direito constitucional
brasileiro, tanto que é assente nos direitos
fundamentais de algumas constituições,
como a brasileira (art. 5º, VIII, e no art. 143, §
1º, CF), passa despercebido pela comunida-
de jurídica e pela sociedade civil. Se, entre
nós, verifica-se um certo desconhecimento
desse direito por parte dos operadores de
direito, agrava-se muito mais a dificuldade
da sua efetividade por parte do Estado, que
não possui repartição pública específica e
nem recursos humanos com preparo sufici-
ente.
José Carlos Buzanello é Diretor da Escola de
O Estado Democrático de Direito (art. 1º,
Direito da UNIGRANRIO (Duque de Caxias/RJ); CF) considera as diversidades sociais e cul-
Licenciado em Filosofia (UFSM), Bacharel em turais e as reivindicações contra si mesmo,
Direito (UFRJ); Mestre em Direito (PUC/RJ) e seu conteúdo e seus efeitos prováveis, con-
Doutor em Direito (UFSC). tudo esse mesmo Estado não precisa con-
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cordar com todas as reivindicações de cons- to legal ou administrativo mais ou menos
ciência, todavia não pode concordar ou categórico (apud DWORKIN, 1980, p. 177).
negá-las em virtude do caráter político dos Como autodeterminação consciente da von-
grupos que as apresentam. tade individual, a objeção de consciência
opera como sinônimo de livre arbítrio, tem
1. Construção conceitual natureza personalíssima, como as decisões
relativas ao próprio corpo (caso da objeção
A objeção de consciência coincide com às vacinas, aos testes de sangue, à concep-
as liberdades públicas clássicas, que im- ção, ao aborto, à doação de órgãos, ao trata-
põem um não-fazer do indivíduo, estabele- mento médico).
cendo uma fronteira em benefício do titular A teoria dos direitos e garantias indivi-
do direito que não pode ser violada por quem duais, estudada a partir da doutrina clássi-
quer que seja, nem pelo Estado. Essa idéia ca, valoriza a titularidade individual das
espelha a liberdade de consciência, isto é, posições jurídicas constitucionais, tanto que
viver de acordo com sua consciência, pau- a objeção de consciência requer a adequa-
tar a própria conduta pelas convicções reli- ção normativa com a consciência particu-
giosas, políticas e filosóficas. Dela decorre lar.
que cada ser humano tem o direito de con- O arcabouço da objeção de consciência
duzir a própria vida como “melhor enten- encobre uma estrutura complexa de normas
der”, desde que não fira o direito de tercei- que garantem direitos subjetivos e impõem
ros. deveres ao Estado, em dupla perspectiva: a)
A objeção de consciência é uma modali- constituindo normas de competência nega-
dade de resistência de baixa intensidade tiva para os poderes públicos; b) implican-
política (negação parcial das leis) e de alta do um poder de exercer positivamente di-
repercussão moral. Caracteriza-se por um reitos fundamentais (liberdade positiva) e
teor de consciência razoável, de pouca pu- de exigir omissões dos poderes públicos, de
blicidade e de nenhuma agitação, objetivan- forma a evitar agressões lesivas por parte
do, no máximo, um tratamento alternativo dos mesmos (liberdade negativa).
ou mudanças da lei. O direito do Estado, A liberdade de consciência é o núcleo de
assim, não alcança o foro íntimo, a privaci- fundamentação da objeção de consciência,
dade da pessoa. O que a objeção de consci- pois reflete a liberdade de crença e de pen-
ência reclama é a não-ingerência do Estado samento, não de uma liberdade geral, mas
em assuntos privativos da consciência in- de uma liberdade singular não pautada na
dividual, que se confunde também com a igualdade entre os indivíduos. A Constitui-
dignidade humana, agora solidificada ção do Brasil assegura como direito funda-
como princípio constitucional (art. 1º, III, mental as liberdades de pensamento (5º, IV,
CF). VI, CF), que se desdobram em duas: a pri-
A objeção de consciência, como espécie meira, a liberdade de consciência, compre-
do direito de resistência, é a recusa ao cum- endendo a liberdade de opinião e de crença;
primento dos deveres incompatíveis com as a segunda, a liberdade de exteriorização do
convicções morais, políticas e filosóficas. A pensamento, abrangendo a liberdade de
escusa de consciência significa a soma de palavra e de culto. É nesse direito que reside
motivos alegados por alguém, numa preten- a matriz político-jurídica da objeção de cons-
são de direito individual em dispensar-se ciência.
da obrigação jurídica imposta pelo Estado As Constituições brasileiras, em regra,
a todos, indistintamente. sempre asseguraram a liberdade de pensa-
A objeção de consciência, segundo John mento, contudo nem sempre o seu pleno
Rawls, é o não-cumprimento de um precei- exercício foi possível, como ocorreu nos pe-

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ríodos não-democráticos ou marcados pela escusa restritiva ao serviço militar (art. 143,
intolerância religiosa, haja vista o caso da § 1º, CF), in verbis:
não-admissão de matrícula de estudantes Art. 5º Todos são iguais perante a
que não professavam a fé católica, fato ain- lei, sem distinção de qualquer nature-
da ratificado por órgão do judiciário1 . za (...), nos termos seguintes:
VIII – ninguém será privado de di-
2. Da institucionalização reitos por motivos de crença religiosa
ou de convicção filosófica ou política,
A objeção de consciência surge histori- salvo se as invocar para eximir-se de
camente como problema referente à indepen- obrigação legal a todos imposta e re-
dência do indivíduo religioso em relação à cusar-se a cumprir prestação alterna-
autoridade religiosa ou ao Estado, que mais tiva, fixada em lei.
tarde se torna uma prescrição política de Esse preceito constitucional estabelece
ordem política (liberal), com grande resso- mais um postulado democrático da nossa
nância no ocidente com a defesa dos direi- carta constitucional, em plena conformida-
tos individuais. A Declaração de Direito do de com a Declaração dos Direitos do Ho-
Homem e do Cidadão, de 1789, fruto da Re- mem da ONU, de 19486. Os deveres a que se
volução Francesa, introduziu no discurso refere esse preceito designam ressalvas de
político-jurídico moderno as liberdades pú- direitos, consoante se infere, porém, que não
blicas 2 . é dado invocar tal crença e convicção para
Nos Estados democráticos, a objeção de eximir-se de obrigação legal. O objetor não
consciência pode ser considerada como pode sobrepor-se ao princípio da isonomia
qualquer outro direito fundamental, contu- apenas pela alegação de que é objetor, pois,
do, em função de sua elasticidade, é matéria para eximir-se do cumprimento da obriga-
de contínuo debate. O Brasil reconhece a ção jurídica, ele deve revestir-se de consis-
objeção de consciência, como vários países tente fundamentação jurídica, moral ou po-
também o fazem. No entanto, ela não pos- lítica.
sui uma estrutura política e jurídica única Observamos que a objeção de consciên-
no mundo, visto que vem sendo adotada de cia constitucional não tem caráter absoluto,
forma particular em cada Estado: alguns lhe pois não pode ser invocada para conseguir
dão destaque constitucional3, outros a esta- exoneração de obrigação legal imposta a
belecem em leis extravagantes4 e outros, ain- todos, permitindo apenas prestação alter-
da, pela hermenêutica jurídica 5 . nativa. Combina esse preceito genérico de
No Brasil, o reconhecimento jurídico da objeção de consciência com a objeção espe-
objeção de consciência se dá pela via cons- cífica ao serviço militar, in verbis:
titucional, regulamentado, em parte, por lei Art. 143. O serviço militar é obri-
especial e, ainda, por decisão judicial. Na gatório nos termos da lei.
Assembléia Nacional Constituinte (1987/ § 1º Às Forças Armadas compete,
1988), a defesa da objeção de consciência na forma da lei, atribuir serviço alter-
foi encampada principalmente por demo- nativo aos que, em tempo de paz, após
cratas, grupos religiosos e pacifistas, tendo alistados, alegarem imperativos de
como questão de fundo a liberdade de cren- consciência, entendendo-se como tal
ça religiosa. o decorrente de crença religiosa e de
Assente como direito fundamental na convicção filosófica ou política, para
Constituição de 1988, o instituto jurídico da se eximirem de atividades de caráter
objeção de consciência se dá em duas pers- essencialmente militar.
pectivas: uma, como escusa genérica de A Constituição reconhece que a lei pode
consciência (art. 5º, VIII, CF), e, outra, como impor ao objetor prestação alternativa, que,

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por certo, há de ser compatível com suas cos. Além da questão ética, o objetor deve
convicções. Dentro da ordem jurídica, justifi- invocar uma questão de convicção filosófi-
ca-se a objeção de consciência apenas com ca ou política como imperativo de consciên-
uma parcial negação das leis, porque o ob- cia. O que vem a ser essa alegação de cons-
jetor é obrigado a arcar com os custos dessa ciência? Podemos entender como um grau
limitação, pois tem que aceitar as regras da bastante forte de assentimento de valores
justificação, que contém a parte não negada morais que se interiorizam na pessoa como
da sua justificação, como é o caso brasileiro autopercepção, confundindo-se muitas ve-
da perda ou suspensão dos direitos políti- zes como sinônimo de crença ou de certeza.
cos (art. 15, IV, CF)7. Se não consegue seu Segundo a teoria psicanalítica, a atividade
intento, o objetor tem como recurso a opção mental pode efetuar-se por duas modalida-
de recusar a obrigação alternativa, possível des, uma consciente e outra inconsciente.
em alguns casos, como o serviço militar, com Os dados da primeira modalidade são “da-
as conseqüentes sanções normativas. dos imediatos” que não podem ser mais ple-
namente explicados por qualquer “tipo de
3. Da justificação descrição” e os da segunda são inferidos.
A justificação política da objeção de cons-
A justificação pode ser de várias ordens, ciência pode ser assentada em duas fontes:
como: jurídica, política e moral. O principal a primeira traz a idéia originária de salva-
argumento moral reside no dever de obede- guardar a justiça e a dignidade humana,
cer às leis que sejam razoáveis, proporcio- fundada em razões humanitárias de justiça
nais, justas e em conformidade com os prin- social e solidariedade dos povos. A matriz
cípios gerais de direito, como o direito à vida, da objeção de consciência está na reprova-
à dignidade da pessoa humana, da justiça ção da lei injusta em nome de uma ordem
social, da proporcionalidade, da legítima superior “justa”, uma ordem moral. De for-
defesa e da segurança jurídica. ma semelhante se deu a manifestação de
Além da questão de convicção religiosa, alguns grupos de protesto e de mobilização
filosófica ou política como imperativo de de campanhas contra a guerra do Vietnã na
consciência, o objetor deve invocar uma década de 60.
questão jurídica. Da mesma forma, aquele A outra fonte de justificação é, finalmen-
objetor que não justificar adequadamente te, a idéia da autonomia da liberdade indi-
sua demanda está sujeito à devida respon- vidual que se antepõe a toda forma de po-
sabilização, o mesmo ocorrendo com aque- der sobre o homem, especialmente o poder
le que alega falsamente a objeção. do Estado. A justificação tem origem jusna-
A objeção de consciência abre perspecti- turalista, que só ergue a supremacia do in-
vas de ação política, no sentido do aperfei- divíduo – informado por alguns direitos
çoamento do sistema político e jurídico. Sob natos – sobre o Estado. Essa tese jusnatura-
o ponto de vista político, como modalidade lista sustenta que a consciência individual
de exercício do direito de resistência, abri- está acima de cada lei e que é legítimo resis-
ga, no fundo, a legitimidade da estrutura de tir em nome dos direitos naturais ou da hu-
poder, já que sua reivindicação é apenas manidade ofendida, pois o ato impugnado
pontual dentro do contexto da obrigação repugna a consciência. Salienta-se, nessa
jurídica, podendo – é claro que por meios perspectiva, o homem como centro da esfe-
transversos – alcançar os fundamentos da ra política e social e, de outro lado, o Estado
ordem política. como o ente artificial legitimado para distri-
A lógica da justificação jurídica da obje- buir justiça. O Estado, por sua vez, nada
ção de consciência transcende a evocação mais é do que uma associação criada pelos
dos princípios fundamentais éticos e políti- próprios indivíduos, por meio do contrato

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social, para proteger seus direitos funda- 2º) objeção de consciência religiosa – garan-
mentais e assegurar o desenvolvimento hu- te às pessoas que professam a crença religi-
mano baseado na tolerância e na convivên- osa a dispensa de trabalho ou a prática de
cia pacífica. ato cívico (votar) em determinados dias e
horários. Essa objeção ataca a lei positiva
4. Das classificações que seja contrária à moral religiosa, ainda
que a pretexto do bem comum. No Rio de
As variações das classificações da obje- Janeiro, a lei municipal nº 1.410/89 garante
ção de consciência acontecem conforme o aos funcionários municipais que professam
aprofundamento doutrinário do tema. Apre- a fé judaica o ponto facultativo nos dias de
sentamos apenas oito classificações, para Rosh Hashanah (Ano Novo) e Yom Kippur
fins deste estudo, a saber: (Dia do Perdão)9 .
1º) objeção de consciência ao serviço militar 3º) objeção de consciência ao exercício pro-
– dispõe basicamente sobre o recrutamento fissional – trata-se de uma incompatibilida-
e o exercício militar, possibilitando aos in- de moral entre o profissional e o serviço so-
divíduos o direito a evitar o serviço militar licitado, como é o caso de algumas profis-
bélico aos que tenham apreensões de nature- sões, entre elas a dos advogados. O próprio
za religiosa acerca de lutar ou matar. A obje- Estatuto da Advocacia e da OAB (Lei 8.906/
ção de consciência ao serviço militar é omis- 94) estabelece no art. 33, parágrafo único, a
siva, individual, personalíssima, pacífica, recusa do patrocínio de uma causa por ra-
parcial. zões de foro íntimo. Essa matéria está ratifi-
A Constituição Federal de 1988 mante- cada no Código de Ética do Advogado que
ve a obrigatoriedade do serviço militar ini- expressamente dispõe, no art. 20, que o ad-
cial que alcança todos os brasileiros e pos- vogado deve abster-se de patrocinar causa
sibilitou, também, a prestação militar alter- contrária à ética e à moral. Agindo assim, o
nativa8, mediante simples alegação de obje- profissional não incorre na infração disci-
ção de consciência (art. 143, § 1º, CF). Esse plinar de recusa à prestação de serviço, sem
preceito constitucional que desobriga os bra- motivo, à assistência jurídica, quando no-
sileiros ao serviço militar obrigatório por meado em virtude de impossibilidade da
escusa de consciência não os libera da obri- Defensoria Pública. Da mesma forma, ou-
gação mais séria da cidadania: a obrigação tros profissionais, como o juiz de direito10 ,
de lutar pelo próprio país, em caso de guer- baseados em imperativos de consciência,
ra (art. 5º, XLVII, “a”, combinado com art. podem alegar que sua decisão atenta contra
143, § 1º, da Constituição Federal). A regu- sua crença religiosa, política ou moral, inde-
lamentação infraconstitucional está expres- pendentemente da licitude do ato.
sa em dois atos normativos: na Lei 8.239/ 4º) objeção de consciência à obrigação sani-
1991, que dispõe sobre a prestação de Servi- tária e tratamento médico – trata-se da recusa
ço Alternativo ao Serviço Militar Obrigatório, aos tratamentos sanitários obrigatórios im-
e na Portaria EMFA nº 2.681/1992, do Chefe postos pelo Estado ou tratamento médico,
do Estado Maior das Forças Armadas. quando limitam a liberdade individual ante
A recusa ou cumprimento incompleto do uma decisão coletiva para prevenir deter-
serviço alternativo, sob qualquer pretexto, minada enfermidade. Se, de um lado, cabe
por motivo de responsabilidade pessoal do ao Estado a tutela do direito à vida e à saú-
convocado, implicará a suspensão dos di- de coletiva; de outro, também cabe a este o
reitos políticos, que importa em privação dever de não prejudicar terceiros. O respei-
temporária do direito de votar, ser votado e to à atitude individual da objeção de cons-
despoja a pessoa dos atributos de eleitor, de ciência deve estar em harmonia com direi-
fazer concurso público e tirar passaporte. tos dos não-objetores. Algumas crenças ou

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concepções políticas ou filosóficas, por clarar sua vontade em uma nova Carteira
exemplo, não permitem a vacinação, tanto de Identidade Civil12 ou na Carteira Nacio-
que uma simples questão de objeção parti- nal de Habilitação 13 . A lei, ainda, trata da
cular pode-se transformar em desobediên- retirada compulsória de órgãos e cria um
cia civil, como foi o caso da Revolta da Vaci- novo instituto jurídico: os “não-doadores”.
na, no Rio de Janeiro, em 1904. Fora os equívocos da lei, ela regulamenta
Nesse sentido, o Conselho Federal de uma disposição constitucional (art. 199, § 4º,
Medicina (CFM) aprovou, no novo Código CF), além de ter um grande alcance social.
de Ética Médica (1988), os direitos do paci- Outra questão de maior interesse jurídi-
ente, assim, o art. 48, CFM, veda o médico de: co refere-se ao sangue, ao esperma e ao óvu-
“Exercer sua autoridade de maneira a limitar lo, que não estão compreendidos entre os
o direito do paciente de decidir livremente tecidos a que se refere a Lei de Doação Pre-
sobre sua pessoa ou seu bem-estar”. E, inclu- sumida, mas podem ser incluídos implici-
sive, tem o paciente o direito de recusar tra- tamente. Há situações como a negativa da
tamento para atender às suas convicções transfusão de sangue por parte de membros
(art. 51, CFM), em que o médico é proibido de grupos religiosos (Testemunha de Jeová),
de: a) “alimentar compulsoriamente qual- como no caso da mãe que não permite a
quer pessoa em greve de fome que for consi- transfusão de sangue de seu filho alegando
derada capaz, física e mentalmente (...)”. Em motivação religiosa. Nesse caso, os direitos
tais casos, deve o médico fazê-la ciente de fundamentais funcionam de forma antinô-
prováveis complicações do jejum prolonga- mica entre o direito de crença da mãe e o
do e, na hipótese de perigo de vida iminen- direito à vida da criança, em que deve pre-
te, tratá-lo; b) “efetuar qualquer procedimen- valecer a vida em detrimento da liberdade
to médico sem o esclarecimento e o consen- de consciência – a vida vale mais que a cren-
timento prévios do paciente ou de seu res- ça religiosa.
ponsável legal, salvo em iminente perigo de 6º) objeção de consciência ao aborto – refere-
vida”. Nesses casos, deve-se registrar uma se à recusa por parte dos profissionais de
hierarquia de valores entre o dever profissi- saúde ou de hospitais à pratica do aborto,
onal e o direito de paciente. “O dever médi- independentemente da licitude do ato. Com
co é de fonte legal, o direito do paciente de isso, reconhece-se o direito de objeção de
aceitar, ou não, um tratamento, ou um ato consciência dos hospitais e de qualquer pes-
médico, é expressão de sua liberdade – di- soa a negar a prática do aborto por motivos
reito seu de ordem fundamental, declarado morais, não caracterizando discriminação
e garantido pela Constituição”11 . Prevale- pelo exercício desse direito. Por outro lado,
cem os direitos do paciente. no caso do aborto necessário, em que não
5º) objeção de consciência à obrigação de do- há outro meio de salvar a vida da gestante,
ação de órgãos – essa objeção está regulamen- a recusa acarreta o crime de omissão de so-
tada pela Lei de Doação Presumida (Lei corro, previsto no art. 128, I, e 135, do Códi-
9.434/97 e Decreto nº 2.268/97). A lei de- go Penal Brasileiro. Nos Estados Unidos,
clara todos os brasileiros potenciais doado- encontra-se reconhecido esse direito, em ní-
res universais, e, para tanto, presume-se vel federal, pela Health Programs Extension
autorizada a doação de órgãos. Nesses ca- Act de 1993 e, na França, pela Lei 75, de 1975,
sos, a lei criou a fórmula ideal, reconhecen- relativa à interrupção da gravidez e que re-
do a autonomia individual ao permitir a gula a cláusula de consciência dos profis-
declaração de vontade de “doador” ou “não- sionais de saúde.
doador” nos documentos de identidade. O 7º) objeção de consciência ao trabalho nos
objetor (não-doador) não precisa justificar sábados – refere-se às questões de natureza
ou abrir processo administrativo, basta de- religiosa e pode ser reconhecida pelo prin-

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cípio da autonomia dos contratos trabalhis- De outro lado, a defesa do Estado centra-se
tas entre patrões e empregados em aceitar a na alegação de que, se o eleitor não estiver
liberalidade de dispensa de trabalho aos de acordo com os candidatos, deve votar em
sábados. A Organização Internacional do branco, cumprindo o dever de votar impos-
Trabalho (OIT) reconhece no art. 6º da De- to na Constituição15 .
claração Universal de 1981 o sábado como
um dia festivo, segundo determinada reli- Considerações finais
gião, embora não haja amparo legal para
que se guarde outro dia que não o domingo. O direito deve trazer em seu âmago as
O Serviço Público Federal e o Serviço Públi- condições da existência humana e moral
co do Estado do Rio de Janeiro, precisamen- das pessoas e, por conseguinte, a autodefe-
te na área da educação, recomendam às uni- sa dos direitos do indivíduo constitui um
dades escolares não marcarem exames esco- elemento determinante da sua própria con-
lares aos sábados pelo simples fato de o alu- servação.
no professar religião que lhe mande guardar Os limites éticos dos objetores, quando
o sábado como dia santificado14. Desse modo, da recusa à obrigação jurídica, têm como fio
as instituições de ensino podem marcar as condutor a melhoria da convivência social,
prestações alternativas a qualquer dia e não só importante para a política geral, mas
hora, conforme sua discrição administrati- para a vida privada de cada cidadão. Quan-
va. Os objetores mais conhecidos são os do o “tribunal da razão” proclama a lei con-
Adventistas do Sétimo Dia, que se negam a trária à consciência moral, o indivíduo
trabalhar nos sábados por razões religiosas. liberta-se do dever da obediência. A ética é
8º) objeção de consciência eleitoral – nessa condição fundamental para uma sociedade
objeção, o eleitor se recusa a participar do que tenha compromisso consigo mesma.
processo eleitoral sob duas alegações: pri- A objeção de consciência será sempre
meira, como cidadão não quer participar da precedida de uma oposição privada possi-
produção do poder político; segunda, quer bilitada pelo sistema político. Pela magni-
participar, mas os partidos ou candidatos tude de sua reivindicação, esse postulado
apresentados ao pleito estão em desconfor- da objeção de consciência é uma possibili-
midade com sua consciência política. Não dade última de assegurar à pessoa sua dig-
obstante o voto obrigatório com assento cons- nidade humana (cf. NASCIMENTO, 1976).
titucional (art. 14, § 1º, CF), é perfeitamente Não se trata de uma liberalidade, mas de
cabível que o mesmo seja facultado aos elei- uma ação política calculada, quanto aos
tores que não desejarem votar, independen- êxitos e frustrações.
te do motivo, bastando que esses justifiquem O Estado que admite a objeção de cons-
na sua Zona Eleitoral até sessenta dias após ciência, como o Brasil, por conseqüência,
o dia da votação. A fundamentação jurídica admite a desobrigação jurídica por parte de
da justificativa tem amparo nos arts. 1º, II alguns dos seus cidadãos. Conflagram-se
c/c art. 5º, XXXIV, “a” e seu § 2º, CF, c/c art. dois direitos: os direitos do Estado e os di-
7º, caput e seu § 1º, Código Eleitoral. Da mes- reitos fundamentais, em que o primeiro re-
ma forma, pode-se desenvolver a tese de que conhece e administra as exigências do se-
o sufrágio é um direito e não um dever (art. gundo, mediante estudo e observação da
14, § 1º, I, CF) e que a soberania popular é a formação da tensão e resolução do conflito
livre manifestação do povo e não uma obri- social.
gação. Todos têm os mesmos direitos, mas A objeção de consciência procura sua
nem todos têm a mesma vontade de partici- legitimidade moral na dignidade da pessoa
par da vida política da nação por terem, humana, solidificada como princípio polí-
também, diferentes consciências políticas. tico, para fazer frente à recusa à obrigação

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jurídica. Por outro lado, a oposição política, “ninguém poderá ser constrangido ao serviço ar-
seja ou não partidária, não requer, necessa- mado em tempo de guerra contra a sua consciên-
cia”. No art. 4.3. da Lei Fundamental de 1949:
riamente, uma alegação de consciência e, “Ninguém será obrigado, contra sua consciência, a
sim, exterioriza-se por variáveis próprias do servir com armas na guerra. A regulação se fará
campo político, como: interesse, tradição, por lei federal”. A Constituição da Espanha, de 1978,
cultura e afeto. A oposição política faz parte expressa no art. 16.1: “Se reconhecem a liberdade
da teoria do poder, sendo parte do sistema ideológica, religiosa e de culto dos indivíduos e das
comunidades sem nenhuma restrição em suas ma-
político-jurídico do Estado, de importância nifestações, que sejam necessárias para a manu-
capital para legitimar os processos de deci- tenção da ordem pública protegida pela lei”; no
são política, seja eleitoral ou parlamentar. art. 20. 1. d. (...). A lei regulará o direito a cláusula
Dessa forma, a oposição política é sempre de consciência e o segredo profissional no exercício
legal, enquanto a objeção de consciência nem das liberdades; no art. 30. 2: “A lei fixará as obriga-
ções militares dos espanhóis e regulará, com as
sempre é admitida no ordenamento jurídico. devidas garantias, a objeção de consciência, assim
Por fim, a objeção de consciência abre como as demais causas de exceção do serviço mili-
perspectivas de ação política, no sentido do tar obrigatório, podendo impor, em seu caso, uma
aperfeiçoamento do sistema político e jurí- prestação social substituta” . No art. 53. 2: “Qual-
dico. A objeção de consciência não se apre- quer cidadão poderá receber a tutela das liberda-
des e direitos reconhecidos (...) dos Tribunais ordi-
senta contra as normas sociais, e, sim, con- nários por um procedimento baseado nos princípi-
tra a obrigação jurídica, já que sua reivindi- os indicados, ou se for o caso, através do recurso de
cação é apenas pontual dentro do contexto amparo junto ao Tribunal Constitucional”. Esse úl-
da obrigação jurídica. A liberdade de cons- timo recurso será aplicável “`a objeção de consciência
ciência e suas objeções decorrentes não se reconhecida no artigo 30”. A Constituição de Por-
tugal de 1976 e as sucessivas reformas mantiveram
opõem ao Estado Democrático, ao contrá- a objeção de consciência, expressamente no art. 41.6,
rio, legitimam o mesmo (ROCA, 1993, p. 30). in verbis: “Garante-se o direito à objeção de consci-
ência, nos termos da lei.” A Constituição da Suécia
estabelece nos artigos: art. 12.: “(...) Nenhuma res-
trição pode ser feita baseada tão somente em idéias
políticas, religiosas, culturais ou outras congêne-
Notas res”; no art. 13.: “(...) No julgamento das restrições
que podem ser feitas em virtude do parágrafo pre-
1
“No regime constitucional de 1946, por exem- cedente, atenção especial deve ser dada à impor-
plo, nem sempre o dispositivo mereceu consagra- tância da mais ampla liberdade de expressão e de
ção, como se verifica no julgado de 06/10/1950 informação em assuntos políticos, religiosos, pro-
(Mandado de Segurança nº 748), do Tribunal Fede- fissionais, científicos e culturais”.
4
ral de Recursos, que reputou como correto o posici- A França é considerada como o primeiro país
onamento da Escola Politécnica da Pontifícia Uni- no mundo a reconhecer a objeção de consciência,
versidade Católica do Rio de Janeiro vedando a desde 18 de agosto de 1793, especificamente para
rematrícula de diversos alunos. O motivo: profes- o serviço militar, quando instaurou o serviço mili-
sarem determinada ideologia política e não terem tar obrigatório e excluiu deste dever os praticantes
fé católica. O fundamento jurídico do acórdão pro- religiosos sabatistas. Essa decisão foi fonte de di-
ferido pelo tribunal de então foi de tratar-se de es- reito para outros povos. Contemporaneamente, dois
tabelecimento privado de ensino, muito embora es- outros documentos legislativos regulam a matéria:
tivesse sob fiscalização federal” (FERREIRA, 1989, a Lei de Recrutamento Militar, de 1963, e a Lei de
p. 73). 1971, que dá nova redação ao Código Militar Naci-
2
DDDC. art. 2º : “A finalidade de toda associa- onal. Nos Estados Unidos da América, o reconheci-
ção é a conservação dos direitos naturais e imprescin- mento tem antecedentes na Constituição de 1787.
díveis do homem; esses direitos são a liberdade, a Três documentos legislativos tratam da objeção de
segurança e a resistência à opressão”. consciência: Draft Act, de 1864 (Lei do Recrutamen-
3
A Alemanha consagra o direito à objeção de to Militar); Draft Act, de 1917 e Selective Training
consciência no art. 4º “A liberdade de crença, de and Service Act, de 1940. A objeção de consciência e
consciência e a liberdade de opinião religiosa ou a desobediência civil, nos Estados Unidos, têm sido
filosófica são invioláveis”, dispondo, também, que objeto de tamanha institucionalização que o De-

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partamento de Justiça, em 1967, criou órgãos ad- gação de que a aplicação do texto da lei à hipótese
ministrativos específicos para tratar do tema (Spe- não se harmoniza com o seu sentimento de justiça
cial Hearing Office Conscientious Objectors e National ou eqüidade, substituir-se ao legislador para for-
Advisory Comission on Civil Disorders), em razão dos mular ele próprio a regra de direito aplicável. Miti-
protestos públicos contra a convocação para a Guer- gue o juiz o rigor da lei, aplique-a com eqüidade e
ra do Vietnã. Esse específico movimento social con- equanimidade, mas não a substitua pelo seu crité-
tra a guerra combina duas modalidades de direito rio” (STF – RBDP 50/ 159, apud NEGRÃO, 1995,
de resistência: a objeção de consciência e a desobe- p. 161).
11
diência civil. Quase sempre começa por uma ques- FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. (Pare-
tão pessoal para após atingir o espaço público. cer) Questões constitucionais e legais referentes a trata-
5
A Constituição Italiana, de 1947, adota a obje- mento médico sem transfusão de sangue. São Paulo:
ção de consciência e a estabelece, implicitamente, Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados (Tes-
no art. 52.2, que está regulado na Lei nº 772, de 15 temunha de Jeová), 1994, p. 24.
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de dezembro de 1972. O Conselho Federal da Ordem dos Advoga-
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Art. XVIII. “Toda pessoa tem o direito à liber- dos do Brasil aprovou a alteração dos artigos 33 e
dade de pensamento, de consciência e de religião; 34 do Regulamento Geral, que autoriza o advoga-
este direito implica a liberdade de mudar de reli- do a requerer o registro na sua carteira profissional
gião ou de convicção, bem como a liberdade de das expressões “doador de órgãos e tecidos” ou
manifestar sua religião ou de convicção, só ou em “não-doador de órgãos e tecidos” .
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comum, quer em público, quer privadamente, pelo O Conselho Nacional de Trânsito expediu a
ensino, pela prática, pelo culto e pelo cumprimento Resolução nº 828/97, em que dá nova redação ao
de ritos”. art. 104 da Resolução 734/89, in verbis: por ocasião
7
Art. 15. É vedada a cassação de direitos polí- da emissão, renovação ou a qualquer tempo, desde
ticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos que solicitado, o Departamento de Trânsito (DE-
de: IV – recusa de cumprir obrigação a todos im- TRAN) deverá anotar no campo “observações” da
posta ou prestação alternativa, nos termos do art. Carteira Nacional de Habilitação (CNH) uma das
5º, VIII, CF. seguintes expressões: “Não-Doador de Órgãos e Te-
8
Conceitua-se serviço alternativo como exercí- cidos” ou “Doador de Órgãos e Tecidos” .
14
cio de atividades de caráter administrativo, assis- Recomendação do Ministério de Educação e
tencial, filantrópico ou mesmo produtivo, em subs- Cultura expressa na Circular nº 11/GAB/DAU/
tituição às de caráter essencialmente militar, com- BSB, de 09/03/78, do Diretor-Geral do Departa-
preendendo um período de dezoito meses. mento de Assuntos Universitários, adverte que os
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Seguindo a tradição judaica, o segundo dia Diretores que marcarem provas ao sábados tenham
do Rosh Hashanah termina uma hora após o cair motivação administrativa justificada.
do sol, aproximadamente 18:30 horas. Dessa for- 15
Vide um caso: Processo nº 010/96, da 214 ª
ma, o horário do dia da eleição acaba às 17:00h, e Zona Eleitoral da Capital do Rio de Janeiro. Autor:
os brasileiros de fé judaica demandam a prorroga- Adv. Osvaldo Agripino Castro Junior. DOS FA-
ção de duas horas para votar. Não se trata propri- TOS: o eleitor requereu ao Juiz eleitoral a objeção
amente de uma objeção de consciência eleitoral, e de consciência eleitoral para desobrigar-se do voto
sim de consciência religiosa, já que querem votar obrigatório, alegando imperativo de consciência
sem pecar. política em face do perfil ideológico dos candida-
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A objeção de consciência do juiz é matéria tos ao pleito à Prefeitura do Rio de Janeiro. O pedi-
controvertida: como bem lembra o Ministro Sálvio do foi indeferido pelo Juiz Eleitoral, acolhendo pa-
de Figueiredo Teixeira (apud NEGRÃO, 1995, p. recer do Ministério Público Eleitoral (MPE), conde-
161). “A interpretação das leis não deve ser formal, nando o autor-eleitor ao pagamento de 50% de um
mas sim, antes de tudo, real, humana, socialmente salário mínimo. Tanto o Juiz Eleitoral, quanto o
útil (...) Se o juiz não pode tomar liberdades inad- MPE, não acataram a justificativa e decidiram pela
missíveis com a lei, julgando contra legem, pode e aplicação da multa, o que é um equívoco, tendo em
deve, por outro lado, optar pela interpretação que vista que o Código Eleitoral (CE) possibilita qual-
mais atenda às aspirações da Justiça e do bem co- quer justificativa, inclusive a objeção de consciên-
mum”. De outro lado, há a interpretação do art. cia. O MPE em seu parecer confunde jus postulandi
126, CPC, que estabelece que o juiz não pode exi- com o direito de o eleitor peticionar perante a Justi-
mir-se de sentenciar ou despachar alegando lacuna ça Eleitoral, ou seja, exige a postulação com advo-
e obscuridade da lei. Não deseja o dispositivo que gado, o que não é necessário por tratar-se de norma
deva haver a substituição do legislador pelo juiz, de ordem pública, que a todos assiste (art. 355,
mas sim a justa adequação da lei com todo o orde- CE). Além disso, opinou pela não-aceitação da jus-
namento jurídico posto. “Não pode o juiz, sob ale- tificativa do eleitor, fundamentado numa interpre-

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tação restritiva, incompatível com o princípio do mo político e jurídico, como princípios do Estado
art. 5º , § 2º, CF. Assim sendo, de acordo com o Democrático (art. 1º, IV).
parecer do membro do MPE, a referida justificativa
deverá ser efetuada no prazo de 60 dias, contados Bibliografia
do dia da votação, conforme a Res. nº 15.219 do
TSE. A decisão do Juiz Eleitoral, ao acatar a opi-
BUZANELLO, José Carlos. Direito de resistência e
nião do MPE, fundamentada na tese de que “evi-
a legalidade. In: Perspectiva sociológica do direito. Rio
dencia-se a temeridade do pleito ajuizado frontal-
de Janeiro: Thex, 1995.
mente contrário à ordem jurídica vigente”, diverge
do disposto no artigo acima mencionado, o que FERREIRA, Pinto. Comentários à constituição brasilei-
comprova o desconhecimento do princípio da ra- ra. São Paulo: Saraiva, 1989. v. 1.
zoabilidade jurídica e da possibilidade de o eleitor
DWORKIN, Ronald. Filosofia del derecho. México:
justificar o seu não-comparecimento por qualquer
Fondo de Cultura Económica, 1980.
motivo, já que o texto do art. 7º , CE, menciona
somente a obrigatoriedade da justificativa. Ante a GARCIA, Maria. Desobediência civil: direito funda-
referida decisão, houve consulta ao TRE-RJ para mental. São Paulo: RT, 1994.
verificar o entendimento sobre o tema, todavia, tanto
o MPE de 2ª instância, quanto o TRE mantiveram o MONTANARI, B. Obiezione di coscienza: un analisi
mesmo entendimento do MPE e do Juiz eleitoral, dei suoi fondamenti etici e policiti. Milán: Giuffrè,
conforme acórdão. Caso ocorra a multa, em face 1976.
da improcedência da ação, pode beneficiar-se da NASCIMENTO, Amauri Mascaro. A objeção de cons-
lei da anistia dos inadimplentes com a Justiça Elei- ciência: à luz da política, do direito e da moral. 1976.
toral, elaborada, em regra, sempre antes da eleição, Monografia – Faculdade de Direito, São Paulo.
com o objetivo de incorporar ao processo eleitoral
os que não estão quites com a Justiça Eleitoral. DO NEGRÃO, Theotônio. Código de processo civil anota-
DIREITO: Independente dessa experiência sem êxi- do. São Paulo: Saraiva, 1995.
to, mantém-se o entendimento da objeção de cons- RAWS, John. Teoria de la justicia. Tradução de M. D.
ciência eleitoral para o eleitor que não desejar votar
Gonzáles. México: Fondo de Cultura Económica,
por motivo ideológico, com fundamento no art. 5º,
1978.
VIII, § 2º, da CF c/c art. 7º, caput e seu § 1º, CE,
desde que o faça até 60 dias após o dia da votação, ROCA, Guillermo Escobar. La objecion de conciencia
conforme a resolução nº 15.219 do TSE. Em nível en la constitucion española. Madrid: Centro de Estu-
de recurso, caberia a alegação jurídica do pluralis- dios Constitucionales, 1993.

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