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MUNDI - CENTRO DE FORMAÇÃO TÉCNICA Módulo III - Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica

CAPÍTULO 11

Introdução • Nível de tensão;


• Quantidade de potência transmitida;
As linhas de transmissão são condutores através dos quais • Modo de transmissão (aéreo ou subterrâneo);
a energia elétrica é transportada de um ponto transmissor • Distância entre os terminais transmissor e
a um terminal receptor. receptor.

Os sistemas de transmissão proporcionam à sociedade Os assuntos aqui tratados estão direcionados para
um benefício reconhecido por todos: o transporte de linhas de transmissão de
energia elétrica entre os centros produtores e os centros
consumidores. potência. O sistema de transmissão de energia elétrica
compreende toda rede que interliga as usinas geradoras
Formas comuns de linhas de transmissão são: às subestações da rede de distribuição.

• Linha aérea em corrente alternada ou em A eletricidade é em geral transmitida a longas distâncias


corrente contínua com condutores separados por um através de linhas de transmissão aéreas. A transmissão
dielétrico; subterrânea é usada somente em áreas densamente
• Linha subterrânea com cabo coaxial com um fio povoadas devido a seu alto custo de instalação
central condutor, isolado de um condutor externo coaxial e manutenção, e porque a alta potência reativa
de retorno; produz elevadas correntes de carga e dificuldades no
• Trilha metálica, em uma placa de circuito gerenciamento da tensão.
impresso, separada por uma camada de dielétrico de uma
folha metálica de aterramento, denominado microtrilha. A Rede de Transmissão

As linhas de transmissão podem variar em comprimento, A rede de transmissão liga as grandes usinas de geração
de centímetros a milhares de quilômetros. As linhas com às áreas de grande consumo. Em geral apenas poucos
centímetros de comprimento são usadas como parte consumidores com alto consumo de energia elétrica são
integrante de circuitos de alta frequência, enquanto conectados às redes de transmissão onde predomina a
que as de milhares de quilômetros para o transporte de estrutura de linhas aéreas.
grandes blocos de energia elétrica.
A segurança é um aspecto fundamental para as redes
As frequências envolvidas podem ser tão baixas quanto de transmissão. Qualquer falta neste nível pode levar a
50 Hz ou 60 Hz para linhas de transporte de grandes descontinuidade de suprimento para um grande número
blocos de energia ou tão altas como dezenas de GHz para de consumidores. A energia elétrica é permanentemente
circuitos elétricos utilizados na recepção e amplificação monitorada e gerenciada por um centro de controle. O
de ondas de rádio. nível de tensão depende do país, mas normalmente o
nível de tensão estabelecido está entre 220 kV e 765 kV.
Em frequências muito altas (VHF), o sistema de
transmissão utilizado pode ser o guias de ondas. Estes A Rede de Subtransmissão
podem estar na forma de tubos metálicos retangulares
ou circulares, com a energia elétrica sendo transmitida A rede de subtransmissão recebe energia da rede de
como uma onda caminhando no interior do tubo. Guias transmissão com objetivo de transportar energia elétrica
de ondas são linhas de transmissão na forma de apenas a pequenas cidades ou importantes consumidores
um condutor. industriais. O nível de tensão está entre 35 kV e 160 kV.

A teoria básica de linhas de transmissão pode ser aplicada Em geral, o arranjo das redes de subtransmissão é em
a qualquer das modalidades de linhas mencionadas. anel para aumentar a segurança do sistema. A estrutura
Entretanto, cada tipo de linha possui propriedades dessas redes é em geral em linhas aéreas, por vezes cabos
diferentes que dependem, por exemplo, de: subterrâneos próximos a centros urbanos fazem parte da
rede.
• Frequência;

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A permissão para novas linhas aéreas está cada vez consumidores de energia. Hoje o país está quase que
mais demorada devido ao grande número de estudos de totalmente interligado de norte a sul como pode ser visto
impacto ambiental e oposição social. Como resultado, é na Figura 1.1.
cada vez mais difícil e caro para as redes de subtransmissão
alcançar áreas de alta densidade populacional. Grande parte da região norte e uma parcela reduzida
da região centro-oeste, além de algumas localidades
Os sistemas de proteção são do mesmo tipo daqueles esparsas pelo território brasileiro, ainda não fazem
usados para as redes de transmissão e o controle é parte do sistema interligado, sendo o suprimento de
regional. energia elétrica efetuado, quando existente, por meio de
pequenos sistemas elétricos isolados.
A Transmissão de Energia Elétrica no Brasil
Nesses casos, a produção de eletricidade é normalmente
As linhas de transmissão no Brasil costumam ser extensas, efetuada por meio de unidades geradoras de pequeno
porque as grandes usinas hidrelétricas geralmente estão porte, utilizando frequentemente motores diesel como
situadas a distâncias consideráveis dos centros equipamento motriz.

Figura 1.1 – Sistema Interligado Nacional (SIN)

Para atender às políticas externa e energética, o Brasil O SIN permite que as diferentes regiões permutem energia
está interligado aos países vizinhos como Venezuela (para entre si, quando uma delas apresenta queda no nível dos
fornecimento a Manaus e Boa Vista), Argentina, Uruguai reservatórios. Como o regime de chuvas é diferente nas
e Paraguai. regiões Sul, Sudeste, Norte e Nordeste, os grandes troncos
(linhas de transmissão da mais alta tensão: 500 kV ou 750
O Sistema Interligado Nacional é responsável por mais de kV) possibilitam que os pontos com produção insuficiente
95% do fornecimento de energia sejam abastecidos por centros de geração em
situação favorável.
nacional. Sua operação é coordenada e controlada pelo
Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Vantagens dos sistemas interligados:
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• Aumento da estabilidade: o sistema torna-se mais propriedades, estão o cobre e o alumínio.


robusto podendo absorver, sem perda de sincronismo,
maiores impactos elétricos; Quando comparamos condutores de cobre com os de
• Aumento da confiabilidade: permite a alumínio, fixados um mesmo comprimento e uma mesma
continuidade do serviço em decorrência da falha ou resistência elétrica do circuito, o volume de alumínio será
manutenção de equipamento, ou ainda, devido às maior, pois será necessária uma seção condutora maior
alternativas de rotas para fluxo de energia; para compensar sua condutividade, inferior em relação à
• Aumento da disponibilidade do sistema: a do cobre.
operação integrada acresce a disponibilidade de energia
do parque gerador em relação ao que se teria se cada Apesar disso, devido à maior densidade do cobre, o peso
empresa operasse suas usinas isoladamente; em cobre será aproximadamente o dobro em relação
• Mais econômico: permite a troca de reservas ao do alumínio. Isso confere uma vantagem adicional
que pode resultar em economia na capacidade de ao alumínio, que pode ser utilizado com estruturas de
reservas dos sistemas. O intercâmbio de energia está sustentação mais leves, além do seu custo mais baixo.
baseado no pressuposto de que a demanda máxima dos
sistemas envolvidos acontece em horários diferentes. O Outra vantagem do alumínio, em virtude de seus
intercâmbio pode também ser motivado pela importação diâmetros maiores, é seu melhor desempenho diante do
de energia de baixo custo de uma fonte geradora, como Efeito Corona (ruptura da capacidade de isolamento do
por exemplo, a energia hidroelétrica para outro sistema ar em torno dos cabos devido ao campo elétrico elevado,
cuja fonte geradora apresenta custo mais elevado. produzindo perdas na linha e distúrbios eletromagnéticos
que podem causar interferência no sistema de
Desvantagens dos sistemas interligados: comunicação).

• Distúrbio em um sistema afeta os demais sistemas Isoladores e Ferragens


interligados;
• A operação e proteção tornam-se mais complexas. Os cabos são suportados pelas estruturas através de
isoladores, que, como seu próprio nome indica, os
Características Físicas das Linhas Aéreas de Transmissão mantêm isolados eletricamente das mesmas. Devem
resistir tanto as solicitações mecânicas como às elétricas.
O desempenho elétrico de uma linha de transmissão
depende quase exclusivamente de suas características As solicitações mecânicas são:
físicas, que ditam o seu comportamento em regime
normal de operação, definindo seus parâmetros elétricos. • Forças verticais, devido ao peso dos condutores;
• Forças horizontais axiais, no sentido dos
Cabos Condutores eixos longitudinais das linhas, necessárias para que os
condutores se mantenham suspensos sobre o solo;
Constituem dos elementos ativos das linhas de transmissão. • Forças horizontais transversais, em sentido
Sua escolha adequada representa um problema de ortogonal aos eixos longitudinais das linhas, devidos à
fundamental importância no dimensionamento das ação da pressão do vento sobre os cabos.
linhas, pois determinam o desempenho e o custo da
transmissão. Esses solicitações são transmitidas pelos isoladores às
estruturas, que devem absorve-las.
Condutores ideais para as linhas aéreas de transmissão
seriam aqueles que pudessem apresentar as seguintes As solicitações elétricas são:
características:
• Tensões normais e sobretensões em frequência
• Alta condutibilidade elétrica industrial;
• Baixo custo; • Surtos de sobretensões;
• Boa resistência mecânica; • Sobretensões atmosférica.
• Baixo peso específico;
• Alta resistência à oxidação e à corrosão por Um isolador eficiente deve ainda ser capaz de fazer o
agentes químicos poluentes. máximo uso do poder isolante do ar que o envolve a
fim de assegurar o isolamento adequado. A falha de
Dentre os metais que apresentam o maior número dessas um isolador pode ocorrer tanto no interior do material
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(perfuração) ou pelo ar que o envolve (descarga externa). • Distância entre condutores;


• Dimensões e formas de isolamento;
Suas superfícies devem ter acabamento capaz de • Flecha dos condutores;
resistir bem às exposições ao tempo. Para sua fabricação • Altura de segurança;
empregam-se dois tipos de material: porcelana vitrificada • Função mecânica;
e vidro temperado. • Materiais estruturais;
• Número de circuitos.
Estruturas das Linhas de Transmissão
Nas linhas trifásicas empregam-se, fundamentalmente,
As estruturas consistem nos elementos de sustentação três disposições de condutores:
dos cabos das linhas de transmissão. Suas dimensões e
forma dependem de diversos fatores como: • Disposição triangular (Figura 2.1)
• Disposição horizontal (Figura 2.2)
• Disposições dos condutores; • Disposição vertical (Figura 2.3)

Figura 2.1 – Disposição triangular

Figura 2.2 – Disposição horizontal

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Figura 2.3 – Disposição vertical


Para as linhas a circuito duplo preferem-se as disposições indicadas na Figura 2.4.

Figura 2.4 – Linhas a circuito duplo


Cabos Para-raios Consideremos uma linha de transmissão ideal
constituída por dois condutores metálicos, retilíneos e
Ocupam a parte superior das estruturas e se destinam a completamente isolados, suficientemente distantes do
interceptar descargas de origem atmosférica e descarregá- solo, ou de estruturas, ou de outras linhas, para que não
las no solo, evitando que causem danos e interrupções seja influenciada pela sua presença, e de comprimento
nos sistemas. qualquer.

Sua colocação nas estruturas, com relação aos cabos Tratando-se de uma linha de transmissão ideal, a
condutores, é fundamental no grau de proteção oferecido resistência elétrica dos condutores é considerada
à linha, e merece ser cuidadosamente estudada. nula, como também o dielétrico entre os condutores
é considerado perfeito, de forma que não há perdas de
Teoria da Transmissão da Energia Elétrica energia a considerar.

A expressão linha de transmissão se aplica a todos os Do eletromagnetismo, temos que, entre dois condutores
elementos de circuitos que se destinam ao transporte separados por dielétricos, podemos definir uma
de energia, independente da quantidade de energia capacitância e uma indutância.
transportada. A mesma teoria é aplicável, feitas
as necessárias ressalvas, independentemente do Consideremos ainda que junto ao receptor haja um
comprimento físico dessas linhas. dissipador de energia, representado pela resistência R2.
Um circuito equivalente está representado na Figura 3.1.
Linha de Transmissão Ideal
O Fenômeno da Energização da Linha Em um instante de tempo imediatamente anterior ao
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fechamento da chave S, os terminais da fonte estão sob medida em seu receptor. A corrente fornecida pela fonte,
uma diferença de potencial U. No instante em que a chave uma vez atingido o valor da corrente de carga, se mantém
for fechada entre os terminais 1 e 1’, aparecerá a mesma constante.
diferença de potencial U.
Cargas elétricas em movimento dão origem a campos
Devido aos elementos indutivos e capacitivos ao longo magnéticos e elétricos. Portanto, ao se energizar uma
da linha, decorre um tempo finito entre o instante em linha, ao longo da mesma irão se estabelecendo,
que se aplica uma tensão ao transmissor de uma linha progressivamente, campos elétricos e campos magnéticos,
de transmissão e o instante em que esta tensão pode ser do transmissor ao receptor. Dizemos que esses campos se
propagam do transmissor ao receptor.

Figura 3.1 – Linha bifilar ideal

A velocidade de propagação para uma linha de Para uma linha a dois condutores, no ar ou no vácuo,
comprimento l (km) é definida por: desprezando o efeito do fluxo magnético interno do
condutor e da presença do solo:

sendo T o tempo necessário para que a tensão no receptor Essa é a velocidade de propagação da luz no vácuo. Nas
atinja o valor U. A impedância da entrada da linha é linhas reais, em que o fluxo interno dos condutores não
definida como: é desprezível, assim como o meio em que a linha se
encontra, v é um pouco menor.

A impedância de entrada da linha também pode ser


Isolando v, temos: definida como:

Z0 não depende do comprimento da linha, somente do


que é a expressão da velocidade com a qual os meio em que esta se encontra e de suas dimensões físicas,
campos elétricos e magnéticos se propagam ao longo distância entre os condutores e raio dos condutores.
de uma linha.
Z0 é constante para cada linha e por isso é considerada
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uma grandeza característica denominada impedância energia armazenada no campo magnético. Por isso é o
natural da linha ou impedância de surtos da linha. campo elétrico que recebe a energia excedente, que se
manifesta na forma de uma elevação da tensão e que se
Com isso, temos: irá propagar ao longo da linha.

O aumento da tensão no receptor com relação à tensão


no transmissor recebe o nome de Efeito Ferranti. As
A corrente de carga de uma linha, excitada por uma principais implicações do Efeito Ferranti são:
fonte de tensão constante, também independe de seu
comprimento. I. Necessidade do aumento do nível de isolamento
das linhas
Relações de Energia II. Aumento do Efeito Corona
III. Necessidade de condutores com secções maiores
Em uma linha ideal, a quantidade de energia armazenada IV. Autoexcitação das máquinas síncronas, levando a
pelo campo elétrico é exatamente igual à quantidade de tensões incontroláveis
energia armazenada pelo campo magnético. Cada um dos
campos armazena exatamente a metade da quantidade Um caso extremo de operação da linha seria quando R2 =
de energia fornecida pela fonte. Esse processo durará ∞, ou seja, a linha de
indefinidamente, se a linha tiver um comprimento infinito. transmissão aberta junto ao receptor. Neste caso
observamos que:
As linhas de transmissão, porém, possuem comprimentos
finitos. Neste caso, ocorrerão fenômenos complexos, que I. A corrente se reduz a zero, progressivamente, do
dependem da forma com que a linha é terminada. receptor ao transmissor;
II. O campo elétrico tem que armazenar toda a
Imaginemos que a linha tenha um comprimento l e que energia excedente;
na extremidade receptora coloquemos um dissipador de III. A tensão no receptor cresce o dobro do valor da
energia R2, com a condição de que: tensão aplicada.

b) R2 < Z0
Temos então:
Neste caso a corrente através de R2 e a potência dissipável
será maior. Junto ao terminal da linha haverá um déficit de
Uma vez que na terminação da linha não há campos energia que não poderá ser suprimido de imediato pela
magnéticos e elétricos a armazenar energia, toda a energia fonte que alimenta o sistema. O novo estado de equilíbrio
fornecida pela fonte será dissipada na resistência R2. Logo somente poderá ser atingido se essa deficiência for suprida
a corrente I0 continuará com a mesma intensidade inicial, pela própria linha, a custas da energia armazenada por ela
como se a linha fosse de durante o processo de energização.

comprimento infinito, independente do valor de l. Uma vez que há um aumento no valor da corrente, o campo
Uma linha assim terminada é denominada linha de magnético não somente não pode ceder energia, como
comprimento infinito. também deve armazenar maior quantidade da mesma, o
que faz à custa do campo elétrico, que a cede. Haverá,
Quando o valor de R2 for diferente de Z0 o equilíbrio da portanto, uma redução na tensão junto ao receptor, que
linha será alterado, devemos considerar, portanto, dois caminha progressivamente em direção à fonte.
casos:
Outro caso extremo de operação da linha seria quando R2
a) R2 > Z0 = 0, ou seja, a linha de transmissão está curto-circuitada.
Neste caso observamos que:
Neste caso a corrente através de R2 e a potência dissipável
será menor. Junto ao terminal da linha haverá um excesso I. A tensão junto ao receptor somente pode
de energia. Um novo estado de equilíbrio deverá ocorrer, ser nula, propagando-se esse valor do receptor ao
pois esse excesso de energia não poderá ser destruído. transmissor;
II. Há um aumento no valor da corrente junto ao
Uma redução da corrente da linha leva a uma redução da receptor que se propaga para o transmissor.
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III. Numa linha em curto-circuito a corrente crescerá, A condição com carga é o regime normal de operação de
no receptor, ao dobro do seu valor. linhas. Para o caso onde a impedância da carga é igual a
impedância característica da linha, o fator de potência é
Linha de Transmissão Real constante e o defasamento entre a tensão e a corrente
é sempre igual. A linha não necessita de energia reativa
Consideremos uma linha real, incluindo em seu circuito externa para manutenção de seus campos elétricos
equivalente os elementos representativos das perdas nos e magnéticos. A única energia absorvida pela linha é
condutores r e das perdas nos dielétricos g, como mostra energia ativa e destina-se a cobrir as perdas por efeito
a Figura 3.2. Joule e dispersão.

A potência característica da linha é definida como:

O ângulo δ é o argumento de Zc que corresponde à


defasagem da corrente em relação à tensão e está
Figura 3.2 – Circuito equivalente de uma linha real
normalmente entre 1º e 5º, pois é função das perdas na
Na análise das linhas de transmissão de energia elétrica, linha. Como cosδ ≈ 1 e Zc ≈ Z0, podemos definir a potência
interessa-nos conhecer o seu comportamento tanto em natural da linha como:
face de impulsos como em face às tensões e correntes
senoidais.

A função de propagação da onda é fornecida pela equação: O conceito de potência natural (Surge Impedance
Loading – SIL) vem recebendo cada vez mais importância
na técnica de transmissão de energia. Sendo uma
Nas linhas de transmissão de energia elétrica em regime potencia ativa, foi adotada na prática como unidade
permanente, nas quais a frequência é constante, a função base de potência, exprimindo-se os demais valores das
de propagação será constante. potências transmitidas através de uma linha, em função
de sua potência natural. Tornou-se preponderante no
Sua parte real, α, é responsável pelo amortecimento da dimensionamento de linhas.
onda e recebe o nome de função de atenuação, tendo
como unidade o néper/km. Dela dependem os módulos Sendo independente do comprimento da linha, devido ao
das tensões ou correntes. Seu valor é diretamente fato de Z0 depender essencialmente da distância entre os
relacionado com as perdas de energia da linha. condutores e de seus raios, a potência natural das linhas
tornou-se fator importante na escolha das tensões de
A parte imaginária, β, recebe o nome de função de fase, transmissão em primeira aproximação e como orientação
tendo como unidade o radianos/km, pois indica a forma inicial dos estudos técnicos e econômicos para sua fixação.
como as fases da tensão e da corrente variam ao longo
da linha. Apesar de ser a condição mais vantajosa, a operação
constante de uma linha com potência natural, na
A impedância característica da linha de transmissão é prática, ocorre só em condições especiais, já que a carga
dada por: alimentada não é constante, variando continuamente de
acordo com a demanda do sistema.

Cálculo Prático das Linhas de Transmissão

Se fizermos r = g =0, obteremos exatamente a mesma Nos cálculos de linhas de transmissão procura-se obter
expressão da impedância natural da linha Z0. Nas linhas valores de tensões, correntes e potências com erros
reais, como r e g são, em geral, relativamente pequenos inferiores a 0,5%. As linhas de transmissão devem ser
se comparados com L e C, respectivamente, seu valor representáveis através de seus circuitos equivalentes ou
numérico não difere muito do valor de Z0. modelos matemáticos da forma mais simples e racional
possível, compatível com o grau de precisão almejado.
Análise das Linhas em Regime Permanente

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A partir de agora, a não ser que venha expressamente Linhas Médias (entre 80 km e 250 km)
especificado de modo diferente, trataremos
exclusivamente de linhas aéreas trifásicas. Estas são O circuito equivalente que buscamos para linhas médias
suficientemente equilibradas para que possam ser deverá ser simples, principalmente tendo em vista
representadas através de circuitos monofásicos. que deverá representar as linhas em circuitos bastante
complexos dos sistemas de energia elétrica.
De um modo geral, no cálculo elétrico das linhas de
transmissão objetivamos: Deparamos com dois circuitos conhecidos dos cursos de
circuitos elétricos, o circuito T representado na Figura 4.2
• Conhecidas ou especificadas tensões e correntes e o circuito Pi representado na Figura 4.3.
em um ponto da linha, determinar essas mesmas
grandezas em outro ponto da linha;
• Conhecidas ou especificadas potências ativas
e reativas em um ponto da linha, determinar essas
grandezas em outro ponto da linha;
• A determinação de grandezas de desempenho:
regulação, rendimentos, ângulos de potência, etc.;
• Estudo de compensação para correção de
desempenho; Figura 4.2 – Circuito T de uma linha de transmissão
As equações para o circuito T são:
A regulação de tensão de uma linha, em um determinado
regime de carga, é a variação percentual entre os módulos
das tensões entre transmissor e receptor, com relação a
esta última:

Seu valor depende do regime de carga da linha,


principalmente da potência reativa transmitida, como
também dos parâmetros elétricos das linhas. Poderá
ser positivo ou negativo, como, por exemplo, nas linhas
médias ou longas que operam em vazio, ou com potências
reduzidas. Pode ser controlado atuando-se sobre o fator
de potência da carga, ou sobre os parâmetros das linhas. Figura 4.3 – Circuito Pi de uma linha de transmissão
Uma ou outra solução tem implicações econômicas
importantes, merecendo nossa atenção. As equações para o circuito Pi são:

Linhas Curtas (até 80 km)

Nas linhas de transmissão curtas podemos desprezar


inteiramente os efeitos da condutibilidade g e da
capacitância C. O circuito equivalente de um linha curta Mesmo que ambos os circuitos sejam aceitáveis, prefere-
está representado na Figura 4.1. se hoje o circuito Pi como representativo das linhas
médias, pois, ao estabelecer os modelos matemáticos de
grandes sistemas, o circuito T obrigaria o estabelecimento
de mais uma barra ou nó por linha de transmissão
incluída, o que se traduz em um aumento correspondente
do número de equações no modelo do sistema. A Figura
4.4 mostra a razão disso:

Figura 4.1 – Circuito equivalente de uma linha curta


Neste caso a equação de
correntes será:

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Figura 4.4 – Diferenças entre o circuito T e Pi para efeito de inclusão das linhas em sistemas de energia elétrica
Linhas Longas (maiores que 250 km) Essas equações possuem, cada qual, duas variáveis
independentes e duas variáveis dependentes relacionadas
São aquelas em cujo cálculo os processos das linhas entre si pelos parâmetros dos respectivos circuitos, aos
curtas e médias são considerados insuficientemente quais as seguintes restrições são impostas:
precisos para os fins desejados.
• Devem possuir apenas uma entrada e uma saída,
O circuito Pi é adequado para a representação das representada por dois pares de terminais, podendo um
linhas longas, em regime permanente, desde que os deles ser comum a ambos;
valores de sejam adequadamente corrigidos, • Devem ser passivos, o que exclui a presença de
fontes de tensão;
para retratar a condição de parâmetros distribuídos: • Devem ser lineares, a fim de que a sua saída
(resposta) tenha a mesma forma que o estímulo aplicado
Linhas de Transmissão como Quadripolos à entrada, exigindo pois, impedâncias e admitância de
valores constantes independentes do valor da corrente e
Dadas as suas características próprias, os circuitos que da tensão a elas aplicados.
representam as linhas podem ser classificados como • Devem ser bilaterais, significando que sua
Quadripolos, que pode ser definido por seis pares de resposta a um estímulo aplicado a um par de terminais
equações lineares, todas elas inter-relacionadas entre si: é a mesma que a um estímulo aplicado ao outro. Essa
exigência exclui os retificadores de corrente.

Se U2 e I2 do quadripolo da Figura 4.5 forem consideradas


variáveis independentes, U1 e I1 serão suas variáveis
dependentes, relacionadas com as primeiras através
da impedância Z e da admitância Y do circuito; ele fica
definido pelo par de equações:

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ou seja,

Figura 4.5 – Quadripolo típico Linhas longas:


ou, adotando a forma matricial,

Na análise dos sistemas de energia elétrica temos


Igualmente, se considerarmos U1 e I1 as variáveis basicamente duas formas de associações de quadripolos:
independentes e U2 e I2 as variáveis dependentes, teremos:
• Associação em cascata: a conexão em cascata
é obtida pela conexão dos terminais de saída de um
quadripolo com os terminais de entrada do outro, como
que correspondem ao par: na Figura 4.6.
• Associação em paralelo: na conexão em paralelo,
o estímulo U1 é comum aos dois quadripolos, cuja resposta
é também igual, U2, como na Figura 4.7.
ou

sendo necessário lembrar que, em circuitos simétricos,


temos sempre:
Figura 4.6 – Associação em cascata de quadripolos

Outra propriedade dos quadripolos a ser lembrada e que


vale sempre é:

As linhas de transmissão satisfazem inteiramente às


condições impostas aos quadripolos no início deste
estudo. As características das linhas são definidas pelas
constantes A, B, C e D, que recebem o nome de constantes
generalizadas das linhas de transmissão e são definidas da Figura 4.7 – Associação em paralelo de quadripolos
seguinte forma:
Linhas curtas: Linha Artificial

Quando, através de modelos elétricos, se deseja


analisar fenômenos transitórios, os circuitos π ou T
equivalentes são inapropriados, pois, neste caso, o efeito
Linhas médias: real da distribuição dos parâmetros ao longo da linha é
importante.

Recorre-se então às chamadas linhas artificiais, compostas


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de um número relativamente grande de células ligadas nominal de um trecho de comprimento determinado,


em série. Cada célula poderá representar o circuito π como mostra a Figura 4.8.

Figura 4.8 – Linha artificial


Potência nas Linhas de Transmissão de potência correspondentes. Essas demandas,
evidentemente, variam também com o valor da tensão
As cargas alimentadas pelos sistemas elétricos comerciais aplicada, porém, para efeito de cálculo, são especificadas
servidos pelas linhas de transmissão são de tipo muito em correspondência às tensões nominais dos sistemas.
variado, compreendendo, entre outras, de lâmpadas,
motores síncronos e assíncronos, aparelhos domésticos A Figura 4.9 mostra as curvas de variação das tensões
e aparelhos comerciais, cujas impedâncias não somente no receptor de uma linha em função da variação das
não são especificadas, como também variam bastante potências ativas e reativas no receptor, alimentado no
com o valor da tensão a que são submetidos. Experiências transmissor por um barramento de tensão constante.
efetuadas em sistemas reais mostram que a representação As curvas demonstram claramente a possibilidade de
por impedância é apenas aproximada. existência de duas raízes para uma mesma potência
ativa transmitida, bem como os limites máximos de
Na prática da indústria da energia elétrica, as cargas são transmissão. A raiz menor não possui significado prático,
especificadas em termos de demandas em potências pois a operação com tensões baixas envolveria correntes
ativas e reativas, ou potências aparentes e seus fatores elevadas e perdas inadmissíveis.

Figura 4.9 –
Variação da
tensão no
receptor de uma
linha com tensão
constante no
transmissor

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Considerando uma linha sem perdas a potência ativa rendimento de uma linha é dado por:
transmitida ao receptor é dada por:

onde δ é a defasagem angular entre U1 e U2. Linhas Trifásicas Desequilibradas

A máxima transferência de potência ativa ocorre quando Para a análise de determinados fenômenos relacionados
sen(δ) é igual a 1. com as linhas de transmissão, nos quais o desequilíbrio
elétrico e magnético existente ao longo das linhas é fator
Perdas de Potência e Rendimento importante, surge a necessidade da representação das
linhas por seus modelos matemáticos trifásicos, ou seja,
As perdas de potência de uma linha de transmissão são sua configuração trifásica deve ser evidenciada.
dadas pela diferença entre a potência ativa P1, absorvida
pela linha no transmissor, e a potência ativa P2, por ela Os modelos anteriormente desenvolvidos pressupunham
entregue no receptor: equilíbrio eletromagnético tal que as três fases de um
circuito podiam ser representadas por um circuito unipolar.
As perdas de potência numa linha de transmissão podem Os mesmos modelos, desde que convenientemente
ser consideradas como sendo compostas de: adaptados, podem ser usados nas representações
trifásicas. Os parâmetros elétricos e magnéticos das linhas
• Perdas por efeito Joule nos condutores de um sistema de vários condutores podem ser definidos
(representam a maior parcela das perdas nas linhas); através de um par de matrizes de ordem 3 por 3.
• Perdas no dielétrico entre condutores;
• Perdas causadas por correntes de Foucault e por Em se tratando de linhas longas, não é prático procurar
histerese magnética na alma de aço de condutores e em determinar as matrizes para as constantes generalizadas
peças metálicas próximas às linhas; em virtude das dificuldades matemáticas que serão
• Perdas por circulação nos cabos para-raios. O encontradas. É preferível usar como modelo a linha
artificial trifásica.

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