Você está na página 1de 16

LÍNGUA PORTUGUESA –

CLASSES DE PALAVRAS
AULA 3

Prof. Caio Augusto Lima de Castro


CONVERSA INICIAL

Anteriormente, nosso olhar se debruçou sobre o estudo de quase todas


as classes de palavras que integram o conjunto das classes variáveis. Como
temos notado, substantivos, adjetivos, artigos, numerais e pronomes modificam
suas formas, a fim de estabelecer as concordâncias ora de número, ora de
gênero e até mesmo de grau. Contudo, ainda falta o estudo sobre uma classe
bastante importante e com uma riquíssima morfologia. Trata-se da classe dos
verbos. Assim, nesta aula, organizaremos nossa discussão da seguinte forma:

 Tema 1 – O conceito de verbo


 Tema 2 – Os modos e os tempos verbais
 Tema 3 – O verbo e suas conjugações
 Tema 4 – Verbos irregulares, anômalos, defectivos e as formas nominais
do verbo
 Tema 5 – Verbos abundantes e transitividade verbal

Desejamos que, ao final da aula, você possa ter em mente os principais


elementos que envolvem a classe dos verbos.

TEMA 1 – O CONCEITO DE VERBO

Para dar início ao nosso estudo sobre o verbo, vamos voltar nossa
atenção para os textos apresentados a seguir:

2
Se pararmos para analisar bem a natureza das informações que estão
sendo transmitidas, vamos perceber essencialmente três tipos de dados sobre
uma determinada realidade. No enunciado em (1), temos a informação de que
algo foi realizado pelos estudantes. No caso, o que ocorreu foi a entrega do
trabalho. Logo, temos a indicação de que uma ação foi desempenhada. Em (2),
não temos uma ação propriamente dita, mas algo que está sendo dito sobre o
estado de espírito de João. Isto é, ele está apaixonado por alguém. Por sua vez,
em (3), verificamos uma informação que é passada sobre algo referente a um
fenômeno natural. Ou seja, no dia de “ontem” choveu.
Como é que chegamos a essas afirmações? Repare que podemos
estabelecer essas afirmações, pois as palavras “fizeram”, “está” e “choveu” nos
indicam esses fatos, esses acontecimentos. Sendo assim, podemos afirmar que
“o verbo expressa o que se passa com os seres, ou em torno dos seres” (LIMA,
2010, p. 168). Os verbos expressam, pois, ações, estados e fenômenos da
natureza.
Considerando, agora, o enunciado em (1), “Todos os estudantes
entregaram o trabalho”, e propondo a inserção do advérbio “amanhã” na
estrutura, como é que ficaria a oração? Se você pensou em algo como: “Todos
os estudantes entregarão o trabalho amanhã”, você percebeu que o tempo em
que a ação se sucederá mudou, não é verdade? E, junto com ele, a forma verbal
também se alterou. Muito bem, com esse exemplo, podemos perceber que o
verbo, por meio de sua flexão, nos indica a noção de tempo que pode ser:
presente, passado ou futuro.
E se retomarmos o enunciado (2), “O Pedro está apaixonado pela Ana”, e
propor a seguinte alteração: não somente o Pedro, mas também o Paulo está
apaixonado pela Ana, como ficaria a oração? Se você pensou algo como “O
Pedro e o João estão apaixonados pela Ana”, compreendeu mais uma noção
transmitida pelo verbo, a noção de número.
Também é verdade que o mesmo enunciado (2), poderia ser escrito da
seguinte maneira: “Eu estou apaixonado pela Ana”. E nesse caso, na alternância
entre “Pedro” e “Eu”, verificamos mais uma noção expressa pelo verbo, a noção
de pessoa, no caso, a primeira (eu) e a terceira (ele/Pedro) do singular.
E se voltarmos para o enunciado (1) e quisermos transmitir a mesma ideia,
contudo de maneira diferente, seria possível? Como toda a certeza isso poderia
ser realizado, e uma possibilidade seria: “O trabalho foi entregue pelos

3
estudantes”. Ora, essa variação é possível, pois o verbo também exprime a
noção de voz, que pode ser ativa, como visto em (1), passiva, como na reescrita
da oração (1) e reflexiva.
Vimos até aqui que além de informar sobre ações, estados, fenômenos
da natureza, tempo, número pessoa e voz, os verbos também exprimem a noção
de modo, assunto sobre o qual discutiremos no próximo tema.

TEMA 2 – OS MODOS E OS TEMPOS VERBAIS

Vamos dar início à nossa discussão considerando os modos verbais. Para


tanto, convidamos você a observar a seguinte imagem:

Crédito: Hibrida/Shutterstock

Se alguém nos perguntasse: “O que fazem as crianças? ”, poderíamos


responder algo como: “As crianças brincam”. Uma proposição como essa não
abre margem para dúvidas ou incertezas, não é verdade? Diante de tal
afirmação, entendemos um evento, uma situação como um fato. Essa é a
característica do chamado modo indicativo.

4
Agora, vamos observar a seguinte imagem:

Crédito: MicroOne/Shutterstock

Vamos criar um contexto para ela? Imaginemos que aos dois


personagens foi feita uma pergunta. Porém, passados cinco minutos, eles não
apresentaram uma resposta. Logo, “caso soubessem o que dizer, não
demorariam tanto para responder”.
Em relação ao que foi afirmado e que se encontra em destaque, é possível
assumir que existe uma certeza sendo apresentada? Se você respondeu
negativamente à pergunta, você percebeu que existe na proposição a
manifestação de uma hipótese a qual depreendemos a partir da forma ou do
modo como o verbo encontra-se conjugado, no caso, “soubessem”. Pois bem,
quando isso ocorre, estamos diante do chamado modo subjuntivo.
Voltemos, neste momento, nosso olhar para a campanha publicitária a
seguir:

Fonte: Riopira, S.d.

Nesse gênero textual, é predominante a presença da tipologia textual


injuntiva, a qual manifesta uma ordem. Repare os verbos “procure”, “vacine-se”.
Como podemos perceber, a maneira como estão conjugados tem como objetivo
persuadir o interlocutor a aderir à campanha de vacinação. Em língua
5
portuguesa, a injunção é expressa quando os verbos se encontram no modo
imperativo.
Assim, concordando com Lima (2010, p.168), “o modo caracteriza as
diversas maneiras sob as quais a pessoa que fala encara a significação contida
no verbo”. No modo indicativo, temos o tempo presente, o tempo passado (ou
pretérito), que se subdivide em perfeito, imperfeito e mais-que-perfeito e o tempo
futuro, que se subdivide em futuro do presente e futuro do pretérito. Por sua vez,
o modo subjuntivo expressa o tempo presente, o pretérito imperfeito e o futuro.
Já o modo imperativo só apresenta o tempo presente, mas que se aplica ao
passado e ao futuro. Na tabela a seguir, você encontra essas informações
expressas de outra forma:

Modo Indicativo Modo Subjuntivo Modo Imperativo


Presente Presente Presente
Perfeito
Pretérito
Passado Imperfeito
Imperfeito
Mais-que-perfeito
do Presente
Futuro Futuro
do Pretérito

Vimos nesse tema a definição de “modo” e quais são os modos que os


verbos da língua portuguesa expressam: indicativo, subjuntivo e imperativo.
Observamos também quais são os tempos verbais e como estão presentes em
cada um dos modos. No tema a seguir, vamos analisar as conjugações verbais.

TEMA 3 – OS VERBOS E SUAS CONJUGAÇÕES

A fim de darmos início à nossa discussão sobre as conjugações verbais,


convidamos você a analisar a nuvem de palavras a seguir:

6
Desconsiderando as repetições e as cores com as quais as palavras estão
escritas, existiria alguma forma de reorganizarmos essas mesmas palavras?
Antes de prosseguir a leitura, e caso não esteja com muita pressa, propomos
que você tente fazer essa reorganização.
Assumindo que tenha se desafiado a reorganizar as palavras,
entendemos que muito provavelmente você encontrou um princípio que lhe
auxiliou nessa nova forma de organizá-las. Visto que todas pertencem à classe
dos verbos, uma maneira de reorganizá-las em um novo paradigma poderia levar
em conta a terminação verbal. Dessa forma, teríamos os verbos terminados em
“ar” em um conjunto, os verbos terminados em “er” em outro e, por fim, os verbos
terminados em “ir” em mais outro, conforme a tabela a seguir:

TRABALHAR ESCREVER DECIDIR


BRINCAR PERCEBER EVOLUIR
PINTAR CORRER COLIDIR
PULSAR VENDER PARTIR
CANTAR LER SORRIR
DANÇAR SAIR
LAVAR CAIR
PULAR
AMAR

Ao nos guiar por esse princípio de organização, estamos seguindo a


lógica da “conjugação”. Assim, temos, em língua portuguesa, os verbos da
primeira conjugação, terminados em “ar”; os verbos da segunda conjugação,
terminados em “er” e os verbos da terceira conjugação, terminados em “ir”. As
vogais que se encontram nessas terminações, são denominadas vogais
temáticas, sobre as quais discutiremos melhor mais adiante.
Quanto ao conceito de conjugação, Rocha Lima (2010, p.171) assim o
define: “ao conjunto dos acidentes gramaticais do verbo dá-se o nome de
conjugação”. A partir da conjugação, é possível estabelecer um paradigma de
conjugação de todos os verbos. Nesse nosso estudo, não vamos demonstrar
todo o paradigma, para evitar que a discussão fique enfadonha. Contudo,
convidamos você a buscar em alguma gramática o paradigma completo das três
conjugações. Aqui, em nossa apresentação, vamos considerar apenas a terceira
pessoa do singular. Isso posto, temos que, no modo indicativo, considerando-se

7
a terceira pessoa do singular, verbos como “trabalhar”, “escrever” e “decidir” são
assim conjugados:

MODO INDICATIVO
PRESENTE – 3ª PESSOA DO SINGULAR
(ELE) TRABALHA (ELE) ESCREVE (ELE) DECIDE
PRETÉRITO PERFEITO - 3ª PESSOA DO SINGULAR
(ELE) TRABALHOU (ELE) ESCREVEU (ELE) DECIDIU
PRETÉRITO IMPERFEITO - 3ª PESSOA DO SINGULAR
(ELE) TRABALHAVA (ELE) ESCREVIA (ELE DECIDIA)
PRETÉRITO MAIS-QUE-PERFEITO
(ELE) TRABALHARA (ELE) ESCREVERA (ELE) DECIDIRA
FUTURO DO PRESENTE
(ELE) TRABALHARÁ (ELE) ESCREVERÁ (ELE) DECIDIRÁ
FUTURO DO PRETÉRITO
(ELE) TRABALHARIA (ELE) ESCREVERIA (ELE) DECIDIRIA

No que diz respeito ao modo subjuntivo, temos o seguinte paradigma:

MODO SUBJUNTIVO
PRESENTE – 3ª PESSOA DO SINGULAR
(QUE ELE) (QUE ELE) ESCREVA (QUE ELE) DECIDA
TRABALHE
PRETÉRITO IMPERFEITO - 3ª PESSOA DO SINGULAR
(SE ELE) (SE ELE) (SE ELE) DECIDISSE
TRABALHASSE ESCREVESSE
FUTURO - 3ª PESSOA DO SINGULAR
(QUANDO ELE) (QUANDO ELE) (QUANDO ELE
TRABALHAR ESCREVER DECIDIR)

Por fim, no modo imperativo, duas formas são encontradas: o imperativo


afirmativo e o imperativo negativo. O paradigma da conjugação dos verbos nesse
modo pode ser, assim, apresentado:

MODO IMPERATIVO AFIRMATIVO


PRESENTE – 3ª PESSOA DO SINGULAR
TRABALHE (VOCÊ) ESCREVA (VOCÊ) DECIDA (VOCÊ)

8
MODO IMPERATIVO NEGATIVO
PRESENTE – 3ª PESSOA DO SINGULAR
NÃO TRABALHE NÃO ESCREVA NÃO DECIDA (VOCÊ)
(VOCÊ) (VOCÊ)

Vimos, no tema 3, quais são as conjugações verbais. Trouxemos um


modelo paradigmático das conjugações de maneira resumida. Além disso,
consideramos nessa apresentação apenas os verbos regulares. Mas, afinal, o
que poderíamos dizer sobre os verbos irregulares? Esse é o tema da próxima
seção.

TEMA 4 – VERBOS IRREGULARES, ANÔMALOS, DEFECTIVOS E AS


FORMAS NOMINAIS DO VERBO
De acordo com o míni dicionário da língua portuguesa Houaiss, “irregular”
é algo que não é simétrico ou uniforme. Com toda a certeza, essa definição se
aplica no estudo das formas verbais irregulares. Entretanto, o que significa dizer
que um verbo é irregular? Para responder a essa pergunta, vamos considerar as
ocorrências a seguir:

1. (a) Os estudantes anseiam se formar.


(b) A Ana trouxe um bolo para os colegas.
(c) Esperamos que ele ouça a recomendação do médico.

Você saberia dizer a qual conjugação pertencem os verbos destacados?


Se considerarmos as formas infinitivas de cada um, a saber, “ansiar”, “trazer” e
“ouvir” fica fácil responder à pergunta, não é mesmo? “Ansiar” é verbo da
primeira conjugação, “trazer” da segunda e “ouvir” é verbo da terceira
conjugação. Contudo, a forma como cada um está conjugado em (1a-c) em nada
se parece com o paradigma visto no Tema 3. Essa é a característica dos verbos
denominados irregulares. Segundo Rocha Lima (2010, p.207), “são irregulares
os verbos de determinada conjugação que não acompanham o respectivo
paradigma”.
Além dos verbos irregulares, há dois verbos, em particular, denominados
“anômalos”, isso porque existem três radicais1 em cada um. São eles “ser” e “ir”.

1
De acordo com rocha (2008, p.100), “radical é a parte da palavra que está presente em todas
as formas de uma mesma palavra”.
9
No paradigma abaixo, podemos verificar essa particularidade dos respectivos
verbos:

MODO INDICATIVO
SER IR
PRESENTE PRETÉRITO PERFEITO PRESENTE PRETÉRITO PERFEITO
EU SOU EU FUI EU VOU EU FUI
TU ÉS TU FOSTE TU VAIS TU FOSTE
ELE É ELE FOI ELE VAI ELE FOI
NÓS SOMOS NÓS FOMOS NÓS VAMOS NÓS FOMOS
VÓS SOIS VÓS FOSTES VÓS IDES VÓS FOSTES
ELES SÃO ELES FORAM ELES VÃO ELES FORAM

SER IR
PRETÉRITO IMPERFEITO PRETÉRITO IMPERFEITO

EU ERA EU IA
TU ERAS TU IAS
ELE ERA ELE IA
NÓS ÉRAMOS NÓS ÍAMOS
VÓS ÉREIS VÓS ÍEIS
ELES ERAM ELES IAM

Em conjunto com os verbos irregulares e anômalos, temos também


alguns verbos que apresentam uma peculiaridade. Qual seria ela? Para
descobri-la, convidamos você a fazer uma pausa na leitura e conjugar o verbo
abolir no presente do indicativo. Depois que tiver terminado a conjugação,
perceba qual foi o resultado.
Caso você já tenha terminado o desafio proposto e está prosseguindo a
leitura, certamente reparou que o verbo “abolir” não apresenta a conjugação de
primeira pessoa, não é mesmo? Quando isso ocorre, estamos diante dos
chamados verbos defectivos. Assim, de acordo com Rocha Lima (2010, p.219),
os defectivos “são verbos que não têm a conjugação completa”. O estudo
gramatical, estabelece três tipos de verbos defectivos, a saber:

A) Verbos impessoais: são aqueles que designam fenômenos da natureza e


são conjugados somente na terceira pessoa do singular. Exemplos:
chover, ventar, nevar, etc.
10
B) Verbos unipessoais: segundo Rocha Lima (2010, p.219), são aqueles
verbos que indicam “ruídos peculiares a determinados animais”. Esses
são empregados apenas na terceira pessoa do singular ou do plural.
Exemplos: cacarejar, miar, coaxar, etc.

C) Verbos como “abolir”, “reaver”, “competir” os quais não apresentam todas


as formas de conjugação por diferentes razões, destacando-se a
confusão com formas de outros verbos ou mesmo o “desuso de alguns
tempos, modos ou pessoas” (Lima, 2010, p.220).

Antes de finalizarmos essa temática, resta ainda discutirmos sobre as


chamadas formas nominais dos verbos. Para tanto, vamos ler a seguinte tirinha:

Crédito: Alexandre Becker

Sabemos que nesse gênero textual, o efeito de humor se constrói a partir


da quebra de uma expectativa que é criada. No caso da tirinha de Armandinho,
o rompimento dessa expectativa advém da interpretação feito do verbo “ver”,
conjugado como “vendo”. O interlocutor do garotinho compreendeu o referido
verbo como “vender”, estando conjugado na primeira pessoa do singular no
modo indicativo. Entretanto, Armandinho afirma que está “vendo” o pôr do sol,
logo coloca-nos diante do verbo “ver” na sua forma de gerúndio. O “gerúndio” é
uma das formas nominais do verbo. Além dele, temos o “infinitivo” e o “particípio”.
Segundo Bechara (2001, p.224), gerúndio, infinitivo e particípio são
denominadas formas nominais do verbo pois “podem desempenhar função de
nomes”. Dentro dessa perspectiva, o gerúndio pode se equivaler a um advérbio;
já o infinitivo pode desempenhar a função de um substantivo e, por sua vez, o
particípio pode se equiparar a um adjetivo. Vejamos os exemplos a seguir:

11
1. (a) Anoitecendo, as luzes de Natal serão acesas.
(b) Mentir é uma grande enganação.
(c) Um sonho alcançado é sempre motivo de alegria.

Como podemos perceber, em (1a) a forma de gerúndio “anoitecendo”


instaura uma noção de temporalidade, como se fosse um adjunto adverbial,
função que é exercida pelas palavras que integram a classe dos advérbios. Já
em (1b), a forma infinitiva “mentir” corresponde ao sujeito da oração, função que
os substantivos desempenham na sentença. Já o particípio “alcançado” está
especificando o tipo de sonho que é motivo de alegria, ou seja, o “sonho
alcançado”. Função que geralmente é desempenhada pelos adjetivos.
O gerúndio e o particípio não definem as pessoas do discurso, contudo, o
infinito, quando flexionado, sim. Acompanhe o paradigma a seguir:

MENTIR
MENTIR (EU)
MENTIRES (TU)
MENTIR (ELE)
MENTIRMOS (NÓS)
MENTIRDES (VÓS)
MENTIREM (ELE)

Vimos no tema 4, portanto, verbos que exprimem algumas


particularidades os quais são definidos ora como irregulares, ora como
anômalos, outros ainda como defectivos, além das chamadas formas nominais
do verbo. No tema 5, vamos finalizar nosso estudo sobre a classe dos verbos,
discutindo sobre os verbos abundantes e a transitividade verbal.

TEMA 5 – VERBOS ABUNDANTES E TRANSITIVIDADE VERBAL

Fora do âmbito gramatical, como podemos definir algo abundante?


Seguindo a definição do minidicionário Houaiss, a abundância diz respeito àquilo
que manifesta uma fartura ou grande quantidade. Importando essa noção para
o território da gramática, temos que verbos abundantes são aqueles que
expressam mais de uma forma com igual valor e que exerce mesma função.
Vemos esse fenômeno mais acentuadamente como verbos no particípio. Nas
ocorrências a seguir, encontramos alguns exemplos:

12
1. (a) A Maria tinha aceitado a proposta, mas desistiu.
(b) A Maria tinha aceito a proposta, mas desistiu.

2. (a) Os jogadores queriam ter ganhado o campeonato.


(b) Os jogadores queriam ter ganho o campeonato.

3. (a) Os consumidores afirmam ter pagado a conta.


(b) Os consumidores afirmam ter pago a conta.

4. (a) Uma boa parte dos estudantes gostaria de ter elegido outro
representante.
(b) Uma boa parte dos estudantes gostaria de ter eleito outro
representante.

5. (a) A professora solicitou que o trabalho fosse entregue imprimido.


(b) A professora solicitou que o trabalho fosse entregue impresso.

Às formas “aceitado”, “ganhado”, “pagado”, “elegido” e “imprimido”


denominamos de particípio regular. Por sua vez, às formas “aceito”, “ganho”,
“pago” e “impresso” chamamos de particípio irregular. A gramática normativa
estabelece que, de maneira geral, a forma regular vem acompanhada dos verbos
auxiliares “ter” e “haver”, já a irregular, com os auxiliares “ser”, “estar” e “ficar”.
Um último aspecto dos verbos que gostaríamos de discutir diz respeito à sua
transitividade. Ao tratar da transitividade verbal adentramos o território da
morfossintaxe. Nesse sentido, quando um verbo passa a atuar dentro de uma
sentença, a fim de que esta seja uma estrutura compreensível ou bem formada
é necessário que a transitividade verbal esteja “saturada”.
A fim de que possamos compreender melhor essa afirmação, vamos
imaginar que em uma situação qualquer, alguém chegasse até nós dizendo algo
do tipo:

6. (a) O rapaz comprou

Muito provavelmente iríamos interrogar sobre o que foi comprado. Isso


porque na situação em questão a necessidade do verbo “comprar”, que requer
um complemento, não foi satisfeita, ou seja, sua transitividade não foi saturada.
Entretanto, uma vez dito o que foi comprado, o sentido da oração torna-se
plenamente compreensível, como notamos a seguir:

7. (a) O rapaz comprou uma bola de futebol.

13
Assim, a “transitividade” diz respeito à necessidade de complementos
manifesta pelos verbos.
De acordo com sua transitividade, os verbos se dividem em:

Intransitivos Transitivos Diretos

Verbos

Transitivos diretos
Transitivos e indiretos
Indiretos (bitransitivos)

Vamos analisar cada um dos casos, iniciando pelos verbos intransitivos.


Observemos as ocorrências a seguir:

8. (a) A flor morreu.


(b) O Pedro dormiu.

Repare que tanto em (8a) quanto em (8b) os verbos “morrer” e “dormir”


não necessitam de complementos. Quando isso acontece, estamos diante dos
chamados verbos intransitivos. Agora, vamos verificar as próximas ocorrências:

9. (a) As crianças comeram o bolo.


(b) Os turistas compraram lembrancinhas.

Em (9a) e (9b), vemos que “o bolo” e “lembrancinhas” completam o


sentido de “comer” e “comprar”. Em casos como esses, estamos diante dos
verbos transitivos diretos. E o que podemos dizer dos exemplos expressos em
(10)?

10. (a) Os jurados acreditaram na inocência do réu.


(b) As crianças gostam de bolo de chocolate.

Como podemos observar, entre os verbos “acreditar” e “gosta” e seus


complementos há a presença de uma preposição (“em” e “de” respectivamente).
Quando isso ocorre, estamos diante dos chamados verbos transitivos indiretos.
Por fim, vejamos as ocorrências em (11):

11. (a) Os estudantes trouxeram um presente para o professor.

14
(b) As mães dão sua vida aos filhos.

Verificamos tanto em (11a) quanto em (11b) que os verbos “trazer” e “dar”


possuem dois complementos sendo um direto e um indireto. Esses são os
chamados verbos bitransitivos.
Vimos, pois, nesse tema, os verbos abundantes e como os verbos são
organizados, considerando-se seu sistema de transitividade. Com isso,
finalizamos o estudo da classe dos verbos e das classes de palavras
consideradas variáveis.

NA PRÁTICA

Considere as seguintes ocorrências:

A) O barco pesqueiro virou no litoral.


B) O menino virou a página do livro.

No que diz respeito à transitividade do verbo, a que conclusões você


chega, analisando as sentenças apresentadas? Discuta com seus colegas e
professor o que você descobriu.

FINALIZANDO

Vimos nessa aula a classe dos verbos e suas particularidades. Dentro de


nosso estudo discutimos sobre os modos e os tempos verbais, a suas
conjugações, bem como as irregularidades dos verbos e o seu sistema de
transitividade.

15
REFERÊNCIAS

BECHARA, E. Moderna Gramática Portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro:


Lucerna, 2001.

LIMA, C.H. R. Gramática Normativa da Língua Portuguesa. 48. ed. Rio de


Janeiro: José Olympio, 2010.

16

Você também pode gostar