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Gabarito, 226
Capítulo 1
Lei de Drogas
Tem-se como conceito de crime que se trata de um fato típico, ilícito e culpável,
pela teoria tripartida do delito.
Para que haja um fato típico, faz-se necessário que exista uma conduta hu-
mana, um resultado, nexo causal entre a conduta e o resultado e, por fim, a
tipicidade, a qual poderá ser formal ou material.
Para que se entenda o princípio da insignificância, é preciso focar os estudos
na tipicidade material.
O sujeito, quando nasce, é portador de bens e direitos, como a vida e a dig-
nidade sexual, por exemplo. Quando o direito identifica os bens da vida mais
importantes, deverá protegê-los e, assim, este bem se torna um bem jurídico.
É preciso entender que, no âmbito da Lei de Drogas, o bem jurídico que deve
ser protegido é a saúde pública.
Se o sujeito, através de sua conduta, atinge o bem jurídico tutelado (saúde
pública), haverá tipicidade material. Se a conduta atingir o bem jurídico, mas de
forma insignificante, não há justificativa para que se mova toda a estrutura do
Poder Judiciário, sendo o fato atípico.
Recentemente, a Primeira Turma do STF (HC nº 110.475) reconheceu o princí-
pio da insignificância no crime de porte de drogas para uso próprio.
Exercício
1. Cabe o princípio da insignificância na Lei de Drogas?
16 Legislação Penal Especial
2. Princípio da Proporcionalidade
Exercício
2. Em que consiste o princípio da proporcionalidade na Lei de Drogas?
No art. 66, a lei estabelece: “Para fins do disposto no parágrafo único do art.
1º desta Lei, até que seja atualizada a terminologia da lista mencionada no precei-
to, denominam-se drogas substâncias entorpecentes, psicotrópicas, precursoras e
outras sob controle especial, da Portaria SVS/MS nº 344, de 12 de maio de 1998.”
É possível observar que a Portaria nº 344, de 1998, não é uma lei, e é apro-
vada pelo Poder Executivo. Tal Portaria consiste na lista que existe atualmente,
informando quais são as drogas existentes.
Faz-se necessário entender que o álcool é uma substância que causa depen-
dência, mas não está contido na lista.
No conceito de droga existe uma lei, porém, tal diploma não traz quais são as
drogas, tratando-se de uma norma penal em branco. Isso, porque é a Portaria nº
344, de 1998, que traz o rol acerca de quais sejam as substâncias consideradas
drogas.
Ainda, cumpre esclarecer que, caso o Poder Executivo tire uma substância do
rol daquelas que são consideradas drogas, ocorrerá o fenômeno denominado
abolitio criminis. Assim, tudo o que aconteceu da data para trás deixou de ser
crime.
Exercício
3. O fato de o conceito de drogas estar em um ato do Poder Executivo fere o
princípio da legalidade penal?
Lei penal eficiente é uma lei penal que funcione. O Direito Penal tem sanções e,
por isso, é diferente dos outros ramos do Direito (ultima ratio).
A pena possui duas finalidades (macro): retributiva e preventiva. A prevenção
pode se dar de forma geral e especial. A prevenção geral seria um aviso a todos
e a especial é direcionada a determinado sujeito.
A prevenção geral negativa seria no sentido de impedir que as pessoas come-
tam crimes. De forma diversa, a prevenção positiva seria no sentido de reafirmar
a vigência da norma.
Em relação à eficiência da Lei de Drogas, é preciso observar que nenhuma lei
penal é eficiente. Isso, porque a lei penal é um mal necessário e atualmente prisão
não significa castigo, mas sim recrutamento para o crime organizado.
18 Legislação Penal Especial
Exercício
4. A busca pela eficiência admite a relativização de garantias constitucionais?
5. Conceito de Droga
O conceito objetivo e normativo de droga irá condicionar os limites da persecução
penal. Se droga é o objeto material dos crimes relacionados à droga, é preciso
que se conheça a amplitude deste conceito.
Não se pode mais utilizar a palavra tóxico, pois em 1976 surgiu a Lei de Dro-
gas anteriormente vigente e tal lei era conhecida como Lei de Tóxicos. Em 2006,
tal lei foi revogada expressamente pela Lei de Drogas atual (Lei nº 11.343/06).
O conceito de droga, portanto, é uma substância ou produto que cause de-
pendência. Ainda, o produto deve estar na Portaria SVS/MS nº 344, de 1998.
Trata-se de um conceito de natureza objetiva.
Se surgir uma droga nova, o Ministério da Saúde não precisará esperar o
Congresso aprovar uma lei para incluir esta droga no rol, bastando o Ministro da
Saúde incluir, em um ato normativo, a nova substância. Desta forma, nota-se que
aparentemente foi proposital a utilização de norma penal em branco.
O que não é permitido, em hipótese alguma, é o Poder Judiciário alterar esse
conceito. Isso é chamado pela doutrina constitucionalista de ativismo judicial.
Quem dá a última palavra se o ativismo judicial é constitucional ou não é o Su-
premo Tribunal Federal.
O conceito de drogas está previsto no parágrafo único do art. 1º e art. 66 da
Lei nº 11.343/06 (Lei de Drogas). Droga é a soma de uma substância ou produ-
to que cause dependência e que esteja na Portaria nº 344/98 do Ministério da
Saúde.
Exercício
5. O conceito de droga pode ser ampliado para receber novas substâncias?
6. Art. 28
O art. 28 da Lei de Drogas possui cinco verbos (condutas típicas), que inserem a
pessoa que praticou um dos verbos na tipificação deste artigo. É considerado um
crime de menor potencial ofensivo e, por isso, a competência para julgamento é
do Juizado Especial Criminal.
Legislação Penal Especial 19
É preciso observar que usar droga não é crime. Para tal afirmativa há explicações.
A primeira é que no dispositivo aqui estudado há cinco condutas: adquirir,
guardar, ter em depósito, transportar ou trazer consigo. É possível observar que
o verbo usar não está previsto no art. 28 e, por isso, não é considerado crime.
Na bioética existe um princípio chamado de princípio da autonomia, ou seja, o
sujeito tem autonomia para fazer o que quiser com o corpo, desde que não preju-
dique ninguém. Ainda, pelo princípio da alteridade, a conduta de alguém só será
penalmente reprovável se prejudicar terceiros.
É preciso observar a diferença entre guardar e ter em depósito. Guardar é
armazenar a droga para terceiros. De forma diversa, ter em depósito é ter a droga
para uso próprio. Já transportar é levar, por um meio de transporte, a droga de
um ponto para outro. Adquirir é buscar a droga por meio oneroso ou gratuito.
Se a quantidade da droga que a pessoa traz consigo for pequena, esta não
poderá ser presa em flagrante. Desta forma, assinará termo circunstanciado e
será apresentada imediatamente ao Juizado Especial Criminal.
Ressalte-se que, se ficar caracterizado que o trazer consigo não era para con-
sumo pessoal, o sujeito é enquadrado no tráfico de drogas, sendo lavrado auto
de prisão em flagrante. Faz-se necessário lembrar que o crime de tráfico de dro-
gas é equiparado a crime hediondo.
8. Sanções
9. Aspectos Constitucionais
depois das Leis Ordinárias e, por fim, as normas inferiores. Em regra, a Constitui-
ção da República vale mais do que a Lei Ordinária.
O art. 5º, XLII, da CRFB/88 dispõe: “a lei considerará crimes inafiançáveis e
insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpe-
centes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por
eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se
omitirem.”
A Lei de Crimes Hediondos também define que o traficante não tem direito
a indulto. Ressalte-se que o tráfico de drogas é inafiançável, mas é prescritível.
Dispõe o art. 5º, LI, da Constituição: “nenhum brasileiro será extraditado, sal-
vo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou
de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins,
na forma da lei.” Nota-se que o brasileiro pode ser extraditado, se for naturaliza-
do e se tiver envolvimento com o tráfico ilícito de drogas.
A terceira menção diz respeito à competência da polícia federal. Traz o art.
144, § 1º: “A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organiza-
do e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a: (...) II – prevenir
e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o
descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas
respectivas áreas de competência.”
Faz-se necessário entender que a polícia federal somente é competente para
investigar o tráfico de drogas se este for transnacional, ou seja, se houver o en-
volvimento de pessoas de dois ou mais países.
Ainda, dispõe o art. 243 da CRFB/88: “As glebas de qualquer região do País
onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas serão imediata-
mente expropriadas e especificamente destinadas ao assentamento de colonos,
para o cultivo de produtos alimentícios e medicamentosos, sem qualquer indeni-
zação ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.”
Exercício
6. Se a pessoa for flagrada carregando semente de planta de drogas, pratica
tráfico?
10. Art. 33
Conforme visto anteriormente, como conceito de drogas tem-se que é substância
ou produto que cause dependência, e que esteja presente na Portaria nº 344 do
Ministério da Saúde.
22 Legislação Penal Especial
O tipo penal do art. 33 possui 18 verbos. Dispõe o art. referido: “Art. 33.
Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à
venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever,
ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena
– reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a
1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.”
Em relação à questão do importar e exportar, por certo não é um desembara-
ço alfandegário e aduaneiro oficial. Tem-se aqui a competência da Justiça Federal.
Ainda, outra peculiaridade diz respeito aos verbos prescrever e ministrar. O
crime próprio é aquele que só pode ser praticado por um determinado e específi-
co grupo de pessoas. Quem tem legitimidade para prescrever drogas é o médico,
devendo ser incluído aqui também o dentista. Na modalidade ministrar, além do
médico e do dentista, tem-se o farmacêutico. Ressalte-se que o balconista da
farmácia, se receber como atribuição do farmacêutico ministrar drogas, também
entraria no rol de quem pode ministrar drogas.
Quanto aos verbos ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar e ad-
quirir, estes são os verbos também do art. 28 da Lei de Drogas. Assim, são verbos
de intersecção entre os arts. 28 e 33 da referida lei.
Se o dolo da pessoa é praticar esses verbos para consumo, enquadra-se no
art. 28. Todavia, se o dolo da pessoa é praticar esses verbos, mas não para consu-
mo pessoal, enquadra-se no art. 33.
Sendo a pena mínima de cinco anos e a pena máxima em abstrato de 15 anos,
não há problema algum com a possibilidade de prisão preventiva, mesmo sendo
réu primário. O art. 313, I, do Código de Processo Penal veda a prisão preventi-
va, se a pena for igual a quatro anos no máximo e o réu seja primário. É preciso
observar que sempre se trabalha com a pena máxima em abstrato para saber se
cabe ou não prisão preventiva.
Outro ponto importante diz respeito ao crime impossível. A Súmula nº 145
do STF estabelece: “Não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia
torna impossível a sua consumação.”
Se a venda provocada não é crime, já que a consumação pela venda é im-
possível, ou seja, a pessoa vendeu porque foi estimulada a vender e não porque
quis, é impossível que o crime se consume. Faz-se necessário observar aqui que a
venda provocada não é crime, mas a pessoa pode ser enquadrada no verbo trazer
consigo, já que este verbo estava consumado.
Trata-se de um tipo misto alternativo, ou seja, tanto faz se o agente praticou
um ou mais verbos do tipo penal, pois a pena será a mesma.
Legislação Penal Especial 23
Exercício
7. A venda de droga provocada é crime?
O art. 33, § 4º, da Lei de Drogas trata do tráfico privilegiado. Estabelece o refe-
rido dispositivo: “Nos delitos definidos no caput e no § 1º deste artigo, as penas
poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, desde que o agente seja primá-
rio, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre
organização criminosa.”
Trata-se de previsão legal que beneficia a pessoa condenada por tráfico de
drogas, por força de seu comportamento pessoal e qualidades subjetivas.
Havia uma discussão sobre o trecho “vedada a conversão em penas restritivas
de direitos”. Ocorre que há uma decisão do STF (HC nº 97.256, STF), na qual
foi declarada a inconstitucionalidade deste trecho. A razão jurídica para esta
decisão é que esta expressão retirou do juiz a possibilidade de decisão nos casos
concretos.
Sabe-se que o Senado deve fazer controle político da decisão, editando Re-
solução. De tal forma, o Senado Federal riscou a expressão da lei através da
Resolução nº 05.
Com isso, existe a possibilidade hoje, no Brasil, de o traficante condenado
cumprir apenas uma pena restritiva de direitos, em determinados casos: se o réu
for primário, tiver bons antecedentes, se não se dedicar às atividades criminosas
e se não integrar organização criminosa.
Uma crítica feita é no sentido de que é difícil provar na prática que a pessoa
integre organização criminosa, sendo esta uma prova que precisa ser feita pela
acusação. É possível provar através de testemunhas, tatuagens, prova documen-
tal, mas exige esforço descomunal da acusação.
Algumas leis penais especiais possuem momentos processuais que lhe diferen-
ciam do Código de Processo Penal. No CPP, considera-se como rito comum o rito
comum ordinário, sumário e sumaríssimo, contudo, há procedimentos especiais.
Legislação Penal Especial 25
Exercício
8. Como funciona a questão pericial na investigação preliminar?
Exercício
9. É considerado um método ilegal de investigação:
a) Ação controlada.
b) Infiltração de agentes.
c) Interceptação telefônica.
d) Tortura para liberar vítima de sequestro.
O juiz, ao invés de receber a denúncia, notifica o acusado que, por sua vez,
apresentará sua defesa prévia no prazo de 10 dias. Se não apresentar a defesa
prévia, o juiz nomeará um defensor público para fazê-lo, também em 10 dias.
Depois de apresentada a defesa, o juiz decide em cinco dias, podendo pe-
dir diligências. Aqui existe uma peculiaridade, pois no rito comum, concluído
o inquérito policial, o Ministério Público oferece a denúncia e na Lei de Drogas
notifica-se o acusado para que apresente defesa e o juiz decida se recebe ou não
a denúncia.
Nota-se que no rito comum, o juiz nem se oportunizará para a defesa a chan-
ce de haver a argumentação para o não recebimento da denúncia. Desta forma,
a Lei de Drogas é mais favorável.
Ainda, a defesa prévia, prevista no art. 396 do Código de Processo Penal não
é a mesma utilizada na Lei de Drogas, e os argumentos podem ser os mesmos.
No rito especial da Lei de Drogas, busca-se o que está previsto no art. 397 do
Código de Processo Penal, que é conhecida como absolvição sumária.
No rito especial da Lei de Drogas, se a argumentação não for aceita, o juiz
receberá a denúncia e marcará a audiência de instrução e julgamento. No rito
comum, se a argumentação não for aceita, o juiz marca a audiência de instrução
e julgamento.
Outra especificidade da Lei de Drogas diz respeito ao interrogatório do acusa-
do. A partir de 2008 o interrogatório deixou de ser um simples meio de prova (era
o primeiro ato da instrução). Após a Lei nº 11.719/08, o interrogatório tornou-se o
último ato da audiência. No rito especial da Lei de Drogas, de 2006 a 2008, o inter-
rogatório também era o primeiro ato da audiência e atualmente continua sendo.
A Lei de Drogas, em seu art. 44 veda a concessão de liberdade provisória para tra-
ficantes de drogas. Contudo, esta questão foi decidida pelo STF (HC nº 104.339,
STF) e o Plenário concedeu a ordem de habeas corpus a um homem preso por
tráfico de drogas para que este respondesse em liberdade. Assim, houve a decla-
ração de inconstitucionalidade do art. 44 da Lei de Drogas, que proibia a liberda-
de provisória para traficantes.
A Lei nº 12.403/11 modificou a realidade das prisões no país. A alma desta
lei traz as chamadas medidas cautelares processuais penais. Tais medidas, para
serem aplicadas, precisam da análise judicial de adequação, necessidade, propor-
cionalidade e subsidiariedade. Quem analisa qual cautelar deve ser aplicada ao
caso concreto será o juiz.
28 Legislação Penal Especial
É preciso saber que o STF entendeu que o legislador estava retirando do juiz
sua atribuição de escolha da medida cautelar mais adequada e necessária e, as-
sim, neste ponto o art. 44 é inconstitucional. Desta forma, permite-se a conces-
são de liberdade provisória para traficantes de drogas.
A liberdade provisória pode ser cumulada com outras medidas cautelares pre-
vistas nos arts. 319 e 320 do Código de Processo Penal.
Nota-se que o art. 44 da Lei de Drogas trazia um engessamento legislativo,
impedindo a liberdade provisória e o STF derrubou a proibição legal. Assim, a
partir deste momento, foi devolvida ao magistrado a possibilidade de utilizar a
liberdade provisória com as novas cautelares.
Com a decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal, o pedido vai ao juiz,
que deverá dizer qual a medida cautelar adequada e necessária. Ressalte-se que,
em nome do princípio da presunção da inocência e do princípio da individualiza-
ção da pena, houve essa importante decisão do STF.
Exercício
10. Cabe liberdade provisória para o traficante de drogas?
Capítulo 2
Lei dos Crimes Hediondos
STF que tal fato feria a individualização da pena, uma vez que não é o legislador
quem escolhe qual é a pena e o regime, mas sim o juiz.
É preciso entender os sistemas para aferição dos crimes hediondos, ou seja, veri-
ficar qual sistema será utilizado para identificar um crime hediondo.
Legislação Penal Especial 31
A Lei dos Crimes Hediondos (Lei nº 8.072/90) traz em seu art. 1º o seguinte rol:
“Art. 1º São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no
Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, consumados
ou tentados:
I – homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de
extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art.
121, § 2º, I, II, III, IV e V);
II – latrocínio (art. 157, § 3º, in fine);
III – extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2º);
IV – extorsão mediante sequestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e
§§ 1º, 2º e 3º);
V – estupro (art. 213, caput e §§ 1º e 2º);
VI – estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1º, 2º, 3º e 4º);
VII – epidemia com resultado morte (art. 267, § 1º).
VII-A – (VETADO)
VII-B – falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado
a fins terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput e § 1º, § 1º-A e § 1º-B, com a
redação dada pela Lei nº 9.677, de 2 de julho de 1998).”
32 Legislação Penal Especial
Desde 2006 até os dias atuais, quando a Lei de Drogas surgiu em um contexto
repressor e hoje foi relativizada pela jurisprudência, há um abrandamento da si-
tuação do traficante. Neste abrandamento, analisa-se se o crime continua sendo
hediondo.
O art. 44 da Lei nº 11.343/06 dispõe:
“Art. 44. Os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 a 37 desta Lei são
inafiançáveis e insuscetíveis de sursis, graça, indulto, anistia e liberdade provisória,
vedada a conversão de suas penas em restritivas de direitos.”
Com o tempo, algumas destas proibições caíram. Atualmente pode ocorrer a
conversão da pena de prisão em penas restritivas de direitos, bem como liberdade
provisória.
Sursis é suspensão condicional da pena; o sujeito recebe uma pena privativa
de liberdade de até dois anos de reclusão e o juiz suspende o cumprimento da
pena para que sejam cumpridos alguns requisitos. Assim, sendo cumpridos os
requisitos, a pena é extinta.
Indulto é um benefício de execução penal para os condenados, concedido
pelo Poder Executivo.
O tráfico privilegiado de drogas traz uma situação em que a quantidade de
drogas é pequena ou o sujeito é primário ou não integra nenhuma organização
criminosa. Este indivíduo pode receber uma diminuição significativa de sua pena.
Indaga-se se este crime continua sendo hediondo e sobre o assunto há duas
34 Legislação Penal Especial
correntes. A primeira entende que continua sendo hediondo, pois todo tráfico
de drogas é equiparado a hediondo (corrente majoritária). A segunda corrente
entende que todo delito privilegiado não pode ser hediondo. Desta forma, é pos-
sível observar que o privilégio não exclui a hediondez do delito.
O art. 35 da Lei de Drogas dispõe acerca da associação para o tráfico:
“Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, reitera-
damente ou não, qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34
desta Lei:
Pena – reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 700 (setecentos)
a 1.200 (mil e duzentos) dias-multa.”
Nota-se que o simples fato de se associarem para cometimento do tráfico já
constitui crime. Tal infração não constitui crime hediondo ou equiparado a he-
diondo, uma vez que associação para o tráfico não é tráfico.
O art. 1º da Lei dos Crimes Hediondos traz que é hediondo o crime tentado ou
consumado, trazendo em seguida o rol das infrações consideradas hediondas.
Existem os denominados bens da vida, como dignidade sexual, patrimônio, liber-
dade de ir e vir, direito a uma Administração Pública com moralidade, dentre outros.
Observe-se que é preciso que haja um bem da vida para que o Direito Penal
possa protegê-lo.
Se a conduta atinge a esfera do bem jurídico, o crime está consumado. Exem-
plo: o bem jurídico protegido no tráfico de drogas é a saúde pública.
Na tentativa também existe um bem jurídico protegido pelo Direito, mas a con-
duta não atinge este bem jurídico por circunstâncias alheias à vontade do agente.
Para que se verifique se cabe a tentativa, havendo uma conduta passível de
fragmentação é possível descobrir se o crime é tentado ou não. Exemplo: matar
alguém. É possível fragmentar os atos executórios.
Um crime que não admite a tentativa é o de dirigir embriagado.
8. Vedações Constitucionais
De acordo com o texto constitucional, os crimes hediondos e equiparados são
insuscetíveis de fiança.
Legislação Penal Especial 35
Desta forma, a partir de fevereiro de 2006 não existia mais regime integral fe-
chado. Neste sentido, passou a valer a regra geral, ou seja, progressão de regime
com 1/6 da pena.
Em 2007 foi aprovada pelo Congresso Nacional a Lei nº 11.464, modificando
o patamar para progressão de regime. A partir deste ano passou a haver a pro-
gressão com 2/5 ou 3/5. Assim, ressalte-se que 1/6 é a regra geral. Para que o
sujeito saia do regime fechado e vá ao semiaberto, é preciso que alguns requisitos
sejam cumpridos, que são de ordem objetiva (2/5 e 3/5 da pena) e subjetiva (bom
comportamento carcerário).
Também é pacífico na jurisprudência que em caso de violência e de crime
hediondo, é possível que o juiz peça o laudo criminológico.
O art. 9º da lei trazia uma causa de aumento de pena para as hipóteses das ví-
timas vulneráveis. Esta presunção de violência não existe mais, pois o art. 224 do
Código Penal foi revogado pela Lei nº 12.015/09. Assim, esta revogação esvaziou
o art. 9º da Lei dos Crimes Hediondos.
Indispensável observar que não houve revogação do art. 224 do Código Penal
de forma a deixar uma lacuna normativa, já que a mesma lei que revogou o dis-
positivo criou um crime novo chamado estupro de vulnerável. Ainda, o legislador
remeteu este novo artigo no rol da Lei dos Crimes Hediondos.
Exercício
11. De acordo com a Lei dos Crimes Hediondos, reformulada pela jurisprudên-
cia, é cabível:
a) Fiança.
b) Anistia.
c) Liberdade provisória.
d) Indulto.
Capítulo 3
Organizações Criminosas
Dispõe o § 7º:
“§ 7º Se houver indícios de participação de policial nos crimes de que trata
esta Lei, a Corregedoria de Polícia instaurará inquérito policial e comunicará ao
Ministério Público, que designará membro para acompanhar o feito até a sua
conclusão.”
I – colaboração premiada;
II – captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos;
III – ação controlada;
IV – acesso a registros de ligações telefônicas e telemáticas, a dados cadastrais
constantes de bancos de dados públicos ou privados e a informações eleitorais
ou comerciais;
V – interceptação de comunicações telefônicas e telemáticas, nos termos da
legislação específica;
VI – afastamento dos sigilos financeiro, bancário e fiscal, nos termos da legis-
lação específica;
VII – infiltração, por policiais, em atividade de investigação, na forma do art.
11;
VIII – cooperação entre instituições e órgãos federais, distritais, estaduais e
municipais na busca de provas e informações de interesse da investigação ou da
instrução criminal.”
Colaboração premiada significa um acordo feito entre polícia, promotor e um
dos membros da organização criminosa para soltar vítimas, oferecer localização
de produtos de infração, enfim, colaborar, em troca de benefícios, como extinção
da pena, por exemplo.
Ação controlada se dá quando o Estado age contra o crime organizado de
forma controlada.
Quanto ao inc. VII, ressalte-se que agente infiltrado em organização crimi-
nosa pratica crime. Este agente pratica crime para que não descubram que ele é
policial e, assim, diante desta excludente supralegal de culpabilidade, chamada
inexigibilidade de conduta diversa, este sujeito pode praticar atos típicos e ilícitos.
Necessário observar que o rol de meios de obtenção de provas não é exaustivo.
6. Colaboração Premiada
A Lei nº 12.850/13 traz outra denominação à delação premiada, qual seja a cola-
boração premiada, mas a essência é a mesma. Na colaboração premiada, aquele
que colabora com o Estado receberá um prêmio. Exemplo: identificação dos de-
mais coautores.
Quem entrega o prêmio é o magistrado e isso é feito em dois momentos. No
primeiro momento, quando é feito o acordo, o juiz homologa. Em um segundo
momento de atuação, após o acordo formalizado, este começa a ser cumprido e
depois de cumprido o juiz chancela aquele prêmio.
44 Legislação Penal Especial
É preciso entender que o juiz não pode, de ofício, propor um acordo. Quem
propõe, faz o requerimento, é o delegado ou o Promotor de Justiça.
O art. 4º da Lei nº 12.850/13 dispõe:
“Art. 4º O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão judicial,
reduzir em até 2/3 (dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por
restritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente com
a investigação e com o processo criminal, desde que dessa colaboração advenha
um ou mais dos seguintes resultados:
I – a identificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa
e das infrações penais por eles praticadas;
II – a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização
criminosa;
III – a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da organiza-
ção criminosa;
IV – a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações
penais praticadas pela organização criminosa;
V – a localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada.”
É preciso observar que no Brasil quem premia é o magistrado, que o fará de
forma proporcional ao benefício trazido à investigação.
Exercício
12. A nova Lei das Organizações Criminosas pacificou um grave problema re-
lacionado a esse tema. O que esta nova lei fez que modificou a realidade
normativa brasileira, resolvendo um problema?
a) Trouxe um conceito de organização criminosa.
b) Eliminou a ação controlada da Lei de Drogas.
c) Revogou a colaboração premiada daquelas sete leis.
d) Trouxe de volta o regime integral fechado da Lei dos Crimes Hediondos.
Capítulo 4
Identificação Criminal – Lei
nº 12.037/09
1. Identificação Civil
3. Identificação Criminal
Exercício
13. São métodos de identificação criminal, exceto:
a) Fotografia.
b) RG.
c) Impressão digital.
d) DNA.
Capítulo 5
Estatuto do Desarmamento
– Lei nº 10.826/03
Exercício
14. Julgue o seguinte item:
O Estatuto do Desarmamento inovou incluindo, como objeto jurídico, a mu-
nição e o acessório para crimes envolvendo arma de fogo.
Exercício
15. Julgue o seguinte item:
As armas registradas no Sinarm recebem, por força de lei, o porte.
52 Legislação Penal Especial
Exercício
16. Julgue o seguinte item:
Houve abolitio criminis no crime de porte de arma de fogo, por força da não
entrada em vigor do art. 12 do Estatuto, junto com o restante da lei.
do, se não apresentar potencialidade lesiva, poderá ser utilizada como objeto de
adorno, devendo inclusive ser lacrada, impedindo seu uso.
Arma de uso restrito: é a arma que só pode ser utilizada pelas forças armadas,
por algumas instituições de segurança ou pessoas físicas, mas desde que com uso
autorizado pelas forças armadas.
Arma de uso permitido: é aquela que o particular (pessoa física ou jurídica)
pode ter, desde que feito o registro, de acordo com a legislação normativa do
exército.
Arma de fogo defeituosa: é a arma inapta para efetuar disparos. Não será
considerada arma para efeitos dos crimes previstos no Estatuto do Desarmamen-
to (porque não coloca em perigo a incolumidade pública).
Arma de fogo desmuniciada ou desmontada, quando sendo transportada,
mesmo sem possibilidade de uso imediato, caracteriza, a princípio, o crime previs-
to nos arts. 14 ou 16, dada a inclusão da elementar “transportar” pelo legislador.
Mas observar o RHC nº 81.057: se a arma não tiver potencialidade lesiva ime-
diata, não configura crime.
O entendimento não é pacífico.
O objeto material do Estatuto do Desarmamento, em vários crimes, não é a
arma. Com outros objetos materiais (projéteis, por exemplo), é possível punir o
agente.
Exercício
17. Julgue o seguinte item:
Arma sem potencialidade de disparo, mas carregada com seis projéteis, per-
mite a responsabilidade criminal do agente pelo Estatuto do Desarmamento.
Falaremos desta unidade sobre a munição, que é também objeto material do Es-
tatuto do Desarmamento (é possível a punição de alguém pelo porte da munição,
independente da posse da arma).
É a unidade de carga destinada à propulsão de projéteis, por meio da expan-
são dos gases resultantes da deflagração da pólvora. Não se confunde com fogos
de artifício ou com acessórios de arma de fogo.
54 Legislação Penal Especial
Exercício
18. Julgue o seguinte item:
Existe munição de uso permitido e de uso restrito, cujo porte ou posse acar-
retarão diferentes consequências penais.
Exercício
19. Julgue o seguinte item:
Posse de arma de fogo sem o registro concedido pela autoridade competen-
te caracteriza posse ilegal de arma de fogo.
Exercício
20. Julgue o seguinte item:
Portar a arma de casa até o trabalho, por força da expressa previsão legal,
caracteriza o ato de posse de arma de fogo.
Exercício
21. Julgue o seguinte item:
Não se pune a modalidade culposa, ante a falta de previsão expressa (CP, art.
18, parágrafo único), sendo atípico o disparo acidental.
Nesta unidade será estudado o art. 16 da Lei de Drogas, que mistura a posse e o
porte de arma de fogo, mas agora as de uso restrito.
O Decreto nº 3.665/00 considera armas de fogo de uso restrito as que possuí-
rem características similares às de uso das forças armadas ou que as tornem aptas
para uso da força policial.
Os verbos do tipo são vários: possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber,
ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter,
empregar, manter sob sua guarda ou ocultar.
São objetos materiais do crime arma de fogo, acessório ou munição de uso
proibido ou restrito.
Elemento normativo do crime: sem autorização e em desacordo com determi-
nação legal ou regulamentar.
Pena: reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. Trata-se de flagrante des-
respeito ao princípio da proporcionalidade.
É tipo misto objetivo (aplicação do princípio da alternatividade). O agente,
praticando mais de um dos verbos do tipo, comete um único crime, mas o
juiz pode aumentar a pena pela culpabilidade (circunstância judicial do art.
59 do CP).
Em se tratando de arma de uso restrito ou proibido, a lei não fez diferencia-
ções das condutas de posse ou porte. Isto por que o foco aqui é o tipo de arma-
mento utilizado, e não apenas com a conduta.
58 Legislação Penal Especial
Exercício
22. Julgue o seguinte item:
O bem jurídico do crime de posse de arma de uso restrito é a preservação
do estado de segurança, integridade corporal, vida, saúde e patrimônio dos
cidadãos indefinidamente considerados contra possíveis atos que os expo-
nham a perigo.
Exercício
23. Julgue o seguinte item:
A arma de fogo só será convertida de uso permitido para de uso restrito após
a validação formal do Comando do Exército.
Legislação Penal Especial 59
O inciso III do parágrafo único do art. 16 da Lei nº 10.826/03 dispõe que nas mes-
mas penas incorre quem possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo
ou incendiário, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar.
Um exemplo de artefato explosivo ou incendiário seria a banana de dinamite.
Cumpre ressalvar que o Código Penal traz o crime de explosão no art. 251. A
diferença é que aqui há presunção de perigo. Assim, quando a incolumidade pú-
blica estiver concretamente em perigo, usa-se o Código Penal e quando o porte,
a detenção, o fabrico ou o emprego de artefato explosivo não colocar pessoas em
concreto em perigo, usa-se a Lei de Armas.
O inciso IV, por sua vez, traz as condutas de portar, possuir, adquirir, transpor-
tar ou fornecer arma de fogo com numeração, marca ou qualquer outro sinal de
identificação raspado, suprimido ou adulterado.
Exercício
24. Julgue o seguinte item:
O delito de explosão exige o perigo comum, fato não obrigatório para o
delito de posse de artefato explosivo sem autorização.
Exercício
25. Julgue o seguinte item:
Montar e, depois, vender a arma de fogo caseira não caracteriza o crime
de comércio ilegal de arma de fogo por falta da elementar típica atividade
comercial ou industrial.
Exercício
26. Julgue o seguinte item:
Importador de armas de uso proibido, sem autorização da autoridade com-
petente, caso condenado a uma pena mínima, poderá iniciar o cumprimento
da pena em regime aberto.
Exercício
27. Julgue o seguinte item:
De acordo com o STF, a liberdade provisória, medida cautelar com previsão
no CPP, pode ser afastada pelo legislador para leis penais especiais, como a
Lei de Armas.
Capítulo 6
Tortura – Lei nº 9.455/97
Exercício
28. Julgue o seguinte item:
A revogação do crime de tortura, do art. 233 do ECA, pela Lei de Tortura,
impede que a criança seja vítima dos crimes da Lei nº 9.455/97.
O crime de tortura, tipificado pela Lei nº 9.455/97, não se qualifica como delito
de natureza castrense, razão pela qual, encontra-se na esfera de competência
penal da Justiça Comum, federal ou local a depender do caso.
Ainda que praticado por membro das Forças Armadas ou por integrante
da Polícia Militar não será julgado pela Justiça Militar por falta de competência
material.
Quanto à ação penal, o crime de tortura trata-se de ação penal pública incon-
dicionada.
A inércia do Ministério Público autorizará a propositura da ação penal privada
subsidiária, nos termos dos arts. 29 do Código Penal e art. 5º, LIX, da Constitui-
ção Federal
Dessa forma, o dever do Estado de investigar, processar e julgar possíveis atos
cometidos por um torturador independe da vontade da vítima.
A tortura é crime material, pois se consuma no momento em que o intenso
sofrimento é causado à vítima. O dolo do agente está na vontade livre e cons-
ciente de torturar.
Se houver eventual resultado posterior, como lesão ou morte, a própria lei
dará tratamento especial.
Quanto ao bem jurídico tutelado, nos crimes de tortura-persecutória ou tor-
tura-prova, tortura-crime ou tortura-racismo, os bens jurídicos protegidos são a
integridade corporal e a saúde física e psicológica das pessoas.
No caso de prática de crime por agente público, tutela-se, secundariamente,
a Administração Pública, traída em seus objetivos de legalidade, impessoalidade,
moralidade e eficiência.
Importa destacar que, a tortura-persecutória ou tortura-prova, nada mais é
que torturar alguém para obter uma confissão ou informação relevante. A tor-
64 Legislação Penal Especial
tura-crime é aquela em que o torturador pratica o ato visando que sua vítima
cometa um crime, na tortura-racismo o agressor obriga sua vítima a praticar atos
de racismo.
Exercício
29. Julgue o item a seguir.
Tortura praticada em quartel, por policial militar, será julgada pela Justiça
Militar.
Exercício
30. Julgue o item a seguir.
Ofensas verbais, independentemente do contexto e intensidade, não podem
ser consideradas como forma de tortura, por incompatibilidade com o ele-
mento subjetivo do crime de tortura.
Exercício
31. Julgue o item a seguir.
Em nome da verdade real, prova obtida por tortura poderá ser, em tese,
admitida. Tal relativização tem fundamento no princípio pas de nullité sans
grief.
A tortura castigo é aquela em que ocorre a submissão de alguém, que esteja sob
a guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a
intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou
medida de caráter preventivo.
Para as condutas mencionadas, segundo a Lei nº 9.455/97 haverá a punição
com pena de reclusão, de dois a oito anos.
A tortura castigo se diferencia das demais espécies de tortura tipificadas na Lei
de Tortura, para tanto, deverá a vítima ser submetida a intenso sofrimento físico
ou mental.
Ao contrário das demais espécies de tortura, a tortura castigo trata-se de
crime próprio, pois somente poderá ser cometido por quem possua autoridade,
guarda ou poder sobre a vítima, ou seja, pelo pai, tutor, curador, diretor ou fun-
cionário de hospital ou de colégio.
O sujeito passivo deste crime poderá ser apenas a pessoa que esteja sob a guar-
da de autoridade, por exemplo, o filho, o tutelado, o curatelado ou o internado.
O crime de maus-tratos, por sua vez previsto no art. 136 do Código Penal
não se confunde com o crime de tortura. Para a determinação entre uma e outra
Legislação Penal Especial 67
Exercício
32. Julgue o item a seguir.
Se o sofrimento físico não for intenso, não poderá ser tipificado o crime de
tortura.
Responde pela figura privilegiada, aquele que se omitiu na apuração dos fa-
tos, sendo o indivíduo que, tomando conhecimento após o cometimento da tor-
tura, nada fez para esclarecer a verdade e punir os culpados.
Quanto ao indivíduo que presenciou a tortura mas nada fez, aderindo à con-
duta principal dos demais torturadores, mediante dolo direto ou eventual, a solu-
ção será responsabilizá-lo pelo mesmo crime do qual participou com a sua omis-
são. (Concurso de Pessoas)
Porém, segundo a corrente mais garantista, se houver um crime previsto com
pena menor para a conduta praticada, o torturador responderá pela figura privi-
legiada, segundo o princípio da legalidade.
Exercício
33. Julgue o item a seguir.
Se o omitente se omitiu culposamente, não poderá responder nem pelo
crime principal, nem pela forma privilegiada de tortura, pois não existe par-
ticipação culposa em crime doloso.
Exercício
34. Julgue o item a seguir.
Delitos preterdolosos não podem ser qualificados, por força da culpa penal
em relação ao resultado delitivo.
O Estatuto do idoso informa que o indivíduo para ser considerado como tal,
deverá ter mais de 60 anos, mas para todos os efeitos, 60 anos completos já de-
termina a condição de idoso.
Na Lei de Tortura, o crime de sequestro é aquele em que ocorre a privação
da liberdade com a intenção de torturar a vítima, o que demonstra alto grau de
reprovação das condutas.
Essa previsão não se confunde com o disposto no art. 148 do Código Penal,
nessa hipótese, o dolo era sequestrar e em razão desse ato resultou grave sofri-
mento físico ou moral à vítima.
Exercício
35. Julgue o item a seguir.
O reconhecimento da causa de aumento de pena do crime de tortura, pra-
ticado por agente público, depende, para a sua configuração, da relação
entre a tortura e a função do agente.
Exercício
36. A perda da função pública de policial militar é condicionada a julgamento
posterior pelo Tribunal de Justiça Militar (TJM) estadual ou nos Tribunais de
Justiça, onde aqueles não existirem. Verdadeiro ou falso?
Exercício
37. A tortura, crime grave que atinge a dignidade humana, é imprescritível e
inafiançável. Verdadeiro ou falso?
A lei brasileira pode ser usada para processar e punir os torturadores que
agem fora do País.
A questão da extradição do condenado é outra discussão de direito interna-
cional público.
O art. 7º do CP já traz a extraterritorialidade; o que há é uma lei especial
tratando de um crime específico com hipótese de extraterritorialidade especial. A
primeira parte (crime de tortura praticado no estrangeiro sendo a vítima brasilei-
ra) se refere a uma hipótese de extraterritorialidade incondicionada.
Não é preciso mais nenhuma outra condição para punir o torturador de um
brasileiro fora do Brasil, basta que o sujeito pratique o crime de tortura nos ter-
mos da legalidade dos crimes brasileiros.
Por sua vez, a segunda parte (crime de tortura praticado no estrangeiro en-
contrando-se o agente em local sob jurisdição brasileira) se trata de hipótese de
extraterritorialidade incondicionada para alguns autores (Guilherme Nucci, Ga-
briel Habib) e condicionada para outros (Fernando Capez, Marcelo André).
A condição não está prevista na lei de tortura, nem no Código Penal, mas em
duas convenções sobre tortura:
– Convenção Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desu-
manas ou Degradantes (art. 12); e
– Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura (art. 5º).
A lei será aplicada caso não haja extradição. Isto quer dizer que, se for caso de
extradição, não incidirá a lei do país em que o agente se encontrar.
Se for caso de extradição da pessoa que torturou, não será aplicada a lei do
país em que o agente se encontrar.
A tortura praticada sob jurisdição do Brasil fora do Brasil é condicionada, em
virtude das Convenções.
Exercício
38. O Brasil pode processar e condenar aqui, no Brasil, um polonês que torturou
um chinês em embaixada brasileira na África do Sul. Verdadeiro ou falso?
Capítulo 7
Abuso de Autoridade –
Lei nº 4.898/65
1. Abuso de Autoridade
Exercício
39. O direito de representação será exercido por meio de petição dirigida à au-
toridade superior que tiver competência legal para aplicar a lei penal. Verda-
deiro ou falso?
Exercício
40. Julgue o seguinte item:
Pratica uma das condutas previstas nos arts. 3º e 4º da Lei nº 4.989/65 a
autoridade que esteja fora de suas funções e, ainda assim, invoque essa
condição ao praticar o abuso.
76 Legislação Penal Especial
Agora, serão abordados os crimes em espécie na lei dos crimes de abuso de au-
toridade.
“Art. 3º: Constitui abuso de autoridade qualquer atentado:
a) à liberdade de locomoção: todas as pessoas têm o direito de ir, vir e ficar,
garantido pelo habeas corpus. Não pratica este crime a autoridade que age nos
estritos limites da lei (exemplo: policial que prende sujeito cometendo crime em
flagrante), porque aí não haverá ilicitude.
b) à inviolabilidade do domicílio: o domicílio só poderá ser violado quando
alguém estiver praticando um crime no interior da residência ou se houver ordem
judicial (nestes casos não haverá o crime de abuso de autoridade).
c) ao sigilo da correspondência: somente poderá a autoridade violar o sigilo
da correspondência nos casos de remessas enviadas a presos. Se um particular
violar a correspondência, não praticará abuso de autoridade, mas sim o crime
previsto no CP.
d) à liberdade de consciência e de crença: o Brasil é um estado laico, de modo
que todas as crenças são protegidas igualmente.
e) ao livre exercício do culto religioso: é exemplo de abuso de autoridade por
esta alínea o diretor do presídio que proíbe aos presos cultos de uma determinada
religião.
f) à liberdade de associação: exceto as associações de caráter paramilitar (ve-
dadas pela Constituição), as demais associações são protegidas pela lei de abuso
de autoridade.”
Exercício
41. Julgue a seguinte afirmativa:
O agente público que impede excessos de associação contra a violência
atenta contra a liberdade de associação e pratica abuso de autoridade.
Legislação Penal Especial 77
Exercício
42. Julgue a seguinte afirmativa:
O mesário pratica abuso de autoridade ao impedir um eleitor bêbado de
votar.
Exercício
43. Julgue a seguinte afirmativa:
Delegado que mantém preso temporariamente um suspeito além do prazo
legal comete abuso de autoridade.
Legislação Penal Especial 79
Exercício
44. Julgue a seguinte afirmativa:
As penas da lei de abuso de autoridade foram revogadas pela parte geral do
Código Penal de 1984, mostrando-se inaplicáveis.
80 Legislação Penal Especial
Exercício
45. Julgue a seguinte afirmativa:
Tenente da Polícia Militar, fardado, que usa arma da corporação para subme-
ter pessoa sob sua custódia a constrangimento não autorizado por lei será
julgado pela Justiça Militar.
Capítulo 8
Portador de Deficiência –
Lei nº 7.853/89
Exercício
46. Julgue a seguinte afirmativa:
O legislador escolheu, dentre outras, a tutela penal para assegurar a obser-
vância dos direitos das pessoas portadoras de deficiência.
Exercício
47. Julgue a seguinte afirmativa:
(TJ/PI – Juiz de Direito – Cespe) Os crimes contra portadores de deficiência
são punidos com pena de detenção e multa, sendo cabível a substituição da
pena privativa pela restritiva de direitos.
Capítulo 9
Estatuto do Índio –
Lei nº 6.001/73
A Lei nº 6.001/73 veio para trazer as populações indígenas para uma harmoniosa
integração total. Aos índios, aplicam-se as leis do país, resguardados os usos,
costumes e tradições indígenas, bem como as condições peculiares reconhecidas
na Lei.
No art. 2º, temos os direitos dos índios, e o dever dos Estados e dos Municí-
pios, bem como aos órgãos das respectivas administrações indiretas, nos limites
de sua competência em efetivar os direitos dos índios:
– estender aos índios os benefícios da legislação comum;
– prestar assistência aos índios e às comunidades indígenas ainda não inte-
grados à comunhão nacional;
– respeitar, ao proporcionar meios para o seu desenvolvimento, as peculiari-
dades inerentes à sua condição;
– assegurar a possibilidade de livre escolha dos seus meios de vida e subsis-
tência;
– garantir a permanência voluntária no seu habitat, proporcionando-lhes ali
recursos para seu desenvolvimento e progresso;
– respeitar, no processo de integração à comunhão nacional, a coesão das co-
munidades indígenas, os seus valores culturais, tradições, usos e costumes;
– executar, sempre que possível mediante a colaboração dos índios, os pro-
gramas e projetos tendentes a beneficiar as comunidades indígenas;
– utilizar a cooperação, o espírito de iniciativa e as qualidades pessoais do
índio, tendo em vista a melhoria de suas condições de vida e a sua integra-
ção no processo de desenvolvimento;
84 Legislação Penal Especial
Exercício
48. Julgue a seguinte afirmativa:
Índio é todo indivíduo de origem e ascendência pré-colombiana que se iden-
tifica e é identificado como pertencente a um grupo étnico cujas caracterís-
ticas culturais o distinguem da sociedade nacional.
Ainda constitui crime contra os índios, propiciar por qualquer meio, a aqui-
sição, o uso e a disseminação de bebidas alcoólicas, nos grupos tribais ou entre
índios não integrados.
No art. 59, da Lei nº 6.001/73, a pena será agravada de um terço no caso de
crime contra a pessoa, o patrimônio ou os costumes, em que o ofendido seja o
índio não integrado ou comunidade indígena.
Aqui tem-se uma causa de aumento de pena para todos os crimes contra a
pessoa humana ou contra a dignidade sexual do índio.
Exercício
49. Julgue a seguinte afirmativa:
Diretor da Funai que subtrai objetos de dentro da habitação de silvícola terá
sua pena atenuada, por fazer parte do círculo de confiança da comunidade
indígena.
Capítulo 10
Lei Maria da Penha
(Lei nº 11.340/06)
Exercício
50. Sobre a Lei nº 11.340/06 (Lei Maria da Penha), que criou mecanismos para
coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher, é correto
afirmar:
a) A prisão preventiva do acusado passou a ser obrigatória, com a inclusão
do inciso IV ao art. 313 do Código de Processo Penal, que estabelece as
hipóteses em que se admite a sua decretação.
b) Diversas medidas cautelares foram previstas, sob a denominação de
“medidas protetivas de urgência que obrigam o agressor”, permitin-
do ao magistrado a utilização imediata de instrumentos cíveis e penais
contra o acusado, alternativa ou cumulativamente.
c) O juiz competente para apuração do delito praticado contra a mulher
deverá, quando for o caso, oficiar imediatamente ao juízo cível para a
adoção de medidas consideradas urgentes, como a separação de cor-
pos e a prestação de alimentos provisionais ou provisórios.
d) As medidas restritivas de direito previstas na lei, como a proibição de
frequentar determinados lugares, têm caráter de pena e, portanto, só
podem ser aplicadas pelo juiz ao final do procedimento.
Exercício
51 A Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) resguarda os direitos da mulher con-
tra a violência doméstica e familiar. No plano processual, pode-se afirmar que:
a) Possui rito especial, previsto na Lei nº 11.340.
b) Possui rito especial que será utilizado, em todo o País, apenas nos casos
em que a vítima for do gênero feminino.
c) Proíbe a concessão de fiança ou liberdade provisória, quando qualquer
infração penal for praticada contra a mulher.
90 Legislação Penal Especial
A Lei Maria da Penha tem uma peculiaridade, pois é destinada à proteção das
mulheres. Tudo o que está previsto nesta lei serve para a proteção de mulheres,
fato que é constitucional.
Fórmula: violência + vulnerabilidade + mulher = aplicação da Lei Maria da
Penha. Assim, para que se aplique a lei aqui estudada é importante que se
tenha a violência, as situações de vulnerabilidade e que a vítima seja do sexo
feminino.
Há cinco espécies de violência: física, sexual, psicológica, patrimonial e moral.
A violência psicológica está presente, por exemplo, no crime de ameaça.
Já a violência moral atinge a moral da mulher, como no crime de injúria, por
exemplo.
Quanto às situações de vulnerabilidade, há três hipóteses. A primeira é o am-
biente doméstico (critério espacial). O segundo critério é o da relação familiar
(critério de parentesco). A terceira hipótese é chamada de relação íntima de afeto.
É preciso entender que “ficar” não caracteriza a situação de vulnerabilidade,
tendo sido o fato decidido pelo STJ.
Ainda, faz-se necessário observar que a relação íntima de afeto dispensa a
coabitação.
Outro ponto importante é que a mulher possui proteção, ainda que o sujeito
seja ex-namorado.
Em relação à empregada doméstica, nota-se que não há relação íntima de
afeto, mas existe o âmbito doméstico. Assim, a empregada doméstica está prote-
gida contra a violência de seu patrão ou de um terceiro no ambiente doméstico.
Exercício
52. Não constitui forma de violência contra a mulher:
a) Violência física.
b) Violência sexual.
c) Violência cultural.
d) Violência patrimonial.
Legislação Penal Especial 91
No momento em que a lei foi criada, segundo as estatísticas, a grande vítima era
a mulher. Assim, como o homem é exceção, já estaria protegido pelo Código
Penal. Contudo, a prática demonstrou que o homem também pode ser vítima
em relações íntimas de afeto. Desta forma, em alguns casos, o Poder Judiciário
aplicou trechos da Lei Maria da Penha para proteção do homem, ressaltando-se
que esta não é a regra.
O transexual é aquele que nasce com uma personalidade diferente do corpo
que carrega, sendo realizadas cirurgias para alterar o sexo. No caso do transexual,
a jurisprudência entendeu que há proteção, uma vez que juridicamente trata-se
de mulher.
Quanto à empregada doméstica, esta também está protegida pela lei aqui
estudada, conforme julgado do STJ.
Ainda, a lei protege a vítima mulher, não necessitando que o agressor seja do
sexo masculino.
Conforme visto anteriormente, a ex-namorada também se encontra protegida
pela Lei Maria da Penha.
Faz-se necessário entender, ainda, que em se tratando de casal de namoradas
(homossexualismo), há incidência da proteção da lei. Isso, porque não há distin-
ção de orientação sexual. Observe-se, no entanto, que em se tratando de casal
homossexual masculino, não há aplicação da lei.
Capítulo 11
Genocídio – Lei nº 2.889/56
Exercício
53. Analise a seguinte assertiva como verdadeira ou falsa:
O genocídio tentado é crime hediondo, nos termos do parágrafo único do
art. 1º da Lei nº 8.072/1990.
Exercício
54. O crime de genocídio exige elemento subjetivo específico.
Capítulo 12
Racismo
2. Arts. 3º, 5º, 6º, 7º, 8º, 9º, 10, 11, 12, 13 e 14 da
Lei nº 7.716/1989
A Lei nº 7.802/89 foi criada para proteger o meio ambiente e a saúde humana.
Dispõe sobre a experimentação, a produção, a embalagem e rotulagem, o trans-
porte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utiliza-
ção, a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o
registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos,
seus componentes e afins.
O conceito de agrotóxicos consta do art. 2º da lei.
O Brasil bateu o recorde de consumo de agrotóxicos no ano de 2009, mas en-
tenda que o crime não está no uso dos agrotóxicos, mas sim na utilização contra
as regulamentações legais.
As figuras típicas estão nos arts. 15 e 16 da lei.
“Art. 15. Aquele que produzir, comercializar, transportar, aplicar, prestar ser-
viço, der destinação a resíduos e embalagens vazias de agrotóxicos, seus compo-
nentes e afins, em descumprimento às exigências estabelecidas na legislação per-
tinente estará sujeito à pena de reclusão, de dois a quatro anos, além de multa.”
Este artigo apresenta algumas condutas que podem ou não serem rotulados
como figuras típicas, a depender do elemento normativo do tipo: “em descum-
primento às exigências estabelecidas na legislação pertinente.” Trata-se de norma
penal em branco, pois este artigo não traz o regramento completo para a confi-
guração do crime. Assim, quando o agente pratica qualquer um dos verbos do
tipo desrespeitando a legislação respectiva, pratica o crime, e está sujeito à pena
de 2 a 4 anos (não cabe suspensão do processo, mas cabe substituição por pena
restritiva de direito).
100 Legislação Penal Especial
Exercício
55. Prestador de serviço contratado para aplicar agrotóxico que, após a aplica-
ção do produto, descarta as embalagens vazias do produto em região desa-
bitada não pratica crime, pois a ausência de pessoas impede a consumação
do delito.
Capítulo 14
Lei das Contravenções
Penais – Decreto-Lei
nº 3.688/41
1. Introdução
As penas são:
I – prisão simples.
II – multa.
A prisão simples deve ser cumprida sem rigor penitenciário, em regime semia-
berto ou aberto.
O condenado à pena de prisão simples fica sempre separado dos condenados
à pena de reclusão ou de detenção.
Ainda, o trabalho para quem for condenado definitivamente por contraven-
ção penal é facultativo. Todavia, se a pena passa de quinze dias, o trabalho passa
a ser obrigatório.
O art. 21 do Código Penal fala do erro de proibição, que significa o desconhe-
cimento de que aquele ato é proibido pelo Direito. O juiz analisa no caso concreto
se aquela pessoa não tinha como conhecer a lei. Caso o juiz entenda desta forma,
afasta-se a culpabilidade.
No caso de ignorância ou de errada compreensão da lei, quando escusáveis,
a pena pode deixar de ser aplicada.
Pode ser notado que aqui há uma exclusão de punibilidade e não de culpa-
bilidade.
A multa converte-se em prisão simples, de acordo com o que dispõe o Código
Penal sobre a conversão de multa em detenção.
Ocorre que desde 1996, o sistema de descumprimento de multa se tornar
cadeia não existe mais. O que acontece hoje é que em caso de não pagamento
da multa, converte-se em dívida de valor, vai para a Procuradoria da Fazenda e o
sujeito sofre uma Execução Fiscal.
O Código Penal dispõe que o máximo que um indivíduo pode permanecer
preso no Brasil é 30 anos. Já na lei aqui estudada, o prazo máximo é de cinco
anos. Dispõe o art. 10:
“A duração da pena de prisão simples não pode, em caso algum, ser superior
a cinco anos, nem a importância das multas ultrapassar cinquenta contos.”
Desde que reunidas as condições legais, o juiz pode suspender por tempo não
inferior a um ano nem superior a três, a execução da pena de prisão simples, bem
como conceder livramento condicional.
4. Reincidência
A contravenção penal é uma infração penal que atinge um bem jurídico menos
importante de forma menos grave.
O STF, no Recurso Extraordinário nº 583.523, entendeu que uma das contra-
venções não foi recepcionada pela Constituição Federal.
A não recepção ocorre quando uma lei aprovada (válida e vigente) antes da
Constituição Federal de 1988 é incompatível com o texto constitucional.
De forma diversa, se uma lei foi aprovada depois de 1988 e em seu contexto há
algo que contrarie o texto constitucional, esta lei será considerada inconstitucional.
Legislação Penal Especial 107
“Art. 25. Ter alguém em seu poder, depois de condenado, por crime de furto
ou roubo, ou enquanto sujeito à liberdade vigiada ou quando conhecido como
vadio ou mendigo, gazuas, chaves falsas ou alteradas ou instrumentos emprega-
dos usualmente na prática de crime de furto, desde que não prove destinação
legítima:
Pena – prisão simples, de dois meses a um ano, e multa de duzentos mil réis
a dois contos de réis.”
Tal dispositivo foi declarado como não recebido pela ordem constitucional,
pois a declaração do STF tem eficácia retroativa.
É preciso observar que há ainda outras contravenções penais referentes ao
patrimônio.
“Art. 24. Fabricar, ceder ou vender gazua ou instrumento empregado usual-
mente na prática de crime de furto:
Pena – prisão simples, de seis meses a dois anos, e multa, de trezentos mil réis
a três contos de réis.”
“Art. 26. Abrir alguém, no exercício de profissão de serralheiro ou oficio aná-
logo, a pedido ou por incumbência de pessoa de cuja legitimidade não se tenha
certificado previamente, fechadura ou qualquer outro aparelho destinado à de-
fesa de lugar nu objeto:
Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de duzentos mil
réis a um conto de réis.”
“Art. 39. Participar de associação de mais de cinco pessoas, que se reúnam pe-
riodicamente, sob compromisso de ocultar à autoridade a existência, objetivo,
organização ou administração da associação:
Pena – prisão simples, de um a seis meses, ou multa, de trezentos mil réis a
três contos de réis.”
É possível perceber aqui o caráter inquisitório desta tipificação.
A primeira ressalva que deve ser feita é que este dispositivo é parcialmente
inconstitucional, pois a Constituição Federal traz que é livre e plena a liberdade de
associação. Neste sentido, sobraram no art. 39 as associações constituídas para
fins ilícitos ou de caráter paramilitar.
Ainda, o dispositivo traz o número de mais de cinco pessoas, ou seja, pelo
menos seis pessoas. O dispositivo traz também o requisito da periodicidade.
“Art. 40. Provocar tumulto ou portar-se de modo inconveniente ou desres-
peitoso, em solenidade ou ato oficial, em assembleia ou espetáculo público, se o
fato não constitui infração penal mais grave;
Legislação Penal Especial 111
Pena – prisão simples, de quinze dias a seis meses, ou multa, de duzentos mil
réis a dois contos de réis.
Art. 41. Provocar alarma, anunciando desastre ou perigo inexistente, ou pra-
ticar qualquer ato capaz de produzir pânico ou tumulto:
Pena – prisão simples, de quinze dias a seis meses, ou multa, de duzentos mil
réis a dois contos de réis.”
Tal contravenção entrou aqui por conta de trotes que causavam pânico ou
tumulto na população. Exemplo: sujeito pega um rádio amador e divulga que a
sociedade está sendo atacada por alienígenas, fazendo com que várias pessoas
se suicidem.
“Art. 42. Perturbar alguém o trabalho ou o sossego alheios:
I – com gritaria ou algazarra;
II – exercendo profissão incômoda ou ruidosa, em desacordo com as prescri-
ções legais;
III – abusando de instrumentos sonoros ou sinais acústicos;
IV – provocando ou não procurando impedir barulho produzido por animal de
que tem a guarda:
Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de duzentos mil
réis a dois contos de réis.”
Faz-se necessário entender aqui que o dispositivo traz a palavra “alheios”.
Desta forma, caso haja uma só vítima, não há que se falar nesta contravenção
penal, sendo este inclusive o entendimento do STF.
“Art. 47. Exercer profissão ou atividade econômica ou anunciar que a exerce, sem
preencher as condições a que por lei está subordinado o seu exercício.
Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de quinhentos
mil réis a cinco contos de réis.”
Uma primeira corrente entende que se o sujeito exerce profissão ou atividade
econômica, significa que uma única ação praticada não é considerada contraven-
ção. No entanto, uma segunda corrente entende que basta a prática de um só
ato para caracterizar esta contravenção.
Legislação Penal Especial 113
Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de duzentos mil
réis a dois contos de réis.
Parágrafo único. Se habitual a embriaguez, o contraventor é internado em
casa de custódia e tratamento.
Art. 63. Servir bebidas alcoólicas:
I – a menor de 18 anos;
II – a quem se acha em estado de embriaguez;
III – a pessoa que o agente sabe sofrer das faculdades mentais;
IV – a pessoa que o agente sabe estar judicialmente proibida de frequentar
lugares onde se consome bebida de tal natureza:
Pena – prisão simples, de dois meses a um ano, ou multa, de quinhentos mil
réis a cinco contos de réis.”
É preciso observar aqui que o inciso I trata de menor de 18 anos, porém hoje
existe crime disposto no ECA.
O art. 64 trata da questão da crueldade ou trabalho excessivo em relação
aos animais. Estas condutas eram consideradas contravenções penais até 1998,
todavia a partir do referido ano há crimes ambientais cuidando desta hipótese.
“Art. 65. Molestar alguém ou perturbar-lhe a tranquilidade, por acinte ou por
motivo reprovável:
Pena – prisão simples, de quinze dias a dois meses, ou multa, de duzentos mil
réis a dois contos de réis.”
Quanto às contravenções referentes à Administração Pública, há a omissão da
notificação compulsória.
O art. 67 trata da inumação ou exumação de cadáver, pois para fazê-lo é
preciso de autorização judicial.
“Art. 68. Recusar à autoridade, quando por esta, justificadamente solicitados
ou exigidos, dados ou indicações concernentes à própria identidade, estado, pro-
fissão, domicílio e residência:
Pena – multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.
Parágrafo único. Incorre na pena de prisão simples, de um a seis meses, e
multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis, se o fato não constitui infração
penal mais grave, quem, nas mesmas circunstâncias, faz declarações inverídicas
a respeito de sua identidade pessoal, estado, profissão, domicílio e residência.”
“Art. 70. Praticar qualquer ato que importe violação do monopólio postal da
União:
Pena – prisão simples, de três meses a um ano, ou multa, de três a dez contos
de réis, ou ambas cumulativamente.”
Capítulo 15
Crimes contra a Ordem
Tributária – Lei nº 8.137/1990
1. Competência
A Lei nº 8.137/1990 é a lei que criminaliza condutas que atingem a ordem tribu-
tária.
Cumpre observar que tributo é gênero, que engloba as espécies, quais sejam
os impostos, as taxas, as contribuições de melhoria, as contribuições sociais e os
empréstimos compulsórios.
O art. 3º do Código Tributário Nacional dispõe:
“Art. 3º Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo
valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em
lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada.”
Os tributos possuem características diferentes e o valor vai para entidades
diversas, a depender do tributo cobrado.
Quando o crime contra a ordem tributária for relacionado a tributos federais,
a competência para julgamento será da Justiça Federal. Se o tributo não for fede-
ral, a competência será da Justiça Estadual.
Nos crimes definidos nos arts. 1º e 2º da Lei nº 8.137/1990, o sujeito ativo
será o contribuinte.
No art. 3º, que trata dos crimes funcionais de sonegação fiscal, o criminoso é
o funcionário público que, por sua vez, tem seu conceito no art. 327 do Código
Penal.
O sujeito passivo nos crimes contra a ordem tributária é o Estado (União, Es-
tados, Distrito Federal e Municípios).
É preciso observar que há crimes contra a ordem tributária previstos no Códi-
go Penal, que serão estudados posteriormente.
Legislação Penal Especial 117
2. Súmula Vinculante nº 24
Primeiro, é preciso esclarecer que o art. 1º e seus incisos I a IV trazem crimes ma-
teriais contra a ordem tributária.
Os crimes formais são aqueles que não exigem o esgotamento da via adminis-
trativa, já que a simples prática da conduta consuma o delito.
O art. 1º e seus incisos I a V, da lei ora estudada, dispõem:
“Art. 1º Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo,
ou contribuição social e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas:
I – omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias;
II – fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos, ou omitindo
operação de qualquer natureza, em documento ou livro exigido pela lei fiscal;
III – falsificar ou alterar nota fiscal, fatura, duplicata, nota de venda, ou qual-
quer outro documento relativo à operação tributável;
118 Legislação Penal Especial
4. Crimes Funcionais
Inicialmente, é preciso entender que crimes funcionais são crimes praticados por
funcionários públicos e aqui atingem o bem jurídico “ordem tributária”.
Dispõe o art. 3º da Lei nº 8.137/1990:
“Art. 3º Constitui crime funcional contra a ordem tributária, além dos previs-
tos no Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal (Título
XI, Capítulo I):
I – extraviar livro oficial, processo fiscal ou qualquer documento, de que tenha
a guarda em razão da função; sonegá-lo, ou inutilizá-lo, total ou parcialmente,
acarretando pagamento indevido ou inexato de tributo ou contribuição social;
Legislação Penal Especial 119
5. Princípio da Insignificância
1. Lavagem de Capitais
por exemplo, que o efeito é automático, não precisando ser proclamado na de-
cisão condenatória. Isso porque não há, ao contrário do que se prevê no art. 92,
parágrafo único, do CP, regra nesse sentido.
Em sentido contrário, José Geraldo da Silva, Paulo Rogério Bonini e Wilson
Lavorenti referem que os aludidos efeitos não são automáticos, necessitando de
declaração fundamentada na sentença sobre a sua aplicação e extensão.
Isso, porque o inc. I traz ressalva a direito do lesado ou de terceiro de boa-fé,
o que somente autoriza a aplicação do efeito secundário após o afastamento de
tal ressalva. Além disso, o inc. II, ao tratar de interdição específica, depende da
análise concreta se o exercício do cargo ou da função pública, ou ainda do cargo
de diretor, membro de conselho de administração ou de gerência das pessoas
jurídicas referidas no art. 9º teve alguma influência concreta na ocorrência do
crime. Afirma-se que, se o exercício de tais funções não guarda nenhuma relação
com o crime de lavagem, seria totalmente ilegal a extensão dos efeitos da pena
para relações jurídicas públicas e privadas do réu, configurando verdadeira res-
ponsabilidade penal objetiva.
Exercício
56. (Cespe – 2009 – PC-PB – Delegado de Polícia) – Assinale a opção correta com
base na legislação sobre os crimes de lavagem de dinheiro:
a) O processo e o julgamento dos crimes de lavagem de dinheiro depen-
dem do processo e do julgamento dos crimes antecedentes, a menos
que praticados em outro país.
b) Compete à justiça estadual processar e julgar os crimes de lavagem de
dinheiro, se o crime antecedente for de competência da justiça federal.
c) Os crimes de lavagem de dinheiro são insuscetíveis de anistia, graça e
fiança, não podendo o réu apelar em liberdade.
d) A tentativa é punida com a mesma pena do crime consumado.
e) No caso de delação premiada prevista na lei, presentes os requisitos, a
pena deve ser reduzida de um a dois terços e começa a ser cumprida
em regime aberto, podendo o juiz deixar de aplicá-la ou substituí-la por
pena restritiva de direitos.
Capítulo 17
Crimes contra o Sistema
Financeiro Nacional –
Lei nº 7.492/86
Instituição Financeira, para efeitos desta lei, é a pessoa jurídica de direito público
ou privado, que tenha como atividade principal ou acessória a captação, interme-
diação ou aplicação de recursos financeiros de terceiros, em moeda nacional ou
estrangeira, ou a custódia, emissão, distribuição, negociação, intermediação ou
administração de valores mobiliários.
É possível perceber que não é só a instituição financeira tutelada pela lei, mas
o Sistema Financeiro.
Legislação Penal Especial 125
I – falsos ou falsificados;
II – sem registro prévio de emissão junto à autoridade competente, em condi-
ções divergentes das constantes do registro ou irregularmente registrados;
III – sem lastro ou garantia suficientes, nos termos da legislação;
IV – sem autorização prévia da autoridade competente, quando legalmente
exigida:
Pena – Reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa.”
Os crimes de gestão temerária e gestão fraudulenta estão previstos nesta lei,
no art. 4º. Gestão fraudulenta é uma fraude, uma mentira, o sujeito está men-
tindo no momento em que está gerindo um banco. Assim, há prática de atos
ordinários desempenhando as funções, mas de forma mentirosa. Já na gestão
temerária o sujeito age de forma arriscada.
É preciso entender que no caso da ação penal que recebeu o nome de “men-
salão”, os réus foram condenados por gestão fraudulenta.
5. Do Aspecto Procedimental
O art. 25 traz as pessoas que podem responder por esta lei, os penalmente res-
ponsáveis, conforme visto anteriormente.
O § 2º do referido dispositivo trata de delação premiada, contendo a seguinte
redação:
128 Legislação Penal Especial
“Art. 33. Na fixação da pena de multa relativa aos crimes previstos nesta lei, o
limite a que se refere o § 1º do art. 49 do CP, aprovado pelo Decreto-lei nº 2.848,
de 7 de dezembro de 1940, pode ser estendido até o décuplo, se verificada a
situação nele cogitada.
Exercício
57. Assinale verdadeiro ou falso: O crime de gestão temerária e o crime de ges-
tão fraudulenta não podem ser aplicados na prática, pois ferem o princípio
da legalidade.
Capítulo 18
Crimes da Lei de Licitações –
Lei nº 8.666/93
Exercício
58. Governador que é definitivamente condenado pela prática de crime da Lei
nº 8.666/93 tem seu mandato suspenso por 365 dias.
Exercício
59. Pratica crime quem fraudar o caráter competitivo do procedimento licitató-
rio, mesmo sem o intuito de obter, vantagem decorrente da adjudicação do
objeto da licitação. Verdadeiro ou falso?
132 Legislação Penal Especial
“O art. 95 dispõe que afastar ou procurar afastar licitante, por meio de violência,
grave ameaça, fraude ou oferecimento de vantagem de qualquer tipo incorre em
pena de detenção de 2 a 4 anos e multa além da pena correspondente à violên-
cia. Incorre na mesma pena quem se abstém ou desiste de licitar em razão de
vantagem pecuniária oferecida.
O art. 96 dispõe que fraudar em prejuízo da Fazenda Pública, licitação instau-
rada para aquisição ou venda de bens ou mercadorias ou contrato dela decorren-
te, incorre em pena de detenção de 3 a 6 anos e multa.
O art. 97 dispõe que admitir à licitação ou celebrar contrato com empresa ou
profissional declarado inidôneo incorre em pena de detenção de seis meses a dois
anos e multa. Incide na mesma pena aquele que, declarado inidôneo, venha a
licitar ou a contratar com a Administração.
O art. 98 dispõe que obstar, impedir ou dificultar injustamente, a inscrição
de qualquer interessado nos registros cadastrais ou promover indevidamente a
alteração, suspensão ou cancelamento de registro do inscrito, incorre em pena de
detenção de 6 meses a 2 anos e multa.”
Os crimes são de ação penal pública incondicionada, ou seja, é o MP que ofe-
rece a denúncia, não tendo em regra queixa-crime e não precisa de representação
do ofendido para o Estado atuar. Será admitida ação penal privada, se a pública
não for intentada no prazo legal no que couber as regras do CPP.
Ao receber a denúncia cita-o para apresentar defesa em 10 dias, e depois
ouvidas as testemunhas, praticadas as diligências tem cinco dias para alegações
finais. Conclusos os autos para o juiz em 10 dias proferir a sentença que caberá
apelação no prazo de cinco dias.
Exercício
60. A inação da acusação viabiliza o oferecimento de queixa-crime para os deli-
tos contra as licitações previstos na Lei nº 8.666/93. Verdadeiro ou falso?
Capítulo 19
Crimes Falimentares –
Lei nº 11.101/05
Exercício
61. Divulgar em rede social informação falsa sobre o devedor em recuperação
judicial, com o fim de levá-lo à falência configura crime falencial.
A Lei de Falências, em seu art. 172 prevê a pena de reclusão de dois a cinco anos,
e multa para os que, à prática anterior ou posterior da sentença que decreta a
falência, concede a recuperação judicial ou homologa plano de recuperação ex-
trajudicial, ato de disposição ou oneração patrimonial ou gerador de obrigação,
destinado ao favorecimento de um ou mais credores em prejuízo dos demais.
Nas mesmas penas incorre o credor que, em conluio, possa beneficiar-se de
ato previsto no art. 172, por exemplo, um credor que tem seu crédito quirografá-
rio transformado em crédito especial.
O art. 173 estabelece a pena de reclusão de dois a quatro anos, e multa para
aqueles que se apropriam, desviam ou ocultam bens pertencentes ao devedor
sob recuperação judicial ou à massa falida, inclusive por meio da aquisição por
interposta pessoa.
Na mesma pena do artigo anterior incorre aquele que, adquirir, receber ou
usar ilicitamente, bem que sabe pertencer à massa falida ou influir para que ter-
ceiro de boa-fé, o adquira, receba ou use, nos termos do art. 174.
O art. 175 trata da habilitação ilegal de crédito para aquele que apresentar,
em falência, recuperação judicial ou extrajudicial, relação de créditos, habilitação
de créditos ou reclamações falsas, ou juntas a elas título falso ou simulado. Nesse
caso, a pena será de reclusão, de dois a quatro anos, e multa.
Legislação Penal Especial 135
Na hipótese ora tratada, existem indivíduos que forjam uma duplicata ou ou-
tro título, como uma nota promissória e se habilitam no processo de recuperação,
na tentativa de tirar proveito de forma ilegal daquela empresa.
Configura crime previsto no art. 176 exercer atividade para a qual foi inabi-
litado ou incapacitado por decisão judicial, com reclusão de um a quatro anos e
multa.
Exercício
62. Se o promotor de justiça que atuou no processo de falência adquirir bens de
devedor em recuperação judicial pratica crime falencial.
Exercício
63. Julgue o seguinte item:
A decretação da falência do devedor suspende a prescrição cuja contagem
tenha iniciado com a concessão da recuperação judicial.
O art. 183, da Lei nº 11.101/05 dispõe que a competência será do juiz criminal da
jurisdição onde tenha sido decretada a falência, concedida a recuperação judicial
ou homologado o plano de recuperação extrajudicial.
Antes da lei de 2005, a competência para processar e julgar crimes fali-
mentares era do juiz da falência, sendo aquele juiz de natureza comercial que
acumulava competências, nessa época, o inquérito era judicial e não inquérito
policial.
De acordo com art. 184 da Lei Falimentar, os crimes serão de ação penal
pública incondicionada, ou seja, aquela que não necessita que o Estado aguarde
qualquer tipo de providência, por parte das vítimas do crime.
Se o Ministério Público perder o prazo para oferecer a denúncia, será admi-
tido que qualquer credor habilitado ou administrador judicial o faça mediante
ação penal privada subsidiária da pública, observado o prazo decadencial de seis
meses.
O art. 185 da referida Lei estabelece que recebida a denúncia ou queixa,
observar-se-á o rito previsto nos arts. 531 a 540 do Decreto-lei nº 3.689, de 3 de
outubro de 1941, sendo o rito comum sumário.
O art. 186 estabelece que, no relatório feito pelo administrador judicial e apre-
sentado ao juiz da falência a exposição circunstanciada, considerando as causas
da falência, o procedimento do devedor, antes e depois da sentença, e outras
informações detalhadas a respeito da conduta do devedor e de outros responsá-
veis, por atos que possam constituir crime relacionado com a recuperação judicial
ou com a falência, ou outro delito conexo a estes.
Legislação Penal Especial 137
Exercício
64. Julgue o seguinte item:
Por força de expressa previsão legal, o rito para apurar todos os crimes falen-
ciais será o sumário, previsto nos arts. 531 a 540 do CPP.
Capítulo 20
Crimes Ambientais –
Lei nº 9.605/98
A lei dos crimes ambientais é uma lei importante, porque tem muitas especifici-
dades diferentes do que em regra ocorre no Direito Penal.
A CF, em seu Capítulo VI, já cita a legitimidade da responsabilidade penal
da pessoa jurídica em crimes ambientais. Este é, aliás, o único tipo de crime que
pode ser praticado por pessoa jurídica. É aplicada, aqui, a teoria da dupla impu-
tação (sempre que o processo por crime ambiental for imputado a uma empresa,
deve constar no polo passivo da relação jurídica uma pessoa física).
No art. 225 da CF tem-se uma diretriz para a proteção do meio ambiente,
para as gerações presente e futuras.
Na Lei nº 9.605/98 há as sanções penais e administrativas das condutas lesivas
ao meio ambiente.
O conceito de meio ambiente está na Lei nº 6.938/91: É o conjunto de con-
dições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que
permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.
Voltando ao tema da responsabilidade penal da pessoa jurídica ou ente moral,
ou ente coletivo, tem-se a previsão na lei dos crimes ambientais, no art. 3º:
“As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmen-
te, conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por
decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no
interesse ou benefício da sua entidade.”
Legislação Penal Especial 139
Tem-se, portanto, que a conduta tenha sido realizada por decisão dos repre-
sentantes legais ou contratuais da empresa, e em favor da empresa. Neste caso,
a pessoa física e jurídica serão responsabilizadas em conjunto, porque, de acordo
com o parágrafo único, a responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das
pessoas físicas.
O REsp nº 546.960 é um julgado de suma importância, pois permite a imputa-
ção de crime às pessoas jurídicas. Recomenda-se a leitura do acórdão.
Exercício
65. A responsabilidade penal da pessoa jurídica é viável no sistema brasileiro por
força da dupla imputação feita ao ente moral e à pessoa física.
Exercício
66. O baixo grau de instrução do agente delitivo de um crime ambiental justifica
a isenção de pena, diante da complexidade intelectual dos crimes contra o
meio ambiente.
A Lei nº 9.605 traz um número grande de situações de fato que elevam a pena-
-base dos crimes ambientais, em caso de condenação.
Se qualquer das situações de fato, previstas nas alíneas do art. 15, figurarem
como causas de aumento de pena ou circunstâncias qualificadoras específicas,
não será possível aumentar a pena valendo-se do art. 15, sob pena de bis in idem.
A primeira circunstância agravante segue a regra do Código Penal: “I – re-
incidência nos crimes de natureza ambiental.” Importante frisar que apenas a
reincidência específica em crimes ambientais permite o aumento da pena em
processo que apura a infração ambiental praticada após o trânsito em julgado do
processo anterior.
Em segundo lugar, há o rol taxativo do inciso II.
Legislação Penal Especial 141
Tais situações fáticas justificam o aumento da sanção penal por força da di-
ficuldade ou redução da capacidade de fiscalização ambiental do Poder Público,
como nos domingos, feriados ou período noturno.
No tocante à suspensão condicional do processo, há algumas peculiaridades
no sursis para crimes ambientais.
O art. 16 traz outro patamar de pena permissiva para o sursis, diferente do
art. 77 do CP: condenação à pena privativa de liberdade não superior a três anos.
Além de não ter o sursis revogado, nos crimes ambientais ainda se exige do
agente verificação de reparação do dano, mediante laudo de reparação do dano
ambiental e acompanhamento do cumprimento das condições fixadas pelo ma-
gistrado. O próprio juiz, ao condenar o agente por crime ambiental, sempre que
possível, fixará o valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração,
considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido ou pelo meio ambiente. O CPP,
em 2008, adaptou-se a essa realidade determinando ao juiz que fixe o valor míni-
mo de indenização para a vítima quando o crime possuir repercussão patrimonial.
Exercício
67. O regime jurídico da suspensão condicional da pena, nos crimes ambientais,
segue a regra geral do Código Penal acrescido das alterações no prazo de
duração do período de prova.
Lei nº 9.099/95, somente poderá ser formulada desde que tenha havido a prévia
composição do dano ambiental, de que trata o art. 74 da mesma lei, salvo em
caso de comprovada impossibilidade.
Seguindo, no art. 28 há a suspensão condicional do processo, que funcionará
com algumas diferenças:
– a declaração de extinção da punibilidade dependerá do laudo de consta-
tação de reparação dos danos ambientais, salvo quando impossível;
– se o laudo comprovar que a reparação não foi completa, o prazo de sus-
pensão do processo será prorrogado até a total reparação, suspendendo-
-se também o prazo da prescrição.
– no período de prorrogação não se aplicam as condições normais do sursis
processual da Lei nº 9.099.
– findo o prazo de prorrogação, será feito um novo laudo de constatação de
reparação. Não tendo sido reparado, será novamente prorrogado.
– a declaração de extinção da punibilidade, depois de findo o prazo máxi-
mo, dependerá da comprovação de que tudo o que podia ter sido feito
para a reparação foi feito.
Exercício
68. Sem o laudo de constatação que comprove ter o acusado tomado as provi-
dências necessárias à reparação integral do dano, a extinção de punibilidade
não será reconhecida judicialmente.
Exercício
69. Os crimes contra a fauna tutelam tanto os animais silvestres quanto domés-
ticos ou domesticados.
Exercício
70. No caso de guarda doméstica de espécie silvestre não considerada ameaça-
da de extinção, pode o juiz, considerando as circunstâncias, deixar de aplicar
a pena.
Exercício
71. A extração de plantas aquáticas de um rio deve ser entendida, nos termos da
Lei nº 9.605/98, como ato de pesca.
Exercício
72. O dia da semana utilizado pelo agente para praticar um crime contra a flora
pode interferir na individualização da pena.
Incorre nas mesmas penas do crime acima citado quem vende, expõe à venda,
tem em depósito, transporta ou guarda madeira, lenha, carvão e outros produtos
de origem vegetal, sem licença válida para todo o tempo da viagem ou do arma-
zenamento, outorgada pela autoridade competente.
No art. 48 temos o crime cometido por quem impede ou dificulta, de qual-
quer forma, a regeneração natural de florestas ou demais formas de vegetação.
Já no art.49, tem-se que é crime destruir, danificar, lesar ou maltratar, por
qualquer modo ou meio, plantas de ornamentação de logradouros públicos ou
em propriedade privada alheia. Este crime prevê a modalidade culposa.
Exercício
73. Soltar balões que sobem apenas com a força do vento não é crime, sendo
um indiferente penal.
Exercício
74. O ato de reciclar embalagens colabora com o meio ambiente, não podendo,
em nenhum caso, ser considerado conduta criminosa.
Só será crime se os atos de poluição forem praticados em níveis tais que resultem
ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade
de animais ou a destruição significativa da flora. Fora desses casos, não existirá o
crime de poluição. Admite-se a modalidade culposa, com a poluição sendo prati-
cada violando o dever objetivo de cuidado que se espera de todos.
Se o ato de poluir tornar uma área, urbana ou rural, imprópria para a ocu-
pação humana; ou provoque a retirada, ainda que momentânea, dos habitantes
das áreas afetadas, ou que cause danos diretos à saúde da população com po-
luição atmosférica; se causar poluição hídrica que torne necessária a interrupção
do abastecimento público de água de uma comunidade ou mesmo dificulte ou
impeça o uso público das praias; se a poluição ocorrer por lançamento de resí-
duos sólidos, líquidos ou gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias oleosas, em
desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou regulamentos, tem-se, para
todos esses casos, uma reprimenda de reclusão, de um a cinco anos.
A negligência diante de determinação da autoridade competente, em adotar
medidas de precaução em caso de risco de dano ambiental grave ou irreversível,
também será considerada conduta criminosa pela lei.
Como último tipo penal a ser estudado nessa unidade, tem-se as condutas de
construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar, em qualquer parte do ter-
ritório nacional, estabelecimentos, obras ou serviços potencialmente poluidores,
sem licença ou autorização dos órgãos ambientais competentes, ou contrariando
as normas legais e regulamentares pertinentes. Atente-se que a elementar típica
Legislação Penal Especial 149
Exercício
75. Arremessar cascas de laranja pela janela do ônibus, em avenida movimenta-
da de uma cidade, é crime de poluição.
Exercício
76. Considere a assertiva como correta ou incorreta: Toda pichação é criminosa.
O art. 66 da Lei nº 9.605/98 dispõe que será considerado crime contra a adminis-
tração ambiental, fazer o funcionário público afirmação falsa ou enganosa, omitir
a verdade, sonegar informações ou dados técnico-científicos em procedimentos
de autorização ou de licenciamento ambiental.
Também será considerado crime com detenção, de um a três anos, e multa
a concessão por funcionário público de licença, autorização ou permissão em
desacordo com as normas ambientais, para as atividades, obras ou serviços cuja
realização depende de ato autorizativo do Poder Público.
Se o crime for praticado na modalidade culposa, a pena aplicada será de três
meses a um ano de detenção, sem prejuízo da multa, nos termos do art. 67, pa-
rágrafo único, da Lei nº 9.605/98.
O art. 68 estabelece a pena de detenção, de um a três anos e multa ao fun-
cionário que deixar de cumprir o dever legal ou contratual de relevante interesse
ambiental, sem prejuízo de multa, sendo na modalidade culposa, a pena aplicada
será de três meses a um ano.
O art. 69 dispõe sobre o funcionário que obstar ou dificultar a ação fiscaliza-
dora do Poder Público no trato de questões ambientais terá a previsão de pena
de detenção, de um a três anos, e multa.
O art. 69, letra “a”, prevê a pena de reclusão, de três a seis anos, e multa para
a elaboração ou apresentação, no licenciamento, concessão florestal ou qualquer
outro procedimento administrativo, estudo, laudo ou relatório ambiental total ou
parcialmente falso ou enganoso, inclusive por omissão.
Essa pena será aumentada de um terço a dois terços, em caso de dano signifi-
cativo ao meio ambiente, em decorrência do uso da informação falsa, incompleta
ou enganosa.
Legislação Penal Especial 151
Exercício
77. A concessão, por funcionário público, de licença, autorização ou permissão
em desacordo com as normas ambientais, para as atividades, obras ou servi-
ços cuja realização depende de ato autorizativo do Poder Público, admite a
modalidade culposa.
Capítulo 21
Interceptação de
Comunicações Telefônicas
(Lei nº 9.296/96)
Por fim, a gravação ambiental é feita por um dos comunicadores, uma das
pessoas da conversa.
Observe-se que a lei trata especificamente da interceptação telefônica e da
escuta telefônica.
A interceptação das comunicações telefônicas é uma medida cautelar, que
pode ser preparatória ou incidental, destinada a produzir prova a ser utilizada em
ação penal, com autorização judicial e de forma subsidiária.
Há seis requisitos para que haja as interceptações telefônicas que devem ser
observados.
Primeiro, somente pode ocorrer interceptação telefônica para fins criminais.
O segundo requisito é que são necessários indícios razoáveis de autoria ou
participação em infração penal.
O terceiro requisito é a indispensabilidade da prova, ou seja, somente se pode
pedir interceptação quando não houver outro meio de conseguir a informação
necessária.
O quarto é que sejam crimes, infração penal, punidos com reclusão. Assim,
caso a punição seja detenção, não há que se falar em interceptação telefônica.
O quinto requisito é que se indique o crime que está sendo praticado e a pes-
soa que será interceptada.
Por fim, o último requisito é que haja ordem do juiz competente para a ação
penal.
Desta forma, presentes todos os requisitos, é possível interceptar uma comu-
nicação telefônica.
Ainda, de acordo com o disposto na Lei nº 9.296/96, é admissível interceptar
qualquer tipo de comunicação, ou seja, não necessariamente a telefônica. Exem-
plo: computador.
Em relação aos prazos, quando o juiz recebe um pedido de interceptação
telefônica, terá 24 horas para decidir. Se o juiz descumprir a lei, poderá sofrer
penalidades disciplinares.
Indaga-se por quanto tempo o Estado pode escutar as conversas ao tele-
fone. A lei dispõe que são 15 dias, prorrogável uma vez se provada extrema
necessidade. No entanto, há interceptações que duram até mesmo dois anos.
154 Legislação Penal Especial
Sendo concedida pelo juiz a ordem para interceptação telefônica, tal ordem irá
para quem fez o requerimento do pedido (Delegado de Polícia ou Ministério Pú-
blico), que por sua vez requisita os serviços técnicos às concessionárias do serviço
público.
Dispõe a Súmula Vinculante nº 14: “É direito do defensor, no interesse do
representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados
em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia
judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.”
Observe-se que a interceptação telefônica é um apenso, uma vez que deve
ser sigiloso.
O sigilo e a juntada posterior não prejudicam o contraditório e a ampla defesa,
pois neste caso o contraditório é diferido, ou seja, postergado no tempo.
Caso nada seja encontrado, depois de realizada a interceptação telefônica, o
material deverá ser destruído. Sendo parcial a destruição, é obrigatória manifes-
tação prévia da defesa.
Outro importante tema que deve ser estudado é o encontro fortuito. Sobre
este assunto, entende a jurisprudência que poderá ser usada como prova a in-
terceptação em relação ao novo crime ou criminoso descoberto fortuitamente,
quando houver conexão ou continência com o fato investigado.
Ainda, é preciso que se diferenciem as conversas dos dados telefônicos. Con-
versa telefônica é o conteúdo do que é falado ao telefone e dado telefônico seria
o número do telefone, o horário, para quem ligou e a duração da chamada.
A interceptação da conversa telefônica somente se dará com autorização do
juiz, porém, quanto aos dados telefônicos não é necessária autorização judicial.
4. Considerações Finais
matéria tenha sido trabalhada por algum juiz em instâncias inferiores, sob pena
de supressão de instância.
Outro ponto relevante é que, ao interceptar-se uma conversa telefônica, des-
cobre-se que um crime está acontecendo, é possível que o sujeito seja preso em
flagrante.
Sabe-se que a Constituição Federal garante ao sujeito o direito de se calar.
Sobre este tema, foi decidido que não há violação ao direito ao silêncio, ou seja,
é possível interceptar conversas telefônicas nos limites da lei aqui estudada e isso
não significa violação ao direito ao silêncio. Isso, porque o direito ao silêncio é
exercido depois de feita uma acusação formal.
Em relação ao segredo de justiça e a interceptação telefônica, há duas espé-
cies de segredo de justiça: contra o investigado durante a interceptação telefônica
e contra terceiros após a juntada aos autos.
O art. 10 da Lei nº 9.296/96 cuida de um interessante crime, dispondo em
sua redação:
“Art. 10. Constitui crime realizar interceptação de comunicações telefônicas,
de informática ou telemática, ou quebrar segredo da Justiça, sem autorização
judicial ou com objetivos não autorizados em lei.
Pena: reclusão, de dois a quatro anos, e multa.”
Nota-se que o bem jurídico tutelado neste crime é o sigilo das comunicações
telefônicas. Trata-se de um crime de dupla subjetividade passiva, ou seja, há duas
vítimas, obrigatoriamente.
Exercício
78. Sobre o crime do art. 10 da Lei de Interceptação Telefônica:
a) É de dupla subjetividade passiva.
b) Não admite excludente.
c) É imprescritível.
d) Caiu em desuso pela adequação social.
Capítulo 22
Lei de Execução Penal
(Lei nº 7.210/84)
Por fim, a Súmula nº 192 do STJ dispõe: “Compete ao Juízo das Execuções
Penais do Estado a execução das penas impostas a sentenciados pela Justiça Fe-
deral, Militar ou Eleitoral, quando recolhidos a estabelecimentos sujeitos à admi-
nistração estadual.”
Inicialmente, é preciso observar que preso provisório, aquele que ainda não foi
condenado, mas está preso processualmente, tem direito de votar. Neste sentido,
somente uma condenação criminal transitada em julgado consegue suspender os
direitos políticos pelo tempo que durar o cumprimento da pena.
O art. 15, III, da Constituição da República dispõe:
“Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão
só se dará nos casos de:
(...)
III – condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus
efeitos;”
Quanto ao egresso, estabelece o art. 26 da Lei de Execução Penal:
“Art. 26. Considera-se egresso para os efeitos desta Lei:
I – o liberado definitivo, pelo prazo de 1 (um) ano a contar da saída do esta-
belecimento;
II – o liberado condicional, durante o período de prova.”
O art. 25 traz a seguinte redação:
“Art. 25. A assistência ao egresso consiste:
I – na orientação e apoio para reintegrá-lo à vida em liberdade;
II – na concessão, se necessário, de alojamento e alimentação, em estabeleci-
mento adequado, pelo prazo de 2 (dois) meses.
Parágrafo único. O prazo estabelecido no inciso II poderá ser prorrogado uma
única vez, comprovado, por declaração do assistente social, o empenho na ob-
tenção de emprego.”
O art. 27 do mesmo diploma legal estabelece:
“Art. 27. O serviço de assistência social colaborará com o egresso para a ob-
tenção de trabalho.”
Legislação Penal Especial 159
4. Trabalho do Preso
A Lei de Execução determina que o preso deva trabalhar, porém, muitos presos
não trabalham porque o Estado não oferece vagas de trabalho dentro do presídio.
É possível observar que o trabalho é um dever legal, mas na prática acaba
sendo um prêmio. Isso, porque o preso que consegue trabalhar, a cada três dias
trabalhados tem um dia da pena descontado.
Ressalte-se que o trabalho do condenado possui duas finalidades: educativa
e produtiva.
Obviamente, as regras de segurança e higiene estão presentes neste trabalho,
mas a primeira exceção é que o preso não é celetista, ou seja, ninguém assinará
sua carteira de trabalho. Neste sentido, os direitos do trabalho previstos na CLT
não são aplicáveis ao preso.
Ainda, todos que trabalham no país ganham, no mínimo, um salário-mínimo.
Todavia, o preso ganha abaixo do salário mínimo, pois receberá 3/4 do salário
mínimo federal.
A quantia recebida a título de salário vai para uma conta judicial denominada
pecúlio. Pecúlio é o dinheiro do preso e que sobra depois de ser paga a inde-
nização da vítima. Assim, o dinheiro vai para indenização dos danos causados,
assistência à família e pequenas despesas pessoais.
O produto da remuneração pelo trabalho deverá atender ao ressarcimento ao
Estado das despesas realizadas com a manutenção do condenado.
Sobre o trabalho interno, o preso definitivo está obrigado a trabalhar. O pre-
so provisório não está obrigado a trabalhar, se quiser ficar ocioso durante a
prisão processual poderá fazê-lo. No mesmo sentido, o preso político não tem
esta obrigação.
O § 1º do art. 32 da LEP dispõe: “Deverá ser limitado, tanto quanto possível,
o artesanato sem expressão econômica, salvo nas regiões de turismo.”
Quanto à jornada de trabalho, esta não será inferior a seis horas e no máximo
oito horas por dia.
O trabalho externo ocorre quando o preso mora no presídio, mas pode traba-
lhar fora dele (autorização para trabalho externo).
a este regime. É grave, pois o sujeito permanecerá sozinho por 360 dias. Se o juiz
entender que não foi suficiente esta punição, poderá prorrogar por mais 360 dias.
O § 2º do art. 52 dispõe: “§ 2º Estará igualmente sujeito ao regime disciplinar
diferenciado o preso provisório ou o condenado sob o qual recaiam fundadas
suspeitas de envolvimento ou participação, a qualquer título, em organizações
criminosas, quadrilha ou bando.”
6. Benefícios do Preso
7. Monitoração Eletrônica
9. Estabelecimentos Penais
Uma informação importante é que quando a pessoa é acometida por uma doen-
ça mental durante o cumprimento de sua pena, se esta doença for curável, o
sujeito será tratado e volta a cumprir sua pena normalmente. Se a doença for de
difícil cura, o juiz converte a pena privativa de liberdade em medida de segurança
e a pessoa é deslocada da penitenciária para o manicômio judiciário.
Quanto aos regimes para cumprir a pena, há três regimes: fechado, semia-
berto e aberto.
A Lei de Execução Penal traz em seu art. 112 a progressão de regime, conten-
do a seguinte redação:
Legislação Penal Especial 165
I – visita à família;
II – frequência a curso supletivo profissionalizante, bem como de instrução do
2º grau ou superior, na Comarca do Juízo da Execução;
III – participação em atividades que concorram para o retorno ao convívio
social.”
O parágrafo único do referido artigo traz a seguinte redação:
“Parágrafo único. A ausência de vigilância direta não impede a utilização de
equipamento de monitoração eletrônica pelo condenado, quando assim determi-
nar o juiz da execução.”
O art. 123 do mesmo diploma legal traz o seguinte texto, dispondo acerca
dos requisitos:
“Art. 123. A autorização será concedida por ato motivado do Juiz da execu-
ção, ouvidos o Ministério Público e a administração penitenciária e dependerá da
satisfação dos seguintes requisitos:
I – comportamento adequado;
II – cumprimento mínimo de 1/6 (um sexto) da pena, se o condenado for pri-
mário, e 1/4 (um quarto), se reincidente;
III – compatibilidade do benefício com os objetivos da pena.”
Observe-se que é preciso que o sujeito esteja em regime semiaberto, tenha
comportamento adequado, tenha cumprido pelo menos 1/6 da pena se for pri-
mário e 1/4 se for reincidente e que haja compatibilidade do benefício com os
objetivos da pena.
O prazo de saída, de acordo com a lei, é de sete dias, no máximo, podendo
ser renovada a saída por mais quatro vezes durante o ano.
O art. 124, § 1º traz algumas condições:
“§ 1º Ao conceder a saída temporária, o juiz imporá ao beneficiário as seguin-
tes condições, entre outras que entender compatíveis com as circunstâncias do
caso e a situação pessoal do condenado:
I – fornecimento do endereço onde reside a família a ser visitada ou onde
poderá ser encontrado durante o gozo do benefício;
II – recolhimento à residência visitada, no período noturno;
III – proibição de frequentar bares, casas noturnas e estabelecimentos con-
gêneres.”
Exercícios
79. A Lei de Execução Penal é regida pelos seguintes princípios, exceto:
a) Ampla defesa.
b) Contraditório.
c) Jurisdição.
d) Presunção de inocência.
80. São pedidos possíveis na fase de Execução Penal, exceto:
a) Progressão de regime.
b) Pena no mínimo legal.
c) Remição da pena.
d) Saída temporária.
Capítulo 23
Lei de Crimes contra o
Consumidor – Lei nº 8.078/90
Exercício
81. O crime de omissão de sinais ostensivos de perigo admite a modalidade
culposa.
Exercício
82. Publicidade enganosa e abusiva não são condutas idênticas, entretanto, pos-
suem a mesma consequência no plano criminal.
Exercício
83. Afonso, comerciante, somou as dívidas de seu cliente e criou a seção – calo-
teiro do mês. Foi preso por crime contra o consumidor. Agiu certo a polícia.
Art. 75. Quem, de qualquer forma, concorrer para os crimes referidos neste
código, incide nas penas a esses cominadas na medida de sua culpabilidade, bem
como o diretor, administrador ou gerente da pessoa jurídica que promover, per-
mitir ou por qualquer modo aprovar o fornecimento, oferta, exposição à venda
ou manutenção em depósito de produtos ou a oferta e prestação de serviços nas
condições por ele proibidas.
Art. 76. São circunstâncias agravantes dos crimes tipificados neste código:
I – serem cometidos em época de grave crise econômica ou por ocasião de
calamidade;
II – ocasionarem grave dano individual ou coletivo;
III – dissimular-se a natureza ilícita do procedimento;
IV – quando cometidos:
a) por servidor público, ou por pessoa cuja condição econômico-social seja
manifestamente superior à da vítima;
b) em detrimento de operário ou rurícola; de menor de 18 ou maior de 60
anos ou de pessoas portadoras de deficiência mental interditadas ou não;
V – serem praticados em operações que envolvam alimentos, medicamentos
ou quaisquer outros produtos ou serviços essenciais.
Art. 77. A pena pecuniária prevista nesta Seção será fixada em dias-multa,
correspondente ao mínimo e ao máximo de dias de duração da pena privativa da
liberdade cominada ao crime. Na individualização desta multa, o juiz observará o
disposto no art. 60, § 1º do Código Penal.
Art. 78. Além das penas privativas de liberdade e de multa, podem ser impos-
tas, cumulativa ou alternadamente, observado o disposto nos arts. 44 a 47, do
Código Penal:
I – a interdição temporária de direitos;
II – a publicação em órgãos de comunicação de grande circulação ou audiên-
cia, às expensas do condenado, de notícia sobre os fatos e a condenação;
III – a prestação de serviços à comunidade.
Art. 79. O valor da fiança, nas infrações de que trata este código, será fixado
pelo juiz, ou pela autoridade que presidir o inquérito, entre cem e duzentas mil
vezes o valor do Bônus do Tesouro Nacional (BTN), ou índice equivalente que
venha a substituí-lo.
Parágrafo único. Se assim recomendar a situação econômica do indiciado ou
réu, a fiança poderá ser:
a) reduzida até a metade do seu valor mínimo;
b) aumentada pelo juiz até 20 vezes.
Legislação Penal Especial 173
Art. 80. No processo penal atinente aos crimes previstos neste código, bem
como a outros crimes e contravenções que envolvam relações de consumo, po-
derão intervir, como assistentes do Ministério Público, os legitimados indicados no
art. 82, III e IV, aos quais também é facultado propor ação penal subsidiária, se a
denúncia não for oferecida no prazo legal.”
Exercício
84. A publicação em órgão de comunicação de grande circulação ou audiência,
às expensas do condenado, de notícia sobre os fatos e a condenação, tem
natureza jurídica de pena criminal.
Capítulo 24
Juizado Especial Criminal –
Lei nº 9.099/95
Exercício
85. Contravenção penal com pena máxima em abstrato de três anos não poderá
ser processada e julgada no JeCrim, por ultrapassar o conceito de infração
de menor potencial ofensivo. Verdadeiro ou Falso?
Exercício
86. Lesão corporal praticada em ambiente doméstico contra vítima mulher será
apurada mediante ação penal pública condicionada à representação da
ofendida.
176 Legislação Penal Especial
Aos crimes previstos no Estatuto do Idoso, cuja pena máxima privativa de liber-
dade não ultrapasse quatro anos, aplica-se o procedimento da Lei nº 9.099/95.
O Estatuto do Idoso não modificou o conceito de infração de menor potencial
ofensivo e o art. 94 não permitiu a implementação dos institutos despenalizado-
res da Lei nº 9.099/95, ou seja, composição civil e transação penal a crimes que
não sejam de pequena monta.
O julgado da ADIn nº 3.096, diz que o estatuto deve ser interpretado em favor
do idoso e não de quem lhe viole os direitos; assim, os infratores não terão acesso
a benefícios despenalizadores civil de danos ou conversão da pena. Aplicam-se as
normas estritamente processuais para que o processo termine mais rapidamente,
em benefício do idoso.
O objetivo da Lei nº 9.099/95 é de encerrar a persecução penal, antes mesmo
do processo, pois com o oferecimento da denúncia, o MP faz uma proposta de
transação.
O art. 63 dispõe que a competência do Juizado Especial será determinada
pelo lugar em que foi praticada a infração penal. De acordo com a Teoria da
Atividade, a infração penal de menor potencial ofensivo será considerada para
fins de competência, a do lugar em que foi praticada, ou seja, ação ou omissão.
A Teoria Mista dispõe que tanto faz o lugar da ação ou omissão quanto o local
do resultado para considerar a infração de menor potencial ofensivo.
Exercício
87. Existe compatibilidade entre a proposta de transação penal e o rito especial
do JeCrim, nos casos de crimes graves praticados contra os idosos, para a
sua especial proteção. Verdadeiro ou falso?
plano das nulidades é mais restrito, pois não se pronunciará qualquer nulidade
sem que tenha havido prejuízo.
Serão objeto de registro escrito exclusivamente os atos essenciais. Os atos
realizados em audiência de instrução e julgamento poderão ser gravados, em
caso de eventual recurso o Tribunal ou as Turmas recursais podem ter contato
com toda a audiência.
O art. 66 diz que a citação será pessoal e far-se-á no próprio Juizado sempre
que possível; caso não seja, será feita por Mandado ou Oficial de Justiça. Não
encontrado o acusado para ser citado, o Juiz encaminhará as peças existentes ao
Juízo comum para adoção do procedimento previsto em lei, para que a citação
do edital seja feita noutro Juízo.
O art. 67 dispõe que a intimação dá-se por correspondência, com aviso de
recebimento pessoal, ou se for pessoa jurídica, entrega-se para o encarregado
da recepção, que será obrigatoriamente identificado, ou sendo necessário oficial
de justiça, independentemente de mandado ou carta precatória, ou ainda por
qualquer meio idôneo de comunicação.
O art. 68 dispõe que do ato de intimação do autor do fato e do mandado de
citação do acusado, constará a necessidade de seu comparecimento acompanha-
do de advogado, com advertência de que, na sua falta, será a ele designado um
defensor público.
A nulidade ocorre caso não tenha advogado.
Exercício
88. Os princípios da informalidade e da simplicidade, regentes do rito comum
sumaríssimo do JeCrim, permitem o andamento do processo sem advogado
para o acusado. Verdadeiro ou falso?
Exercício
89. O inquérito policial, para apurar infrações penais de menor potencial ofensi-
vo, pode ser instaurado de forma simplificada. Verdadeiro ou falso?
A conciliação será conduzida pelo Juiz ou por conciliador sob sua orientação.
Existe a possibilidade de compor civilmente os danos causados à vítima, por isso
há a figura do conciliador.
Se for uma ação penal privada ou penal pública condicionada à representação
a composição civil dos danos acarreta a renúncia ao direito de representar e a
renúncia ao direito de queixa, ocasionando a extinção da punibilidade do agente.
Os conciliadores são auxiliares da Justiça, recrutados na forma de lei local,
preferencialmente entre bacharéis de direito, excluídos os que exerçam funções
na administração da Justiça Criminal.
Conciliação é gênero, composição civil dos danos (art. 74) e transação penal
(art. 76) são espécies de conciliação, sendo que a composição civil é feita entre
vítima e agressor e a transação penal acontece entre MP e agressor, também com
Legislação Penal Especial 179
Exercício
90. A composição civil dos danos em ação penal pública incondicionada acarreta
a extinção da punibilidade. Verdadeiro ou falso?
Exercício
91. Julgue o seguinte item:
Deve-se considerar a viabilidade de oferecimento verbal de queixa na ação
penal privada.
8. Transação Penal
Exercício
92. A proposta de transação penal desrespeita o devido processo legal, pois
impõe uma sanção criminal antes da existência do processo-crime.
Exercício
93. O descumprimento de transação penal homologada tem como consequên-
cia o oferecimento da denúncia por parte do Ministério Público.
Exercício
94. Julgue o seguinte item:
A denúncia será oferecida oralmente, já a queixa-crime precisará ser escrita,
por força da necessidade de capacidade postulatória de advogado com po-
deres especiais.
Não estando presente a vítima na audiência preliminar, será ela ou seu re-
presentante legal intimado, bem como as testemunhas arroladas pela vítima no
termo circunstanciado.
Exercício
95. É possível intimar uma testemunha por email no âmbito dos Juizados Espe-
ciais Criminais.
Exercício
96. A sentença no JeCrim não precisará ter relatório, mas a motivação é impres-
cindível sob pena de nulidade.
Exercício
97. Não cabe recurso especial contra decisão proferida, nos limites de sua com-
petência, por órgão de segundo grau dos Juizados Especiais (Súmula nº 203
do STJ).
186 Legislação Penal Especial
Exercício
98. Julgue o seguinte item:
Não efetuado o pagamento de multa, será feita a conversão em pena pri-
vativa da liberdade, por força do critério da especialidade do rito comum
sumaríssimo.
Legislação Penal Especial 187
Exercício
99. Lesão corporal praticada em ambiente doméstico, contra vítima mulher,
será apurada mediante ação penal pública condicionada à representação da
ofendida.
Exercício
100. No caso de expedição de carta precatória para os efeitos do art. 89 da Lei nº
9.099/95, compete ao juízo deprecante fixar as condições pessoais a serem
propostas ao acusado formuladas do Ministério Público.
Exercício
101. No caso da incidência de causa especial de aumento de pena, se a pena
mínima ultrapassar o limite legal, torna-se inadmissível a suspensão condi-
cional do processo.
Exercício
102. A suspensão do processo depende de decisão judicial expressa para suspen-
der, também, o prazo prescricional.
Capítulo 25
Lei de Proteção a Vítimas e
Testemunhas – Lei nº 9.807/99
Exercício
103. O requisito da situação de risco diz respeito tanto à vítima e testemunha,
quanto ao réu.
Exercício
104. O ingresso no programa de proteção poderá ser compulsório nos casos
previstos na lei.
Exercício
105. Julgue o seguinte item:
A escolta e segurança nos deslocamentos da residência integram as ações
do programa de proteção.
194 Legislação Penal Especial
Exercício
106. Julgue o seguinte item:
O programa de proteção às vítimas e testemunhas terá duração máxima de
dois anos, não admitindo prorrogação.
5. Delação Premiada
“Art. 13. Poderá o juiz, de ofício ou a requerimento das partes, conceder o per-
dão judicial e a consequente extinção da punibilidade ao acusado que, sendo
primário, tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e o
processo criminal, desde que dessa colaboração tenha resultado:
I – a identificação dos demais coautores ou partícipes da ação criminosa;
II – a localização da vítima com a sua integridade física preservada;
III – a recuperação total ou parcial do produto do crime.”
“Art. 15. Serão aplicadas em benefício do colaborador, na prisão ou fora dela,
medidas especiais de segurança e proteção a sua integridade física, considerando
ameaça ou coação eventual ou efetiva.
§ 1º Estando sob prisão temporária, preventiva ou em decorrência de flagran-
te delito, o colaborador será custodiado em dependência separada dos demais
presos.
§ 2º Durante a instrução criminal, poderá o juiz competente determinar em
favor do colaborador qualquer das medidas previstas no art. 8º desta Lei.
§ 3º No caso de cumprimento da pena em regime fechado, poderá o juiz
criminal determinar medidas especiais que proporcionem a segurança do colabo-
rador em relação aos demais apenados.”
Exercício
107. Julgue o seguinte item:
A delação premiada, na lei de proteção às testemunhas, é incompatível com
a prisão cautelar.
Capítulo 26
Lei de Prisão Temporária
(Lei nº 7.960/89)
Exercício
108. (Prova: FGV – 2010 – PC/AP – Delegado de Polícia) – Relativamente ao tema
prisão temporária, analise as afirmativas a seguir:
I. A prisão temporária será decretada pelo Juiz, em face da representação da
autoridade policial ou de requerimento do Ministério Público, e terá o prazo
de 5 (cinco) dias. A prorrogação dispensará nova decisão judicial, devendo,
entretanto, a autoridade policial colocar o preso imediatamente em liberda-
de findo o prazo da prorrogação.
Legislação Penal Especial 197
De acordo com o art. 2º, caput, da Lei da Prisão Temporária, o juiz não pode
decretá-la de ofício, fazendo-se necessário o requerimento do MP ou a represen-
tação do delegado de polícia. Aliás, o posicionamento hoje majoritário é que o
juiz, no curso da investigação criminal, não poderá decretar nenhuma modalida-
de de prisão de ofício, sendo necessário requerimento do MP ou representação
da autoridade policial. Esse posicionamento advém da nova redação dada pela Lei
nº 12.403/2011 ao art. 282 do CPP.
O prazo de prisão preventiva é de cinco dias, prorrogável por igual período em
caso de extrema e comprovada necessidade (art. 2º, caput, da Lei nº 7.960/89). Em
se tratando de crime hediondo, o prazo será de 30 dias, prorrogável por igual perío-
do em caso de extrema e comprovada necessidade (art. 2º, § 4º, da Lei nº 8.072/90).
Exercício
109. (Prova: FCC – 2009 – TJ-MS – Juiz de Direito) – A prisão temporária será
decretada pelo Juiz, em face:
a) Apenas de representação da autoridade policial, e terá prazo de cinco
dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada
necessidade.
b) Apenas de requerimento do Ministério Público, e terá prazo de cinco
dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada
necessidade.
198 Legislação Penal Especial
De acordo com o art. 2º, § 7º, da Lei nº 7.960/89, é possível que o juiz altere a
natureza da restrição cautelar. Admite-se, portanto, a decretação da prisão pre-
ventiva enquanto dura a prisão temporária, ou então após o término dessa prisão
temporária.
Conforme o art. 3º da Lei da Prisão Temporária, os presos temporários de-
verão permanecer, obrigatoriamente, separados dos demais detentos. A regra é
semelhante àquela prevista no art. 84 da LEP.
O art. 4º da Lei nº 7.960/89 criou mais um tipo penal na Lei nº 4.898: “pro-
longar a execução de prisão temporária, de pena ou de medida de segurança,
deixando de expedir em tempo oportuno ou de cumprir imediatamente ordem de
liberdade” (art. 4º, “i”, da Lei de Abuso de Autoridade).
Conforme o art. 5º da Lei nº 7.960/89, “Em todas as comarcas e seções ju-
diciárias haverá um plantão permanente de 24 horas do Poder Judiciário e do
Ministério Público para apreciação dos pedidos de prisão temporária”.
Exercício
110. (Prova: Cespe – 2009 – PC-PB – Delegado de Polícia) – Considerando a lei
que regulamenta a prisão temporária, assinale a opção correta:
a) Pode ser decretada a prisão temporária em qualquer fase do IP ou da
ação penal.
Legislação Penal Especial 199
1. Lei de Biossegurança
Exercício
111. Julgue o seguinte item:
Após a decisão do STF, na ADIn nº 3.510, o Brasil permite pesquisas com
clonagem humana, desde que tenham como objetivo final a melhoria da
saúde da população.
Órgão é um conjunto de tecidos que evoluiu para realizar uma determinada função.
Tecido é um conjunto de células especializadas, iguais ou diferentes entre si,
separadas ou não por líquidos e substâncias intercelulares, que realizam determi-
nada função num organismo multicelular.
A regulamentação normativa do transplante de órgãos encontra-se na Lei nº
9.434/97, no Decreto nº 2.268/97 e na Portaria nº 3.407/98.
Existem dois tipos de transplantes, o inter vivos e o post mortem.
Sobre o transplante inter vivos:
– O órgão deve ser doado, e não vendido;
– Órgão dúplice ou parcial com capacidade de regeneração;
– Menção expressa do doador e do receptor;
– Doador maior de 21 anos e o receptor deve ser cônjuge ou parente con-
sanguíneo até 4º grau.
– Receptor estranho só com autorização judicial.
– Menor de 21 anos pode ser doador de medula óssea, com consentimento
dos pais ou responsável e autorização judicial e o ato de não oferecer risco
à saúde.
– A gestante poderá ser doadora de medula óssea se não houver risco à
saúde.
202 Legislação Penal Especial
Em relação à doação post mortem, o doador deve respeitar a fila dos recepto-
res de órgãos para transplantes (salvo em caso de urgência, regulamentada pelo
art. 40 da Portaria nº 3.407/1998 – uma regulamentação médica específica para
cada órgão).
Exercício
112. O diagnóstico de coma permite, em tese, o transplante dos órgãos, como se
morto estivesse o paciente.
Exercício
113. Julgue o seguinte item:
Mobilizar a população de um bairro para angariar fundos para custear o
transplante de órgãos de pessoa determinada caracteriza crime da lei dos
transplantes.
Capítulo 28
Estatuto do Idoso –
Lei nº 10.741/03
Exercício
114. Julgue o seguinte item:
O idoso tem acesso à cultura com o benefício de não pagar para prestigiar
espetáculos de teatro cabendo ao estabelecimento reservar ao menos 5%
dos lugares para o exercício deste direito. Verdadeiro ou falso?
Pelo Estatuto do Idoso, os idosos são pessoas com idade igual ou superior a 60
anos e gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem
prejuízo da proteção integral de que trata esta lei, assegurando-lhe, por lei ou
por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para preservação da sua
saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social,
em condições de liberdade e dignidade.
O Sursis é a suspensão condicional da pena e é aplicada quando o agente é
condenado, mas a pena não é aplicada pois foi suspensa. São condições do sursis
para quem pratica crime contra idoso: pena privativa de liberdade, não superior
a quatro anos, poderá ser suspensa, por quatro a seis anos, desde que o conde-
nado seja maior de 70 anos de idade ou em razão de saúde que justifiquem a
suspensão.
O sursis comum prevê: pena máxima até dois anos, período de prova de dois
a quatro anos, entretanto, no sursis etário a pena máxima cominada até quatro
anos, o período de prova é de quatro a seis anos e o condenado deve ser maior
de 70 anos de idade ou possuir razões de saúde que justifiquem a suspensão.
Prescrição é a perda do direito de processar e de punir do Estado pela demora.
Prescrevem em metade do tempo os prazos quando no tempo do crime o agente
era menor de 21 anos ou na data da sentença era maior de 70 anos.
Crimes praticados contra o idoso cuja pena máxima não ultrapasse quatro
anos serão processados pelo rito do JeCrim, mas sem os benefícios previstos por
este rito, possibilitando o idoso ver o criminoso responder pelo crime mais rapi-
damente.
206 Legislação Penal Especial
Exercício
115. Julgue o seguinte item:
Nos crimes praticados contra os idosos por expressa previsão legal, se a
pena máxima for até quatro anos aplica-se a transação penal do art. 76 do
rito especial do JeCrim. Verdadeiro ou falso?
Exercício
116. Os idosos que não estão isentos do imposto de renda por força da idade
têm direito a fazer a declaração em primeiro lugar. Verdadeiro ou falso?
Capítulo 29
Lei de Trânsito
(Lei nº 9.503/97)
O art. 298 do Código de Trânsito Brasileiro traz um rol de circunstâncias que sem-
pre agravam as penalidades:
“Art. 298. São circunstâncias que sempre agravam as penalidades dos crimes
de trânsito ter o condutor do veículo cometido a infração:
I – com dano potencial para duas ou mais pessoas ou com grande risco de
grave dano patrimonial a terceiros;
II – utilizando o veículo sem placas, com placas falsas ou adulteradas;
III – sem possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação;
IV – com Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação de categoria dife-
rente da do veículo;
V – quando a sua profissão ou atividade exigir cuidados especiais com o trans-
porte de passageiros ou de carga;
Legislação Penal Especial 211
Exercício
117. A respeito dos crimes de trânsito, é correto afirmar:
a) Prova-se a embriaguez ao volante exclusivamente com aferição de 0,6 dg
de álcool por litro de sangue.
b) O homicídio no trânsito não é da competência do júri.
c) O valor da multa reparatória vai para o Fundo Penitenciário.
d) A suspensão da permissão para dirigir é pena autônoma.
Capítulo 30
Estatuto da Igualdade
Racial e Racismo
O art. 6º traz que o direito à saúde da população negra será garantido pelo poder
público mediante políticas universais, sociais e econômicas destinadas à redução
do risco de doenças e de outros agravos.
Dispõe o § 1º que o acesso universal e igualitário ao Sistema Único de Saúde
(SUS) para promoção, proteção e recuperação da saúde da população negra será
de responsabilidade dos órgãos e instituições públicas federais, estaduais, distri-
tais e municipais, da administração direta e indireta.
O § 2º estabelece que o poder público garantirá que o segmento da popula-
ção negra vinculado aos seguros privados de saúde seja tratado sem discriminação.
O art. 7º tem a seguinte redação:
“Art. 7º O conjunto de ações de saúde voltadas à população negra constitui
a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, organizada de acordo
com as diretrizes abaixo especificadas:
I – ampliação e fortalecimento da participação de lideranças dos movimentos
sociais em defesa da saúde da população negra nas instâncias de participação e
controle social do SUS;
II – produção de conhecimento científico e tecnológico em saúde da popula-
ção negra;
III – desenvolvimento de processos de informação, comunicação e educação
para contribuir com a redução das vulnerabilidades da população negra.”
O art. 8º traz os objetivos da Política Nacional de Saúde Integral da População
Negra:
“Art. 8º Constituem objetivos da Política Nacional de Saúde Integral da Po-
pulação Negra:
I – a promoção da saúde integral da população negra, priorizando a redução
das desigualdades étnicas e o combate à discriminação nas instituições e serviços
do SUS;
II – a melhoria da qualidade dos sistemas de informação do SUS no que tange
à coleta, ao processamento e à análise dos dados desagregados por cor, etnia e
gênero;
III – o fomento à realização de estudos e pesquisas sobre racismo e saúde da
população negra;
IV – a inclusão do conteúdo da saúde da população negra nos processos de
formação e educação permanente dos trabalhadores da saúde;
218 Legislação Penal Especial
manifesta, seja como esporte, luta, dança ou música, sendo livre o exercício em
todo o território nacional. Ainda, é facultado o ensino da capoeira nas instituições
públicas e privadas pelos capoeiristas e mestres tradicionais, pública e formalmen-
te reconhecidos.
7. Direito ao Trabalho
A população negra não possui um regramento jurídico só para eles, mas a preo-
cupação do Estatuto se dá no sentido da inclusão da população negra no merca-
do de trabalho.
O poder público promoverá ações que assegurem igualdade de oportunidade
no mercado de trabalho, por meio de medidas que implementem a promoção da
igualdade na contratação do setor público, por exemplo.
Neste sentido, é possível a criação de um concurso público em que parte dos
candidatos aprovados pertença à população negra.
Ressalta-se que as ações para que se possa nivelar a igualdade assegurarão o
princípio da proporcionalidade de gênero entre os beneficiários.
Será assegurado o acesso ao crédito para a pequena produção, nos meios
rural e urbano, com ações afirmativas para mulheres negras, nos termos do § 5º
do art. 39 deste diploma legal.
222 Legislação Penal Especial
8. Disposições Finais
Exercício
118. Assinale verdadeiro ou falso: Aos remanescentes das comunidades dos qui-
lombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade de-
finitiva, devendo o Estado emitir-lhes os respectivos títulos.
Legislação Penal Especial 223
Anotações
224 Legislação Penal Especial
Legislação Penal Especial 225
226 Legislação Penal Especial
Gabarito