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O texto da Lei Anticorrupção dispõe que as seguintes pessoas jurídicas, constituídas de fato ou
de direito, ainda que temporariamente, serão responsabilizadas objetivamente pelos atos
lesivos praticados em seu interesse ou benefício, exclusivo ou não:
A Lei Anticorrupção se aplica não somente a atos de corrupção, mas também a outras
condutas lesivas praticadas contra a Administração Pública, nacional ou estrangeira. Estão
sujeitas às sanções previstas na nova lei:
(iii) Sanções
As sanções previstas pela Lei Anticorrupção para as pessoas jurídicas infratoras são pesadas
e incluem:
Sanções administrativas:
No caso da multa, se não for possível utilizar o critério do valor do faturamento bruto da
pessoa jurídica, a multa será de R$ 6.000,00 a R$ 60.000.000,00.
Sanções judiciais:
Importante notar que, de acordo com o texto aprovado, a aplicação das sanções previstas na
Lei Anticorrupção não afeta os processos de responsabilização e aplicação de penalidades
decorrentes de violações à lei de improbidade administrativa (8.429/92) ou à lei de licitações
(8.666/93).
Responsabilidade objetiva:
A Lei Anticorrupção, ao tratar da aplicação das sanções, traz uma lista de fatores que serão
levados em consideração, tais como a gravidade da infração; a vantagem auferida ou
pretendida pelo infrator; a consumação ou não da infração; o grau de lesão, ou perigo de lesão;
o efeito negativo produzido pela infração; entre outros.
Especificamente, importante notar que a Lei Anticorrupção traz dois fatores que proporcionam
mudanças significativas à legislação anticorrupção brasileira.
Outro fator importante que será levado em consideração pelas autoridades na aplicação das
sanções é a "cooperação da pessoa jurídica para a apuração das infrações".
Tais dispositivos aproximam a legislação anticorrupção brasileira daquela adotada por outros
países, em especial pelos Estados Unidos e Reino Unido, ao reconhecer expressamente que
as empresas que tenham programas de compliance efetivos e que cooperem com as
autoridades na apuração de irregularidades deverão receber um tratamento diferenciado, mais
benéfico, no caso de violações.
Com relação à responsabilização judicial, essa deverá seguir o rito da ação civil pública (Lei nº
7.347/85).
A Lei Anticorrupção permite que a Administração Pública celebre acordo de leniência com as
pessoas jurídicas responsáveis pela prática dos atos lesivos nele previstos que colaborem
efetivamente com as investigações e o processo administrativo e que dessa colaboração
resulte: i) a identificação dos demais envolvidos na infração, quando couber; e ii) a obtenção
célere de informações e documentos que comprovem o ilícito sob apuração.
Importante notar que o texto da Lei Anticorrupção também prevê que a Administração Pública
poderá celebrar acordo de leniência com a pessoa jurídica responsável pela prática de ilícitos
previstos na Lei nº 8.666/93 (Lei de Licitações), com vistas à isenção ou atenuação das
sanções administrativas estabelecidas em seus artigos 86 a 88.
As empresas devem estar atentas aos impactos que serão trazidos pela lei. A fim de mitigar
riscos, listamos abaixo algumas áreas que merecem atenção:
a) Programas de compliance
Programas de compliance devem ser criados e revistos regularmente, com base na avaliação
das principais áreas de risco a que cada empresa está sujeita, variando de acordo com o
tamanho da empresa, valor e natureza das operações comerciais, localização das atividades e
negócios realizados (inclusive no exterior) e percepção de risco. Entretanto, a mera criação e
a revisão não bastam. É preciso difundir e aplicar tais programas dentro das empresa.
b) Treinamentos
Em preparação para a nova lei, as empresas devem investir em treinamentos para seus
funcionários (e até mesmo para terceiros que agem em seu nome perante a Administração
Pública) sobre as principais leis anticorrupção a ela aplicáveis, código de conduta, políticas e
procedimentos internos. Além de auxiliar na prevenção, os treinamentos serão importantes
pilares de um programa de compliance efetivo, na esteira de legislações adotadas em outros
países.
Ademais, como grande parte dos atos lesivos previstos no texto aprovado estão relacionados
a licitações e contratos públicos, para estar de acordo com a nova lei, é aconselhável que as
empresas intensifiquem treinamentos nessas áreas. Essa medida é importante, pois diversas
vezes, os funcionários das empresas acabam cometendo irregularidades até mesmo por
desconhecerem as regras ou não por não saberem como reagir diante de determinadas
situações.
Tendo em vista que as pessoas jurídicas poderão ser responsabilizadas pelos atos lesivos
previstos na nova lei, praticados em seu interesse ou benefício, exclusivo ou não, ainda que
cometido por quaisquer terceiros, é fundamental que as empresas tomem precauções
necessárias para garantir que tenham relações com parceiros idôneos. Neste contexto, a
realização de prévio e efetivo processo de due diligence anticorrupção específico em terceiros
é fator extremante importante para reduzir riscos.
No mesmo sentido, tendo em vista que operações de fusões e aquisições não extinguem a
responsabilidade pelos atos cometidos pela empresa sucedida ou adquirida, as empresas
devem estar atentas às implicações da lei no contexto de operações societárias (inclusive joint
ventures). Assim, além da due diligence regular normalmente realizada em tais operações -
que, via de regra, incluem revisão de aspectos tributários, trabalhistas, ambientais, etc. - as
empresas também devem realizar due diligence específica a fim de identificar a ocorrência de
eventuais atos lesivos previstos na Lei Anticorrupção.
d) Investigações internas
Para que a empresa esteja preparada para responder rapidamente a alegações de atos
lesivos, pode ser recomendável desenvolver procedimentos pré-aprovados e preestabelecidos
de investigações internas, incluindo protocolos gerais a serem seguidos nessas situações. É
importante, entretanto, que as empresas tenham cuidado na condução das investigações a fim
de garantir que ela tenha credibilidade e que não sejam cometidos abusos.
A tabela abaixo traz quadro comparativo entre os principais dispositivos do FCPA, UK Bribery
Act e a nova lei brasileira:
Corrupção de
funcionários públicos Sim Sim Sim
estrangeiros
Corrupção de
funcionários públicos Não Sim Sim
nacionais
Sim,
Alcance extraterritorial Sim Sim limitado à participação da
pessoa jurídica brasileira
Dispositivos contábeis e
Sim Não Não
de controles internos
Sim,
inclui outros atos contra a
Outros atos lesivos Não Não administração pública (e.g.,
fraude em licitações, frustrar
competitividade em licitação)
Exceção para
pagamentos de Sim Não Não
facilitação
Responsabilidade penal
Sim Sim Não
da pessoa jurídica
Sim
Sim
Responsabilidade Para certas sanções é
Não por "failure to prevent
objetiva necessário comprovação de
bribery"
culpa ou dolo
Violação aos
dispositivos contábeis:
multa de até US$ 2
Multa de até 20% do
milhões por violação.
faturamento bruto da pessoa
Violações aos
jurídica ou de até R$ 60
Multas dispositivos de Ilimitada
milhões (se não for possível
controles internos:
utilizar o critério do
Multa de até US$ 25
faturamento bruto)
milhões por violação.
Duas vezes o benefício
obtido ou almejado.
Declaração de Proibição de receber
Declaração de
Outras "sanções" inidoneidade, incentivos, suspensão ou
inidoneidade
monitores, etc. interdição das atividades, etc.
Sim
Crédito pela existência Sim (pode ser defesa Sim
de programas de (U.S. Sentencing absoluta para o crime (montante do crédito não
compliance Guidelines) de "failure to prevent determinado)
bribery")
Sim,
Crédito por reporte Sim, red ção de a 2/3 do valor
Sim
voluntário e cooperação mas limitado da multa e exclusão das
demais sanções)
AVISO IMPORTANTE
Esta é uma publicação de caráter informativo do escritório Trench, Rossi e Watanabe. Sua finalidade é destacar assuntos
relevantes na área jurídica e não deve ser interpretado como uma opinião legal sobre qualquer assunto. Para opiniões legais e
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