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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA OITAVA REGIÃO


GABINETE DA DESEMBARGADORA ODETE ALVES

ACÓRDÃO TRT 8ª/3ª T./RO 0001813-05.2011.5.08.0107

RECORRENTE: SINOBRAS – SIDERÚRGICA NORTE BRASIL S/A


Advogada: Dra. Amanda Souza Lopes

RECORRIDO: MELK LEONARDO LOPES SANTANA


Advogado: Dr. Roberto Salame Filho

ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. PROVA


TÉCNICA. MATÉRIA FÁTICA.
CONFISSÃO. FICÇÃO JURÍDICA – Em
relação ao adicional de
insalubridade, quanto à questão
técnica, isto é, quanto à
existência ou não de agentes
insalubres, não prevalece a
confissão sobre a matéria de fato,
porque a prova é técnica;
entretanto, com relação às demais
questões, fundamentais, também,
para dirimir a controvérsia, se o
reclamante esteve ausente por
ocasião da audiência de instrução
e julgamento, na qual deveria
depor, presume-se verdadeiros os
fatos alegados pela reclamada.

1 RELATÓRIO
Vistos, relatados e discutidos estes autos de recurso
ordinário, oriundos da Primeira Vara do Trabalho de Marabá, em que
são partes as acima identificadas.
Nos termos da sentença de mérito de fls. 473/477, a
reclamação trabalhista foi julgada procedente, em parte. O juízo “a

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quo” rejeitou as preliminares de inépcia da petição inicial e de


ilegitimidade passiva “ad causam”; no mérito propriamente dito,
condenou a reclamada a pagar ao reclamante a parcela de adicional de
insalubridade, no percentual de 20%, com reflexos, de novembro de
2008 a 24/01/2011, além de honorários advocatícios.
Inconformada, a reclamada interpõe recurso ordinário às
fls. 485/497 e pede a improcedência da parcela de adicional de
insalubridade; sucessivamente, aduz a impossibilidade de utilização
do salário-base para fins de cálculo do adicional.
O reclamante apresenta contraminuta às fls. 503/505.
Conforme as regras constantes do Regimento Interno
Regional, não há necessidade de manifestação antecipada do
Ministério Público do Trabalho.

2 FUNDAMENTOS
2.1 CONHECIMENTO
O recurso é tempestivo (sentença de mérito publicada em
15/03/2012 – fls. 483, apelo interposto em 23/03/2012 – fls. 485),
procuração às fls. 43, preparo às fls. 498/500.
Conheço do recurso ordinário.

2.2 MÉRITO (ADICIONAL DE INSALUBRIDADE)


A recorrente, em suma, alega que os agentes insalubres
verificados no ambiente de trabalho – calor e ruído – ou ficaram
abaixo do limite de tolerância ou atenuados a tais limites, mediante
a utilização de equipamentos de proteção individual. Destaca os
laudos periciais juntados e conclusões em seu favor.
O reclamante exercia a função de metalúrgico e teve
aplicada a pena de confissão quanto à matéria de fato, em razão de
sua ausência injustificada por ocasião da audiência de instrução e
julgamento (fls. 470).

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A preposta afirmou que o reclamante, a partir de novembro


de 2008, passou a trabalhar como operador de pontes, no pátio de
sucata e, posteriormente, na mesma função, no forno elétrico a ar da
aciaria; que deixou de receber adicional de insalubridade porque
trabalhava dentro de uma cabine totalmente climatizada e que, nas
vezes em que foram fornecidos os equipamentos de proteção
individual, a empresa tomou as assinaturas do trabalhador (fls.
470).
Às fls. 161/162, restou comprovada a entrega de
quipamentos de proteção individual ao reclamante. Segundo tal lista,
o reclamante recebeu, em dezembro de 2007, protetor auricular do
tipo plugue (CA 14471); em junho de 2009, um plugue de silicone, sem
nenhum certificado de aprovação consignado no documento e, em julho
de 2009, um abafador do tipo concha (CA 15623).
Às fls. 164, consta a especificação do protetor auricular
do tipo plugue, CA 14471. Nessa página, não consta a tabela de
atenuação. Mas, em pesquisa na internet, no próprio site do
Ministério do Trabalho e Emprego, obtive a seguinte informação1:

Frequência (Hz): 125 250 500 1000 2000 3150 4000 6300 8000 NRRsf
Atenuação (dB): 14 15,6 18 20,7 25,1 - 29,2 - 31,5 10
Desvio Padrão: 9 10 9,8 9,5 7,6 - 9 - 14 0

Trata-se desse tipo de protetor auricular:

1
http://www.mte.gov.br/Empregador/segsau/Pesquisa/CA_DET.asp?
vNRCAProc=14471+&Equipamento=00&NOEquipamento=&Fabricante=00&NOFabricante=

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Já às fls. 166, consta a especificação do abafador do


tipo concha (CA 15623), que possui a seguinte tabela de atenuação:

Frequência (Hz): 125 250 500 1000 2000 3150 4000 6300 8000 NRRsf
Atenuação (dB): 15,9 21,2 27,7 29,2 32,3 - 35,8 - 37,1 24
Desvio Padrão: 4,1 2,7 3,3 2,7 2,9 - 3 - 3,6 -

Trata-se desse tipo de protetor auricular:

O PPRA – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais,


especificamente às fls. 394 a 410 (e versos), traz o quadro
demonstrativo e as avaliações/enquadramento de agentes nocivos.
Todas as funções – não só as desempenhadas pelo reclamante, como
todas as funções existentes na empresa reclamada – possuem diferença
inferior a dez decibéis levando-se em conta o máximo permitido, isto
é, considerando o limite de 85 decibéis, fixado na Norma
Regulamentadora nº 15, nenhuma das funções chega a 95 decibéis, à
exceção do técnico operacional do setor ACIARA (FEA – SL
Controle/Plataforma) – fls. 400v., que, ainda assim, chega a 97,1
decibéis (12,1 decibéis excedentes).
É de se ressaltar que, quanto à questão técnica, ou seja,
à existência de agentes insalubres, não há que se falar em
confissão, porque prova técnica, aferível pelo PPRA, PCMSO, LTCAT ou
qualquer outro documento legítimo ou, ainda, pelo laudo pericial
fruto de trabalho de expert.
Entretanto, quanto à questão fática, não há qualquer

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controvérsia nos autos. Como se viu, o reclamante faltou na


audiência de instrução e julgamento, na qual deveria depor, fazendo
presumir os fatos alegados pela reclamada como verdadeiros.
A presunção, é claro, é meramente relativa e passível de
contraprova, na forma da Súmula nº 9 e dos itens I e II da Súmula nº
74, ambas do colendo Tribunal Superior do Trabalho, nesses termos:

AUSÊNCIA DO RECLAMANTE
A ausência do reclamante, quando adiada a
instrução após contestada a ação em
audiência, não importa arquivamento do
processo.

CONFISSÃO
I - Aplica-se a confissão à parte que,
expressamente intimada com aquela
cominação, não comparecer à audiência em
prosseguimento, na qual deveria depor.
II - A prova pré-constituída nos autos
pode ser levada em conta para confronto
com a confissão ficta (art. 400, I, CPC),
não implicando cerceamento de defesa o
indeferimento de provas posteriores.

Porém, não há qualquer contraprova nesse sentido, isto é,


demonstração de situação contrária ao que alegou a reclamada; o
reclamante não arrolou testemunhas (fls. 471) e a prova documental
não desnatura a tese patronal. Ressalto que os laudos periciais,
fls. 206 e seguintes, enquanto prova emprestada, não funcionam neste
caso concreto, porque trazem as peculiaridades dos outros dois casos
concretos em que serviram: às fls. 209, por exemplo, o expert faz

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referência aos protetores auriculares que eram efetivamente


utilizados pelo reclamante daqueles autos; não se trata de discussão
quanto ao conhecimento técnico do expert e sim quanto à prova dos
autos. Cada processo é um processo, cada realidade é uma realidade.
E, como restou consignado acima, segundo certificação dos
protetores auriculares e dados informados pelo próprio Ministério do
Trabalho e Emprego, os protetores auriculares que, comprovadamente,
foram utilizados pelo reclamante, atenuavam, no mínimo, 14 e 15,9
decibéis, sendo que, na empresa, nenhuma função excedia a esse
valor: ou era inferior ao máximo de 85 decibéis ou era superior em
menos de dez decibéis.
Por outro lado, não há prova nos autos de que tais
protetores auriculares eram ineficientes ou que o reclamante não os
utilizava corretamente (Súmula nº 289 do colendo Tribunal Superior
do Trabalho), mormente porque há provas, nos autos, que o reclamante
recebia treinamento (como, por exemplo, vê-se do documento de fls.
136 – certificado de treinamento específico).
Para finalizar, chamou atenção o tempo em que o
reclamante utilizou os equipamentos de proteção individual
(protetores auriculares). Em pesquisa científica, a fim de subsidiar
o conhecimento, o que é natural em uma instância revisora, que não
tem a faculdade de determinar a realização de prova técnica, matéria
que sequer foi trazida nas razões de recorrer, localizei um
esclarecedor artigo do Prof. Dr. Prof. Samir N. Y. Gerges 2, Ph.D., da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e-mail
samir@emc.ufsc.br, intitulado “Vida útil de protetores auditivos”,
o qual peço a vênia para transcrever, ipsis litteris:

Qual é a vida útil de um protetor


auditivo? Uma pergunta que está sendo

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http://www.lari.ufsc.br/publicacoes/cipa_288.pdf

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colocada de forma intensa nos últimos dois


anos pelos responsáveis pelo Programa de
Conservação de Audição, usuários e até
advogados e juízes, sem ter uma resposta
que convença. Estive em Berlim, Alemanha,
representando o Brasil na reunião do grupo
de trabalho WG 17 de ISO Protetores
Auditivos, e aproveitei a presença de 15
participantes de todo o mundo e fiz esta
pergunta para eles. Infelizmente não tem
resposta. Será que existe um período da
vida útil do protetor auditivo para todas
as marcas e modelos e para todos os
usuários? Vamos fazer a seguinte pergunta
similar: qual é a vida útil de seu sapato?
Por exemplo: João tem pé torto e anda
depressa, batendo nas pedras e quando
volta para casa tira o sapato e joga no
canto, sujo e molhado. Mas nosso amigo
elegante, Batista, anda com pé reto
correto e cuida de sua postura, mantendo
seu sapato sempre limpo e bem guardado. O
Batista é pão-duro, não quer gastar para
comprar sapato novo, ele engraxa o sapato
dele todos os dias à noite, ele até não
acelera o carro, para não frear e gastar a
pastilha de freio. O sapato de Batista
dura anos, enquanto o sapato de João só
dura 6 meses. Agora vamos para nosso
assunto. Um trabalhador que cuida de seu
protetor auditivo, lava ele (tipo plugue),

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troca almofadas (tipo concha), guarda ele


em lugar limpo, vai ter vida útil mais
longa do que sem cuidado, como, por
exemplo, deixar o protetor cair no chão
sujo, não lavar, guardar em lugar úmido e
sujo, não colocar ele em contato com
produtos químicos para evitar a perda das
características etc. Será que nós temos a
resposta para a pergunta: qual é a vida
útil dos protetores auditivos? NÃO TEMOS,
porque não existe resposta. Mas temos
algumas pesquisas e trabalhos muitos
limitados em estatísticas e feitos para
certas pessoas, usando poucos tipos de
protetores auditivos. Então, apenas temos
idéia da período de tempo de uso do
protetor. Mesmo, como por exemplo, falamos
que um sapato pode durar um período entre
6 meses a 2 anos. Um protetor tipo concha
pode durar de 6 meses a 3 anos, tipo
plugue de espuma expandida com superfície
selado (não deixa liquido penetrar) pode
ser usado até 15 dias. Plugue de espuma
expandida descartável com superfície
porosa apenas um a dois dias. Plugue de
silicone ou borracha pode ser usado de um
mês a dois anos. São períodos no qual
deve-se considerar que as características
que o protetor pode perder até 3 dB de sua
atenuação original (quando era novo). É
recomendado que o trabalhador leve seu

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protetor quando vai fazer teste


audiométricos periódicos (cada 6 meses a
um ano) e mostrar para o fonoaudiólogo
como ele usa e coloca o protetor e recebe
aula particular sobre a colocação, uso e
manutenção do protetor, além de que o
fonoaudiólogo pode ajudar na decisão de
trocar ou não o protetor ou até só trocar
a almofada (tipo concha). Agora podemos
fazer mais levantamentos e pesquisas em
uma determinada empresa, em ambiente
específico, usando certas marcas e modelos
de protetores auditivos, com uma população
de trabalhadores específicos, para
determinar período de troca dos protetores
auditivos.

(sublinhados meus)

Mais uma vez, o raciocínio é o mesmo: não há qualquer


contraprova nesse sentido, isto é, no sentido de que os protetores
auriculares eram ineficientes ou perderam sua eficiência, pelo
decurso do tempo (outra vez se faz referência e obediência à Súmula
nº 289 do colendo Tribunal Superior do Trabalho).
Não cabe ao juízo julgar com base em ilações, mormente
diante do ônus da prova, da confissão ficta que pesa em desfavor do
reclamante (quanto à matéria de fato, claro) e, por fim, pelo fato
de que, como já consignado à exaustão nesta fundamentação, o
reclamante também não arrolou testemunhas (fls. 471) e a prova
documental juntada aos autos não desnatura a tese patronal; ao
revés, milita em seu favor. Os fatos estão de acordo com a tese da

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reclamada.
Assim, afasto o reconhecimento do adicional de
insalubridade quanto ao agente insalubre ruído.
Quanto ao agente insalubre calor, como restou reconhecido
na sentença de mérito, somente há a previsão desse, no exercício da
função de operador I, II, III e IV (fls. 401v.), segundo o PPRA
elaborado, que define, como índice real do IBUTG, o índice 35,74.
IBUTG (índice de bulbo úmido-termômetro de globo) é o
índice usado para avaliação da exposição ao calor. A reclamada
admite como máximo, para reconhecer a atividade como salubre, o
índice 26 (fls. 401v., idem).
Aí começa o primeiro problema, referente à ausência de
uma perícia específica para o reclamante: o cálculo do IBUTG leva em
consideração o metabolismo de cada um, isto é, tal índice não é de
um todo firme, porque, para se encontrar uma exatidão, necessário
seria a aferição da taxa de metabolismo do reclamante, em
quilocalorias, para fins de cálculo do IBUTG, o que não ocorreu. Não
há prova técnica nesse sentido.
Contudo, como é possível partir de um raciocínio com base
na média, tal questão deve ser superada, até porque,
independentemente da quantidade de quilocalorias aferida em medição
do metabolismo, o máximo permitido quanto ao IBUTG é o índice 30,5,
o que restou superado, eis que o PPRA indica o índice real como o de
35,74, ainda que calculando tal índice com o valor de 400
quilocalorias, segundo se depreende da análise criteriosa do quadro
nº 2 do Anexo nº 3 (limites de tolerância para exposição ao calor)
da Norma Regulamentadora nº 15, que define didaticamente tal
cálculo, nesses termos:

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Porém, mais uma vez, há de se consignar a realidade


fática dos autos, pois o mesmo documento de fls. 174 dos autos
(PPRA), que define a atividade operador relacionado com o
recebimento de sucata e consigna que, para eliminação do agente
insalubre, seria necessária a devida aclimatização do ambiente de
trabalho e limitação do tempo de exposição, bem como exames médicos,

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equipamentos de proteção individual, educação e treinamento.


Como se percebe, há documentação indicando que houve
educação e treinamento; não há, nos autos, indicação quanto ao tempo
de exposição do reclamante; outrossim, há prova de que o reclamante
trabalhava dentro de uma cabine totalmente climatizada, diante
ficção jurídica criada pela ausência injustificada do reclamante na
audiência em que deveria depor. Há presunção relativa sobre o que
alegou a reclamada, por meio do seu preposto, presunção esta que não
foi desconstituída por outras provas.
É interessante destacar mais uma vez, para finalizar, que
o documento de fls. 401v. diverge dos documentos de fls. 174 e 177,
porque, em cada um, um empregado diferente foi utilizado para
análise e paradigma: em cada um dos três documentos, o limite de
tolerância máximo permitido e o efetivamente avaliado são
diferentes, eis que, por óbvio, cada ser humano tem o seu próprio
metabolismo.
Diante de tais razões, também tal agente insalubre não
prevalece, pelo que também afasto o reconhecimento do adicional de
insalubridade quanto ao agente insalubre calor.
Assim sendo, a condenação não se mantém, porque, diante
das provas analisadas, sejam questões fáticas, sejam de prova
documental ou sejam de prova técnica, não restou provado que existia
insalubridade acima do limite tolerado, considerando no caso
concreto, o meio ambiente de trabalho e os equipamentos de proteção
individual utilizados.
Dou total provimento ao recurso ordinário, para excluir
da condenação o adicional de insalubridade, julgando a reclamação
trabalhista totalmente improcedente. Resta sem objeto a outra
discussão trazida no recurso ordinário, porque acessória à questão
principal (base de cálculo do adicional de insalubridade). Fica
rejeitado, por fim, o pedido de honorários advocatícios, não só em

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razão da jurisprudência do C. TST, como diante da inversão do ônus


da sucumbência.

2.3 PREQUESTIONAMENTO
A fim de se evitar desnecessários embargos de declaração,
registre-se que ficam prequestionadas as matérias e questões
trazidas nas razões de recorrer do recurso ordinário e expressamente
tratadas neste acórdão, com tese explícita a respeito de cada
pedido, na forma da Súmula nº 297 do colendo Tribunal Superior do
Trabalho, com a ressalva de que não existe, no ordenamento jurídico
pátrio, o “prequestionamento numérico”, na forma da Orientação
Jurisprudencial nº 118 da Subseção 1 Especializada em Dissídios
Individuais, daquela Corte Superior, bastando ao juízo “ad quem”
adotar, como dito, tese explícita sobre a matéria, sendo
desnecessário que se contenha referência expressa a cada dispositivo
legal para se ter como prequestionado este.

ANTE O EXPOSTO, conheço do recurso ordinário; no mérito,


dou-lhe total provimento para, reformando a sentença de mérito,
excluir da condenação a parcela de adicional de insalubridade e
reflexos, julgando a reclamação trabalhista totalmente improcedente.
Indefiro o pedido de honorários advocatícios. Tudo consoante
fundamentos. Ficam invertidos os ônus quanto âs custas, que passam à
responsabilidade do reclamante, no mesmo valor fixado na r.
sentença, de cujo recolhimento fica isento, diante da concessão dos
benefícios da justiça gratuita (fls. 477 e verso). Após o trânsito
em julgado da decisão e não havendo mais pendências, devolvam-se os
documentos às parte e arquivem-se os autos, com as cautelas de
praxe.

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3 CONCLUSÃO
ISTO POSTO,
ACORDAM OS DESEMBARGADORES DA TERCEIRA TURMA DO EGRÉGIO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA OITAVA REGIÃO, À UNANIMIDADE,
CONHECER DO RECURSO ORDINÁRIO; NO MÉRITO, SEM DIVERGÊNCIA, DAR TOTAL
PROVIMENTO AO APELO PARA, REFORMANDO A SENTENÇA DE MÉRITO, EXCLUIR
DA CONDENAÇÃO A PARCELA DE ADICIONAL DE INSALUBRIDADE E REFLEXOS,
JULGANDO A RECLAMAÇÃO TRABALHISTA TOTALMENTE IMPROCEDENTE.
INDEFERIDO O PEDIDO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS, TUDO CONSOANTE
FUNDAMENTOS. FICAM INVERTIDOS OS ÔNUS QUANTO ÀS CUSTAS, QUE PASSAM À
RESPONSABILIDADE DO RECLAMANTE, NO MONTANTE FIXADO NA R. SENTENÇA,
DE CUJO RECOLHIMENTO FICA ISENTO O RECLAMANTE, DIANTE DA CONCESSÃO
DOS BENEFÍCIOS DA JUSTIÇA GRATUITA (FLS. 477 E VERSO). APÓS O
TRÂNSITO EM JULGADO DA DECISÃO E NÃO HAVENDO MAIS PENDÊNCIAS,
DEVOLVAM-SE OS DOCUMENTOS ÀS PARTE E ARQUIVEM-SE OS AUTOS, COM AS
CAUTELAS DE PRAXE.
Sala de Sessões da Terceira Turma do egrégio Tribunal
Regional do Trabalho da Oitava Região. Belém, 13 de junho de 2012.

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ODETE DE ALMEIDA ALVES - Desembargadora Relatora

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