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UFSJ-Universidade federal de São João Del Rei.

Curso: Filosofia licenciatura.

Disciplina: Filosofia Analitica

Discente : Gustavo Leal Toledo.

Cleber Andrade matrícula 170400045

Durante este artigo pretendemos mostrar como a existência do mal seja ele
moral ou gratuito apontam para não existência de um Deus nos moldes Cristãos ;
onipotente e benevolente, isto porque nenhuma justificativa é boa o suficiente para
validar tanto sofrimento. Para isso, exploramos os conceitos de mal: moral,natural ,
gratuito e livre arbítrio. As páginas a seguir foram escritas baseadas nas aulas de
filosofia analítica do professor Gustavo Leal e na monografia: Três abordagens
alternativas do problema do mal na filosofia contemporânea de Adebola Hakeem.
Vale lembrar que não iremos esgotar o problema, ou dar uma solução definitiva para
ele, apenas levantar a discussão e a problematização que o tema sugere.

O mal moral e natural.

O problema da existência do mal é utilizado por ateístas e agnósticos para


criticar a existência de um Deus como um ser benevolente e onipotente. Isso porque
dado o estado de coisas do mundo, não faz sentido que um Deus sumamente bom
permita tantos males: como as catástrofes naturais; tsunamis, furacões,
tempestades que assolam seres humanos e demais animais, se ele pode impedir
esses males mas não faz ele não é tão bom assim, se ele quer impedir porém não
pode ele não é onipotente.
O primeiro a formular esse tipo de argumento foi Epicuro (341-270 A.C) ; a)
ou Deus quer eliminar o mal no mundo, mas não pode b) ou pode mas não quer, c)
ou nem quer nem pode, d) ou quer e pode. Este argumento tem algumas
implicações utilizadas por ateístas, sendo elas: Se Deus quer eliminar o mal no
mundo porém não pode ele não é onipotente, pois não pode fazer tudo. Se ele pode
eliminar o mal do mundo entretanto não quer, ele não é benevolente pois permite
que os males existam, causando sofrimentos desnecessários. Se por outro lado
Deus nem queira e nem possa impedir o mal, ele não é nem benevolente nem
onipotente e nem é um Deus, nos moldes defendidos por teístas ( sobretudo
cristãos). Agora se Deus quer e pode ele é onipotente e benevolente, porém como
conciliar essas propriedades com a existência do mal ? Porque sendo onipotente
ainda não acabou com o mal ? Sendo o criador de todas as coisas porque permitiu
que o mal existisse? Se Deus é o criador de todas as coisas, então ele criou o mal ?
Essas e outras perguntas são levantadas por ateístas para criticar a ideia de um
Deus onipotente e sumamente bom.

“Como uma nota interessante, ateus desenvolvem um de seus mais


fortes argumentos sobre esta questão sem resposta pela visão
clássico-filosófica do mal. Como Deus, que é considerado todos os itens
acima, pode permitir o Mal. Como Deus, que é considerado todos os itens
acima, pode permitir o Mal E/ou, se Deus criou todas as coisas, então Ele
deve ser o autor do mal também. Para um ateu, Deus ou é impotente (não
todo poderoso) e não pode controlar o Mal ou Seu caráter é corrupto em que
Ele é o criador do mal. De qualquer maneira, a um ateu, Deus não é Deus os
cristãos pensam que Ele é e não é digno de adoração. De fato, para um
ateu, Deus não existe e deste ponto de vista nem faz mal. Porque, se não há
Deus, não pode haver mal.” Hakeem Adebola, 2011, página 8

Os ateístas alegam que Deus deve perder uma dessas características


(onipotência ou benevolência) para ser compatível com o mal do mundo, ou
simplesmente não existir.
O conceito "Mal'' teve uma definição na idade média relacionado ao
afastamento de Deus (Agostinho) ou a algum “bem maior” (Irineu) , entretanto a
partir de 1900 surge um relativismo do mal, ou seja, o que é mal pra um pode ser
bom pro outro e vice versa. Depois se passou a estudar o mal como algo que causa
um sofrimento, não existe um consenso geral sobre isso, entretanto é quase
universalmente aceito que o mal vem a causar algum tipo de sofrimento: nisso
podemos considerar tanto o natural quanto o moral.
“O mal é geralmente definido como qualquer estado indesejável de coisas e
é considerado geralmente de incluir tanto o mal moral, os actos praticados
por seres humanos, e o mal natural, que inclui a dor e o sofrimento que
resulta de desastres naturais, doenças ou defeitos genéticos“
Hakeem Adebola,2011, página 10.

Como mencionado acima, além do mal natural existe o mal moral, ou seja, o
praticado pelos seres humanos a partir das suas vontades. Para isto, os teístas
levantam o argumento do livre-arbítrio, alegando que Deus deu a livre escolha aos
seres humanos;que podem escolher o caminho do bem ou mal. Há a possibilidade
de o mal moral e natural se misturarem, como por exemplo hospitais com
superlotação em que pessoas morrem nas filas, devido a uma pandemia de
coronavírus, isso é resultado da falta de novos hospitais,
planejamentos,recursos,omissões e roubos por parte dos governantes.

“Primeiro, é importante distinguir entre dois tipos de mal: o mal moral e o


mal natural. O mal moral resulta das ações de criaturas livres.Homicídio,
estrupro e roubo são exemplos. O mal natural resulta dos processos naturais
como terremotos e inundações. É claro que, às vezes, os dois se misturam(o
mal moral e o mal natural), como quando a inundação resulta em perda de
vidas humanas devido ao mau planejamento ou construção de edifícios de
má qualidade.” Hakeem Adebola,2011, página 14.

Livre arbítrio.

Normalmente, para responder ao problema do mal e a existência de Deus os


teístas recorrem ao argumento do Livre arbítrio, ou seja, Deus dotou os seres
humanos com a liberdade para escolher entre o caminho do bem e do mal. Sendo
assim, o mal no mundo não é culpa de Deus, porém de algumas pessoas que em
uma situação moral escolhem o mal. Um contra argumento possível seria dizer que:
a) Deus poderia fazer os seres humanos escolherem apenas o bem ou b) criar
apenas a opção do bem. Os teístas têm duas respostas para esse contra
argumento. Para a): Deus poderia fazer os humanos escolherem apenas o bem,
porém isso seria determinismo e entra em contradição com o livre arbítrio, pois seria
ilógico que Deus concedesse a liberdade de escolha e a determinasse . Nesta
perspectiva, a resposta para o mal é lógica, portanto Deus não seria capaz de fazer
círculos quadrados, ou fazer a soma de 2+2 ser 5 ou fazer um objeto imaterial ter
sombra dentre outras contradições lógicas. (este não parece ser um problema para
um Deus que morreu e renasceu porém por questão de tempo deixemos essa
questão para outro texto).

“Mas o que a maioria dos teólogos e filósofos querem dizer quando dizem
que Deus é onipotente ? Isso significa que Deus tem todo o poder. Ele pode
fazer todas as coisas. Mas ele pode criar um círculo quadrado ? ele pode
criar um solteiro casado ? Ele pode fazer algo que é verdadeiro e falso ao
mesmo tempo ? Não, Ele não pode. A razão é porque círculo quadrado ou
solteiros casados são inteiramente incoerentes, e, portanto, não são coisas
possíveis. Círculos, necessariamente, não tem cantos, e solteiros são, por
definição, não casados, então um círculo com cantos ou um solteiro com
uma esposa não podem existir. Uma vez que não são coisas possíveis, o
fato de que Deus não pode torná-las real não diminui sua onipotência de
qualquer forma. Então aqui vai a pergunta: Deus pode fazer as pessoas
escolherem livremente apenas o bem? De acordo com Plantinga, isso é
impossível.Deus criou criaturas livres para que eles pudessem escolher
amar, mas se tiver criaturas livres, então há sempre a possibilidade de que
elas vão escolher o mal. Se Deus fosse fazer com que todos sempre
escolhessem o bem para evitar o mal, então Ele poderia comprometer “o
livre-arbitrio”. Hakeem Adebola,2011, página 17.

Para b) a resposta é um pouco mais complexa e foi dada por Irineu, para ele,
Deus cria o mundo com certos males para que algumas virtudes possam surgir, na
lógica deste autor Deus cria o mal pois ele é necessário em um grande esquema
das coisas, onde certas virtudes só podem surgir se houver mal/sofrimento. Por
exemplo coragem e compaixão (conceito central nas virtudes cristãs): sofrer junto,
não dá para ter coragem sem sofrimento assim como não há compaixão sem
sofrimento compartilhado. Em suma, Deus cria o mundo com o mal/sofrimento, para
que passando por ele e o superando surja, na pessoa, algumas virtudes: essas são
bondades superiores aos males. Essa talvez seja a origem de um ditado popular “
há males que vem para o bem”.
“Irineu argumenta que Deus criou o mundo imperfeitamente para que toda
criatura imperfeitamente imatura pudesse se crescer através do processo da
formação da alma ao “filho de Deus”, em perfeita semelhança com Deus.”
Hakeem Adebola,2011, página 37

“Deus é implicado nos sofrimentos do mundo: deixando o homem ser livre,


Deus permite o mal ocorrer como uma parte necessária do ambiente em que
a maturidade moral pode ser alcançada." Hakeem Adebola,2011, página 38

Mal gratuito.
Embora essas respostas do livre-arbítrio “resolvam” o problema do mal moral,
seja de forma mais lógica formal seja através do argumento de Irineu, elas não são
suficientes para resolver o problema do mal natural, ou injustificado, como as
catástrofes ou doenças genéticas. Isto pelo motivo óbvio de que esses males
acontecem sem a interferência do ser humano, um terremoto, um raio que atinge
um animal, uma doença genética acontecem independente do livre arbítrio. Embora
haja situações em que o mal moral possa causar desastres naturais ou mutações
genéticas (como em Chernobyl), ainda há casos onde eles acontecem sem
interferência alguma.
A questão do mal gratuito é um forte argumento para não existência de um
Deus benevolente, isso porque o mal gratuito é aquele que não serve a nenhum
propósito, não serve para que surja um bem maior ( como no argumento de Irineu),
ou mesmo não precisaria acontecer com extrema intensidade;como uma tsunami
que destroi toda uma cidade, uma pandemia que mata milhares de crianças por dia
uma chuva que deixa famílias desabrigadas ou crianças órfãs. Ainda poderíamos
entender um mal gratuito como aquele que não serve para evitar um mal maior mais
perverso etc. Esses males são sem propósito,justificativa ou motivo, ou ainda
poderiam ser evitados por um Deus benevolente, afinal qual Deus benevolente
permite que crianças inocentes morram sem motivo algum?
“O mal gratuito é aquele que não serve a nenhum propósito, ou não tem
nenhum efeito no plano de Deus que poderiam ser servidos sem aquela
determinada instância ou grau de mal. Um mal gratuito, neste sentido, é um
estado de coisas que não é (logicamente) necessário para a realização de
um bem maior ou para a prevenção de um mal, pelo menos, tão ruim.”
Hakeem Adebola,2011, página 23.

Considerações finais

O problema do mal e a existência de Deus; benevolente e onipotente, é


complexo e permite diversas interpretações, neste artigo procuramos expor
algumas.Porém é impossível esgotar esse assunto em apenas cinco páginas ou
mesmo dar uma solução definitiva para o problema. Nossa consideração
final(momentânea), é que dado o estado de coisas do mundo, todos os males
naturais e até mesmo as consequências brutais do mal moral;como estupros,
assassinatos com requintes de crueldade,bombas atômicas, guerras que matam
crianças e inocentes em geral,servem como indício de que a existência de um Deus
benevolente, pessoal e onipotente é impossível. Talvez exista um Deus como
princípio criador uma espécie de primeiro motor ou causa incausada, entretanto o
Deus monoteísta cristão se mostra inexistente em um mundo onde existe tanto
sofrimento sem motivo, justificativa ou propósito maior. Terminamos com essa
pergunta, qual propósito maior é esse que permite tanto sofrimento? A falta de uma
resposta satisfatória nos faz pensar que realmente “Deus está morto”.

Referências:
Adebola Hakeem. Três abordagens alternativas do problema do mal na filosofia
contemporânea. 2011.

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