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Durante este artigo pretendemos mostrar como a existência do mal seja ele
moral ou gratuito apontam para não existência de um Deus nos moldes Cristãos ;
onipotente e benevolente, isto porque nenhuma justificativa é boa o suficiente para
validar tanto sofrimento. Para isso, exploramos os conceitos de mal: moral,natural ,
gratuito e livre arbítrio. As páginas a seguir foram escritas baseadas nas aulas de
filosofia analítica do professor Gustavo Leal e na monografia: Três abordagens
alternativas do problema do mal na filosofia contemporânea de Adebola Hakeem.
Vale lembrar que não iremos esgotar o problema, ou dar uma solução definitiva para
ele, apenas levantar a discussão e a problematização que o tema sugere.
Como mencionado acima, além do mal natural existe o mal moral, ou seja, o
praticado pelos seres humanos a partir das suas vontades. Para isto, os teístas
levantam o argumento do livre-arbítrio, alegando que Deus deu a livre escolha aos
seres humanos;que podem escolher o caminho do bem ou mal. Há a possibilidade
de o mal moral e natural se misturarem, como por exemplo hospitais com
superlotação em que pessoas morrem nas filas, devido a uma pandemia de
coronavírus, isso é resultado da falta de novos hospitais,
planejamentos,recursos,omissões e roubos por parte dos governantes.
Livre arbítrio.
“Mas o que a maioria dos teólogos e filósofos querem dizer quando dizem
que Deus é onipotente ? Isso significa que Deus tem todo o poder. Ele pode
fazer todas as coisas. Mas ele pode criar um círculo quadrado ? ele pode
criar um solteiro casado ? Ele pode fazer algo que é verdadeiro e falso ao
mesmo tempo ? Não, Ele não pode. A razão é porque círculo quadrado ou
solteiros casados são inteiramente incoerentes, e, portanto, não são coisas
possíveis. Círculos, necessariamente, não tem cantos, e solteiros são, por
definição, não casados, então um círculo com cantos ou um solteiro com
uma esposa não podem existir. Uma vez que não são coisas possíveis, o
fato de que Deus não pode torná-las real não diminui sua onipotência de
qualquer forma. Então aqui vai a pergunta: Deus pode fazer as pessoas
escolherem livremente apenas o bem? De acordo com Plantinga, isso é
impossível.Deus criou criaturas livres para que eles pudessem escolher
amar, mas se tiver criaturas livres, então há sempre a possibilidade de que
elas vão escolher o mal. Se Deus fosse fazer com que todos sempre
escolhessem o bem para evitar o mal, então Ele poderia comprometer “o
livre-arbitrio”. Hakeem Adebola,2011, página 17.
Para b) a resposta é um pouco mais complexa e foi dada por Irineu, para ele,
Deus cria o mundo com certos males para que algumas virtudes possam surgir, na
lógica deste autor Deus cria o mal pois ele é necessário em um grande esquema
das coisas, onde certas virtudes só podem surgir se houver mal/sofrimento. Por
exemplo coragem e compaixão (conceito central nas virtudes cristãs): sofrer junto,
não dá para ter coragem sem sofrimento assim como não há compaixão sem
sofrimento compartilhado. Em suma, Deus cria o mundo com o mal/sofrimento, para
que passando por ele e o superando surja, na pessoa, algumas virtudes: essas são
bondades superiores aos males. Essa talvez seja a origem de um ditado popular “
há males que vem para o bem”.
“Irineu argumenta que Deus criou o mundo imperfeitamente para que toda
criatura imperfeitamente imatura pudesse se crescer através do processo da
formação da alma ao “filho de Deus”, em perfeita semelhança com Deus.”
Hakeem Adebola,2011, página 37
Mal gratuito.
Embora essas respostas do livre-arbítrio “resolvam” o problema do mal moral,
seja de forma mais lógica formal seja através do argumento de Irineu, elas não são
suficientes para resolver o problema do mal natural, ou injustificado, como as
catástrofes ou doenças genéticas. Isto pelo motivo óbvio de que esses males
acontecem sem a interferência do ser humano, um terremoto, um raio que atinge
um animal, uma doença genética acontecem independente do livre arbítrio. Embora
haja situações em que o mal moral possa causar desastres naturais ou mutações
genéticas (como em Chernobyl), ainda há casos onde eles acontecem sem
interferência alguma.
A questão do mal gratuito é um forte argumento para não existência de um
Deus benevolente, isso porque o mal gratuito é aquele que não serve a nenhum
propósito, não serve para que surja um bem maior ( como no argumento de Irineu),
ou mesmo não precisaria acontecer com extrema intensidade;como uma tsunami
que destroi toda uma cidade, uma pandemia que mata milhares de crianças por dia
uma chuva que deixa famílias desabrigadas ou crianças órfãs. Ainda poderíamos
entender um mal gratuito como aquele que não serve para evitar um mal maior mais
perverso etc. Esses males são sem propósito,justificativa ou motivo, ou ainda
poderiam ser evitados por um Deus benevolente, afinal qual Deus benevolente
permite que crianças inocentes morram sem motivo algum?
“O mal gratuito é aquele que não serve a nenhum propósito, ou não tem
nenhum efeito no plano de Deus que poderiam ser servidos sem aquela
determinada instância ou grau de mal. Um mal gratuito, neste sentido, é um
estado de coisas que não é (logicamente) necessário para a realização de
um bem maior ou para a prevenção de um mal, pelo menos, tão ruim.”
Hakeem Adebola,2011, página 23.
Considerações finais
Referências:
Adebola Hakeem. Três abordagens alternativas do problema do mal na filosofia
contemporânea. 2011.