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FUCAPE BUSINESS SCHOOL

Práticas Pedagógicas no Ensino da Contabilidade Aplicada ao Setor Público no Brasil

Cloves Rodrigues da Silva Neto


cloves.contabeis@outlook.com

1 INTRODUÇÃO

Segundo Schmidt (2015) a contabilidade é a doutrina que, em que pese ter por hábito
considerar a obra La Summa de Arithmetica, Geometria, Proportioniet Proportionalitá do
Frei Luca Pacioli como sua origem, diversas descobertas arqueológicas vêm alterando esse
cenário, ensejando-nos a refletir a Contabilidade como parte da era pré- histórica, em conjunto
com a origem das civilizações. Sua história, portanto, é tão antiga que se confunde com a
própria história da civilização.
Para Sá (1997, p. 12) “[...] a escrituração contábil nasceu antes mesmo que a escrita comum
aparecesse, ou seja, o registro da riqueza antecedeu aos demais, como comprovam os estudos
realizados sobre a questão, na antiga Suméria”. Apesar de secular, a ciência contábil continua
em ampla e progressiva evolução, acompanhando o desenvolvimento das sociedades ao longo
da história, o progresso tecnológico e econômico, exigindo alta qualificação dos profissionais
para atuarem nas organizações, essas por sua vez, cada vez mais dinâmicas e complexas. Em
decorrência de tais exigências, se faz necessário predicados capazes de tornar o ensino para a
formação desses profissionais algo atrativo, compreensivo, mas sem perder o alto nível de
conteúdo.
Levando em consideração a importância da contabilidade desde os tempos antigos, até os
atuais, e a evolução do profissional contábil ao longo da história, inferem-se também
significativas mudanças na forma de ensino da contabilidade ao longo dos anos, a pesquisa
desenvolve-se nesse sentido; pois conforme Silva (1980, p. 80) “A base fundamental do
desenvolvimento de qualquer área do conhecimento humano está assentada na atuação dos
membros de sua comunidade, já que eles poderão materializar os conceitos e princípios
emanados da estrutura básica da disciplina, cristalizando, modificando ou criando novas
teorias e práticas”.
A mudança do panorama da contabilidade no Brasil deve-se, em grande parte, a mudança da
forma como a Ciência Contábil passou a ser ministrada nas principais Instituições de Ensino
Superior do país. Iudícibus, Marion e Faria (2009), afirmam que a globalização dos mercados
faz com que os profissionais, pesquisadores, e professores de contabilidade se adaptem às
novas mudanças tanto em termos normatizadores e práticos, quanto também em conceitos e
objetivos. Não se adequar as novas características e tendências da Ciência Contábil significa
não se adequar ao moderno e complexo mercado atual. A contabilidade vista como uma mera
ferramenta operacional é algo que deve ser superado. E tal superação deve acontecer na base.

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Para Sanchez (2016), nas últimas décadas, especificamente a Ciência Contábil aplicada ao
setor público, vem sofrendo diversas transformações no intuito de desenvolver e aplicar uma
singularidade de práticas adotadas no que tange à estrutura conceitual contábil universal.
Foram criadas diversas normas, portarias, resoluções e leis, que modificaram a forma como a
contabilidade é aplicada no setor público, e consequentemente, a maneira como esta, sendo
disciplina ensinada nos cursos de ciências contábeis nas Instituições de Ensino Superior,
também sofressem impactos.

Rodrigues (2009) afirma que foram realizadas algumas alterações em diversas NBCT’s, com
o objetivo de aperfeiçoá-las, tornando-as mais próximas dos padrões internacionais.
Posteriormente, realizaram-se alterações nas normas com a publicação, pelo CFC, da
Resolução 1.437 de 2013 (CFC, 2013) que: “Altera, incluem e exclui itens das NBCT 16.1,
16.2, 16.4, 16.5, 16.6, 16.10 e 16.11, que tratam das Normas Brasileiras de Contabilidade
Técnicas aplicadas ao Setor Público.”

Os principais impactos e transformações no Setor Público, segundo Monteiro (2013), foram a


adoção do Enfoque Patrimonial e não Orçamentário; reconhecimento, mensuração e avaliação
de ativos e passivos; a adoção do Regime de Competência para Receitas e Despesas, a criação
de novos demonstrativos financeiros e a alteração dos já existentes; a modificação dos
subsistemas; e a constante reformulação do MCASP pela Secretaria do Tesouro Nacional
(STN), buscando convergir com as IPSAS.

Ainda segundo as pesquisas feitas por Monteiro (2013), apesar de todo empenho realizado no
país rumo a convergências as normas da IFAC, alguns aspectos são questionados e até mesmo
entendidos como não convergidos ou conflitantes com relação às IPSAS, como por exemplo
as IPSAS 18 e 22. Nesse contexto, indubitavelmente, o profissional contador ou aspirante a
tal, que busque como alternativa de atuação profissional o ramo da contabilidade
governamental, precisará de constante aperfeiçoamento. E ainda, ao menos a princípio, cabe
às Instituições de Ensino Superior (IES) preparar o egresso com os conhecimentos
necessários, tendo em vista a notória importância da disciplina de Contabilidade
Governamental nas diretrizes curriculares no curso de Ciências Contábeis. Isto posto, o
presente estudo objetiva contribuir na ampla discussão sobre as práticas pedagógicas adotadas
pelas IES, especificamente, no caso das disciplinas de Contabilidade Aplicada ao Setor
Público.

2. Contexto e a realidade investigada:

2.1 Contabilidade Aplicada ao Setor Público brasileiro

Ao final da década de 1990 iniciou-se um movimento mundial para a adoção de padrões


internacionais de contabilidade no setor público, liderado pela International Federation of
Accountants (IFAC), que é a entidade responsável pela divulgação das International Public
Sector Accounting Standards (IPSAS),emitidas pelo International Public Sector Accounting
Standards Board (IPSASB) (Oulasvirta, 2014).

Menezes et al (2013) entende que a classe contábil vivenciou e experimentou o processo de


convergência às Normas Internacionais de Contabilidade para companhias do setor privado, a
qual se tornou realidade a partir de 2008. Como parte desse processo de harmonização, o
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Conselho Federal de Contabilidade (CFC) criou, ao lado de com outras entidades, o Comitê
de Pronunciamentos Contábeis (CPC), órgão responsável pela convergência das normas
contábeis brasileiras às normas internacionais, colocando assim a contabilidade brasileira no
cenário internacional, em conformidade com as normas editadas pelo International
Accounting Standards Board (IASB).

A harmonização tem por finalidade melhorar a qualidade da informação contábil. Ball e


Pflugrath (2012) salientam que entidades públicas com práticas contábeis defasadas não são
capazes de tomar decisões quanto a melhor alocação dos escassos recursos públicos de forma
eficiente. Desde 2008, o Brasil vem buscando a implementação das normas internacionais de
contabilidade para os setores público e privado. No setor privado, esta adoção foi concluída
em 2010. Já no setor público, o que houve foi um discurso que seriam adotadas as IPSAS,
entretanto, essa convergência foi mais teórica do que efetiva. Na prática, o que ocorreu no
setor público foi a edição de onze normas denominadas NBC TSP (o que não deixa de ser um
grande avanço), mas não há de se confundir com a convergência às normas internacionais de
contabilidade aplicadas ao setor público.

De acordo com Amorim (2008), o objeto da Contabilidade Pública é o patrimônio público,


que compreende os bens, direitos e obrigações da Administração Pública, e o seu objetivo.

O modelo contábil adotado atualmente na União, nos Estados membros, no Distrito Federal e
nos Municípios, influenciado, ainda, pelos preceitos estabelecidos na Lei n.º 4.320, de 17 de
março de 1964, está passando por um processo de modernização e convergência aos padrões
internacionais de Contabilidade aplicada ao setor público. (Feijó e Bugarim, 2008)

Por outro lado, as International Public Sector Accounting Standards (IPSAS) emitidas pelo
International Public Sector Accounting Standards Board (IPSASB) da International
Federation of Accountants (IFAC) são padrões globais de alta qualidade para a elaboração de
demonstrações contábeis por entidades do setor público utilizados nos principais processos de
reforma observados ao redor do planeta.

Anthony (1985) já assinalava que as regras da Contabilidade governamental predominantes


até os anos 80 nos EUA e, possivelmente no resto do mundo, permitiam que contabilistas
“jogassem”, ou seja, “manipulassem” as informações contábeis de acordo com o desejo dos
governantes, contrariando, assim, a finalidade básica de qualquer sistema de Contabilidade:
relatar de forma precisa a situação econômico financeira de uma organização.

2.2 O ensino da Contabilidade no Brasil

O Brasil não possui uma escola de pensamento contábil totalmente brasileira. Pode-se afirmar
que a contabilidade atualmente em vigor no país é baseada no modelo norte-americano,
modelo este que sucedeu o italiano, primeiro modelo contábil adotado no país. A afirmação
da escola norte-americana no Brasil é indiscutível, haja vista que o principal livro de
Contabilidade Introdutória do país, adotado por partes das IES, tem seu conteúdo pautado nas
premissas contábeis oriundas dos Estados Unidos. Contudo, segundo Marques (2004) a
metodologia contábil norte-americana não vem sendo seguida a contento pelos docentes dos
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cursos de ciências contábeis no Brasil. Muitos deles têm abordado, de uma forma muito
simplória, os demonstrativos, passando, em sequência, para os lançamentos contábeis.

Dessa forma, para Soares (2010), os alunos não detêm suporte para assimilar nem os
demonstrativos, tampouco os lançamentos, pois uma quantidade exacerbada de informações é
dada em um período de tempo muito escasso. Em sua grande maioria, os docentes ensinam os
demonstrativos e os lançamentos já no primeiro semestre, fazendo com que a aprendizagem
seja muito pequena e os alunos fiquem desmotivados com a disciplina.

Tem-se que ter em mente que o “aprender a fazer” não deve ser simplesmente ensinar o aluno
uma função onde este executará uma tarefa material. Sobre isso, Delors (2001) afirma que
para os dirigentes empresariais, as qualidades do “saber ser” se juntam ao “saber” e ao “saber
fazer”. Isto fez com que a comissão alertasse para a importância da ligação que a educação
deve manter entre os diversos aspectos da aprendizagem. Em um mercado cada vez mais
exigente, virtudes como uma boa comunicação, trabalhar em conjunto, liderar, gerir e resolver
impasses, tornam-se cada vez mais importantes. Para Kraemer (2005, p.7) “[...] aprender a
fazer significa tornar as pessoas aptas a enfrentar numerosas situações e a trabalhar em
equipe, não somente ter uma qualificação profissional”.

De acordo com o INEP (2010), o curso de Ciências Contábeis, em suas diretrizes curriculares,
encontra-se destacado o quadro do perfil do contador, onde salienta-se: responsabilidade
social, ética profissional, capacidade de participação em equipes multidisciplinares e
capacidade de iniciativa e de interação com a comunidade (BRASIL, 2017).

Para que os docentes do curso de Ciências Contábeis consigam transformar seus alunos em
verdadeiros cidadãos, responsáveis ética e socialmente, devem, segundo Negra (2003) mostrar
referências intelectuais que lhes permitam compreender o mundo que os rodeia e a se
comportar nele como autores responsáveis e justos.

Modernamente, todas as profissões estão em buscas de novas maneiras para adequar sem ao
cada vez mais exigente mercado. A contabilidade, especificamente, também está inserida
nesse meio. Se décadas atrás o trabalho do contador era algo extremamente operacional e
mecânico, hoje as grandes empresas exigem que seus profissionais da área contábil sejam
multifuncionais, capazes de dominar conceitos do direito, da administração e da economia. A
contabilidade como ciência, teve seu progresso sempre subordinado a imposições dos
mercados. Se os interessados nas informações contábeis das empresas esperam muito mais do
que simplesmente o balanço patrimonial, cabe ao contador sanar essas ânsias.

As abordagens atuais, muito mais técnicas do que dinâmicas, dificultam que o aluno se torne
um profissional da área contábil capaz de lidar com as mais diversas situações que lhes
puderam surgir. A visão da contabilidade como uma simples ferramenta de controle
financeiro é propagada em grande parte das IES do país, por meio de aulas cansativas e pouco
estimulantes.
Valorizar o curso de Ciências contábeis, tornar os alunos profissionais contábeis preparados
para suprirem as necessidades de um mercado cada vez mais exigente, as IES devem, segundo
Kraemer (2005, p.11) expandir sua intervenção para além dos aspectos técnicos. O ensino
deve, além de propiciar o aprendizado da Contabilidade, quer a nível teórico, quer a nível
prático, preparar o profissional para enfrentar a realidade, através do desenvolvimento de
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aptidões humanas, tais como criatividade, flexibilidade, capacidade de relacionar-se, trabalhar
em equipe, dentre outras.

A educação é um procedimento de maturação e constituição do caráter humano, que exerce


influência sobre o homem nos mais diversos aspectos de sua vida, iniciando no seio familiar,
prosseguindo no ambiente colegial e se prolongando por toda existência. O principal objetivo
da educação, segundo Brondani e Santos (2003), é dotar o homem de instrumentos culturais
capazes de impulsionar as transformações materiais e espirituais exigidas pela dinâmica da
sociedade. A educação maximiza autoridade do homem sobre o ambiente que o cerca e
concomitantemente busca conformá-lo aos objetivos de progresso e equilíbrio social da
coletividade a que pertence. Sendo assim, é nítida a relevância do docente na formação dos
novos profissionais contábeis, pois cabe a ele formar contadores críticos, motivados, criativos,
com raciocínio contábil e interesse pela pesquisa.

Conforme Kraemer (2005), o professor de nível superior da formação profissional tem a


responsabilidade de formar pessoas com competências e habilidades para dar sua parcela de
contribuição neste ambiente, quer atuando como docente, quer como profissional, ou
pesquisador, dentro de padrões técnicos nacionais e internacionais. Evidentemente que,
sozinho, nenhum docente logrará êxito, mas, através de atividades interdisciplinares, os
estímulos de toda uma equipe de profissionais altamente competentes poderão ser somados
para alcançar tal objetivo. É essencial que o professor de contabilidade esteja inserido em um
projeto pedagógico interativo, no qual seja possível reconstruir sua prática, seus saberes e sua
competência.

Constata-se assim, que a melhora dos cursos de Ciências Contábeis engloba desde o início
pelo compromisso e uma maior dedicação por parte dos docentes, tratando à profissão com
mais afinco e não como mero complemento de sua renda mensal, como também participação
mais adequada das IES nos investimentos em recursos humanos e principalmente na
capacitação didático-pedagógica dos professores de Contabilidade.

3.1 Práticas Pedagógicas no ensino da Contabilidade Pública no Brasil

O que representa as práticas pedagógicas para os docentes? Quais são as características de


boas práticas pedagógicas, analisando o contexto social e o papel que ocupa a formação nesse
contexto? A representatividade que a prática pedagógica pode assumir é diversa, ou seja,
reside em algo que não pode ser deliberado, apenas imaginado, variando de acordo com os
preceitos em que estiver baseada a ideia. Baseado em Freire e Shor (1986), um conceito de
prática pedagógica moldada pelo termo dialógica, em que a concepção do conhecimento é
tida como um processo realizado por ambos os atores: docente e discente, no sentido de uma
leitura crítica da realidade social. Assim, a prática pedagógica pode ser definida assim como
sugere Fernandes (2008, p. 159): […] prática intencional de ensino e aprendizagem não
reduzida à questão didática ou às metodologias de estudar e de aprender, mas articulada à
educação como prática social e ao conhecimento como produção histórica e social, datada e
situada, numa relação dialética entre prática-teoria, conteúdo-forma e perspectivas
interdisciplinares.

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Nessa perspectiva, expõem-se a seguir alguns métodos de transmissão dos conteúdos cujo a
execução nas disciplinas de Contabilidade, poderá colaborar para o aperfeiçoamento da
relação ensino-aprendizado dos discentes do Curso de Ciências Contábeis, foco deste
trabalho.

3.1.1 Aula Expositiva

Segundo o professor Doutor Sérgio Wagner de Oliveira (2012, p.2) A aula expositiva é, sem
dúvida, o mais precioso momento da atividade didático pedagógica do professor, em que os
conhecimentos técnicos e de formação global do educando lhes são dados a conhecer, a fim
de descortinar-lhe o horizonte para futuras realizações. É, portanto, o momento que exige do
professor os maiores cuidados no planejamento. Considere-se que a aula expositiva pode ser
ministrada em qualquer lugar: na sala, no laboratório, no campo, nas dependências
desportivas e onde, enfim, ela for possível ou necessária.

É essencial discutir-se a aula expositiva em todas as suas características, com docentes das
mais variadas formações, por referir-se de uma das principais ferramentas tecnológicas
utilizada pelos professores de todos os níveis. Segundo Oliveira (2012) não há outra forma de
se ministrar um conteúdo em sua totalidade sem que se utilize, aliada aos recursos didáticos
de que se dispõe, a aula expositiva.

Segundo Matos (1976), é a metodologia de ensino por meio do qual os docentes expõem um
assunto, definindo-o, analisando-o e explicando-o. Para Nérici (1981), é a apresentação oral
de um tema logicamente estruturado. Outros autores, como Carvalho (1974) e Oliveira
(1986), não apresentam uma conceituação da técnica específica, todavia, foca-se em esmiuçar
suas peculiaridades para enfatizar o seu conceito. Sendo assim, tem-se dois posicionamentos
dos referidos autores: uma é a ênfase na linguagem oral como recurso primordial da aula
expositiva; outra é a observação de que a metodologia é utilizada apenas para transmissão de
assuntos predominantemente teóricos.

Para Matos (1976), o grande foco da aula expositiva é unicamente conseguir que os discentes
possuam um entendimento inicial, fundamental para a aprendizagem de um novo assunto.
Isso quer dizer que o domínio do conteúdo ministrado não pode ser alcançado numa aula
expositiva, mas somente uma primeira compreensão de informações fundamentais.

Nérici (1981) diz que a aula expositiva tem como objetivo a economicidade do tempo quando
há iminência em se apresentar determinado conteúdo, assim como proporcionar a alienação
dos saberes que ainda não tenham sido publicados. Ramos e Rocha (1981) adicionam que a
aula expositiva tem por finalidade também remeter aspectos essenciais do conteúdo, seja na
conclusão de uma unidade de estudo ou no fechamento de assuntos estudados em grupo.

Segundo Saviani (2008), na busca de uma concepção pedagógica crítica, não existe
preferência por métodos de ensino e condenação de outras. Uma pedagogia que busque a
vinculação contínua e permanente entre educação e meio social deve estar empenhada no bom
funcionamento da escola e, portanto, interessada em técnicas de ensino que produzam
aprendizagens substanciais para os alunos. Esses procedimentos devem situar-se sobre os
procedimentos didáticos chamados tradicionais, gerando-se a partir das contribuições que os
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mesmos podem proporcionar a um ensino transformador. São técnicas que estimulam a
atividade e iniciativa dos alunos sem eximir a iniciativa do professor, ao mesmo tempo em
que podem engrandecer o diálogo dos discentes entre eles e com o docente, sem deixar de
enfatizar o diálogo com a cultura acumulada historicamente.

Partindo deste preceito pedagógico como pilar, é viável tornar a aula expositiva numa
metodologia de ensino dinâmica e capaz de desenvolver o raciocínio crítico do discente,
dando-lhe a chance para o progresso da reflexão crítica, da criatividade e da curiosidade
científica, predicados fundamentais numa educação inovadora.

3.1.2 Seminário

A mescla entre vivências e leituras acerca de determinadas técnicas para a aprendizagem é


uma maneira de elevar o nível dos estudos. Assim, as experiências possibilitam notar o
alcance das fundamentações teóricas e as leituras sustentam as ações;
Procurando definições sobre seminário, o entendimento passou a ter um alcance maior e a
programação deste tipo de atividade alcançou perímetros mais sólidos e dimensões
maximizadas. Medeiros (2004, p. 31) define seminário como buscar informações, por meio de
pesquisa bibliográfica ou de entrevista de especialistas, discussão em grupo, confronto de
pontos de vista, formulação de conclusões. Realizado o trabalho inicial, leva-se o resultado a
uma assembleia para discussão. Todos devem participar. Não é o seminário uma assembleia
para relatar informações tão somente.

Medeiros (2004), Lakatos e Marconi (2005) afirmam que o seminário é uma técnica de estudo
que inclui pesquisa, discussão e debate e acrescentam que [...] Essa técnica desenvolve não só
a capacidade de pesquisa, de análise sistemática de fatos, mas também o hábito do raciocínio,
da reflexão, possibilitando ao estudante a elaboração clara e objetiva de trabalhos científicos
(LAKATOS; MARCONI, 2005, p. 35).

3.1.3 Estudos de Casos

Para Goode e Hatt (1969), o estudo de caso é um meio de organizar os dados, preservando do
objeto estudado o seu caráter unitário. Considera a unidade como um todo, incluindo o seu
desenvolvimento (pessoa, família, conjunto de relações ou processos etc.). Vale, no entanto,
lembrar que a totalidade de qualquer objeto é uma construção mental, pois concretamente não
há limites, se não forem relacionados com o objeto de estudo da pesquisa no contexto em que
será investigada. Portanto, por meio do estudo do caso o que se pretende é investigar, como
uma unidade, as características importantes para o objeto de estudo da pesquisa.

Segundo Yin (1989), o estudo de caso representa uma investigação empírica e compreende
um método abrangente, com a lógica do planejamento, da coleta e da análise de dados. Pode
incluir tanto estudo de caso único quanto de múltiplos, assim como abordagens quantitativas e
qualitativas de pesquisa.

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Na visão de Stake (2000), o estudo de caso caracteriza-se pelo interesse em casos individuais
e não pelos métodos de investigação que pode abranger. Chama a atenção para o fato de que
“nem tudo pode ser considerado um caso”, pois um caso é “uma unidade específica, um
sistema delimitado cujas partes são integradas”.

Na posição de Ludke e André (1986), o estudo de caso como estratégia de pesquisa é o estudo
de um caso, simples e específico ou complexo e abstrato e deve ser sempre bem delimitado.
Pode ser semelhante a outros, mas é também distinto, pois tem um interesse próprio, único,
particular e representa um potencial na educação. Destacam em seus estudos as características
de casos naturalísticos, ricos em dados descritivos, com um plano aberto e flexível que
focaliza a realidade de modo complexo e contextualizado.

Tendo em conta as posições dos autores apresentados, o estudo de caso como modalidade de
pesquisa é entendido como uma metodologia ou como a escolha de um objeto de estudo
definido pelo interesse em casos individuais. Visa à investigação de um caso específico, bem
delimitado, contextualizado em tempo e lugar para que se possa realizar uma busca
circunstanciada de informações.

Os estudos de caso mais comuns são os que têm o foco em uma unidade – um indivíduo (caso
único e singular, como o “caso clínico”) ou múltiplo, nos quais vários estudos são conduzidos
simultaneamente: vários indivíduos, várias organizações, por exemplo.

3.1.4 Dissertação ou resumos

A Associação Brasileira de Normas Técnicas (NBR - 14724) define dissertação: Documento


que representa o resultado de um trabalho experimental ou exposição de um estudo científico
retrospectivo, de tema único e bem delimitado em sua extensão, com o objetivo de reunir,
analisar e interpretar informações. Deve evidenciar o conhecimento de literatura existente
sobre o assunto e a capacidade de sistematização do candidato. É feito sob a coordenação de
um orientador (doutor), visando à obtenção do título de mestre.

Partindo deste pressuposto, pode-se afirmar que uma dissertação é a representação de uma
compilação de temas específicos, os quais seus alcances visam salientar toda a metodologia
sistematizada, a fim de fazer aflorar um trabalho que signifique cuidadosamente, pontuar um
trabalho científico.

Para Lakatos e Marconi (2001), dissertação é um tipo de trabalho científico apresentado ao


final do curso de pós-graduação, visando obter o título de mestre.

Para Beuren (2003), a dissertação representa o trabalho final do mestrado, que é o estágio
intermediário do estudante na vida acadêmica, sendo esperado que a dissertação contenha o
pensamento amadurecido do educando.

4. Conclusões e Contribuição Tecnológica/Social:

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A preocupação com a qualidade do ensino da Ciência Contábil sempre foi algo inerente
a todos da classe. Contudo, nos últimos anos essa preocupação tem aumentado, haja vista
as inúmeras mudanças, tanto na grade curricular do curso, quanto no mercado de trabalho.

O maior destaque nas pesquisas brasileiras sobre adequação dos currículos dos cursos de
Ciências Contábeis nas Instituições de Ensino Superior (IES) possui foco na análise do
currículo mundial proposto pela Organização das Nações Unidas (ONU), United Nations
Conferenceon Trade and Development (UNCTAD) e International Standards of Accounting
and Reporting (ISAR). Uma análise em quatro instituições do Mercosul identificou um nível
de aderência de 76,7%, bem como semelhança entre as instituições de Brasil, Argentina e
Uruguai, tendo uma redução quando analisada a IES paraguaia, com 68% de atendimento ao
currículo internacional (SEGANTINI et al., 2010).

Um estudo mais abrangente, com 27 universidades federais brasileiras, identificou aderência


de 48,9% pelos cursos de Ciências Contábeis dessas instituições (CAVALCANTE et al.,
2011). No entanto, algumas disciplinas tratadas nacionalmente não são previstas no currículo
internacional, com destaque à Perícia Contábil.

Transmitir os ensinamentos de contabilidade para alunos que em grande parte nunca tiveram
nenhum tipo de contato com a ciência contábil, e relegar somente ao professor tal missão é
algo inconveniente. É necessário, além de uma renovação metodológica por parte dos
docentes, maior interesse de aprendizagem por parte dos alunos, acomodados em cima de
argumentos como professores sem didática ou dificuldade de conteúdo.

Como contribuição deste trabalho, segue algumas sugestões para contribuir no contínuo e
dinâmico processo de melhoria do ensino da contabilidade no Brasil.

1) Adequação das disciplinas ensinadas à especialidade de cada professor. É fundamental


para a o bom aprendizado por parte dos alunos, que o professor conheça profundamente área
em que atua. Sendo assim, o ideal seria adequar cada disciplina ao professor que melhor
encaixe seu perfil nela.

2) Inovação das Práticas Pedagógicas. Trabalhos em equipes, apresentações de seminários,


visitas técnicas, estudos de casos são alguns exemplos de metodologias que podem ser
utilizadas para dinamizar e inovar suas aulas, forçando seus alunos a pensarem de forma
diferente sobre a contabilidade.

3) Qualificação dos Docentes. Incentivar e possibilitar aos professores participarem de


programas de qualificação na área docente, principalmente no que tange a metodologias e
abordagens em sala de aula. Inseri-los em projetos de pesquisa voltada para a área contábil é
outra forma de incentivar suas qualificações.

4) Revisão da ementa das disciplinas. Revisar a forma e os conteúdos que são ministrados
pelas disciplinas contabilidade básica I e II. Utilizar-se de métodos mais modernos e
dinâmicos para facilitar a assimilação dos alunos dos conteúdos.

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