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René Descartes. O Discurso do Método e Meditações.

01. INEXISTE NO MUNDO coisa mais bem distribuída que a razão (bom senso). E é
improvável que todos se enganem a esse respeito; mas isso é antes uma prova de
que o poder de julgar de forma correta e discernir entre o verdadeiro e o falso, que é
justamente o que é denominado bom senso ou razão, é igual em todos os homens;
e, assim sendo, de que a diversidade de nossas opiniões não se origina do fato de
serem alguns mais racionais que outros, mas apenas de dirigirmos nossos
pensamentos por caminhos diferentes e não considerarmos as mesmas coisas.
02. Quanto a mim, nunca supus que meu espírito fosse em nada mais perfeito do que os
dos outros; com freqüência desejei ter o pensamento tão rápido, ou a imaginação tão
clara e diferente, ou a memória tão abrangente ou tão pronta, quanto alguns outros.
E desconheço quaisquer outras qualidades, além daquelas que servem para o
aperfeiçoamento do espírito; pois, quanto à razão ou ao senso, posto que é a única
coisa que nos diferencia dos animais, acredito que existe totalmente em cada um,
acompanhando nisso a opinião geral dos filósofos, que afirmam não existir, nem mais
nem menos senão entre os acidentes (e não entre as formas ou naturezas dos
indivíduos de uma mesma espécie).
03. Tive muita felicidade de me haver encontrado em determinados caminhos, que me
levaram a considerações e máximas, das quais formei um método, pelo qual eu
consiga aumentar de forma gradativa meu conhecimento e de elevá-lo, pouco a
pouco, ao mais alto nível. Pois já colhi dele tais frutos que, apesar de no juízo que
faço de mim próprio eu procure inclinar-me mais para o lado da desconfiança do que
a certeza, e que, observando com um olhar de filósofo as variadas ações e
empreendimentos de todos os homens, não exista quase nenhum que não me
pareça fútil e inútil, não deixo de lograr extraordinária satisfação do progresso que
creio já ter feito na procura da verdade.
04. Contudo, pode ocorrer que me engane. Sei como estamos sujeitos a nos enganar no
que nos diz respeito, e como também nos devem ser suspeitos os juízos de nossos
amigos, quando são a nosso favor.
05. Portanto, meu propósito é somente mostrar de que modo me esforcei para conduzir
a minha razão. Mas este escrito é proposto senão como fábula, na qual, entre alguns
exemplos que se podem imitar.
06. Fui instruído nas letras desde a infância; por intermédio delas, poder-se-ia adquirir
um conhecimento claro e seguro de tudo o que é útil à vida. Porém, assim que
terminei esses estudos, mudei totalmente de opinião. Pois me encontrava
embaraçado com tantas dúvidas e erros que me parecia não haver conseguido outro
proveito, procurando instruir-me, senão o de ter descoberto cada vez mais a minha
ignorância. E mesmo não havendo me contentado com ciências que nos ensinavam,
lera todos os livros que tratam daquelas que são reputadas as mais curiosas e as
mais raras, que vieram a cair em minhas mãos. Além disso, eu conhecia os juízos
que os outros faziam de mim; e não via de modo algum que me julgassem inferior a
meus colegas, apesar de entre eles haver alguns já destinados a ocupar os lugares
de nossos mestres. E, enfim, o nosso século parecia-me tão luminoso e tão fértil em
bons espíritos como qualquer um dos anteriores, O que me levava a tomar a
liberdade de julgar por mim todos os outros e de pensar que não havia doutrina no
mundo que fosse tal como antes me haviam feito presumir.
07.
O Método conjunto ordenado de regras. Como, por exemplo, regras para fazer uma boa
comida; regras para se filosofar e, como se propõe o método, “para bem conduzir a razão”.
Eis as disposições do Método:
1. Tem que ser o caminho seguro até a verdade;
2. Tem que ser universal, para qualquer área do saber - e isso graças ao renascentismo
e ao racionalismo. Ademais, o inatismo fundamenta isso: todos têm raciocínio lógico,
portanto, podem filosofar, com segurança através do método;
3. O método tem que ser simples. Não pode ser complexo. Dispor de poucas regras.

Descartes faz da dúvida um meio, como uma investigação para se alcançar a verdade.
Reprovando TUDO, duvidando de TUDO, porque nada pode ser evidente. Com base nisso
ele trilha seu método para se chegar a alguma evidência, ou uma primeira ideia clara e
distinta.

Meditações: Descartes filosofa utilizando o método que ele mesmo criou, isso é notório.
Então nesse livro, Meditações, ele medita sobre sua vida e sobre a existência das coisas a
partir do método que ele mesmo criou. O método é colocado em prática, portanto, nesta
obra.

Visão cartesiana: definição do Ser;


Visão cartesiana: definição do mundo, ou o funcionamento do mundo.

O renascimento e sua cultura influenciaram Descartes com sua filosofia. O antropocentrismo


é refletido em Descartes, com a questão do cogito, por exemplo.
Descartes criou 4 passos, funcionam como método, trabalhe somente com evidências,
livrando-nos de qualquer dúvida. Por exemplo, algo muito evidente, qual não nos oferece
nenhum esforço: 2 + 2 = ?.

Método Cartesiano

1ª regra do método:
Só aceitar como verdadeiro aquilo que se apresenta como evidência. Fora isso, é dúvida.
Porém, a maioria das coisas que nos cercam no mundo não são tão evidentes assim.
Descartes é muito criterioso para com sua filosofia.

2ª regra do método:
É necessário dividir cada problema que se estuda em tantas partes menores, quantas forem
possíveis e necessárias para melhor resolvê-las. Pega-se um problema complexo, divide-o a
ponto de essas partes se tornarem evidentes com intuito de se entender a realidade. É
impossível resolver problemas de maneira integral. É necessário fragmentá-los em partes
onde cada parte se torna uma evidência. O que não for evidente, aceita-se como uma
hipótese melhor ou pior, algo verossímil.

3ª regra do método:
Conduzir com ordem os pensamentos começando pelos objetos mais simples e mais fácil de
conhecer para elevar-se pouco a pouco como por degraus até o conhecimento dos mais
complexos, supondo uma ordem também entre aqueles nos quais uns não precedem
naturalmente aos outros. Dividir em pequenas partes, tornando algumas partes evidentes.
Primeiro entendendo estes. Depois indo em direção aos mais complexos.

4ª regra do método:
A última regra é a de fazer sempre enumerações completas e revisões gerais, a ponto de
ficar seguro de não ter omitido ou se enganado em nada. Como uma revisão para rever se
ficou alguma coisa complexa, não evidente.

Essas regras serão utilizadas, postas em práticas pelo raciocínio; pela lógica, indo da parte
da inteligência matemática, para ser usada na sua filosofia. Estes foram os 4 passos
simples. Porém isso ainda não fecha sua filosofia. Precisa-se, através das 4 regras para
deixar a filosofia “limpa”; tirar toda a confusão e toda dúvida. Deixar somente as evidências,
as ideias claras e distintas. Mas essas 4 regras matemáticas (1ª parte) precisam de mais um
método (2ª parte) para fazer funcionar sua filosofia completamente. Este mais um método
une as duas partes, transportando a 1ª parte para a 2ª, e se chama-se “Dúvida Metódica”.

Dúvida Metódica

Descartes trás 2 hipóteses para apresentar a dúvida metódica:


1º do Sonho
2º do Gênio Maligno.
(Estão nas Meditações).

Com isso ele usa a dúvida para questionar tudo o que existe no universo e não deixar “ponto
sem nó”, ou seja, duvidar de tudo - inclusive de sua própria existência. Isso será aplicado
para abrir campo para as 4 regras do método a fim de aceitar aquilo que é evidente. É como
se ele utilizasse uma peneira para deixar somente o que é evidente, claramente,
indistintamente. Isso será como elevar a dúvida a um nível absurdo, a dúvida hiperbólica.
Coisa inédita na filosofia. Pois na Grécia antiga, nada era posto em dúvida, pelo contrário:
“algo existe”; na idade média, por exemplo, não se tinha dúvida - não pelo menos da
existência de Deus. Ou seja, “Deus existe”. Já com Descartes, houve o seguinte problema:
“Duvido de tudo, da existência de tudo”. Mas será possível? Será mesmo que pelo menos
alguma coisa não tem que existir? Ou será que Descartes crê que não exista nada
realmente? Eis é a dúvida hiperbólica: Não tenho certeza de nada do que sinto (vejo, escuto,
etc etc). A partir daí, Descartes pega o sonho para provar as dúvidas das coisas. Nada
garante realmente que meu corpo exista. Porque quando sonho tenho a mesma sensação
de quando em vigília. E tudo pode ser produto de um sonho. Portanto, tudo pode ser falso.
Depois Descartes joga com a inteligência matemática: Quem me diz que 2 + 2 = 4? E se não
existe um gênio maligno, que me pôs na cabeça, que criou tudo isso a fim de me enganar?
Como posso ter certeza de que as coisas que existem, na verdade são falsas? Inclusive as
noções matemáticas.

E se eu fui criado por um Deus maligno, que por inatismo, me manda uma inteligência e que
com isso me dá formas de conhecer erroneamente tudo ao meu redor? (Matrix: a máquina é
um Deus maligno, fazendo os homens dormir para viverem de seus sonhos. A Origem:
também é sobre sonho, com Di Caprio)
Descartes continua com seus argumentos e raciocínio: tudo pode ser sonho, deus maligno,
nada evidente ou tudo questionável (dúvida). Se eu duvido dessas coisas, minha dúvida
hiperbólica está ativa, então de uma coisa eu sei que é evidente: é a dúvida. A minha
dúvida. Se eu sei que duvido, há aí uma evidência. E, se duvido, estou pensando, estou
sendo. Portanto, se duvido, penso; se penso, existo. É evidente que eu existo.
(Solipsismo). Ele chegou a essa conclusão através da razão.

Eu penso, primeiro sou um ser pensante; eu existo, segundo sou um ser com uma
substância extensa, existência física. O ser é ideia (pensante) e extensão. Mas uma coisa é
uma coisa, outra é outra. Os dois têm funcionamentos distintos e autônomos.

Se sou um ser existente que pensa, eu tenho ideias e uma delas é a de perfeição. Mas se
sou imperfeito, porque me engano, porque meus sentidos me traem, como posso ter ideia
de perfeição? Se sou um ser que tem ideia de perfeição na minha mente, mas não a concebi
por mim mesmo, então outro a criou em meu lugar, e esse ser perfeito, foi Deus. Se a
maldade e un erro, entao Deus e bom. Entao Dwus cruou tudo com seu pensamento que
nunca erra e nao vai usar de maldade. Logo, estou acordado, existo, tuso ao meu redor
também existe.

1⁰ homem, substancia pensante extensa


2⁰ Deus nao se engana, subst única mente.
3 mundo é o conjunto de todas as substâncias extensas. Corpóreas.

Deus criou o mundo com pensamento qie nunca erra, ou seja, a razão do raciocínio lógico.
Um projeto lógico matemático, mecânico. O mundo físico está recebendo um mecanismo
lógico.-matemático. Deus quem deus início a essa mecânica toda. (Ex Machina). Tudo no
mundo é extensão e movimento. Ex: uma árvore, será vista apenas materialmente. Através
dos mecanismos que a fizeram se tornar árvore. Só o homem pode analisar essa mecânica
toda, essas evidências e o funcionamento do mundo, dos mecanismos que giram o mundo.
(Em Galileu, Newton também há essa influência): a física mecânica.

Nada tem milagre, alma, espírito ou Deus. Somente extensão, a física. A ciência moderna,
por ex, a medicina: busca os problemas no corpo, na mecânica corporal, no físico. Não
enxergam o homem como um ser espiritual, mas como uma máquina. Descartes influenciou
tudo.

Como se um mundo fosse uma catraca (peça de relógio) que uma vai movendo outra. Uma
imensa máquina que move a si mesmo, porém, dado o seu início por Deus.

Analise cartesiana de algum objeto e feita somente pela extensão. Porque é evidente.
Donde, também, meu raciocínio advém de Deus. E nessa análise, a substância principal, ou
essência última, é o pensamento e a extensão. Portanto, nada se analisa diferente disso,
porque não são evidentes. Cor, peso, altura, demais qualidades não são passíveis de crivos
para Descartes. Só passa nesse crivo os aspectos quantitativos, os qualitativos são
ignorados, pois não são claros e distintos. Não podem ser calculados como causa do
movimento material. Por exemplo, a cor, cheiro, sabor e etc.

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