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Por volta do século XVIII, com o surgimento e posterior desenvolvimento das ciências
da natureza, o homem não mais se entendia como passivo contemplador da realidade, mas
agente e interventor na natureza. Em contraposição a essa ideia, Kant afirma que o domínio
empírico não é absoluto nem no que diz respeito ao conhecimento, nem tampouco no agir
moral humano. Aqui, faz-se presente o que o nosso filósofo chamou Eu Transcendental, ou
seja, a consciência enquanto tal, a subjetividade ou razão pura, que atua como mediação
universal e necessária entre o mundo, o qual nos é dado como uma multiplicidade
indetermina, e o conhecimento humano. Em outras palavras, o mundo só pode ser objeto
cognoscível por meio de esquemas transcendentais (quantidade, qualidade, relação,
modalidade) e das suas respectivas categorias, conceitos puros a priori. O pensar aplica as
categorias aos fenômenos e produz uma síntese, formando dois tipos de juízos: sintéticos e a
priori.
Por outro lado, a teoria prática kantiana entende a razão como empossada em si
mesma, consequentemente, tudo o que não é proveniente da razão pura é passional e
desordenado. A práxis realiza a passagem do homem fenomênico para o “numênico”: o
homem, enquanto fenômeno, está sujeito à lei da causalidade universal, tornando-o
condicionado como todos os demais fenômenos, entretanto, o homem em si se estabelece no
reino dos fins, e é desse domínio de onde deve vir a sua norma de agir.
Kant também aborda o que ele considera como propriamente antropologia, a saber, o
conhecimento do homem fático, uma ciência empírica. Desse modo, o nosso filósofo
estabelece uma relação entre o homem, como ser concreto e disposto no mundo, e a
humanização, processo pelo qual toma consciência da lei moral e da liberdade, ambas
provenientes da razão pura. A antropologia filosófica empírica atém-se a um conhecimento
universal sobre o homem concreto. A teoria das faculdades é um meio que torna possível a
observação de regularidades gerais no comportamento do ser humano. Dentro desse campo,
duas são as acepções da antropologia: a fisiológica, que consiste em estudar os
condicionamentos a que o homem concreto está submetido, e a pragmática, ou seja, o estudo
do homem como único ser que, por meio da razão, pode e deve agir sobre si mesmo.
Como único ser que pode chegar à razão, o homem se distingue dos outros animais por
três disposições fundamentais: a técnica, que é a capacidade humana de controlar as coisas
materiais; a pragmática, isto é, o potencial civilizatório do homem por meio da cultura; a
moral, entendendo o homem, enquanto inteligível, como um ser naturalmente bom, mas
também, enquanto ser concreto no mundo, tendente à realização do mal. Nesse paradoxo, o
homem deve cultivar a racionalidade para se humanizar, tornar-se civilizado e realmente livre.
Desse modo, a humanidade e a liberdade do homem são decorrentes de um conflito entre a
sua animalidade instintiva e o seu caráter racional, a educação especificamente humana.