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BOLETIM KULTRUN
VOL. 3, N°1, ABRIL DE 2021
Editorial
Esta primeira edição temática de 2021, Revolução das plantas, está tecida
de trabalhos sensíveis que perpassam o campo das artes visuais, intervenção
urbana, literatura e poesia. Algumas criações abordam o modo como as plantas
constituem os espaços urbanos, resistindo ao concreto como ervas daninhas,
que vingam, crescem e alastram-se. Há trabalhos de singular delicadeza, que
lançam olhar à natureza como integrante do cotidiano em seus mais ínfimos
detalhes. Outras contribuições, envolvendo pesquisa, reflexão crítica e criação
artística, remetem-nos à compreensão de que, como vidas humanas, somos
parte da natureza. Logo, os processos de violenta exploração e dizimação de
florestas em prol do “progresso”, são refletidos em manifestos poéticos que
reivindicam o lugar das raízes ancestrais, dos inços, das sementes crioulas, das
vegetações nativas, das águas e dos animais. Os ciclos da natureza como
habitantes dos corpos também são abordados em algumas colaborações que
chamam à escuta dos movimentos de vida e morte presentes em diversas
experiências, de formas visíveis e invisíveis. A edição reúne, ainda, trabalhos
que relacionam plantas e saúde, ritos e cura, e folhas e saberes indígenas.
SUMARIO
JOANA AMORA
Artista-jardineira e pesquisadora multimídia
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Geométrico de Musgo
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Busco co-criar trabalhos que estimulem uma plena consciência do viver. E propor
uma reaproximação lúdica humano-natureza e humano-si-mesmo como natureza.
Semeando modos de vida sustentáveis a partir do cuidado.
Joana Amora
Email: joanaptostes@gmail.com
Fone: + 55 (21) 9 9442 2413
Website (1): amora.cargo.site
Website (2): www.behance.net/amoramamora
Instagram: @amoramamora
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Sou Julliane Ferreira Sachi, estudante, desde 2017, do curso de Letras Artes e
Mediação Cultural na UNILA. Dentro da universidade meus principais temas de
pesquisa são teatro político, corpo e sexualidade. Nasci no entorno do Distrito Federal
e vivi, quando criança, no sul de Minas Gerais, em Cambuquira. Atualmente, devido à
pandemia, estou em São Thomé das Letras. São Thomé é uma cidade que desperta
em mim sentimentos profundos da minha infância. Com o passar dos anos, fica mais
nítido o descaso político com a cidade e com a população, mesmo diante da devastação
desenfreada da biodiversidade. É gritante o desmatamento que a região vem sofrendo.
Hoje se vê outra paisagem e, consequentemente, o agravamento de questões como
saúde pública, escassez hídrica, poluição do solo e desequilíbrio climático.
E-mail: jupiter.caju@gmail.com
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Memorial descritivo
TELA MINERAL, por Julliane Ferreira
A maior mobilização para compor esta colagem foi o incômodo com a perda das
paisagens naturais de São Thomé das Letras, devido ao processo massante de
extração mineral que persegue há séculos Minas Gerais. A destruição da montanha não
é a única consequência que o lugar vem sofrendo ao longo dos muitos anos de extração
mineral, as águas também ficam contaminadas.
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La Minería
O topo.
O principal apoio da economia colonial foi a mineração, e até hoje Minas Gerais
é explorada pela ganância extrativista. Aqueles que comem nuestras montanhas, e
vendem as riquezas da terra, em grande parte das vezes atuam de forma ilegal. É cruel
sentir, quase diariamente, o estrondo de dentro das montanhas, que as dinamites
provocam. El sonido afeta os trabalhadores que ali convivem com o barulho. E também
e afetada a vegetação, que é atingida com a destruição, em parcela, da sua mata viva:
os animais, rios e as árvores contorcidas do cerrado e mata atlântica.
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NÚRIA MANRESA
Brotos
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Bougainvillea
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Cucurbita
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Brunfelsia
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CAMILA HUHN
Maria e o pé de feijão
Camila Huhn. Vitória ES. Artista visual, fotógrafa e designer. Graduanda no curso de
Artes Visuais pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e Arquitetura e
Urbanismo pela Faculdade Multivix Vitória. Aborda em sua pesquisa artística a relação
entre o ecofeminismo e a arte, bem como a inserção entre o corpo e arquitetura, por
meio da performance, intervenção urbana e instalações.
E-mail: camilahuhn@gmail.com
Instagram: camilahuhn
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CARINNE LIRA
Carinne Lira, paraibana de nascença e carioca de criação, transita entre Rio de Janeiro,
Rj e Foz do Iguaçu, PR. Mulher periférica, feminista, artista-pesquisadora. Investiga as
relações entre arte, natureza e ancestralidade, por uma cosmovisão decolonial, desde
o íntimo. Experimentando uma escuta sensível que implica o horizonte do ser, na busca
tanto de si e suas múltiplas formas, como de outres. Por meio das linguagens da
fotografia, da colagem e da fotoperfomance, manifesta-se seu acontecer poético.
E-mail: carinne_lira@hotmail.com
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A série Raízes: onde ensaio minhas firmezas faz parte central em minha
pesquisa em arte e natureza. Onde investigo minha corpa-planta, através de colagens
feitas com fotografias minhas e fotografias de família.
Registros de raízes das plantas penetram minhas memórias de família,
inaugurando novas lembranças de minha história. Dentro dessa possibilidade, em unir
imagens de diferentes trajetórias, interferidas, sobrepostas, gerando outras imagens.
Raízes, são onde ensaio as minhas firmezas, e foi ao longo do processo que isso me
foi revelado. E nessa imersão à minha história, ao meu passado, experimento a força
geradora pulsante, e a potência que o resgate à minha ancestralidade provoca. Essa
movimentação me sustenta, traz fúria ao meu devir, evidenciando a urgência em me-
ser. Na medida em que rememoro minha história, para antes da minha própria
existência. Percebo então, através dessa experiência, que passado, presente e futuro
coexistem, me revelando, que para ser árvore, preciso ser raiz.
Raiz.1 - LA MATRIARCA
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Raiz.3 – LA FUERZA
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E-mail: fabioflorentinp@hotmail.com
Instagram: @fabio.florentino
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Essa série é um desdobramento de uma instalação que fiz numa galeria no ano
passado. Pensando num formato que remete ao desenho científico, selecionei três
espécies botânicas regionais para simbolizar o bioma devastado pelos incêndios: o
Murici, a Andiroba e a Jeniparana, que vêm acompanhadas das estruturas cristalinas
do carbono, do hidrogênio e do oxigênio, componentes do carvão vegetal.
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Murici
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Andiroba
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Jeniparana
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SARA BELTRÁN
Sara Beltrán. Nacida en 1998 en la mal llamada Bogotá, criada en Techotiba, Bachiller
y Técnico en Diseño Industrial del glorioso Inem Francisco de Paula Santander,
actualmente es estudiante de Letras, Artes y Mediación Cultural – LAMC, en la
Universidad de Integración Latinoamericana y Caribeña.
E-mail: sariibel9@gmail.com
Instagram: guaranheira
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La fuerza de la delicadeza
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Siembra roja
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E-mail: franciscoaurelio@outlook.com
Instagram: @franxisco.aurelio
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Ss
Zé França
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MARCOS MARTINS
Wabi-Sabi
E-mail: marcosmartins.urbe@gmail.com
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LARA SORBILLE
Natureza morta-viva
E-mail: laravsorbille@gmail.com
Dorsal
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Mel
Muda
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Sonho
Voar
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STEPH LOTUS
Biopoética do infravisual
Steph Lotus, nasceu no interior de Pernambuco, por onde traz sua descendência
indígena Xukurus. Atua como artista visual e fotógrafa na pesquisa em Arte e Educação.
Procura por vida poética Infravisual na invenção de novos modos de ler e escrever com
a vida. Mestre em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul - UFRGS. Licenciada em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da
mesma instituição. Pesquisa com a mistura de peles humanas-não humanas,
macerando-as em pleno Sol do meio dia. Trabalha com fotografia na arte e
comercialmente. Realiza editorações textuais; criações em ambiente real e virtual;
ministra cursos; publica artigos e participa de exposições, na sua maioria coletivas.
Atualmente investiga o campo da biopoética para criar uma alterpoética, uma poética
própria da alteridade. Seus trabalhos mais recentes misturam arte fotográfica e literária,
colocando-as em contato e contágio. Passa pela literatura de Virginia Woolf, por onde
se encontra com verdadeiras poesias fotográficas. Além da poesia, pesquisa
interlocuções com outros saberes, como a antropologia e a filosofia, a fim de
pensar/inventar novos processos artísticos que contemplem estados humanos e não
humanos integralizados.
E-mail: stephannylotus@gmail.com
Website: https://fotografialotus.46graus.com/
Instagram: @stephlotus
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2010.
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WOOLF, Virginia. As ondas. Tradução de Lya Luft. São Paulo: Novo século, 2011.
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fotográfica enraizada na arte da escrita (da poesia), pela dimensão do infra (do
sensível), categoria já experimentada por Marcel Duchamp (1887-1968).6
6 DUCHAMP. Marcel. Notas. Tradução de Dolores Díaz Vaillagou. Madrid: Tecnos, 1989.
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Por fim, desse estudo fractal nasceu o livro de artista: Incidentes Visuais7
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COLETIVO INÇO
Vazio demográfico: o interior é o centro.
Instagram: coletivo.inco
E-mail: dianachiodelli@unochapeco.edu.br
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Soja. Rio represado. Soja. Asfalto. Soja. Fumaça. Soja. Agroindústria. Soja. Trigo.
Soja. Porco. Soja. Gado. Soja. Fumo. Soja.
Progresso.
Inço. Nascente. Inço. Estrada de terra. Inço. Árvore. Inço. Agricultura familiar. Inço.
Semente crioula. Inço. Biodiversidade. Inço.
Peste.
Progresso aqui no Oeste Catarinense tem cheiro de bosta de porco e frango vindo dos
caminhões que abastecem a agroindústria. Progresso já foi o som das árvores nativas
caindo e as toras sendo transportadas por balseiros rio abaixo. Teve som de bala e grito,
daqueles que ao chegar, expulsaram caboclos e indígenas dessa terra. Progresso por
aqui é morte.
Lavouras são espaços de cultivo à serviço da monocultura. Museus podem ser lavouras.
Galerias podem ser lavouras. Escolas também podem ser, quando descartam as
sementes crioulas ao definir um só tipo de grão para o plantio. A arte antecede o
surgimento desse formato de lavoura. Arte é inço.
É anterior porque se cavar fundo, ali, no meio da praça do progresso, numa cova funda,
dá pra ver a raiz firme dos inços procurando as rachaduras no asfalto pra crescer.
Porque, assim como aqui, os interiores deste país são os centros de tudo.
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Por tudo isso é que, aqui, como em tantos cantos desse Brasil fundo - em que os
interiores são postos à margem do progresso que procura, através do concreto,
inviabilizá-los - os inços retomam os centros.
O Coletivo Inço nasce com a vontade de retomar esses espaços que hoje são das
monoculturas. Fazer brotar e ver vingar um jeito outro de se entender como gente do
interior. Valorizando a coletividade e o trabalho das comunidades. Criado por
professores-artistas, busca compreender os espaços onde brotam inços, sejam nas
paisagens das salas de aula, das periferias e interiores, dos fazeres manuais e olhares
multiculturais para os espaços entre arte e meio ambiente.
Sabemos que o cenário atual nos traz dúvidas e nos chama para resistir às podas, às
queimas, à monocultura, ao extrativismo, aos cortes e tudo o que pode nos arrancar de
forma definitiva de nossos contextos. Mas inço é uma peste dessas que resistem. E
resistir é preciso em tempos como os nossos.
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Resumen: este artículo presenta las narrativas de las experiencias del especialista al narrar los
antiguos y la práctica del chamán sobre los hongos de especies comestibles, los elementos de
maniua y maniuaras. Los alimentos del campo son para una buena recuperación de la salud. El
arte culinario de la mujer del Tronco Lingüístico Tukano Oriental pasa por la asepsia alimentar.
El enfoque metodológico se construyó con preguntas semiestructuradas y se cerró en el idioma
tukano según la costumbre local en el Alto Rio Negro, Amazonas.
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Colaboradores da Pesquisa
Formas de abordagem
1 A pesquisa foi realizada no período de 27/12/2019 a 06/02/2020, no Sitio Itaiaçu, médio rio
Tiquié, Município de São Gabriel da Cachoeira, noroeste amazônico, Estado do Amazonas.
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A mãe ou esposa vai à roça nova em busca dos cogumelos. Agora Ãyâ
ditî/cogumelo-jararaca encontra-se na roça antiga, e, kima-ditî/cogumelo-verão se
encontra na roça nova da mata virgem. A roça que tem muitos alimentos.
Antigamente, ao invés de oferecer peixes para doente, a esposa ou mãe oferecia os
cogumelos para uma boa recuperação da saúde.
Meká/Maniuaras
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estivesse doente de wahapĩ, wakari, ehêri põ’ra purise/a dor no coração. Durante ao
período de resguardo, a mãe da criança recém-nascida/ a jovem de menarca,
neoformação da categoria de especialista (kumuá/pajés) se alimentam das maniuaras
com tapioquinha.
O kĩi pũú, um dos alimentos não é tão apreciado pelo povo tukano. Mas, é um
dos alimentos raramente consumidos pelas famílias da região do Alto Rio Negro. O
caldo extraído das folhas secas de maniua/semelhante o tucupi preto.
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Yama-pũri/caruru
É uma árvore arbusto, cuja folha é comestível que se encontra na roça nova.
Este sim que é alimento vegetal. Existem vários os tipos de Yama-pũrí/caruru: Wa’î
Yama-pũrí/caruru-peixe e Ĩroyã Yama-pũrí/caruru-carajiru.
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Para Senhor Benedito todos os alimentos são consumíveis sim, mas, desde
que sejam todos assepsiados pelo pajé para ter uma boa saúde. Os nossos pais não
se alimentavam quaisquer alimentos naturais ou vegetais sem antes da assepsia do
basegi (pajé). Os cogumelos de espécies comestíveis e iese, os elementos
comestíveis de maniua e da maniuara, o pajé faz a assepsia alimentar. Todos estes
alimentos têm os seus bikîrã (insetos): joaninhas, moscas, formigas, lagartinhas,
insetos, borboletas, cabas e minhocas que se encontram na roça. Na metáfora dos
pajés, estes têm de serem mortos, os dentes têm de ser arrancados e purificados de
suas penugens, porque possuem certas doenças que contamina os cogumelos, as
folhas de maniua. As maniuas se alimentam das folhas secas que possuem ka’use e
kãstisehe/tem o ácido acético nos caldos extraídos das folhas e na massa puba da
mandioca é neutralizada ou transmutada no leite e espuma de buiuiu. Sem
descontaminação dos alimentos feita pelo Kumú (pajé), a pessoa adoece tendo a dor
de cabeça, tonteira, mal-estar, vômito, calafrio, febre, vertigens, diarreia, etc.,
Também, as maniuaras são neutralizadas para não haver certas manchas no corpo da
criança recém-nascida ou a da jovem de menarca. Quando aparece alguma mancha
no corpo os bikîrã estão consumindo da pessoa. Contudo, todos estes alimentos
referidos neste artigo são alimentos das dietas para uma boa recuperação da saúde.
Consideração final
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Álgebra Yonqui
Álgebra Yonqui
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BRUNO OLIVEIRA
Entrevista
Nessa entrevista concedida por escrito à professora da UNILA, Gabriela Canale Miola,
o artista aponta os desafios sociais, epistemológicos, políticos e culturais da atualidade,
além de nos presentear com observações precisas sobre as artes nesse contexto.
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Econômica Aplicada (IPEA) estimou cerca de 222 mil pessoas em situação de rua no
país. Todos apontam para o mesmo esgotamento de um modelo, de um sistema de
produção e de consumo, especulação e espetáculo. Voltamos para a outra questão:
como disputar a construção e operação de outras gramáticas de mundo? Como
imaginar outros futuros?
Começo a responder a entrevista hoje, dia 18 de abril, há uns tantos dias do seu envio
- e pelo atraso na resposta peço desculpas à Gabriela Canale, que fez esta proposição,
e às pessoas leitoras do boletim. Opto por começar a resposta por esta pergunta, muito
por reconhecer a importância dela para tecer esta entrevista. Segundo os dados
divulgados hoje por um consórcio de veículos de imprensa, contabilizamos hoje mais de
372 e tantos mil pessoas mortas pelo coronavirus. Talvez já seja possível encontrar este
impacto nas ausências… De toda forma, como mensurar a perda, o desperdício de
todas estas experiências? Como ponderar a amplitude dos impactos do isolamento, de
filas nos hospitais, das valas abertas, dos lutos não vividos?
Você consegue observar entre artistas o interesse pela flora e pela fauna?
Destacaria alguma/algum artista?
São muitas as obras de artistas que lidam com a flora e a fauna, com o ambiente e
natureza como tema ou mesmo de maneira incidental - seja por abordar determinado
sistema ou mesmo utilizar como matéria. Talvez o impossível seja não tangenciar este
debate, considerando a preponderância da reflexão, hoje, sobre os sistemas de
produção e circulação da arte, suas técnicas, materiais e processos. Durante a
faculdade de arte lembro de acessar as intersecções possíveis a partir do trabalho de
Andy Goldsworthy e, por outras vias, o trabalho de Gordon Matta-Clark, Ana Mendieta,
Victor Grippo, Ines Linke e Louise Ganz e do próprio Helio Oiticica. Talvez um dos
trabalhos que tenha me mobilizado de forma mais contundente, em especial quando
comecei as minhas próprias investigações, é o “Wheatfield - a confrontation”, da
estadunidense Agnes Denes. A obra é de 1982, mas o campo de trigo criado em um
aterro em plena Manhattan, nas proximidades das Torres Gêmeas, ainda segue potente,
abordando as questões da produção e consumo, do sistema financeiro e a fome -
questão que, aliás, segue urgente.
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Você percebe algum impacto das ideias de Buen Vivir dos povos originários no
campo da Arte?
Talvez este impacto não seja reconhecível objetivamente, pois escapa às categorias do
que compreendemos ser o campo da arte (ou Arte, como colocado na pergunta). Como
não conceber como produções de sentido potentes as constituições da Bolívia e
Equador ou as disputas mais recentes da constituição chilena? Articulações
comunitárias, de solidariedade e partilha. A ética como elemento de beleza e sentido -
talvez justamente nestas reverberações podemos encontrar os ecos do Buen Vivir.
A pergunta me levou para um outro lugar: há seguramente esse debate crítico, mas fico
pensando também no exercício de encontrar instabilidades nas categorias, nas
palavras, e nelas a possibilidade de manuseio e criação de uma outra gramática,
mesclada — como o ch’ixi de Cusicanqui — e talvez estruturalmente transitória,
incompleta, amorfa, latente. Profanar os verbetes monolíticos — arte, artista, gênio,
matéria, sistema, etc. — e agenciar outras práticas. Lembrei de Agambem: a profanação
do improfanável é a tarefa política da geração que vem.
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BOLETIM KULTRUN | ISSN 2763-5066
VOL. 3, N° 1, ABRIL DE 2021
Sobre o entrevistado
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Gabriela Canale Miola é professora da área Artes no Instituto de Latino-
Americano de Arte, Cultura e História da UNILA.
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VOL. 3, N° 1, ABRIL DE 2021
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© Kultrun | Edição de abril de 2021